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MÍDIA

Jornalismo e
ativismo na
hipermídia:
em que se pode
reconhecer a
nova mídia “Donʼt hate the media. Be the media.”
RESUMO The Independent Media
O presente artigo aborda a maneira pela qual canais de tv Center
aberta veicularam o episódio da reunião minesterial da OMC
(Organização Mundial de Comércio) ocorrida em 1999 e Q UEM SE LIMITOU a acompanhar os
mostra como essa cobertura jornalística foi contestada pela acontecimentos da III reunião ministerial da
emergência de uma nova mídia, o IMC (Independent Media Organização Mundial do Comércio (OMC),
Center) localizado principalmente na internet. ocorrida entre 30 de novembro e 2 de
dezembro de 1999, pela grande imprensa
ABSTRACT diária impressa, falada ou televisada pode
This article discusses the way open tv channels of the main ter certeza de que perdeu da missa a
networks broadcasted the 1999 World Trade Organization metade. Pior se tiver
(WTO) meeting, while showing at the same time how their ficado restrito ao no ti ci á rio te le vi si vo
journalistic coverage was contested by a new, emerging produzido pela Rede Globo, hegemônico
medium, the Independent Media Center (IMC), which reported no Brasil. Deve estar acre di tan do, até
the event from a site on the internet. agora, que toda confusão ocor ri da na
linda cidade de Seattle - uma pequena jóia
PALAVRAS-CHAVE (KEY-WORDS) incrustada na costa noroeste do Pacífico
- Hipertexto (Hypertext) nos EUA -, deveu-se à indignação dos
- Cibercultura (Cyberculture) fazendeiros de todo o mundo contra o
- Novas tecnologias (New technologies) protecionismo do governo norte-americano
subsidiando agressivamente seus produtos
agrícolas. Deve achar, também, que o fato
mais relevante do encontro foi o protesto
da delegação brasileira contra as sanções
econômicas impostas aos produtos das
nações cujo mercado de trabalho emprega
mão-de-obra infantil em regime de semi-
escravidão e cujo salário mínimo está
abaixo da linha de decência global, como é
o caso do governo brasileiro. O embaixador
brasileiro Carlos Lampreia (para ele, ao
menos, significante é destino) fez inúmeras
aparições na telinha da Globo, sempre
an co ra do pelo ex-informante do SNI
Henrique Antoun Alexandre Garcia, apresentado como o
Prof. da ECO/UFRJ “herói” que tinha a “coragem” de contrariar

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os po de ro sos interesses econômicos de terça-feira, 30/11/1999, o “choque”
dos Es ta dos Unidos, defendendo o televisivo: o pre fei to de Seattle, um
direito à “competitividade” dos produtos democrata liberal, tinha posto a cidade sob
agrícolas brasileiros e o direito a praticar o estado de emergência. A CNN, sempre
salários “di fe ren ci a dos”, sem os quais “ousada”, montou uma mesa dirigida por
o agribusiness pátrio “iria à bancarrota” seu principal âncora com o prefeito e o
(são salários de menos de um dólar por chefe de polícia de Seattle para discutir os
dia utilizados para remunerar o trabalho motivos da decisão e os desdobramentos
“informal” da mão-de-obra infantil na que deveriam se seguir. Agora outras
agricultura comercial brasileira). Tivessem imagens apareciam na telinha: latas de
essas aparições sido seguidas do anúncio lixo quei man do, vi dra ças que bra das e
da Unicef, dizendo que o uso de mão-de- ameaçadoras cri a tu ras mas ca ra das e
obra infantil é crime e que lugar de criança vestidas de negro, as rou pas co ber tas
é na escola, e teríamos o melhor 3x4 da de tachas pra te a das com bi nan do com
credibilidade e integridade de propósitos do pul sei ras e coleiras cheias de pre gos
atual governo de coalizão PSDB/PFL. também prateados. Soube-se então que
Mas não estava muito melhor a sessão de abertura da reunião havia
in for ma do quem procurou as notícias sido cancelada e que a medida visava a
nos canais da TV a cabo, como a CNN, proteger o presidente dos Estados Unidos,
ou o noticiário da ABC e NBC fornecidos Bill Clinton, que discursaria no dia seguinte,
pela Su pers ta ti on. Todos esses canais de uma mi no ria (sic) radicalizada de
se pautaram por atitude semelhante. Em baderneiros que tinham levado a cidade
um primeiro momento re por ta vam os ao caos com sua vi o lên cia. Nos dias
comunicados pro du zi dos pela agência que se seguiram o jornalismo das velhas
de notícias do World Trade Center, sede mídias prosseguiu seu desfilar de sorrisos
da OMC onde se re a li za va a reunião, tranqüilizantes para o público e cenho e
complementando-os com entrevistas e sobrolhos franzidos para os manifestantes
reportagens. Vez em nunca uma pálida — qualificados como ciberpunks. O detalhe
alu são, nada que ultrapassasse cinco mais grotesco ficando para a atitude da
segundos, aos “protestos” de “grupos” que loura platinada repórter da MSNBC, que
aconteciam em um mundo aparentemente no seu afã de oficialidade passou a relatar
“irreal”, pois se estendia para além das as atividades repressivas levadas a cabo
fron tei ras enquadradas nas câ me ras, pela polícia e a guarda especial usando
circunscritas aos limites do prédio. o cômico pronome “nós”, o que mandava
A gritante ausência de imagens “dos definitivamente para o espaço qualquer
protestos”, neste primeiro momento, era o si mu la ção de isenção jor na lís ti ca na
sintoma mais evidente de que algo estranho transmissão dos fatos.
