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ESTOCE

ESTUDO SINTÉTICO DAS OBRAS


DA CODIFICAÇÃO ESPÍRITA

TEMAS SELECIONADOS

MARCO AURÉLIO LEITE DA SILVA


ESTOCE

(Textos originais a partir de edições da FEB)

DEUS............................................................................................................................................................3
INTELIGÊNCIA SUPREMA UNIVERSAL.........................................................................................3
VERBO...............................................................................................................................................3
O ACASO................................................................................................................................................3
ATRIBUTOS DA DIVINDADE..............................................................................................................4
LIVRO DOS ESPÍRITOS.................................................................................................................4
A GÊNESE.........................................................................................................................................4
MATÉRIA E ESPÍRITO..............................................................................................................................6
MATÉRIA.................................................................................................................................................6
ESPÍRITO................................................................................................................................................6
TRINDADE UNIVERSAL.................................................................................................................7
FLUIDO UNIVERSAL...........................................................................................................................7
ESPAÇO UNIVERSAL..........................................................................................................................8
CRIAÇÃO.....................................................................................................................................................9
ETERNIDADE DO UNIVERSO...........................................................................................................9
REPOUSO ABSOLUTO................................................................................................................10
PROVIDÊNCIA DIVINA......................................................................................................................11
PANTEÍSMO.........................................................................................................................................11
VIDA............................................................................................................................................................12
ORGANISMO HUMANO...............................................................................................................12
VITALIDADE.........................................................................................................................................14
INTELIGÊNCIA....................................................................................................................................15
INSTINTO E INTELIGÊNCIA........................................................................................................16
A CONDIÇÃO HUMANA.........................................................................................................................17
BEM E MAL..........................................................................................................................................17
RELATIVIDADE DO MAL.............................................................................................................18
PAIXÕES..........................................................................................................................................19
LIVRE-ARBÍTRIO................................................................................................................................21
HOMENS E ANIMAIS....................................................................................................................22
OS ESPÍRITOS.........................................................................................................................................25
PERISPÍRITO.......................................................................................................................................26
ENCARNAÇÃO....................................................................................................................................28

Marco Aurélio Leite da Silva --- 2


ESTOCE

DEUS

INTELIGÊNCIA SUPREMA UNIVERSAL

1. Que é Deus?
“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”
(O Livro dos Espíritos)

Deus é conceituado como a inteligência suprema, completando-se com a


noção de causa primária de todas as coisas. Assim, Deus é a causa
inteligente cujo efeito é o todo universal.

VERBO

Deus é a causa inteligente de tudo, na linguagem tradicional é o Verbo,


porquanto o Verbo é a vontade de Deus manifesta.

4. Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?


“Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa.
Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão
responderá.”

5. Que dedução se pode tirar do sentimento instintivo, que todos os


homens trazem em si, da existência de Deus?
“A de que Deus existe; pois, donde lhes viria esse sentimento, se não
tivesse uma base? É ainda uma conseqüência do princípio - não há
efeito sem causa.”
(O Livro dos Espíritos)

O homem jamais pôde ver o átomo, mas definiu modelos de interpretação dos
fenômenos com base no que podia observar. Agindo assim já conseguiu
descobrir muitas leis físicas do Universo, comprovando-as em experimentos
posteriormente. Menos ainda pode o homem vislumbrar acerca de Deus. No
entanto, observando e aprendendo acerca de tudo o que está à sua volta o
homem se conscientiza da existência de uma causa inteligente suprema e
norteadora do todo universal. As coisas acontecem sob padrões
fenomênicos que a mera casualidade não convence ao mais incrédulo, no
reduto do seu íntimo. Mesmo os mais simples habitantes deste planeta desde
as eras remotas guardam em sua consciência a noção viva de que existe
Deus, com foros de verdade que, em sua simplicidade, não puderam definir.

O ACASO

8. Que se deve pensar da opinião dos que atribuem a formação primária


a uma combinação fortuita da matéria, ou, por outra, ao acaso?
“Outro absurdo! Que homem de bom-senso pode considerar o acaso um
ser inteligente? E, demais, que é o acaso? Nada.”
(O Livro dos Espíritos)

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O mero acaso não poderia ser a causa de efeitos tão complexos como, por
exemplo, a formação da vida orgânica deste planeta. Na escala do ano
geológico, o homem é uma forma de vida surgida no último dia, sem embargo
de ser o mais complexo habitante deste orbe. Miríades de outros exemplos
poderiam ser alinhavados.

ATRIBUTOS DA DIVINDADE

Kardec aponta os atributos da Divindade.

LIVRO DOS ESPÍRITOS

Em O Livro dos Espíritos (pág. 55):

 Eterno – Deus é eterno. Se tivesse tido princípio, teria saído do


nada, ou, então, também teria sido criado, por um ser anterior. É
assim que, de degrau em degrau, remontamos ao infinito e à
eternidade.
 Imutável – É imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, as leis
que regem o Universo nenhuma estabilidade teriam.
 Imaterial – É imaterial. Quer isto dizer que a sua natureza difere
de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, ele não seria
imutável, porque estaria sujeito às transformações da matéria.
 Único – É único. Se muitos Deuses houvesse, não haveria
unidade de vistas, nem unidade de poder na ordenação do
Universo.
 Onipotente – É onipotente. Ele o é, porque é único. Se não
dispusesse do soberano poder, algo haveria mais poderoso ou
tão poderoso quanto ele, que então não teria feito todas as
coisas. As que não houvesse feito seriam obra de outro Deus.
 Justo e Bom – É soberanamente justo e bom. A sabedoria
providencial das leis divinas se revela, assim nas mais
pequeninas coisas, como nas maiores, e essa sabedoria não
permite se duvide nem da justiça nem da bondade de Deus.

A GÊNESE

Em A Gênese (pág. 56 e segs):

 Deus é a suprema e soberana inteligência. É limitada a


inteligência do homem, pois que não pode fazer, nem
compreender tudo o que existe. A de Deus abrangendo o infinito,
tem que ser infinita. Se a supuséssemos limitada num ponto
qualquer, poderíamos conceber outro ser mais inteligente, capaz
de compreender e fazer o que o primeiro não faria e assim por
diante, até ao infinito.
 Deus é eterno, isto é, não teve começo e não terá fim. Se tivesse
tido princípio, houvera saído do nada. Ora, não sendo o nada
coisa alguma, coisa nenhuma pode produzir. Ou, então, teria sido
criado por outro ser anterior e, nesse caso, este ser é que seria

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Deus. Se lhe supuséssemos um começo ou fim, poderíamos
conceber uma entidade existente antes dele e capaz de lhe
sobreviver, e assim por diante, ao infinito.
 Deus é imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, nenhuma
estabilidade teriam as leis que regem o Universo.
 Deus é imaterial, isto é, a sua natureza difere de tudo o que
chamamos matéria. De outro modo, não seria imutável, pois
estaria sujeito ás transformações da matéria. Deus carece de
forma apreciável pelos nossos sentidos, sem o que seria matéria.
Dizemos: a mão de Deus, o olho de Deus, a boca de Deus,
porque o homem, nada mais conhecendo além de si mesmo,
toma a si próprio por termo de comparação para tudo o que não
compreende. São ridículas essas imagens em que Deus é
representado pela figura de um ancião de longas barbas e
envolto num manto. Têm o inconveniente de rebaixar o Ente
supremo até às mesquinhas proporções da Humanidade. Daí a
lhe emprestarem as paixões humanas e a fazerem-no um Deus
colérico e cioso não vai mais que um passo.
 Deus é onipotente. Se não possuísse o poder supremo, sempre
se poderia conceber uma entidade mais poderosa e assim por
diante, até chegar-se ao ser cuja potencialidade nenhum outro
ultrapassasse. Esse então é que seria Deus.
 Deus é soberanamente justo e bom. A providencial sabedoria
das leis divinas se revela nas mais pequeninas coisas, como nas
maiores, não permitindo essa sabedoria que se duvide da sua
justiça, nem da sua bondade. O fato do ser infinita uma
qualidade, exclui a possibilidade de uma qualidade contrária,
porque esta a apoucaria ou anularia. Um ser infinitamente bom
não poderia conter a mais insignificante parcela de malignidade,
nem o ser infinitamente mau conter a mais insignificante parcela
de bondade, do mesmo modo que um objeto não pode ser de um
negro absoluto, com a mais ligeira nuança de branco, nem de um
branco absoluto com a mais pequenina mancha preta. Deus,
pois, não poderia ser simultaneamente bom e mau, porque então,
não possuindo qualquer dessas duas qualidades no grau
supremo, não seria Deus; todas as coisas estariam sujeitas ao
seu capricho e para nenhuma haveria estabilidade. Não poderia
ele, por conseguinte, deixar de ser ou infinitamente bom ou
infinitamente mau. Ora, como suas obras dão testemunho da sua
sabedoria, da sua bondade e da sua solicitude, concluir-se-á que,
não podendo ser ao mesmo tempo bom e mau sem deixar de ser
Deus, ele necessariamente tem de ser infinitamente bom. A
soberana bondade implica a soberana justiça, porquanto, se ele
procedesse injustamente ou com parcialidade numa só
circunstância que fosse, ou com relação a uma só de suas
criaturas, já não seria soberanamente justo e, em consequência,
já não seria soberanamente bom.
 Deus é infinitamente perfeito. É impossível conceber-se Deus
sem o infinito das perfeições, sem o que não seria Deus, pois
sempre se poderia conceber um ser que possuísse o que lhe

