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O documento discute a influência do pensamento moderno nos movimentos artísticos Rococó, Neoclassicismo e Romantismo. O Rococó surgiu no século 18 influenciado pelo empirismo e racionalismo iluminista, enfatizando o prazer e o instante. O Neoclassicismo rejeitou o subjetivismo do Barroco e Rococó em favor da razão e dos ideais estéticos da Antiguidade. O Romantismo representou uma reação contra o Iluminismo e a valorização da razão, dando ênfase à subjetiv
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A Influencia Do Pensamento Moderno Sobre a Arte - Rococo Neoclassicismo e Romantismo-libre
O documento discute a influência do pensamento moderno nos movimentos artísticos Rococó, Neoclassicismo e Romantismo. O Rococó surgiu no século 18 influenciado pelo empirismo e racionalismo iluminista, enfatizando o prazer e o instante. O Neoclassicismo rejeitou o subjetivismo do Barroco e Rococó em favor da razão e dos ideais estéticos da Antiguidade. O Romantismo representou uma reação contra o Iluminismo e a valorização da razão, dando ênfase à subjetiv
O documento discute a influência do pensamento moderno nos movimentos artísticos Rococó, Neoclassicismo e Romantismo. O Rococó surgiu no século 18 influenciado pelo empirismo e racionalismo iluminista, enfatizando o prazer e o instante. O Neoclassicismo rejeitou o subjetivismo do Barroco e Rococó em favor da razão e dos ideais estéticos da Antiguidade. O Romantismo representou uma reação contra o Iluminismo e a valorização da razão, dando ênfase à subjetiv
A I NFLUNCI A DO PENSAMENTO MODERNO SOBRE A ARTE: ROCOC,
NEOCLASSI CI SMO E ROMANTI SMO
Eduardo Pacheco Freitas 1
RESUMO: O pensamento moderno aliado ao avano tecno-cientfico surgido aps a I dade Mdia contribuiu de maneira extremamente importante para o desenvolvimento de diversos gneros artsticos. O Rococ, o Neoclassicismo e o Romantismo podem ser considerados como movimentos de arte que surgiram a partir da Era da Razo, ou seja, estimulados e influenciados pelo pensamento iluminista, pelo empirismo lockeano e pelos avanos cientficos proporcionados por Newton. O presente trabalho procura entender estas relaes, analisando algumas das obras mais importantes e representativas de cada estilo, associando os diversos quadros analisados ao contexto histrico onde foram produzidos.
ABSTRACT: Modern thinking combined with techno-scientific advances arising after the Middle Ages contributed to a very important for the development of different artistic genres. The Rococo, Neoclassicism and Romanticism may be regarded as art movements that emerged from the Age of Reason, that is, encouraged and influenced by Enlightenment thought, the Lockean empiricism and the scientific advances provided by Newton. This paper seeks to understand these relationships, analyzing some of the most important and representative works of each style, combining the different paintings analyzed the historical context they were produced.
PALAVRAS-CHAVE: Rococ. Neoclassicismo. Romantismo. Histria da arte. I luminismo. Pensamento moderno.