ao universo do espetacularizável estava A indecente cobertura jornalística
acontecendo. Os protestos eram aludidos da velha mídia corporativa e centralizada,
sob uma dupla ótica neste momento: da qual foi enfocada apenas a face mais
ou eram apresentados como crí ti cas generalizada e agressiva — a da TV aberta
corporativistas à liberdade comercial, feita ou por cabo —, teria só o amargo sabor de
por grupos contrários à competitividade fim de século e milênio, não tivesse ela sido
global; ou eram baderna de anarcopunks afrontada pela emergência de uma nova
e delinqüentes afins. Única exceção feita mídia, o Independent Media Center (IMC)
aos am bi en ta lis tas e suas gigantescas — sediado sobretudo na Internet —, que,
tartarugas verdes dançarinas, enquadradas ao final do movimento conhecido como
invariavelmente tendo o céu por fundo e Batalha de Seattle, tornou-se o principal
a batucada por som ambiente. Na noite órgão de notícias sobre o acontecimento.

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Os grandes acontecimentos chegam se apresentam:
com pés de pomba — ensinou outrora um O Independent Media Center
filósofo — e quando seu ruidoso rumor nos (Centro Independente de Mídia) é uma
atinge estamos apenas a ouvir os ecos de rede de co mu ni ca ção de protestos
sua efetuação.1 O surgimento desta nova dirigida co le ti va men te visando à
mídia — gerada pelo entrelaçamento das criação de narrações radicais, acuradas
teias da Internet com o interativismo do e apaixonadas da verdade.
ciberespaço, como resultado do casamento Nós funcionamos através do amor
da política de ação direta do novo ativismo e inspiração de pessoas que continuam
com a potência interativa, descentralizadora a trabalhar por um mundo melhor, apesar
e anárquica dos sistemas hipermídia — é das dis tor ções e má vontade da mídia
a explosão do silencioso movimento de corporativa para cobrir os esforços para
sedimentação das comunidades virtuais ao libertar a humanidade.5
longo destes anos. Seu estrondo pergunta O resultado de sua cobertura
pelo sentido das silenciosas palavras da da ma ni fes ta ção mudou os rumos do
programação, que construíram a Internet movimento e do próprio jornalismo.
en quan to meio, pois elas trouxeram a Usando o material co le ta do, o IMC de
tempestade da anarquia para assombrar Seattle produziu documentários que são
o horizonte da organização capitalista no distribuídos através de satélite ou vendidos
mundo globalizado. como vídeos para todo o planeta. O
centro produziu também um jornal que
é distribuído gratuitamente pela rede,
Ativismo, ação direta e nova mídia no formato PDF, para ser im pres so e
redistribuído nas localidades. Ao final da
O IMC foi criado por organizações cobertura o website do centro atingiu a
e ati vis tas da mídia independente e marca de dois milhões de conexões e foi
alternativa com o propósito de oferecer apresentado pelo AOL, Yahoo, CNN, BBC
uma rede para a cobertura jornalística dos Online, entre outros importantes portais
protestos de novembro de 1999 contra e jornais da Internet. Seus segmentos
a OMC em Seattle. de áudio se espalharam pelas rádios da
Construído a partir do conceito de mídia Internet. Para completar, os Centros de
sob demanda 2, o IMC se propunha a Mídia Independente (IMC) começaram
fazer uma cobertura minuto a minuto dos a se multiplicar, primeiro pelos Estados
acontecimentos ligados à manifestação, Unidos e, logo depois, rapidamente, por
usando um democrático sistema de edição vários continentes do planeta. Através de
aberta (open-publishing 3 ) e atu an do uma rede des cen tra li za da e autônoma,
como uma câmara de compensação de centenas de ativistas da mídia de todo o
informações para jornalistas, recolhendo mundo cons tru í ram seus próprios IMC.
