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DOMINGO
O ESTADO DE S. PAULO J 31 DE DEZEMBRO DE 2006

ALIÁS O ANO REVISTO


Retratos de um
tempo conturbado
O traço humorístico de Loreda-
no e Léo Martins, as frases e as
imagens que atordoaram 2006,
os personagens que fizeram um
ano mais virtual, mais nuclear,
menosverde. Houve traição no
Palácio e fidelidade nas urnas,
intolerância exacerbada,gente

LOREDANO
queimada viva e um quê de cho-
rona Copa. Ao menos, no vôlei,
sobrou alegria.

Travessia
‘06/07
Fim das esperanças sem fim José de Souza Martins
A política no país com “medo de existir” Renato Lessa
A viagem dos lucros Horácio Lafer Piva
Violência: a compulsão de prender Marcos Rolim
Lições do Cardeal Ratzinger para Bento XVI Hans Küng
Iraque: dividir para sobreviver Peter W. Galbraith
No espelho retrovisor, a ameaça nuclear Hans Blix
Meio ambiente: desastres “civilizados” Francisco Foot Hardman
O que os muros não separam Demétrio Magnoli
Todas as faces do populismo Luiz Felipe de Alencastro
O legado de Fidel Castro Anthony DePalma
Corpos em sacrifício, no altar das vaidades Maria Rita Kehl
Música para reouvir, reouvir... Luiz Tatit
Os artistas da fome no Pan Nuno Ramos
I tube, You Tube, we all tube Sérgio Augusto

7 8 9 10 11 12
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DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2006


J2 ALIÁS O ESTADO DE S.PAULO

FRASES ‘06: O que eles disseram (sem querer ou por querer) em tiradas que ainda ecoam na memória

Indomáveis
pensamentos ❝ Político que não é ator

LOREDANO
não transmite nada❜❜
● FHC, ao dizer, em entrevista ao Estado, que
fazer política é fazer arte

❝ Política não existe


sem mãos sujas. Não dá
para fazer sem botar a
mão na merda❜❜ ❝ Ontem o diabo esteve
● Paulo Betti, ator, que saiu
em defesa do governo Lula,
aqui. Portanto, cheira a ❝ E o que os deputados
em jantar oferecido ao can- enxofre esta mesa onde fazem? Não
didato à reeleição na casa
me coube falar❜❜ roubam
do ministro Gilberto Gil
● Hugo Chávez, em discurso na Assem- também?❜❜
●Marcola, em
❝ Derrotado não fala, bléia Geral da ONU, ao se referir ao arqui-
rival George W. Bush depoimento à CPI
espera. Eu estarei das Armas
esperando, amando
sempre a Bahia, ❝ Eu faço
LOREDANO
cada vez mais❜❜ parte da
● ACM, senador (PFL-BA), população. Também
admitindo a derrota de seu estou amedrontado❜❜
grupo para Jacques Wagner
❝ Numa mesa de 12, ● Márcio Thomaz Bastos, minis-
tro da Justiça, sobre a onda de
❝ O mensalão não existiu. um traiu Jesus, e na mesa ataques do PCC em São Paulo
Havia apenas um
esquema tradicional dos Inconfidentes, um ❝ Cansei de ganhar
de acertos de dívidas traiu Tiradentes❜❜ dinheiro com meu corpo.
de campanha❜❜ Agora, quero ganhar
● Lula, dizendo-se traído pelos companheiros
● Luiz Gushiken, ex-chefe do dinheiro com minha
Núcleo de Assuntos Estratégi-
cos, em entrevista ao Estado
inteligência e esperteza❜❜
❝ Se você conhecer uma ● Bruna Surfistinha, em entre-
vista a BBC de Londres
❝ Peço a você que, caso pessoa muito idosa
dite uma sentença de
morte, se dê conta de que esquerdista, é porque ela ❝ A qualidade caiu
bastante. Não gosto do
Saddam é um homem tem problemas❜❜ modo como fazem efeito
militar e que a execução ● Lula, assumindo uma posição mais de centro
deve ser feita por dispa- sobre o cérebro❜❜
● Keith Richards, guitarrista dos
ros e não pela forca, co- Rolling Stones, ao explicar por
mo qualquer criminoso❜❜ que parou de consumir drogas
● Saddam Hussein,
ex-ditador do Iraque, que
foi condenado à forca
❝ Não há ninguém como
LOREDANO

eu no mundo. Sou o ícone


loiro da década❜❜
● Paris Hilton, patricinha
americana, em momento
de humildade
❝ Assim como
ele falou que eu ❝ Parece um
monte de velhinhos
estou gordo, espertos querendo juntar
ele bebe❜❜ dinheiro pra pagar
● Ronaldo Fenômeno,
seus geriatras❜❜
sobre o presidente Lula ● Rita Lee, roqueira, sobre
a volta dos Mutantes
❝ Onde estava o Senhor
naqueles dias?❜❜ ❝ Não queria namorar.
Queria sexo mesmo❜❜
LOREDANO

● Bento XVI, em visita ao campo de


concentração de Auschwitz ●Hebe Camargo, apresentado-
ra, sobre sua quedinha pelo
rei Roberto Carlos

❝ Os vizinhos do LÉO MARTINS

Norte não precisam


se preocupar, pois não
pretendo exercer meu
cargo até os 100 anos❜❜ ❝ Um senhor em uma feira ❝ Se Newton Cardoso se
● Fidel Castro, presidente da falou que essa eleição tem o alia com o lado bom do PT,
Cuba, em um discurso de duas
horas e meia rei da abobrinha (Lula) e o imagine as alianças do lado
chuchu (Alckmin). Agora mau. O problema será
❝ Falei com o general
Pinochet e ele me disse vai ter a pimentinha❜❜ distinguir os detalhes
que o único ouro que ● Heloísa Helena, então presidenciável pelo PSOL,
ele possui é o sobre os outros candidatos e seus perfis quando eles se reunirem
LOREDANO
de sua aliança de no mesmo banho de sol❜❜
casamento❜❜ ● Fernando Gabeira, deputado (PV - RJ), sobre
● Pablo Rodríguez, advogado o ex-governador de Minas Gerais
do ex-ditador, sobre as acusa-
ções de ter toneladas de ouro
depositadas em Hong Kong

❝ Nós temos uma ❝ A Síria precisa


burguesia muito má, dizer ao Hezbollah
LOREDANO

uma elite branca


muito perversa❜❜ que pare com toda
● Cláudio Lembo, governador
de São Paulo, culpando a elite
essa merda ❜❜
● George W. Bush, presidente dos
brasileira pelos ataques do PCC
EUA, em entrevista coletiva, sem per-
LOREDANO ceber que o microfone estava ligado

❝ O Brasil é a
LÉO MARTINS

extremidade mais sexy


do catolicismo❜❜
❝ Essa história de que Lula é o
LOREDANO

● Bono Vox , vocalista do U2, quando


esteve no País para dois megashows
candidato dos pobres é gogó. Até
porque eu sou mais pobre que ele ❜❜
● Geraldo Alckmin, durantes as eleições presidenciais
‘● CAPA: Moema Cavalcanti ● PESQUISA “O ano revisto”: Natália Consonni Cesana
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DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2006


O ESTADO DE S. PAULO
ALIÁS J3
ALIÁS J3

Travessia ‘06/07: O povo foi chamado para a festa da construção política. Mas chegou tarde

O fim das esperanças sem fim


TASSO MARCELO/AE

José de Souza
Martins*

hegamos ao final do

C século 20 com seis


anos de atraso. Um
século muito longo e
muito vagaroso que,
para nós, brasileiros, começou
em 1888 com o fim da escravi-
dão negra e, um ano depois,
com a República. Esse longo sé-
culo 20 foi um século de pro-
messas históricas de redenção
do gênero humano, promessas
de advento político do povo,
promessas de supressão das in-
justiças sociais e promessas de
ascensão social e política dos
pobres e desvalidos. Foi o sécu-
lo das grandes lutas sociais, até
de revoluções populares, dos
movimentos sociais e de ocupa-
ção da fortaleza das estruturas
referenciais e duras do Antigo
Regime brasileiro. Mas foi,
também, o século da repres-
são, da derrota das revoltas po-
pulares e dos movimentos so-
ciais, o século de metas históri-
cas realizadas pela metade e da
história inconclusa.
A reflexão sobre o ano que se
inicia e a era que ele, em princí- SEGUNDO PLANO – Poucos são os episódios em que a população brasileira se apresenta como protagonista eficaz de seu próprio destino social
pio, inaugura, para ter substân-
cia, depende de que não se des- são periódica, um conteúdo re- Quando a questão do traba- lho em questão política. Surgi- fraquecê-las e resolvê-las sepa- quando está no fim dela. Imagi-
conheçam os fatores crônicos novado. Os países socialmente lho servil se tornou incontorná- rá, inevitavelmente, associada radamente, sem revoluções. na-se com a missão de refazer a
dessa lentidão e se identifi- maisdesenvolvidos, ondesurgi- vel, embora o debate tenha se àquestãoagrária. Durantea dé- A era que termina abre um história quando, tudo indica,
quem padrões de recorrência ram os movimentos sociais mo- arrastado durante décadas, a cada de 1950, o trabalho rural cenário de protagonismo social sua missão será a de cumpri-la,
que nos remetem, de modo in- dernos, propriamente políti- solução foi construída politica- se politiza como demanda por mediatizado. Hoje a ordem re- promovendo mudanças nos li-
sistente,paraa reiteraçãodefa- cos, os incorporaram com cria- mente de modo a não inviabili- reformaagrária,remeteaques- guladora tem como agentes os mites do que ficou.
tores de bloqueio na mudança tividade e energia ao diálogo zar um projeto de nação que co- tão laboral no campo para a chamados grupos de media- Quando Lula fala numa elite
sociale políticae nostornam re- com o Estado. Isso não quer di- meçara com a Independência. questão da propriedade da ter- ção, a extensa rede de institui- de 500 anos que fez um país em
féns do mesmismo. É bobagem zer que o Estado não tenha uma Entre abolição com reforma ra. Essa forma de encaminha- ções não estatais que servem a seu próprio benefício, está di-
dizer que o Brasil é um país tra- razão própria e que também ele agrária, uma alternativa pro- mento da questão será atalha- uma concepção de Estado e que zendo algo que não tem senti-
vado. Há governantes trava- não tenha que fazer ajustes, posta pelo senador Sousa Dan- da pela aprovação de um Esta- direcionam as tensões sociais. do, a não ser justamente o de
dos,mas opaísavançaa seumo- concessões e arranjos para re- tas, da Bahia, e a abolição com a tuto do Trabalhador Rural, no Refiro-me às igrejas, em parti- induzir o povo a ver-se protago-
do. Encontra seus caminhos de conciliar-se continuamente preservação da grande lavoura governo de João Goulart, sepa- cular à católica, ao MST e simi- nistade uma históriaque come-
progresso nas veredas da or- com a sociedade. de exportação, separada da rando a questão trabalhista da lares, às ONGs, às muitas enti- çaria com o Partido dos Traba-
dem, avança conciliando com a A compreensão e a realiza- questão da propriedade, vin- questão fundiária, tentativa de dades supletivas do Estado, lhadores. Quando as organiza-
permanência. ção desse equilíbrio é que defi- gou a última. Gente como Antô- conciliação que não deu certo. mastambémsupletivas das for- ções políticas sucessoras dos
Aqui o povo demorou muito ne o chamado estadista. Gover- nio Prado amparava a tese de No entanto, o arcaísmo ru- mas políticas de expressão da movimentos sociais e das de-
para se manifestar como prota- nar, qualquer um governa, so- uma economia acumulacionis- ral, religioso e político autono- vontade e das necessidades do mandas populares querem re-
gonista de demandas sociais e bretudo porque o aparelho de ta contra a de uma economia mizou a questão da proprieda- povo.Essaredenasceudafalên- começarumBrasil sem agrone-
políticas próprias, para se dar a Estado não raro voa no piloto distributivista. Foi o que asse- de e levou adiante a luta pela cia dos partidos e da própria fa- gócio, sem capital nem empre-
ver como dono de vontade cole- automático. Vimos isso nesses gurou o desenvolvimento eco- reforma agrária por meio de lência do Estado, confinados do sas, querem anular a história
tiva e de projeto social. Temos nômico, a industrialização e a grupos sociais enraizados na que as produziu. Se isso fosse
sido, historicamente, um povo modernização do País. tradição conservadora. Tem si- possível, o desmonte dessa pro-
dependente das instâncias da HÁ GOVERNANTES O trabalho livre, por seu la- do assim desde então. Goulart O POVO PENSA QUE VAI blemática herança as desmon-
dominação política do Estado e TRAVADOS. MAS do, não assumiu a forma e as não conseguiu encontrar saída REFAZER A HISTÓRIA, taria também, porque são dela
carente de vontade própria efi- características do trabalho as- napolíticadeconciliação datra- expressões, na medida em que
caz. Nosso drama está no abis- O PAÍS, ESTE salariado. Não criou um prole- dição republicana. Foi deposto QUANDO SUA MISSÃO suas demandas são impotentes
mo que separa a sociedade civil AVANÇA A SEU MODO tariado agrícola e resultou em pelos militares porque, no fun- SERÁ CUMPRI-LA porque já determinadas pelas
doEstado.AquioEstado semo- mudanças sociais que já conti- do, não agiu como estadista, estruturas políticas que herda-
ve como se fosse outra socieda- nham mecanismos de conten- criativamente,nomarcodopro- mos desse passado social. Nes-
de. A questão dos vencimentos quatroanos.Oproblemaéquan- ção do conflito social e da politi- gresso na ordem. ladode ládoabismo queossepa- se sentido, o discurso de Lula
dos deputados e senadores é do o piloto de carne e osso, o que zação das demandas sociais. Por isso, não é estranho que ra da sociedade. Esse é o coroa- não está referido ao futuro, a
um dos indícios dessa distância deve pensar, tem que tomar de- Com a expansão industrial e a onde falhou a política tivesse mento de um longo e difícil pro- uma era que começa, mas a
noperíodorecente: faltadecon- cisõesquandoopilotoautomáti- conveniência política da con- vingado a força: os militares, cesso de encaminhamento polí- uma era que acaba. Ele próprio
vicção democrática da política cochegaaolimitedesuaautono- versão plena das relações labo- que haviam derrubado o presi- tico das demandas sociais. Não e seu partido parasitaram os
como representação e delega- mia. O verdadeiro estadista se rais em relações contratuais, e denteconstitucionalparaimpe- temostido episódios significati- movimentos sociais, trataram
ção.Estadoesociedade seapro- propõenosmomentosdetransi- o reconhecimento formal do dir a reforma agrária radical, vos em que o povo se apresente de institucionalizá-los, de
ximam unicamente no período ção, os difíceis momentos da trabalholivrecomotrabalhoas- tomaram a iniciativa de promo- como protagonista eficaz de amansá-loseprivá-los decriati-
deeleições, demaneira esquizo- mudança inevitável, que pede salariado, com a Revolução de ver a reforma constitucional suaprópriahistória.Éfragmen- vidade social e política. Institu-
frênica, um dizendo uma coisa decisão,criatividadee diploma- Outubro de 1930, as novas lide- que viabilizava a reforma agrá- tário e manipulável. E nada nos cionalizaram a esperança co-
e a outra entendendo coisa bem cia, momentos em que a brava- ranças criaram uma legislação ria e de propor ao País um Esta- diz que esse cenário está mu- mo expectativa messiânica, co-
diversa. Essa é nossa herança ta engana, mas não ajuda, não para a cidade que não se esten- tuto da Terra. dando ou vá mudar. mo retorno milenarista à inau-
estrutural da escravidão, da so- transforma, não cria. diaaocampo. Preservavam, as- A criação das condições ins- Embora o povo tenha, final- guração da história. Mas nos
ciedade civil restrita e do povo Tivemos,nahistóriabrasilei- sim, o anseio de progresso no titucionais da reforma agrária mente, condições de atuar poli- subterrâneos da sociedade po-
descartável e irrelevante. A ra,algunsdesses momentos de- marco da ordem. Mantiveram foioúltimoajusteestruturalsig- ticamente, chegou tarde. Foi demtersobrevividoosprotago-
participação política do povo é, cisivos e nem sempre tivemos à formas rentistas, socialmente nificativo da história brasileira, chamado à festa de construção nistas insubmissos dos proble-
no Brasil, quase que tão somen- mão um estadista para assumir arcaicas, de acumulação da ri- ainda no marco da conciliação. política do País quando a festa mas sociais ocultados. A espe-
te teatro e, não raro, comédia. asresponsabilidadesdamudan- queza, combinadas com for- Fez dela a última grande de- já estava terminada, as deci- rança, neste possível novo tem-
Na sociedade contemporâ- ça com discernimento, capaz mas modernas e capitalistas de manda das esperanças sem sões tomadas, o edifício da par- po, vai depender de democra-
nea, as demandas e as esperan- decompreendereexecutaraes- sua reprodução. fim, das esperanças de mudan- ticipação política da sociedade cia e liberdade no protagonis-
ças se manifestam nos movi- perança possível e substantiva. A questão do trabalho no ças profundas a partir de con- com suas estruturas erguidas, mo social e político do povo. ●
mentos sociais. E aqui no Brasil A independência com unidade campo explodirá na década de tradições tópicas e de alcance fora das quais pouco ou nada se
épormeiodeles que omeropro- e conciliação revelou que o País 1950. O Brasil conseguira adiar limitado. Essa é a característi- pode fazer. Essa é a razão pela * José de Souza Martins é
cesso eleitoral ganhou, às ve- nascia pelas mãos de estadis- por mais de um século a trans- ca da história social brasileira: qual esse povo tardio imagina- professor titular de Sociologia da
zes, um coadjuvante, uma revi- tas, como José Bonifácio. formação da questão do traba- fragmentarascontradições,en- se no começo de uma festa Faculdade de Filosofia da USP

23/3: 4/5: ções, uma reportagem Saídos do forno, em dois sabores


O caseiro e o ministro da revista IstoÉ com o BETO BARATA/AE JOEDSON ALVES/AE BETO BARATA/AE
Sanguessugas empresário Luiz Antônio
O caseiro Francenildo Costa de- A Polícia Federal prende 46 pes- Vedoin, em que ele afirma
nuncia o ministro da Fazenda, An- soas suspeitas de participar da ter documentos que implicam
tonio Palocci. Em reação, o gover- quadrilha que fraudava proces-

ALIÁS
Geraldo Alckmin e José Serra
no quebra o sigilo bancário, fiscal sos de licitação e compra de am- no caso dos Sanguessugas,
e telefônico de Nildo. bulâncias para municípios, des- desencadeia uma crise.
viando verbas do Orçamento da

O ANO União. O comando do esquema


era da família Vedoin.
20/9:
REVISTO 4/8:
ONGs sob suspeita
A revelação de que Jorge Lorenzet-
ti (outro personagem do dossiega-
MENSALEIROS – Os deputados Professor Luizinho, João Magno
Não sobrou ninguém te) recebera R$ 18,5 milhões dos
e João Paulo Cunha foram absolvidos
A operação Dominó da Polícia Fe- cofres federais leva a oposição a ED FERREIRA/AE ROBERTO JAYME/AE CELSO JUNIOR/AE

deral resulta na prisão dos presi- lançar a idéia de uma CPI para
dentes da Assembléia de Rondô- investigar todos os repasses fede-
nia e do Tribunal de Justiça. No
BETO BARATA/AE

rais para ONGs ligadas a petistas.


cômputo geral, 23 pessoas presas
6 escândalos sob acusação de “sangrar” os co- 15/12:
e 6 pizzas fres públicos em R$ 70 milhões.
Do outro lado do crime
15/9: Oitenta policiais são presos em

2006>>
operações da PF para desbaratar
Dossiegate quadrilhas ligadas à venda de ar-
Às vésperas do pri- mas para bandidos e à máfia dos SANGUESSUGAS - Os senadores Magno Malta, Ney Suassuna e Serys
meiro turno das elei- caça-níqueis no Rio. Slhessarenko também escaparam da punição
ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% PB
100% ESCALACOR 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% COR
80% 85% 90% 95% 98% 100%

Produto: ESTADO - BR_B - 4 - 31/12/06 J4 - BRASIL Cyan Magenta Amarelo Preto

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DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2006


J4 ALIÁS O ESTADO DE S.PAULO

TRAVESSIA ‘06/07: A política entre “anônimos” e “famosos” nunca “públicos”

Que drama?Tudo intriga e trama


SILVIA IZQUIERDO/AP
gundoturnodacampanhapresi- veram – e seguem a ter – acesso
Renato dencial de 2006 foi, nesse senti- a bens essenciais – e. g., habita-
Lessa* do, modelar. ção e transporte – por meio de
Naquela altura, a emissora empreendimentos fundados na
semi-oficial do país, dotada de ilegalidade. O termo “informali-
ilimitada soberania na definição dade”, de extração recente, age
daestéticaedaagendadosdeba- comoeufemismoquesuavizape-
tes, pôs os candidatos – Lula e o la palavra os inúmeros circuitos
filósofo português pobre Alckmin – literalmente de um empreendedorismo que

O José Gil, em seu pro-


vocativo livro Portu-
gal, Hoje: O Medo de
Existir(Lisboa:Reló-
gio D'Água, 2004), faz menção
ao dístico gravado por sagaz
grafiteiro– eaqui adotadocomo
em uma “roda”. A isso deu o no-
me de “debate”. Uma arena, ro-
deadaporespectadores – entre-
vistadores – pessoas comuns ou
“anônimos”, para utilizarmos o
idioma celebrês – circunscrevia
o espaço circular, por onde os
produz rendae incorporamulti-
dões ao mercado.
O falecido escritor alemão
William Sebald, em um de seus
livros de ensaios (Guerra Aérea
e Literatura, publicado em
1999), utiliza a bela expressão
título – ao longo da parede da dois candidatos debatiam-se “história natural da destrui-
escadaria de Santa Catarina, em jogos peripatéticos. O notá- ção” – da lavra de Solly Zucker-
que desce para o elevador da Bi- vel do experimento deveu-se ao man – para com ela descrever o
ca, em Lisboa: “Não há drama, fato de que as perguntas, dirigi- mundo arruinado das cidades
tudo é intriga e trama”. Na cha- das pelos “anônimos” e temati- alemãs, destruídas pelos bom-
ve interpretativa de José Gil, a camentereferidasaquestõesde bardeios aéreos da Segunda
coisaaplica-sea Portugalequer programade governo,foram to- Guerra. Os marcadores desse
dizerqueali“nadaacontece,na- dasredigidasapartirdeumpro- mundo, revelados pela expres-
da se inscreve – na história ou blema pessoal. Todas elas, no são, constituem-se de ruínas si-
na existência individual, na vida ato mesmo de sua enunciação, lenciosas, moscas gordas, plan-
social ou no plano artístico”. tiveram como preâmbulo uma tas que crescem sobre montu-
Quando li, pela primeira vez, o estória pessoal narrada na pri- ros e uma ampla variedade de
livro de José Gil – que sustenta meira pessoa. Algum gênio da escombros humanos. Para
ser Portugal marcado por um estética dos debates, imagino, além – ou aquém – das explica-
“medodeexisitir”eporumhábi- julgou ser mais apropriado ções e interpretações, haveria
to de “não-inscrição” –, antes de transformar aqueles eleitores um domínio bruto, espaço de
qualquer ímpeto de refutação, em seres dotados do privilégio e uma história natural.
lembrei-medeumatradiçãofor- da sorte de falar aos candidatos Uma história natural da so-
te e de excelente qualidade na de seus problemas pessoais, co- ciabilidade brasileira teria mui-
reflexão e no ensaísmo portu- mo introdução necessária a to a nos revelar sobre as suas
guês, marcada por uma percep- questões de interesse público. redes e sua aversão generaliza-
ção ácida a respeito da história Porlógicasimétrica,ostelespec- da à legalidade. Aqui, o mundo
daquele país. Oliveira Martins e tadores foram julgados mais do trabalho precarizado, da se-
seu magnífico Portugal Contem- captáveis a partir da sua exposi- mi escravidão, das milícias pri-
porâneo(1881)vieram-meàmen- ção a narrativas próximas a vadas, do transporte “alternati-
tedeimediato,paranãomencio- suas experiências pessoais. Tu- vo”, da economia política da ha-
nar a lembrança da acidez de do bem. Uma boa forma para bitação popular, da predação
Eça de Queiroz com seu país, vender sabão em pó. Por que ambiental,da delinqüênciapoli-
um tanto atenuada, é certo, em não aplicá-la à política? cial, da pirataria etc. está a indi-
A Cidade e as Serras. O público, dessa forma, só se car uma fenomenologia com
Mas não é, infelizmente, de fazpresenteapartirdagenerali- contornos expansivos. Supor
boa literatura que se trata. A zação de experiências privadas que essa energia social contém-
questãoqueseimpõeéa seguin- epessoais.Aslinguagensdades- se em si mesma e não constitui o
te: o que pode significar uma ex- politizaçãoedareduçãodoespa- NUNCA NESTE PAÍS – Uma vitória do esforço individual ou um fenômeno histórico e público? universo da autoridade pública
periência nacional de “não-ins- ço público a uma oportunidade é coisa, aí sim, para aloprados.
crição”, ou de “medo de exis- de exibição midiática e de apro- no de danos inscritos no mundo sentimentos e da emoção. Mo- legionárias.Ohomem cordial, já Seoespectrodailegalidaderon-
tir”? Não é o caso, para já, de ximação com “famosos” aca- do direito privado: é entrar na mentomaiordecondensaçãode mencionado – para quem só há da a vida pública e institucional
atestarourefutaraplausibilida- bam por dar o tom. Parece claro Justiça para obter reparação fi- um megaesforço coletivo e esfera privada e pessoal –, o ho- brasileira,seadelinqüênciapolí-
de da interpretação oferecida seremdescabidoslamentosapo- nanceira. Não é o caso de per- transgeracional e, nesse senti- mo colonialis, de Oliveira Vian- tica e administrativa afirma-se
por José Gil para Portugal. In- calípticos de tal sorte, mas, a guntar: e os danos à vida públi- do,dotadodefortedimensãopú- na, animal dendrófilo e protóti- com força por toda parte, penso
terpretações não se prestam a acreditarmos na inevitabilida- ca, como “indenizá-los”? O que blica, mas temo que confinado pode uma sociabilidade mínima ser necessário associar as suas
tais jogos de detecção da verda- de e na naturalidade desses pro- não emerge, para já, é um esfor- na sensação pessoal de triunfo. e insolidária, e o predomínio da evidênciasdeproporçõesintoxi-
de e do erro, posto que valem cessosde“modernização”dapo- ço de imaginação voltado para Quem rever verá. honrapessoalnasinterações,re- cantes à singela suposição de
antes pelo que provocam do que lítica,érazoávele,sobretudo,de- inscrever a alarvidade aérea em No avesso desse avesso, ain- velado por Maria Sylvia de Car- que há, no país, forte demanda
poraquiloquesupostamentere- cente mudarmos as expectati- uma queixa de natureza públi- da no campo da última campa- valho Franco, todas essas per- social e cultural por ilegalidade.
velam. O que pretendo é reter vas. Para menos, é evidente. ca.Mascomofazê-lo,seos agen- nha eleitoral, a exibição da ho- cepções, ainda que de pontos de Talhistórianaturalimpõe-se
as imagens, fixar-lhes alguns Oproblematodoresidenofa- tes tradicionais de politização nestidade e das virtudes pes- vistae compropósitos distintos, como condição de inteligibilida-
significados e como que apre- to de que tais jogos de reitera- da sociedade – os partidos, por soais, por parte de alguns, aca- convergemnodiagnósticodara- de dos hábitos políticos e admi-
sentá-las à experiência brasilei- ção de experiências privadas exemplo – são os primeiros bou por valer como esforço de refação da vida pública. nistrativos correntes. A detec-
ra recente, para ver o que disso não constituem uma linguagem exemplos de raquitismo cívico? refutação da ética privatista na Emquesentidoseríamos,en- ção dos problemas apenas no
poderia resultar. pública, e essa falta incide nega- Adissipaçãodadimensãopú- política. Pensem no semblante tão,nãoinscritosouafetadospe- planodasinstituições eno dare-
NadefiniçãoorigináriadeJo- tivamente sobre a qualidade da blica, além de morar nos deta- do senador Jefferson Peres, ou lo medo de existir? Os termos presentação política corre o ris-
sé Gil, aqui aludida de forma interpelaçãoqueoscidadãospo- lhes, parece vir de cima. Mais originais de José Gil estão asso- co de desconsiderar um aspecto
mais do que telegráfica, a não- dem fazer diante dos que os go- umavez,obelofilmedeJoãoMo- ciadosa uma sensação de apatia essencial da trama. A força dos
inscrição e o medo de existir re- vernam. Quando ativos, emer- reira Salles vale como peça de NO BRASIL, O equietismogeneralizados.Uma circuitosdailegalidade,associa-
levam de uma experiência de gem na cena pública para bus- elucidação. Ali testemunhamos POLÍTICO OFERECE sombra salazarista ali insinua- da à ambivalência dos circuitos
“espaço não-público” ou, em ou- car reparações pessoais. a saga do então candidato Lula, se, e já vislumbramos os seus si- legais – que freqüentam de for-
traspalavras,deausência dees- Assimcomoodemônio,ades- na direção de seu inexorável en- A ILEGALIDADE nais: a frugalidade da côdea de ma desenvolta os mundos da in-
paço público. Desta forma, os truiçãodoespaçoedavidapúbli- contro com a vitória no segundo QUE O POVO DESEJA pão, o cheiro de sacristiae o hor- formalidade –, parece exigir
termos do filósofo estão a indi- ca mora nos detalhes. A deterio- turno de 2002. Ali, por toda par- ror ao movimento e à qualquer uma superestrutura complexa
car uma disposição negativa a raçãoespantosadosserviçosaé- te, os sinais de uma vitóriainter- mudança. O que a experiência e sagaz. Mas, para que a culpa
qualquer coisa dotada de algum reos do país – que não deixa de pretada pelo seu protagonista na indignação de Heloísa Hele- brasileira recente parece reve- de tudo não incida sobre a mal-
atributo público. São as “tira- ser um índice de precarização como ápice de uma biografia na. Na melhor das hipóteses, fi- lar, ao contrário, é antes um hi- ta,é forçosodizerque suainape-
nias da intimidade”, das quais do espaço público – é apresenta- pessoal, pontuada por marcas camos com exemplos de com- perativismo social, fortemente tência cívica nada possui de na-
bem dizia mal Richard Sennet, da invariavelmente como uma expostas na perspectiva da vida portamentosindividuaisvirtuo- inscrito na dimensão privada da tural. Ela é, antes de tudo, um
eoapegoàumaexistênciavidei- coleçãodedramas,digotramas, privada do personagem. Seu ca- sos, se tanto. Nada que nos tire vida. No lugar da côdea de pão, o produto da oferta política. Eis aí
rinha – para introduzir entre e infortúnios pessoais: o fígado tivante e genuíno “lado huma- da sombra e do sono do raquitis- reino do apetite desenfreado, ao um mundo de perfeito equilí-
nós delicioso e auto-evidente que não chegou a tempo para o no”acabouporrepornavidapú- mo cívico e da rarefação da at- invés da sacristia, as teologias brio: oferta e demanda apresen-
termo português – que se im- transplante do menino, o joga- blica uma versão, com altas do- mosfera pública. A certeza ínti- doprogressoindividual.E, é evi- tam-se como figuras exemplar-
põemcomoreferênciasàidenti- dor de futebol que não chegou a ses de condensação popular, do madapurezaépoucodiantedes- dente, nada de imobilidade e mentesimétricas.Chamama is-
dade pessoal e coletiva. tempo para o Natal em família e homem cordial, descoberto/in- se passivo. inércia. Se não inscritos na vida so de mercado perfeito. E, por
Pois bem, do lado de cá do assim por diante. ventado por Sergio Buarque de A gravitação exercida no pública, os “anônimos” brasilei- assimser, “nãohá drama, tudo é
Atlântico as linguagens da vida Não é que não haja indigna- Holanda. No filme de João Mo- campo político pelos fatores de rossãoprotagonistasdeumpro- intriga e trama”. ●
privada parecem ter colonizado ção.Aspessoasaparecemtrans- reira Salles, a vitória eleitoral, ordem privada é velha conheci- cessosocialimparávelemovedi-
nossas percepções e nossos dis- tornadas, as pressões cardía- mais do que expressão de um da do ensaísmo brasileiro, com ço. Atestam-no as incontáveis *Renato Lessa é cientista
cursos sobre a política. Há por cas,decerteza,sobem,impropé- movimento histórico e público, freqüência tido como exercício redes da informalidade e, por político do Iuperj e autor de
toda parte fragmentos desse rios e palavrões abundam, mas ali ficou registrada como uma depensadoressociaispré-cientí- quenãodizê-lo,daprópriailega- Presidencialismo de Animação
processo.O último debatedo se- tudoissodissolvidoemumocea- sensação inscrita na lógica dos ficos. As marcas desse fator são lidade. Milhões de brasileiros ti- (Vieira e Lent, 2006).

