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Público • Sexta-feira 4 Dezembro 2009 • 39

Classificar a aprovação de qualquer proposta da oposição como “coligação negativa” é uma caricatura da realidade

O triunfo da “novilíngua” de um Governo sem maioria

U
DANIEL ROCHA
ma das formas mais eficazes de condi-
cionar o debate político é colocá-lo em
termos que tornam difícil pensar. Para
tal é essencial reduzir ao mínimo os ter-
mos utilizados e, sobretudo, repetir a
propósito e a despropósito frases ou expressões com
conotações positivas ou negativas. Estando-se dis-
José traído é fácil tomar o verdadeiro por falso ou o falso
Manuel por verdadeiro, dependendo apenas da convicção
Fernandes colocada no discurso político.
Extremo A última semana tem sido dominada por uma des-
sas expressões redutoras, utilizada a propósito e a
ocidental despropósito: “coligação negativa”. Não há interven-
ção de membro do Governo ou do primeiro-ministro
que não alerte para o risco de uma “coligação nega-
tiva” paralisar o país. Ou de aumentar o défice. Ou
de impedir o Governo de cumprir o seu programa.
Se o objectivo político é claro – o PS e o Governo
querem criar a ideia de que, se existir uma crise go-
vernativa, ela será da exclusiva responsabilidade da
oposição –, a fórmula é sinuosa e obriga a distorcer a
realidade. Um bom exemplo disso foi a aprovação de
uma proposta do CDS que suspendeu, mas não anu-
lou, a entrada em vigor do Código Contributivo.
Primeira perplexidade: como se pode chamar “co-
ligação negativa” ao facto de a oposição ter aprovado
uma proposta? Reparem: aprovado, não chumbado.
A aprovação é feita pela positiva, não pela negativa.
Sendo assim, como foi possível que essa votação a capacidade de utilizar as palavras cometeu um erro. Ora, por definição, onde vigora o
fosse apresentada, mesmo pelos jornalistas, como
Sem ser em “novilíngua”, de formas totalmente opostas con- “duplo pensamento”, o chefe nunca erra.

A
resultando de uma “coligação negativa”? “espionagem política” forme os interesses do momento.
Segunda perplexidade: todos os deputados do Par- Se na obra-prima de Orwell Guerra o contrário do pesadelo orwelliano, a
lamento foram eleitos (em teoria...) com base num não é a mesma coisa que é Paz e Liberdade é Escravidão, na “novilíngua” para que tende o discurso
programa eleitoral; e todos os deputados da oposi- “violações do segredo de “novilíngua” e no “duplo pensa- governamental – mas não só: quase todo
ção foram eleitos por partidos que votaram contra, mento” vigentes aprovar é igual a o discurso político e institucional já sofre
no Verão passado, o novo Código Contributivo, tendo justiça”. Tal como uma rejeitar, positivo é igual a negativo do mesmo mal – pode ser contrariada se
prometido revê-lo. Sendo assim, não é natural, até e receita é igual a despesa. for questionada. Antes de mais procurando saber o
exigível, que cumpram o que prometeram?
mentira é uma mentira e É assim possível que se diga, com que é essencial e o que é secundário em cada debate.
Terceira perplexidade: não existindo maioria na não uma “falta à verdade” ar convicto, que as políticas de com- Depois, contrariando a padronização do pensamen-
Assembleia, o Governo tem de negociar com as opo- bate ao desemprego resultaram no to por via da regra base da inovação: obrigarmo-nos
sições para conseguir equilíbrios entre os respectivos dia em que se soube ter este atingido 10,2 por cento. a pensar fora da norma, do hábito e da preguiça. Por
compromissos eleitorais. Quando tem sucesso, como Que se tenha acrescentado que tivemos “um terceiro fim, falando claro, como é normal em liberdade.
sucedeu com a avaliação de professores, critica-se trimestre que regista um dos maiores crescimentos Quanto ao resto é manter presença de espírito e ter
o partido da oposição que negoceia; quando, pelo da Europa” quando ele foi de apenas 0,9 por cento, algumas noções elementares do que não é a “novilín-
contrário, o Governo vê ser aprovada uma proposta a comparação anual é negativa e todas as previsões gua”. E, sem ser em “novilíngua”, “espionagem polí-
por toda a oposição, então lá vem a “coligação nega- apontam para um futuro de crescimento anémico. tica” não é a mesma coisa que “violações do segredo
tiva”. É absurdo, mas é o discurso dominante. Os exemplos poderiam multiplicar-se, mas o pon- de justiça”. Tal como se costuma chamar mentira à
Quarta perplexidade: no momento em que, ao sus- to essencial é sempre o mesmo: a melhor forma de mentira e não apenas uma “falta à verdade”. Ou ain-
pender o Código Contributivo, a Assembleia impediu condicionar o debate político é limitar os seus termos da que ter apanhado Sócrates nas escutas a Vara não
que as contribuições de trabalhadores e empresas ainda antes de ele começar, não saindo de meia dúzia é igual a ter o primeiro-ministro “sob escuta”.
aumentassem ainda mais em 2010, o primeiro-minis- de ideias-chave que se repetem à exaustão. Foi assim Se isso for feito será difícil escrever, como ontem
tro veio queixar-se do aumento das despesas. Não, que o Orçamento Rectificativo passou a chamar-se, escrevia a Lusa, que a hipótese de aprovação de um
não houve qualquer aumento das despesas perigoso em “novilíngua”, Orçamento “redistributivo”. Pare- projecto do Bloco de Esquerda sobre combate à cor-
para a “consolidação orçamental”, impediu-se sim ce um detalhe, mas não é: redistribuir não tem uma rupção só ocorreria se houvesse “uma nova ‘coliga-
que os portugueses ficassem ainda mais sobrecarre- conotação negativa, rectificar significa que antes se ção negativa’ da oposição”... Jornalista
gados em nome das ineficiências do Estado.