1 Aluno de Graduao do curso de Histria na Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas - PUCRS 2 1.I NTRODUO
Na Europa, durante a I dade Mdia, as artes plsticas estiveram basicamente ligadas aos temas religiosos, seja atravs das representaes pictricas e estaturias de Cristo, de Maria, dos apstolos e dos santos; seja atravs das obras arquitetnicas, inspiradas por ideais filosficos, como demonstrou Erwin Panofsky sobre a relao da arquitetura gtica e a escolstica 2 . Com o Renascimento, a partir do sculo XV, h uma forte tendncia a se deixar de lado esse carter predominantemente cristo da arte como um todo e passa-se ento a uma redescoberta dos valores estticos da antiguidade, onde a medida de todas as coisas o homem, em detrimento de Deus que havia ocupado a mente criativa por todo o perodo histrico anterior. A partir do sculo XVI I I , com o I luminismo, acontece uma nova reviravolta em termos de produo e pensamento artstico, pois passa a existir nesta poca uma supervalorizao dos conceitos racionais, com base no Empirismo ingls de John Locke, que versa sobre a importncia da experincia do sensvel para a obteno do conhecimento. Os avanos da cincia, de igual maneira, abordados aqui em suas relaes com uma nova concepo artstica, podem ser identificados com a teoria das cores de Newton, que props um novo conceito acerca da participao do artista em sua obra, considerando que as cores so fenmenos fsicos. A respeito disso, Kern diz que o carter subjetivo e material da cor j no pertencia pintura (KERN, 2006, p. 25) e que:
Com o I luminismo e a valorizao da razo e a da cincia, a modernidade comeou a ser pensada como projeto futuro, fundamentado numa cultura especializada, na qual o homem livre criaria as suas prprias normas em detrimento dos princpios normativos externos do modelo clssico. Assim, o homem libertou-se do pensamento metafsico e emergiu o sujeito independente para articular o seu futuro e constituir-se como protagonista da histria. Foi nesse momento que o campo especializado das belas-artes se configurou, e a esttica, a histria da arte e a crtica se legitimaram, passando a fornecer novos mtodos de reflexo e teorizao a respeito do fazer pictrico e do juzo do gosto. (KERN, 2006, p. 25)
2 Sobre o desenvolvimento sncrono da filosofia escolstica e da arquitetura gtica na Frana setentrional no sculo XIII recomenda-se a leitura do livro Arquitetura gtica e escolstica de Erwin Panofsky, onde o autor demonstra a influncia do pensamento escolstico sobre os construtores das catedrais gticas. 3
Portanto, com as novas concepes filosficas surgidas no I luminismo e com o favorecimento da razo e do empirismo, ocorre uma mudana radical na forma de se produzir a arte e conjuntamente na maneira de se apreciar a arte. Desta nova viso de mundo, por exemplo, surge o gnero Rococ, que representa o desejo de prazer daquela sociedade, uma necessidade de experimentar e depois refletir. Com isto, a crtica de arte e a histria da arte, modificam suas vises a respeito da arte e dos artistas, valorizando e estudando agora novos elementos que em perodos anteriores sequer eram cogitados. Desta forma, h o estabelecimento de uma nova relao entre a pintura e o conhecimento. No entanto, h outro aspecto derivado deste racionalismo oriundo do I luminismo que pode ser chamado de Neoclassicismo. Sobre a arte neoclssica, Argan diz:
Tema comum a toda arte neoclssica a crtica, que logo se torna condenao, da arte imediatamente anterior, o Barroco e o Rococ. Adotando a arte Greco-romana como modelo de equilbrio, proporo, clareza, condenam-se os excessos de uma arte que tinha sua sede na imaginao e aspirava despert-la nos outros. (ARGAN, 1993, p. 21)
Logo, percebemos que h uma preocupao conceitual e metodolgica da arte neoclssica, alm de resgatar os ideais estticos da antiguidade, no sentido de combater os movimentos artsticos anteriores. A disputa se d no mbito de valorizao da razo em detrimento da pura imaginao do artista. O Romantismo ser o ltimo gnero artstico a ser analisado no presente trabalho, levando-se em considerao este movimento como uma possvel reao contra o I luminismo, porm, com a conscincia de que foi engendrado a partir, ao menos em parte, do prprio I luminismo. Enfim, consideraremos o Romantismo como o primeiro grande protesto contra o mundo moderno (BAUMER, 1990, p. 23)
2.O ROCOC