FILIPE ARAUJO/AE
11/4: 14/9: quando nacionalizou as reservas
Varig, Varig,Varig O gás não é nosso de gás e colocou tropas do Exérci-
to na porta das refinarias.
Lula diz que dinheiro público A 17 dias da eleição, o presidente
não deve “salvar” empresas priva- Lula é surpreendido por uma de-
das e não paga a dívida de R$ 7 bi- cisão do colega boliviano, Evo
18/10:

ALIÁS lhões da Varig. Por meses os funcio-


nários da companhia aérea fazem
protestos. Finalmente, a VarigLog
Morales, que confisca as instala-
ções e o fluxo de caixa das refina-
rias da Petrobrás naquele país.
O índio, a Vale e Lula
Cerca de 150 índios xicrins, da
Terra Indígena Catete, invadem o

O ANO compra a Varig, que assim retoma


parte das operações.
Morales já havia pegado o governo
brasileiro desprevenido em maio,
Núcleo Urbano de Carajás (PA),
onde está uma das principais mi-
LULA MARQUES /FOLHA IMAGEM

Por causa do acidente com o


REVISTO 8/7:
nas de minério de ferro da Vale do
Rio Doce. A intenção é pressionar
a companhia para aumentar o di-
Boeing da Gol, controladores
aéreos decidem adotar a opera-
Cotas? Depois... ção-padrão e reduzir o número
nheiro destinado à comunidade
Planalto decide rever de vôos monitorados por profis-
indígena. Um mês depois, o presi-
o Estatuto da Igualda- sional. Há um empurra-empurra
dente Lula afirma que questões
de Racial, que obriga de responsabilidades entre In-
ligadas aos índios, quilombolas e
à criação de cotas fraero e Anac e o caos se esten-
ao meio ambiente são entraves ao
para negros no servi- de até o fim do ano. A ver. que hoje recebem R$ 12.847,20,
desenvolvimento, causando a ira
ço público. Alega- passariam a ganhar R$ 24.500.
de militantes e ambientalistas.
6 saias-justas
CHRISTIAN LOMBARDA/EFE

ção: cotas raciais O episódio rendeu até sermão do


criam mais proble-
13/12: arcebispo de Brasília diante do
mas do que solu- 26/10: Salário máximo presidente da Câmara, Aldo Rebe-

2006>> ções. Intelectuais e


militantes do movimento negro
bateram pesado e a votação
ficou para 2007.
Começa o caos
Atrasos de até 15 horas tomam
conta dos aeroportos brasileiros.
Deputados e senadores decidem
quase dobrar os próprios salários
e garantem aumentos automáti-
cos no futuro. Os parlamentares,
lo. Foi pouco. O STF derrubou o
aumento, mas os congressistas
anunciaram que retomarão a
questão em 2007.
ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% PB
100% ESCALACOR 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% COR
80% 85% 90% 95% 98% 100%

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DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2006


O ESTADO DE S. PAULO
ALIÁS J5
ALIÁS J5

TRAVESSIA ‘06/07: Empresas brasileiras investem lá fora e provam da globalização

O efeito bumerangue dos lucros


PAULO AMORIM/AE

Horacio Lafer
Piva*

maresultante obri-

U gatória no sistema
capitalistaé agera-
ção de lucro. E es-
se lucro, onde quer
que ocorra, se tiver boas ra-
zões, retorna de várias manei-
ras ao seu ponto original. Nes-
se caminho pode gerar mais ou
menos benefícios, mas seu sal-
do costuma ser positivo. Assim
sendo, buscá-lo, a partir de pre-
missas adequadas, tem uma ló-
gica que não pode ser confundi-
da com dispersão.
Não se pode acreditar que
há quem ainda não esteja con-
vencido da inexorabilidade da
globalização. Deve-se discuti-
la, questioná-la, temperá-la
com políticas negociais e estru-
turantesquanto àscontraparti-
das vis-à-vis a velocidade das
aberturas comerciais, mas ela
é uma realidade inconteste.
Num mundo onde bits e
bytes movem-se livremente
sem ter de se preocupar com
tempoou espaço, fez bemoBra-
sil de aceitar o desafio da inser-
ção internacional. Aliás, era fa-
zer ou fazer. Deveria, de fato,
ter sido maisbem- cuidada, cer- FORÇA - No Pará, empregado da Vale acompanha a manobra do caminhão carregado de minério de ferro. Com a canadense Inco, a empresa fez-se a segunda mineradora do mundo
tamente melhor negociada,
mas, em tempos em que a cre- cado potencial de Sonho de Val- estrutura, mais flexibilidade momeio para odesenvolvimen- sistência para conquistar uma em outras paragens retorna de
dencial principal é o conheci- sa, Bis e Requeijão Poços de nas regras trabalhistas, menos to, que é a tradução de cresci- inércia própria se e quando a alguma forma para o País, seja
mento, no qual ciência e tecno- Caldas... Nossa presença, em- carga tributária, menor pre- mento com justiça social. fase, sempre cíclica, das “vacas em dividendos, seja em produ-
logia estão convertidas em for- bora ainda tímida, é bem-acei- sença do setor público. Podemos reparar, entretan- magras” retornar. tos ou respeito à maioridade de
ça produtiva estratégica e a ta, crescente e multissetorial. Contudo, as razões são mais to, que não são muitas, ainda, Além disto, temos desenvol- nossas comparações.
gestão criativa abre espaço pa- Estudos empíricos revelam complexas, não obstante a li- as empresas brasileiras com vido em algumas de nossas es- Sem construção de um pa-
ra mais ousadia, o caminho es- que a empresa internacionali- ção de casa sistêmica que te- unidades produtivas no exte- trelas uma excelência todapró- drão de competitividade mun-
tava dado e negá-lo seria com- zada normalmente tem produ- mos internamente de fazer. rior. Claro, há aquelas que in- pria em gestão. Estas, por sua dial, não há como conviver com
prometer o futuro. tividade e rentabilidade maio- Companhias como a Vale do corporaram novas compa- vez, disponibilizam cada vez a globalização e, simultanea-
Durante muitos anos fica- res do que suas congêneres do Rio Doce, Petrobrás e outras nhias, mas operações greenfiel- mais suas melhores práticas, mente, reduzir a exclusão so-
mos a discutir mecanismos de setor. Não há comprovação, co- são casos de grande geração de ds ainda são esparsas. Não di- gerando um ciclo virtuoso. O cial, valorizar a cidadania e des-
proteção que regulassem a ins- mo alguns alegam, sobre a re- caixa com visão de negócios minui, entretanto, o valor do potencial de crescimento, as- cortinar uma perspectiva aos
talaçãode empresasoua chega- duçãode exportaçõese,seocor- mundiais. Casos de sucesso avanço geográfico, que por si sim, inclusive nos seus valores brasileiros, em especial aos jo-
da de produtos similares de fo- rem em um primeiro momen- que merecem ser estudados, só, seja como for, costuma ser intangíveis, é enorme. vens, para que possam vislum-
ra do país. Uma discussão vi- to, certamente crescem em se- corporações que satisfazemne- um caminho sem volta. Ora, se o mercado interno brar o futuro não mais como
brante, oportuna em alguns ca- guida com o comércio “intrafir- cessidades e criam novas opor- Que não se perca muito tem- andadébil e seasempresas bra- uma possível ameaça mas co-
sos, mas fadada a ter no futuro ma”. Além do que há uma con- tunidades para elas mesmas e podiscutindo se a empresa bra- sileiras são mais competitivas mo uma efetiva promessa.
seu lugar apenas na história. cordância de que empresas todas as outras que consciente- sileira está ou não pronta para que seu próprio país, não há de A única maneira de nos li-
Parece chegada a hora, pois, mais competitivas fortalecem mente resolvam buscar o cami- o mundo. Empresários são prá- se estranhar o movimento. vrarmos desta dependência
de “invadir as praias dos grin- a estrutura produtiva do país nhodo crescimentoforadoBra- ticos, sabem fazer contas, ava- Ao contrário, quem sabe es- quase infantil dos humores
gos”. Embora sempre se possa sil, já que o que guia a expansão liamambientes, maximizam re- cruéis da globalização é enfren-
mostrar ao mundo que este é para o exterior são a ousadia e sultados, que é o que deles se tando-a. Já há muito sabemos
umpaís sem problemasde fron- O MUNDO ESTÁ as oportunidades de negócios. espera. Compromissos com SEM UM PADRÃO DE que o comércio internacional é
teiras,sem pretensões hegemô- FINANCIANDO COMO Os motivos são vários. Há sustentabilidade e, novamen- COMPETITIVIDADE, uma fonte de crescimento. E as
nicas, sem complexas questões grupos que desejam apenas te, com seus acionistas. empresas descobriram que,
raciais, sem crises naturais, NUNCA AS OPERAÇÕES criar uma percepção de que al- Embora a principal fonte de COMO GLOBALIZAR E além do aumento de produção
com grande demanda reprimi- BRASILEIRAS cançaram o padrão de global financiamentoda internaciona- REDUZIR A EXCLUSÃO? e redução de custo, obtêm mais
da, e, portanto, pronto para players. Algumas indústrias ad- lização ainda seja o capital pró- tecnologia, seja pela importa-
crescer muito mais, é tempo de quirem plantas, e com isto ele- prio, o fato é que o mundo está ção, ou mesmo pelo desafio da
levar nossa criatividade e expe- como um todo. vam a média de seus ratings, financiandoas operações brasi- tá-se a destravar nosso poten- competição.
riência de gerenciamento de Foram-seantigospreconcei- captando recursos a um custo leiras como nunca. Prazos lon- cial de crescimento. Nessas Buscar novas fronteiras é o
crises e ciclotimias para outros tos que bradavam contra a ex- menor. Há ainda o caminho do gos, taxas baixas, garantias ra- desbravadoras a inovação per- destino, e bastante próximo, de
lugares do mundo. portação de empregos, de capi- mercado de capitais, que quer zoáveis, redução de riscos cam- meia toda a organização, a tra- muitas das corporações brasi-
Difícil? Não. Não somente tal,desubstituição dasexporta- saber quem é quem, e aprecia biais ativo-passivos. A prospe- dicional hierarquia top-down leiras. São bons sinais.
cada vez mais exportamos nos- ções de bens do Brasil para a operações sem fronteiras. Ou ridade mundial gera liquidez, se reinventa, os compromissos Não há que se simplificar as
sos executivos, reconhecidos produção no exterior, de au- seja, há uma lógica produtivis- que por sua vez procura ativos sãocom resultados efetivos.Es- explicações, mas também não
como talentos na arena da ad- mento do pagamento de tribu- ta, mas não menos importante em empresas ou mercados ain- tas empresas sabem superar o sofisticá-la em demasia. Cres-
ministração, como já podemos tos em outros países. E não pe- que sua estratégia financeira. da não maduros. Procura com estágio de fatores, o da eficiên- cernãoé umaexpressãodevon-
ver chineses andando em auto- lo que possam ter tido de válido Demandase substituiçãode im- afinco, e nem sempre sucesso, cia e já navegam no da inova- tade, mas produto de ações, e a
móveis da General Motors fa- enquanto alertas, mas pelo des- portação locais, sinergia com já que o outro lado deste “pro- ção. É natural que elas se sin- única forma de criar cresci-
bricados no Brasil, voando em foque nesta quadra econômica os clientes, acompanhamento gresso” é a valorização desses tam mais à vontade para saltos mento sustentado é por meio
aeronavesda Embraer, proces- do mundo. dos concorrentes, escala e re- patrimônios, com múltiplos de novos, e que, fruto desta atitu- das empresas privadas, sem
sando celulose de florestas Para aqueles que navegam cursos mais baratos são resul- alavancagem que inviabilizam de, incorporem novos vetores medo do lucro responsável, on-
plantadas da Aracruz. Há hoje por esse vetor, a resposta é que tados diretos nesse ambiente algumas das pretensas bem- de crescimento. de quer que ele aconteça.●
árabes consumindo carne bra- investimento no exterior é rea- tão competitivo e, na maioria vindas consolidações. Ora,se queremosmaisresul-
sileira,russos calçandomais sa- ção das empresas, não a causa das vezes, com reflexos nos in- Não há garantia contudo, ao tados no País, façamos o que se * Horacio Lafer Piva, empresário
patos da Azaléia, americanos de problemas. E que o governo vestimentos e nos bolsos dos contrário, de que tal situação tem de fazer para tal. Os diag- e ex-presidente do sistema
usando motores Weg, africa- deveria se preocupar em tor- acionistas. perdure, de maneira que temos nósticosesugestões estão à me- Fiesp/Ciesp. Preside a Associa-
nos movendo-se em ônibus da nar o ambiente mais favorável Aliás, nos países avançados, de ser rápidos, lutar pela maior sa e são bem exeqüíveis. Mas, ção Brasileira dos Fabricantes
Marcopolo. Para não falar do e atraente aos negócios, com festeja-se o sucesso. O lucro fatiapossívelde recursose mer- enquanto isso, aceitemos tam- de Celulose e Papel (Bracelpa) e
boom das havaianas e do mer- menos burocracia, mais infra- não é um pecado, entendido co- cados, ganhando massa e con- bém que as margens geradas o Instituto DNA Brasil.
REUTERS

24/1: ce (CVRD) compra 75,66% do


That’s all folks! capital da mineradora cana-
dense Inco. A Vale, que era a
O Grupo Walt Disney
quarta maior mineradora do
fecha acordo para
mundo, torna-se, assim, a se-
a compra da Pixar

ALIÁS
gunda maior. O negócio é con-
Animation Stu-
siderado a maior aquisição já
dios, numa opera-
realizada por uma empresa
ção avaliada em
brasileira.
O ANO US$ 7,4 bilhões.
No acordo de com-
REUTERS

REVISTO pra entre as empresas, que já ti-


nham uma parceria, cada 2,3
ações da Disney foram trocadas
ton, o Bank of America recebe cer-
19/12:
Tem suco na Coca
ca de US$ 2,2 bilhões em ações por 27 bilhões de euros pela fundado por Steve Chen e Chad A Coca-Cola e a Femsa
por uma ação da Pixar. Ao térmi-
do Itaú. Em novembro, o Itaú com- rival Mittal Steel, pondo fim a Hurley, maior site de comparti- (engarrafadora da Co-
no do acordo, o fundador da Ap-
pra mais duas unidades do Bank cinco meses de batalha numa lhamento e distribuição de ví- ca e dona da Kaiser)
ple Computer e presidente da Pi-
of America no exterior: o BankBos- das mais acirradas disputas da deos, por US$ 1,65 bilhão. O anunciam um acordo
xar, Steve Jobs, torna-se o maior
ton Internacional, com sede em Europa. A combinação das YouTube cresce de maneira para a compra de
acionista individual da Disney,
Miami (EUA), e o BankBoston duas maiores siderúrgicas do excepcional desde a sua funda- 100% das ações da
6 grandes com 7% das ações.
Trust Company Limited, com se- mundo forma uma gigante com ção, em 2005. A cada dia, mais mexicana Sucos del
negócios de em Nassau (Bahamas), por participação de mais de 10% de 100 milhões de vídeos são Valle por US$ 380
EPITÁCIO PESSOA/AE

2/5: US$ 150 milhões. do mercado mundial. visualizados no portal. milhões. A etapa se-
guinte será a união da
Conta conjunta
2006>> O Itaú compra o BankBoston no
Brasil em um negócio pago em
ações. Controlador do BankBos-
26/6:
Conversa de gigante
A Arcelor aceita ser adquirida
9/10:
Os hits do momento
O Google compra o YouTube,
24/10:
Rumo à liderança
A Companhia Vale do Rio Do-
filial da Sucos del Val-
le no Brasil com a
Sucos Mais, que per-
tence à Coca-Cola.
ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% PB
100% ESCALACOR 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% COR
80% 85% 90% 95% 98% 100%

Produto: ESTADO - BR_B - 6 - 31/12/06 J6 - BRASIL Cyan Magenta Amarelo Preto

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DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2006


J6 ALIÁS O ESTADO DE S.PAULO

Travessia ‘06/07: Nosso sistema prisional só libera a real incapacidade dos governos
ALEX SILVA/AE-14/05/2006

A nefasta
sanha de
prender
mais,mais...
crimes hediondos” (Lei nº
Marcos 8.072/1990), está se acentuan-
Rolim* do por conta da extraordinária
sensação de insegurança, moti-
vada, em parte, pelo aumento
das ocorrências de determina-
dos crimes – e, portanto, pelo
alargamento de experiências
overnantes, gesto- concretas de vitimização – e, de

G res,magistrados,le-
gisladores e forma-
dores de opinião de-
vem lidar com pro-
blemas reais e, tanto quanto
possível, procurar soluções pa-
ra eles. No Brasil, entretanto,
outra, pela transformação da
violênciaemumespetáculoren-
tável por boa parte da mídia na-
cional. Pressionados por resul-
tados, policiais tendem a pren-
der mais, promotores produ-
zem mais denúncias e apelos,
tornou-se comum que, entre magistrados passam a decre-
pessoas com responsabilida- tar prisões preventivas como
des públicas, o compromisso se estas fossem a regra do pro-
mais autêntico seja o de procu- cesso penal e a prolatar senten- MELHOROU? – Nas rebeliões do PCC, evidências eloqüentes da produção do crime e da violência a partir da experiência de aprisionamento massivo
rar estabelecer uma sintonia ças mais longas e, last but not
com o senso comum e as expec- least, os membros do Congres- tre 1987 e 1996, sendo que a Ho- dores.Istoocorreporqueasfun- lo sem qualquer base legal (a re- dos fatores de risco, preditivos
tativas socialmente dissemina- so Nacional alteraram a legisla- landaencarcerou,nomesmope- ções antes exercidas por aque- forma que trouxe o RDD para a para o crime e a violência, e dos
das – ainda que isto signifique, ção, criando novas figuras típi- ríodo, 20 vezes mais do que a les que foram encarcerados são Lei de Execução Penal, de duvi- agenciamentos que os tornam
como ocorre normalmente, cas, agravando penas e tornan- França. Situações assemelha- rapidamente ocupadas por ou- dosa constitucionalidade, só imediatamente possíveis – que
agravar os problemas reais. do a execução penal mais rigo- das fizeram com que, em no- tros, sendo o tráfico de drogas ocorreuem 2003). Mas, quando rompa, portanto, com a visão
Poucos temas atestam tão rosa.Taismedidas,sempresau- vembro de 2002, gestores dos apenas um dos exemplos. se trata de descumprir a Lei tacanha que reduz o tema da
dramaticamente tal inclinação dadas pela opinião pública, logo sistemas penitenciários de 44 Todos aqueles que manda- contra condenados ou suspei- segurança ao papel a ser de-
oportunista e demagógica co- se demonstram inócuas, mas o países do Conselho Europeu, mos à prisão, dela sairão mais tos, não parece haver, de fato, sempenhado pelas polícias e
moaqueles suscitados pelosde- ciclo da demanda punitiva – ao reunidos em Estrasburgo, ob- cedo ou mais tarde. E o fato é maiores problemas no Brasil. que estruture a prevenção co-
safios da segurança pública. O invés de se fechar – retoma o servassemqueonúmerodepre- que saem ou mais habilitados a Pelo contrário, o senso comum, mo uma prioridade de Estado;
sistema prisional e as políticas caminhojátrilhado,identifican- sos em cada nação é determina- praticar crimes mais graves ou a cultura institucional reprodu- que forme um Serviço Nacio-
deexecuçãopenalaparecemco- do as novas medidas como insu- do pelas respectivas políticas marcados de tal forma pelo es- zida pelas polícias e a conduta nal de Pesquisas de Vitimiza-
mo questões emblemáticas da ficientes ou “pouco rigorosas”. criminais e não pelas taxas cri- tigma que jamais encontrarão da grande maioria dos agentes ção e um Sistema Unificado de
incapacidade dos governos – de Como em um sintoma neuróti- minais. Ou seja: cada sociedade uma chance de sobrevivência públicos (incluindo nossa “qua- Informações Sobre Crime e
todos eles, bem entendido – em co de repetição (wiederholen pa- pode escolher, por várias ra- foradasalternativasilegais,ain- lificada” representação políti- Violência no Brasil; que refor-
formatar políticas capazes de ra Freud, ou “pedir novamen- zões, o número de presos que da que tentem. A experiência ca e parcelas significativas dos me profundamente nossas polí-
produzirresultados benéficosà deseja ter, se quer altas taxas de encarceramento tem sido, cias, qualificando-as, remune-
população. deencarceramentoou não.Fin- assim, um dos principais meca- rando decentemente seus pro-
Em dezembro de 2005, se- AO CONTRÁRIO DO lândia, Canadá e Alemanha, nismos pelos quais se opera a NÚMERO DE PRESOS fissionais, protegendo-os e as-
gundo dados consolidados pelo QUE SE DIZ, O BRASIL É por exemplo, escolheram dimi- produção do crime em escala É DETERMINADO POR segurando-lhes a perspectiva
Departamento Penitenciário nuir drasticamente suas popu- “industrial”. O que vale ainda de uma carreira profissional
Nacional (Depen-MJ), o Brasil UM DOS PAÍSES ONDE lações carcerárias sem que dis- mais para as piores prisões, pa- POLÍTICAS, NÃO POR (reforma que não se fará sem a
possuía pouco mais de 361 mil MAIS SE ENCARCERA to tenha resultado qualquer di- ra aquelas que asseguram, so- TAXAS CRIMINAIS desconstitucionalização do
presos. Isto significa, tendo em nâmica criminógena. Pelo con- bretudo, sofrimento, onde não modelo de polícia e sem que se
conta a média de crescimento trário, os estudos disponíveis há qualquer respeito à dignida- expurgue das corporações os
da massa carcerária brasileira, te”), insiste-se na mesma recei- apontam para o sucesso destas de dos detentos, onde a tortura membros do Ministério Públi- criminosos que lá atuam); que
que já ultrapassamos a barrei- ta de fracasso, exige-se mais do experiências que apostaram se banalizou, onde não há inves- co e da Magistratura) legiti- lance as bases para um direito
ra dos 400 mil presos no País e mesmo. em penas alternativas para a timentos em educação e profis- mam tais ilegalidades com mui- penal mínimo e para a emer-
que teremos, se nada for feito, Mas, como na psicanálise, o grande maioria dos delitos. sionalização e onde os próprios ta freqüência, por inação ou pe- gência de formas inovadoras
cerca de 1 milhão de detentos repetido nunca é exatamente o Para esta decisão, é preciso familiaresdosapenados sãohu- lo tipo de militância anti-huma- de tratamento de conflitos, co-
nos primeiros anos da próxima mesmo. No caso da elevação saber, primeiro, que a incapaci- milhados. Tal é, precisamente, nista que se alastrou como uma mo a mediação comunitária e a
década.Hoje,apenasparase re- das taxas de encarceramento e tação produzirá, sempre, um o caso da esmagadora maioria pragaemmeioaestesrepresen- Justiça restaurativa, entre
ceber o incremento anual de da deterioração das condições efeito muito modesto sobre os das prisões brasileiras. tantes das elites brasileiras ca- muitos outros passos.
presos(parasemanter, portan- de vida nas prisões, o que fize- fenômenos contemporâneos da O caso de São Paulo oferece, racterizados pelo seu ânimo em O Brasil não pode, em sínte-
to, a situação de superpopula- mos foi contribuir para o au- criminalidade e da violência. neste contexto, com o surgi- favor de políticas de tolerância se, se permitir a irresponsabili-
ção prisional inalterada), seria mento das séries causais e das Comalguns poucosperfis infra- mento e consolidação do PCC, zero e inteligência idem. dade de seguir tratando do te-
preciso construir, anualmente, dinâmicastipicamentecriminó- cionaisépossívelsealcançarre- as evidências mais eloqüentes a O Estado democrático de di- ma da segurança pública com
cerca de 80 novos presídios pa- genas. Em outras palavras: sultados apreciáveis de redu- respeito da produção do crime reito,instituiçãoaindafrágilpe- base no sensacionalismo midiá-
ra500 presos cada. Oque impli- coma crescentedemanda puni- ção de crimes com a prisão (tal e da violência a partir de uma lolegadodeautoritarismo,lassi- tico e nas frases de efeito saca-
caria um custo de quase R$ 1 tiva e a generalização da recei- éocaso,em regra,das condena- experiência massiva de encar- dão moral, ausência de espírito das das estratégias de marke-
bilhão, sem contar o que passa- ta “prender mais” e “endurecer ções de responsáveis por cri- ceramento, para adultos e ado- públicoeinsensibilidadedas ca- ting político. Nem, tampouco,
ria a ser gasto com milhares de o jogo com os bandidos”, o que mes sexuais, de latrocidas, de lescentes, construída com base madas privilegiadas, aguarda o podemosautorizarqueaincom-
novos agentes e com o custeio se alcançou foi a produção de assassinosseriais ou de respon- no desrespeito à lei e à dignida- momento de ser apresentado petência governamental e a de-
das novas instituições. Uma es- maiscrimes e de mais violência. sáveis por vários homicídios, de de das pessoas. O Estado, como àsinstituiçõesdesegurançapú- magogia reinante justifiquem
timativa que torna claro por Os especialistasna área– pe- articuladores de quadrilhas, de se sabe, possui cerca de 40% de blicanoBrasil,oque éverdadei- suas opções desastradas, mobi-
que a idéia de “construir mais lomenosaquelesquenão esque- torturadores e de corruptos e todos os presos brasileiros e é ro para as polícias e, sobretudo, lizando o medo. Senão por ou-
presídios”é,paraalémdaemer- ceram suas lições em troca de corruptores), mas, para o con- aquele que mais investiu na para o sistema prisional. tro motivo, porque, como o dis-
gência e do desespero, uma cargos – sabem que legislações junto das condenações à prisão, construção de novas prisões. Estamos, na verdade, dian- se Samuel Taylor Coleridge,
“não-proposta”. mais rigorosas não significam os efeitos imediatos quanto às Mais do que isso, foi também o te do desafio de enfrentar, com “em política, o que começa co-
Ao contrário do que muitos menos crimes e que impunida- taxascriminaisépróximodeze- lugarondeseconcebeuumregi- base no diálogo com os acúmu- mo medo normalmente termi-
acreditam,oBrasiléumdospaí- de tem muito mais a ver com a ro. Estimativas do Home Office meespecialde execução penal– los teóricos e as evidências co- na em loucura”. ●
ses onde mais se aprisiona, sen- incapacidade de produção da (do Reino Unido) apontam para o Regime Disciplinar Diferen- lhidas pela pesquisa científica
do que, na última década, mais prova do que com os marcos le- redução de apenas 1% nas taxas ciado –, pelo qual é possível iso- em todo o mundo, um caminho *Marcos Rolim é jornalista,
do que dobramos nossas taxas gais. As evidências são inúme- criminais para cada aumento lar completamente um preso democrático capaz de produ- escritor e professor da Cátedra
de encarceramento. Esta ten- ras. Holanda e França, por de 15% da população carcerá- por até dois anos. Tal experiên- zir políticas de segurança pú- de Direitos Humanos do
dência, tornada mais nítida a exemplo, tiveram 12% de au- ria. Uma relação considerada cia, assinale-se, foi colocada ini- blica eficazes. Uma opção que Centro Universitário Metodista
partir da aprovação da “Lei dos mento nas taxas criminais en- “otimista” por alguns pesquisa- cialmenteemvigoremSão Pau- se afirme desde a identificação IPA (Porto Alegre)

28/1: 14/8: 29/10: 28/12:


Bebê da Pampulha Facada em Sem a filha e sem defesa À moda do PCC
“A droga dessa menina.” É assim Copacabana Daniele Toledo do Prado é acusa-
Só no incêndio de um ônibus inte-
que Simone Cassiano da Silva se da de pôr cocaína na mamadeira
As férias terminam de forma restadual morreram sete pes-
refere à filha de 2 meses depois de da filha de 1 ano. A criança mor-

