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O NOVO ARTIGO 169 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL1

Rogério Roberto Gonçalves de Abreu2

SUMÁRIO: I – Introdução. II – A alteração constitucional. III – O novo


artigo 169 da CF/88. IV – Considerações Finais. V – Bibliografia.

I. INTRODUÇÃO

Costuma-se dizer que a chamada Atividade Financeira do Estado tem


por preocupação os estudos e pesquisas voltadas para a obtenção de recursos
financeiros pelo Poder Estatal e sua correspectiva aplicação no provimento das
necessidades públicas, compreendidas estas como o conjunto das situações
fático-jurídicas ansiadas pela comunidade administrada como ideal para a
solução dos problemas coletivos. Na culta linguagem de ALIOMAR BALEEIRO
(1995:02), trata-se de “toda aquela de interesse geral, satisfeita pelo processo
do serviço público”. O próprio mestre leciona, na mesma obra, que a Atividade
Financeira do Estado consistiria naquela que exerce o Poder Público “para
obter dinheiro e aplicá-lo ao pagamento de indivíduos e coisas utilizadas na
criação e manutenção dos vários serviços públicos”, desta forma vinculando, a
uma idéia contraprestacional, a própria atividade estatal.

Não há duvidas de que um dos cânones da existência do Estado


moderno é a prestação de serviços públicos. Aliás, sobre o assunto, MARIA
SYLVIA ZANELLA DI PIETRO (2001:59) ensina que “a administração pública
abrange o fomento, a polícia administrativa e o serviço público”, não

1
Última atualização: maio/2005.
2
Mestre em direito econômico pela Universidade Federal da Paraíba. Especialista em direito
fiscal e tributário pela Universidade Cândido Mendes. Juiz federal na Paraíba. Professor do
Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ/PB).
2

desconhecendo a autora que alguns doutrinadores ainda reconhecem como


essencial integrante da lista a atividade estatal de intervenção. Na prestação de
serviços públicos, encarados como um dos meios pelos quais o Poder Público
realiza seus fins, consistindo o mais importante deles a satisfação das
necessidades públicas, o Estado aufere receita e, administrando-a, converte-a
na prestação de serviços dirigidos ao público.

Diante de tal quadro, fácil é demonstrar o quão importante se torna para


o Estado o permanente exercício da atividade fiscalizadora sobre suas próprias
finanças, atribuindo-se, em sede constitucional, aos poderes públicos
instrumentos de atuação permanente na luta contra o desperdício na utilização
e aplicação dos dinheiros públicos, donde se pode, apenas exemplificando,
apontar as previsões constitucionais de manutenção dos órgãos internos de
controle, bem como dos Tribunais de Contas, órgãos naturais de controle
externo. Sobre o assunto, distinguindo os órgãos componentes dos controles
interno e externo, ANTÔNIO ROQUE CITADINI (1995:88-89) leciona que:

[...] a ação desempenhada pelos controles internos não se


confunde com a missão institucional dos órgãos de
controle externo, embora ocorram situações em que suas
atividades encontram-se bastante próximas e, em alguns
casos, sejam desempenhadas de forma conjunta. A
principal característica dos órgãos de controle interno é
ser parte integrante da própria Administração e inserir-se
na órbita do Governo. Diferente é a situação dos órgãos
de controle externo, que estão fora do Poder fiscalizado,
em posição de autonomia.

Não obstante a diversificada gama de instrumentos para o auxílio da


atividade estatal de controle das finanças públicas, ainda se constatava, de
forma reiterada, a má utilização de verbas públicas, notadamente na
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manutenção de um extenso corpo de funcionários cujas funções se


sobrepunham entre si, sendo pagas remunerações absurdamente discrepantes
em relação à realidade brasileira e, lamentavelmente, tudo ironicamente
abarcado pelo manto protetor da constitucionalidade, especificamente na sua
vital garantia do direito adquirido, transmutando-se em verdadeiro abuso
adquirido. Vários Estados e Municípios brasileiros jaziam inertes diante do
inchaço da máquina administrativa a partir de seu pessoal civil, com o nefasto
comprometimento de grande parte das receitas públicas apenas para custeio
da folha de pessoal, com inafastáveis prejuízos para áreas vitais da
administração pública, como programas, investimentos, fomento etc.

Sensível a aspectos fáticos de tal jaez, motivou-se o legislador


constituinte derivado a alterar a Constituição Federal de 1988 para que em seu
texto se incluísse norma de obediência irrestrita e obrigatória, dirigida ao Poder
Público em todas as suas esferas políticas, limitando o comprometimento das
receitas públicas com o custeio das despesas relativas à folha de pagamento
dos servidores públicos, dando um relevante passo na eliminação de um dos
maiores abusos praticados por administradores menos comprometidos com as
já citadas necessidades públicas.

Trata-se do artigo 169 da Constituição Federal que, alterado pela


Emenda Constitucional n.º 19/98, adquiriu, com seu novo texto, e
principalmente com o advento da chamada Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei
Complementar n.º 101, de 04 de maio de 2000), o status de norma diretora na
definição e na execução orçamentária, impondo aos administradores e
legisladores uma atuação conjunta na contenção dos gastos públicos com
pessoal, dadas as severas sanções previstas para o descumprimento dos
postulados normativos tratados.

Sem a mais remota pretensão de exaurir o tema, até porque trata-se o


novo artigo 169 da CF/88 de inovação com as mais densas e profundas
conseqüências no âmbito constitucional, administrativo, fiscal e financeiro, o
que se pretende no presente trabalho é trazer à tona, em simples comentários
às várias disposições contidas no supracitado dispositivo constitucional,
relevantes aspectos de aplicação prática na cotidiana atuação administrativa,
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com ênfase na administração pública municipal, eis que terrivelmente carente,


em sua maioria, de profissionais com preparação específica para, de maneira
proficiente, lidar com as questões financeiras surgidas no dia a dia do
planejamento e execução orçamentárias.

II. A ALTERAÇÃO CONSTITUCIONAL

Antes, ainda, de ingressar no estudo das normas introduzidas no texto


constitucional a partir da modificação do artigo 169 da Constituição Federal,
mais que oportuna, inclusive para fins de comparação, é a transcrição do texto
anterior. Estava, pois, o artigo 169 da CF/88 assim redigido:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União,


dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não
poderá exceder os limites estabelecidos em lei
complementar.

