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Excerto do capítulo 2
Homens e
Meninos
Com um desgosto comum a todas as feministas que tentaram ser participadoras
do tão aclamado humanismo dos homens, apenas para descobrir através da
amarga experiência que a cultura dos machos não permite honesta participação
feminina, Virginia Woolf escreveu: “Eu detesto o ponto de vista masculino. Estou
entediada de seu heroísmo, virtude e honra. Eu acho que o melhor que esses
homens podem fazer é não falar mais deles mesmos.” Homens são estupradores,
violentadores, espoliadores, assassinos; esses mesmos homens são profetas
religiosos, poetas, heróis, figuras de romance, aventura, performances, figuras
enobrecidas pela tragédia e pelo fracasso. Homens vêm clamando a Terra,
chamando-a por Ela. Homens arruinaram Ela. Homens têm aeronaves, armas,
bombas, gases venenosos, belicosidade tão perversa e mortífera que eles desafiam
qualquer imaginação humana. Homens batalham entre si e Ela; mulheres
batalham para serem admitidas na categoria “humano” na imaginação e na
realidade. Homens batalham para manter a categoria “humano” estreita,
circunscrita por seus próprios valores e atividades; mulheres batalham para
mudar os significados que homens têm dado a palavra, para transformar seus
significados enchendo-a com experiência feminina.
Meninos nascem e são criados por mulheres. Em certo ponto, meninos se tornam
homens, sua visão escurece para excluir mulheres.
O menino será uma testemunha assim que o pai abusar da esposa – uma
vez ou cem vezes, isso apenas precisa acontecer uma vez, e o menino será
enchido de medo e impotente para interceder. Então o pai vai afligir sua
raiva sobre o próprio menino, raiva incontrolável, fúria que parece ter
vindo de lugar nenhum, punição fora de qualquer proporção para
qualquer infração de regras que o menino sabia que existia – uma ou
cem vezes, isso apenas precisa acontecer uma vez, e o menino se
perguntará em agonia porque a mãe não preveniu isso. Desse ponto em
diante, a confiança na mãe decai, e o filho pertencerá ao pai pelo resto
da sua vida comum.
O garoto procura imitar o pai porque é mais seguro ser como o pai do que como a
mãe. Ele aprende a ameaçar e dar pancada porque homens podem e homens
devem. Ele se desassocia da falta de poder que ele experimentou, a qual mulheres
como uma classe estão consignadas. O menino se torna um homem por assumir os
comportamentos dos homens – para o melhor da sua capacidade.
O menino escapa, dentro da masculinidade, dentro do poder. Esta é a escolha dele,
baseada na apreciação social da sua anatomia. Essa rota de fuga é a única
projetada agora.
Mas o garoto lembra, ele sempre se lembra, que uma vez ele foi uma criança,
próximo às mulheres em ausência de poder, em humilhação potencial ou efetiva,
em perigo por causa da agressão masculina. O menino deve construir uma
identidade masculina, um castelo fortificado com um fosso impenetrável, assim ele
está inacessível, deste modo ele está invulnerável à lembrança de suas origens, aos
gritos tristes ou enfurecidos das mulheres que ele deixou para trás. O menino,
qualquer que seja o estilo escolhido, se transforma guerreiro em sua
masculinidade, violento, teimoso, rígido, sem humor. O medo dele dos homens se
transforma em agressão contra mulheres. Ele mantém a distância entre ele próprio
e mulheres intransponível, transforma mulheres na temível Ela, ou como Simone
de Beauvoir expressa isto, “a Outra.” Ele aprende a ser um homem – homem
poeta, homem criminoso, homem religioso profissional, homem estuprador,
qualquer tipo de homem – e a primeira regra da masculinidade é que o que quer
que ele seja, mulheres não são. Ele chama a covardia dele de heroísmo, e ele
mantém as mulheres fora–fora da humanidade (fabuloso Gênero Humano), fora
da esfera de atividade dele qualquer que ela seja, fora de tudo que é valioso,
recompensado, acreditável, fora do setor degradante da própria capacidade dele se
importar. Mulheres devem ser mantidas fora porque onde quer que haja
mulheres, há uma lembrança vívida, assustadora, com inúmeros tentáculos
sufocantes: ele é aquela criança, sem poder contra o macho adulto, com medo dele,
humilhado por ele.
Meninos se tornam homens para escapar de ser vítimas por definição. Meninas se
tornariam homens, se meninas pudessem, porque isso significaria imunidade de:
imunidade de violação a maior parte do tempo; imunidade de contínuos insultos
mesquinhos e violenta desvalorização de si mesma; imunidade de dependência
econômica e emocional debilitadora de qualquer outra pessoa; imunidade da
agressão masculina canalizada em intimidade e por toda a cultura.
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