ALIÁS
cruel para a família portuguesa soas. Numa madrugada de pâni-
confessar ter colocado a criança reu. O laudo atesta que não havia
Bordalo. O filho do casal, An- co, como que repetindo no Rio de
na Lagoa da Pampulha, em BH, droga na boca do bebê. É solta. Na
dré, 19 anos, é esfaqueado na Janeiro o horror do PCC, delega-
dentro de um saco de lixo. cadeia, foi espancada.
barriga por Claudeci Bezerra cias e cabines de polícia foram
O ANO
JOSE LUIS DA CONCEIÇÃO/AE

O bebê, encontrado vivo, foi da Silva e morre na praia de metralhadas. Um soldado da PM


entregue a um casal que Copacabana.
10/11: que patrulhava a Lagoa, região
REVISTO esperava na fila de adoções.
CLÁUDIA ANDRÉA MOREIRA/O TEMPO 10/9:
Seqüestro passional
André Luiz Ribeiro grita “Quero
nobre da cidade, morreu atingido
por 12 tiros. Durante o dia, houve
matar na frente da Globo!” Faz arrastão em Bangu. O saldo final,
Morreu num sábado, a ex-mulher e 40 reféns por 10 até o fechamento desta edição, é
após o drinque horas, num ônibus, na Baixada de 18 mortos.
Sete meses depois que o Tribu- Fluminense. É preso. CELSO MEIRA/EFE
nal de Justiça anulou a condena-
ção a 632 anos pelas 111 mor- 11/12:
6 crimes e um tes no Carandiru, o coronel Ubi-
Horror em Bragança
ratan Guimarães é achado mor-
caso suspeito to com um tiro na barriga. Tudo A família de Eliana Faria da Silva é
rendida por dois homens. Assal-
aponta Carla Cepollina, a namora-
tam a loja onde ela trabalhava e

2006>>
da, como suspeita. Ela foi indicia-
da após forjar provas e ser des- incendeiam um carro com ela, o
mentida pelo porteiro do prédio marido, o filho de 5 anos e uma
onde morava o coronel. vendedora. Todos morreram.
ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% PB
100% ESCALACOR 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% COR
80% 85% 90% 95% 98% 100%

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DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2006


O ESTADO DE S. PAULO
ALIÁS J7
ALIÁS J7

Travessia ‘06/07: Os entraves do diálogo cristão-muçulmano e a modernidade secular

As lições que o papa levou


DIVULGAÇÃO
aosoutros– etambémaqui Ben- tãos que querem se reconciliar
Hans to XVI aprendeu uma lição. uns com os outros, além de con-
Küng* Obviamente chocado com a tinuar anunciando apenas no-
reação vigorosa e violenta a vas conversações, pequenos
suas palavras por todo o mun- passos, mais oração e esperan-
do muçulmano, o papa mos- ça no Espírito Santo? Eles cer-
trou sinais de empatia na Tur- tamente ficariam impacientes,
quia que provavelmente não te- exigindo mais comprometi-
m visita recente à ria se permitido cogitar meses mento, mais franqueza e mais

E Turquia,opapaBen-
to XVI fez de sua re-
tórica ainda mais
que amistosa. O teó-
logo não virou um diplomata,
comosugeriram alguns comen-
taristas, mas sua passagem por
antes. Ele foi admiravelmente
contido em Hagia Sophia (San-
ta Sofia), o museu e ex-mesqui-
ta construída para ser uma
igreja cristã. Ele orou em silên-
cio com o grande mufti na Mes-
quita Azul, equivalente muçul-
disposição de assumir riscos.
Avançar com amor e abertura.
Será que podemos contar
comqueBento XVItenhadispo-
sição para esse compromisso?
E será que ele terá a força ne-
cessária?
lá mostrou que, desde seu dis- mano a Santa Sofia. Mais tar- Seu encontro com o Patriar-
curso em Regensburg, em 12 de de, agitou uma bandeira turca. ca Bartolomeu I, ecumenica-
setembro, o pontífice aprende- Essas imagens e gestos são mente aberto, foi decepcionan-
ra uma lição. com freqüência mais eficazes te. Ele foi pouco além do beijo
As observações sobre o Islã do que muitas palavras. Em si, fraternal que Paulo VI havia
que ele citou em discurso na- eles não são nada, a menos que trocadocom o Patriarca Atená-
quela cidade alemã não foram sejamseguidospor um compro- goras em Jerusalém, no ano de
apenas pouco diplomáticas. Fo- misso contínuo com o diálogo. 1964. Naquela ocasião, as exco-
ram erradas. A pregação do Ainda assim, além da informa- munhões mútuas de 1054, o ano
profeta Maomé não foi, de ma- ção e da empatia, esse diálogo do cisma, foram revogadas.
neira alguma, desumana. Ele requer um terceiro elemento: Por que não restaurar final-
elevou as tribos árabes ao nível reflexão e autocrítica de ambas mente, bons 40 anos depois da-
de uma nobre religião ética e as partes. quele encontro em Jerusalém,
monoteísta. O Islã não é uma A esse respeito, por exem- a primeira comunhão com uma
religião de violência, mas uma plo,odocumento“DominumJe- celebração compartilhada da
religião de submissão ao Deus sus” – publicado em 2000 pelo eucaristia?Em vez disso, em Is-
único, o mesmo Deus dos ju- cardeal Joseph Ratzinger, cin- tambul, o bispo da Velha Roma
deus e dos cristãos. E Alá – tam- co anos antes de sua eleição co- apenas assistiu passivamente
bém o nome pelo qual os cris- mo papa, precisa ser revisto à celebração da eucaristia pelo
tãos árabes invocam o Senhor com urgência. Com frieza dog- bispo da Nova Roma.
– não é nenhum Deus arbitrá- mática, ele renova uma preten- O principal obstáculo à res-
são arrogante ao predomínio
da Igreja Católica Romana tan-
QUANDO FALOU tosobre outras igrejascomo so- A DIFICULDADE É QUE
SOBRE O ISLÃ, NÃO FOI bre outras religiões, uma pre- ROMA NÃO ABRE MÃO
tensão que a maioria das pes-
MAL COMPREENDIDO. soas considerava extinta de- DE SEU PODER SOBRE
O PAPA ERROU pois do Concílio Vaticano II OS ORTODOXOS
(1962-1965).
Se a Igreja Católica precisa
rio, mas um de justiça e miseri- adotar um tom menos presun- tauração da antiga unidade da
córdia. çoso para com outras fés, paí- igreja é e continua sendo a pre-
Fica evidente que o papa ses muçulmanos como a Tur- tensão do papa ao poder sobre
aprendeu uma lição simples- quia também precisam avan- as igrejas orientais, uma pre-
mente pelofato de que a polêmi- çar no tratamento de suas mi- tensão que vem sendo mantida
ca preleção que ele deu em Re- norias religiosas. desde o século 11. Como argu-
gensburg já foi revisada pela A senha é liberdade religio- mentou meu colega em Tübin-
terceiravez e, na última,30 pas- sa. Sob o governo Erdogan, a gen, Joseph Ratzinger – e o fez
sagens foram sutilmente corri- Turquia está empenhada num por escrito em 1982 –, Roma de-
gidase13 notas derodapéacres- experimento momentoso para ve exigir do Leste uma doutri-
centadasparaque maisesclare- se ver até que ponto um Estado na de primado não maior do
cimentos fossem feitos. secular e o Islã podem ser com- que a que foi formulada e prati-
Entretanto, o esclarecimen- patíveis. Foram necessários sé- cada no primeiro milênio.
to poderia ser levado muito culos – até o Concílio Vaticano Isso significa que não deve-
mais longe: por exemplo, a teo- II – para a Igreja Católica final- ria haver nem um primado de
logia muçulmana atribui parti- menteaceitaros direitoshuma- jurisdição não bíblico sobre as
cular importância à afirmação nos e, em particular, a liberda- igrejasorientais, tal comofoi re-
de que a fé muçulmana é racio- de religiosa.Mas ela finalmente clamado por Roma a partir do
nal e não requer a crença em o fez. Essa aceitação também século 11, nem um primado in-
quaisquer dogmas contrários à deveria ser possível no Islã. conseqüente de honra. Em vez
razão. Em proveito do papa, 38 Os desdobramentos na Tur- disso, na tradição compartilha-
ilustres eruditos muçulmanos quia estão sendo atentamente NA MESQUITA AZUL - Ao menos com os muçulmanos o papa aprendeu alguma coisa da do primeiro milênio, o bispo
de todo o mundo responderam, acompanhados em todo o mun- de Roma deveria gozar estrita-
ponto por ponto, e de uma ma- do islâmico: será que ela conse- com conseqüências desuma- com o Islã, terá avançado tam- ortodoxos a se unirem num diá- mente de um primado pastoral
neira admiravelmente concre- guirá estabelecer um curso en- nas. Nisso as críticas levanta- bém com cristãos que lhe são logo fraterno para determinar ecumênico. Nisso João XXIII
ta, aos enganos e incompreen- tre o secularismo anti-religioso das pelo islamismo e o cristia- mais próximos? maneiras em que o trabalho de poderia servir de exemplo: ele
sões comuns entre cristãos. e o fundamentalismo religioso? nismo se justificam. Mas as Dificilmente. Por mais li- Pedro possa ser tocado sem se limitou amplamente a lide-
Isso em si é um fato sem pre- De qualquer modo, os ataques duasreligiões, elas próprias, fo- ções que o papa tenha aprendi- prejuízo do respeito à sua natu- rança espiritual, inspiração,
cedentes.Eleé importante tam- terroristas de 11 de setembro ram muitas vezes a origem de do em outras áreas, muito pou- reza e essência. mediação e coordenação.
bém porque refuta enfim o pro- de 2001,e os subseqüentes, pro- crueldades. Hoje deveriam se co aconteceu nesta frente. É fa- O que ele quer dizer com is- Meu conselho cordial a Sua
pagado clichê de que os muçul- vocaram uma discussão inten- mostrar defensoras dahumani- so? O que está realmente acon- Santidadeo papa Bento XVIse-
manos não querem o diálogo. sa sobre violência e terrorismo dade, coisa que felizmente tem tecendo? ria: por favor, aprenda com o
Em sua viagem à Turquia, o em muitos países muçulma- acontecidocom freqüência. Es- NÃO É POSSÍVEL QUE Maisanos de trabalhoem co- professor Joseph Ratzinger de
papa não repetiu as citações so- nos. Isso também é importante te compromisso com o bem-es- 40 ANOS DE DIÁLOGO missões sobre assuntosrelacio- Tübingen! ●
bre o Islã que havia feito na Ale- para um diálogo franco. tar comum deveria ocorrer nados ao papado são completa-
manha. Ao contrário, mostrou- Um diálogo cristão-muçul- também entre homens e mulhe- ENTRE IGREJAS NÃO mente inúteis. As soluções pro- *Hans Küng é padre
se pessoal e publicamente dis- mano construtivo não deveria res cujas idéias são seculares, DÊEM RESULTADO postas por teólogos e comis- e um dos principais teólogos
posto a aprender sobre a reli- erguer novas barreiras contra, com base nos valores e padrões sões têm sido postas na mesa católicos da atualidade.
giãocom opresidentedaautori- porexemplo, amodernidade se- éticos básicos compartilhados há décadas enquanto o Vatica- Por seus questionamentos
dade religiosa estatal, Ali Bar- cular. A função da religião não a que chamamos de uma ética to que Bento XVI tem invocado no as ignora. Não há falta de ao poder papal, o Vaticano
dakoglu. Isto confirma o apelo é principalmente se opor, mas humana ou uma ética global. com freqüência a unidade com- conhecimento teológico. O que retirou sua autoridade eclesiásti-
de Bento XVI por um diálogo apoiar, estar presente para ho- E quanto à Igreja Ortodoxa? pleta entre a Igreja Católica e a está faltando é outra coisa: Ro- ca para lecionar em 1979.
honesto, porque tal diálogo re- mens e mulheres de hoje. Melhorar as relações com essa Igreja Ortodoxa como uma me- ma estar disposta a renunciar Depois da proibição, foi
quer que cada lado tenha aces- É fato que a secularização igreja não teria sido justamen- ta,comofizeramseus predeces- àssuaspretensões depoder, co- nomeado professor de teologia
so a informações sérias sobre o inevitável da modernidade le- te o principal objetivo da visita sores Paulo VI e João Paulo II. mungando do espírito cristão. ecumênica na Universidade de
outro. Requer também empa- vou em parte ao consumismo, do papa à Turquia? Se esse pa- Agora, como eles, o papa está O que os chefes supremos de Tübingen, na Alemanha,
tia, sensibilidade em relação ao relativismo e ao niilismo pa fez progressos nas relações novamente convidando líderes nossas igrejas diriam aos cris- onde se aposentou em 1996.

1/2: São Paulo. Esbanjando bom humor, 23/11:


fala sobre valores humanos e paz
Charges e insultos entre religiões em palestras cujo Revendo conceitos
O jornal francês France Soir republi- ingresso custa R$ 120. Celebrida- O Vaticano finaliza relatório
ca as charges sobre Maomé estam- des e afins comparecem em peso. muito aguardado sobre o uso de

ALIÁS
padas em diários da Dinamarca e preservativos como forma de com-
Noruega, que aproximam a religião 19/7: bater o vírus HIV. Mesmo depois
islâmica do terrorismo. Num deles, de a ONU divulgar que os índices
Bush e a bioética
REPRODUÇÃO

o turbante de Maomé é uma bom-


O ANO ba; noutro, o Profeta tenta barrar
os suicidas que chegam ao
Defendendo a tese de que a
ciência não tem o direito
de infecção no mundo têm cresci-
do constantemente, a Igreja é cau-

REVISTO Paraíso dizendo “as virgens


acabaram!” Elas revoltam
de interferir no que foi
feito por Deus, o presi-
telosa ao liberar os resultados do
debate para que “a promiscuidade
não seja encorajada”. 17/12:
ANTONIO MILENA/AE

os muçulmanos, que entre dente norte-americano


uma manifestação e outra George W. Bush usa A um passo da santidade
fecham embaixadas nos paí- seu poder de veto pela 3/12: O Vaticano reconhece o segun-
do milagre do beato frei Galvão:
ses nórdicos e boi- primeira vez e der-
cotam produtos. ruba a lei que Quem irá ter salvado a vida de mãe e be-
permitiria o substituí-lo em SP? bê em 1999, 177 anos após sua
6 fatos 26/4: financiamen- reagem alegando que a cura de Dom Cláudio Hummes parte para morte. Assim, ele já pode se
to público de o Vaticano após oito anos como
religiosos Budismo pesquisas
várias doenças depende desse
arcebispo de São Paulo. Ele vai
tornar santo em 2007, durante
a visita do papa Bento XVI ao
espetacular com células- trabalho. O porta-voz da Casa
assumir o cargo de prefeito da Brasil. Há oito anos, o frei foi
Branca disse que o presidente não

2006>> Dalai Lama, princi- tronco de Congregação do Clero, responsá- beatificado por João Paulo II,
pal líder espiri- embriões aprova a idéia de “pegar uma coi- vel pelos assuntos relativos a to- que reconheceu as curas feitas
tual do budismo humanos. sa viva e torná-la morta para fins dos os 400 mil padres espalhados por meio das famosas pílulas
AP

tibetano, chega a Cientistas de pesquisa científica”. pelo mundo. do frei Galvão.


ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% PB
100% ESCALACOR 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% COR
80% 85% 90% 95% 98% 100%

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DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2006


J8 ALIÁS O ESTADO DE S.PAULO

Travessia ‘06/07: A guerra civil que o ilusionismo de George W. Bush não pode camuflar

Um Iraque partido em três. Resolve?


HAMEED RASHEED/AP
porcionado pelo Exército que árabe.
Peter W. Mahdi, uma milícia xiita ligada Bagdá poderá ser a capital
Galbraith* ao clérigo radical Muqtada al- única para todo o país, mas tal-
Sadr.Nooestedominadoporsu- vezpreciseserdividida politica-
nitas,muitosbairrossãocontro- mentepararefletira divisão en-
ladospela Al-Qaeda,seus imita- tre oeste sunita e leste xiita. O
dores e pelos baathistas. Curdistãocertamente setorna-
As instituições públicas do rá independente num futuro
ra bem cedo, na ma- Iraque são uma piada. O alar- não muito distante, mas tanto

E nhã de 22 de feverei-
ro de 2006, quando
insurgentes iraquia-
nos, certamente su-
nitas ligados à Al-Qaeda, explo-
diram o santuário Askarya em
Samarra. Não há como negar
deado governo de unidade na-
cional, liderado pelo primeiro-
ministro Nouri al-Maliki, está
eternamente à beira de um co-
lapso, incapaz de chegar a um
acordo sobre qualquer questão
política importante e com seus
os iraquianos xiitas quanto os
sunitassearrogam umnaciona-
lismo que talvez permita que os
dois grupos permaneçam asso-
ciados por laços frouxos num
único Estado.
Solitáriosentreosoutrosira-
que o derramamento de sangue membros xiitas constantemen- quianos,osárabessunitas resis-
e o caos no Iraque a partir deste te ameaçando se retirar da coa- tem à divisão – alguns por nos-
fato foram os detonadores de lizão. talgia do tempo em que coman-
uma guerra civil. O Exército do Iraque está di- davam, outros porque rejeitam
Os xiitas acreditam que o vidido entre batalhões xiitas, tudo o que aconteceu desde que
Mahdi, o 12º e último imã, desa- sunitase curdosemgrandepar- Saddam Hussein foi deposto.
pareceu numa caverna debaixo te homogêneos. Estas unida- Mas como o Curdistão já existe
daquele santuário em 878 e vol- des rotineiramente se recusam e o parlamento iraquiano já
tará um dia para promover a cumprir ordens do líder civil aprovou uma lei formando uma
umaeradepazejustiça.Dopon- legal, quando tais ordens en- região xiita, os sunitas terão de
to de vista dos xiitas iraquianos, tram em conflito com os dese- escolher entre formar sua pró-
a derrubada de Saddam Hus- jos de seus líderes étnicos ou pria região ou se transformar
sein e a vitória eleitoral deles religiosos. Não é de surpreen- num vazio entre o Curdistão e o
nas eleições parlamentares de der que poucos iraquianos con- sul xiita.
2005 constituíram um ato de fiem na polícia ou no Exército Os sunitas podem ganhar
justiça há muito devido a uma nacional. muito com a divisão. A insur-
maioria perseguida. Já os fun- Noiníciodenovembro,quan- gência sunita é impulsionada
damentalistas sunitas, aqueles do insurgentes sunitas massa- pela hostilidade contra os ame-
que destruíram o santuário de craram xiitas em Baquba, uma ricanos e contra o governo cen-
Askariya, deram o seguinte avi- cidade mista a noroeste de Bag- tral dominado por xiitas. Na
so: não aceitarão a nova ordem dá, os líderes xiitas locais não sua própria região, os sunitas
no Iraque. pediram ajuda ao Exército ira- poderão ter um Exército e cui-
Naquele dia da explosão, à quiano nem aos americanos dar da sua própria segurança.
tarde,líderes iraquianossereu- queestavam nas proximidades. Temem, contudo, serem priva-
niramem Bagdá,no quartel-ge- Em vez disso, chamaram o dos dos recursos do petróleo lo-
neral do líder curdo Massoud Exército Mahdi de Bagdá, que calizados ao norte e ao sul. Para
Barzani, onde eu estava hospe- matoudezenasdesunitasdeBa- facilitar a divisão, curdos e xii-
dado.Apesar daspalavrascora- quba – muitos deles sem qual- tasjáfecharamum acordoasse-
querrelaçãocomosataques an- gurandoaos sunitasumaparce-
teriores. Os restantes, simples- la proporcional das receitas
SEM RECONHECER mente foram expulsos da cida- provenientesdopetróleodoIra-
QUE HÁ UMA de. Era isto, evidentemente, o que. Além disso, há grandes
queosxiitas locaisqueriamdes- áreas sunitas onde o petróleo
GUERRACIVIL, NÃO de o início. ainda não foi explorado.
HAVERÁ SAÍDA Autoridades do governo Os vizinhosárabes do Iraque
Bush há muito vêm sustentan- temem que a dissolução possa
do que as notícias provenien- estabelecer um precedente pa-
josas conclamando a unidade tes do Iraque são muito melho- raseuspróprios países,mastal-
nacional, deram-se conta do res do que as que aparecem na vez concluam que um sul domi-
que estava por vir – a guerra ci- mídia, pois 14 das 18 províncias nado por iranianos é preferível
vil. E souberam que eram impo- do país estão seguras. O gene- à dominação iraniana de todo o
tentes para impedi-la. Porém, ral George Casey, omais impor- Iraque.
se decidirmos acreditar nas pa- tante de todos os comandantes ATurquia,ondevivem 14 mi-
lavras do presidente George W. americanos a serviço por lá, lhões de curdos, está preocupa-
Bush e nas de seus principais chegou ao ponto de afirmar da que um Curdistão indepen-
assessores, o que está havendo que o Iraque não está em guer- dente desperte sentimentos se-
no Iraque não é uma guerra ci- ra civil porque grande parte do paratistas por lá. Se bem que o
vil. Ou seja, a falta de disposição território está pacífico, com 80 ASKARYA DESTRUÍDA – O ataque contra santuário xiita partiu definitivamente o Iraque governo em Ancara tem reagi-
do governo americano de en- a 90% da violência ocorrendo do de forma pragmática, culti-
frentar a realidade afeta direta- somente dentro de um raio de muito dividido como também promover a paz entre árabes e tão pode aceitar o fato de que o vandolaçoseconômicos epolíti-
mentesua capacidadedeplane- cerca de 50 quilômetros ao re- não governa nada, quanto mais israelenses, faz sentido conver- país estáquebrado e que a saída cos com o Curdistão – que, co-
jar uma estratégia para lidar dor de Bagdá. Pelos critérios Bagdá. sar com Irã e Síria. Neste está- é buscar acordos bilaterais moa própriaTurquia, é secular,
com a catástrofe na qual se de Casey, a Guerra Civil ameri- O Grupo de Estudos sobre o gio, porém, nenhum dos dois com as regiões curda, sunita e não árabe, pró-Ocidente e pró-
transformou o Iraque. cana também não foi uma guer- Iraque, bipartidário, presidido países poderá fazer muito para xiita. Na primeira opção, os democracia. Um Curdistão in-
A explosão de violência que ra civil. pelo ex-secretário de Estado solucionar a crise no Iraque, EUAteriamqueservirdepacifi- dependente seria uma zona-
teve início em 22 de fevereiro Namelhor das hipóteses, no- dos EUA, James Baker, e pelo cadores entre sunitas e xiitas, tampão útil entre a Turquia e
atingiu proporções alarman- ve das províncias estão seguras ex-deputado democrata, Lee missão que exigiria muito mais um Iraque dominado pelo Irã.
tes. Diariamente, atiradores, e três destas estão localizadas Hamilton, recomenda que a A GUERRA CIVIL soldados, duraria anos e produ- OqueestaguerracivilnoIra-
carros bombas e esquadrões da no Curdistão, que é constitucio- maioriadossoldadosde comba- DISSOLVE UM PAÍS ziria incontáveis baixas. A se- que está dissolvendo é um país
morte matam uma média de nal e funcionalmente indepen- te americanos se retirem por gunda opção representa uma criado por forasteiros que, ao
100a200sunitasexiitas.Acapi- dente do restante do Iraque. As etapas até 2008. E que os solda- QUE SÓ TROUXE saída para os EUA. longo dos seus 80 anos de histó-
tal iraquiana, antes uma mistu- outras seis províncias seguras dos que restarem fiquem para SOFRIMENTO AO POVO Um Iraque segmentado con- ria,trouxesofrimentoparaqua-
ra heterogênea de sunitas e xii- estão no sul xiita que também treinareoferecerapoioaoExér- sistiria no Curdistão ao norte, se todo o povo. A grande virtu-
tas com uma pequena parcela tem um governo separado da- cito e à polícia iraquiana. O que umregião xiita composta de no- de da partição é que esta é uma
de curdos cristãos e masdeís- quele em Bagdá e nas quais os parece é que eles vêem polícia e mesmo que estejam dispostos. ve províncias no sul e outra re- solução iraquiana para um pro-
tas,estáagoradivididaentrexii- milicianos aplicam a lei islâmi- Exército como possíveis garan- Porque trata-se de uma guerra gião, sunita, incluindo três das blema iraquiano.
tas ao leste e sunitas a oeste. Os ca no estilo do Irã enquanto ig- tidores neutros da segurança civil auto-sustentada e, a me- províncias no coração da insur- Será incrivelmente doloro-
curdoseasminoriasnãomuçul- noram de todo a liberdade que a pública. Mas, na verdade, eles nos que haja uma grande mu- gência – Anbar, Nineveh e Sa- so, mas não há qualquer moti-
manas cada vez mais buscam a constituiçãoiraquianasuposta- são é sunitas ou xiitas, comba- dança na relação de Síria ou Irã lahaddin. Enquanto a fronteira vo para acreditar que a forma-
relativa segurança do Curdis- mente garante. tentesnuma guerra civil.O trei- com o Iraque, nenhum dos dois da região xiita corresponderia lização desta divisão fará das
tão, no norte do Iraque, ou sim- Quando há um quadro de namento fará apenas com que países tem qualquer motivo pa- a províncias que já existem, a coisas piores. Se tudo der cer-
plesmente deixam o país. Para guerra civil, uma estratégia fiquem mais letais. ra ajudar os EUA a se livrarem fronteira entre a região curda e to, pode até diminuir um quê
os milhões que permanecem, a cujo objetivo é construir um go- O grupo também recomen- da encrenca. a árabe-sunita é matéria de de- da violência.●
vida é cheia de restrições e te- vernodeunidadenacional eins- da a abertura de conversas com Encarar o fato de que o Ira- bate. A constituição iraquiana
mores. tituições nacionais de seguran- Irã e Síria. Já que o governo que vive uma guerra civil deixa prevê um referendo no fim de *Peter W. Galbraith é
No leste de Bagdá dominado ça, tais como Exército e polícia, Bush não tem alternativas para claras as escolhas americanas. 2007 para definir se a província ex-embaixador dos EUA
pelos xiitas, a segurança e o que não funciona. Não apenas o go- lidar com as ambições nuclea- Os EUA podem tentar unir um de Kirkuk, rica em petróleo, fa- na Croácia e um dos que
se passa por lei e ordem é pro- verno de unidade nacional está res do Irã e parece incapaz de paísque nunca funcionououen- rá parte do Curdistão ou do Ira- expuseram crimes de Saddam

ATEF HASSAN/REUTERS
10/1: 30/5: to com o primeiro-ministro. O
Ameaças nucleares Estado de emergência estopim dos conflitos teria si- 24/11:
Em outubro, a Coréia do Norte
do a demissão de 591 militares Violência pós-Saddam
Xanana Gusmão, presidente que participaram de protesto Cerca de 160 pessoas
anunciou ter explodido, no subso- do Timor Leste, declara estado trabalhista em março.
lo, seu primeiro artefato morrem em atentado

ALIÁS
de emergência no país e assu- em Bagdá, no dia
atômico. Meses antes, em me o controle do Exército e da 13/7: mais sangrento desde
janeiro, o presidente do Irã, polícia. Segundo o governo, a
Israel cerca Líbano a invasão dos EUA,
Mahmud Ahmadinejad, decisão foi tomada em conjun-
O ANO retomou o programa nu-
clear de seu país.
Mais de 50 libaneses – entre
eles quatro brasileiros-libane-
em 2003. Em dezem-
bro, enquanto a corte

REVISTO 5/5:
ses – morrem no segundo dia
de violentos ataques de Israel a
iraquiana marcava
para janeiro a execu-
ção de Saddam Hus-
Mogadíscio cai alvos civis e do grupo xiita Hez- sein, o governo ameri-
Milícias islâmicas tomam bollah em território libanês. Em canodivulga que o núme-
agosto, foi assinado um cessar- ro de soldados mortos no Iraque
a capital da Somália, am-
fogo. Cerca de 1.100 pessoas superou o das vítimas do 11/9.
pliando uma guerra que ma-
morreram no Líbano, sendo
tou mais de 350 civis só nos últi-
30% delas crianças com menos
mos três meses. Sem um governo de 12 anos. No lado israelense,
desde 1991, o país é disputado por
RAHEB HOMAVANDI/REUTERS

6 conflitos tropas supostamente apoiadas


as baixas somaram 150.

pelos EUA, de um lado, e pela re-


2/8: rem nas proximidades de Kanda- desde a guerra de 2001. Os confli-

2006>>
de Al-Qaeda, de outro. No fim do har, ao sul do Afeganistão. A cida- tos custaram a vida de 3.900 pes-
ano, a Etiópia lança uma ofensiva A volta de quem não foi de é a capital do movimento Tale- soas, segundo dados oficiais. Isto
contra os somális e declara Num ataque suicida contra um ban, que voltou a mostrar-se forte é: quatro vezes mais mortos do
guerra ao país. comboio da OTAN, 21 civis mor- em 2006. Foi o ano mais violento que em 2005.
ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% PB
100% ESCALACOR 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% COR
80% 85% 90% 95% 98% 100%

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DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2006


O ESTADO DE S. PAULO
ALIÁS J9
ALIÁS J9

Travessia ‘06/07: Ousadias da Coréia do Norte e delírios do Irã agitam o clube dos com-armas

Como recolocar o gênio


nuclear na garrafa
LEE JAE-WON/REUTERS
ções neste caso: o Irã, que mui- rar armas de destruição em
Hans tos observadores suspeitam massa. Quanto mais seguros os
Blix* ter por objetivo a produção de países se sentirem, mais prova-
armas nucleares. velmente eles abandonarão os
Os piorestemores de Kenne- programas”.
dy sobre a proliferação não se Nesta crise com a Coréia do
concretizaram. Muitos países Norte, a questão é se o regime
com a capacidade tecnológica pode ser induzido a substituir a
sacontecimentosre- necessária renunciaram às ar- segurança que ele percebe ad-