Parágrafo único. A concessão de qualquer vantagem ou


aumento de remuneração, a criação de cargos ou
alteração de estrutura de carreiras, bem como a admissão
de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da
administração direta ou indireta, inclusive fundações
instituídas e mantidas pelo Poder Público, só poderão ser
feitas:

I – se houver prévia dotação orçamentária suficiente para


atender às projeções de despesa de pessoal e aos
acréscimos dela decorrentes;
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II – se houver autorização específica na lei de diretrizes


orçamentárias, ressalvadas as empresas públicas e as
sociedades de economia mista.

Com a Emenda Constitucional n.º 19, publicada no DOU do dia 05 de


junho de 1998, passou a vigorar o artigo 169 com a seguinte redação:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União,


dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não
poderá exceder os limites estabelecidos em lei
complementar.

§ 1º. A concessão de qualquer vantagem ou aumento de


remuneração, a criação de cargos, empregos e funções
ou alteração de estrutura de carreiras, bem como a
admissão ou contratação de pessoal, a qualquer título,
pelos órgãos e entidades da administração direta ou
indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo
poder público, só poderão ser feitas:

I - se houver prévia dotação orçamentária suficiente para


atender às projeções de despesa de pessoal e aos
acréscimos dela decorrentes;

II - se houver autorização específica na lei de diretrizes


orçamentárias, ressalvadas as empresas públicas e as
sociedades de economia mista.

§ 2º. Decorrido o prazo estabelecido na lei complementar


referida neste artigo para a adaptação aos parâmetros ali
previstos, serão imediatamente suspensos todos os
repasses de verbas federais ou estaduais aos Estados, ao
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Distrito Federal e aos Municípios que não observarem os


referidos limites.

§ 3º. Para o cumprimento dos limites estabelecidos com


base neste artigo, durante o prazo fixado na lei
complementar referida no caput, a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios adotarão as seguintes
providências:

I - redução em pelo menos vinte por cento das despesas


com cargos em comissão e funções de confiança;

II - exoneração dos servidores não estáveis.

§ 4º. Se as medidas adotadas com base no parágrafo


anterior não forem suficientes para assegurar o
cumprimento da determinação da lei complementar
referida neste artigo, o servidor estável poderá perder o
cargo, desde que ato normativo motivado de cada um dos
Poderes especifique a atividade funcional, o órgão ou
unidade administrativa objeto da redução de pessoal.

§ 5º. O servidor que perder o cargo na forma do parágrafo


anterior fará jus a indenização correspondente a um mês
de remuneração por ano de serviço.

§ 6º. O cargo objeto da redução prevista nos parágrafos


anteriores será considerado extinto, vedada a criação de
cargo, emprego ou função com atribuições iguais ou
assemelhadas pelo prazo de quatro anos.

§ 7º. Lei federal disporá sobre as normas gerais a serem


obedecidas na efetivação do disposto no § 4º.
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Numa análise inicial e descuidada poder-se-ia concluir que todo trabalho


do legislador constituinte se resumiu em acrescentar ao único parágrafo do
texto inicial outros seis, enumerando-os, assim, do primeiro ao sétimo. A
atuação modificativa não se limitou, em verdade, a acrescentar parágrafos.

Examinando-se o texto inicial do dispositivo e comparando-o com a


forma modificada, pode-se constatar que, embora houvesse a previsão de
futura lei complementar federal para fixação dos limites da despesa pública
com pessoal de todos os entes estatais, foi mais longe o constituinte derivado
para vincular às condições trazidas nos incisos do § 1.º não apenas a criação
de cargos públicos, mas também a criação de empregos e funções. Bem assim,
não apenas a admissão de pessoal pelos órgãos e entidades seria vinculada,
incluindo-se, por igual, a contratação de pessoal. Como se viu, houve um
notável incremento no campo de incidência da norma constitucional a partir da
inclusão de figuras administrativas antes inexistentes, impedindo-se, destarte, a
utilização de tais figuras como válvulas de escape.

Os demais parágrafos e respectivos incisos, como se falou acima, foram


acrescentados pela EC n.º 19/98, dado que inexistiam no corpo do artigo 169
outros parágrafos além do primeiro, então intitulado parágrafo único. As normas
por tal veículo introduzidas no texto constitucional, incluindo-se o apontado
parágrafo primeiro, serão analisadas no decorrer do presente trabalho.

III. O NOVO ARTIGO 169 DA CF/88

Conforme acima transcrito, o caput do artigo 169 da Constituição Federal


(cujo texto não foi alterado pela EC n.º 19/98) estabelece norma de contenção
financeira endereçada aos entes estatais, impondo a todos não exceder os
limites a serem estabelecidos em lei complementar, para suas respectivas
despesas com pessoal ativo e inativo. Trata-se de norma constitucional de
eficácia limitada, dependente, portanto, da lei complementar posterior que
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viesse a definir os limites cuja observância obriga a União, os Estados, o


Distrito Federal e os Municípios.

JOSÉ PACIULLI (1977:19) define a despesa pública como sendo “o


gasto da riqueza pública, autorizado pelo poder competente, com o fim de
ocorrer a uma necessidade pública”, de modo que se deve entender a
disposição constitucional como sendo impositiva de um limite ao
comprometimento da riqueza pública, endereçado tanto aos legisladores,
responsáveis pela consolidação legal da programação financeira através da
votação e aprovação de um orçamento, quanto aos administradores,
responsáveis últimos pela fiel execução deste orçamento aprovado pelo Poder
Legislativo respectivo.

A lei complementar a que se refere o artigo 169 da Constituição somente


poderia ser lei complementar federal, não se podendo pretender, para
implemento do postulado constitucional, que fosse tal lei complementar de
edição pelos Poderes Legislativos de cada um dos entes estatais. De acordo
com os artigos 163 e 165, § 9.º, da Constituição, o estabelecimento de normas
gerais sobre finanças públicas será matéria de lei complementar e, consistindo
a opção do constituinte numa forma de unificar o disciplinamento normativo da
matéria, apenas através de lei complementar de iniciativa da União (portanto,
lei federal de caráter nacional) ter-se-ia por obtido tal desiderato.

