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O documento discute a definição e origem do termo "maquiavelismo", que surgiu como uma reação negativa à obra de Maquiavel no século XVII. Também explica que Maquiavel não era maquiavélico e que escrevia sobre política de forma técnica e não como opinião. Seu livro "O Príncipe" foi escrito para os Médici após ser exilado de Florença e buscava convencê-los da importância da "virtú", ou habilidade política.
O documento discute a definição e origem do termo "maquiavelismo", que surgiu como uma reação negativa à obra de Maquiavel no século XVII. Também explica que Maquiavel não era maquiavélico e que escrevia sobre política de forma técnica e não como opinião. Seu livro "O Príncipe" foi escrito para os Médici após ser exilado de Florença e buscava convencê-los da importância da "virtú", ou habilidade política.
O documento discute a definição e origem do termo "maquiavelismo", que surgiu como uma reação negativa à obra de Maquiavel no século XVII. Também explica que Maquiavel não era maquiavélico e que escrevia sobre política de forma técnica e não como opinião. Seu livro "O Príncipe" foi escrito para os Médici após ser exilado de Florença e buscava convencê-los da importância da "virtú", ou habilidade política.
Maquiavelismo uma expresso usada especialmente na linguagem ordinria para
indicar um modo de agir, na vida poltica ou em qualquer outro setor da vida social, falso e sem escrpulos, implicando o uso da fraude e do engano mais que da violncia. "Maquiavlico" considerado, em particular, aquele que quer se mostrar como um homem que inspira sua conduta ou determinados atos por princpios morais e altrusticos, quando, na realidade, persegue fins egosticos. Esta expresso constitui, portanto, na linguagem ordinria, uma prova da reao que a doutrina de Maquiavel suscitou e continua suscitando na conscincia popular, e da tendncia que considera essa doutrina como imoral. Esta expresso, alm disso, pode ser usada tambm em sentido tcnico, para indicar a doutrina de Maquiavel ou, mais genericamente, a tradio de pensamento baseada no conceito de Razo de Estado. Esta a definio de Srgio Pistone, no livro Dicionrio de Poltica, para o maior equvoco de interpretao atribudo obra maquiaveliana. O senso comum de que Maquiavel era um homem dissimulado e perverso advm do sculo XVII. Polticos, filsofos e at mesmo poetas ingleses, a ressaltar William Shakespeare, tiveram a sua parte na propagao do mito ao redor das teorias do autor. Seu nome passou a ser utilizado como um adjetivo e, ao longo do tempo, tal falcia foi incorporada na sociedade. No sculo XVIII, por sua vez, muitos foram os admiradores e idealizadores de suas obras. Isso porque o iluminismo via em Maquiavel um aliado natural de suas correntes cientficas e laicas, ainda que ele no tivesse exatamente o esprito revolucionrio que tomou o mundo duzentos anos depois de seu falecimento. Sem maniquesmo de anjo ou demnio, o que pode-se dizer que Maquiavel no era maquiavlico. Ainda que usasse muitas metforas, era claro, incisivo e inequvoco em suas obras. Tinha sua moral pessoal e no renegava a Igreja, mas sentia a necessidade de desprender a poltica desses ncleos para ter xito.Seus pensamentos tinham uma finalidade. No era um sanguinrio sem propsito. Descrente da bondade humana, ele escreve o que o homem faz, no o que deveria fazer, por isso seu livro parece ofender a tantos crticos. O cerne da questo que Maquiavel, o homem, diplomata e florentino do sculo XVI, no passvel de julgamento via suas produes, uma vez que as mesmas no funcionam como artigos de opinio. O Prncipe, principal livro a ser tratado neste artigo, um escrito de cincia poltica; no h como emitir juzo de valor a uma obra tcnica. O Prncipe foi escrito em um cenrio poltico extremamente delicado. Maquiavel era diplomata de Florena, uma Repblica instvel dentro de um territrio dominado por estrangeiro, papados e mercenrios. Em sua conjuntura, Florena tinha acabado de ser tomada pelos espanhis que restabeleceram a famlia Mdici no poder. O Papa Jlio II havia declarado guerra contra a