O centes na Coréia do
Norte e no Irã fize-
ram soar os alarmes
emmuitas partes do
mundo. A Coréia do Norte tes-
tou um míssil de longo alcance
em 5 de julho e uma bomba de
mas e aderiram ao tratado. O
desmantelamento da União So-
viética deixou Bielo-Rússia, Ca-
saquistão e Ucrânia como po-
tências nucleares de facto, mas
os três cederam seu arsenal à
Rússia. Argentina e Brasil, que
quirir com sua capacidade nu-
clear por ofertas de garantias
desegurança,relaçõesdiplomá-
ticas e o fim de seu isolamento.
Assim, uma evolução parecida
coma seguida pelo Vietnã pode-
ria vir. É isto, creio, que tanto
plutônio em 8 de outubro e, ape- estiveraminclinadosa obter ar- EUA quanto os outros cinco en-
sar de nenhum dos dois testes mas nucleares, terminaram volvidos nas negociações deve-
ter sido um sucesso absoluto, a aderindo ao tratado. riam oferecer.
ameaçaqueelesrepresentamfi- E no entanto, conforme che- Atualmente,estáseevitando
cou clara. ga 2007, muitos estão preocu- corretamente o retinir dos sa-
Em 11 de abril, o Irã anunciou pados com as conseqüências bres que poderia fortalecer a
que havia enriquecido uma pe- que podem vir de a Coréia do crença da Coréia do Norte de
quena quantidade de urânio e Norte continuar este seu cami- que a defesa nuclear é necessá-
declarou que agora fazia parte nho armamentista ou de o Irã ria. A pressão econômica está
do“clubenuclear”.Emboraoní- seguir seu exemplo. sendo exercida não pelas san-
vel de enriquecimento tenha si- A maioria dos países não nu- ções ordenadas pela ONU e sim
do baixo e os iranianos tenham cleares que integram o TNP porrecadosclarosde queoregi-
dito que seu objetivo é produzir também está seriamente preo- medeKimJong-ilnãodeveespe-
combustível para usinas de cupada com o fato de os cinco rar nenhuma recompensa se
energia, quem consegue enri- países nucleares não estarem não houver acordo.
quecerurânio a3,5%,comooIrã cumprindosua obrigaçãodene- Quanto ao Irã, ele deve ser
alegaterfeito,tema capacidade gociar o desarmamento. Eles levado a perceber que não está
de enriquecê-lo até os níveis reconhecem que o número de ameaçado e não precisa de ar-
mais altos necessários para armas nucleares caiu de um pi- mas nucleares para garantir a
uma bomba. co de mais de 50.000 durante a sua segurança. Não precisa
Pode-se dizer que China, Guerra Fria para em torno das nem mesmo da capacidade de
França, Rússia, Reino Unido e 27.000 atuais mas criticam os enriquecerurânio.Tudoissose-
EstadosUnidosformaramapri- países nucleares por não terem ria mais fácil se os EUA, em vez
meira onda de Estados com ar- feito mais. derepetiremseguidamente que
masnucleares.QueÍndia,Israel Em princípios do novo milê- todas as opções estão na mesa,
e Paquistão, a segunda. Estare- nio, disse o secretário-geral da mostrassem ao Irã a mesma
mos testemunhando agora uma ONU Kofi Annan, “a comunida- prontidão para oferecer com-
terceira onda que poderá ini- de internacional parece estar OUTRO LADO – Soldados norte-coreanos observam teste nuclear, a 55 Km de Seul, capital da Coréia do Sul promissos contra ataques ou
ciardisseminaçãoaindamaior? caminhando como um sonâm- tentativasdearquitetarmudan-
Creio que isto pode ser evita- bulo” para o rearmamento. bomba de plutônio enquanto evidentemente avançou em len- da demais. ça de regime que mostram para
do.Bastaqueosgovernosseate- Apesar de o Congresso ame- eles próprios se abstêm de rati- to passo de lesma. Seul, a capital da Coréia do a Coréia do Norte.
nhamaoprojetooriginaldoregi- ricano ter se recusado a apro- ficar o Tratado Abrangente de Mas quase todo o mundo Sul, está dentro do alcance da Da mesma maneira, nova-
mede não-proliferaçãoque hoje var uma arma nuclear de pene- Banimento de Testes, conser- acredita que a continuação do artilharia da Coréia do Norte. mente como é o caso da Coréia
está sob pressão. tração profunda, os EUA estão vando assim a sua liberdade de programa pode aumentar as Qualquer ataque por míssil dei- do Norte, uma oferta america-
Nos anos 1960, ministros da em processo de selecionar um testar tais armas. tensões numa região já volátil. xaria armas nucleares, cujo nú- na de normalização das rela-
Defesa de muitos países acha- novo padrão de bomba nu- Alémdanecessidadedereati- Poderia haver efeito dominó – mero e localização não seriam ções poderia ser uma ajuda sig-
vam que as armas nucleares po- clear. Eles também estão gas- var o desarmamento no próxi- embora dificilmente no curto conhecidos no exterior, nas nificativa para persuadir o Irã a
deriam se tornar indispensá- tando bilhões em programas mo ano, também será preciso prazo. Nenhum dos países não mãos de um regime desespera- abandonar o enriquecimento
veis e comuns. Líderes como o militares espaciais enquanto encontrar soluções para os ris- nuclearesdaregiãoestáavança- do. Mesmo simples ameaças de de urânio.
presidente John Kennedy te- rejeitam um pedido quase uni- cosespecíficoseagudosrelacio- do tecnologicamente. ataque ou de esforços para der- No fim, é difícil compreen-
miam a instabilidade que se se- versal de que a questão de ar- nadosàCoréiadoNorteeaoIrã. Provavelmente há um desejo rubar o regime da Coréia do der por que virou condição pa-
guiria num mundo em que deze- mamentosno espaçoseja discu- NocasodaCoréiadoNorte,a quase unânime em todo o mun- Norte provavelmente o torna- ra que as negociações aconte-
nas de países tivessem dedos tida na conferência sobre de- formação de um estoque nu- dodeque,apesardeoenriqueci- riam mais agressivo e, talvez, çam a suspensão, por parte do
em gatilhos nucleares. sarmamento em Genebra. cleare um novo desenvolvimen- mento de urânio não ser vedado mais irresponsável. Irã, do enriquecimento de urâ-
O Tratado de Não-Prolifera- Odesenvolvimento america- to de mísseis país seriam perce- pelo TNP, o Irã suspenda seu Também no caso do Irã, uma nio de baixo nível. Afinal, esta
ção (TNP), de 1968, visava um no de um escudo de mísseis es- bidos como uma ameaça mortal programa de enriquecimento. ação militar ou ameaças disto suspensão é justamente o obje-
mundo sem armas nucleares. tá levando China e Rússia a de- pela Coréia do Sul e pelo Japão. provavelmente seriam fúteis e tivo das conversas para come-
Para isto, os países que não as senvolver meios de penetrar As ações recentes da Coréia do até contraproducentes, fortale- çar. No caso da Coréia do Nor-
tinham foram convidados a não nesse escudo. No Reino Unido, Norte já levaram autoridades POR QUE ALGUNS cendo a posição dos que alegam te,afinal, todas as partes procu-
adquiri-las. Em troca, ganha- o governo está propondo um do governo japonês a afirmar PAÍSES TANTO que o país precisa de armas nu- ram ávidas a negociação mes-
riam acesso à tecnologia nu- programa de armas nucleares quea Constituição doJapão não cleares para se defender. mo, com o país produzindo plu-
clear pacífica. Os cinco que as para suceder ao Trident após exclui o desenvolvimento de ar- QUEREM ARMAS Se a ação militar não é uma tônio para armas a todo vapor.
tinham se comprometeram a 2020. As despesas militares mas nucleares de autodefesa. NUCLEARES? abordagem viável, o que pode O mais importante de tudo
não disseminar o know-how en- mundiais em 2005 foram esti- Mesmo uma ação preventiva ser feito? Uma boa idéia seria talvez seja que todas as partes
quanto negociavam o próprio madas em U$ 1 trilhão, cerca de não poderia ser excluída. perguntar por que alguns paí- percebam que a viabilidade e a
desarmamento. metade disto gastos apenas pe- Se esses desdobramentos Poderáo Irã ser induzido a isso? ses poderiam querer armas nu- urgência da não-proliferação
Nos quase 40 anos desde en- los Estados Unidos. ocorrerem, as tensões na região Depoisdodebacledosameri- cleares e então tentar remover não terminaram por conta do
tão, o número de países nuclea- Quase40 anos depois dacon- poderiam crescer dramatica- canos no Iraque onde eles usa- esses incentivos, sejam eles que aconteceu este ano no Irã e
res aumentou em apenas qua- clusão do TNP e cerca de 15 de- mente. China, Japão, Coréia do rammeiosmilitaresparaerradi- reais ou percebidos. na Coréia do Norte. É justa-
tro. Três – Índia, Israel e Pa- pois do fim da Guerra Fria, é Sul, Taiwan e EUA têm um for- car armas de destruição em Em 2003, a estratégia da mente o oposto: o que aconte-
quistão – jamais assinaram o mais do que hora de os países te interesse comum de evitar massa inexistentes, felizmente UniãoEuropéiacontraaprolife- ceu torna mais urgente, em
tratado. A Coréia do Norte ade- nucleares tratarem seriamen- uma escalada destas e desviar a é grande a resistência a ataques ração de armas de destruição 2007,que nãodesistamos do es-
riu em 1985, mas se retirou em te não só da questão de impedir Coréia do Norte de seu curso militares contra a Coréia do em massa recomendava que “a forço de alcançar o objetivo
2003. Iraque e Líbia, que ha- outros países de obterem ar- presente. Será que isso não po- Norte e o Irã. melhor solução para o proble- que o mundo traçou para si em
viam aderido, violaram o acor- mas nucleares mas também de ser feito? Apesardeseouviremconver- ma da proliferação de armas de 1968.●
do, mas foram trazidos de volta das ameaças representadas Quanto ao Irã, seu programa sas ocasionais nos EUA sobre destruição em massa é que os
a ele pela força ou ameaça de por seus próprios arsenais. É deenriquecimentodeurânioco- ataques para eliminar instala- países não sintam mais a neces- *Hans Blix foi ministro das Rela-
ções Exteriores da Suécia e lide-
força. A África do Sul aderiu um caso flagrante de dois pesos meçou em algum momento dos çõesnuclearesdaCoréiadoNor- sidadede precisardelas.Sepos- rou a comissão da ONU que bus-
depois de ter desmantelado e duas medidas quando China, anos 1980, durante a guerra te, parece improvável que uma sível, soluções políticas deve- cou localizar armas de destrui-
seu próprio arsenal. Sobrou Índia e EUA condenam a Co- cruel travada peloIraque de Sa- opção militar seja bem-sucedi- riam ser encontradas para os ção em massa no Iraque, durante
um único país que deve explica- réia do Norte por testar uma ddam Hussein. Desde então, ele da: ela ésimplesmente arrisca- problemasqueoslevamaprocu- o governo de Saddam

HÉLVIO ROMERO/AE
27/5: 24/10:
Indonésia à prova Recursos finitos
A Indonésia é palco de várias ma- Os recursos naturais são consumi-
nifestações naturais. Primeiro dos pelo homem a uma velocidade

ALIÁS veio um terremoto de 6,3 graus na 25% maior do que a natureza é ca-
paz de repor. O dado é do estudo
escala Richter, que matou mais de
Planeta Vivo 2006, divulgado pela
5 mil pessoas na ilha de Java.

O ANO No mesmo local, dois meses de-


ONG Fundo Mundial para a Nature-
za (WWF). A situação é devastado-
DIVULGAÇÃO

pois, um tsunami, provocado por


REVISTO um novo tremor – este de 7,2
graus na escala Richter –, matou
ra: se nada for feito, os sistemas
naturais vão entrar em colapso na
metade do século.
mais de 550 pessoas.

10/8: 30/11:
11/2: 24/5: Debaixo d'água
Tufão na China Chega o novembro mais chuvoso
Soa o alarme na UE A verdade de Al Gore O tufão Saomai, o quinto do ano e dos últimos 28 anos: foram 230,7
6 alertas A Itália confirma a presença do O documentário Uma Verdade o mais forte a atingir a China em milímetros, 63% mais que a mé-
da natureza vírus H5N1, causador da gripe
aviária, depois que 17 cisnes
Inconveniente, dirigido por Davis meio século, passa pela costa su-
deste do país matando pelo me-
dia histórica do mês. Nos dias
seguintes, a chuva paralisou São
Guggenheim, estréia nos EUA e
são achados mortos no sul do nos 450 pessoas, destruindo 36 Paulo. No dia 4 de dezembro, a
traz o ex-vice-presidente Al Gore

2006>> país. Aves na Grécia, Bulgária


e Alemanha também apresen-
tam o vírus letal. As autorida-
des pedem calma.
criticando o efeito da emissão de
gases no aumento da temperatura
do planeta. Sobra para Bush.
mil casas e deixando 2,5 milhões
de desabrigados. Em julho, a tem-
pestade Bilis matou 600 pessoas
em dez dias.
cidade registrou 101 pontos de
alagamento. Geólogos do IPT aler-
tam que a cidade terá de conviver
com enchentes.
ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB ESCALACOR 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% COR
80% 85% 90% 95% 98% 100%

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DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2006 DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2006


J10 ALIÁS O ESTADO DE S.PAULO O ESTADO DE S. PAULO ALIÁS J11

IMAGENS ‘06: Ano em que bombas corroeram o Líbano, prisões se rebelaram em São Paulo, cataratas secaram em Foz do Iguaçu, deputada e ministro dançaram em Brasília, ocraque perdeu a cabeça na Alemanha, o líder barbudo baixou hospital em Havana...

...e Lula banhou-se ao sol, na Bahia que foi de ACM


SEBASTIÃO MOREIRA/AE KEVIN LAMARQUE/REUTERS

SEBASTIÃO MOREIRA/AE

9/7 – O presidente republicano George W. Bush estende a mão à democrata Nancy Pelosi, depois que seu partido foi
derrotado nas eleições. Ele ficou no vácuo e ela foi eleita líder da Câmara dos Representantes dos EUA uma semana depois
CARLOS BARRIA/REUTERS

27/7 – Um judeu ultra-ortodoxo


assiste aos canhões israelenses
atirando contra o Líbano,
próximo à fronteira entre os
países. Israel opta por
bombardeios aéreos em vez
22/7 – Suzane Von Richthofen e os irmãos Cravinhos protagonizam o 21/3 – O alto comando do PCC coordena, em março, uma série de rebeliões simultâneas nos Centros de Detenção Provisória de Franco da Rocha, Mauá, Mogi das Cruzes, Diadema, Taubaté, Pinheiros e Osasco. Os detentos de uma ofensiva terrestre contra
julgamento do ano. Ela é condenada a 39 anos e 6 meses de prisão reclamam principalmente da superpopulação carcerária e exigem o fim do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Motins se repetiriam em maio, antecedendo a onda de ataques que aterrorizou o Estado de São Paulo o Hezbollah. O estrago é grande
REUTERS PAULO LIEBERT/AE CELSO JUNIOR/AE

14/8 – Fidel recebe visita


de Chavéz e do irmão,
Raúl Castro, presidente
interino de Cuba. Esta é a
primeira aparição de
Raúl no comando. Fora
de Cuba, diz-se que Fidel
tem câncer. Na ilha, que
só operou o intestino
BETO BARATA/AE ED FERREIRA/AE

CELSO JUNIOR/AE 29/9 – A maior tragédia da


história da aviação brasileira
comove o País. O Boeing 737 da 28/7 – A falta de chuva é responsável pela menor vazão em 18 anos das Cataratas do Iguaçu (PR): 225 metros cúbicos por segundo,
Gol, que fazia o vôo 1907 entre sendo que o fluxo médio é de 1.500 m³/s. Nem tudo é frustração para os turistas, afinal, não é sempre que os paredões aparecem
Manaus e Brasília, desaparece WDR/EFE/AE
perto da cidade de Peixoto de
Azevedo (MT), depois de se
chocar com um Legacy, da
Embraer. As 154 pessoas a
bordo morrem

2/11 - Lula se reelege com


22/3 – Defensora do PT votação recorde e refugia-se na
envolvido com o mensalão, Bahia para se recuperar do
Ângela Guadagnin estréia segundo turno. “Deixa o homem
a coreografia que ficou 28/3 – Ex- homem forte do descansar”, declarou,
conhecida como “Dança governo, Antonio Palocci passa o parafraseando seu slogan “Deixa
da Pizza”, no dia em que cargo de ministro da Fazenda o homem trabalhar”. A soneca
João Magno é absolvido do para Guido Mantega. Elegeu-se ao sol aconteceu na base naval 9/7 – O craque Zinedine Zidane, da seleção francesa, golpeia o italiano Marco Materazzi na final da Copa do Mundo e é expulso. A justificativa
processo de cassação deputado federal em outubro de Aratu, perto de Salvador é a de que o jogador da Itália ofendeu a mãe e a irmã do francês. Zidane perdeu a cabeça e a Azzurra ganhou o tetracampeonato mundial
ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% PB
100% ESCALACOR 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% COR
80% 85% 90% 95% 98% 100%

Produto: ESTADO - BR_B - 12 - 31/12/06 J12 - BRASIL Cyan Magenta Amarelo Preto

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DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2006


J12 ALIÁS O ESTADO DE S.PAULO

Travessia ‘06/07: o que nos diferencia de outros mamíferos é a perseverança na busca da auto-eliminação

Terra de Golias predadores


DIDA SAMPAIO/AE
catadora de lixo e filósofa popu-
Francisco Foot lar Estamira, do filme homôni-
Hardman* mo, reaparece em primeiro pla-
no, com sua face de louca-lúci-
da, com sua frase-denúncia: so-
mos o que restou do Grande
Desperdício.
Temos atuado no mundo co-
Há muito soou o alarme. Ima- mo espécie predadora “por na-
genstenebrosas doaquecimen- tureza” e parece que nosso des-
to global povoam todos os dias tinoéodaauto-aniquilação.Tal-
sites,canaisdeTV,revistas,jor- vez o que nos separe de nossos
nais, documentários. Mas ain- primos primatas não seja mes-
da se trata dos fatos e inciden- mo nenhum grau convincente
tesdeformaisolada,comoeven- de inteligência ou capacidade
tosaleatórios.Agoramesmoce- delinguagem, ou mesmoa habi-
lebra-se a passagem de dois lidade na fabricação de instru-
anos do tsunami no Sudeste mentosdetrabalho.Alinhadivi-
asiático. A palavra foi universa- sória de nossas culturas – vale
lizada, ganhou ares de metáfo- dizer, a de humanos iluminis-
ra no jornalismo econômico, tas, civilizados, tecnológicos –
noscadernos decultura,nas pá- em relação às dos outros mamí-
ginas de moda, na imprensa de feros é a perseverança, a dispo-
fofoca. Tsunami adquiriu cono- sição, o denodo com que conti-
tação positiva, ou seja, uma mu- nuamos, há séculos, a buscar,
dançaimprevistamas bem-vin- seja por guerra, saque, escravi-
da na vida das pessoas. A Indo- dão ou uso indiscriminado das
nésia continua a ser, para mui- fontes naturais de energia, nos-
tos, a terra do desastre distan- sa própria extinção. Incapazes
te, mesmo se ainda não tenha de conviver pacificamente com
terminado a contagem de seus aconsciênciadamorte,acelera-
mortos. Quase ausentes as aná- mos os relógios e corremos pa-
lises articuladas, que vinculem ra ela, querendo fazer crer que ALIANÇA CRIMINOSA – O comércio ilegal de madeira na Amazônia é uma das pontas da cadeia que alia delitos a negócio
catástrofesparticulares ao pro- essa atração irresistível para o STRINGER/REUTERS
blema global. desastrefatal possaserbemjus- nossos colonizadores, muito biente pela população humana
A terrível seca de 2005 na tificada “em nome do progres- bem organizados para assassi- em sua escala atual.
Amazônia parece ser outro so”, das miragens do moderno. natos florestais, muitas vezes Se a economia política conti-
exemplo dessa desarticulação. Corremos atrás de Tio Sam em consórcio com o agronegó- nuar a ser feita por executivos
Mas cientistas sérios e compe- e agora corremos atrás da Mu- cio de tipo mais oportunista urbanóides completamente
netrados nos oferecem dados e ralha da China. A ditadura da nas fronteiras do Norte e Cen- alienados da questão ambiental
imagens, quase diariamente, felicidade é outro nome para a tro-Oeste (onde a pecuária ex- global estamos feitos, ou seja:
acerca do caos ambiental. Por ditadura do econômico. A Chi- tensiva em ondas expansivas continuaremos na trilha da
mais concretos que sejam, o te- na continua a fascinar os tecno- desmedidas é seu braço mais Gaia ao Caos, como as catástro-
ma permanece pairando, em cratas ocidentais: capitalismo tentacular). A venda ilegal de fes climáticas presentes estão,
abstrato, como assunto longín- desembestado com Estado au- madeiras no mercado nacional de bom tempo para cá, sinali-
quo no tempo e no espaço, espé- tocrático, abençoado por Sta- e internacional é uma das pon- zando, cada vez de modo mais
cie de ficção científica que não lin e Mao, é a franquia com que tas dessa cadeia que alia cri- eloqüente. O aquecimento glo-
nos toca. No entanto, a velha di- todossonhavam, poisláotraba- mes a negócios. bal não é mais conceito abstra-
cotomia romântica campo X ci- lho escravo ou semi-escravo da Vimos, em vários momentos to, é realidade sensível nos po-
dade, que segundo o historia- maior população de espoliados recentes,a ministraMarina Sil- ros da pele, a cada dia, mês, ano.
dor Raymond Williams terá si- doplaneta pode vingarsem sus- vaeopresidentedoIbama,Mar- Nossas moças do tempo repe-
do das mais duradouras e pro- to. Quem ainda se ilude com es- cus Barros, em investidas fir- tem,emperformances monóto-
dutivas oposições na cultura te modelito, veja por favor Still mes contra “deflorestadores” nas, a elevação de temperatu-
ocidental desde a era das revo- Life, novo filme de Jia Zhang- contumazes.Tambémjáseveri- ras médias em todas as esta-
luções industriais, já não é mais Ke, em que a megaconstrução ficou que a questão das licenças ções,continentes,paísese Esta-
capaz de dar conta das paisa- da maior hidrelétrica do mun- ambientaislonge estáde ser en- dos. E também o aumento do di-
gens infernais que nos circun- do, a barragem das Três Gar- trave a projetos de rodovias, hi- ferencial entre mínimas e máxi-
dam,emescalaplanetária.Aex- gantas, é representada no que drelétricas e termoelétricas, mas.Seriam curiosidades de al-
plosão, há dias, de um oleoduto produziudetrabalhocompulsó- cujos atrasos são muito mais manaque, se não fosse o dramá-
em Lagos, na Nigéria, apenas rio, nodeslocamento involuntá- atribuíveis à burocracia entre tico sintoma que revelam.
nos repõe diante do cotidiano rio de populações inteiras, no instâncias superpostas e à má Permito-me finalizar com
inseguro e violento na maioria dilaceramento das identidades TRÊS GARGANTAS – Hidrelétrica chinesa dilacera cidades e memórias gestãogovernamental e/ouem- um apelo ao presidente Lula.
dasmetrópoles mundiais,espe- pessoais e coletivas, no fim presarial. É preciso, no entan- Presidente, você, que tem cele-
cialmentenasmais pobres.Avi- brusco de cidades e memórias. dia no ar que nos proporcione bientais efetivas são as melho- to, aumentar os recursos mate- brado o Natal com os catadores
da no campo passou a ser em E, claro, na diluição generaliza- um tarô high-tec, com as taxas resestratégias desenvolvimen- riais e humanos da Pasta. A bio- de papel em São Paulo, fique em
muitos casos simulacro do caos da das ideologias. do crescimento sustentável, tistas de que dispomos. Deten- grafia da ex-seringueira e hoje pensamento nesta passagem
urbano, sem seus atrativos. Fim de ano, o século 21 avan- sem se dar conta do absurdo e tores, não se sabe até quando, ministra é sem dúvida motivo de ano, não só com o seu passa-
Praias e litorais são sinônimos ça, sem utopias ao alcance de da operação irracional embuti- de invejável patrimônio hídri- de orgulho nacional, muito pa- geiro governo, mas com a vida
de colapso no abastecimento, nossos sonhos. Poderíamos dosnessaoperaçãode“normali- co,vegetal,animalemineral,se- ra além de qualquer paixão par- das gerações que virão. Que tal
de multidões descascantes, da adiar por momento a passagem zar o contingente”. ria de esperar, na cena interna- tidária. Sua seriedade e caris- uma virada, uma marca, não só
falsa euforia cervejeira, de desta meia-noite e pensar no A ditadura do econômico é cional, maior presença e até li- ma, ademais, têm conquistado na folhinha do novo calendário,
águas impróprias. Os ricos bus- que o desenvolvimentismo a também a ditadura do projeto, derança de nossa diplomacia audiênciasimportantes,inclusi- mas na ação ecológica de longo
camresorts,seusrefúgiossepa- qualquer preço e o crescimento que, quanto mais extravagan- nas instâncias e organismos ge- ve no plano internacional. prazo, esta sim digna do melhor
recendo cada vez mais com ca- a todo vapor estão nos propor- te, melhor. Essa categoria mi- renciadores do meio ambiente Oconceitodesustentabilida- espírito desenvolvimentista?
samatas ou com mosteiros lai- cionando, o que eles nos reser- grou da engenharia para a eco- global. Mas para isso, claro, os de, que preside a política do Mi- Assim como Gilberto Gil tem si-
cos feitos do exibicionismo de vam em futuro próximo, a par- nomia com facilidade. Arquite- tantos espaços vermelhos das nistério do Meio Ambiente, do das melhores surpresas nas
sua careza e, normalmente, tir de qualquer prospecção me- tos e urbanistas muitas vezes a labaredas que ainda desmatam sempre sujeito às análises críti- políticas culturais do País,
feiúra. Vivemos nossas ditadu- dianamente realista. Mas pau- utilizam sem perceber a arma- grandes extensões de nossas cas de cada processo em parti- creio qu a manutenção e revalo-
rasda felicidade,emaltissonan- sas para reflexão saíram de mo- dilha em que se podem enre- coberturas vegetais (vide, por cular, não colide com a idéia de rização das políticas ambienta-
tes e iluminadíssimos cenários, da há tanto tempo... Lingua- dar.Até na teoria literária,tem- exemplo, as imagens atualiza- desenvolvimentoecomimpera- listas capitaneadas por Marina
em efemérides espetaculosas gens hoje são feitas para apro- se como anátema aquele escri- das de queimadas do World Fi- tivos de crescimento. Pensar Silva, pelo diálogo crítico e cria-
(quem se lembra, por exemplo, priaçãoimediatademeios epro- tor que não revele, desde o iní- re Atlas – WFA, da Agência Es- nesses termos é reintroduzir tivo que poderá oferecer com a
para além da breguice desses jeção confiável de resultados. cio, seu “projeto literário”, con- pacial Européia – ESA, disponí- um pensamento dualista e sim- chamada “área econômica”, é a
desfiles de papais noéis gigan- Devem ser rápidas. Narrativas ceito ambíguo, no mais das ve- veis na internet) teriam que di- plório ali onde a dialética tem melhor estratégia de quem não
tes, tanto maiores quanto a ins- são bem-vindas se apenas fo- zes construção ideológica do minuir sensível e persistente- lugar mais acertado. Não se po- pretende fazer do crescimento
tituiçãofinanceira queospatro- remmolduraspráticase palatá- próprio crítico para autojustifi- mente. Em mais essa ocorrên- de, nem na microrregião, nem mero rito numérico, mero mito
cina, de algum conto verdadei- veis a projetos, de preferência car seu gosto estético, suas es- cia trágica, passível de contro- no plano nacional, nem no mun- infernal. E sei que parcela pon-
ro de Natal?), que se impõem repletos de estatísticas. Na im- colhas políticas ou, pior, sua le, nos igualamos ao continente dial, em se tratando de recur- derável da sociedade brasileira
emmagnificência mercadológi- possibilidadedeconstruirsenti- adaptação ao jogo de valores africano. Ações de repressão e sosnaturaisnão renováveis,ra- também pensa assim.●
ca em proporção inversa à crise dosminimamentecompartilhá- da bolsa de sistemas teóricos. de prevenção têm sido feitas, ciocinarsemoslimitesepossibi-
moral das instituições, ao vazio veis, subjugamo-nos ao império Se pudéssemos de fato refle- com o Ministério do Meio Am- lidades impostos pela situação *Francisco Foot Hardman
dasalmas,aosentimentodotra- de números anônimos, à atra- tir em tempo adequado, não o biente e o Ibama à frente, mas a que o planeta foi conduzido. é professor titular de Teoria
balho degradado e das energias ção de gráficos em várias cores. raso do imediatismo, maso fun- são minúsculos gestos de Davi Istoé, considerados os níveisde e História Literária no
gastas em vão, por imprestá- Pedimos ao primeiro conferen- do da posteridade geracional, contra Golias hiperpredató- consumo de energia e de uso de Instituto de Estudos da
veis ou, pior, devastadoras. A cistade plantãoe à primeiramí- veríamos que as políticas am- rios, descendentes diretos de tecnologias agressivas ao am- Linguagem da Unicamp

Conhecido por seu pragmatismo períodos: entre 1994 e 1995, e de eleições parlamenta-
e alto grau de tecnicismo, ele 2001 a maio deste ano. res dos Estados Uni-
alcança a proeza de agradar a re- dos derruba o secre-
publicanos (Bush pai e filho) e a 31/7: tário de Defesa, Do-
democratas (Bill Clinton), além de Fidel Castro nald Rumsfeld. Pres-

ALIÁS
conquistar o governo britânico – o sionado pelo generali-
O líder cubano, de 79 anos,
primeiro cliente de sua nova firma zado descontentamento
é submetido a uma complicada
de consultoria. Seu substituto é com a condução da
operação e passa o governo,
Ben Bernanke. guerra no Iraque, ele
O ANO em caráter provisório, a seu irmão
LARRY DOWNING/REUTERS

renuncia. O escolhido
mais novo, Raúl Castro,
para ser seu substituto
REVISTO 9/4: de 75 anos. Desde que assumiu
é Robert Gates, ex-dire-
LARRY DOWNING /REUTERS

o poder, em janeiro de 1959, é a


Silvio Berlusconi tor da CIA.
primeira vez que o comandante
O resultado das eleições foi con-
transfere o cargo.
testado, mas a deci-
são final da justiça
11/12:
italiana é clara: o
26/9: Kofi Annan
centro-esquerdis- Junichiro Koizumi nacionalista Shinzo Abe, assume Em seu discurso de despedida,
ta Romano Prodi é Conhecido pelas reformas o posto prometendo, entre ou- o secretário-geral da ONU, Kofi
6 despedidas o novo primeiro-mi- econômicas feitas nos tras coisas, revisar a Constitui- Annan, pede mais cooperação
do poder 31/1: nistro, derrotando
Silvio Berlusco-
últimos cinco
anos, Koizumi
ção pacifista e reabrir portas di-
plomáticas com os vizinhos.
entre os países. Durante os 10
anos em que esteve no cargo,
Alan Greenspan ni. O empresá- deixa o cargo sua posição sempre foi concilia-

