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Ligia Kussama
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Embora acompanhada de muito crítica, grande parte da literatura feminista generalizou a periodização
que localiza a primeira onda dos movimentos feministas, nos EUA, entre 1860 e 1920, e identifica a
segunda onda entre as décadas de 1960 e 1990.
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O termo é utilizado por Sandra Harding, freqüentemente, ao longo de toda sua obra publicada, como
sinônimo de um projeto crítico e feminista para a ciência. Ver, por exemplo: [HARDING, Sandra. 1986.
The Science Question in Feminism. Ithaca: Cornell University Press.]; [ _______. 1991. Whose
Science? Whose Knowledge? Thinking from Women’s Lives. Ithaca: Cornell University Press.];
[______ . 1998. Is Science Multicultural? Postcolonialisms, Feminisms, And Epistemologies.
Bloomington: Indiana University Press.]
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Maria Margaret Lopes descreve assim os feminist science studies: "As ciências naturais vêm sendo objeto
da crítica de feministas acadêmicas, particularmente nos Estados Unidos, desde há pelo menos quinze
anos. Esta produção tem procurado articular dimensões teóricas da crítica ao conhecimento científico com
teorias da linguagem, filosofia, sociologia e história das ciências em suas mais diferentes vertentes. (...) um
campo disciplinar tão amplo e complexo, genericamente referido como feminism and science (feminismo e
ciência) ou feminist science studies (estudos feministas de ciência)” (...) [LOPES, Maria Margaret. 1998.
“Aventureiras” nas Ciências: Refletindo sobre Gênero e História das Ciências Naturais no Brasil.
Cadernos Pagu 10 : 347]
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Londa Schiebinger, exemplificando um ponto de vista do feminismo liberal, destaca como uma das
vitórias do feminismo norte-americano, no campo da Medicina, a criação em 1990 do Office of Research
on Women’s Health – ORWH (do NIH – National Institute of Health) e, em 1991, o programa de
pesquisas Women’s Health Initiative. Desde o final da década de 1980, pesquisadoras
feministas criticavam vários estudos que omitiam as mulheres, quer como objetos,
quer como sujeitos, das pesquisas em áreas biomédicas. Uma coalizão de mulheres
no Senado e na Câmara, em aliança com os movimentos pela saúde da mulher
(informados pela crítica feminista), pressionou o NIH exigindo maior atenção às
questões de saúde da mulher e a inclusão de um número maior de mulheres em
estudos de saúde em geral. De 1990 a 1994, o Congresso dos EUA sancionou cerca
de 25 ações legislativas para a melhoria da saúde da mulher norte-americana,
variando desde a exigência para que mulheres fossem incluídas nos ensaios clínicos
de medicamentos, e/ou em estudos-pesquisas biomédicas, até uma nova
regulamentação federal que incluía a ampliação do acesso aos exames de
mamografia para setores pobres da população feminina. [SCHIEBINGER, Londa. 1999.
Has Feminism Changed Science? Cambridge, Mass; Harvard University Press. Cap 6]
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ROUSE, Joseph. 1997. Feminism and the Social Construction of Scientific Knowledge. In: NELSON,
Lynn Hankinson and NELSON, Jack (eds.). Feminism, Science, and the Philosophy of Science.
Dordrecht: Kluwer
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Uma observação necessária, aqui, diz respeito à constatação de que os science studies já não se
restringem mais à SSK . Sequer, talvez, possamos considerar esta última como a corrente dominante desse
campo de estudos, conforme outrora, algures, se quis acreditar. Ver, entre outras, as avaliações de David
Hess, [HESS, David. 1997. If you’re thinking of living in STS: a guide for the perplexed. In: DOWNEY,
Gary Lee and DUMIT, Joseph (eds.). Cyborg & Citadels: Anthropological Interventions in Emerging
Sciences and Technologies. Santa Fe: School of American Research Press.] e [HESS, David. 1997.
Science Studies: An Advanced Introduction. New York: New York University Press], sobre a
espetacular ampliação do campo nos anos 1990. Esta visada permite reavaliar o que aparecia quase sempre
como uma impossibilidade: as conversações entre a crítica feminista e os science studies – uma forma pelo
menos imprecisa de colocar a questão, desde que as fronteiras entre os participantes já não se definem
pelas mesmas linhas de demarcação.
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ROUSE, Joseph. 1997. op.cit. p.196.