Frana, com o apoio da Espanha, e os florentinos no assumiram posio poltica. Por conta disso, Maquiavel foi acusado de participar de uma conspirao contra o novo governo, sendo torturado, condenado priso, exilado e obrigado a pagar uma pesada multa. Maquiavel era um grande estudioso humanista e exerceu papeis importantes dentro da Repblica Florentina. Teve aos seus cuidados as relaes externas e pde analisar Estados como o de Csar Brgia, Jlio II e dos Habsburgo. Com a mudana de governo, viu-se subutilizado ao ser excludo da poltica, pois sua experincia era de grande valor para o novo principado. Ao escrever O Prncipe, ele tenta convencer os Mdici da relevncia de seus servios para o estabelecimento e a manuteno da monarquia. Muito mais que um subversivo, traidor da Repblica, Maquiavel apresentava os atributos requisitados em um poltico e seus trabalhos no eram facilmente descartveis por qualquer governante de cautela. O Prncipe uma obra baseada em Csar Brgia que, apesar de ser um inimigo de Florena, era admirado por Maquiavel. Tal sentimento restringia-se ao mbito poltico, uma vez que Brgia estabeleceu uma estrutura de Estado inovadora, que deveria ser reconhecida e estudada. O governante obteve conquistas louvveis, mas tambm cometeu erros cruciais para que sucumbisse e neste tocante que o autor constri sua obra. Com esta afirmao, duas concluses sobre o carter de Maquiavel podem ser feitas: a primeira que, ratificando a tese de sua impessoalidade, Maquiavel escreve uma obra analtica sobre um homem odiado por sua cidade. A segunda que suas reflexes eram baseadas na Histria, e no fundamentadas em um ideal sanguinrio de uma mente diablica. O pensamento maquiaveliano era constantemente influenciado pelo Renascimento, movimento contemporneo com grande atuao na Itlia. Dito isso, tratava a Histria como uma Cincia, no sentido de sua previsibilidade e de apresentar aspectos recorrentes. Maquiavel acreditava que havia um ciclo de pices e quedas e pde observ-lo em diversos governos via estudo e empirismo. Contudo, diferente das cincias exatas, os resultados nem sempre eram iguais. Isso porque se acreditava que h um fator na Histria que pode alter-la durante o seu ciclo e este denominado Fortuna. A Fortuna: Deusa dos bravos A Fortuna um conceito amplamente vinculado Maquiavel, mas no uma criao do mesmo. Ela age de forma inevitvel sobre a vida dos seres humanos, como o acaso, podendo favorecer ou no as circunstncias. Segundo os Cristos, a Fortuna como uma roda, aleatria, incontrolvel e at impiedosa. Pregava-se que ela era uma serva de Deus e jamais favorecia os que desejavam honra e glria, pois estes eram anseios condenveis. Mas Maquiavel, tomado pelo esprito do Renascimento, no qual o homem agente de seu prprio destino e tem o livre arbtrio, prega que a Fortuna pode ser influenciada e conduzida favor dos humanos. Em metfora, a Fortuna tida como uma Deusa. Uma mulher volvel que, para obter seus favores, deve-se aliar a ela e aprender a agir em harmonia com seus poderes. Mais que isso, necessrio seduzi-la diariamente para tentar influenciar suas decises. Mas preciso tem-la, mesmo quando ela traz presentes. Para persuadi-la, necessrio lembrar-se de seu lado feminino. Em uma conotao ertica, Maquiavel insinua que a Fortuna pode sentir um prazer perverso em ser tratada com violncia, bem como ela se sente mais inclinada a se entregar aos homens que a tratam com ousadia. Apenas quem viril e age, pode repreender seu mpeto; por isso ela considerada amiga dos bravos e dos menos cautelosos. No Captulo XXV de O Prncipe, Maquiavel apresenta outra comparao que faz aluso Fortuna e a necessidade de agir frente a ela. Comparo-a a um desses rios impetuosos que, quando se tornam encolerizados, alagam as plancies, destroem as rvores, os edifcios, arrastam montes de terra de uma parte para outra; tudo foge diante dele, tudo cede ao seu mpeto, sem poder obstar-lhe e, ainda que as coisas se passem assim, no menos verdadeiro que os homens, quando retorna a calma, podem executar reparos e barragens, de maneira que em outra cheia, aqueles rios correro por um canal