Durante o sculo XVI I I as sociedades europias passam por um grande movimento de secularizao que determinou da por diante a relao dos artistas 4 com a produo de suas respectivas obras. At ento a literatura, sobretudo as escrituras sagradas da Bblia e os motivos cristos dominavam e serviam como subsdio para toda e qualquer pintura. No entanto, no incio do sculo XVI I I dois novos acontecimentos influenciam fortemente esta mudana de mentalidade: o empirismo ingls, de Jonh Locke e as descobertas cientficas de Newton. H nesta sociedade uma busca quase obsessiva pela felicidade, um certo carter hedonista permeia todos os sales e todas as conversas e encontros. A arte que surge neste perodo, conhecida como Rococ a expresso mxima do esprito de uma poca que rompe com a tradio artstica religiosa, tenta compreender o mundo pela cincia e, ao mesmo tempo, busca a frivolidade e o prazer. Afinal, o prazer agora entendido no mais como uma recompensa, mas sim como um objetivo de vida fundamental. Neste sentido, compreende-se a ligao estreita entre o empirismo de Locke que teorizava sobre a necessidade da experincia para o surgimento das idias e entre a apreenso imediata do observador ao deparar-se com uma obra de arte rococ. O deleite de uma bela obra se d antes de qualquer reflexo. O raciocnio explica tal deleite a posteriori, ou seja, apenas legitima um prazer j sentido. (PI FANO, 1995, p. 398). necessrio experimentar, viver o momento, tanto na vida quanto na arte. Por isso as representaes de Antoine Watteau de pessoas simplesmente aproveitando um momento de cio em um parque ou de casais partindo da lendria ilha de Citera aps homenagearem Vnus. Antoine Watteau (1684 1721) foi o grande expoente da arte rococ. Embora tenha morrido jovem, com apenas 37 anos, gravou indelevelmente seu nome na histria da arte ao representar em seus quadros uma vida totalmente alheia a privaes (GOMBRI CH, 2008, p. 454) que em ltima anlise o desejo do ser humano em qualquer sociedade a qualquer tempo. No entanto, este desejo foi levado como objetivo norteador de uma sociedade que valorizava sobretudo o instante. Devido a isto, o fugaz o grande tema da pintura ( PI FANO, 1995, p. 399) de Watteau e do rococ em geral. No quadro Divertimentos Campestres Watteau traduz atravs de suas pinceladas a importncia que os prazeres singelos tem para aquela sociedade. Uma criana brinca rapidamente com um cozinho, um casal danando, pessoas na relva apenas conversando de maneira confortvel. 5 I nstantes que passam em um piscar de olhos, como o raio de sol que surge por detrs das rvores nesta mesma tela.
Figura 01. Divertimentos campestres, 1718. Antoine Watteau. Coleo Wallace, Londres.
Outro artista importante do gnero rococ, que produziu sua obra aps Watteau Jean-Honor Fragonard (1732 -1806). Fragonard levou adiante a tradio de Watteau e produziu obras tambm inspiradas na vida da alta sociedade em seus momentos de prazer instantneo. Segundo Pfano:
A busca do prazer e a conseqente temporalidade reduzida ao instante no so observadas apenas na pintura. Encontram-se presentes em meio quela sociedade para a qual a arte rococ produzida, ou seja, a aristocracia e a alta burguesia. Assim, inaugura-se o reino dos sales onde a vida mundana consagrada. (1995, p. 401)
Com isto, podemos afirmar que o desejo por prazer da alta sociedade parisiense da poca teve seu registro perfeito na arte rococ. interessante notar que a sociedade almejava por este prazer rpido e igualmente prestigiava as obras de arte que representavam esta realidade. um exemplo muito concreto de o 6 quanto o pensamento de uma sociedade est relacionado ao tipo de arte que produz. Uma grande novidade trazida pela arte rococ que este gnero artstico profundamente feminino, em oposio s representaes de guerras e de conquistadores to profundamente masculinas do passado. Fragonard traduz de forma inequvoca este carter feminino da arte rococ com seu quadro O Balano, onde uma jovem brinca alegremente ao se balanar em um jardim enquanto observada por um jovem deitado na relva. a expresso mxima da feminilidade, alegre, sendo cortejada, sentindo prazer naquele breve momento de diverso, que logo passar, bastando terminar o vo do balano.
A proximidade entre as artes e a galanteria to marcante que a Academia Francesa confere aos pintores do idlio amoroso o ttulo especial de pintor de festas galantes, tendo sido Watteau o primeiro a receber o ttulo. Um dos temas mos correntes na pintura galante o coup doeil indiscreto, como em O Balano [ ...] de Fragonard. (PI FANO, 1995, p. 404)
Figura 02. O Balano. Jean-Honor Fragonard. Coleo Wallace, Londre 7
Afinal, o sculo XVI I I o sculo da cortesia, da sociabilidade, que so expressas atravs dos sales, onde a conversa ligeira e interessante. Nada neste sculo pode ser demorado, correndo-se o risco, em caso de demora, de que possa advir o enfado, o tdio e que estes estraguem os breves momentos de prazer desfrutados nos sales. No entanto, com o a monarquia francesa enfraquecendo, s vsperas da Revoluo, o Rococ tambm perde fora. Como arte aristocrtica que era, acompanha a nobreza em sua derrota.