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faltasse. Para que nenhum ser possa ultrapassá-lo, faz-se mister
que ele seja infinito em tudo. Sendo infinitos, os atributos de Deus
não são suscetíveis nem de aumento, nem de diminuição, visto
que do contrário não seriam infinitos e Deus não seria perfeito. Se
lhe tirassem a qualquer dos atributos a mais mínima parcela, já
não haveria Deus, pois que poderia existir um ser mais perfeito.
 Deus é único. A unicidade de Deus é consequência do fato de
serem infinitas as suas perfeições. Não poderia existir outro
Deus, salvo sob a condição de ser igualmente infinito em todas as
coisas, visto que, se houvesse entre eles a mais ligeira diferença,
um seria inferior ao outro, subordinado ao poder desse outro e,
então, não seria Deus. Se houvesse entre ambos igualdade
absoluta, isso eqüivaleria a existir, de toda eternidade, um mesmo
pensamento, uma mesma vontade, um mesmo poder.
Confundidos assim, quanto à identidade, não haveria, em
realidade, mais que um único Deus. Se cada um tivesse
atribuições especiais, um não faria o que o outro fizesse; mas,
então, não existiria igualdade perfeita entre eles, pois que
nenhum possuiria a autoridade soberana.

MATÉRIA E ESPÍRITO

MATÉRIA

A matéria é apresentada como o instrumento do Espírito, sobre o qual


exerce a sua ação. Mas esse conceito se estende não apenas à matéria do
plano físico como também no estado etéreo, sutil, imperceptível para o homem
comum. É lícito deduzir, então, que o Espírito é imaterial na essência,
utilizando-se de instrumentos materiais desde a matéria física até substâncias
etéreas e sutis não perceptíveis ao homem, mas ainda assim matéria.

22. Define-se geralmente a matéria como sendo - o que tem extensão, o


que é capaz de nos impressionar os sentidos, o que é impenetrável. São
exatas estas definições?
“Do vosso ponto de vista, elas o são, porque não falais senão do que
conheceis. Mas a matéria existe em estados que ignorais. Pode ser, por
exemplo, tão etérea e sutil que nenhuma impressão vos cause aos
sentidos. Contudo, é sempre matéria. Para vós, porém, não o seria.”

a) - Que definição podeis dar da matéria?


“A matéria é o laço que prende o Espírito; é o instrumento de que este
se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação.”
(O Livro dos Espíritos)

ESPÍRITO

Em contraposição, o Espírito é apresentado como o princípio inteligente do


Universo, o que evidencia estar sendo referida a essência do Espírito.

23. Que é o Espírito?


“O princípio inteligente do Universo.”

Marco Aurélio Leite da Silva --- 6


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a) - Qual a natureza íntima do Espírito?


“Não é fácil analisar o Espírito com a vossa linguagem. Para vós, ele
nada é, por não ser palpável. Para nós, entretanto, é alguma coisa. Ficai
sabendo: coisa nenhuma é o nada e o nada não existe.”
(O Livro dos Espíritos)

TRINDADE UNIVERSAL

Existem, assim, três elementos gerais do universo: Deus, Espírito e matéria.


Em O Livro dos Espíritos esses três elementos são designados a trindade
universal. Fica esclarecido, também, que a ação do Espírito sobre a matéria
depende de um elemento também material, porém sutil, etéreo, que lhes
serve de liame: o fluido universal (também designado como fluido elementar
ou fluido primitivo) Esse fluido universal é o agente de que o Espírito
diretamente se utiliza. Importante destacar que o fluido universal é indicado
como necessário para que a matéria física não se desagregue, ou seja, é
um elemento intrínseco à matéria física organizada conquanto seja sutil,
etéreo.

27. Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o Espírito?


“Sim e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus,
espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade
universal. Mas ao elemento material se tem que juntar o fluido universal,
que desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria
propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa
exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja lícito
classificá-lo com o elemento material, ele se distingue deste por
propriedades especiais. Se o fluido universal fosse positivamente
matéria, razão não haveria para que também o Espírito não o fosse.
Está colocado entre o Espírito e a matéria; é fluido, como a matéria, e
suscetível, pelas suas inumeráveis combinações com esta e sob a ação
do Espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que apenas
conheceis uma parte mínima. Esse fluido universal, ou primitivo, ou
elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza, é o princípio sem
o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca
adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.”
(O Livro dos Espíritos)

FLUIDO UNIVERSAL

O fluido universal é o elemento primordial de toda a matéria, não sendo


senão por modificações suas que os vários outros tipos de substâncias se
formam. Kardec comenta que os elementos químicos conhecidos são
modificações de uma substância primitiva.

33. A mesma matéria elementar é suscetível de experimentar todas as


modificações e de adquirir todas as propriedades?
“Sim e é isso o que se deve entender, quando dizemos que tudo está
em tudo!”

Marco Aurélio Leite da Silva --- 7


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O oxigênio, o hidrogênio, o azoto, o carbono e todos os corpos que
consideramos simples são meras modificações de uma substância
primitiva. Na impossibilidade em que ainda nos achamos de remontar, a
não ser pelo pensamento, a esta matéria primária, esses corpos são
para nós verdadeiros elementos e podemos, sem maiores
conseqüências, tê-los como tais, até nova ordem.
(O Livro dos Espíritos)

Esse fluido universal é o elemento em que várias forças na natureza atuam,


como a gravidade, coesão, atração, magnetismo etc.

Há um fluido etéreo que enche o espaço e penetra os corpos. Esse


fluido é o éter ou matéria cósmica primitiva, geradora do mundo e dos
seres. São-lhe inerentes as forças que presidiram às metamorfoses da
matéria, as leis imutáveis e necessárias que regem o mundo. Essas
múltiplas forças, indefinidamente variadas segundo as combinações da
matéria, localizadas segundo as massas, diversificadas em seus modos
de ação, segundo as circunstâncias e os meios, são conhecidas na
Terra sob os nomes de gravidade, coesão, afinidade, atração,
magnetismo, eletricidade ativa. Os movimentos vibratórios do agente
são conhecidos sob os nomes de som, calor, luz, etc. Em outros
mundos, elas se apresentam sob outros aspectos, revelam outros
caracteres desconhecidos na Terra e, na imensa amplidão dos céus,
forças em número indefinito se têm desenvolvido numa escala
inimaginável, cuja grandeza tão incapazes somos de avaliar, como o é o
crustáceo, no fundo do oceano, para apreender a universalidade dos
fenômenos terrestres.
(A Gênese)

ESPAÇO UNIVERSAL

O espaço é, por definição, infinito. Não pode ser abarcado pela razão
humana um ponto além do qual não mais haveria espaço a ser percorrido. De
qualquer forma, é reiterada a idéia de que não há vácuo absoluto. Há uma
substância etérea que a tudo permeia.

35. O Espaço universal é infinito ou limitado?


“Infinito. Supõe-no limitado: que haverá para lá de seus limites? Isto te
confunde a razão, bem o sei; no entanto, a razão te diz que não pode
ser de outro modo. O mesmo se dá com o infinito em todas as coisas.
Não é na pequenina esfera em que vos achais que podereis
compreendê-lo.”

Supondo-se um limite ao Espaço, por mais distante que a imaginação o


coloque, a razão diz que além desse limite alguma coisa há e assim,
gradativamente, até ao infinito, porquanto, embora essa alguma coisa
fosse o vazio absoluto, ainda seria Espaço.