2006>> Depois de 18 anos (1988 a 2006)


à frente do Federal Reserve
(o banco central americano),
Alan Greenspan deixa o cargo.
rio deixa o
cargo depois
de tê-lo exer-
cido em dois
de primeiro-
ministro do
Japão. Seu
sucessor, o
8/11:
Donald Rumsfeld
A vitória dos democratas nas
dora. O sul-coreano Ban Ki-
Moon o substituirá no dia 1º de
janeiro, tornando-se o 8º secre-
tário-geral da ONU.
TONY GENTILE/REUTERS
ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% PB
100% ESCALACOR 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% COR
80% 85% 90% 95% 98% 100%

Produto: ESTADO - BR_B - 13 - 31/12/06 J13 - BRASIL Cyan Magenta Amarelo Preto

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DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2006


O ESTADO DE S. PAULO
ALIÁS J13
ALIÁS J13

Travessia 06/07: Nosso estranho pendor para converter linhas imaginárias em barreiras

Sobre muros e divisórias


JEFF TOPPING/REUTERS

Demétrio representam desafios muito


menores.
Magnoli* Como regra, o voto hispâni-
co acompanha, em cadaestado,
ovoto majoritário,seja elerepu-
blicano ou democrata. Incontá-
veis imigrantes hispânicos ga-
nham o greencard no Iraque,
humanidade servindo às forças armadas dos

“A cometeu um
grave erro
construindo
o Muro de
Berlim e tenho certeza de que
hoje os Estados Unidos come-
tem um grave erro ao construir
Estados Unidos. Mas nada dis-
so interessa a Huntington, que
inventa uma suposta incompa-
tibilidade essencial entre os no-
vosimigrantese a nação,esque-
cendo-se convenientemente
dos atritos mais profundos que
um muro junto à nossa frontei- pontuaram a incorporação dos
ra norte.” O paralelo, que emer- imigrantes do tempo das ferro-
giu numa declaração do presi- vias, da conquista do Oeste e da
dente eleito do México, Felipe arrancada industrial. No ras-
Calderón, é óbvio mas polêmi- tro das teses intelectuais cultu-
co. O Muro de Berlim foi ergui- ralistas, os “patriotas america-
do pela Alemanha Oriental pa- nos” dos Estados do sul organi-
ra impedir que seus cidadãos zam milícias armadas de “vigi-
emigrassem rumo à mais feliz lantes”parapatrulhara frontei-
Alemanha Ocidental. O muro ra mexicana.
ao longo de mais de 1.100 quilô- O material de construção
metrosdafronteira americano- dos muros não é constituído
mexicanaseráerguidopelosEs- por concreto, tijolo ou chapas
tados Unidos para impedir que de aço, mas por identidades es-
cidadãos estrangeiros imigrem senciais fabricadas no imaginá-
ilegalmente para seu território. rio social. O “essencialismo”
Osdefensoresda barreirainsis- não é uma novidade. A produ-
tem na diferença, que não é in- ção de etnias acompanhou a
significante. emergência dos nacionalismos
O ato soberano de uma de- europeus e atingiu seu apogeu
mocracia, aprovado por um às vésperas da Primeira Guer-
parlamento livremente eleito, ra Mundial. Na mesma época,
não é igual ao “ato soberano” as potências imperiais engaja-
de um Estado fundado sobre a ram seus etnógrafos em meti-
negação da soberania popular, culosos trabalhos de invenção
que se engajava na supressão étnica na Ásia e na África. Cria-
do direito desesperado à fuga tividade efalsificação alimenta-
da opressão. Mas um muro é ram-se reciprocamente no em-
sempre um muro: a iniciativa preendimento de rotulagem
de converter a linha invisível das pessoas.
de fronteira numa barreira ma- LIMITES – Apesar de vetos e protestos, americanos começaram a construir, no Arizona, o muro que poderá separar Estados Unidos e México. Osfrutosperigososdasaven-
terial, feita de aço e concreto, turas “essencialistas” estão en-
tem indisfarçáveis ressonân- destinada a castigar a arrogân- pectiva de ingresso da Turquia. enunciadopeloprimeiro-minis- nia e expulsá-los de Israel. O tre nós. Na Iugoslávia, há dez
cias simbólicas. cia dos construtores da Torre Não é um desafio menor para o tro trabalhista Yitzhak Rabin radical imagina o muro como anos, sérvios, croatas e bósnios
Tomemos um terceiro mu- de Babel. A confusão das lín- bloco que, não por acaso, esco- em 1994, um ano depois do céle- instrumento de purificação. muçulmanos concluíram que
ro, aquele que Israel ergue, sob guas e a divisão dos homens nu- lheu Roma como lugar de assi- bre aperto de mãos com Yasser Nos Estados Unidos, sob a não mais podiam viver juntos,
argumentos de segurança, ao ma miríade de povos, espalha- naturado seudocumento de ba- Arafat que selou os acordos de gritaria estridente da seguran- entregaram-se à “limpeza étni-
longo de uma linha que esco- dos pela Terra, aparecem tam- tismo, na forma do tratado de paz de Oslo. ça fronteiriça, ouvem-se tam- ca” e traçaram fronteiras que
lheu unilateralmente, para se- bémnoCorãoeem outrastradi- 1957.Umrelatório oficialrecen- Rabin ergueu a barreira em bém os acordes da melodia são muros de sangue. Quase ao
parar-se fisicamente da Cisjor- ções religiosas. Na história, a te, elaborado pela mesma torno da Faixa de Gaza. Sharon identitária. O regente é Sa- mesmo tempo, em Ruanda, a
dânia.Abarreiraisraelenseins- identificação do “estrangeiro” União Européia, documenta a devolveu Gaza, unilateralmen- muel Huntington, cientista po- convivência entre hutus e tut-
creve-se na lógica da ocupação, representou, em todos os luga- discriminação cotidiana a que te, aos palestinos, e deflagrou a lítico que se celebrizou pelo sis, etnias criadas pelos etnó-
pois invade áreas reconhecida- res,umaetapa crucial naconso- são submetidos os muçulma- obra de separação na Cisjordâ- Choque de civilizações e que grafos belgas, explodiu numa
mente palestinas, e desafia os lidação dos poderes políticos. nos na “Europa cristã”. Entre nia. Os líderes dos partidos ri- publicou, em 2004, Who are orgia genocida. As pessoas
próprios tratados internacio- O “estrangeiro” é uma fabri- as entrevistas publicadasno re- vais foram tangidos por uma in- we? The challenges to America's acreditam em identidades es-
nais que definem os direitos de caçãodopoderpolítico,quepro- latório,constaoseguinte depoi- terpretação comum sobre o fu- National Identity (“Quem so- senciais se essas identidades se
populações sob ocupação. Mas, duz o “Nós” por oposição à ima- mento de uma jovem holande- turo de Israel. As taxas eleva- mos nós? Os desafios à identi- tornam categorias jurídicas re-
mesmo se o traçado do “muro sa: “Uma pergunta que ouvi das de crescimento vegetativo conhecidas pelo Estado.
de segurança” fosse retificado muitas vezes é: ‘Quando você árabe e o virtual esgotamento Muros estão na moda, ape-
de modo a acompanhar as fron- O ESTRANGEIRO É vai voltar?’. Eu respondo: ‘Nas- da imigração judaica para Is- ESSA CONSTRUÇÃO sardessesdesastres.Importan-
teiras reconhecidas de Israel, UMA FABRICAÇÃO DO ci em Roterdã. Para onde eu de- rael combinaram-se para pro- NÃO É FEITA NEM DE doomulticulturalismoamerica-
ele ainda representaria uma veria ir?’. Essa é uma pergunta vocar uma inversão demográfi- no, o governo brasileiro, com
operação identitária. PODER POLÍTICO: ‘NÓS’ muito dolorosa e faz a gente se ca no conjunto Israel/Palesti- TIJOLO, NEM DE AÇO. apoio militante de ONGs bem
A queda do Muro de Berlim EM OPOSIÇÃO A ‘ELES’ sentir estrangeiro, nos faz per- na, onde já se registra uma MAS DE IDENTIDADES financiadas, decidiu promover
foi celebrada como marco de ceber que somos estrangeiros maioria árabe. Na visão da elite a divisão dos cidadãos em duas
uma nova história, de uma era em algum momento.” dirigente israelense, essa ten- raças oficiais, os “brancos” e os
semmuros naqual a humanida- gem do “Eles”. Muçulmanos, Os mísseis empregados pelo dênciademográficadelargadu- dade nacional americana”). O “afrodescendentes”, classifi-
de passaria a compartilhar os cristãos e judeus conviviam em Hezbollah libanês e seus simila- raçãoameaçaa existênciadeIs- novo livro também se organiza cando cada pessoa em docu-
valores da democracia e as delí- al-Andalus, a Espanha medie- resprimitivosusadospor pales- rael como Estado judaico, exi- ao redor da noção de cultura e, mentos escolares, trabalhistas
cias do consumo globalizado. O val sob governo muçulmano, tinos a partir da Faixa de Gaza gindo a adoção da “filosofia da dessa vez, identifica na imigra- e do sistema de saúde. A produ-
Muro de Berlim separava dois não em harmonia ou igualdade, evidenciaram que o “muro de separação”. ção hispânica um ácido corro- ção burocrática de carteiras de
sistemas políticos e econômi- como reclama o mito inventado segurança” israelense não ofe- Separação não implica paz, sivo que ameaça os fundamen- identidade racial sustenta-se
cos e protegia a existência de bem mais tarde, mas sob um re- rece segurança. Nem por isso a como se observa cotidiana- tos “anglo-protestantes” da na- na concessão de “privilégios de
um Estado que não se definia gime de oscilante tolerância. A construção da barreira em tor- mente. Além do mais, ela pró- ção americana. raça”noacesso aosserviçospú-
pela língua ou pela cultura, mas Europamodernafoigestadape- no da Cisjordânia foi interrom- pria é uma meta ilusória. Co- De acordo com a concepção blicos e no mercado de traba-
pela ideologia. A sua constru- losreiscatólicosdeEspanhaen- pida: antes da segurança, trata- mo separar judeus e árabes de melting-pot, os Estados Uni- lho. O novo muro, cujo traçado
ção e a sua demolição assina- tre 1492 e 1502, que impuseram se da identidade. em Jerusalém, a cidade na dos são constituídos por ele- divide os ônibus, as escolas pú-
lam a abertura e o fechamento primeiro a conversão forçada O muro israelense associou- qual vivem lado a lado, nos bair- mentos que se misturam mas blicas e as favelas, celebra uma
de um parêntesis na história aocristianismo eemseguidaex- se ao governo de direita do pri- ros do distrito histórico? O que jamais se fundem, conservan- elite política que se recusa a es-
contemporânea, que se chama pulsaram os muçulmanos e ju- meiro-ministro Ariel Sharon, fazer com os árabes que resi- do sempre suasidentidades ori- tender os direitos de cidadania
GuerraFria.Antesedepoisdes- deus remanescentes. No inte- que tomou a decisão de erguê- dem em Israel e têm cidadania ginais. No passado, o melting- a todos e afoga as esperanças
se parêntesis, a humanidade rior do muro invisível erguido lo em 2002. Mas a obra reflete a israelense, que somam 1,3 mi- pot enfrentou os desafios da in- nacionais na funda piscina do
empregou sua diligência teóri- naqueles anos definiu-se a iden- convergênciahistóricadaspolí- lhão numa população de 7 mi- corporaçãode elementos disso- ressentimento. ●
ca para erguer barreiras entre tidade européia. ticas dos grandes partidos is- lhões? A resposta de Avigdor nantes, como os italianos, os ir-
“Nós” e “Eles”. Há pouco, o primeiro-minis- raelenses.Oconceitodasepara- Lieberman, líder de um parti- landeses e os judeus. Os imi- * Demétrio Magnoli,
Na narrativa do Gênesis, a troturcodesafiouaUniãoEuro- çãofísicaentre Israel e ospales- do extremista que passou a in- grantes mexicanos e, em geral, sociólogo e doutor em geografia
fragmentação da humanidade péia a provar que não é um “clu- tinos (“temos que decidir pela tegrar o gabinete de coalizão os latino-americanos que se es- humana pela USP, é colunista de
foi uma determinação divina, be cristão”, aceitando a pers- separação como filosofia”) foi em 2001, é privá-los da cidada- tabelecem nos Estados Unidos O Estado de S. Paulo
YONATHAN WEITZMAN/REUTERS

29/8: çulmana também é afastada, na 11/12:


Imigração Inglaterra, por se negar a dar Briga de clãs
aulas sem véu.
A vice-primeira-ministra da Espa- Sessenta balas são disparadas
nha, Maria Teresa Fernández de la por mascarados e matam três
Vega, pede ajuda à presidente da
22/10: crianças em Gaza, filhas de um

ALIÁS União Européia, Tarja Halonen,


para repatriar imigrantes ilegais
que entraram nas Ilhas Canárias e
Raça
“Hoje eles roubam sua vaga nas
universidades públicas. Se você
homem ligado ao Fatah. Esse é o
início da guerra entre o partido e
seu concorrente, Hamas. Após

O ANO patrulhar as costas do Sene-


gal e da Mauritânia. Até en-
não agir agora, quem ga-
rante que eles não rouba-
anos de conflitos abafados, a vio-
lência sanguinária assume definiti-

REVISTO tão, o número de refugiados


beirava três ile-
gais por hora.
rão vagas nos concursos
públicos?” São
esses os dizeres
vamente lugar na política interna
dos palestinos.
MOHAMMED SALEM/REUTERS

dos cartazes que


13/10: três jovens co-
Religião lam em São Pau-
lo, protestando
A companhia aérea
contra o sistema de co-
British Airways proíbe
6 ecos de uma funcionária de
tas. Mesmo flagrados
pela polícia, dois rapa-
param quatro mísseis contra
6/11:
usar crucifixo pendu- uma escola, e 80 pessoas, den-
intolerância rado em uma corrente
zes respondem às acu-
tre professores e alunos, são Homossexualidade
sações em liberdade.
sobre o uniforme. Ao mortas. O governo justificou o Judeus ortodoxos protestam, em

2006>> se recusar a tirar o obje-


to, ela foi suspensa por
duas semanas. Na mesma
época, uma professora mu-
30/10:
Terrorismo
Forças paquistanesas dis-
ataque dizendo que o local era
um campo de treinamento de
combatentes do Taleban e ter-
roristas da Al-Qaeda.
Jerusalém, contra a Parada Gay.
Uma afronta à cidade santa, di-
zem. O desfile fica restrito a um
estádio cercado por policiais.
ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% PB
100% ESCALACOR 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% COR
80% 85% 90% 95% 98% 100%

Produto: ESTADO - BR_B - 14 - 31/12/06 J14 - BRASIL Cyan Magenta Amarelo Preto

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DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2006


J14 ALIÁS O ESTADO DE S.PAULO

TRAVESSIA ‘06/07: Um fenômeno político que parecia morto seduz América Latina e ecoa na Europa
RAY STUBBLEBINE/REUTERS

Senhores
populistas,
ao contra-
ataque!
mento das instituições da
Luiz Felipe de União Européia (UE). Paralela-
Alencastro* menteà inclusãodenovosmem-
bros – no primeiro de janeiro,
com a adesão da Bulgária e da
Romênia, a UE passará a con-
tar com 27 países –, ampliaram-
se os poderes dos órgãos euro-
os últimos tempos, peus de gestão coletiva sedia-

N os cientistas políti-
cos observam um
fenômeno curioso.
Praticamentedesa-
parecidadovocabulário univer-
sitário e jornalístico, a palavra
“populismo” –, muito usada nos
dos em Bruxelas. Desde logo,
parte da opinião pública pas-
sou a combater os princípios de
supranacionalidade que nor-
teiam a Comunidade Européia.
Ademais,certospaíses euro-
peus recebem densos fluxos de
anos 1950 e 1960 para analisar a imigrantesafricanoseasiáticos
política latino-americana –, vol- que acentuam o sentimento de
ta com toda força à atualidade. perda da identidade nacional
A ponto de espraiar-se pelo ocidental. Na sua generalidade,
mundo afora, como assinalou os populistas europeus propug- CHÁVEZ NA TERRA DO DIABO – Ao contrário do que alguns sugerem, há grandes diferenças entre o presidente da Venezuela e o do Brasil
um editorialista do jornal Le nam por políticas antiimigrató-
Monde. Além dos líderes latino- rias e antiestrangeiras, assu- populismo agressivo de Hugo Constituinte deixam claro a di- um papel central na ampliação uruguaio Francisco Panizza,
americanos, certos represen- mindoadefesadesetoresnacio- Chávez e o reformismo pragmá- visão entre os “cruceños”, re- da base popular e na política na- professor da London School of
tantes democratas eleitos nas naisminoritários atingidospela ticodeLula,douruguaioTabaré presentantes dos interesses cionalista de Rafael Correa. Economics (Populism and the
últimas eleições americanas concorrência internacional, co- Vásquez,dachilenaMichelleBa- econômicos das zonas em torno O caso de Hugo Chávez tem Mirror of Democracy, Londres,
são chamados de “populistas” mo os pequenos proprietários cheletedoperuanoAlanGarcía. da rica província de Santa sido caracterizado como um Verso, 2005), reúne ensaios de
pelo New York Times. Ao mes- rurais, os comerciantes e os ar- Partindo dos efeitos da glo- Cruz, e os eleitos oriundos das “petropopulismo”, tal a parte vários especialistas internacio-
mo tempo, a imprensa francesa tesãos. Vinculados à conserva- balização sobre a evolução dos zonas mais pobres, e mais favo- que a renda do petróleo tem na nais. Casos como o do ex-gover-
usa o mesmo epíteto para quali- ção de direitos adquiridos e rei- populismos regionais, conside- ráveis a Morales, nos altiplanos consecução do alegado “socia- nador do Alabama George
ficarNicolasSarkozyouSégolè- vindicando, por vezes, frontei- re-se o caso dos três países pro- do oeste do país. Num discurso lismo bolivariano” chavista. Wallace ou como o do partido
ne Royal, os dois principais can- ras calcadas na representação dutoresdepetróleoegás,a Bolí- do início do mês de dezembro, Alémdisso,suareeleiçãoemno- de Nelson Mandela, a ANC,
didatos às eleições presiden- vantajosa de sua cultura, estes via, o Equador e a Venezuela. Morales denunciou o “separa- vembro, juntando-se aos seus são analisados ao lado de capí-
ciais do país. movimentos utilizam uma retó- Na Bolívia, Evo Morales ela- tismo” dos líderes de Santa dois precedentes mandatos tulos sobre Carlos Menem ou
Orestantedaimprensaeuro- rica tradicionalista. borou o mais radical discurso Cruz e das províncias vizinhas. (1998-2000 e 2000-2006), fará sobre a igreja ortodoxa na Gré-
péiaincluinestacategoria os di- Na América Latina o quadro oficial de afirmação identitária Ao mesmo tempo surgem de- com que Chávez complete 14 cia. O sociólogo e historiador
versos movimentos tradiciona- é outro. Líderes como Getúlio expresso na América contem- núncias de que o Chile seria fa- anos seguidos na presidência argentino Ernesto Laclau, que
listaseantiestrangeirosemcur- Vargas (1882-1954), Juan Perón porânea. Propondo-se resgatar vorávelaestasecessão,enquan- da Venezuela, numa conjuntu- analisa neste volume o concei-
so na Holanda, na Bélgica, na a dignidade indígena ultrajada to Hugo Chávez ameaça inter- ra de alta consistente do preço to de hegemonia ideológica em
Aústria, na Itália e na própria pelosespanhóisapartirdosécu- vir para defender Morales e o do petróleo. Tal circunstância Gramsci,é também autor do se-
França. Nos países leste-euro- NO POPULISMO, O lo 16, Morales remonta aos tem- governo de La Paz. Dependen- garante uma grande margem gundo livro importante sobre
peus, o fenômeno se cristaliza LÍDER IGNORA pos pré-colombianos, recuan- do de sua evolução, a crise boli- de manobra nacional e interna- o populismo.
em torno dos irmãos gêmeos do aquém do período das inde- viana pode tornar-se o proble- cional à sua liderança. Cabe no De fato, em On Populism Rea-
Kaczynski, dirigentes da Polô- INSTITUIÇÕES PARA pendências americanas mamais graveda AméricaLati- entantonotar queoLatinobaró- son (Londres, Verso, 2005, tra-
nia,ou do chefe ultranacionalis- FALAR PELO POVO (1776-1824), habitual ponto de na ... e da diplomacia e das For- metro – publicado em dezem- dução argentina: La razón popu-
ta búlgaro Volen Siderov. partida dos discursos populis- ças Armadas brasileiras. bropelaONG chilenaresponsá- lista, Fondo de Cultura Econó-
Note-sequeoadjetivo“popu- tasenacionalistaslatino-ameri- No Equador, a vitória de Ra- vel por este relatório periódico mica, Buenos Aires, 2005), Er-
lista” não se reveste sempre de (1895-1974), Álvaro Obregón canos. Contudo, a afirmação da fael Correa, eleito presidente sobre a política latino-america- nesto Laclau, professor da Uni-
significado pejorativo. Com o (1880-1828)noMéxico,ouVelas- identidade indígena boliviana é em novembro, também repre- na – mostra o Brasil como um versidade de Essex, discute
sentido de “partidário do povo” co Ibarra (1893-1979) no Equa- mais complexa do que parece. sentou uma afirmação de pre- dos países menos sensíveis ao obras clássicas de Gustave Le
– como na língua espanhola –, a dor, marcaram seus países e Malgrado o peso dos sença indígena no cenário políti- populismo chavista. Enquanto Bon, Cesare Lombroso, Gabriel
palavra é assumida por movi- transformaram-se em exem- quéchuas (30% da população) e co latino-americano. Definindo- opresidente venezuelano regis- Tarde e William McDougall pa-
mentosque defendem umacon- plos emblemáticos de políticos dosaimarás(25%),aBolíviacon- se como cristão de esquerda, tra 17% de opiniões favoráveis ra chegar à análise do livro de
cepção radical da democracia. populistas. ta 30 línguas e mais de 40 etnias Correa afirmou ser contrário Freud, Psicologia das Massas e
Ainda no sentido positivo, o jor- Alémdestereferencialhistó- indígenas, as quais não podem aos acordos de livre-comércio Análise do Eu. Laclau trata tam-
nal International Herald Tribu- rico regional, a onda de globali- ser desconsideradas pela políti- com os EUA. No mesmo movi- O SEPARATISMO DA bém do papel do “lumpenprole-
ne, aludindo às arquibancadas zaçãoproduzefeitosdiferencia- ca de “descolonização” defendi- mento,eleanunciouquenãopro- BOLÍVIA PODERÁ SER tariado” na obra de Marx, antes
integradasàarquitetura doIns- dos na América Latina, onde da pelo governo Morales. De fa- longará, em 2009, o tratado de de se debruçar sobre exemplos
titute of Contemporary Art, re- nãoháfortesinstituiçõessupra- to, antes reservado aos países 1999 que vem permitindo aos PROBLEMA PARA O históricos de populismo nos
cém-inaugurado em Boston, fa- nacionais, como acontece na novamente independentes da EUA a conservação de uma ba- EXÉRCITO DO BRASIL EUA, no Canadá, na Argentina
lada“missãopopulista”atribuí- UE. Assim, diferentemente da África e da Ásia, o conceito foi se militar no solo equatoriano, e na Turquia.
da ao museu. Europa ou dos Estados Unidos, utilizado pelo ministro de Edu- emManta,ponta-de-lançadalu- Écerto,portanto,queopopu-
Restaque,novocabuláriopo- a imigração extracontinental é cação, Félix Patzi. Sem dar ta contra o narcotráfico no Pací- em nosso país, na Argentina es- lismo é um fenômeno mundial.
lítico contemporâneo, a pala- bastante limitada nesta parte mais detalhes, o ministro afir- fico e de operações contra as ta taxa sobe para 38%. O fato de Mas o fato de que dois dos maio-
vrapopulismoguarda um signi- do mundo. Da mesma forma, mouque seuprograma consiste Farc na Colômbia. Retomando que a Venezuela venha com- res especialistas no assunto se-
ficado bastante preciso. Trata- certos países latino-america- em levar a cabo “a descoloniza- outrotemadaplataformanacio- prando, desde 2005, títulos da jam autores que sofreram os
se da prática política em que o nos, possuindo grandes reser- ção da Educação na Bolívia”. A nalistaregional,Correacomuni- dívida argentina, ajuda a expli- efeitos perversos do populismo
líder, pretendendo representar vas de hidrocarbonetos, tiram inverossimilhança desta políti- cou que poderá decretar uma car a popularidade de Hugo sul-americano também tem a
o povo contra as elites, arreba- bom proveito da alta de preços ca obriga o governo Morales a “moratória unilateral” da dívida Chávez no Rio de La Plata. sua importância. ●
ta para si próprio – em detri- induzida pela globalização. avançarnumterrenomaissegu- externadeseupaís,apóssuapos- Duas obras recentes, publi-
mento das instituições repre- Reagindo às generalizações roparareforçarsuapopularida- se em 15 de janeiro de 2007. cadas por cientistas políticos *Luiz Felipe de Alencastro é
sentativas – a legitimidade po- de uma parte da imprensa euro- de: a reestatização das jazidas e Em todo caso, a recente de- que desfrutam de grande auto- professor titular de História do
pular e a encarnação da identi- péiasobreasituaçãopolíticalati- da produção de gás e petróleo manda de reintegração do ridade nos estudos sobre popu- Brasil da Universidade de Paris
dade nacional. no-americana,umeditorialde O anteriormentecedidasaempre- Equador à Opep, da qual o país lismo, foram lançadas em Lon- Sorbonne, autor de O Trato dos
Na Europa, o fator predomi- Estado de S. Paulo ("As tolices sas estrangeiras. No entanto, o havia saído em 1992, demonstra dres. Ambos os livros mostram Viventes (Companhia das Letras,
nante nos movimentos populis- do raciocínio em bloco", discurso nacionalista não ga- que, ao lado do antiamericanis- adimensãomaisampladestefe- 2000) e editor do blog
tastemsidoareaçãoàglobaliza- 06.12.2006), demarcou oportu- rantea adesão ao novo governo. mo,agestão dabonança petrolí- nômeno político. http://sequenciasparisienses.
ção representada pelo adensa- namente as diferenças entre o Debates na nova Assembléia fera terá, como na Venezuela, O primeiro, organizado pelo blogspot.com
JORGE SILVA/REUTERS

A campanha para a reeleição de Lula foi uma dentre 29/5: 5/11:


as nove disputas eleitorais em países da América Álvaro Uribe Daniel Ortega
Latina. A “temporada das urnas” começou em janei- O presidente Uribe se reelege, em Personagem latino-americano
ro, no Chile, e só acabou em dezembro, quando deu primeiro turno, com a maior vota- dos últimos anos da Guerra Fria,
ção já obtida por um candidato na Ortega volta ao governo da Nicará-
Chávez na cabeça, de novo, na Venezuela.

ALIÁS 15/1:
Colômbia – 7,3 milhões ou 62,2%
dos votos válidos.
gua. Derrota o direitista Eduardo
Montealegre, candidato preferido
por Washington.

O ANO Michelle Bachelet


A médica filiada ao Partido
4/6:
Alan García
Calderón presidente do México.
Seu rival, Andrés López Obrador, 26/11:
REVISTO Socialista é a primeira mu-
lher eleita para dirigir o Chi-
le. Michelle derrota o candi-
Membro do Partido Aprista Perua-
no, o ex-presidente Alan Garcia
não reconhece Calderón e arma
um governo paralelo.
Rafael Correa
Rafael Correa – amigo pessoal de
dato Sebastián Piñera. vence o candidato nacionalista Hugo Chávez – ganha as eleições
Ollanta Humala, da coalizão União 29/10: do Equador. Ele derrota o homem
22/2: pelo Peru. Com o resultado, Gar-
cia impõe uma das mais duras Luiz Inácio Lula da Silva
mais rico do país, Álvaro Noboa.
Oscar Arias derrotas a Hugo Chávez, que O presidente Luiz Inácio Lula da
Vinte anos depois apoiou Humala. Silva é reeleito com mais de 58
3/12:
Nuestra de ser eleito presi- milhões de votos (superando 60% Hugo Chávez
America vota... dente da Costa Ri- 2/7: dos válidos). O número represen- O presidente venezuelano é ree-
ca, o prêmio Nobel ta a maior votação de um presiden- leito para mais um mandato de
da Paz de 1987, Felipe Calderón te no Ocidente – o recordista ante- seis anos, vencendo o governa-
IVÁN FRANCO/EFE

As eleições aconteceram no dia 2

2006>> Oscar Arias, conse-


gue um novo man-
dato. O derrotado
foi Otton Solis.
de julho, mas somente no dia 5 de
setembro a Justiça Eleitoral mexi-
cana proclama o governista Felipe
rior era Ronald Reagan, com 54,5
milhões de votos em 1984. Geral-
do Alckmin, candidato do PSDB,
obteve 39% dos votos válidos.
dor de Zulia, Manuel Rosales.
Esta foi a terceira vitória de Hu-
go Chávez desde que chegou ao
poder, em 1998.
ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% PB
100% ESCALACOR 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% COR
80% 85% 90% 95% 98% 100%

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DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2006


O ESTADO DE S. PAULO
ALIÁS J15
ALIÁS J15

TRAVESSIA ‘06/07: Razões para acreditar (ou não) em uma absolvição histórica

O legado de Fidel
WENDELL HOFFMAN/REPRODUÇÃO CBS
tro idoso sobrevivente do Gran-
Anthony ma, que nem sempre concorda
DePalma* com Raúl. E há os linhas-duras
ideológicos, aqueles como o
chanceler Felipe Pérez Roque,
conhecidos como os talibanes,
que provavelmente ficarão no
caminhodeaberturaseconômi-
erá que Fidel vai ser cas e democráticas.