A plena aplicabilidade do preceito constitucional acha-se hoje veiculada


pela Lei Complementar n.º 101, de 04 de maio de 2000, intitulada Lei de
Responsabilidade Fiscal, a qual definiu, em seu artigo 19, os limites da despesa
pública com pessoal ativo e inativo, em percentuais sobre a respectiva receita
corrente líquida, apurada nos termos expostos pela mesma lei complementar.
Estipulou-se, assim, para a União, o limite de 50% (cinqüenta por cento) e, para
Estados e Municípios, de 60% (sessenta por cento) da receita corrente líquida
de cada um dos entes estatais.

No § 1.º do artigo 169, alterado pela Emenda Constitucional n.º 19/98, a


Constituição Federal impõe como condição aos eventos que enumera, todos
estes com forte efeito hipertrofiante da despesa pública, a existência de prévia
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dotação orçamentária suficiente para atender às projeções de despesa de


pessoal e aos acréscimos decorrentes, bem como de autorização específica
contida na lei de diretrizes orçamentárias.

Com efeito, a concessão de vantagens pecuniárias (a exemplo da


instituição de uma gratificação ou adicional) e o aumento da remuneração de
servidores públicos provocam a imediata necessidade de maiores recursos
financeiros para arcar com o incremento da despesa. O mesmo raciocínio se
aplica à criação de cargos, empregos e funções na estrutura administrativa dos
entes públicos, bem assim quanto à admissão e contratação de pessoal. Frisa-
se, por fim, que as condições veiculadas pelo comentado § 1.º aplicam-se não
só à administração direta, como à administração indireta, excluídas,
precisamente quanto ao inciso II, as empresas públicas e sociedades de
economia mista.

No parágrafo seguinte, prescreve a Constituição Federal que decorrido o


prazo estabelecido na lei complementar referida neste artigo para a adaptação
aos parâmetros ali previstos, serão imediatamente suspensos todos os
repasses de verbas federais ou estaduais aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios que não observarem os referidos limites. O prazo para a
adaptação dos entes estatais aos limites previstos foi expressamente fixado
pela Lei de Responsabilidade Fiscal, em seu artigo 70, do seguinte teor:

Art. 70. O Poder ou órgão referido no artigo 20 cuja


despesa total com pessoal no exercício anterior ao da
publicação desta Lei Complementar estiver acima dos
limites estabelecidos nos artigos 19 e 20 deverá
enquadrar-se no respectivo limite em até dois exercícios,
eliminando o excesso, gradualmente, à razão de, pelo
menos, 50% a.a. (cinqüenta por cento ao ano), mediante
a adoção, entre outras, das medidas previstas nos artigos
22 e 23.
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De acordo com a Lei n.º 4.320/64, em seu artigo 34, “o exercício


financeiro coincidirá com o ano civil”, afirmando a doutrina, com muita
propriedade, que este artigo obedeceria ao mandamento constitucional que
estabelece, no artigo 165, § 9.º, I, competir à lei federal dispor sobre o exercício
financeiro. Veja-se aqui, pois, que tal pensamento não conflita com o acima
aventado acerca da competência da União para a edição de normas gerais em
matéria financeira, de caráter eminentemente nacional, aplicáveis a todos os
entes federativos.

Desta forma, pode-se concluir, a partir da leitura do § 2.º do artigo 169


da Carta Magna, em conjunto com o artigo 70 da Lei Complementar 101/2000,
que todos os entes estatais cuja despesa com pessoal ativo e inativo suplante
os limites previstos no artigo 19 deverão adotar medidas para, em dois
exercícios financeiros (dois anos), adaptarem sua situação jurídico-financeira
aos mencionados limites, à razão de, pelo menos, 50% a.a. (cinqüenta por
cento ao ano), sob pena de verem cessados os repasses de verbas federais ou
estaduais, compreendidos apenas aqueles oriundos de ato voluntário.

As transferências constitucionais tributárias, lastreadas em normas


constitucionais abarcadas por uma série de princípios constitucionais (v.g.,
princípio federativo, princípio da isonomia etc.), não podem ser bloqueadas e,
de fato, da leitura do artigo 23, § 3.º, I, da Lei de Responsabilidade Fiscal,
apura-se que restarão suspensas, enquanto perdurar a situação irregular, as
transferências voluntárias, excluídas, pois, as compulsórias.

Diferentemente de outras normas com acentuado caráter programático,


dada a natureza limitada apresentada pelo condicionamento de seus efeitos à
edição de lei posterior, já previu a Constituição Federal, no artigo 169, § 3.º,
com texto acrescentado pela Emenda Constitucional n.º 19/98, medidas a
serem adotadas pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, dentro do
prazo apontado no citado artigo 70, caso se encontrem com suas despesas
públicas em conflito com os preceitos da Lei de Responsabilidade Fiscal, isto é,
excedendo os limites definidos nos incisos do artigo 19. Tais providências,
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arroladas nos incisos do § 3.º, são escalonadas pelo constituinte de modo que
recorra o administrador, sucessivamente, às posteriores na hipótese das
anteriores não serem, por si, suficientes à correção da distorção.

Como primeira medida, aponta o constituinte derivado a possibilidade


dos entes estatais provocarem a diminuição de sua despesa pública com
pessoal ativo e inativo através da redução em pelo menos vinte por cento das
despesas com cargos em comissão e funções de confiança. A Carta Magna
estabelece um limite mínimo de redução quanto a tais espécies de cargos e
funções como condição de legitimidade do ato que passa a utilizar a medida
consecutivamente colocada à disposição dos entes estatais, e o motivo é óbvio.
Tanto os cargos em comissão como as funções de confiança não dependem de
concurso público e sua exoneração é, ordinariamente, ad nutum, isto é, ao
completo alvedrio da autoridade que houver feito a nomeação, não sendo
necessário qualquer procedimento administrativo para a exoneração de tais
servidores. Corroborando o pensamento esposado, ODETE MEDAUAR
(2000:329) assenta, em sua doutrina, que “o direito à permanência do cargo é
aferido pelo modo com que se perde o cargo”, arrematando a autora que “no
caso de servidores que ocupam cargos, funções ou empregos em comissão,
inexiste direito à permanência, porque são demissíveis ou dispensáveis ad
nutum; tais postos são de livre exoneração ou dispensa, pela autoridade
competente”.

