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caderno 2

[projeto]

samba de Quadra
pseudônimo do
proponente:
João do Mundão
.a
hipótese sobre o tema
O orvalho na amoreira, a terra batida e o cheiro de café. Um cigarro de palha é enrolado
e uma prosa se estica na varanda. Todos cantam de um jeito antigo enquanto o velho
fogão à lenha é aceso. O movimento de corpos, ritmos europeus e africanos. Tudo desliza
calmamente numa tarde de domingo, num lugar onde o tempo demora a andar. Bem vindos
à casa de João do Ditão, palco do documentário “Samba de Quadra”.

O preparo de um arroz com frango é a linha guia do filme. A partir dessa tradicional
confraternização, o samba caipira – manifestação popular típica do interior do Estado de São
Paulo – renasce pela voz de antigos sambadores. É nesse cenário que causos são relembrados.
Relatos quase esquecidos pela memória, mas preservados pela música, resistem na pequena
cidade de Quadra, interior de São Paulo.

A mesa, a comida e a bebida são o pano de fundo para essa reunião musical, bastante
informal e despojada. Uma experiência musical espontânea, assim como o encontro de
Paulinho da Viola e Maria Bethânia em Saravah (Pierre Barouh, 1969). Nesse sentido, o maior
empenho de “Samba de Quadra” é o registro despretensioso de uma cultura enraizada
nas mais profundas heranças populares, na mesma medida da cena final do curta Nelson
Cavaquinho (Leon Hirszman, 1969).

A única voz do filme é a dos próprios personagens. A única música é aquela produzida por
eles. Somos convidados na casa de João do Ditão e a câmera é respeitosa ao explorar esse
ambiente: as texturas da casa humilde, os sons dos animais, os rostos cansados, os pequenos
gestos reveladores, o toque dos instrumentos. A referência à linguagem do cinema direto
norte-americano, em especial à obra de Robert Drew, é inevitável.

A evocação das histórias e causos são mais fortes e expressivos do que qualquer tese
que explique a tradição do samba caipira. O universo desses sambadores ganha nova
dimensão na tela do cinema: “Samba de Quadra” proporciona uma experiência sensível,
rica em detalhes e intensa em suas imagens e sons. O samba caipira não é folclore, e
sim a expressão sempre renovada de artistas populares capazes de dialogarem com um
públicomais amplo, distante da pequena cidade de Quadra. Seja por meio de seus versos
ou de suas histórias de vida, os sambadores da casa de Seu Ditão são os anfitriões para um
pedaço esquecido da cultura paulista. Tudo muito simples e bonito, como o arroz, o feijão e
a suculenta galinha caipira.

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Samba Caipira: antiga tradição popular do interior do Estado de São Paulo. Também conhecida como samba de bumbo ou samba rural paulista, essa manifestação tem seu
surgimento na mistura entre a tradição da fanfarra européia, o batuque africano e as cantigas caipiras do mestiço brasileiro. Os maiores centros desse samba eram Campinas,
Mauá e Santana do Parnaíba, além de certas regiões da capital. Todas as músicas do grupo são de autoria de João do Ditão. Vale ressaltar que os direitos autorais das músicas e
das imagens que serão utilizadas já contam com o aval do compositor e dos próprios sambistas.

Sambadores da Cidade de Quadra: João do Ditão, João Paçoca, Dona Julieta, Chico Pinto, Preto e Inácio, que formam o grupo de sambadores, são nossos personagens
principais. Desde criança, cantam, tocam e dançam o samba caipira. A tradição que teve início nas fazendas de café da região, foi passada de geração para geração. O grupo,
liderado pelo experiente sambador João do Ditão, faz uma leitura própria do samba caipira: versos mais longos, temas atuais e dança em pares.

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Arroz com galinha: receita simples e típica do interior do Estado. O animal é abatido e depenado a poucos metros da cozinha, no quintal da casa A preparação do prato é
feita com temperos do próprio sítio. O frango é frito na gordura de porco. Tudo remete a um modo bastante particular e intimista de celebrar a vida. O prato é parte de antigas
tradições, como o samba.