S lembrado, como o he-


rói nacional de Cuba
José Martí, com uma
nobre estátua de
bronze no Malecón, de onde ele
poderá encarar a embaixada
dosEUAdo outro ladoda aveni-
O regime instalado por Fidel
já demonstrou que pode man-
ter Cuba funcionando pelo me-
nos tão bem quanto antes e que
está em alerta para uma dispu-
ta interna pelo poder. “Em
Cuba, não haverá sucessão
da à beira-mar pelo resto da nem transição, haverá apenas
eternidade? Será que o seu no- a continuidade da Revolução”,
me vai substituir o de Martí no declarou Lage. “Não haverá di-
aeroporto internacional de Ha- visão entre os revolucionários,
vana? Será que os jovens cade- não haverá ambições, presun-
tes, tão disciplinados em suas ção, ou vaidade.” O Partido Co-
fardas alinhadas, vão honrar munista,disseLage, não permi-
seutúmulocantandohinosedis- tirá que isto ocorra.
parando salvas como os vi faze- Raúl não pretende governar
remperante o de Martí, quando como uma figura carismática e
estiveemSantiagonoúltimove- solitária ao feitio do irmão.
rão – jovens tão sérios que vive- Mais provavelmente, ele tenta-
ramtodaa vidanuma Cubacon- rá governar no estilo de uma
trolada por Fidel? junta militar. Não seria um fato
Ou um dia ele será amaldi- sem precedentes a nomeação
çoado, seu espírito, banido da de um novo presidente e o com-
pátria como o de Porfirio Díaz, partilhamento do poder por um
ogeneralquecomandou oMéxi- grupode elite.Quando aindaes-
co quase tão longamente quan- tava na Sierra, Fidel anunciou
to Fidel comandou Cuba, e que um juiz, Manuel Urrutia, se
cujos restos mortais não po- tornariapresidenteassimquea
dem ser repatriados da França revolução triunfasse. Urrutia
nem mesmo hoje, quase um sé- foiempossado, masnuncarece-
culo depois de sua morte? beu qualquer poder e renun-
Como agora parece que seu ciou antes do fim de 1959.
fim, seja quando vier, não será A transição mais perigosa
seguido por uma mudança pode ser aquela sobre a qual os
abrupta e sim por mais do mes- irmãos Castro não têm contro-
mo, é inevitável que a reação le. Sem Fidel, Cuba corre o ris-
inicial à morte de Fidel em co de acabar se transformando
Cuba seja uma efusão de triste- em apenas mais uma nação mi-
za e respeito, tanto encenados núscula no Caribe, mais próxi-
quanto sinceros. O processo de ma dos Estados Unidos que a
absolvição histórica que Fidel maioria, mas quase irrelevante
notavelmente previu para si em termos estratégicos e geo-
mesmo começou no exato dia políticos. A figura superdimen-
de julho último quandose anun- sionada de Fidel rendeu a Cuba
ciou que ele havia transferido o muitomais atençãoe importân-
poder temporariamente ao ir- cia do que se poderia esperar
mão mais novo e co-revolucio- de uma nação com 10 milhões
nário, Raúl. Desde então, en- de habitantes.
quanto a transferência tempo- Sem ele, no entanto, a maior
rária parece cada vez mais per- ameaça representada por
manente, ocorre uma homena- HASTA CUANDO? – Um acordo na guerrilha, feito pelos jovens Raul e Fidel nos anos 50, teria selado a transferência de poder que se vê hoje. Cuba poderia ser às outras na-
gem contínua a Fidel na televi- ções de águas quentes e sua in-
são e nas páginas de todos os lençóis? Quanto agüentarão de força na ausência de Fidel foi Raúl precisa saber que, para del como o homem que Wa- dústriaturística.Inacessívelpa-
periódicos de Cuba. um sistema educacional do inconfundível. governar,terádenavegar aspe- shington adora odiar. raos americanosportantotem-
No Brasil, na Venezuela e qual todos falam que resulta E no entanto o povo cubano, rigosas águas rasas entre a pre- Cuba ofereceu a uma gera- po,umaCubaqueosturistaspu-
em outros países da América apenas em livrarias cheias de enclausurado por tanto tempo servação do legado do irmão e ção inteira de acadêmicos e di- dessem visitar quando quisees-
Latina e do mundo, o mesmo propaganda e severas restri- (a maioria não conheceu outra sua demolição, a fim de ofere- plomatasummeiodevidalucra- sem e em segurança pela pri-
processo se desenrola. Há um ções ao acesso à internet? vida além daquela sob Fidel), cer uma vida melhor a seu povo. tivo; a inescrutabilidade de Fi- meira vez seria uma atração
reconhecimento generalizado Quanto vai demorar para mostrou a pressão que sentia. Ele também é um sobrevivente del transformou a previsão de enorme. Já existe uma quanti-
de que, independentemente do que as Damas en Blanca sejam No desfile, um homem, um me- –eseurecentegestodeconcilia- seu próximo passo num exercí- dade substancial de america-
que acontecer depois em Cuba, acompanhadas por grandes cânico,disseaumrepórterame- ção dirigido aos Estados Uni- cio rentável. Desde quando seu noscorrendoparaverCuba“an-
uma era importante está che- multidões exigindo a libertação ricano que até mesmo aqueles dos pode indicar uma realpoli- estado de saúde foi declarado tes de Fidel partir”. A própria
gando ao fim. Mas não é certo dosprisioneirospolíticose tam- que culpam Fidel pelos proble- tikqueeleaprendeucomosanti- segredo de Estado, a especula- inacessibilidade de Cuba a
que a História vá absolver Fidel bém o fim do Gulag? mas do dia-a-dia o consideram gos camaradas soviéticos. ção sobre sua condição e o futu- transformou numa atração. A
Castro. E por quanto tempo os vete- um pai da nação. “Esta é uma oportunidade ro de Cuba não parou. proibição convida os curiosos a
Fidel e sua revolução – que ranos das Forças Armadas es- “Nosso pai está morrendo e paradeclararmaisumaveznos- Não há um pensamento uni- ver o que não podem ver.
ele carregou nos ombros por tarão dispostos a esquecer co- isso é triste”, disse o mecânico sa disposição de resolver, à me- forme quanto ao futuro, mas Fidel sempre foi um mestre
cincodécadas–umdiaserãojul- mo o general Arnaldo Ochoa foi resumindo as emoções de mui- sa de negociação, olongo confli- existe um consenso entre espe- do mito e da imagem. Durante
gados pelo que conseguiram e executado sob acusações que o toscubanos,“apesardedesejar- to entre os Estados Unidos e cialistas reconhecidos de que 50anos, conseguiu evitar airre-
pelo que não conseguiram. Es- regime de Fidel fabricou a fim mos sua partida.” Cuba”, discursou Raúl em 2 de Cubaprovavelmentenãoentra- levância mesmo enquanto o
se tipo de julgamento severo de eliminar um inimigo? Ou co- Fora de Cuba, onde a capaci- dezembro.Juntoao ramo deoli- rá em convulsão no rastro ime- mundoa seuredormudava dra-
não é possível com ele vivo. O mo alguns oficiais ganharam dade de Fidel de enfrentar os veira oferecido a Washington, diato da morte de Fidel. maticamente. Mas quando não
povo cubano se mostra dispos- postos confortáveis na Gavio- Estados Unidos o transformou eleapresentoutambéma condi- “Espero reformas contí- estiver mais aqui, ele não será
to a sacrifícios, a perdoá-lo e a ta, a agência das Forças Arma- há tempos num herói, pode ha- ção específica de que a paz só nuas, mas graduais, a partir de mais capaz de manipular o mito
esperarqueaspromessasdare- das que administra as estân- ver uma tristeza similar, à me- será possível se os Estados Uni- dentro”,disseJulia E.Sweig, di- e continuar a revigorá-lo sem-
volução sejam cumpridas. Fi- cias turísticas, enquanto ou- dida que sua vida lendária e dos estiverem dispostos a tra- retora de Estudos Latino-Ame- pre que houver uma crise. Na
deléumsobrevivente–doGran- tros não têm nada? quase mítica se aproxima do tar Cuba como “um país que ricanos do Conselho de Rela- morte, seu mito finalmente vai
ma, da Sierra, da Baía dos Por- fim. Como símbolo de rebelião não vai tolerar sombras sobre parar de evoluir.
cos, da crise dos mísseis, dos 46 e revolução, Fidel é superado sua independência”, uma clara Sempre que escrevi sobre
anosde embargoamericano,da SERÁ QUE CUBANOS por poucos e foi, por mais de referência à longa e tempestuo- A NOVA REVOLUÇÃO Cuba nestes últimos 20 anos, ti-
queda da União Soviética. E TERÃO COM RAÚL uma geração, a manifestação sa história das relações entre NÃO VIRÁ DA SIERRA ve em mente que, antes de tudo,
com ele sobrevive a revolução. de uma linhagem esquerdista e osdoispaíses, datandoda Guer- ela é uma ilha. O país pode ser
No entanto, os cubanos já ti- A PACIÊNCIA QUE antiianque da política latino- ra Hispano-Americana. MAS DE ALGUÉM COM controlado de uma forma que
veram vários meses para lidar TIVERAM COM FIDEL? americana e do mundo em de- Afirma-sequeRaúl estámui- UM COMPUTADOR outra nação que divida frontei-
com a idéia outrora impensável senvolvimento. Fidel nem sem- to interessado no que acontece ras com outras não pode. O go-
de que um dia não haverá mais pre foi o frágil ancião que arras- agorana China, enquanto aque- verno de Fidel sempre restrin-
Fidel. Mas, sem Fidel, mesmo Por quanto tempo os cuba- tava os pés no corredor num ví- le vasto país se reinventa. Téc- ções Exteriores, em Nova York. giua entradadoquepôde, inclu-
se Raúl conseguir manter a re- nos estarão dispostos a escon- deo cubano exibido em outu- nicos chineses, empresários “Este debate está em cursohoje sive de pessoas. Assim como
volução viva de algum modo, o der sua antipatia, ou mesmo bro. Para muitos, Fidel, com chineses e até militares chine- em Cuba, nas universidades e restringiu tudo o que saía.
povocubanocontinuará dispos- aversão, por Raúl? seu pequeno grupo de barbudos ses visitam Cuba regularmen- na imprensa, no partido e entre Tecnologia não respeita
to a esperar por sua conclusão? O próprio regime teve quase revolucionários, captou a es- te, embora nem sempre fique os militares: como Cuba poderá mais fronteiras políticas. Sinal
Ou as imperfeições da Revo- 50anosparaplanejaruma tran- sência do movimento juvenil claro por que eles estão lá. A se reformar diante das pres- de satélite e a world wide web
lução de repente se tornarão siçãodeFidelaRaúl eagoraten- dos anos 60 e seu desejo de mu- adoção do capitalismo pela Chi- sões e ameaças externas que não podem ser bloqueados. A
claras, como se um nevoeiro ta coreografar cada passo co- dar o mundo. na com a manutenção de um percebe e diante da necessida- única maneira de o regime limi-
persistente, contínuo, desapa- mo num espetáculo da bailari- O reconhecimento das con- sistema político comunista é de de manter viva a Cuba socia- tar o acesso dos cubanos à ava-
recesse? Quanto tempo eles le- na cubana Alicia Alonzo. quistas da revolução em áreas considerada um modelo que lista e antiimperialista?” lanche de informação disponí-
varão para enxergar as ruínas “Quando Fidel não estiver como a educação de médicos Raúl e o ministério podem ten- “A questão”, continuou Ju- vel hoje em dia tem sido limitar
de Havana como são? Quanto mais conosco, sua obra, suas não atenua o persistente desgo- tar imitar. À medida que Mao lia, “é que participação demo- o acesso às máquinas necessá-
tempo levarão para julgar com idéias, seu exemplo estarão”, verno da economia e o impacto mergulha na irrelevância, o sis- crática e maior oportunidade rias para receber estes sinais.
rigor, e abertamente, os defei- declarou Carlos Lage, vice-pre- extenuantedastentativas deFi- tema que ele ajudou a criar é econômica são reivindicações ConformeRaulouseussucesso-
tos do sistema econômico que sidente do Conselho de Estado, del de exportar a revolução pa- virado do avesso. sentidaspelossucessores deFi- ressejam forçadosaabrir a eco-
parece recompensar os turis- na celebração do aniversário do ra a América Latina e a África. Existe,é claro, outroatorim- del e terão de ser ouvidas preci- nomia, será mais difícil impedir
tasestrangeirosepuniroscuba- desembarque do Granma, em 2 Fidel sempre se dispôs a pedir portante no futuro de Cuba, samente porque eles não são Fi- o acesso a esta comunicação
nos patriotas? de dezembro – quando também mais ao povo cubano e, desde a cuja influência não encolhe – del.” contemporâneabásica.Apróxi-
Quanto vai demorar para foramcomemorados,com atra- fuga de Fulgencio Batista na cresce. Hugo Chávez lançou Até mesmo em Miami, onde ma revolução não virá necessa-
que a espera interminável pelo so, os 80 anos de Fidel. madrugada do Ano-Novo, há uma corda salva-vidas a Cuba e anotícia datransferênciado po- riamente com armas descendo
ônibus,os longosperíodosdees- Fidel não estava com os 300 exatos 48 anos, o povo cubano a dependência de Havana au- der para Raúl foi recebida com a Sierra. Ela virá de um compu-
curidãosemeletricidade,aslon- mil cubanos que saíram às ruas em geral fez o que lhe manda- mentadiariamente.Cheiodedi- grande festa nas ruas, a pers- tador, na penumbra de uma sa-
gas noites de abandono e ma- de Havana naquele dia para ce- ram fazer. Depois que uma con- nheiro do petróleo, Chávez po- pectiva é contida. Joe Garcia, la em Santiago. ●
nhãsde desespero levem o povo lebrar e assistir a um desfile mi- tra-revolução nas montanhas de dar-se o luxo de fazer o papel quefoilíderdaFundaçãoNacio-
às ruas para exigir coisa me- litar no velho estilo comunista. do Escambray foi esmagada de chefe dos escoteiros para nal Cubano-Americana, afir- *Anthony DePalma é
lhor? Por quanto tempo eles Foi difícil determinar qual era o por Fidel e Raúl no início dos uma geração inteira de líderes mou que, se houver conflito, ele correspondente e repórter do
aceitarão um sistema de saúde símbolo mais forte – a ausência anos 60, não houve tentativas latinos.Suasverdadeirasinten- ocorrerá nos bastidores, den- jornal The New York Times há 20
elogiado por ser universal, mas de Fidel ou a exibição de pode- sérias de tirá-los do poder, não ções são incertas no momento, tro do grande grupo que Fidel anos. É autor de O Homem que
quebrado demais para oferecer rio militar encabeçada firme- importa o quanto as coisas esti- embora pareça claro que ele se instalou em torno de Raúl, pes- Inventou Fidel (Companhia
itens básicos como aspirinas e mente por Raúl. A mensagem veram difíceis. imagina tomando o lugar de Fi- soas como Ramiro Valdez, ou- das Letras, 2006)
ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% PB
100% ESCALACOR 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% COR
80% 85% 90% 95% 98% 100%

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DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2006


J16 ALIÁS O ESTADO DE S.PAULO

Travessia ‘06/07: Lipos, botox, dietas... para qual divindade oferecemos tantos sacrifícios?

Corpos estreitamente vigiados


REPRODUÇÃO
estranhos, como se controlam terísticas das intervenções
Maria Rita os impulsos corporais em públi- que elas fizeram: seios de sili-
Kehl* co. A criação da moderna esfe- cone, olhos arregalados por bo-
ra privada nas sociedades libe- tox, cabelos alongados, lifting,
rais é indissociável da introje- dentes branqueados. Do ponto
ção dos mecanismos de contro- de vista delas o que importa é
le dos impulsos e dos afetos, na garantir um lugar de destaque
vida pública. Freud considera- nas vitrines do mercado das
madas representa- va o desenvolvimento de uma imagens.

U ções mais antigas


da melancolia que
se conhece, ao me-
nos no Ocidente,
remonta à Idade Média. Está
associada ao rígido controle
das pulsões imposto pela Igre-
instância psíquica encarrega-
da do autocontrole como um
avanço da civilização. A auto-
disciplina afetiva e corporal é
condição do engajamento dos
sujeitos na ordem social, diria
Foucault, para quem a submis-
Seria ingenuidade criticar a
nova onda das formas silicona-
das em nome de um ideal de
corpo natural. O corpo huma-
no nunca foi natural. As tribos
mais primitivas se distinguem
umas das outras pelas altera-
ja Católica aos monges recolhi- sãovoluntária é o braço subjeti- ções estéticas, simbólicas e ri-
dos ao isolamento dos mostei- vo do poder. O autopoliciamen- tuais nos corpos de seus mem-
ros. Na iconografia medieval to permanente é o preço a ser bros. Do botox aos botocudos,
da melancolia, encontra-se pago pela vida moderna, sobre- do silicone às anquinhas, das
com freqüência a figura de um tudo nas cidades. escaras às tatuagens atuais, os
pobre monge assolado por figu- Mas houve uma transforma- corpos humanos são sempre
ras diabólicas que represen- ção importante nos termos desnaturados pelas práticas
tam toda a sorte de tentações a desse controle, acompanhan- culturais. O que há de novo é o
que ele deveria resistir. A ace- do a mudança do capitalismo, poder da tecnologia de intervir
dia, prostração da vontade que desde a fase produtiva do iní- cada vez mais na estrutura dos
acometia o cristão dedicado a cio do século 20 até a fase con- corpos, e o poder do marke-
sacrificar todos os prazeres sumista dos nossos dias. Passa-
mundanos para melhor servir mos de uma economia psíqui-
a Deus, é uma forma melancóli- ca do adiamento do prazer pa- CONSEGUIREMOS
ca de rendição diante das exi- ra outra, do imperativo do go- SER ESCRAVOS DA
gências imperiosas de um cor- zo. A moral do self-made man
po que, como viria a proclamar foi substituída pela moral do IMAGEM E MESTRES
Lacan sete ou oito séculos mais bodybuilding. Isto não signifi- DA LIBERTINAGEM?
tarde, não tem condições de su- ca que em nossa era os corpos
blimar todas as demandas de em exibição no mercado da
satisfação pulsional. imagem não estejam submeti- ting, que torna essas interven-
A repressão auto-imposta dos a formas de controle tal- ções quase imprescindíveis.
exige tanto esforço da cons- vez tão rigorosas quanto as Não deixa de ser irônico que o
ciência e tamanha disciplina que torturavam os monges me- padrão estético imposto pela
do corpo que acaba por enfra- dievais. Fazer do corpo uma tecnologiamais avançada seas-
quecer o próprio sentido do sa- imagem oferecida ao olhar crí- semelhe ao dos corpos femini-
crifício. A acedia, “retração da tico do outro exige muita disci- nos do século 19: as nádegas
alma diante do objeto de seu de- plina, muito controle e, sim, protuberantes, modeladas nas
sejo” (Yves Hersant, L'acédie et muita repressão. academias, substituem as an-
sés enfants em: Jean Clair, Mé- A quietude contemplativa, quinhas; as barrigas lisas imi-
lancolie, génie et folie en Occi- assim como a fruição sexual, só tam as cinturinhas de vespa ob-
dent ), apela ao Diabo, uma vez são possíveis se o corpo não es- tidas com o uso de espartilhos.
que o penitente sente-se esma- tiver permanentemente vigia- As filhas do pós-feminismo não
gado pelo tamanho da renún- do pelo eu, autoconsciente da medem sacrifícios para atrair
cia que se obriga a fazer. A figu- imagem que pretende apresen- os olhares masculinos. Ou a in-
ra lendária de Santo Antonio tar em público. Não devemos veja das outras mulheres. Ou a
atormentado pelas tentações confundir a dimensão libertá- aprovação do espelho, esta ver-
foi objeto de uma novela escri- ria do desejo com a dimensão são caseira da telinha.
ta por Flaubert, já no século 19. superegóica da cultura do nar- E a prova dos nove do suces-
“No fundo, não amo a Deus...”, cisismo corporal. Jean-Jaques so, qual será? O acesso aos mis-
queixa-se o personagem, abati- Courtine detectou uma conti- térios do sexo e do desejo se-
do pelo “demônio do meio-dia” TENSÃO - NatelaFiguraemMovimento,doirlandêsFrancisBacon((1909-1992),asugestãodecorposmutilados nuação do puritanismo na cul- xual? Não creio. O desejo não
da melancolia. tura norte-americana do body se dirige à perfeição, dirige-se
O princípio do prazer é o tão vivos, saudáveis, gozantes. véssemos tão vigilantes em re- dade de conectar-se com o building. Para Courtine, a sa- ao enigma. Quanto ao erotis-
que dá sentido à vida, escreveu Ao trabalho, moçada! A quietu- lação às performances se- mundo num certo estado de si- nha do fisiculturismo que data mo, será que o sexo praticado
Freud, já bem próximo da nos- de não tem nenhum prestígio xuais, tão preocupados com as lêncio do corpo e de desliga- dos anos 1980 “não correspon- entre os bombados e as silico-
sa era. A recusa radical a todos na era da publicidade, das ra- menores imperfeições de um mento da consciência autovigi- de a um laisser-aller hedonis- nadas é mais interessante,
os prazeres destrói o sentido ves embaladas a ecstasy, dos corpo que se oferece ao outro lante. A contemplação exige ta, mas a um reforço discipli- mais inventivo, mais sacana do
da nossa passagem por este filmes de ação. Estamos libera- como pura imagem. Seria óti- que se esteja em paz com o cor- nar, a uma intensificação dos que o sexo entre pessoas fisica-
mundo, ainda quando esta se dos para usufruir todas as sen- mo, enfim, se estes corpos es- po e que a consciência esteja controles. Ele não correspon- mente comuns? Conseguire-
orienta em direção aos mais al- sações corporais, mas para is- treitamente vigiados não tives- aberta ao momento, livre da de a uma dispersão da herança mos ser, ao mesmo tempo, es-
tos ideais. so o corpo deve trabalhar como sem perdido algumas de suas pressão das fantasias e das exi- puritana, mas antes a uma re- cravos da imagem e mestres
Tão longe, tão perto. O que um escravo, como um remador capacidades básicas, essen- gências do superego. Condi- puritanização dos comporta- da libertinagem?
sabemos nós sobre a acedia me- fenício, como um condenado a ciais ao próprio prazer. ções semelhantes às exigidas mentos cujos signos, de modo Como o Santo Antonio de
dieval, em pleno século 21? trabalhos forçados. Anore- Por exemplo, a capacidade para o desfrute dos prazeres mais ou menos explícito, multi- Flaubert, que já não é mais ca-
Existe alguma afinidade entre xias, bulimias, seqüelas causa- do abandono contemplativo. sexuais. Mas nunca estivemos plicam-se hoje”. paz de amar o Deus que lhe im-
os sacrifícios auto-impostos pe- das pelo abuso de anabolizan- Existe muita atualidade em tão submetidos à tirania das Hoje, o chamado amor pró- põe tantas renúncias, os jovens
los antigos monges e a liberda- tes e de moderadores de apeti- Aristóteles, que inspirou fantasias prêt-à-porter e aos prio depende da visibilidade. escravizadores dos corpos do
de com que os filhos do tercei- te sinalizam a permanente bri- imperativos superegóicos da Não se trata apenas da beleza. século 21 já perderam de vista a
ro milênio se predispõem ao ga contra as tendências do cor- moral do gozo. Não basta ter um rosto harmo- divindade à qual oferecem
desfrute de todos os prazeres? po a que se entregam, sobretu- TROCOU-SE A MORAL A modernidade resulta de nioso, um corpo bem propor- seus sacrifícios. A forma con-
Existe alguma semelhança en- do, os jovens, numa sanha disci- DO ‘SELF-MADE MAN’ um longo processo de discipli- cionado. É preciso aumentar a temporânea da acedia medie-
tre a antiga condenação cristã plinar de fazer inveja ao pobre na e de auto-observação dos taxa de visibilidade, ocupar val é o tédio que vitima jovens
contra o gozo e a convocação Santo Antonio. PELA MORAL DO corpos. O Processo Civilizador, muito espaço no mundo. É pre- casais, apartados do saber in-
permanente que apela a que o Tão longe, tão perto. Temos ‘BODYBUILDING’ do sociólogo alemão Norbert ciso fazer a imagem crescer. consciente sobre o desejo se-
sujeito contemporâneo se en- a liberdade, ou melhor, temos a Elias, é uma minuciosa investi- Inflar os bíceps, as nádegas, os xual na medida em que obede-
tregue sem reservas a todas as obrigação de nos permitir to- gação sobre a gênese da forma- peitos, aumentar as boche- cem cegamente à exigência su-
tentações? dos os prazeres sexuais. Seria Freud a escrever que o prazer ção do que é hoje, para nós, o chas, esticar o comprimento peregóica de construir um cor-
Bem: nem todas. As tenta- ótimo, se não fosse obrigatório. dá sentido à vida. A Ética de corpo civilizado normal. A so- dos cabelos. A receita de bele- po reduzido à dimensão de ima-
ções da gula, por exemplo, são Quem não conhece o caráter Aristóteles não prega contra cialização das crianças peque- za no terceiro milênio deve gem sem interioridade, sem
hoje ainda mais malditas do desmancha-prazeres até das os prazeres, como viria a fazer nas, desde as primeiras forma- ser: muito tudo. história, sem nenhum vestígio
que na idade das trevas. As da práticas mais libertinas, quan- o cristianismo, mas propõe ções das sociedades de corte, Não importa que com isso das imperfeições da vida.●
preguiça e da indolência, nem do impostas pelo superego? Se- uma hierarquia entre eles. consistia (como ainda hoje) no as mulheres fiquem mais ou
se fala. O prazer, em nossa era, ríamos livres se não nos sentís- Aristóteles não condena os aprendizado de uma série de menos parecidas com os stan- *Maria Rita Kehl, psicanalista e
está intimamente vinculado ao semos obrigados a dar provas prazeres puramente corpo- controles corporais. Aprende- dartsoferecidos pelos esteticis- escritora, é autora de Ressenti-
movimento e à atividade. Os permanentes de nossa capaci- rais: considera-os inferiores. se desde cedo como é que se tas. Um homem pode olhar as mentos (Casa do Psicólogo), Vi-
corpos pós-modernos têm que dade de gozar. Seríamos mes- Para ele, o prazer superior é o anda no meio dos outros, como moças no bar ou na fila do cine- deologias (Boitempo; em parceria
dar provas contínuas de que es- tres do hedonismo se não esti- da contemplação: esta capaci- é que se come em presença de ma e classificá-las pelas carac- com Eugênio Bucci), entre outros

PHILIPPE WOJAZER/REUTERS
19/8: pela ONG Davida, que defende como 3/12:
o reconhecimento da prostituição Mulher
A invasão emo Grande e Espartilhos – que tal?
como atividade profissional,
A platéia presente ao show da a grife já negocia a venda de Bonita) O Fantástico exibe reportagem
banda norte-americana Yellow- roupas com a Galeria Lafayette. entra na sobre um hábito do século 19 que
card em São Paulo é composta está de volta: o uso de espartilhos.