Questão interessante que se coloca é se tal redução nas despesas deve


ser feita tão somente pela exoneração dos agentes públicos ocupantes ou, por
outro lado, se seria possível a diminuição da remuneração paga pelo exercício
do cargo em comissão ou da função de confiança. O artigo 37, XV, da
Constituição Federal, consagrando o princípio da irredutibilidade de
vencimentos, diz serem irredutíveis o subsídio e a remuneração dos ocupantes
de cargos e empregos públicos, não mencionando, assim, as funções públicas,
fazendo crer que, quanto a estas, não vigora o princípio da irredutibilidade,
sendo possível ao poder público, através de lei (lembre-se que o inciso X do
mesmo artigo consagra o princípio da legalidade em matéria remuneratória),
minorar a remuneração paga pelo exercício de função de confiança, sem que
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seja necessário, inicialmente, exonerar seu respectivo ocupante. Havendo, no


texto constitucional, expressa vedação no que pertine aos cargos, impossível
será a utilização de similar medida quanto aos cargos em comissão. A questão,
todavia, é tormentosa, eis que não estaria de todo descartada a utilização de
interpretação extensiva para ampliar o alcance da norma constitucional,
fazendo-a incidir sobre funções públicas, salvaguardando, em última análise, o
princípio da isonomia

Revelando-se inócua a medida acima descrita, prevista no inciso I do §


3.º do artigo 169, determina a Constituição Federal, no inciso II, a exoneração
de servidores não estáveis. Nos termos do artigo 41, caput, da Carta Magna, o
servidor ocupante de cargo público adquire estabilidade no serviço público
desde que, nomeado através de concurso de provas ou de provas e títulos para
cargo de provimento efetivo, conte com três anos de efetivo exercício e seja
aprovado na avaliação de desempenho. Forma excepcional de aquisição de
estabilidade foi inclusa no texto dos Atos das Disposições Constitucionais
Transitórias, artigo 19, onde se previu que os servidores públicos civis com pelo
menos cinco anos de exercício ininterrupto na data da promulgação da
Constituição, e cuja admissão não se tenha dado nos moldes do artigo 37,
seriam estáveis. A contrario senso, todos os demais servidores públicos
ocupantes de cargos de provimento efetivo não seriam estáveis, quer porque
foram nomeados por concurso público mas ainda não contam com três anos de
efetivo exercício, quer porque não foram nomeados por concurso e não
estavam em exercício desde 05 de outubro de 1983, quer, ainda, por não
serem ocupantes de cargo público.

Passa a exigir o texto constitucional, pois, como providência a ser


tomada, a exoneração dos servidores não estáveis, compreendidos estes nos
termos do que se expôs no parágrafo anterior. Há quem entenda, com base na
disposição no artigo 33 da Emenda Constitucional n.º 19/98, de que
“consideram-se servidores não estáveis, para os fins do artigo 169, § 3.º, II, da
Constituição Federal, aqueles admitidos na administração direta, autárquica e
fundacional sem concurso público de provas ou de provas e títulos após o dia 5
de outubro de 1983”, estaria o legislador constituinte admitindo duas
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modalidades diversas de servidores não estáveis, dizendo que podem ser


exonerados por força do artigo 169, § 3.º, II, da CF/88, apenas aqueles não
estáveis que ingressaram nos quadros da administração, sem concurso
público, após o dia 05 de outubro de 1983. Os servidores não estáveis que
tivessem ingressado por concurso público, mas cujo estágio probatório ainda
não houvessem concluído, não poderiam ser exonerados com base no
dispositivo constitucional em questão ou, melhor dizendo, não seriam, para os
efeitos do preceito constitucional em tela, servidores não estáveis.

O raciocínio peca por introduzir distinção onde não pretendeu a


Constituição distinguir, bem como por levar, em dado momento, a contradições.
A norma contida no artigo 33 da EC n.º 19/98 não é restritiva, mas meramente
expletiva, no sentido de que tais servidores, não abarcados pelo artigo 19 dos
ADCT, mas ainda não formalmente desligados da administração pública,
continuam servidores não estáveis, inclusive para os efeitos do artigo 169 da
Carta Federal. O absurdo da tese restritiva se mostra evidente ao se analisar o
parágrafo seguinte do artigo 169, onde se encontra disposição constitucional
autorizativa da exoneração de servidores estáveis.

Ora, se os servidores em estágio probatório, segundo o artigo 33 da EC


n.º 19/98, não podem ser classificados como não estáveis e, logicamente, não
são ainda servidores estáveis, estar-se-ia admitindo o despautério de que
servidores estáveis, com período de estágio probatório superado e há vários
anos no serviço público podem ser exonerados, mas não os servidores em
estágio probatório pois, não se adequando quer ao § 3.º, II, quer ao § 4.º do
artigo 169 da CF/88, estariam livres das medidas vislumbradas para o ajuste da
despesa pública com pessoal. Por tal motivo, a idéia dos servidores não
estáveis sui generis deve ser abandonada.

O § 4o. do artigo 169 da Constituição Federal, incluído no texto através


da comentada EC n.º 19/98, introduziu relevante modificação no sistema de
normas constitucionais que disciplinam o vínculo jurídico entre servidores
públicos e a administração, estabelecendo, além das formas clássicas, mais
uma modalidade de desligamento de servidores dos quadros do Poder Público.
Em seu texto, dispõe que:
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[...] se as medidas adotadas com base no parágrafo


anterior não forem suficientes para assegurar o
cumprimento da determinação da lei complementar
referida neste artigo, o servidor estável poderá perder o
cargo, desde que ato normativo motivado de cada um dos
Poderes especifique a atividade funcional, o órgão ou
unidade administrativa objeto da redução de pessoal.

Com o advento da Emenda Constitucional n.º 19/98, muito se comentou


que estaria abolida a estabilidade no serviço público, uma vez que, além dos
desligamentos voluntário e disciplinar, estaria criada uma nova forma de
exoneração de servidores estáveis. O pensamento não é correto. Não
abandonou a Constituição Federal a estabilidade no serviço público, e tanto é
assim que introduziu modificações na própria disciplina normativa de aquisição
de tal estabilidade, aumentando o período do estágio probatório para três anos
de efetivo exercício. A disposição constitucional que prevê a possibilidade de
exoneração de servidores estáveis, conquanto haja, realmente, inovado no
estabelecimento das causas que podem levar ao desligamento de servidor, não
acoberta qualquer exoneração oriunda do arbítrio administrativo.