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Sobre a expressão mulheres ‘de cor’, note-se que também é usado o termo U. S. feminist of color. A
expressão of color não tem a mesma força depreciativa da expressão "de cor" em português. Em inglês a
palavra explicitamente racista é "colored". Na ausência de uma expressão mais adequada em português,
mantive a tradução literal de cor, acompanhando sugestão de Tomaz Tadeu da Silva. Note-se que o termo
se refere, além das mulheres negras, a todo um conjunto de mulheres de Terceiro Mundo nos EUA.
Donna Haraway destaca que “as ‘mulheres de cor’ são a força de trabalho preferida das indústrias baseadas
na ciência; são as mulheres reais que o mercado sexual, o mercado de trabalho e a política da reprodução
mundiais lançam no rodopio caleidoscópico da vida cotidiana. As mulheres jovens coreanas contratadas
pela indústria do sexo e pela linha de montagem eletrônica são recrutadas nas escolas secundárias e
educadas para o circuito integrado. O ser alfabetizada, especialmente em inglês, distingue a força de
trabalho feminina ‘barata’, tão atrativa para as multinacionais.” [HARAWAY, Donna. 2000 |1985|.
Manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX. In: SILVA, Tomaz
Tadeu da (org.). 2000. Antropologia do Ciborgue. As vertigens do pós-humano. Belo Horizonte:
Autêntica.: 93-94].
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ROUSE, Joseph. 1997. op.cit. p.195.
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LATOUR, Bruno. 2000. When things strike back: a possible contribution of “science studies” to the
social sciences. The British Journal of Sociology 51(1): 116.
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A desatenção que a nova sociologia da ciência tem com as questões de gênero e sexo pode surpreender,
mas, conforme Michael Lynch, a questão é saber se a SSK acompanharia as críticas feministas da ‘ciência
objetiva’, uma vez que tais críticas retêm, como alvo, um quadro da ideologia técnica e científica que é
justamente problematizado nos estudos de ciência da SSK. [LYNCH, Michael.1993. Scientific practice
and ordinary action: ethnomethodology and social studies of science. Cambridge: Cambridge
University Press. p.111]
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ROUSE, Joseph. 1997. op.cit. p.201.
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ROUSE, Joseph. 1997. op.cit. p.202.
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O sociólogo Stephan Fuchs agrupou em itens sumários o que seriam os principais e mais
freqüentes significados atribuídos ao termo objetividade, nos estudos de ciência:
• A capacidade de uma pessoa de estabelecer um julgamento imparcial e desinteressado.
• Uma qualidade dos métodos e normas de investigação que disciplinam o impacto de
forças arbitrárias e acidentais sobre o conhecimento.
• Medidas são objetivas quando elas coincidem fortemente umas com as outras e através
de repetidas medições, tomadas independentemente por vários observadores.
• Como uma propriedade do conhecimento, a objetividade se refere a proposições que
capturem uma realidade independente e externa.
• A objetividade também pode ser atribuída a instituições culturais e sociais, que de
alguma maneira são mais sólidas e duradouras do que as crenças pessoais.
• Desde a Revolução Científica, tornou-se a ausência de forças e circunstâncias
individuais, idiossincráticas, acidentais e contingentes.
• Os filósofos geralmente concordam que a objetividade é a marca distintiva do
conhecimento científico.
• Objetividade como um modo de conduta, de controlar emoções, vieses, e interesses.
[FUCHS, Stephan. 1997. A Sociological Theory of Objectivity. Science Studies 11(1) : 4 –26.]
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A questão política entendida como imbricada com os processos de conhecimento é um dos tropos
definidores do campo feminista. Por exemplo, lemos em Teresa de Lauretis: “Aqui é onde, ao meu ver, o
feminismo difere de outros modos de pensamento contemporâneos, radicais, críticos ou criativos, como o
pós-modernismo e o anti-humanismo filosófico: o feminismo define a si próprio como uma instância
política, não meramente como uma política sexual, mas uma política da experiência da vida
cotidiana, que mais tarde, por sua vez, invade a esfera pública da expressão e da prática criativa,
deslocando hierarquias estéticas e categorias genéricas, e, desta maneira, estabelece a base semiótica
para uma produção diferenciada de referências e significados.” [LAURETIS, Teresa de (ed.). 1986.
Feminist Studies / Critical Studies. Bloomington: Indiana University Press. p. 10]
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HENNESSY, Rosemary. 1993. Materialist Feminism and the Politics of Discourse. New York /
London: Routledge. pp.67-68.