Romance e Recomenda: são duas tradições do interior de São Paulo que também pertencem ao repertório desses sambadores. A última é uma reza pelas almas, cantada
todas às noites durante a Semana Santa. Já o Romance são histórias musicais acompanhadas por viola. Inspiradas nas escrituras da Bíblia, com versos curtos e rimados para facilitar
a memorização, é algo praticamente inexistente no Estado de São Paulo.

eleição e descrição do(s) objetos(s)

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C. estratégia(s) de Abordagem e Justificativa(s)

Entrevistas informais: Entre uma música e outra, na própria formação de roda, o diretor
conversa com os personagens na busca de sambas antigos, “causos” das festas realizadas na região
e depoimentos expressivos e espontâneos. Apesar disso, a imagem e a voz do diretor e sua equipe
não aparecem no corte final do documentário. O objetivo é proporcionar ao espectador uma
experiência sem ruídos, uma representação fiel daquele universo caipira. Nenhum material de
arquivo será utilizado, nem grafismo. Os únicos letreiros do filme serão inseridos na identificação
dos personagens.

Câmera na mão acompanhando o dia dos personagens: A câmera registrará cada


detalhe das tradições caipiras do grupo, buscando o maior número possível de planos. O objetivo
assim é compor a narrativa do filme por meio de ações decupadas. A fotografia se faz sóbria,
sem movimentos bruscos ou excessivos, e preocupando-se na continuidade da luz no horário
específico de cada cena. Tudo isso visa naturalizar a presença da câmera e da edição para o
espectador, tornando-o ainda mais imerso no universo desse grupo de samba caipira.
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Fotografia Naturalista: Não será utilizada luz artificial e, quando preciso, as sombras serão assumidas como parte da narrativa. O trabalho de fotografia será realizado por
meio de presets da própria câmera e luz natural, destacando assim os expressivos nuances cromáticos da locação. Os planos contemplativos (paisagem rural de Quadra) também
seguem essa linha e, em certas situações, serão fotografados a partir da câmera fixa. Será usada a Panasonic HVX-200, uma câmera HDTV com 1080 linhas de definição a 24
quadros por segundo que nos dará a consistência fotográfica e resolução adequada para o transfer de 35mm.

Linha narrativa linear e não-linear: a opção é que o documentário tenha o preparo da galinha caipira contado em ordem cronológica e que essa ação seja entrecortado
pela samba de roda que acontece ao longo de toda tarde. Esses recortes do samba serão inseridos primeiramente de forma fragmentada, por meio de inserts. À medida que o
almoço vai acabando, o samba caipira se revela e os “causos” dos personagens contam um pouco dessa tradição. Essa estratégia é adotada para que primeiramente o espectador
possa compreender os personagens e seu modo de viver. Assim o samba caipira, tradição antiga e praticamente desconhecida, passa a se revelar lentamente. Uma realidade
distinta da maioria das pessoas, mas completamente integrada na vida desses senhores e senhoras.

Paisagem Sonora: o toque do bumbo, a faca sendo amolada, os pássaros a cantar junto com os sambadores e o assovio descompromissado de Dona Julieta. Pelo fato de ser
um filme com temática musical, o som é elemento principal de encadeamento da narrativa, principalmente nas transições da edição. Portanto a captação do áudio, som direto,
pós-produção de áudio e mixagem são aspectos essenciais.

Voz e músicas em OFF: com a intenção de integrar personagens e ambiente, a voz e as músicas em OFF são utilizados para que o espectador compartilhe as experiências
daquele universo. São cenários que se compõe: antigos sambadores, a casa rústica, a comida caipira, o bode no pasto e a paisagem da periferia de uma cidade com 3 mil habitantes.
O documentário não terá narrador em OFF.
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O fio condutor será o preparo do arroz com frango, desde o amanhecer
com o abate do animal, passando pelo preparo, até chegar à mesa onde
todos do grupo realizam a confraternização. Durante essa ação, o samba
caipira será introduzido lentamente. Com o fim do almoço, a música e as
prosas vão ganhando força na narrativa, mas a ordem não cronológica se
mantém.
.D
sugestão de estrutura

Dentro dessa realidade, temos 3 situações essenciais.