ALIÁS
Na mesma toada, vem aí a passarela
por uma nova onda de adoles- Dasprê, formada por presidiárias vestindo Se comprimir os ossos por horas
centes: os emos. Eles são sensí- de São Paulo. cinta-liga. não bastar, as mulheres apelam
veis e curtem rock com letras para algo que é ainda mais drásti-

O ANO melosas, do estilo emocore – co: a extração do último par de


REUTERS

daí o nome. Os meninos usam 4/10: 14/11: costelas. O resultado: uma

REVISTO franja caída, e as meninas,


estampas da Hello Kitty.
Mas não ouse chamar
A vez das gordinhas
O estilista francês Jean-
Fim do
sonho
cintura 10 centímetros menor,
atrofia muscular e, de sobra,
complicações na digestão.
Paul Gaultier questiona A modelo
um emo de emo. O rótu- os padrões que impe- Ana Caroli-
lo é pejorativo para eles. ram no mundo da mo-
da e escala a norte-
na Reston, 1,74 metro, morre com 5/12:
40 quilos. Dois dias depois, a estu-
7/9: americana Velvet Fetiche
dante de moda Carla Sobrado Cas-
d'Amour para o desfile O vestido preto Givenchy que Au-
6 esquisitices As “pu” e as “prê” apresentado no Pa-
salle também morre, pesando 45
drey Hepburn usa na primeira ce-
Depois de ser pro- quilos. Em dezembro, a estudante
da moda cessada pela se-
ris Fashion
Week. Pesando Beatriz Bastos falece com 34 qui-
na do filme clássico Bonequinha
de Luxo, de 1961, é vendido por
melhança com o 132 quilos, a los. Todas foram vítimas de anore- US$ 807 mil na Inglaterra. O

2006>>
nome da famo- modelo da cate- xia nervosa, distúrbio incentivado valor supera em seis vezes as
sa grife, a marca goria BBW (Big em páginas na internet criadas, expectativas dos organizado-
Daspu chega à Beautiful Wo- geralmente, por adolescentes res do leilão, realizado pela
França. Criada man, algo que sonham ser magérrimas. prestigiosa Christie's.
VIDAL CAVALCANTE/AE
ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% PB
100% ESCALACOR 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% COR
80% 85% 90% 95% 98% 100%

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DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2006


O ESTADO DE S. PAULO
ALIÁS J17
ALIÁS J17

Travessia ‘06/07: Inovar sob o risco de sumir ou repetir com o intuito de permanecer? Desafio para nossos compositores

Música para reouvir


ARQUIVO/AE
taeraartistaepúblicoerapúbli- portantesnumamesma emisso-
Luiz co. Uns faziam e outros ouviam. ra, a Record, são irrecuperá-
Tatit* No entanto, mesmo esses artis- veis e inconciliáveis com o mun-
tasjáseressentemdapoucadis- do contemporâneo. Sobram as
posiçãodopúblicoparaouvirno- nostalgias: nunca houve gera-
vas canções. Prefere reouvir a ção musical como a daqueles
ouvir. As novas composições anos! O auge de nossa música
que tanto significam para o au- popular foi a bossa nova! Nunca
oje, cada um pode torsãoapresentadascomextre- houve tanta vibração e qualida-

H gravar o seu disco e


colocá-lo na inter-
net em busca de um
ouvinte que nem
chega a ouvi-lo por estar às vol-
tas com suas próprias composi-
ções, que também serão lança-
ma parcimônia, sempre em
meio a muitas já consagradas.
Ouvir é uma concessão da pla-
téia, reouvir é o seu desejo. Ou-
vir é se sentir no centro do bom-
bardeio diário das informações
nãosolicitadas, reouviré se pro-
demusicalcomonaeradosfesti-
vais! Etc.
Talvez nunca tenha havido,
isto sim, tanta concentração e
visibilidade das principais ten-
dênciasdamúsica brasileiraco-
mo naquele período. Talvez
das na rede para que alguém as tegerdobombardeioepoderes- nunca tenha havido uma gera-
descubra e mostre aos outros. colher o que já é significativo. ção tão reouvida e, portanto,
Esses outros geralmente estão Outro sinal da mesma tendên- tão fundamental na formação
ocupados, pois criam repertó- cia manifestou-se há pouco na da nossa identidade. Quando
rio para uma próxima investida recepçãoaonovoeesperadodis- suas obras não nos eram apre-
musical que, sem gravadora e codoChico(Carioca).Todaaela- sentadas diretamente pela tele-
sem distribuidora, dependerá boração cancional ali investida visão, desfilavam nas paradas
de divulgação em seus respecti- foidescartadanaprimeira,etal- de sucessos programadas por
vosblogs,voltadosaosinternau- vez única, audição. Nenhuma emissoras de rádio. Os cancio-
tas que ainda ouvem uma coisa faixa fez pensar em Quem te viu, nistas formavam uma classe
ououtraseafonteforconhecida quem te vê e muito menos em bem delimitada e inteiramente
oubemrecomendada.Masmes- Construção. O prestígio do com- conhecida do público. Embora
mo esses internautas só ouvem positor garantiu a presença de o ingresso no mundo artístico
trechos de cada música, saltan- todas as novidades no repertó- fosse mais restrito, depois da
do rapidamente de uma para a rio do show, entretanto, do pon- gravação do primeiro disco e de
outra, colhendo impressões pa- to de vista da platéia, era como sua inserção na então “peque-
ra realizar um novo trabalho sehouvesseumcontratoimplíci- na” mídia disponível, a passa-
que ficará disponível online. to: nós ouvimos, mas depois vo- gemdoouviraoreouvirera qua-
Afacilidadetécnicadeprodu- cê canta “as boas”. se automática.
ção e a velocidade de circulação A preferência por obras assi- Atualmente, não é exagero
dasobras musicaisestãoforjan- miladas é um recurso, na verda- dizer que surgem novos artis-
do uma realidade sonora com a de muito humano, de preserva- tas todos os dias. Logo os tere-
qual nem sonhávamos décadas ção de identidade. Aquilo que mos todas as horas, todos os mi-
atrás. A ampliação desmedida nos atrai é parte de nós que se nutos, e, claro, teremos cada
do universo dos criadores vem desprega,masquequeremosde vezmenosdisposiçãoparaouvi-
abalandoacapacidadedeabsor- volta para nos sentirmos intei- los. A mídia se retrai e só reco-
ção dos consumidores. O fã que ros. É esse, aliás, o sentido de nhece uma parcela mínima des-
comprava o CD do artista agora “objeto”. O sujeito o persegue se imenso contingente de cria-
vempresenteá-locomoseupró- não por veleidade, mas porque doresqueseaglomeranos espa-
prio, gravado em excelentes constitui um pedaço de si que CARIOCA – No show de Chico, era como se a platéia dissesse: nós ouvimos, mas depois você canta as “boas” çosvirtuais,nasfilasdepatrocí-
condições técnicas e ainda valo- precisa ser recuperado (Pedaço nio e nos palcos alternativos de
rizado por um bom suporte grá- de Mim, do mesmo Chico, versa ria. Mas basta que alguns sejam resmaispróximosdoartista,ou- ça dos jovens de agora e isso os todo o Brasil. Daí a importância
fico que torna sua capa e seu en- sobre isso). Assim, não há mal fisgados e reproduzidos pelos tras serão reconhecidas anos leva a compor desde muito ce- atual de algumas instituições
carte bastante atraentes. Mas o nenhum em querer reouvir. É veículos de comunicação, ou até mais tarde, num contexto socio- do. O problema é dar vazão a to- bancárias, ao lado de empresas
artista, que já recebera algu- um modo de repassar na memó- pela atuação direta dos artistas cultural diverso. E há, ainda, as daessafecundidadenumforma- mais arejadas, que vêm inves-
mas dezenas de outros CDs e ria tempos já vividos, em geral que se esmeram em promover o quepermanecem,massãoaban- to que evite o descarte sumário, tindo em projetos de revelação
DVDs de outros fãs, provavel- associados a idéias ou situações próprio trabalho, para termos a donadas pelo próprio autor, por decorrentedoatropeloinforma- e difusão de talentos ao menos
mente não terá tempo de ouvi- prazerosas, e de realinhavar comprovação de que as canções desinteresse (ex. A Banda, de tivo,equeestimuledealgummo- nos principais centros de cultu-
los (ou vê-los) pois está enfurna- conteúdos que vagam avulsos seguem respondendo ao anseio Chico Buarque) ou por razões do a reaudição. ra do país. Daí a importância do
do num estúdio preparando no- em nosso interior. É um modo vital de desaceleração do ritmo de foro íntimo (ex. Quero Que Vá A internet é um campo a ser Sesc,outro núcleo extraordiná-
votrabalhoquedeverácompen- dedartempoaotempoederevi- de vida do ouvinte e continuam Tudo Pro Inferno, de Erasmo e explorado, mas não faz parte de rio de veiculação das iniciativas
sar a pouca divulgação e acolhi- gorar nossa identidade diante se convertendo em verdadeiros Roberto Carlos). Qualquer des- suasatribuiçõesavalizarospro- artísticas de alto nível, que, par-
da do anterior, cujo lançamento de um mundo cujo andamento Leitmotiven de sua história. sesgraus temsua importância e dutos que circulam na rede. ticularmenteemSãoPaulo,rea-
coincidiu com uma época em açodado tende a nos despeda- Houve época em que gravar contribui para a formação das Sua feição caótica, embora pro- liza um trabalho ininterrupto
que os ouvintes cuidavam de çarpor dentro.Nessa linha, é in- um disco era tudo que um artis- identidades pessoais e do patri- porcione eventuais descober- de circulação das artes brasilei-
seus próprios discos... teressante observar que os sho- tapoderiadesejar.Esósepensa- môniocoletivo.Eaoartistaéim- tas,produzdesconfiançaseindi- ras – e que, neste momento, vê
Difícil compreender as no- ws de hoje são sempre rituais de va no registro de um segundo se prescindível atingir algum grau ferenças incompatíveis com o parte de seus empreendimen-
vas relações de produção e con- a venda e a repercussão do pri- de permanência, embora isso tos ameaçada por lamentáveis
sumo anunciadas no alvorecer meiro fossem satisfatórias. Ho- não lhe seja suficiente. Em ge- perdas de arrecadação.
do século 21. Não sabemos nem PERMANECER je, um CD gravado é ponto de ral, quanto mais o público quer A PRODUÇÃO DE HOJE É no interior dessas salas de
se estão se concretizando ou se SIGNIFICA SE TORNAR partida para uma almejada car- reouvir, mais o compositor lhe NÃO BUSCA O NOVO espetáculo que a música brasi-
virtualizando. Não podemos reira musical e, independente- propõe novidades, até que uma leira pulsa com o mesmo vigor
imaginar suas conseqüências e OBJETO DE mente de qualquer sucesso de delas outra vez emplaque. Terá EM SI, MAS O QUE detodosostempos.Quemasfre-
muito menos avaliá-las com os REPRODUÇÃO venda ou de crítica, o artista já o artista, então, o melhor teste- PODE PERMANECER qüenta tem tido oportunidade
critérios ideológicos ou científi- seaventura num segundo disco, munho da própria vitalidade. de se imbuir das incríveis dic-
cos erigidos no século passado. num terceiro, e assim por dian- Jamais se produziu tanta ções cancionais de nossa época.
Por enquanto, parece-nos sufi- comunhão que atingem o seu te, até que uma canção “empla- canção de qualidade (maior ou universo cancional. As rádios Emsua maioria,elas nãocabem
cientereconhecê-lascomofenô- ápice quando a platéia canta que”. Emplacar, nesse univer- menor) no Brasil como nos dias de vasta audiência são há muito mais na grande mídia, mas pela
menos irreversíveis que exigem com o artista aquilo que já reou- so, significa “permanecer”, vi- atuais.Aofertasuperaademan- tempo cúmplices de conglome- amostra de poucos que pude-
a formação de uma nova menta- viu muitas vezes. Todos se jun- rar objeto de reprodução na se- daemdiversos itens.Énotávela rados comerciais e só operam ram migrar desse mundo artís-
lidade para o acompanhamento tam em defesa de um patrimô- qüência ininterrupta das cria- rapidez com que um ouvinte se na faixa de grande consumo, o tico periférico para o centro de
de seus efeitos sociais, culturais nio subjetivo e coletivo que a çõesdoartista.Nofundo,signifi- transforma em artista, muitas que as distancia cada vez mais médio e grande consumo, onde
e estéticos. Nem podemos dizer “realidade”foradoauditóriotei- ca interromper momentanea- vezes mais produtivo que seus do antigo papel de principal di- podem ser reouvidos (citemos,
ainda que algum dia estaremos ma em dilapidar. mente a própria voracidade de ídolos,ealimentacomsuascom- vulgadoradasvariedades sono- entre muitos, os compositores-
emcondiçõesdejulgaressasno- Acontecequeaampliaçãoes- criação em nome de um forma- posiçõesummercadojáinflacio- ras de todo o país. Do mesmo intérpretes Zeca Baleiro, Zélia
vasrelações,umavezqueacom- pantosa da faixa dos criadores, to que precisa ser reouvido e in- nado de bons trabalhos, deixan- modo, as televisões abertas (ex- Duncan, Lenine, Arnaldo Antu-
preensão, como a concebemos que poderia ser um bem em si, corporadoaosritos(ouapresen- doperplexostantoosdemaisou- ceto as culturais) retiraram os nes, Chico César e Vanessa da
até hoje, pressupõe um grau de acaba produzindo no ouvinte tações) cancionais do autor. A vintes quanto a própria classe musicais de sua programação, Mata), já vemos que nada de-
desaceleração que estará sem- uma espécie de defesa da pró- produção desenfreada dos dias musical.Quantoaosinstrumen- restringindo-se à utilização de vem à geração dos anos sessen-
preemdefasagemcomadinâmi- pria sensibilidade (“Socorro, eu atuais não busca o novo em si, tistasde hoje,pode-se dizerque, canções “eleitas” do mains- ta e setenta. Com a vantagem
ca alucinante da veiculação so- não estou sentindo nada”, diz a mas o que pode permanecer experiências à parte, começam tream para compor as trilhas de que ainda estão no primeiro
nora dos nossos dias. letra de Alice Ruiz). São tantas dentre as numerosas criações. suas carreiras no ponto em que de suas novelas. Mas rádio e te- tempo de sua partida musical.●
Talvez esse panorama des- as canções interessantes e tan- Claro que existem graus de per- seusreverenciadosmestrester- levisão, mesmo que quisessem
crito até aqui traduza mais uma tos os sentimentos transmiti- manência. Algumas composi- minaram e atingem metas mui- novamente apoiar o segmento *Luiz Tatit é fundador do Grupo
tendência do que a realidade dosquejánãopodemosmaisdis- ções se transformam em hinos to mais exigentes. O ofício de musical, não mais dariam con- Rumo, compositor, cantor,
desteiníciode2007.Grandepar- cerni-los nem incorporá-los. do autor e atingem uma perma- cancionista, embora ainda não ta. As condições quase provin- violonista e professor do Depto.
te da cena musical ainda é ocu- (“Tem tantos sentimentos / De- nência absoluta (ex. País Tropi- seja reconhecido pelas instân- cianas das décadas de 1960 e de Lingüística da Faculdade
pada por nomes que se firma- ve ter algum que sirva”, idem). cal,deJorgeBenJor),outrascir- cias formais, já é uma profissão 1970, que proporcionaram a de Filosofia da USP. É autor de
ramnum contexto em que artis- Eles nos escapam em sua maio- culam apenas entre os seguido- concreta e promissora na cabe- reunião de todos os artistas im- O Cancionista (Edusp, 2002)

J.F.DIORIO/AE
Milton Hatoum do da audiência no Festival de Ci- Av. 23 de Maio, em São Paulo. de todo o mundo. Com 50 anos
O escritor amazonense recebe por nema do Rio. Ainda em 2006, começa a de carreira e lotação esgotada
Cinzas do Norte o Prêmio Jabuti criar uma escultura em ferro em todo concerto que faz, Nel-
na categoria Livro do Ano – Ficção para a entrada do Aeroporto son Freire grava os dois concer-
José Mindlin tos para piano de Brahms,
e o primeiro prêmio da 4ª edição de Cumbica e, pela primeira
Em março, lança Destaques da

ALIÁS do Prêmio Portugal Telecom de


Literatura Brasileira.
Biblioteca InDisciplinada de Guita
e José Mindlin, catálogo com o
melhor no acervo com
vez, experimenta moldar o
mármore.
acompanhado da Orquestra da
Gewandhaus de Leipzig. E lan-
ça um CD solo com a execução

O ANO Cao Hamburger


Depois de um começo de ano
mais de 45 mil títu-
los. Em maio, doa
Nelson Freire
É, definitivamente, um dos gran-
impecável de quatro sonatas
de Beethoven.

REVISTO morno para o cinema nacio-


nal, com baixo retorno nas bi-
para a USP o fruto
de 80 anos de garim-
des e mais celebrados pianistas
Chico Buarque
lheterias, eis que Cao Ham- pagem: 20 mil livros imortal, eleito para a Academia Não que ele estivesse afastado
burger dá o pontapé que, somados ao Brasileira de Letras, com 36 dos da mídia. Afinal, após o lança-
para a reviravolta. acervo do Insti- 37 votos válidos. mento de Budapeste, os últi-
Mostrando a re- tuto de Estu- mos capítulos da série de DVDs
pressão militar dos Brasilei- Tomie Ohtake dirigida por Roberto de Oliveira
nos “anos de Aos 93 anos, a artista plástica
Personalidades chumbo”, do
ros, vão cons-
tituir a ganha a retrospectiva Tomie
são de 2006. Mas o “jejum de
imprensa” é quebrado com o
culturais ponto de vista
de um pré-ado-
maior Brasi- Gráfica, feita de 75 gravuras lançamento do CD Carioca. Chi-
liana – cole- produzidas entre 1968 e 2005. co fala e dele falam. O disco faz
lescente, o co- ção sobre o Tomie também recupera o com que o compositor/cantor

2006>>
movente filme O Brasil – do Monumento à Imigração volte aos palcos. Ele abre a tur-
Ano em que País. Em junho, Japonesa, quatro ondas nê em São Paulo e prossegue
Meus Pais Saíram de concreto instaladas no Rio. Casas lotadas, sempre.
de Férias é o preferi- Mindlin torna-se no canteiro central da ANTONIO MILENA/AE
De novos e velhos fãs.
ALEX SILVA/AE
ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% PB
100% ESCALACOR 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% COR
80% 85% 90% 95% 98% 100%

Produto: ESTADO - BR_B - 18 - 31/12/06 J18 - BRASIL Cyan Magenta Amarelo Preto

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DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2006


J18 ALIÁS O ESTADO DE S.PAULO

Travessia ‘06/07: A solidão do atleta que nunca virá a ser reconhecido

E aqueles que nunca vencem?


JONNE RORIZ/AE

Nuno
Ramos*

um de seus contos

N mais bonitos, Ka-


fka descreve as pe-
ripécias de um je-
juador, um Artista
da Fome, empenhado em bater
o recorde de tempo jejuando. O
conto se inicia no que seria a
época de ouro dos jejuadores,
em que o público acorria em
massa à jaula onde, vigiados,
permaneciam sem se alimen-
tar. Um prazo de 40 dias era o
máximo que os empresários
permitiam, sob pretexto de ze-
larpor suasaúde, mas naverda-
de para evitar o desinteresse
do público. Este limite fazia o
tormento dos artistas da fome,
sempre ansiosos por atingir
um recorde que não conhe-
ciam, nem podiam tentar. Aos
poucos, no entanto, o público
abandona este esporte, esque-
cendo-se afinal inteiramente
dele. Um jejuador, então, em-
prega-se num circo, mas acaba
abandonado ali, junto às estre-
barias, misturado à palha de
sua jaula, por um tempo inde-
terminado – sempre jejuando.
Éentão que bate todosos recor-
des de jejum, sozinho, sem pú-
blico,paraninguém,atéser des-
coberto, dizer suas últimas pa-
lavras e morrer.
Como sempre, em Kafka, o MEMBROs E MÚSCULOS – Como legumes transgênicos, a deformidade das pernas de alguns são a imagem da especialização excessiva
mundo aparece às avessas, pois REPRODUÇÃO
o recorde é feito por subtração O amadorismo tem essa ca- A junção entre atletismo e
(passar fome), ao contrário dos racterística estranha – parece doping parece o resultado lógi-
recordes positivos que marcam deslocado deste sistema brutal codisto tudo.Bastaolhar paraa
o esporte – correr mais rápido, e binário de inclusão/exclusão pernadetantosatletas:adisfun-
levantar mais peso, marcar a que o mundo vai se reduzindo ção entre membro e músculos,
mais pontos. Além disso, é so- cada vez mais. O amadorismo comolegumestransgênicossal-
mente pelo abandono do públi- resiste, de dentro de sua palha, tando por todo lado, é a imagem
co que o esporte pode ser leva- numa jaula perdida, num circo da especialização excessiva.
do ao limite. Esquecido numa de que ninguém se lembra. Grande parte dos atletas tem
jaula, o jejuador pode fazer en- Num artigo brilhante, o musi- mesmo algo de um monstro –
fim aquilo de que mais gosta – cólogo Lorenzzo Mammì traba- não o lentíssimo Frankenstein,
jejuar, chegar ao extremo de lha esta idéia de amadorismo a que juntava pedaços mortos
seu talento. É neste abandono partir de um de nossos maiores num todo vivo, mas os velozes
artistas - João Gilberto. Para
Mammì, o amadorismo de
PARA CADA ATLETA João Gilberto não se dá por fal- NOS 100 METROS, QUAL
HERÓI, CENTENAS SÃO ta, mas por excesso – sua músi- A DIFERENÇA ENTRE
ca seria perfeita e perfeccionis-
ESQUECIDOS POR MAIS ta demais para as exigências OS 9’77 DO RECORDE E
QUE TREINEM PESADO da indústria cultural. É esta UNS 10’ CRAVADOS?
desmesura que o amador ain-
dapratica. Mesmo que involun-
também que o artista da fome tariamente, ele é alguém que Nibelungos, anões inchados,
fala. Diz que jejua “porque não não foi pego pelo Deus a quem exponenciados ao limite, pos-
pude encontrar o alimento que se oferece. suídos por uma energia que
me agrada. Se eu o tivesse en- Sei bem que existe uma ma- não parece inteiramente de-
contrado, pode acreditar, não DE ANÔNIMO A RECORDISTA – João do Pulo: décimos de segundo o levaram às primeiras páginas dos jornais gia nos recordes e nas competi- les. O corpo não poderia mes-
teria feito nenhum alarde e te- ções de ponta que não pode ser mo ser poupado – assim como
ria me empanturrado como vo- começaram sem amparo al- nãoincluia vitória,nem apassa- comparação com seus seme- negada – a do limite humano. os cantores eram castrados,
cê e todo o mundo.” Assim, nes- gum, treinando em condições gema competições mais impor- lhantes é descrita nos parâme- Mas é claro que existe também para que alcançassem deter-
te mundo invertido, o fracasso absurdas, para no fim chegar à tantes? Como será treinar nu- tros mais detalhados. Não há em toda disputa uma dinâmica minadas notas, atletas são ana-
leva o artista-atleta ao recorde medalha. O mais interessante, ma pista de barro encharcada, público para acompanhá-lo. É interna, que no fundo prevale- bolizados por dentro, músculo
e ao alimento que não pôde en- noentanto,seriapensarnamas- pular num colchão com molas madrugada, e treina sozinho. ce. Afinal, se numa corrida de a músculo, para que executem
contrar: a fome. sa de atletas que não alcançam quebradas, nadar numa pisci- Para o atleta amador o esporte 100 metros rasos três competi- melhor suas especialidades.
Para cada atleta que conhe- o pódio, que não alcançam índi- nafria, começar a dar saltos nu- é ainda um possível, uma mas- dores chegam separados por A isto tudo o artista da fo-
cemos, para quem nos acostu- ces olímpicos, que não são gê- maidadeavançadademais? Co- saemaberto,algoa seraprendi- centésimos de segundo, que di- me responde, debaixo de sua
mamos a torcer, que vemos pe- nios nem têm acesso aos treina- mo será perder, perder sem- do – algo que não domina. Sua ferença faz se seu tempo foi de palha, sozinho. Na hora de
la TV ou cujo nome ouvimos mentos(emuitas vezes aos esti- pre, dos modos mais variados, técnica não é perfeita – pode 10 segundos cravados ou de morrer, tem “nos olhos emba-
pronunciado, centenas foram mulantes químicos) que cer- num mundo que só conta a his- aperfeiçoar-se, e muito. Ainda 9’77 (o recorde mundial de Jus- ciados a convicção firme, em-
esquecidos debaixo da palha, cam os competidores de verda- tória de quem vence? Como se- não é um especialista – o corre- tin Gatlin e de Asafa Powell)? bora não mais orgulhosa, de
batendo, talvez, recordes que de. Seria interessante, agora rá ficar na palha, jejuando, sem dor de 400 metros pode mudar São estes décimos de segundo, que continuava jejuando”. A
não interessam a ninguém. A que seu momento de glória se que ninguém saiba? de prova, o de 3.000 metros po- no entanto, que separam o Pan frase pode ser aplicada tam-
sombra de um amadorismo di- aproxima (o Pan-Americano), Paraoatletaamadoroespor- de virar talvez um maratonis- das Olimpíadas e a primeira pá- bém à sua morte, o último
fuso ronda o nosso profissiona- pensar nestes atletas da fome, te não virou ainda um meio de ta. À diferença do profissional, gina dos jornais de uma nota de grande jejum. Forma extrema
lismo com o mesmo abismo da que não puderam, muitas ve- vida.Não éumsistemaminucio- que só pode vencer ou perder, o fim de página (com exceções, é de desmesura, o recorde do ar-
divisão de renda entre nós. É zes, encontrar o alimento que so de mensurações, refeito a ca- amador é aquele que ainda po- claro: João do Pulo bateu o re- tista da fome inclui sua pró-
conhecida a história, tão piegas lhes agrada. Como será compe- dadia (índices pessoais,contro- de um número enorme de coi- corde mundial do salto triplo pria extinção.●
quanto verdadeira, da maioria tir sem poder ganhar, “fazer a le de calorias, massa muscular sas – até mesmo gostar do que no Pan-Americano da Cidade
de nossos heróis olímpicos, que sua corrida” sabendo que ela etc). Não é um ranking, onde a faz, mais do que de seus índices. do México). *Nuno Ramos é artista plástico

KEINY ANDRADE/AE
30/4: 10/9: 5/11:
DIVULGAÇÃO

Popó tetracampeão Meninas do vôlei O rei de Nova York


Acelino Popó vence o americano Nas quadras e nas areias, não Marilson Gomes dos Santos deixa
Zahir Raheem, nos EUA, e conquis- tem para ninguém. Juliana e para trás os favoritos quenianos e
ta o cinturão dos leves, da Organiza- Larissa ganham 16 títulos de 37 mil atletas para chegar em pri-

ALIÁS ção Mundial de Boxe. Com isso, o


Brasil, pela primeira vez na história,
tem dois campeões mundiais simul-
vôlei de praia em 2006. E a
seleção de vôlei de quadra,
comandada por José Roberto
meiro na Maratona de Nova York.
Marilson é o primeiro sul-america-
no a vencer a prova de longa dis-

O ANO taneamente. Em janeiro, Valdemir


Sertão Pereira garantiu o cinturão
Guimarães, derrota a Rússia
para conquistar o sexto título
tância mais famosa do mundo.

REVISTO dos penas, pela Federação Interna-


cional de Boxe.
do Grand Prix – o terceiro se-
guido – de forma invicta, com
13 vitórias.
3/12:
Meninos do vôlei campeonato, conquista o bi ao es-
trear um novo movimento, que foi
2/7: JONNE RORIZ/ AE
O Brasil ratifica a condição de
maior potência da atualidade no batizado com o seu nome.
A copa do meião vôlei masculino. A equipe conquis-
A seleção não vinha jogando ta o bicampeonato mundial ao ar-
bem. Mas a esperança do brasi- rasar a Polônia, em Tóquio.
17/12:
leiro não tem fim e a derrota O mundo é vermelho
6 vitórias para a França (de novo) na Co-
16/12: Depois de bater o São Paulo na
e 1 derrota pa da Alemanha é frustrante.
Roberto Carlos ajeita a meia, O nome da vez
final da Libertadores da América,
o Internacional vai a Yokohama,
Zidane cruza e Henry marca. O Diego Hypólito brilha na Copa do no Japão, enfrentar o Barcelona

2006>> resultado de 1 a 0 manda os bra-


sileiros para casa e torna o quar-
teto mágico uma das maiores
decepções do ano.
Mundo de ginástica. Ele já havia
conquistado, em março, o ouro na
prova de solo durante a segunda
etapa da competição. E, na final do
de Ronaldinho Gaúcho. O jogo ter-
mina 1 a 0 para os colorados e dá
ao time o título de campeão do
Mundial de Clubes.
ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% PB
100% ESCALACOR 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% COR
80% 85% 90% 95% 98% 100%

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O ESTADO DE S. PAULO
ALIÁS J19
ALIÁS J19

MEMÓRIA ‘06 – As personalidades que partiram

●●●TELÊ SANTANA (21/4, aos 74 anos) - Ga-


nhar por ganhar não fazia partedo seu reper-
tório. Quando jogador do Fluminense, tinha
o apelido de Fio de Esperança, pela intensa
dedicação que ofereceu ao seu clube do co-
ração. Como técnico, era um perfeccionis-
ta. Exigia um futebol diferenciado, e a sele-
ção de 1982 provou isso, embora não tenha
levado o caneco. Nem a de 86. Para quem
quis lhe cravar a pecha de “pé frio”, ele res-
pondeu com os 11 títulos do São Paulo, in-
cluindo o do Campeonato Brasileiro, as
duas Libertadores e os dois Mundiais.
Uma isquemia fragilizou sua saúde, mas
não a fama de vencedor.

AP
● ● ● SADDAM HUSSEIN (30/12,

aos 69 anos) - Filiado ao Partido


Baath desde os 20 anos, Saddam
fez parte de várias tentativas de
golpe contra o governo iraquiano.
Assumiu a vice-presidência em
1968 e, em 79, a presidência. Em
80, invadiu o Irã numa guerra san-
grenta e inútil de oito anos na qual
foiapoiado tantopelaURSSquan-
to pelos EUA. Em 1988, atacou
com armas químicas a aldeia cur-
da Halabja, matando 5 mil pes-
soas. Invadiu o Kuwait em 89, foi
EDU GARCIA/AE

expulso pelos EUA. Condenado


AFP

por genocídio, foi enforcado.

● ● ● AUGUSTO PINOCHET (10/12, aos 91 anos) - Ditador do Chile de

1973 a 90, derrubou um governo no qual ocupava cargo de confiança e


instaurou um regime marcado por tortura, desaparecimentos, e mor-
tes. Nos últimos anos surgiram indícios de enriquecimento ilícito. A
adoção de um modelo liberal nos anos 80, então inédito na América
Latina, lhe garante elogios de alguns. Mas, como sugere o título de seu
obituário na bíblia do liberalismo, a revista The Economist, “não impor-
ta o que ele tenha feito pela economia: Pinochet era um homem mau”.

AP DIVULGAÇÃO NILTON FUKUDA/AE


REPRODUÇÃO

MILTON FRIEDMAN (16/11,


●●● ●●●JAMES BROWN (25/12, aos 73 anos) - Criado
aos 94 anos) - Ganhador do No- no sul rural americano durante a Depressão, Brown
bel de Economia de 1976, pre- se formou musicalmente no gospel. Era capaz de ●●●BUSSUNDA (17/6, aos 44 anos) - O País vivia
●●●BETTY FRIEDAN (4/2, aos 85 anos) - Ela não queimou sutiã em gou o mercado livre como condi- gritar sem perder a nota e seus shows foram sempre o oba-oba do começo da Copa quando o humorista
praça pública, mas foi como se. Na década de 1960, seu livro A Mística ção para a liberdade das pes- grandes espetáculos. Militante do movimento ne- teve um enfarte fulminante na Alemanha, onde “co-
Feminina incendiou o movimento feminista ao pregar que a mulher soas. Foi conselheiro de Reagan, gro, passou cinco anos na prisão por condenações bria” o campeonato ao lado dos outros Cassetas.
tem mais o que fazer além de ser mãe e esposa. Pedia individualidade e Nixon e Gerald Ford e assesso- que vão de roubo, violência contra a ex-mulher, uso Com a trupe da TV Globo, participou de 11 livros, três
igualdade social entre os sexos, não a morte da família. rou a economia de Pinochet. de drogas e porte ilegal de armas. discos, um filme e uma peça de teatro.