3.O NEOCLASSI CI SMO
A fase neoclssica coincide no tempo com a poca da Revoluo Francesa. Neste contexto, necessrio salientarmos dois aspectos que servem de moldura para este movimento. O primeiro o surgimento da esttica que a filosofia da arte. O segundo aspecto o fato de que a cultura iluminista prope que a natureza no mais imutvel e se trata apenas do ambiente de existncia do homem. Neste sentido, vlido lembrar o que Baumer (1990, p. 164) diz acerca do I luminismo: [ ...] as naes da Europa viraram da I dade Mdia para os tempos modernos, marcando a passagem de um tipo de pensamento sobrenaturalista-mtico-autoritrio, para um tipo naturalstico-cientfico-individualista. Ao que acrescenta logo em seguida, em se tratando da relao do neoclassicismo com o I luminismo: [ ...] o neoclassicismo, embora algumas vezes ligado ao I luminismo, no se pode entender como uma mera faceta do pensamento iluminista. Portanto, devemos ter de maneira muito clara que houve sim uma mudana de mentalidade que determinou em parte o surgimento do neoclassicismo, no entanto, sem que isso signifique que ele, enquanto gnero artstico, tenha uma ligao total e plena com o pensamento do I luminismo. O que ocorreu na segunda metade do sculo XVI I I , ainda segundo Baumer, foi um retorno s coisas mais simples, uma reao contra o luxo do rococ. Houve uma valorizao das virtudes relacionadas simplicidade e um sentimento de dever patritico, que pode explicar em parte, a produo de artistas como Jacques-Louis David (1748 -1825), retratando cenas romanas, em aluso a uma moral antiga que 8 devia ser resgatada. O quadro O juramento dos Horcios um exemplo desta necessidade de se retratar a grandeza moral romana para justificar os atos de patriotismo que o momento histrico pr-revoluo exige 3 ; por outro lado, um quadro que revela o sentimento oposto a arte rococ, que era uma arte feminina por excelncia, ao dar destaque aos homens, que esto no centro da tela, enquanto as mulheres aparecem no canto inferior direito, em bvia posio de inferioridade e fragilidade. o mundo masculino que retorna com fora atravs dos ideais neoclssicos.
Figura 03. O juramento dos Horcios, 1784. Jacques-Louis David.
Em relao a esta ligao existente entre os ideais da Revoluo e o pensamento que condicionou a produo pictrica poca, Argan diz:
Com a cultura francesa da revoluo, o modelo clssico adquire um sentido tico-ideolgico, identificando-se com a soluo ideal do conflito entre liberdade e dever; e, colocando-se como valor absoluto e universal, transcende e anula as tradies e as "escolas" nacionais. Esse universalismo supra-histrico culmina e se difunde em toda a Europa com o imprio napolenico. (ARGAN, 1993, p. 14)
3 O quadro de 1784, portanto, cinco anos antes da Revoluo Francesa. 9
Ou seja, houve um chamamento a universalidade dos valores que viriam a ser defendidos pela revoluo em seu prprio lema de I gualdade, Liberdade e Fraternidade. Nada melhor do que os modelos clssicos da antiguidade, por sua fora e beleza, para servirem de smbolo iconogrfico para estas idias. Em face disto, podemos entender o neoclassicismo como uma potica, e no somente uma estilstica, pois ele determina certas posturas, inclusive de carter moral, em relao arte. Na origem desta concepo podemos situar as escavaes de Herculano e Pompia, que revelaram os aspectos cotidianos da vida na antiguidade classica e contriburam, a partir disto, para formar o conceito de classicidade. Ento h um conhecimento melhor da pintura antiga que acaba servindo como inspirao. A descoberta, durante a campanha de Napoleo no oriente, da refinada arte egpcia outro fator que ajuda a formar a cultura neoclssica, no que se convencionou chamar de estilo imprio.
Figura 04. Projeto de igreja metropolitana, 1780-1800. tienne-Louis Boulle.
Outro aspecto importante do neoclassicismo a arquitetura. Com a concepo de que as cidades no so mais propriedade do clero nem das grandes famlias abastadas que surgem alguns nomes como tienne-Louis Boulle (1728-99) e Claude Nicolas Ledoux (1736 - 1806). a nova cincia da cidade, chamada ento de urbanstica. Pretende-se que a cidade tenha uma unidade estilstica correspondente ordem social (ARGAN, 1999, p. 23). H uma viso de que o pblico deve ser preponderante em relao ao privado e a inteno de se construir grandes edifcios destinados a funes pblicas. No entanto, com a restaurao clrico-monrquica e a 10 posterior restaurao da burguesia, houve o reforo do princpio da propriedade privada, visando a proteo dos interesses das classes proprietrias. I sto acarretou que a grande maioria dos projetos destes arquitetos permanecesse no papel, sem nunca serem construdos. tienne-Louis Boulle passou ento histria como um visionrio, que no conseguiu realizar seus projetos ousadamente neoclssicos 4 .