36. O vácuo absoluto existe em alguma parte no Espaço universal?


“Não, não há o vácuo. O que te parece vazio está ocupado por matéria
que te escapa aos sentidos e aos instrumentos.”

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ESTOCE
(O Livro dos Espíritos)

Espaço é uma dessas palavras que exprimem uma idéia primitiva e


axiomática, de si mesma evidente, e a cujo respeito as diversas
definições que se possam dar nada mais fazem do que obscurecê-la.
Todos sabemos o que é o espaço e eu apenas quero firmar que ele é
infinito, a fim de que os nossos estudos ulteriores não encontrem uma
barreira opondo-se às investigações do nosso olhar.
Ora, digo que o espaço é infinito, pela razão de ser impossível
imaginarse-lhe um limite qualquer. e porque, apesar da dificuldade com
que topamos para conceber o infinito, mais fácil nos é avançar
eternamente pelo espaço, em pensamento, do que parar num ponto
qualquer, depois do qual não mais encontrássemos extensão a
percorrer.
(A Gênese)

CRIAÇÃO

A criação do Universo se deu pela manifestação do Verbo Divino. De fato, o


Universo foi criado pela vontade de Deus.

38. Como criou Deus o Universo?


“Para me servir de uma expressão corrente, direi: pela sua Vontade.
Nada caracteriza melhor essa vontade onipotente do que estas belas
palavras da Gênese - “Deus disse: Faça-se a luz e a luz foi feita.”
(O Livro dos Espíritos)

Da mesma forma, os Espíritos ensinam acerca da transitoriedade do que é


criado.

41. Pode um mundo completamente formado desaparecer e disseminar-


se de novo no Espaço a matéria que o compõe?
“Sim, Deus renova os mundos, como renova os seres vivos.”
(O Livro dos Espíritos)

ETERNIDADE DO UNIVERSO

Por outro lado, Kardec menciona a eternidade do Universo.

Se bem compreendemos a relação, ou, antes, a oposição entre a


eternidade e o tempo, se nos familiarizamos com a idéia de que o tempo
não é mais do que uma medida relativa da sucessão das coisas
transitórias, ao passo que a eternidade é essencialmente una, imóvel e
permanente, insuscetível de qualquer medida, do ponto de vista da
duração, compreenderemos que para ela não há começo, nem fim.
Doutro lado, se fazemos idéia exata - embora, necessariamente, muito
fraca - da infinidade do poder divino, compreenderemos como é
possível que o Universo haja existido sempre e sempre exista.
Desde que Deus existiu, suas perfeições eternas falaram. Antes que
houvessem nascido os tempos, a eternidade incomensurável
recebeu a palavra divina e fecundou o espaço, eterno quanto ela.

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(A Gênese) (Grifei)

Portanto, segundo a Doutrina Espírita o Universo é eterno enquanto objeto do


Verbo Divino. Sem embargo, Kardec expressa uma idéia também presente em
outras correntes espiritualistas: o repouso absoluto antes da primeira criação.

Existindo, por sua natureza, desde toda a eternidade, Deus criou desde
toda eternidade e não poderia ser de outro modo, visto que, por mais
longínqua que seja a época a que recuemos, pela imaginação, os
supostos limites da criação, haverá sempre, além desse limite, uma
eternidade – ponderai bem esta idéia -, uma eternidade durante a
qual as divinas hipóstases, as volições infinitas teriam
permanecido sepultadas em muda letargia inativa e infecunda, uma
eternidade de morte aparente para o Pai eterno que dá vida aos
seres; de mutismo indiferente para o Verbo que os governa; de
esterilidade fria e egoísta para o Espírito de amor e vivificação.
(A Gênese) (Grifei)

REPOUSO ABSOLUTO

Essa idéia de repouso absoluto anterior à primeira criação não contradiz a


perenidade do Universo na medida em que o repouso absoluto é do Verbo, ao
qual se põe o espaço no aguardo da vivificação.

Compreendamos melhor a grandeza da ação divina e a sua


perpetuidade sob a mão do Ser absoluto! Deus é o Sol dos seres, é a
Luz do mundo. Ora, a aparição do Sol dá nascimento instantâneo a
ondas de luz que se vão espalhando por todos os lados, na extensão.
Do mesmo modo, o Universo, nascido do Eterno, remonta aos
períodos inimagináveis do infinito de duração, ao Fiat lux! do início.
(A Gênese) (Grifei)

Novamente a idéia do fluido cósmico universal é apontada como o elemento


que se difunde no todo universal.

A matéria cósmica primitiva continha os elementos materiais, fluídicos e


vitais de todos os universos que estadeiam suas magnificências diante
da eternidade. Ela é a mãe fecunda de todas as coisas, a primeira avó
e, sobretudo, a eterna geratriz. Absolutamente não desapareceu essa
substância donde provêm as esferas siderais; não morreu essa
potência, pois que ainda, incessantemente, dá à luz novas criações e
incessantemente recebe, reconstituídos, os princípios dos mundos que
se apagam do livro eterno.
A substância etérea, mais ou menos rarefeita, que se difunde pelos
espaços interplanetários; esse fluido cósmico que enche o mundo, mais
ou menos rarefeito, nas regiões imensas, opulentas de aglomerações de
estrelas; mais ou menos condensado onde o céu astral ainda não brilha;
mais ou menos modificado por diversas combinações, de acordo com as
localidades da extensão, nada mais é do que a substância primitiva
onde residem as forças universais, donde a Natureza há tirado
todas as coisas.

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(A Gênese) (Grifei)

PROVIDÊNCIA DIVINA

Tema intimamente relacionado é a Providência Divina. Kardec preocupou-se


em abordá-la diretamente em A Gênese:

A providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Ele


está em toda parte, tudo vê, a tudo preside, mesmo às coisas mais
mínimas. É nisto que consiste a ação providencial.
(A Gênese – pág. 60)

O mecanismo dessa providência é esboçado sob a ressalva de ser uma


imagem imperfeita. Kardec fala de um fluido suficientemente sutil para tudo
interpenetrar. Tal fluido, como ocorre com o fluido do perispírito, não é a sede
da inteligência mas é o veículo da inteligência que a ele se vincula. Kardec não
tem certeza de que assim ocorra com o pensamento do Criador, mas aponta
nesse modelo a onipresença e onisciência que permitem sua pronta atuação
em tudo o que existe, como no conceito da Providência Divina. Adiante o
trecho:

Seja ou não assim no que concerne ao pensamento de Deus, isto é,


quer o pensamento de Deus atue diretamente, quer por intermédio de
um fluido, para facilitarmos a compreensão à nossa inteligência,
figuremo-lo sob a forma concreta de um fluido inteligente que enche o
universo infinito e penetra todas as partes da criação: a Natureza inteira
mergulhada no fluido divino. Ora, em virtude do princípio de que as
partes de um todo são da mesma natureza e têm as mesmas
propriedades que ele, cada átomo desse fluido, se assim nos podemos
exprimir, possuindo o pensamento, isto é, os atributos essenciais da
Divindade e estando o mesmo fluido em toda parte, tudo está submetido
à sua ação inteligente, à sua previdência, à sua solicitude. Nenhum ser
haverá, por mais ínfimo que o suponhamos, que não esteja saturado
dele. Achamo-nos então, constantemente, em presença da Divindade;
nenhuma das nossas ações lhe podemos subtrair ao olhar; o nosso
pensamento está em contacto ininterrupto com o seu pensamento,
havendo, pois, razão para dizer-se que Deus vê os mais profundos
refolhos do nosso coração. Estamos nele, como ele está em nós,
segundo a palavra do Cristo.
(A Gênese – pág. 62)

Os acontecimentos que envolvem interesses gerais da Humanidade têm


a regulá-los a Providência. Quando uma coisa está nos desígnios de
Deus, ela se cumpre a despeito de tudo, ou por um meio, ou por outro.
(A Gênese – pág. 364)

PANTEÍSMO

O Panteísmo é afastado em O Livro dos Espíritos. As orientações constantes


da obra são enfáticas em apontar a existência de Deus independentemente
de toda a sua criação. Não se confundem, pois, Criador e Criação. Mas é

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também destacado que o homem não pode ainda compreender certos
aspectos de Deus, até mesmo com uma advertência da falta de propósito em
perder-se nas labirínticas cogitações desse tema.