FERNANDO PIMENTEL/AE MONALISA LINS/AE ARQUIVO AE ARQUIVO AE BRIAN SNYDER/REUTERS

●●●SIVUCA (15/12, aos 76 anos) ● ● ● MIGUEL REALE (14/4, aos

- Dos músicos mais influentes na 95 anos) - Era conhecido como ●●●PHILIPPE NOIRET (23/11, ●●●JOHN GALBRAITH (29/4,
arte da sanfona, viveu 16 anos fo- opai donovoCódigoCivil Brasilei- aos 76 anos) - Tendo feito mais aos 97 anos) - Professor emérito
ra, foi arranjador da cantora sul- ro. Seu trabalho, Fundamentos ●●●BRAGUINHA (24/12, aos 99 anos) - Carinhoso é seu sucesso an- de 150 filmes, este francês como- de Harvard, foi crítico contumaz
africana Miriam Makeba e parcei- doDireito (1940), lançou as bases tológico, mas também assinou histórias infantis lançadas em LPs colo- veu o mundo em papéis como o da sociedade de consumo ameri-
ro de brasileiros de renome, entre de sua Teoria Tridimensional do ridos. Num tempo em que se esperavam com ansiedade as marchi- Pablo Neruda de O Carteiro e o cana e do conformismo. Defen-
eles Chico Buarque, com quem Direito, que se tornaria mundial- nhas de Carnaval, compôs As Pastorinhas e Yes, Nós Temos Banana. Poeta e o projecionista Alfredo, deu jornada de trabalho semanal
compôs João e Maria. mente conhecida. Produziu espetáculos, dirigiu filmes, dublou... Um homem multimídia. de Cinema Paradiso. inferior a 40 horas.

ARIOVALDO VICENTINI/AE ARQUIVO AE JJ. LEISTER/AE REPRODUÇÃO THE NEW YORK TIMES

● ● ● D. LUCIANO MENDES DE AL- ●●●RAUL CORTEZ (18/7, aos 73 JECE VALADÃO (27/11, aos
●●●

MEIDA (27/8, aos 75 anos)- Ar- anos) - Desempenhava qualquer 76 anos) - Ator marcado pelos
cebispo de Mariana (MG), ocu- ●●● GIANFRANCESCO GUARNIERI (6/8, aos 71 tipo: de barões do Império a italia- papéis de machão desde que tra- GERALD FORD (26/11, aos 93 anos) - Presiden-
●● ●

pou a presidência da CNBB em anos) - Ele sempre foi um militante. Como estudan- nos grosseiros, de don Juan ao rei balhou no clássico Os Cafajestes, te acidental dos EUA que sucedeu Nixon, era um tra-
1987. Destacou-se na defesa dos te, nos anos 50, depois no teatro, com peças como Lear. Em quase 50 anos de carrei- de Ruy Guerra, Valadão fez mais palhão: batia a cabeça na saída do helicóptero, enro-
direitos humanos, ainda na dita- Eles Não Usam Black-Tie, de 1962, tendo a greve dos ra, fez 66 peças, 28 filmes, 20 no- de 100 filmes. Nos últimos dez lava-sena correiado cão da família...Mas,sacrifican-
dura, e dedicou-se à Pastoral do metalúrgicos como pano de fundo. Entre seus mais velas, 6 minisséries. Venceu cin- anos se voltou para a religião e do a popularidade, anistiou Nixon e os jovens que
Menor até cair doente com um de 20 textos estão Arena Conta Zumbi e Arena Conta co vezes o Molière, maior prêmio chegouaatuarcomopastordaAs- fugiram do alistamento. Com a retirada das últimas
câncer no fígado. Tiradentes, com Augusto Boal. do teatro brasileiro. sembléia de Deus. tropas do Vietnã, cicatrizou um país dividido.
ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% PB
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J20 ALIÁS O ESTADO DE S.PAULO

Travessia ‘06/07: Instaurada a era da incrível celebração do famoso “quem”

I tube, YouTube, we all tube


REPRODUÇÃO
uma espécie de Michael Moore
Sérgio e Abraham Zapruder da era
Augusto* YouTube. Assim como Zapru-
der foi o único a registrar em
imagens o assassinato de John
Kennedy, Sidarth foi o único a
gravar com uma câmara de ví-
deo um discurso catastrófico
006 ia ser o ano da hi- dosenador republicano George

2 def, da alta definição.


Não foi. Formatos in-
compatíveis emper-
ram sua prosperidade-
como nos tempos do VHS vs.
Betamax. As vendas dos televi-
sores de alta definição (HDTV)
Allen, que, divulgado pelo You-
Tube, desgraçou suas ambi-
ções políticas pelos próximos
não sei quantos anos. Allen pre-
tendia concorrer à sucessão de
Bush,em 2008,e reeleger-sese-
nador pela Virginia, em novem-
até caíram em 2006: só nos bro passado, mas caiu na asnei-
EUA, 16%. radesaudarum grupodeeleito-
2006 ia ser e não foi o ano da resdeformajocosamente racis-
mídia móvel, a consolidação ta (“Olá, macacada!”), deu azar
universal dos blackberrys e ce- de Sidarth estar presente, com
lularesonipotentes.Onipresen- sua camcorder ligada, e lá se
tes, sim; onipotentes, ainda foi, para início de conversa, a
não. Quando empatarem em cadeira do Senado.
qualidade e abrangência com Com uma câmara de vídeo,
oscomputadores,aísim.Propa- um computador e banda larga,
ganda em celulares? Se isso é está armada a guerrilha do sé-
novidade que justifique liba- culo21. Quantos pilantrase cor-
ções,proponhoum brindeà vol- ruptosasmicrocâmarasdotele-
ta do El Niño. Ou, para voltar- jornalismo da Globo não entre-
mos aonde estávamos, à chega- garam, no ano que hoje termi-
dados spamsliterários(lixo“in- na? Às vezes, nem a câmara faz
telectualizado” com anúncio falta; basta a internet. O email
embutido: um verso de Shakes- consolidou-se, em 2006, como o
peare preludiando a oferta de maisrápidoe eficazmeiodemo-
umbagulho qualquer) e à Tech- bilização política. Convocação
no Fashion do charlatão Hus- para passeatas, abaixo-assina-
sein Chalayan e seus vestidos dos, palavras de ordem, detra-
mecanizados, um dos espantos ções, todas essas ações são ago-
da última Paris Fashion Week . ra deflagradas digitalmente.
2006 foi o ano da Web 2.0. BREE, A LONELYGIRL15 – A vida fictícia de uma adolescente contada no YouTube bateu em julho a audiência típica de séries de sucesso na TV Foi pela internet que os ameri-
Da apropriação da world wide canos organizaram sua pres-
web (a grande infovia), por de gente: autoexpressão. Se o eadulterando a Wikipedia, gra- joint venture para concorrer ca e recombinante, distribuída são pelo fim da guerra no Ira-
mim, por você, por todos nós. A estouro do YouTube (o site vando podcasts, escrevendo li- com o YouTube, que só não ten- e promovida de forma indepen- que, amealharam novos eleito-
revista Time acertou na pinta. mais popular da internet, 100 vros virtuais, produzindo rese- taram destruir, retirando-lhe o dente e criativa, o que rola na res e novas contribuições para
Sua “Person of the Year”, sua milhões de clips vistos por dia) nhas para a Amazon, enviando conteúdo que, afinal, lhes per- mídiaonline(osroqueirosingle- seus candidatos nas eleições de
personalidade de 2006, não foi tivesse sido a única novidade vídeos para o YouTube (e até tence,comreceiode umarepre- ses Arctic Monkeys e Lilly Al- novembro,e nós, reféns do Con-
um indivíduo excepcional, mas do ano, 2006 já teria sido um para o PornoTube), fazendo do sália dos fãs do site e das leis len conquistaram seus primei- gresso mais funesto da história
todososindivíduosexcepciona- anohistórico nocampodainfor- Orkut um misto de ponto de en- antitrustes. Difícil prever no ros fãs através do MySpace, a doPaís,disseminamosnossare-
lizadospela Web2.0, condensa- mática e da comunicação. Mas, contro, palanque, dazibao e sa- que vão dar essas conversa- maiorinterfacedorockdegara- pulsa pela duplicação dos salá-
dos num "você" coletivo. Na ca- no rastro do YouTube, que, a mizdat, montando emissoras ções, pois conflito de interesses gem) é, na maioria das vezes, rios dos parlamentares, cujo
pa, um laptop, com um baita exemplodoGoogle, jávirouver- de rádio virtuais pelo Pandora. e objetivos entre os quatro gi- canhestro de doer. Mas essa frutuoso desfecho todos conhe-
“You” na tela. Embaixo, a razão bo, chamaram atenção o MyS- com (só eu já montei quatro). gantes é o que não falta. A lambança criativa tem seu lado cem.
da escolha: “Sim, você. Você é pace (fotos, demos, classifica- Pena que Ortega y Gasset, News Corporation é dona da positivo. Ao agredir as noções Rotularam de “netroots” os
quemcontrolaaeradainformá- dos,videoclips,umkaraokê ele- George Orwell, Aldous Huxley, FoxNews e do MySpace.A Via- estabelecidasdeprofissionalis- militantes políticos que adota-
tica. Bem-vindo ao seu mun- Marshall McLuhan e Abraham com tem a MTV, que compete mo, anarquizar com preceitos ram esse modus operandi. São
do”. Moles não tenham vivido o bas- com o MySpace. O Google está legais de posse autoral, despre- osativistasdarede. Semaagita-
Inventada há 15 anos por EM 2006, A WEB FOI tante para testemunhar e ava- de olho no inventário de som e zaroideáriomarqueteirodosu- ção deles, Ned Lamont não te-
Tim Berners-Lee, a Web 1.0 se- APROPRIADA POR liar essa passiva rebelião das imagem da CBS, já abriu negó- cesso a qualquer preço e fazer ria derrotado o popular Joseph
ria, em princípio, um maná ele- massas,esse maravilhosomun- cios com a Viacom e negociou um remix tecnológico da cultu- Lieberman nas primárias do
trônico para que cientistas MIM, POR VOCÊ, do novo em que, por detrás dos licenciamentos com a Warner ra popular, quase sempre em Partido Democrata, em Con-
compartilhassem melhor e POR TODOS NÓS meios e das mensagens, não há Music Group, a SonyBMG e a alta indefinição, os bárbaros da necticut, quatro meses atrás.
commaisagilidadesuaspesqui- um Big Brother, mas milhões Universal Music Group (que, Web 2.0 estão forçando as gra- “Sem os netroots, os democra-
sas. Deu no que deu: Hotmail, deWinstonSmiths – muitos,in- não obstante, lança em 2007 o vadoras, os estúdios de cine- tas não estariam onde agora es-
Yahoo!, Google, MP3, iTunes. trônico), o Dailymotion, o Pure felizmente,narcisistas,solipsis- SpiralFrog, de onde será possí- ma, a imprensa escrita e tudo tão”, ressaltou o novo líder da
Mas até pouco tempo atrás, a Volume, o Garage Band, o Me- tas, preconceituosos, ignoran- vel baixar gratuitamente todo mais que represente o esta- maioria no Senado, Harry
coletivização da internet, o tacafe, o Pandora. tes, complexados e hidrófobos. o seu acervo musical). blishment da comunicação e do Reid, em seu blog no Daily Kos.
“maoísmo digital”, para usar a Existem hoje mais de 400 De todo modo, não será com es- Enquanto isso, o YouTube entretenimento a rever certos Ascassandrasdaredefecha-
expressãodeJaronLanier,limi- milsitesdeintegraçãosocialso- sa laia que a comunidade www reina quase absoluto. Surgi- conceitos e estabelecer novos ram 2006 esbanjando otimis-
tava-seà trocadeemails eende- nhando com ser o MySpace da deverá consumar o seu destino ram lá os maiores fenômenos planos de sobrevivência. mo. Aos agourentos que não se
reços de portais, sites e páginas vez, mais de 200 veículos de ví- manifesto, que é o de construir de comunicação, sinapses ele- Claro que só os talentos au- cansam de lembrar a bolha da
de especial interesse, downloa- deos inspirados no YouTube, um novo tipo de entendimento trônicas e evasão de privacida- internet de seis anos atrás, con-
ds de música e ações solidárias centenas de mega-sites agre- internacional, não mais inter- de dos últimos tempos: das go- trapõemdados e sinaisde vitali-
contrabugs,vírus, spamsepra- gando, por links, outros tantos, mediado exclusivamente por zações da Comedy Central e do O QUE ROLA ONLINE É dadeirreversível. TimBerners-
gasque tais. Aí surgiram os blo- todos crentes que farão dinhei- políticos,manda-chuvas e sabi- Daily Show de Jon Stewart ao CANHESTRO DE DOER. Lee, com a autoridade conferi-
gs e a Wikipedia (a enciclopé- ro com publicidade. A News chões, mas por pessoas co- videodiário da Lonelygirl15, da da pela paternidade da www,
dia-da-mãe-joana), expandiu- Corporation (um dos tentácu- muns: de cidadão para cida- falsa entrevista de “Tapa na MAS FORÇA A MÍDIA A anunciou, na edição de fim de
se a banda larga (hoje, 271 mi- los de Rupert Murdoch) deu dão. A internet é mais do que Pantera” ao sarro aquático da REVER CONCEITOS ano da revista The Economist,
lhõesdeassinantes;em2008se- US$ 580 milhões pelo MySpa- uma tecnologia, é um modo Cicarelli. A atriz Maria Alice que o próximo grande passo da
rão 400 milhões), a capilarida- ce, em julho. O Google arrema- completamentediferentede or- Vergueiro nunca fora tão vista internetseráaintegraçãodeda-
de aumentou numa escala ja- tou o YouTube por US$ 1.65 bi- ganizar nossas vidas. Navegar e admirada antes de sua hilária tênticos e satisfatoriamente dos proporcionada pela adoção
mais imaginada, e as conexões lhão, em outubro. Os demais é preciso. defesada maconha. JessicaRo- profissionais prevalecerão na de um vocabulário comum, o
(o contato informatizado) tor- aguardamofertasde outrosGo- Os executivos da indústria se era uma ilustre desconheci- galáxia de Berners-Lee, como que vale dizer a utilização de
naram-sepraticamente ilimita- lias da mídia. de entretenimento, em espe- da neozelandesa até aparecer sóostalentosautênticos esatis- uma semântica que simplifique
das. Resumindo: no sexto ano do cial os da TV, não anteviram as no YouTube como uma solitá- fatoriamenteprofissionais cos- ao máximo a circulação e troca
Cunhado por um editor de século 21, a internet ficou mais potencialidades do YouTube, ria videoblogueira adolescente tumam prevalecer na galáxia de informações. O futuro, se-
São Francisco, Tim O'Reilly, o democrática, inclusiva e wiki até previram seu fim, sob os es- inventada por dois california- de Gutenberg. gundo ele, é a Semantic Web.
termoWeb2.0designava,origi- ("quick", rápida, em havaiano), combrosdeprocessospordirei- nos. Pela última contagem, 24 A revista eletrônica Salon Com protocolos e padrões gra-
nalmente,umainternetmaisdi- e nós não apenas navegamos e tos autorais, mas acreditam milhões de internautas se inte- também pinçou na internet a tuitos engenhosamente sim-
nâmica.Agoratema ver,sobre- trocamos mensagens pela in- que acordaram a tempo depois ressaram pelos dilemas afeti- sua personalidade do ano. ples e versáteis.
tudo, com a forma personaliza- ternet, comotambém trabalha- de sua aquisição pelo Google. A vos da moça. ShekarRamanujaSidarth,oes- Que venha a Web 3.0. ●
da comoo conteúdonelaé gera- mos, inserindo opiniões, insi- NBC Universal, a Viacom, a Arte de produção domésti- colhido, é um rapaz de 20 anos,
do.Em informatês: “user-gene- ghts preciosos, abobrinhas e News Corporation e, possivel- ca, alternativa, amadorística, americano de origem indiana, *Sérgio Augusto é jornalista e
rated content”. Em linguagem cretinices em blogs, revisando mente, a CBS pensaram numa reciclada, canibalesca, paródi- que, meses atrás, tornou-se colaborador do caderno Aliás
AP

31/1: 2/11: 25/12:


Fim do telefone EUA mantêm poder Você é o destaque
O Skype anuncia um serviço no Termina o primeiro encontro do Na 79ª capa em que elege a “Pes-
Brasil que permite ao usuário ter Fórum de Governança da Internet, soa do Ano”, a revista Time esco-
um número de telefone acessível em Atenas, capital grega. Repre- lheu “Você”. A informação produ-

ALIÁS pela internet. O País é o segundo


em número de usuários nesse
tipo de comunicação; só perde
sentantes de governos, empresas
de tecnologia e ONGs passam
uma semana discutindo quem te-
zida pelos usuários da rede em
blogs, vídeo ou enciclopédias li-
vres está revolucionando a mídia.

O ANO para a China. A dificuldade de


diminuir preços da telefonia fixa,
ria o controle da rede. No final,
nada ficou resolvido. Os EUA não

REVISTO por aqui, é um dos motivos que


levam mais brasileiros a migrar
para a voz pela internet. Em
largam o osso.

21/12:
2007, as empresas de telefonia Blade Runner
devem começar a sentir.
No Japão, onde a população
frente, parte de sua audiência ultrapassada. A inovação do diminui a cada ano e as famí-
16/6: jovem começará a tomar o ru- ano são as mensagens de pu- lias se desmontam, uma
TV ameaçada mo da internet. blicidade em que o texto apare- mão artificial que ajuda incapa-
O YouTube chega a 100 mi- ce em imagens, o que dificulta citados a comer e uma foca de
6 inovações lhões de clipes vistos diaria-
mente. É um passo decisivo 31/10: o serviço dos programas de
combate ao spam. Com a tec-
pelúcia que responde a gestos
de carinho são os vencedores
para a grande rede: primeiro E-mail inútil nologia atual, será difícil que do Primeiro Prêmio Governa-

2006>> foram os jornais, depois as gra- Outubro é o mês que mais te- esse pesadelo desapareça nos mental de Robô do Ano. O país
REPRODUÇÃO

vadoras. Neste ano, chegou a ve spam circulando pela inter- próximos anos. Em 2006, os é o que mais investe no aper-
vez de a TV perceber que está net – a marca de 90% entre vírus foram o vilão número 2 feiçoamento da robótica em
ameaçada e que, daqui para a todos os e-mails enviados é da rede. todo o mundo.
ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% PB
100% ESCALACOR 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% COR
80% 85% 90% 95% 98% 100%

Produto: ESTADO - BR_A - 6 - 31/12/06 A6 - BRASIL Cyan Magenta Amarelo Preto

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DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2006


A6 NACIONAL O ESTADO DE S.PAULO

SEGUNDO MANDATO

Velhos companheiros fora da festa


Ao fim de um governo marcado por escândalos, Planalto não convida amigos como Dirceu e Gushiken

QUATRO ANOS NO PODER

Escândalos, discursos e CPIs


Em 1.460 dias de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
sobreviveu a denúncias que enfraqueceram o PT e que se tornaram
uma das marcas de seu primeiro mandato

2003
1.º de janeiro 23 de janeiro 30 de janeiro 17 de fevereiro 11 de abril Maio
Lula toma posse como o 36.º É lançado o programa Fome Zero, Lula propõe ao Congresso Presidente lança reforma do PT dá início a processo
presidente e recomenda aos 34 que começa mais tarde em cinco reformas estruturais: Judiciário dizendo que “é preciso para expulsar Heloísa
ministros “austeridade absoluta” Guaribas, no Piauí Previdenciária, Tributária, saber como funciona a caixa preta Helena, Luciana Genro,
Política Agrária, Trabalhista, desse Poder que se considera João Fontes e Babá
e do Sistema Financeiro. Só intocável”. É criticado por criar uma
as duas primeiras avançaram Secretaria da Reforma do Judiciário

No Fórum Social Mundial e no dia


26 no Fórum Econômico Mundial
de Davos, na Suíça, o presidente
estréia na cena internacional,
propondo fundos contra a fome

31 de dezembro 13 de dezembro 26 de novembro 30 de outubro 20 de outubro 2 de julho


Lula encerra Direção do PT expulsa Senado aprova a Reforma PF desencadeia a Governo federal funde vários Lula recebe no Planalto MST e
primeiro Heloísa Helena e outros da Previdência, que em Operação Anaconda, programas sociais – como Auxílio- outras lideranças agrárias, põe o
ano, no qual três petistas, João agosto já havia passado na prendendo juízes e Gás – no Bolsa-Família, que começa boné do movimento
visitou as Fontes, Luciana Câmara. Servidores outras autoridades beneficiando cerca de 3,6 milhões e afirma que
pirâmides do Genro e Babá. inativos passam por venda de de famílias em todo o País. O invasões
Egito, fez Deputado a contribuir sentenças. Uma programa se tornou o carro-chefe atrapalham a
outras 19 viagens ao exterior, Fernando Gabeira, semana depois é da gestão Lula reforma agrária
fez 236 discursos, vestiu 57 fora do PT, detido um dos
bonés e distribuiu dinheiro afirma: coordenadores do
a 3,6 milhões de pessoas “Meu sonho esquema, João Carlos
no Bolsa-Família acabou. Sonhei da Rocha Mattos

2004
o sonho errado”

23 de janeiro 13 de fevereiro 26 de abril 17 de maio Junho 18 de agosto


Lula promove a Assessor da Durante uma visita a São Bernardo O jornalista Larry Rohter publica Pesquisa CNI/Ibope mostra a pior Supremo Tribunal Federal
primeira reforma Casa Civil, do Campo, o presidente Lula matéria no New York avaliação do governo Lula. O considera constitucional a
ministerial, Waldomiro Diniz afirma: “Privilegiados são aqueles Times dizendo que presidente registrou apenas 29% de contribuição dos inativos,
trocando cinco é flagrado que podem pagar o Imposto de bebedeiras de avaliação positiva, enquanto teve implantada pela Reforma
ministros. Aldo achacando Renda, porque ganham um pouco Lula são 26% de negativa da Previdência
Rebelo assume a um empresário mais.” Reformas pretendidas não “preocupação
Secretaria de de jogos, Carlos avançam e o prestígio do presidente nacional no
Coordenação Cachoeira. Pressionado, começa a cair, registrando aumento Brasil”.
Política, Patrus o ministro José Dirceu o de sua avaliação negativa Presidente
Ananias vai para afasta e declara: “Este é tenta
o Desenvolvimento um governo que não expulsá-lo,
Social rouba e não deixa roubar” mas
desiste 2005
Agosto-Julho 16 de junho 12 de junho 6 de junho Maio 15 de outubro
Envolvidos em O ministro-chefe da Casa Civil, Jefferson repete as denúncias no Roberto Um funcionário dos Correios, Eleições em 5.600 municípios do
várias denúncias e José Dirceu, acusado de Conselho de Ética da Câmara e Jefferson Maurício Marinho, é flagrado País dão 16,3 milhões de votos ao
em operações bancárias coordenar o mensalão, pede adverte Dirceu: “Sai daí rapidinho, (PTB-RJ) recebendo propina de R$ 3.000. É PT. Em São Paulo, entretanto, o
irregulares, afastam-se demissão e volta à Câmara Zé, sai!” Vão caindo presidentes e denuncia afastado e, depois dele, caem o tucano José Serra derrota Marta
o presidente do diretores na Eletronorte, Correios, o esquema diretor de Administração da estatal Suplicy, do PT, que tentava a
PT, José Genoino, IRB, Eletronuclear e Furnas. Perdem do mensalão e um assessor. Câmara decide reeleição à Prefeitura da maior
o tesoureiro seus postos cerca de 60 altos e do caixa instalar a CPI dos Correios cidade do Brasil
Delúbio Soares, o funcionários do governo e 2 para campanhas eleitorais,
secretário-geral Silvio de estatais, envolvidos nas dando início à pior crise do
Pereira e o secretário de operações coordenadas governo Lula
Comunicação, pelo empresário
Marcelo Sereno Marcos Valério
2006
21 de agosto 15 de setembro 30 de novembro 14 de março 23 de março 27 de março
Renuncia ao cargo Roberto Jefferson é cassado Câmara cassa O caseiro Francenildo O
o presidente da por confessar ter recebido o mandato do dos Santos Costa, o deputado
Câmara, Severino dinheiro no esquema do deputado Nildo, revela ao João
Cavalcanti (PP- mensalão para o PTB. O José Dirceu Estado – e dois dias Magno
PE), acusado de deputado e presidente do PP, e suspende depois na CPI dos (PT-MG) é
cobrar propina para Pedro Corrêa, também perde o seus direitos Bingos – que o absolvido
cessão do uso de um restaurante mandato por causa do políticos ministro freqüentava pela
da Casa mensalão por oito mansão alugada por Câmara Palocci pede demissão,
anos seus auxiliares da chamada das depois que o presidente da
república de Ribeirão, em Brasília, acusações do mensalão e, para Caixa, Jorge Mattoso, o
onde ocorriam negócios e festas. comemorar, sua colega Angela envolveu na quebra de
“Eu confirmo até morrer", disse o Guadagnin (PT-SP) protagonizou sigilo bancário de Nildo.
caseiro sobre a história em plenário a “dança da pizza” Guido Mantega assume

29 de outubro 15 de setembro 4 de maio 12 de abril 10 de abril


Lula entrou na campanha à reeleição Faltando 15 dias para o 1.º turno das A Polícia Federal deflagra a Operação O procurador-geral da República, A CPI dos Correios encerra os
como favorito. Depois do estouro do eleições, dois petistas são presos Sanguessuga e desmonta quadrilha Antonio Fernando de Souza, trabalhos com extenso relatório
dossiê Vedoin, porém, a situação em um hotel em São Paulo com que fraudava licitações para a encaminha ao STF relatório sobre o que reconhece a existência do
complicou e Geraldo Alckmin R$ 1,75 milhão. O dinheiro serviria compra de ambulâncias. Políticos, caso do mensalão, denunciando 40 mensalão e propõe que deputados
(PSDB) chegou ao 2.º turno. Mesmo para comprar o dossiê Vedoin, empresários e servidores foram pessoas – entre elas petistas e funcionários petistas sejam
com as denúncias, Lula vence e se destinado a prejudicar candidatos acusados. A CPI dos Sanguessugas próximos ao presidente Lula. José investigados. Todas as suas
reelege presidente da República tucanos. A trama atinge as investigou 72 parlamentares, mas Dirceu é apontado como o “chefe sugestões foram ignoradas pela
candidaturas petistas não deu em nada da organização criminosa” Câmara

INFOGRÁFICO/AE

Expedito Filho base do governo e, desde junho submeter-se a uma cirurgia de se, estará em Passa Quatro turno –, a imagem ética de seu nildo dos Santos Costa, o Nildo,
BRASÍLA
de 2005, desempregou cerca revascularização do miocár- (MG), sua cidade natal, e de- partido desmoronou. “Não é que sustentou suas afirmações
de60diretores e altos funcioná- dio, por meio da colocação de pois viaja para Portugal. Já que o sonho acabou. Eu é que sobre oministro AntonioPaloc-
José Dirceu, ex-ministro da Ca- rios do governo e das estatais. pontes de safena, o ex-marque- Gushiken diz que vai acompa- sonhei o sonho errado”, resu- ci e sua ligação com auxiliares
sa Civil, Luiz Gushiken, ex-se- O critério não valeu, porém, teiro petista emociona-se com nhar a posse de Lula de seu sí- miu o deputado Fernando Ga- darepúblicadeRibeirão.Adan-
cretáriode Comunicação de go- para outros que, mesmo envol- facilidade. Ele chegou até a mu- tio em Indaiatuba, no interior beira (PV-RJ), ao deixar o PT, ça da pizza da deputada petista
verno, e o publicitário Duda vidosemescândalos, foramelei- dar alguns hábitos: trocou as paulista. quando o partido expulsou a se- Angela Guadagnin (não reelei-
Mendonça não foram convida- tos em outubro. É o caso de An- rinhas de galo de briga pelas nadora Heloísa Helena, hoje no ta) resumiu o clima de absolvi-
dos para a posse do presidente tonio Palocci, ex-ministro da vaquejadas e, sem poder movi- PIZZA PSOL, e outros três parlamen- ção com que a Câmara reagiu
Luiz Inácio Lula da Silva, ama- Fazenda que foi indiciado por mentar livremente suas contas A situação dos três – outrora tares, no fim de 2003. às acusações contra os deputa-
nhã. O convite, cogitado pelo vários crimes. Ele foi convida- bancárias, costuma viajar de ji- poderosas figuras do Planalto – Do caso Waldomiro, no iní- dos. E Lula, ao final, reelegeu-
Palácio do Planalto, acabou ve- do, mas ainda não disse se vai. pe pelo interior do Pará e da expõe uma das marcas do pri- cio de 2004, ao mensalão, que se folgadamente, enquanto a
tado por assessores do presi- JoãoPaulo Cunha, ex-presiden- Bahia. meiromandatodeLula: umase- se arrastou no último ano e oposição perguntava “de onde
dente. Concluiu-se que a pre- tedaCâmaraenvolvidono men- À sombra do poder, o ex-mi- qüência de denúncias que co- meio, mais investigações da Po- vem o dinheiro” com que os pe-
sença dos três causaria cons- salão, e José Genoino, que per- nistro José Dirceu não tira o pé meçou em fevereiro de 2004, líciaFederal e do MinistérioPú- tistas pretendiam comprar um
trangimentos. deu a presidência do PT por da vida política: tem feito críti- com o caso Waldomiro Diniz, e blico, principalmente com as dossiê contra os candidatos tu-
Dirceu, Gushiken e Duda es- causadoescândalo, também es- cas veladas à ministra Dilma fechou a campanha presiden- CPIs dos Bingos, dos Sangues- canos. ●
tão entre os 40 denunciados pe- tãonalista. “Deputado eleito es- Rousseff, sua substituta, e de- cial, em outubro passado, com sugas e o dossiê Vedoin, cente- COLABOROU GABRIEL MANZANO FILHO
loMinistério Público no caso do tá automaticamente convida- fendidosempremais espaçopa- a montanha de dinheiro do dos- nas de figuras desconhecidas
mensalão e não convém que do. Os que não têm mandato e ra o PT no poder. É dele a con- siêVedoin.Na contramãode se- invadiram o cenário político.
apareçam na foto com o presi- têm problemas, não”, informou cepção dacandidatura do depu- guidas vitórias pessoais do pre- Um deles, o empresário mi- DORA KRAMER
dente no dia da festa. O mensa- um assessor. tado Arlindo Chinaglia (PT- sidente– na economia,na políti- neiro Marcos Valério, interme-
lão,um dosescândalosque mar- Barrado nobaile, Duda Men- SP) para a presidência da Câ- ca exterior, nos programas so- diário entre partidos, estatais e A colunista volta a escrever
caram os quatro anos da gestão donça vai estar em sua fazenda mara,em oposição a Aldo Rebe- ciais e, por fim, nos cerca de 58 empresas no esquema do men- na próxima terça-feira, dia 2
petista, abalou o PT, esvaziou a no Pará no dia da posse. Após lo (PC do B-SP). No dia da pos- milhões de votos no segundo salão. Outro, o caseiro France- de janeiro.●

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