4.O ROMANTI SMO
A influncia do pensamento moderno sobre a arte provocou revolues e contra-revolues. O Movimento Romntico foi tanto uma quanto a outra, pois ao se tratar de um primeiro protesto contra o mundo moderno na verdade o fazia em nome de uma nova modernidade. Alguns romnticos consideravam-se modernos no sentido cristo, e anticlssicos no gosto artstico. (BAUMER, 1990, p. 23). Podemos afirmar que a contestao dos ideais iluministas, baseados no empirismo e na razo pura, se dava mais no sentido de se tentar estabelecer uma modernidade mais orgnica do que promover um retrocesso propriamente dito a um mundo mais antigo. O Movimento Romntico de difcil definio, justamente por haver uma pluralidade de romantismos 5 embora se possam traar algumas caractersticas gerais que se encontravam no movimento nos mais diversos pases: a tendncia ao que misterioso e o desejo de expresso e sentimento individuais. H tambm a dificuldade de no existir uma organizao institucional do movimento, nem uma publicao que lhe embasasse teoricamente, como houve a Enciclopdia durante o I luminismo e a Bblia na Reforma Protestante. No entanto, pode-se afirmar que havia um movimento em torno da apreciao dos valores ocidentais e que o movimento tinha Newton como smbolo da sua insatisfao com o mundo mecanicista e inorgnico que comeara a ser desenhado com os estudos do matemtico ingls.
Os romnticos consideravam esse mundo demasiado estreito, por causa da sua devoo, segundo julgavam, ao pensamento geomtrico e aliada doutrina do neoclassicismo, ou
4 H um filme muito interessante com a obra de Boulle como pano de fundo para a histria. Chama-se A Barriga do Arquiteto (The Belly of an Architect, 1987). 5 ARTHUR LOVEJOY apud BAUMER, 1990, p. 24. 11 ainda ao empirismo lockeano. O esprito geomtrico, embora metafisicamente posto de parte, tentava sujeitar toda a vida razo, e assim mecaniz-la e humilh-la. O Neoclassicismo, desejando, do mesmo modo, procurar modelos ideais da natureza, impunha regras universais e rgidas arte e aos artistas. O Empirismo melindrava pela razo oposta, porque era demasiado cptico e limitava terrivelmente o conhecimento humano ao mundo das aparncias. (BAUMER, 1990, p. 26)
Ento, ao mundo iluminado das cores de Newton os romnticos ofereciam, em contrapartida, o seu mundo noturno, misterioso, mstico. Um mundo que buscava elevar o natural ao sobrenatural. Os romnticos pretendiam ver Deus na natureza. Houve um reflorescimento do catolicismo e at mesmo os romnticos que permaneciam protestantes, como Novalis, avaliavam de forma surpreendente, que talvez a Reforma tivesse sido um erro e que tivesse provocado a Era da Razo. Na inteno de evitar o afogamento do sobrenatural no natural e, pelo contrrio, promover a elevao do natural ao sobrenatural o romantismo provocou esta renovao religiosa e a pintura foi profundamente influenciada por estes ideais metafsicos e poticos. Um pintor que representou muito bem o pensamento romntico em suas telas foi o alemo Caspar David Friedrich (1774 1840). Friedrich pode ser considerado o maior pintor romntico alemo, que conseguiu demonstrar a reverncia religiosa de forma absolutamente sublime, quase etrea, atravs de suas pinturas paisagsticas. O quadro Homem e mulher contemplando a Lua mostra um casal observando, em uma cena profundamente romntica, o crepsculo, que transmite a ntida sensao de diluio ou fuso do mundo fenomenal com o mundo transcendental.