14. Deus é um ser distinto, ou será, como opinam alguns, a resultante


de todas as forças e de todas as inteligências do Universo reunidas?
“Se fosse assim, Deus não existiria, porquanto seria efeito e não causa.
Ele não pode ser ao mesmo tempo uma e outra coisa.
“Deus existe; disso não podeis duvidar e é o essencial. Crede-me, não
vades além. Não vos percais num labirinto donde não lograríeis sair.
Isso não vos tornaria melhores, antes um pouco mais orgulhosos, pois
que acreditaríeis saber, quando na realidade nada saberíeis. Deixai,
consequentemente, de lado todos esses sistemas; tendes bastantes
coisas que vos tocam mais de perto, a começar por vós mesmos.
Estudai as vossas próprias imperfeições, a fim de vos libertardes delas,
o que será mais útil do que pretenderdes penetrar no que é
impenetrável.”
(O Livro dos Espíritos)

VIDA

Tanto quanto a ciência, em O Livro dos Espíritos vemos alusão à existência no


planeta dos elementos fundamentais à formação da matéria viva.

43. Quando começou a Terra a ser povoada?


“No começo tudo era caos; os elementos estavam em confusão. Pouco
a pouco cada coisa tomou o seu lugar. Apareceram então os seres vivos
apropriados ao estado do globo.”

44. Donde vieram para a Terra os seres vivos?


“A Terra lhes continha os germens, que aguardavam momento favorável
para se desenvolverem. Os princípios orgânicos se congregaram, desde
que cessou a atuação da força que os mantinha afastados, e formaram
os germens de todos os seres vivos. Estes germens permaneceram em
estado latente de inércia, como a crisálida e as sementes das plantas,
até o momento propício ao surto de cada espécie. Os seres de cada
uma destas se reuniram, então, e se multiplicaram.”
(O Livro dos Espíritos)

Esses elementos fundamentais são, na essência, preexistentes ao próprio


orbe, originando-se de elementos fluídicos.

45. Onde estavam os elementos orgânicos, antes da formação da Terra?


“Achavam-se, por assim dizer, em estado de fluido no Espaço, no
meio dos Espíritos, ou em outros planetas, à espera da criação da Terra
para começarem existência nova em novo globo.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

ORGANISMO HUMANO

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O organismo humano, da mesma forma, tem sua origem nesses mesmos
elementos fundamentais, não diferindo ontologicamente da vida em geral
formada neste planeta.

47. A espécie humana se encontrava entre os elementos orgânicos


contidos no globo terrestre?
“Sim, e veio a seu tempo. Foi o que deu lugar a que se dissesse que o
homem se formou do limo da terra.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

Essa comunhão acha-se expressa de modo indubitável.

49. Se o gérmen da espécie humana se encontrava entre os elementos


orgânicos do globo, por que não se formam espontaneamente homens,
como na origem dos tempos?
“O princípio das coisas está nos segredos de Deus. Entretanto, pode
dizer-se que os homens, uma vez espalhados pela Terra, absorvem em
si mesmos os elementos necessários à sua própria formação, para os
transmitir segundo as leis da reprodução. O mesmo se deu com as
diferentes espécies de seres vivos.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

Ainda mais relevante, o ensino de Kardec a respeito da formação da vida


orgânica informa que a mesma lei que preside os fenômenos de cristalização
do mineral conduz à formação dos corpos orgânicos, nos limites da matéria
física.

Na formação dos corpos sólidos, um dos mais notáveis fenômenos é o


da cristalização, que consiste na forma regular que assumem certas
substâncias, ao passarem do estado líquido, ou gasoso, ao estado
sólido. Essa forma, que varia de acordo com a natureza da substância, é
geralmente a de sólidos geométricos, tais como o prisma, o rombóide, o
cubo, a pirâmide. Toda gente conhece os cristais de açúcar cândi; os
cristais de rocha, ou sílica cristalizada, são prismas de seis faces que
terminam em pirâmide igualmente hexagonal. O diamante é carbono
puro, ou carvão cristalizado. Os desenhos que no inverno se produzem
sobre as vidraças são devidos à cristalização do vapor dágua durante a
congelação, sob a forma de agulhas prismáticas.
A disposição regular dos cristais corresponde à forma particular das
moléculas de cada corpo. Essas partículas, para nós infinitamente
pequenas, mas que não deixam por isso de ocupar um certo espaço,
solicitadas umas para as outras pela atração molecular, se arrumam e
justapõem segundo o exigem suas formas, de maneira a tomar cada
uma o seu lugar em torno do núcleo ouxprimeiro centro de atração e a
constituir um conjunto simétrico.
A cristalização só se opera em certas circunstâncias favoráveis, fora das
quais ela não pode dar-se. São condições essenciais o grau da
temperatura e o repouso absoluto. Compreende-se que um calor muito
forte, mantendo afastadas as moléculas, não lhes permitiria
condensarem-se e que a agitação, impossibilitando-lhes um arranjo

Marco Aurélio Leite da Silva --- 13


ESTOCE
simétrico, não lhes consentiria formar senão uma massa confusa e
irregular, donde o não haver cristalização propriamente dita.
A lei que preside à formação dos minerais conduz naturalmente à
formação dos corpos orgânicos.
(A Gênese)

Dizendo que as plantas e os animais são formados dos mesmos


princípios constituintes dos minerais, falamos em sentido
exclusivamente
material, pois que aqui apenas do corpo se trata.
(A Gênese)

VITALIDADE

Já agora no que pertine aos aspectos imateriais da Vida, Kardec aponta o


princípio vital. Trata-se de uma modificação do fluido cósmico universal que,
presente na matéria orgânica, é responsável por sua distinção da matéria
inorgânica. Kardec assevera que mesmo o tecido morto distingue-se da
matéria inorgânica por características próprias, em razão do princípio vital
antes ali existente e que a qualificou em sua formação, distinguindo-a.

Sem falar do princípio inteligente, que é questão à parte, há, na matéria


orgânica, um princípio especial, inapreensível e que ainda não pode ser
definido: o princípio vital. Ativo no ser vivente, esse princípio se acha
extinto no ser morto; mas, nem por isso deixa de dar à substância
propriedades que a distinguem das substâncias inorgânicas. A Química,
que decompõe e recompõe a maior parte dos corpos inorgânicos,
também conseguiu decompor os corpos orgânicos, porém jamais
chegou a reconstituir, sequer, uma folha morta, prova evidente de que
há nestes últimos o que quer que seja, inexistente nos outros.
(A Gênese) (Grifei)

É o princípio vital, pois, que caracteriza uma estrutura material como


destinada à vida orgânica.

Combinando-se sem o princípio vital, o oxigênio, o hidrogênio, o azoto e


o carbono unicamente teriam formado um mineral ou corpo inorgânico; o
princípio vital, modificando a constituição molecular desse corpo, dá-lhe
propriedades especiais. Em lugar de uma molécula mineral, tem-se uma
molécula de matéria orgânica.
(A Gênese)

Esse é o ensinamento dos Espíritos.

60. É a mesma a força que une os elementos da matéria nos corpos


orgânicos e nos inorgânicos?
“Sim, a lei de atração é a mesma para todos.”

61. Há diferença entre a matéria dos corpos orgânicos e a dos


inorgânicos?

Marco Aurélio Leite da Silva --- 14


ESTOCE
“A matéria é sempre a mesma, porém nos corpos orgânicos está
animalizada.”

62. Qual a causa da animalização da matéria?


“Sua união com o princípio vital.”

64. Vimos que o Espírito e a matéria são dois elementos constitutivos do


Universo. O princípio vital será um terceiro?
“É, sem dúvida, um dos elementos necessários à constituição do
Universo, mas que também tem sua origem na matéria universal
modificada. É, para vós, um elemento, como o oxigênio e o hidrogênio,
que, entretanto, não são elementos primitivos, pois que tudo isso deriva
de um só princípio.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

O homem, em seu aspecto físico, está totalmente inserido nesse mesmo


contexto de criação da vida orgânica, dele não destoando ou desbordando, não
se aventando de quaisquer privilégios.