SITUAÇÃO 1: O Galo cantou, começa o preparo do almoço

O galo canta por volta das 4 horas da manhã. Dona Maricota, irmã de Seu
João do Ditão, limpa a casa e depois colhe verduras. Seu João, depois de
cortar a lenha e alimentar os animais, ele escolhe o melhor frango para
o abate. No quintal da casa, Seu João torce o pescoço do animal, que se
debate muito, por alguns segundos, e depois pára. O frango é depenado
lentamente, com seu João indo e voltando do fogão repetidamente para
escaldar o animal na fervura. Depois de depenado, vai direto pra cozinha,
onde é limpo antes de ir para o fogão à lenha.

Planos contemplativos das propriedades de João Ditão e arredores. A


fotografia nos traz uma sensação de saudosismo. Tons azulados, cores mais
frias, para sentirmos que o dia esta começando no ritmo lento do interior.
Toque de bumbo. OFF do grupo cantando, sem acompanhamento, o samba
que conta um pouco da história de Quadra..

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Agora falá eu vou
Como é que começô Dona Maricota cumprimenta Dona Julieta, que
A nossa Vila da Quadra chega para ajudar no preparo da galinha caipira. A
Por coroné Francisco Viera cozinha é o nosso ambiente. Lá fora, na varanda da
Que a Quadra foi fundada casa, os homens conversam, enquanto tomam um
Francisco e Francisca Viera
café quente. Planos detalhes da casa. Retratos de
Na margem do Rio Parmera
Fundaram a Vila da Quadra santos na parede, teias de aranha, um velho rádio de
pilha. Planos detalhes de Dona Maricota limpando e
A Quadra do Rio Parmera
A Quadra da Sete Cruz cortando frango. Ouvimos a faca batendo na tábua
Primera Igreja que ali se ergueu de madeira enquanto corta os temperos. Ainda não
Francisca Viera escutamos nenhum tipo de musica, apenas o som
Foi quem deu
Pedaço de terra ao Bom Jesus ambiente do cachorro latindo, das galinhas e dos
pássaros.
Fizeram uma linda igreja
Em um lugar tão bonito
E começou a vir morador Pela janela vemos o sol da manhã. O frango já está
Em pouco tempo transformô sendo temperado, a cebola e as ervas já vão sendo
A vila em município
refogadas, o arroz e feijão começam a ser preparados.
A nossa terra da Quadra Os instrumentos ainda estão num canto da casa.
Tudo o que planta produz Os homens conversam descompromissados. Seu
Esta cidade modesta
Tradição é sua festa Paçoca pila um cigarro de palha. Preto toma uma
Do Glorioso Bom Jesus cachaça da região.

E foi assim que começou


A nossa vila da Quadra Imagens abertas da casa. Um som de bumbo vai
Quadra de povo humilde e franco crescendo. Pés dançando. Detalhes dos instrumentos
Capital do Milho Branco
A Quadra foi batizada e das faces dos sambadores. Não é possível
compreender o significado da letra. O som ainda
(composição de João do Ditão) é abafado.
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SITUAÇÃO 2: O Arroz com frango à moda caipira

A mesa começa a ser posta. Estão todos reunidos do lado de fora da casa. Histórias
são relembradas. Começamos a conhecer os personagens desse grupo. Cada um
faz um comentário, como numa roda de amigos.

Todos estão com água na boca. O almoço é servido e todos comem e bebem na
varanda da casa. Parecem satisfeitos. Planos detalhes da mesa, dos pratos. Detalhes
de sorrisos, da cachaça sendo servida, do frango caipira sendo cortado. A panela
está vazia.