e seu mpeto no ser to livre nem to prejudicial. O mesmo acontece com a fortuna; o seu poder se manifesta onde no h resistncia organizada, voltando ela a sua violncia apenas para onde no foram providenciados diques e barragens para det-la. O governante capaz de agir sobre a Fortuna e traz-la a seu favor considerado um governante de virt, sendo esta qualidade decisiva para o sucesso ou o fracasso de um governo. Virt: a habilidade de ser Centauro Virtudes principescas so louvveis quando podem ser exercidas em um governo. Ser liberal, clemente e honesto so caractersticas positivas para qualquer governante. Todavia, a aplicabilidade destas no deve ser o objetivo principal de um soberano. A glria e a honra de seu Estado devem ser sempre prioridades, sendo guiadas pela Razo de Estado, e nenhum valor pode impedir tal busca. O racional pode ser imoral, mas a necessidade, palavra de ordem prncipe de virt, faz com que ele no hesite em cometer atrocidades. Maquiavel prega o pensamento metafrico de que o prncipe de virt deve ser um Centauro. Metade homem, com a racionalidade, o calculismo e a frieza que somente os seres racionais tm a capacidade de ter, a fim de evitar equvocos que destruam seus Estados. Metade bicho, voraz, impetuoso, extintivo, que aja antes que a cautela deixe seu Estado vulnervel. Maquiavel assinala a necessidade de essa parte animal ser hbrida, heterognea, uma combinao de dois animais, o leo e a raposa. Os atributos da raposa so o de sua astcia, obliquidade e habilidade de ser sorrateira. J os do felino, esto associados fora, impiedade e ao avassaladora. Sendo, portanto, um prncipe obrigado a bem servir-se da natureza da besta, deve dela tirar as qualidades da raposa e do leo, pois este no tem defesa alguma contra os laos, e a raposa, contra os lobos. Precisa, pois, ser raposa para conhecer os laos e leo para aterrorizar os lobos. Os que se fizerem unicamente de lees no sero bem-sucedidos. Csar Brgia foi um poltico muito favorecido pela Fortuna, e seu excesso de confiana do acaso, fez com que lhe faltasse a Virt necessria em momentos cruciais. Com a promessa de obter um cargo no exrcito caso Jlio II fosse eleito Papa, Brgia apoiou sua candidatura mesmo tendo a conscincia de que o poltico era inimigo de seu pai, o Papa antecessor. Quando Jlio II foi escolhido, no somente Brgia teve suas promessas descumpridas como perdeu seu Estado para o novo Papa. Sua falta de malcia e obsesso por glria pessoal o fizeram perder suas conquistas. Quando Maquiavel escreve O Prncipe aos Mdici, ressalta a importncia da Virt Fundadora em um momento de grande instabilidade. A dinastia chegou ao poder como um novo principado, por meio de armas estrangeiras, e era necessrio agir para evitar as surpresas da Fortuna. Estabelecer um governo uno, controlado pelo prncipe, forte e respeitado pelos sditos era fundamental para que os Mdici se estabelecessem como governantes legtimos. Violncia: a arma do fazer poltico A questo da violncia um dos tpicos que rendem ao autor o adjetivo de maquiavlico. inegvel que este um instrumento fundamental do Estado e deve ser usado constantemente mas, em julgamentos morais, no admirvel que se admita isso. Alm de ter boas leis, necessrio a um Estado ter boas armas, pois somente desta forma os direitos so assegurados. A violncia, ento, um meio para se garantir a soberania, no uma finalidade como muitos interpretam na obra maquiaveliana. Quando o Estado deve obter o monoplio legtimo da fora exclusiva a participao de qualquer meio alternativo a um exrcito prprio. Exrcitos estrangeiros e mercenrios eram classificados como inteis, perigosos, desunidos, ambiciosos, indisciplinados e traioeiros. Tais soldados no tm vnculos com as cidades que representam e, portanto, no se pode confiar uma tarefa crucial sobrevivncia do Estado a eles. Maquiavel, para ratificar sua tese, cita o episdio no qual Csar Brgia teve a virt de reconhecer a infidelidade dos mercenrios que os servia e os aniquilou antes que sofresse um golpe. O duque criou seu prprio exrcito e fez-se pleno senhor de suas foras, sendo esta uma manobra exemplar.