Do ponto de vista corpóreo e puramente anatômico, o homem pertence


à classe dos mamíferos, dos quais unicamente difere por alguns matizes
na forma exterior. Quanto ao mais, a mesma composição de todos os
animais, os mesmos órgãos, as mesmas funções e os mesmos modos
de nutrição, de respiração, de secreção, de reprodução. Ele nasce, vive
e morre nas mesmas condições e, quando morre, seu corpo se
decompõe, como tudo o que vive. Não há, em seu sangue, na sua
carne, cm seus ossos, um átomo diferente dos que se encontram
no corpo dos animais. Como estes, ao morrer, restitui à terra o
oxigênio, o hidrogênio, o azoto e o carbono que se haviam combinado
para formá-lo; e esses elementos, por meio de novas combinações, vão
formar outros corpos minerais, vegetais e animais. É tão grande a
analogia que se estudam as suas funções orgânicas em certos animais,
quando as experiências não podem ser feitas nele próprio.
(A Gênese) (Grifei)

INTELIGÊNCIA

71. A inteligência é atributo do princípio vital?


“Não, pois que as plantas vivem e não pensam: só têm vida orgânica. A
inteligência e a matéria são independentes, porquanto um corpo pode
viver sem a inteligência. Mas, a inteligência só por meio dos órgãos
materiais pode manifestar-se. Necessário é que o Espírito se una à
matéria animalizada para intelectualizá-la.”
(O Livro dos Espíritos)

Importante destacar que por “inteligência” Kardec refere-se ao comportamento


dirigido. Além disso, Kardec aborda o importante aspecto da consciência da
própria individualidade.

A inteligência é uma faculdade especial, peculiar a algumas classes de


seres orgânicos e que lhes dá, com o pensamento, a vontade de atuar,

Marco Aurélio Leite da Silva --- 15


ESTOCE
a consciência de que existem e de que constituem uma
individualidade cada um, assim como os meios de estabelecerem
relações com o mundo exterior e de proverem às suas necessidades.
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

Kardec apresenta uma sintética classificação:

Podem distinguir-se assim: 1°, os seres inanimados, constituídos só de


matéria, sem vitalidade nem inteligência: são os corpos brutos; 2°, os
seres animados que não pensam, formados de matéria e dotados de
vitalidade, porém, destituídos de inteligência; 3°, os seres animados
pensantes, formados de matéria, dotados de vitalidade e tendo a mais
um princípio inteligente que lhes outorga a faculdade de pensar.
(O Livro dos Espíritos)

 Seres inanimados
 Seres animados apenas com vitalidade
 Seres animados dotados de inteligência

Compreender a vitalidade em contraposição à inteligência é simples. Em O


Livro dos Espíritos Kardec questionou a distinção entre a inteligência e o
instinto, aspecto bem mais complexo.

72. Qual a fonte da inteligência?


“Já o dissemos; a inteligência universal.”

a) - Poder-se-ia dizer que cada ser tira uma porção de inteligência da


fonte universal e a assimila, como tira e assimila o princípio da vida
material?
“Isto não passa de simples comparação, todavia inexata, porque a
inteligência é uma faculdade própria de cada ser e constitui a sua
individualidade moral. Demais, como sabeis, há coisas que ao homem
não é dado penetrar e esta, por enquanto, é desse número.”

73. O instinto independe da inteligência?


“Precisamente, não, por isso que o instinto é uma espécie de
inteligência. É uma inteligência sem raciocínio. Por ele é que todos
os seres provêem às suas necessidades.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

INSTINTO E INTELIGÊNCIA

A comunhão essencial entre instinto e inteligência é um ensinamento


expresso dos Espíritos. Tanto assim que não há uma linha clara de delimitação
entre instinto e inteligência.

74. Pode estabelecer-se uma linha de separação entre o instinto e a


inteligência, isto é, precisar onde um acaba e começa a outra?
“Não, porque muitas vezes se confundem. Mas, muito bem se podem
distinguir os atos que decorrem do instinto dos que são da inteligência.”

Marco Aurélio Leite da Silva --- 16


ESTOCE
75. É acertado dizer-se que as faculdades instintivas diminuem à
medida que crescem as intelectuais?
“Não; o instinto existe sempre, mas o homem o despreza. O instinto
também pode conduzir ao bem. Ele quase sempre nos guia e
algumas vezes com mais segurança do que a razão. Nunca se
transvia.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

O ser humano comunga da formação do veículo físico orgânico, como visto,


tanto quanto do desenvolvimento de sua consciência, adquirindo sua bagagem
de instintos assim como a noção de sua individualidade, aperfeiçoando-se na
aquisição da inteligência conforme novos horizontes se abrem degrau a degrau
na escala evolutiva.

O princípio espiritual não se desagrega com a decomposição do veículo


físico a que se vincula. Assim é por não ser “apenas” uma modificação do fluido
cósmico universal, como ocorre com o princípio vital.

Terá o princípio espiritual sua fonte de origem no elemento cósmico


universal? Será ele apenas uma transformação, um modo de existência
desse elemento, como a luz, a eletricidade, o calor, etc.?
Se fosse assim, o princípio espiritual sofreria as vicissitudes da matéria;
extinguir-se-ia pela desagregação, como o princípio vital; momentânea
seria, como a do corpo, a existência do ser inteligente que, então, ao
morrer, volveria ao nada, ou, o que daria na mesma, ao todo universal.
Seria, numa palavra, a sanção das doutrinas materialistas.
(A Gênese)

A CONDIÇÃO HUMANA

BEM E MAL

No estudo deste tema, inevitável que abordemos a questão da dualidade Bem


versus Mal. Iniciemos com a conceituação.

629. Que definição se pode dar da moral?


“A moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal.
Funda-se na observância da lei de Deus. O homem procede bem
quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de
Deus.”
(O Livro dos Espíritos)

Como regra básica, portanto, procede bem quem procura o bem comum. A
noção de Bem e Mal está no homem como atributo de sua inteligência para
discernir.

630. Como se pode distinguir o bem do mal?


“O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é
contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus.
Fazer o mal é infringi-la.”

Marco Aurélio Leite da Silva --- 17


ESTOCE
631. Tem meios o homem de distinguir por si mesmo o que é bem do
que é mal?
“Sim, quando crê em Deus e o quer saber. Deus lhe deu inteligência
para distinguir um do outro.”

632. Estando sujeito ao erro, não pode o homem enganar-se na


apreciação do bem e do mal e crer que pratica o bem quando em
realidade pratica o mal?
“Jesus disse: vede o que queríeis que vos fizessem ou não vos
fizessem. Tudo se resume nisso. Não vos enganareis.”
(O Livro dos Espíritos)

Talvez uma das normas de conduta mais importantes: fazer ao próximo o que
desejamos que nos façam. A distinção entre várias situações limítrofes e
confusas tem aí o seu fundamento.

Uma abordagem muito importante foi feita por Kardec quanto à existência do
Mal na natureza das coisas. A resposta dada pelos Espíritos é muito
significativa, apontando expressamente a necessidade de experiência do ser
tanto no Bem como no Mal.

634. Por que está o mal na natureza das coisas? Falo do mal moral.
Não podia Deus ter criado a Humanidade em melhores condições?
“Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes (115).
Deus deixa que o homem escolha o caminho. Tanto pior para ele, se
toma o caminho mau: mais longa será sua peregrinação. Se não
existissem montanhas, não compreenderia o homem que se pode subir
e descer; se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos
duros. É preciso que o Espírito ganhe experiência; é preciso,
portanto, que conheça o bem e o mau. Eis por que se une ao
corpo.” (119) (Grifei)
(O Livro dos Espíritos)

Disso advém a necessidade de um maior questionamento acerca da origem do


Mal. Kardec volta a abordar o tema em A Gênese (pág. 69):

Sendo Deus o princípio de todas as coisas e sendo todo sabedoria,todo


bondade, todo justiça, tudo o que dele procede há de participar dos seus
atributos, porquanto o que é infinitamente sábio, justo e bom nada pode
produzir que seja ininteligente, mau e injusto. O mal que observamos
não pode ter nele a sua origem.

RELATIVIDADE DO MAL

Após apontar a existência de dois tipos de Mal, (os evitáveis e os inevitáveis),


Kardec propõe que o conceito em si de Mal é relativo. Uma circunstância
muitas vezes pode aparentar ser um mal, quando, na verdade, se conhecidos
fossem a causa, o objetivo e o resultado definitivo, seria tida como um bem.