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Figura 05. Homem e mulher contemplando a Lua, 1818. Caspar David Friedrich
A respeito deste quadro, Baumer diz que para as duas figuras humanas, a natureza est praticamente diluda com o mundo prximo ou funde-se nele distncia. (1990, p. 34) exatamente isto que Friedrich buscava ao realizar um quadro: demonstrar que Deus est na natureza e que no ser somente a cincia capaz de explicar completamente, tanto o homem, quanto o mundo natural que o cerca. No entanto, necessrio salientar que no havia entre os romnticos necessariamente um pensamento anticientfico. O que eles pretendiam combater era a viso simplesmente mecanicista e com isto havia divises entre os artistas e intelectuais do movimento em relao aos inventos mecnicos, havendo dvidas sobre se serviriam para melhorar ou degradar a experincia humana. Alm da viso referente natureza e a Deus interessante notar a viso romntica em relao ao homem. O romantismo no compreendia o homem como a grande medida conforme o pensamento clssico; porm, o entendia como inserido em um contexto de foras csmicas poderosas que podiam envolv-lo at mesmo em uma proporo maior que ele prprio. A partir disto foram feitos estudos sobre o inconsciente humano, onde se destaca o psiclogo von Schubert com a publicao do livro Simbolismo dos Sonhos 13 (1814). O autor, von Schubert, estudou as manifestaes do inconsciente e concluiu que elas podem ser de natureza boa ou m. Portanto, o inconsciente pode levar o homem por dois caminhos distintos e antagnicos. Os romnticos tinham plena conscincia da existncia de uma natureza humana ansiosa e perturbada e de foras ocultas do homem que o podiam destroar e ao seu mundo (BAUMER, 1990, p. 41) Aparies medonhas, que brotam do fundo do inconsciente foram retratadas por Francisco Goya (1746 1828). Na gravura O Sonho da Razo Produz Monstros, Goya utiliza-se destes dois conceitos romnticos para compor a obra. Em primeiro lugar o mundo inconsciente, desconhecido, atemorizante. Junta-se a ele a Razo desenfreada, que tenta explicar o homem e o mundo e por fim pode resultar em algo terrvel.
Figura 06. O sonho da razo produz monstros. Francisco Goya
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5.CONCLUSO
Foi possvel concluir, ao trmino deste trabalho, que a importncia do pensamento de uma poca profundamente determinante no tipo de arte que a sociedade em questo vai produzir e consumir. O exemplo da secularizao da sociedade somado aos aspectos empricos e iluministas em voga no incio do sculo XVI I I explicam de forma bastante satisfatria o surgimento da arte rococ. Da mesma forma, percebemos que seu declnio esteve estreitamente ligado queda da monarquia francesa em decorrncia da Revoluo Francesa. Foi observado que aps o Rococ surge o Neoclassicismo, como uma outra vertente alimentada tambm pelos ideais iluministas, porm, em seu fervor patritico percebemos uma ligao direta com os movimentos da sociedade que deflagraram a Revoluo Francesa, como se verifica claramente na obra de Jacques-Louis David, com seus temas morais tirados da antiguidade romana. Por ltimo, pudemos observar que o Romantismo se tratou de uma contra- revoluo em relao ao I luminismo, porm, sem a vontade de um retorno ao passado medieval, mas sim, com mpetos de estabelecimento de uma nova modernidade, que privilegiasse a natureza e o homem e evitasse a mecanizao da sociedade, da vida. O reflexo desta nova forma de pensar percebido nas obras de Caspar David Friedrich, de nacionalidade alem, no por acaso o pas onde o Movimento Romntico teve sua maior fora. Enfim, a relao entre pensamento e arte umbilical, no sendo possvel dissociar uma coisa da outra. Toda a arte deve ser encarada de acordo com o contexto onde foi produzida. Caso no faamos esta observao, correremos o risco de no compreend-la e consequentemente no aproveit-la melhor.
15 REFERNCI AS
ARGAN, G. C. Clssico e Romntico. Arte moderna. So Paulo: Cia. Das Letras, 1993.
BAUMER, F. O mundo romntico. O pensamento europeu moderno. Lisboa: Edies 70, 1990.
BAUMER, F. O ser e o devir. O pensamento europeu moderno. Lisboa: Edies 70, 1990.
GOMBRI CH, E. H. A histria da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
KERN, Maria Lcia. I magem manual: pintura e conhecimento. FABRI S, A.; KERN, M. L. I magem e conhecimento. So Paulo: Edusp, 2006.
PANOFSKY, Erwin. Arquitetura gtica e escolstica. So Paulo: Martins Fontes, 1991.
THE WALLACE COLLECTI ON. Disponvel em: <http:/ / www.wallacecollection.org/ >. Acesso em: 16 set. 2011.