Já se assentou que a Constituição escalonou as medidas a serem


tomadas pela administração na busca pelo equilíbrio da despesa pública e sua
restrição aos limites previstos da Lei de Responsabilidade Fiscal, exigindo que
adote o administrador a medida posterior caso não haja obtido integral êxito
com a utilização da anterior. A exoneração de servidores estáveis tem,
destarte, como primeira condição, que a diminuição em pelo menos vinte por
cento da despesa com cargos em comissão e funções de confiança (inciso I) e
a exoneração dos servidores não estáveis (inciso II) não tenham sido
suficientes para ajustar a despesa com pessoal ativo e inativo aos limites
previstos na lei complementar.
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Neste passo, oportuno abrir um parêntese para explicar a terminologia


empregada pelo constituinte, especialmente em se sabendo que, algumas
vezes, confundem os aplicadores do Direito os conceitos de demissão e
exoneração. De forma simples, pode-se dizer que, embora ambos os institutos
tenham como conseqüência a desvinculação jurídica entre servidor e
administração pública, a demissão é sempre um ato de punição disciplinar,
enquanto que a exoneração não advém de ato punitivo. Distinguindo os
conceitos, MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO (2001:480) afirma que “a
exoneração não é penalidade”, bem como que “já a demissão constitui
penalidade decorrente da prática de ilícito administrativo”.

A segunda condição para a exoneração de servidores estáveis, prevista


especificamente no § 4.º, é a necessidade da edição, pelo respectivo Poder
competente, de prévio ato normativo motivado que especifique a atividade
funcional, o órgão ou unidade administrativa que será objeto da redução de
pessoal. Cada um dos Poderes deverá, para ajustar-se aos limites legais, e em
sendo necessária a exoneração de servidores estáveis, editar o ato normativo
em questão. Sendo assim, verificado excesso de despesa com pessoal dos
quadros de um certo Estado, e constatando-se que a redução de despesa
deverá ser feita com a exoneração de servidores estáveis dos quadros dos
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, a autoridade responsável pela
respectiva gestão da estrutura administrativa de cada um dos Poderes é que
deverá editar o ato normativo exigido: o governador, para o Executivo; o
presidente do Tribunal de Justiça, para o Judiciário; a Mesa da Assembléia
Legislativa, para o Legislativo.

Quando fala a Constituição Federal de ato normativo não está a exigir lei
formal. Tal preceito não impõe restrição de caráter simplesmente formal, mas
visa impedir que o administrador, quando da exoneração dos servidores
estáveis, adote critérios eminentemente subjetivos, arbitrários, e termine por
violar importantes princípios constitucionais, como a isonomia e a
impessoalidade. Ato normativo, assim, significa ato abstrato, impessoal,
genérico, onde se estabeleçam critérios gerais e abstratos para a definição de
prioridades na escolha dos servidores que serão exonerados. Não pode o ato
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normativo simplesmente dizer que serão exonerados os servidores estáveis da


livre escolha da autoridade administrativa, pois estar-se-ia violando o princípio
da isonomia e da impessoalidade, além de conferindo ao gestor um poderoso
instrumento de exercício de pressão sobre funcionários públicos. Não se está a
dizer, aqui, que elementos subjetivos em relação aos servidores não possam
ser considerados. De certo modo, devem ser considerados, dando-se primazia
à exoneração de servidores com menor tempo de serviço, servidores com
remuneração mais alta ou servidores mais jovens. O que se impede é que a
subjetividade esteja na possibilidade de avaliação pelo próprio gestor, e não
pela simples constatação do enquadramento no apontado ato normativo.

Na edição do ato normativo constitucionalmente exigido, não apenas os


critérios para seleção dos servidores estáveis a serem exonerados deverão
constar de seu texto. De acordo com a Constituição e, precisamente, com a Lei
n.º 9.801/99, haver-se-á de definir a atividade funcional, o órgão ou unidade
administrativa objeto da redução de pessoal, impedindo a exoneração de
quaisquer servidores que, embora enquadráveis naqueles critérios acima
comentados, não façam parte do órgão ou da unidade administrativa definida,
nem exerçam a atividade funcional expressamente prevista. Tal exigência tem
sua razão de ser na necessidade de se restringir ao máximo a
discricionariedade administrativa na escolha dos servidores estáveis
exoneráveis por força do artigo 169 da CF/88.

Além das condições já comentadas, uma em especial merece destaque


no presente trabalho, especialmente pelo fato de que diversas administrações
municipais, cujas finanças públicas se encontravam em flagrante desrespeito
aos limites previstos da Lei de Responsabilidade Fiscal, apressaram-se em
tomar as medidas descritas nos §§ 3.º e 4.º do artigo 169 da Constituição
Federal, tropeçando em relevantes direitos e garantias constitucionais
fundamentais.

Com efeito, prevê a Constituição Federal, por um lado, a exigência de


contenção da despesa pública com pessoal ativo e inativo de cada um dos
entes estatais e, de outro lado, as medidas a serem adotadas caso, com o
advento da lei complementar definidora dos limites, encontrem-se ditos entes
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estatais a excedê-los, necessitando, assim, proceder ao devido ajuste de suas


finanças públicas. Fez-se, pois, a exigência e conferiram-se, por igual, os
instrumentos para seu regular atendimento, incluindo no rol de medidas
possíveis a exoneração de servidores não estáveis, bem como de servidores
estáveis no serviço público.

A exoneração de servidores públicos (estáveis ou não) implica no


desligamento do agente público dos quadros da administração a que serve,
com a perda imediata dos vencimentos, benefícios etc., significando uma
incontestável modificação negativa em sua situação de fato. Há, como se pode
ver, inegável agressão a interesses que, dependendo do caso concreto, podem
ou não ser embasados pelo Direito Positivo. Se a exoneração de servidores
estáveis e não estáveis depende do preenchimento de critérios e condições
fixadas em normas de caráter geral e abstrato (de muito maior rigidez para os
servidores estáveis), sob pena de invalidação através os meios jurídicos
cabíveis, impossível, lógica e juridicamente, negar-se a esses servidores a
possibilidade de contestar administrativamente a real existência de tais
requisitos, ou mesmo seu enquadramento nos critérios especificadores dos
servidores a exonerar.