O homem, cujas faculdades são restritas, não pode penetrar, nem


abarcar o conjunto dos desígnios do Criador; aprecia as coisas do ponto

Marco Aurélio Leite da Silva --- 18


ESTOCE
de vista da sua personalidade, dos interesses factícios e convencionais
que criou para si mesmo e que não se compreendem na ordem da
Natureza. Por isso é que, muitas vezes, se lhe afigura mau e injusto
aquilo que consideraria justo e admirável, se lhe conhecesse a causa, o
objetivo, o resultado definitivo. Pesquisando a razão de ser e a utilidade
de cada coisa, verificará que tudo traz o sinete da sabedoria infinita e se
dobrará a essa sabedoria, mesmo com relação ao que lhe não seja
compreensível.
(A Gênese – pág. 70)

É bem nesse contexto que podemos entender, pois, que a experiência no Mal
leva ao Bem: dir-se-ia que circunstâncias tidas como males leva a um
bem. Mesmo no que se refere à livres opções do ser, que freqüentemente o
relega à dor por sua própria escolha, temos fatos e circunstâncias de
aprendizado pela experiência. Muitos são os aspectos da vida em que o
aprendizado não se opera senão à conta do treinamento inafastável e o
respectivo esforço e dedicação. Vejamos adiante:

Um momento chega em que o excesso do mal moral se torna intolerável


e impõe ao homem a necessidade de mudar de vida. Instruído pela
experiência, ele se sente compelido a procurar no bem o remédio,
sempre por efeito do seu livre-arbítrio. Quando toma melhor caminho, é
por sua vontade e porque reconheceu os inconvenientes do outro. A
necessidade, pois, o constrange a melhorar-se moralmente, para ser
mais feliz, do mesmo modo que o constrangeu a melhorar as condições
materiais da sua existência. (Grifei)
(A Gênese – pág. 72)

Tanto é verdade, que Kardec pronuncia uma das pedras basilares da


conceituação espírita: o mal é a ausência do bem. Esse aspecto é de grande
relevância por evidenciar que o Mal não é um atributo distinto do Bem.

Pode dizer-se que o mal é a ausência do bem, como o frio é a ausência


do calor. Assim como o frio não é um fluido especial, também o mal não
é atributo distinto; um é o negativo do outro. Onde não existe o bem,
forçosamente existe o mal. Não praticar o mal, já é um princípio do bem.
Deus somente quer o bem; só do homem procede o mal. Se na criação
houvesse um ser preposto ao mal, ninguém o poderia evitar; mas, tendo
o homem a causa do mal em SI MESMO, tendo simultaneamente o
livre-arbítrio e por guia as leis divinas, evitá-lo-á sempre que o queira.
(A Gênese – pág. 72)

PAIXÕES

Ainda mais compreensível se torna a referida necessidade de experiência do


ser tanto no Bem como no Mal quando verificamos o que Kardec fala das
paixões e dos vícios:

Estudando-se todas as paixões e, mesmo, todos os vícios, vê-se que


as raízes de umas e outros se acham no instinto de conservação,
instinto que se encontra em toda a pujança nos animais e nos seres

Marco Aurélio Leite da Silva --- 19


ESTOCE
primitivos mais próximos da animalidade, nos quais ele exclusivamente
domina, sem o contrapeso do senso moral, por não ter ainda o ser
nascido para a vida intelectual. O instinto se enfraquece, à medida que a
inteligência se desenvolve, porque esta domina a matéria. O Espírito
tem por destino a vida espiritual, porém, nas primeiras fases da sua
existência corpórea, somente a exigências materiais lhe cumpre
satisfazer e, para tal, o exercício das paixões constitui uma
necessidade para o efeito da conservação da espécie e dos
indivíduos, materialmente falando. Mas, uma vez saído desse
período, outras necessidades se lhe apresentam, a princípio semimorais
e semimateriais, depois exclusivamente morais. É então que o Espírito
exerce domínio sobre a matéria, sacode-lhe o jugo, avança pela senda
providencial que se lhe acha traçada e se aproxima do seu destino final.
Se, ao contrário, ele se deixa dominar pela matéria, atrasa-se e se
identifica com o bruto. Nessa situação, o que era outrora um bem,
porque era uma necessidade da sua natureza, transforma-se num
mal, não só porque já não constitui uma necessidade, como porque
se torna prejudicial à espiritualização do ser. Muita coisa, que é
qualidade na criança, torna-se defeito no adulto. O mal é, pois, relativo
e a responsabilidade é proporcionada ao grau de adiantamento.
(A Gênese – pág. 73). (Grifei)

Eis que o mal (ou, melhor dizendo, muito do que é tido como mal) é uma
fase do desenvolvimento do ser. O que outrora era um bem, torna-se um mal,
conforme o ser deixa a animalidade e adentra à noção de si conforme o seu
grau de adiantamento.

Todas as paixões têm, portanto, uma utilidade providencial, visto que, a


não ser assim, Deus teria feito coisas inúteis e, até, nocivas. No abuso é
que reside o mal e o homem abusa em virtude do seu livre-arbítrio. Mais
tarde, esclarecido pelo seu próprio interesse, livremente escolhe entre o
bem e o mal.
(A Gênese – pág. 74)

A situação do ser enquanto ainda nos limites mais primitivos é destacada por
Kardec em O Céu e o Inferno:

Como prova da sua inocência, o quadro dos homens primitivos


extasiados ante a Natureza e admirando nela a bondade do Criador é,
sem dúvida, muito poético, mas pouco real. De fato, quanto mais se
aproxima do primitivo estado, mais o homem se escraviza ao instinto,
como se verifica ainda hoje nos povos bárbaros e selvagens
contemporâneos; o que mais o preocupa, ou, antes, o que
exclusivamente o preocupa é a satisfação das necessidades materiais,
mesmo porque não tem outras.
O único sentido que pode torná-lo acessível aos gozos puramente
morais não se desenvolve senão gradual e morosamente; a alma tem
também a sua infância, a sua adolescência e virilidade como o
corpo humano; mas para compreender o abstrato, quantas
evoluções não tem ela de experimentar na Humanidade! Por
quantas existências não deve ela passar!

Marco Aurélio Leite da Silva --- 20


ESTOCE
(O Céu e o Inferno – pág. 115) (Grifei)

Mais adiante:

Se nos remontarmos a estes últimos (homens primitivos), então,


surpreendê-los-emos mais exclusivamente preocupados com a
satisfação de necessidades materiais, resumindo o bem e o mal neste
mundo somente no que concerne à satisfação ou prejuízo dessas
necessidades.
(O Céu e o Inferno – pág. 116)

Assim Kardec identifica a causa de prevalecer no homem primitivo, conforme


ganha mais responsabilidade por seu adiantamento, uma tendência ao mal.

Mas o homem é comumente mais sensível ao mal que ao bem; este lhe
parece natural, ao passo que aquele mais o afeta. Nem por outra razão
se explica, nos cultos primitivos, as cerimônias sempre mais numerosas
em honra ao poder maléfico: o temor suplanta o reconhecimento.
(O Céu e o Inferno – fl. 117)

LIVRE-ARBÍTRIO

É muito difícil entender exatamente em que ponto o ser adquire discernimento


suficiente para identificar o caráter ilícito de uma conduta, deixando de se
arrastar pelos instintos para decidir sobre o que deve ou não ser feito. Kardec
denomina paixões os impulsos que advêm do instinto de conservação, paixões
cujo exercício constituem uma necessidade para o atendimento das
necessidades materiais das primeiras fases da existência corpórea do
Espírito. Em um dado momento, o ser entende que deve atender a essas
necessidades ao mesmo tempo em que se vai estabelecendo uma escala de
valores em sua incipiente capacidade de avaliação. O ser passa a considerar,
desde os rudimentos mais simples, a idéia de certo e errado. Para cada
aumento na capacidade de valorar entre certo e errado, aumenta-lhe
simetricamente a responsabilidade pela decisão que tomar.

Essa responsabilidade progressiva a partir de certo grau traz a plena


imputabilidade do ser humano como sujeito de acertos e desacertos,
tornando-o o legítimo destinatário das conseqüências de seus atos.

O ensinamento ministrado no Capítulo VI de A Gênese foi assinado por Galileu


(esse capítulo é textualmente extraído de uma série de comunicações ditadas à
Sociedade Espírita de Paris, em 1862 e 1863, sob o título - Estudos
uranográficos e assinadas GALILEU – nota à página 103). Ele revelou a
temeridade de ofertar uma exposição clara e pretensamente completa acerca
da conquista do livre-arbítrio pelos Espíritos. Ainda assim é um ensinamento
profundo e que não podemos ignorar:

Até aqui, porém, temos guardado silêncio sobre o mundo espiritual, que
também faz parte da criação e cumpre seus destinos conforme as
augustas prescrições do Senhor.