Seu João do Ditão puxa o samba que conta as festa de antigamente.

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Quando chegava Quaresma
No sertão chegava a calma
Me alembro, tenho saudade
Em todos as casas da fazenda
Do tempo da minha infância
Noite tinha recomenda
Tenho saudade da sambada
Pedindo reza pras almas
Da companheirada
Do bairro velho da estância
Quando chegava a Quaresma
A cabocrada respeitava
Me alembro, tenho saudades
Descarregava o armamento
dos velhos companheiros
E também os instrumentos
Muitos galo de murduca
O violeiro as cordas tirava
Uns de religião virou
Muitos deles já morreram
Alembro a casa de sape
Amarrando de endira
Me alembro, tenho saudades
Na Quaresma recomendava
das estradas do sertão
Sábado de Aleluia chegava
Por lá não passava carro
Tinha samba caipira
Os troile e os cavalos
era a nossa condução
Lampião a querosene
Luminava emparisado
Me alembro Festa Junina, Santo
Esquentava as caixa na foguera
Antonio e São Pedro


Pras morena facera
Lindas festas de São João
Fazia verso dobrado
Tinha pipoca e quentão
Ia até de manhã cedo (composição de João do Ditão)

Paçoca puxa o pandeiro e o grupo vai atrás, numa sintonia e entrosamento de quem se
conhece há anos. Samba num ritmo alegre em OFF. O céu é de um azul infinito e o chão
de terra batida se confunde com os pés e as sandálias dos sambistas.

Cores saturadas, tons de marrom, vermelho e amarelo bem forte, dando ritmo e vida ao
dia.

Vemos uma roda feita por todos. Começam a prosear e relembrar as antigas festas, que
atraíam gente de todo o interior. Dona Julieta lembra das modas de viola. Seu João do Ditão
conta que seu pai era violeiro famoso na região e amanhecia cantando Romances. Explica
que Romances são histórias da Bíblia versadas na viola. Puxa um antigo Romance de outros
tempos, quase esquecidos. Inserts da fogueira no final da tarde, pés dançando e casais fora
de foco.
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SITUAÇÃO 3: O bumbo e o pôr do sol

O almoço acabou. A roda agora é armada embaixo da amoreira. As conversas continuam. Com
expressão muito séria, Chico Pinto (em ON) começa a contar as histórias da Quaresma. Seu
João lembra da tradição da Recomenda, quando passavam pelas casas da cidade rezando pelas
almas. Dona Julieta puxa um canto forte a agudo, num andamento bem devagar.


Acordai irmão das almas
Acordai ceis que tão dormindo
Pra rezar um Pai Nosso


Junto com Ave Maria

Seu João do Ditão andando pela propriedade. Um couro de bode está pregado na parede de
madeira atrás da casa. Explica como encoura o instrumento. De volta à roda, Inácio mostra os
instrumentos. Seu João comenta que a tradição veio do índios, que passaram para os negros
escravos.

O dia começa a cair. Preto corta madeira e começa a montar uma fogueira. Negros velhos do
bairro de Matão (em Quadra) e sambadores de Guareí vão chegando na propriedade. Todos
se cumprimentam. Detalhes de sorrisos.

Volta para a roda da tarde. Fala-se de como era antigamente, como era vida pacata e simples
do sertanejo. Seu Ditão conta que isso está se perdendo e, emocionado, fala quais heranças
ele quer deixar.

Planos contemplativos dos bumbos, da fogueira acesa. Contraluzes mostrando o fim de mais
um domingo. Fotografia bem saturada, o céu está rosa e os raios do sol vão rasgando o
horizonte.

Temos planos detalhes dos sambistas. Instrumentos, batucadas, pés sambando, olhos, rugas,
mãos cabelos grisalhos e brancos. A sensação é que a tradição caipira está bem na frente de
nossos olhos.

Créditos Finais.
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