Daí concluir-se pela inarredável aplicação às exonerações de servidores


públicos, estáveis ou não, como decorrência das medidas enumeradas no §§
3.º e 4.º do artigo 169 da CF/88, dos princípios do devido processo legal,
contraditório e ampla defesa, alçados à categoria de direitos e garantias
individuais pelo artigo 5.º da Constituição Federal, precisamente em seus
incisos LIV e LV, os quais consignam que ninguém será privado da liberdade
ou de seus bens sem o devido processo legal e aos litigantes, em processo
judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

Torna-se manifestamente inconstitucional a exoneração de servidores


públicos, ainda que a pretexto de aplicação das medidas preconizadas pelo
artigo 169 da Constituição Federal, se as garantias constitucionais apontadas
no parágrafo anterior são violadas e o ato exoneratório não é precedido de
procedimento administrativo regular em que se assegure ao servidor
18

interessado o exercício das garantias do contraditório e da ampla defesa. Vale


dizer que o preenchimento das condições e requisitos constitucionais e legais
para a legitimidade da atuação administrativa na exoneração de servidores
públicos deverá ser demonstrado dentro de um procedimento administrativo
regular individual para cada servidor, dialético, contraditório, e com francas
oportunidades ao interessado para apresentar defesa e produzir provas e
contra-provas.

Tratando do assunto, ALEXANDRE DE MORAES (2000:216) ensina,


apontando tais garantias como aplicáveis, segundo o próprio mandamento
constitucional, em processos judiciais ou administrativos, que:

[...] por ampla defesa, entende-se o asseguramento que é


dado ao réu de condições que lhe possibilitem trazer para
o processo todos os elementos tendentes a esclarecer a
verdade ou mesmo de omitir-se ou calar-se, se entender
necessário, enquanto o contraditório é a própria
exteriorização da ampla defesa, impondo a condução
dialética do processo.

Assim sendo, o simples fato de encontrar-se um dado ente estatal a


superar os limites máximos previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal para a
despesa pública com pessoal ativo e inativo (sendo necessária a aplicação das
medidas preconizadas pela Constituição Federal para o devido ajuste, no prazo
fixado no artigo 70 da citada lei complementar) não autoriza dito ente a fazer
uso do expediente de exonerar servidores públicos sem qualquer procedimento
administrativo, sem contraditório, sem defesa. O procedimento prévio é garantia
de correção e lisura do ato final de exoneração, sendo o meio necessário para
que se evitem injustiças e arbitrariedades administrativas na obtenção de
conseqüências pretendidas pelo Direito. Por outras palavras, não se pode
querer que os fins (adequação das finanças públicas aos limites da LRF)
19

justifiquem quaisquer meios adotados pela administração na obtenção destes


fins (exoneração de servidores com violação de garantias constitucionais).

Neste momento, torna-se oportuno tecer algumas considerações sobre o


§ 6.º do dispositivo constitucional em comentário, especialmente pela
importância de que se reveste na demonstração da grandiosa necessidade de
realização do procedimento administrativo prévio para a exoneração dos
servidores públicos como meio de ajuste da despesa com pessoal. Diz o § 6.º
que “o cargo objeto da redução prevista nos parágrafos anteriores será extinto,
vedada a criação de cargo, emprego ou função com atribuições iguais ou
assemelhadas pelo prazo de quatro anos.”

De acordo com HELY LOPES MEIRELLES (2000:380), “cargo público é


o lugar instituído na organização do serviço público, com denominação própria,
atribuições e responsabilidades específicas e estipêndio correspondente, para
ser provido e exercido por um titular, na forma da lei”, donde se vê que o
saudoso administrativista associa o cargo público ao locus, na estrutura jurídica
administrativa, ocupado por um titular, servidor público.

Segundo a disposição constitucional ora comentada, passando a


administração pública a exonerar servidores, primeiro, os não estáveis e,
posteriormente, os estáveis, automaticamente estará extinguindo os cargos
públicos anteriormente ocupados por tais pessoas. Daí a necessidade de
expressa definição, em ato normativo geral e abstrato, da atividade funcional
exercida pelo servidor público em vias de exoneração, bem como do órgão ou
unidade administrativa na estrutura do qual se situa o cargo público por ele
ocupado, o qual será automaticamente extinto com a exoneração de seu
respectivo titular. Evitando burla ao mandamento constitucional, estabeleceu o
legislador constituinte derivado a proibição, nos quatro anos seguintes à
exoneração dos servidores, de criação de quaisquer cargos, funções ou
empregos públicos com atribuições iguais ou assemelhadas às exercidas por
força do cargo extinto.

A relevância do procedimento administrativo prévio como condição para


a legitimidade da exoneração de servidores públicos (estáveis ou não) pode ser
20

aferida a partir do seguinte exemplo: imagine-se que certo servidor público


estável, lotado na Secretaria Municipal de Educação, esteja temporariamente
cedido à Secretaria de Transportes Urbanos, constatando-se, neste município,
a necessidade de exoneração de servidores estáveis. Com a expedição do ato
normativo a que se refere o § 4.º do artigo 169 da CF/88, define o senhor
Prefeito Municipal, como órgão sobre o qual incidirá a redução de pessoal,
aquele, vinculado à Secretaria de Transportes Urbanos, onde presta serviços o
citado servidor estável. Surge a questão: poderá tal servidor, para correção da
despesa, estando a prestar serviços na Secretaria de Transportes Urbanos, ser
exonerado? A resposta deverá ser negativa.

Em primeiro lugar, o servidor em questão é titular de um cargo público


situado na estrutura administrativa da Secretaria de Educação, não sendo ele
efetivamente lotado na Secretaria de Transportes Urbanos. O título jurídico
para seu exercício perante esta Secretaria baseia-se em simples ato
administrativo de cessão, não importando mudança de titularidade de cargo
público, exatamente porque implicaria novo provimento, dependente, pois, de
prévio concurso público. O cargo público ocupado por tal servidor não poderá
ser objeto de redução de pessoal, nem tampouco ser posteriormente extinto
(nos exatos termos do § 6.º do artigo 169), por não haver sido a Secretaria de
Educação vislumbrada no ato normativo editado pelo prefeito como um dos
órgãos ou unidades administrativas sobre que incidirá a redução de pessoal
(CF/88, art. 169, § 4.º). Em conclusão, não estando situado o cargo público
(ocupado pelo servidor hipotético) na estrutura administrativa do órgão indicado
no ato normativo como objeto de redução de pessoal, embora tenha exercício
perante este órgão, não poderá o servidor ser exonerado, uma vez não se
enquadrar nos critérios e requisitos arrolados no apontado ato normativo.