Marco Aurélio Leite da Silva --- 21


ESTOCE
Acerca do modo da criação dos Espíritos, entretanto, não posso
ministrar mais que um ensino muito restrito, em virtude da minha
própria ignorância e também porque tenho ainda de calar-me no
que concerne a certas questões, se bem já me haja sido dado
aprofundá-las.
Aos que desejem religiosamente conhecer e se mostrem humildes
perante Deus, direi, rogando-lhes, todavia, que nenhum sistema
prematuro baseiem nas minhas palavras, o seguinte: O Espírito não
chega a receber a iluminação divina, que lhe dá, simultaneamente
com o livre-arbítrio e a consciência, a noção de seus altos destinos,
sem haver passado pela série divinamente fatal dos seres
inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da sua
individualização. Unicamente a datar do dia em que o Senhor lhe
imprime na fronte o seu tipo augusto, o Espírito toma lugar no seio
das humanidades.
De novo peço: não construais sobre as minhas palavras os vossos
raciocínios, tão tristemente célebres na história da Metafísica. Eu
preferiria mil vezes calar-me sobre tão elevadas questões, tão acima
das nossas meditações ordinárias, a vos expor a desnaturar o sentido
de meu ensino e a vos lançar, por culpa minha, nos inextricáveis
dédalos do deísmo ou do fatalismo.
(A Gênese – pág. 117)

HOMENS E ANIMAIS

Entretanto, é do Ensino dos Espíritos a seguinte abordagem da questão do


homem enquanto ser inteligente, em comparação aos animais.

592. Se, pelo que toca à inteligência, comparamos o homem e os


animais, parece difícil estabelecer-se uma linha de demarcação entre
aquele e estes, porquanto alguns animais mostram, sob esse aspecto,
notória superioridade sobre certos homens. Pode essa linha de
demarcação ser estabelecida de modo preciso?
“A este respeito é completo o desacordo entre os vossos filósofos.
Querem uns que o homem seja um animal e outros que o animal seja
um homem. Estão todos em erro. O homem é um ser à parte, que
desce muito baixo algumas vezes e que pode também elevar-se
muito alto. Pelo físico, é como os animais e menos bem dotado do que
muitos destes. A Natureza lhes deu tudo o que o homem é obrigado a
inventar com a sua inteligência, para satisfação de suas necessidades e
para sua conservação. Seu corpo se destrói, como o dos animais, é
certo, mas ao seu Espírito está assinado um destino que só ele
pode compreender, porque só ele é inteiramente livre. Pobres
homens, que vos rebaixais mais do que os brutos! Não sabeis distinguir-
vos deles? Reconhecei o homem pela faculdade de pensar em
Deus.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

Ainda assim, o Ensinamento dos Espíritos, harmonicamente com o que foi dito
antes (“o instinto é uma espécie de inteligência”), não distingue os animais
como seres apenas instintivos.

Marco Aurélio Leite da Silva --- 22


ESTOCE

593. Poder-se-á dizer que os animais só obram por instinto?


“Ainda aí há um sistema. É verdade que na maioria dos animais domina
o instinto. Mas, não vês que muitos obram denotando acentuada
vontade? É que têm inteligência, porém limitada.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

Compreendendo que o livre-arbítrio é um atributo da inteligência, os Espíritos


assim se expressam quanto aos animais:

595. Gozam de livre-arbítrio os animais, para a prática dos seus atos?


“Os animais não são simples máquinas, como supondes. Contudo, a
liberdade de ação, de que desfrutam, é limitada pelas suas
necessidades e não se pode comparar à do homem. Sendo muitíssimo
inferiores a este, não têm os mesmos deveres que ele. A liberdade,
possuem-na restrita aos atos da vida material.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

Os animais, pois, possuem liberdade de agir, conquanto nos limites de suas


necessidades materiais. Mais do que isso, os animais são dotados de um
corpo espiritual que é a sede dessa limitada inteligência, corpo espiritual que
remanesce ao corpo físico e que conserva a sua individualidade após a
morte deste.

597. Pois que os animais possuem uma inteligência que lhes faculta
certa liberdade de ação, haverá neles algum princípio independente da
matéria?
“Há e que sobrevive ao corpo.”

a) - Será esse princípio uma alma semelhante à do homem?


“É também uma alma, se quiserdes, dependendo isto do sentido que se
der a esta palavra. É, porém, inferior à do homem. Há entre a alma dos
animais e a do homem distância equivalente à que medeia entre a
alma do homem e Deus.”

598. Após a morte, conserva a alma dos animais a sua individualidade e


a consciência de si mesma?
“Conserva sua individualidade; quanto à consciência do seu eu,
não. A vida inteligente lhe permanece em estado latente.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

O princípio inteligente que progride nos corpos animais advém do elemento


inteligente universal.

606. Donde tiram os animais o princípio inteligente que constitui a alma


de natureza especial de que são dotados?
“Do elemento inteligente universal.”

a) - Então, emanam de um único princípio a inteligência do homem


e a dos animais?

Marco Aurélio Leite da Silva --- 23


ESTOCE
“Sem dúvida alguma, porém, no homem, passou por uma
elaboração que a coloca acima da que existe no animal.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

De se notar que os Espíritos ensinam que entre a alma do homem e a alma do


animal há uma imensa distância evolutiva:

[...]
Há entre a alma dos animais e a do homem distância equivalente à
que medeia entre a alma do homem e Deus

... no homem, passou por uma elaboração que a coloca acima da


que existe no animal.
[...]

Evidencia-se que o princípio inteligente evolui até atingir a condição de


individualidade e, depois, a consciência de si mesmo:

607. Dissestes (190) que o estado da alma do homem, na sua origem,


corresponde ao estado da infância na vida corporal, que sua inteligência
apenas desabrocha e se ensaia para a vida. Onde passa o Espírito essa
primeira fase do seu desenvolvimento?
“Numa série de existências que precedem o período a que chamais
Humanidade.”

a) - Parece que, assim, se pode considerar a alma como tendo sido o


princípio inteligente dos seres inferiores da criação, não?
“Já não dissemos que todo em a Natureza se encadeia e tende para a
unidade? Nesses seres, cuja totalidade estais longe de conhecer, é
que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a
pouco e se ensaia para a vida, conforme acabamos de dizer. É, de
certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito
do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna
Espírito. Entra então no período da humanização, começando a ter
consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e
a responsabilidade dos seus atos. Assim, à fase da infância se segue
a da adolescência, vindo depois a da juventude e da madureza. Nessa
origem, coisa alguma há de humilhante para o homem. Sentir-se-ão
humilhados os grandes gênios por terem sido fetos informes nas
entranhas que os geraram? Se alguma coisa há que lhe seja
humilhante, é a sua inferioridade perante Deus e sua impotência para
lhe sondar a profundeza dos desígnios e para apreciar a sabedoria das
leis que regem a harmonia do Universo. Reconhecei a grandeza de
Deus nessa admirável harmonia, mediante a qual tudo é solidário na
Natureza. Acreditar que Deus haja feito, seja o que for, sem um fim, e
criado seres inteligentes sem futuro, fora blasfemar da Sua bondade,
que se estende por sobre todas as suas criaturas.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

Nesse texto de O Livro dos Espíritos, em consonância com o ensino do Espírito


referenciado como Galileu (A Gênese), não parece haver outra possibilidade

Marco Aurélio Leite da Silva --- 24


ESTOCE
senão a de ver a origem comum do homem e todos os demais seres criados.
Veja-se que a pergunta pressupõe a alma como tendo sido o mesmo
princípio inteligente dos seres inferiores da criação, advindo, da resposta
afirmativa, que há identidade entre eles. Não há uma criação especial para o
homem. Sem embargo, o homem representa já uma fase, essa sim (fase),
especial em relação aos animais e seres mais simples.

De qualquer forma, é assim expresso pelos Espíritos:

610. Ter-se-ão enganado os Espíritos que disseram constituir o homem


um ser à parte na ordem da criação?
“Não, mas a questão não fora desenvolvida. Demais, há coisas que só a
seu tempo podem ser esclarecidas. O homem é, com efeito, um ser à
parte, visto possuir faculdades que o distinguem de todos os outros e ter
outro destino. A espécie humana é a que Deus escolheu para a
encarnação do seres que podem conhecê-Lo.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

Talvez a melhor interpretação para essa resposta, no contexto de tudo o mais


que foi exposto pelos Espíritos, seja evidenciar que o homem é especial aos
olhos de Deus por ser homem. Ou seja, um ser que atingiu a fase de
humanidade. Sem dúvida há muitos Espíritos mais em fase de humanidade
pelo Universo. Destarte, conquanto a frase comporte eventualmente a
interpretação restritiva de que só o homem tem Espírito capacitado a conhecer
Deus, no contexto de todas as demais respostas não se extrai que teria sido
essa a idéia que se quis passar.