O
s termos em que este debate decorreu – e
outros têm decorrido desde então – mos-
Uma semana em http://twitter.com/jmf1957
tram como se pode distorcer a realidade
a partir da introdução de conceitos redu- a 03Dez09 ganhar guerra no Afeganistão, mal ao Europe: Immigration, Islam and the
tores e fórmulas distorcidas que, repeti- – Recomendações FMI: Daniel Bessa falar de esforço limitado no tempo. West”, de Christopher Caldwell
dos até à exaustão, não só impedem que se discuta o defende, bem, congelamento salarial Aos talibãs bastará esperar... – Ligam a “luzinha” e passam por todo
essencial (neste caso, os reais efeitos da entrada em na Função Pública a 30Nov09 o lado a alta velocidade, como se o
vigor desse Código) como permitem que se diga ser a 02Dez09 – Honduras: condenar o chamado resto não existisse. Às vezes acaba mal
branca uma parede preta e ninguém proteste. – Isto é o desnorte absoluto: PS “golpe de Estado” ordenado pelo http://bit.ly/6uxPkF
Este tipo de mecanismos castradores do pen- suspeita que Ferreira Leite conheceu Supremo Tribunal é hipócrita e a 03Dez09
samento foi magistralmente descrito por George antecipadamente teor das escutas a irrelevante. Entretanto já houve – Mais A.Barreto: Podemos estar à
Orwell no seu famoso 1984. Expressões como a tão Sócrates http://bit.ly/5PJep5 eleições livres beira uma crise institucional? Com a
repetida “coligação negativa” encaixariam na per- – Juiz António Fialho: nova lei – Devo ter escrito 1º artigo sbr justiça que temos, sim! Com a cultura
feição na “novilíngua” do seu mundo imaginário e Divórcio, “em vez de facilitar alterações climáticas num jornal dominante nos partidos, sim!
totalitário com o objectivo de reduzir o vocabulário situações de resolução de conflito, português (em 1981) mas ñ entendo pq a 03Dez09
e, por essa via, diminuir a capacidade de pensar fora está a aumentar possibilidades de maioria ignora “climategate” – Grande dia dedicado à fotografia:
dos estreitos limites impostos pelo “Partido”. conflito” a 03Dez09 Augusto Alves da Silva em Serralves
A “novilíngua” era de resto uma das bases de outro a 01Dez09 – Sobre o referendo suíço, que tal e, sobretudo, Fernando Lemos na
conceito de Orwell, o de “duplo pensamento”, isto é, – Obama: bem ao anunciar q vai tentar ler: “Reflections on the Revolution in Cupertino de Miranda

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