A relevância do procedimento administrativo regular, com garantia do


contraditório e da ampla defesa, exsurge clara a partir da premissa de que a
administração pode, sem sombra de dúvidas, cometer erros e injustiças na
apreciação dos requisitos e elementos definidos na Constituição Federal, na Lei
de Responsabilidade Fiscal e mesmo no ato normativo cuja expedição é
exigida no § 4.º como condição para a exoneração dos servidores estáveis.
21

Sendo ilegal a atuação administrativa (não importando se a ilegalidade advém


de mero equívoco ou má-fé do administrador), o princípio da inafastabilidade da
jurisdição (CF/88, artigo 5.º, XXXV) leva à ilação de que o ato final, eivado de
nulidade, será irremediavelmente anulado pelo Poder Judiciário. Presente a
cabal possibilidade de dar a administração causa a lesões aos direitos
individuais de seus servidores, especialmente pela gravidade das
conseqüências do desligamento ilegal e arbitrário, é preciso que todas as
questões que tornam ilegítima a atuação administrativa sejam discutidas
também em sede administrativa, não se decidindo contra os interesses de um
funcionário sem que se lhe confira a oportunidade de se manifestar, o que deve
ser feito dentro de um procedimento administrativo regular, dialético,
contraditório, com todas as oportunidades jurídicas para a ampla defesa de
seus direitos.

Em sede jurisprudencial, tamanha a importância dos postulados


constitucionais que garantem o contraditório e a ampla defesa, já se solidificou
o entendimento de serem nulos os feitos judiciais e administrativos em que tais
garantias não são conferidas. Sobre o assunto, decidiu o Tribunal Regional
Federal da primeira Região da seguinte maneira:

CONSTITUCIONAL – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS


DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA –
VIOLAÇÃO – CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA, ART. 5º,
LV – I. O convite para tratar de assunto de interesse da
empresa e a permissão de oferecimento de
esclarecimentos não atende ao contraditório e à ampla
defesa, constituindo-se em meros simulacros dessas
garantias constitucionais. II. Recurso e remessa oficial
improvidos. (TRF 1ª R. – AMS 01194310 – BA – 4ª T. –
Relª Juíza Conv. Vera Carla Cruz – DJU 26.01.200. – p.
14).
22

Especificamente em matéria de procedimento administrativo disciplinar,


e reconhecendo a validade do procedimento administrativo em que tais
garantias constitucionais foram devidamente asseguradas ao interessado,
assim se pronunciou o Superior Tribunal de Justiça em recente decisão:

ADMINISTRATIVO – FUNCIONÁRIO PUBLICO –


DEMISSÃO – PORTARIA INSTAURADORA DO
PROCEDIMENTO – NULIDADE – INOCORRÊNCIA –
AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO OBEDECIDOS –
1 – Se, embora sucinta, descreve a portaria os fatos
imputados ao servidor, oportunizando-lhe exercer seu
direito de defesa, não há falar em nulidade daquele ato
vestibular. 2 – Observados o contraditório e ampla defesa,
não se pode acoimar de nulo processo administrativo que
culminou a demissão de funcionário público. Precedentes
desta Corte. 3 – Recurso ordinário improvido. (STJ –
ROMS 10577 – PA – 6ª T. – Rel. Min. Fernando
Gonçalves – DJU 04.09.2000 – p. 00198.).

Não esquecer que a garantia constitucional do devido processo legal,


necessidade do contraditório e da ampla defesa não se aplicam apenas à
exoneração dos servidores públicos estáveis, mas também aos servidores não
estáveis. Já se assentou nos tribunais brasileiros a impossibilidade de se
demitirem ou exonerarem servidores não estáveis sem a realização de
procedimento administrativo prévio com garantia do contraditório e da ampla
defesa. Nestes termos se pronunciou o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro:

SERVIDOR PÚBLICO CONCURSADO – ESTÁGIO


PROBATÓRIO – NOMEAÇÃO – POSSE DO CARGO –
EXONERAÇÃO – ATO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA –
23

ILEGALIDADE – PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO –


NECESSIDADE – RECURSO DESPROVIDO – "Apelação
Cível. Direito Administrativo. Mandado de Segurança.
Estágio probatório. Exoneração promovida pela
Administração, alegando não mais serem necessários os
préstimos dos servidores, após a respectiva posse e
nomeação. Ilegalidade. O afastamento de servidor
público, ulterior à respectiva nomeação e posse, só pode
ocorrer com prévia instauração de procedimento
administrativo onde se lhe assegure contraditório e ampla
defesa, ainda que o servidor se encontre em estágio
probatório. Entendimento consagrado pelo Supremo
Tribunal Federal na Súmula n. 21: "funcionário em estágio
probatório não pode ser exonerado nem demitido sem
inquérito ou sem as formalidades legais de apuração de
sua capacidade". Está a mesma exigência, ademais,
implícita no artigo 5., inciso LV, da Constituição Federal,
que assegura aos acusados em geral, nos processos
judicial e administrativo, o contraditório, a ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes. Recurso
desprovido. Sentença confirmada em reexame obrigatório
(MCT).(TJRJ – AC 8135/1999 – (17052000) – 15ª C.Cív.
– Rel. Des. José Pimentel Marques – J. 15.03.2000).

O procedimento administrativo se revela, segundo compreensão


autorizada pelas considerações acima formuladas, a um só tempo, como uma
das condições de validade do ato exoneratório de servidor público, estável ou
não, e como forma de demonstração da presença real de todos os demais
requisitos necessários à legitimação desta mesma atuação. A simples
existência material dos requisitos constitucionais e legais não autoriza a
exoneração de servidores se sua efetiva demonstração não se operou no
âmbito de um procedimento administrativo regular e dialético em que se tenha
24

assegurado ao servidor interessado a oportunidade hábil para o exercício de


seu direito à ampla defesa.

Dando-se continuidade ao estudo das disposições normativas contidas


no artigo 169 da Constituição Federal, com redação da Emenda Constitucional
n.º 19/98, depara-se, no § 5.º, com disposição que visa amenizar o prejuízo
suportado pelo servidor estável que perdera o cargo nos termos do § 4.º.
Estabelece a Constituição Federal fazer dito servidor jus a indenização
correspondente a um mês de remuneração por ano de serviço. O prazo para
pagamento da indenização a que se refere este parágrafo, nos termos do que
dispõe o artigo 2.º, § 1.º, V, da Lei n.º 9.801/99, haverá de ser previsto no ato
normativo expedido com base no § 4.º do mesmo dispositivo constitucional.