OS ESPÍRITOS

O ensinamento dos Espíritos, coerentemente com os tópicos anteriores,


conceitua Espírito como sendo seres inteligentes da criação. Isso porque o
termo em si passa a referir não mais o princípio inteligente mas sim o ser que
atingiu individualidade e consciência.

76. Que definição se pode dar dos Espíritos?


“Pode dizer-se que os Espíritos são os seres inteligentes da criação.
Povoam o Universo, fora do mundo material.”

NOTA - A palavra Espírito é empregada aqui para designar as


individualidades dos seres extracorpóreos e não mais o elemento
inteligente do Universo.
(O Livro dos Espíritos)

A individualidade é expressamente colocada como atributo do Espírito.

79. Pois que há dois elementos gerais no Universo: o elemento


inteligente e o elemento material, poder-se-á dizer que os Espíritos são
formados do elemento inteligente, como os corpos inertes o são do
elemento material?
“Evidentemente. Os Espíritos são a individualização do princípio
inteligente, como os corpos são a individualização do princípio material.

Marco Aurélio Leite da Silva --- 25


ESTOCE
A época e o modo por que essa formação se operou é que são
desconhecidos.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

No que toca à origem do Espírito, Kardec assevera que são criados simples e
ignorantes.

O que Deus permite que seus mensageiros lhe digam e o que, aliás, o
próprio homem pode deduzir do princípio da soberana justiça, atributo
essencial da Divindade, é que todos procedem do mesmo ponto de
partida; que todos são criados simples e ignorantes, com igual aptidão
para progredir pelas suas atividades individuais; que todos atingirão o
grau máximo da perfeição com seus esforços pessoais; que todos,
sendo filhos do mesmo Pai, são objeto de igual solicitude; que nenhum
há mais favorecido ou melhor dotado do que os outros, nem dispensado
do trabalho imposto aos demais para atingirem a meta.
(A Gênese)

Evidencia-se, por outro lado, que a evolução é lei fundamental para o ser
espiritual.

Progredir é condição normal dos seres espirituais e a perfeição relativa o


fim que lhes cumpre alcançar. Ora, havendo Deus criado desde toda a
eternidade, e criando incessantemente, também desde toda a
eternidade teia havido seres que atingiram o ponto culminante da
escala.
Antes que existisse a Terra, mundos sem conta haviam sucedido a
mundos e, quando a Terra saiu do caos dos elementos, o espaço estava
povoado de seres espirituais em todos os graus de adiantamento, desde
os que surgiam para a vida até os que, desde toda a eternidade, haviam
tomado lugar entre os puros Espíritos, vulgarmente chamados anjos.
(A Gênese)

PERISPÍRITO

Referindo-se ao Espírito como o ser espiritual, individualizado e consciente de


si, em O Livro dos Espíritos vê-se o ensinamento de que essa essência
espiritual limita-se por um envoltório chamado perispírito. É semimaterial e
formado pelos fluidos oriundos do fluido cósmico universal existentes em
cada planeta.

93. O Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tem, ou, como


pretendem alguns, está sempre envolto numa substância qualquer?
“Envolve-o uma substância, vaporosa para os teus olhos, mas ainda
bastante grosseira para nós; assaz vaporosa, entretanto, para poder
elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira.”
Envolvendo o gérmen de um fruto, há o perisperma; do mesmo modo,
uma substância que, por comparação, se pode chamar perispírito, serve
de envoltório ao Espírito propriamente dito.

94. D e onde tira o Espírito o seu invólucro semimaterial?

Marco Aurélio Leite da Silva --- 26


ESTOCE
“Do fluido universal de cada globo, razão por que não é idêntico em
todos os mundos. Passando de um mundo a outro, o Espírito muda de
envoltório, como mudais de roupa.”
(O Livro dos Espíritos)

O perispírito é, em última análise, uma modificação do fluido cósmico universal.


Kardec apresenta um conceito bem elucidativo: o perispírito é uma
condensação do fluido cósmico universal em torno de um foco de
inteligência. Na verdade, o perispírito é moldado a partir dos fluidos
ambientais de cada planeta, ou seja, das modificações do fluido universal
existentes em cada planeta, como já destacado.

O perispírito, ou corpo fluídico dos Espíritos, é um dos mais importantes


produtos do fluido cósmico; é uma condensação desse fluido em torno
de um foco de inteligência ou alma. Já vimos que também o corpo
carnal
tem seu princípio de origem nesse mesmo fluido condensado e
transformado em matéria tangível. No perispírito, a transformação
molecular se opera diferentemente, porquanto o fluido conserva a sua
imponderabilidade e suas qualidades etéreas. O corpo perispirítico e o
corpo carnal têm pois origem no mesmo elemento primitivo; ambos são
matéria, ainda que em dois estados diferentes.
Do meio onde se encontra é que o Espírito extrai o seu perispírito, isto é,
esse envoltório ele o forma dos fluidos ambientes. Resulta daí que os
elementos constitutivos do perispírito naturalmente variam, conforme os
mundos.
(A Gênese)

A formação do perispírito, sendo feita sobre os fluidos do ambiente em que o


Espírito se situa, obedece também a uma gradação conforme o grau evolutivo
desse Espírito. Em um mesmo planeta há vários padrões de fluidos, uns
mais grosseiros, outros mais etéreos, ficando a constituição perispirítica em
proporção direta ao adiantamento do Espírito, tanto maior a sua
materialidade quanto menor o adiantamento e vice-versa.

A camada de fluidos espirituais que cerca a Terra se pode comparar às


camadas inferiores da atmosfera, mais pesadas, mais compactas,
menos puras, do que as camadas superiores. Não são homogêneos
esses fluidos; são uma mistura de moléculas de diversas qualidades,
entre as quais necessariamente se encontram. as moléculas
elementares que lhes formam a base, porém mais ou menos alteradas.
Os efeitos que esses fluidos produzem estarão na razão da soma das
partes puras que eles encerram.
[...]
Os Espíritos chamados a viver naquele meio tiram dele seus perispíritos;
porém, conforme seja mais ou menos depurado o Espírito, seu
perispírito se formará das partes mais puras ou das mais grosseiras do
fluido peculiar ao mundo onde ele encarna.
(A Gênese)

Marco Aurélio Leite da Silva --- 27


ESTOCE
Adiante, uma nota de Kardec lançada em O Livro dos Médiuns, muito
interesante e elucidativa:

Já foi explicado que a densidade do perispírito, se assim se pode dizer,


varia de acordo com o estado dos mundos. Parece que também
varia, em um mesmo mundo, de indivíduo para indivíduo. Nos
Espíritos moralmente adiantados, é mais sutil e se aproxima da dos
Espíritos elevados; nos Espíritos inferiores, ao contrário, aproxima-
se da matéria e é o que faz que os Espíritos de baixa condição
conservem por muito tempo as ilusões da vida terrestre. Esses
pensam e obram como se ainda fossem vivos; experimentam os
mesmos desejos e quase que se poderia dizer a mesma sensualidade.
Esta grosseria do perispírito, dando-lhe mais afinidade com a matéria,
torna os Espíritos inferiores mais aptos às manifestações físicas.
(O Livro dos Médiuns) (Grifei)

ENCARNAÇÃO

O ensinamento dos Espíritos aponta a encarnação como uma necessidade de


progressão. Para a progressão do Universo em si é necessário que haja a
ação de seres corpóreos – é o que afirmam os Espíritos. Assim, ao mesmo
tempo em que o Espírito progride com as experiências no plano físico,
impulsiona de sua parte a evolução do Universo.

132. Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos?


“Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à
perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas, para
alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da
existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro. fim a
encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte
que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada
mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria
essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista,
as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele
próprio se adianta.”
A ação dos seres corpóreos é necessária à marcha do Universo.
Deus, porém, na Sua sabedoria, quis que nessa mesma ação eles
encontrassem um meio de progredir e de se aproximar Dele. Deste
modo, por uma admirável lei da Providência, tudo se encadeia, tudo é
solidário na Natureza.
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

Marco Aurélio Leite da Silva --- 28


ESTOCE

Marco Aurélio Leite da Silva --- 29

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