Diz o artigo 169 da Constituição, através de seu § 7.º, que lei federal
disporá sobre as normas gerais a serem obedecidas na efetivação do disposto
no § 4.º, retirando do citado § 4.º a eficácia plena que sua redação lhe parecia
conferir. Com efeito, ao remeter o constituinte derivado ao legislador
infraconstitucional a edição de lei federal para veiculação de normas gerais a
serem obedecidas no procedimento de exoneração de servidores estáveis, a
uma, afirmou não ser a providência contida no § 4.º de aplicação imediata,
dependendo sua plena aplicabilidade da expedição das normas gerais a que se
refere o § 7.º. A duas, exigindo a Carta Magna lei federal para edição das
normas gerais, impediu que Estados, Distrito Federal e Municípios fizessem
imediato uso do poder conferido pelo § 4.º, pois, sendo a União o ente estatal
privativamente competente para a edição da lei em questão, restaram
vinculados os demais entes federativos à atuação normativa unificadora da
União Federal, só podendo fazer uso do citado preceito constitucional (§ 4.º)
quando a União, editando as normas gerais exigidas pelo § 7.º,
complementasse o preceito, dando-lhe plena eficácia.

A aludida lei definidora de normas gerais, de obediência necessária por


todos os entes estatais, sobre a aplicação do § 4.º do artigo 169 da
Constituição Federal, segundo exigido pelo § 7.º, fora editada em 14 de junho
de 1999, consistindo na Lei Federal (ordinária) n.º 9.801/99. Importante, neste
passo, a transcrição de seus artigos 2.º e 3.º, os quais definem os elementos
25

constantes do ato normativo a ser editado pelos Chefes de cada um dos


Poderes, bem como os eventuais critérios para seleção dos servidores a serem
exonerados.

Art. 2º A exoneração a que alude o artigo 1º será


precedida de ato normativo motivado dos Chefes de cada
um dos Poderes da União, dos Estados, dos Municípios e
do Distrito Federal.

§ 1º O ato normativo deverá especificar:

I - a economia de recursos e o número correspondente de


servidores a serem exonerados;

II - a atividade funcional e o órgão ou a unidade


administrativa objeto de redução de pessoal;

III - o critério geral impessoal escolhido para a


identificação dos servidores estáveis a serem desligados
dos respectivos cargos;

IV - os critérios e as garantias especiais escolhidos para


identificação dos servidores estáveis que, em decorrência
das atribuições do cargo efetivo, desenvolvam atividades
exclusivas de Estado;

V - o prazo de pagamento da indenização devida pela


perda do cargo;

VI - os créditos orçamentários para o pagamento das


indenizações.

§ 2º O critério geral para identificação impessoal a que se


refere o inciso III do § 1º será escolhido entre:
26

I - menor tempo de serviço público;

II - maior remuneração;

III - menor idade.

§ 3º O critério geral eleito poderá ser combinado com o


critério complementar do menor número de dependentes
para fins de formação de uma listagem de classificação.

Guardando absoluta simetria com o preceito constitucional, a Lei n.º


9.801/99, estabelecendo normas gerais de caráter nacional, dirigidas à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, uniformiza, no campo
normativo, a disciplina dos requisitos a serem obedecidos pelos entes estatais
na aplicação concreta do § 4.º do artigo 169 da Constituição Federal, impedindo
o arbítrio de administradores menos comprometidos com a correta
administração das finanças públicas, e conferindo, finalmente, plena
aplicabilidade ao preceito ora comentado.

Trata-se, como se vê, de poderoso instrumento colocado nas mãos do


bom gestor público na contenção de gastos com pessoal e na utilização
racional da riqueza pública segundo um orçamento-programa eficientemente
constituído a partir de profunda pesquisa de campo, consultas à opinião pública
e transparente discussão parlamentar, sopesando-se todas as prioridades
administrativas e abraçando-as de forma condizente com o já previsto no Plano
Plurianual e na Lei de Diretrizes Orçamentárias.

IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta do presente trabalho sempre foi a de traçar um panorama


teórico-prático através do estudo da modificação introduzida no artigo 169 da
27

Constituição Federal por meio da Emenda Constitucional n.º 19/98. Os


relevantes efeitos da Emenda se fizeram sentir, exemplificativamente, em
matéria orçamentária, financeira, constitucional e administrativa, demandando
um exame multidisciplinar dos efeitos decorrentes da nova roupagem do
preceito constitucional, sem que se olvidasse, quanto possível, o objeto central
de estudo.

Neste trajeto, como se viu, fora necessário discutir os possíveis conflitos


de ordem prática advindos do exercício concreto, pelos gestores públicos, dos
novos poderes conferidos como instrumentos para o ajuste da despesa pública
com pessoal ativo e inativo, nos termos dos limites previstos na lei
complementar mencionada no caput do artigo. Princípios constitucionais de
suma importância se viram ameaçados pela afoita atuação administrativa, e
não se prescindiu da oportunidade de tecer algumas linhas quanto a tal
relevante aspecto constitucional.

De tudo acima dito, impera guardar o significado da modificação


constitucional, eis que parece expressar a novel orientação dos Poderes da
União, Estados, Distrito Federal e Municípios no sentido de eliminar-se a
nefasta prática administrativa voltada para o desnecessário
superdimensionamento da máquina estatal, com a transformação de cargos,
empregos e funções públicas em moeda política, simples objeto de troca, em
detrimento da riqueza pública, das receitas e do patrimônio público.

A busca pelo ideal de justiça na utilização dos recursos públicos e a


coibição dos abusos praticados no passado constituem um longo caminho a
trilhar. A Emenda Constitucional n.º 19/98, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a
Lei n.º 9.801/99, dentre outras, foram passos importantes neste caminho. Mas
ainda não se pode pensar em parar.

V. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
28

BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à Ciência das Finanças. 14. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1995.

CITADINI, Antônio Roque. O Controle Externo da Administração Pública. São


Paulo: Max Limonad, 1995.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo:
Atlas, 2001.

MACHADO JR., J. Teixeira e REIS, Heraldo da Costa. A Lei 4.320 Comentada.


30. ed. Rio de Janeiro: IBAM, 2000/2001.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo. 25. ed. São Paulo: Malheiros,
2000.

MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 4. ed. São Paulo: Editora


Revista dos Tribunais, 2000.

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

PACIULLI, José. Direito Financeiro. 3. ed. São Paulo: José Bushatsky Editor,
1977.

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