e dis po ni bi li zan do, ao mesmo tempo, Um ano após seu surgimento havia mais
reportagens, áudios, fotos e vídeos em um de 30 centros espalhados por toda parte
regime de copyleft4 através de seu website. do mundo acompanhando os rastros das
Cobrir o acontecimento para o IMC significa manifestações de protesto aos processos
participar ativamente de sua elaboração antidemocráticos e opacos que regem as
e não apenas noticiar as ações que se agências gestoras do controle do processo
desenrolam quando de sua manifestação. de globalização (FMI, BM, FEM, G8 etc).
O colunista americano Naomi Klein, em um Se no início da popularização
elogio público dirigido ao IMC, ressalta esta da In ter net a revista Wired marcou a
característica como assinalando a fusão da emergência da imagem do digerati6 liberal
mídia com o ativismo. Como eles próprios — que se caracterizava por uma imensa

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voracidade para o saber e o consumo da manifestações de protesto. As
novidade tecnoeletrônica — como figura comunidades nascidas do ci be res pa ço
emblemática de uma “nova consciência” in tro du zi ram nas novas ma ni fes ta ções
nascida da Rede, o IMC assinalou a reu nião dos participantes através de
explosivamente a presença de um ativismo gru pos de afinidade, 13 sua distribuição
nativo do ciberespaço que em tudo se em clusters de processamento paralelo14
distancia desta imagem. Ao contrário do e sua coordenação nos acontecimentos
digerati que tendia a apresentar as novas através dos conselhos de porta-vozes,15
tecnologias como o verdadeiro sujeito das rein ven tan do o sen ti do das práticas
transformações — fazendo toda liberalidade de mo crá ti cas nas de li ca das relações
e globalização do mundo derivar de entre grupos de atuação po lí ti ca de
forma direta do caráter descentralizado e diversos matizes. 16 Tra ta-se, para
integrador da Internet7 —, o ativista acredita estas comunidades, de subs ti tuir as
que a novidade de um meio só ganha for mas democráticas representativas e
expressão através da atividade que se me di a ti za das por núcleos centralizados
apropria dele e se desenvolve integrando- (Es ta do) e seus órgãos de ação
se a suas novas potencialidades.8 Não (ins ti tui ções) por uma democracia de
basta contrapor a Internet às velhas mídias participação interativa, constituindo uma
apontando o caráter da comunicação de rede de ação direta.17
um para muitos dos antigos meios e o
caráter de muitos para muitos do novo.9 É
preciso, ainda, inventar as atividades que Escolha, liberdade e resistência
façam do novo meio a expressão de uma
nova vida. Este novo ativismo foi elaborado Antes da emergência do ativismo e da
pelos so bre vi ven tes das ex pe ri ên ci as nova mídia parecia que toda resistência
comunitárias e políticas do final dos anos ao ca pi ta lis mo globalizado estava
60 e início dos setenta; depurado pelo fadada aos ge mi dos impotentes da
terror do Estado dos setenta e fez sua recusa à globalização ou à lamentação
travessia pelo deserto em direção à terra melancólica do contínuo enfraquecimento
prometida através do exílio, da prisão ou dos velhos meios de luta (sindicatos,
do movimento dos computadores, redes partidos, estatização dos serviços...). Em
e ONGs dos 80.10 Ele fez da comunicação contrapartida a essa falta de opções da
me di a da por com pu ta dor (CMC) seus resistência, a mídia corporativa global, que
sen ti dos cognitivos e sua mente. se sustenta na exploração das atualidades,
Programando os softwares da CMC como sempre tinha para nos oferecer um torpe
novos instrumentos para o pensamento e a leque de escolhas que api men ta vam o
ação, o novo ativismo integrou na Internet aborrecimento do nosso dia a dia.
seu olho, suas imagens, seu ou vi do, Ela nos incitava a escolher entre a
suas sonoridades, sua boca, suas falas, ferocidade da modernidade e a da miséria,
sua pele, seus contactos, sua memória entre a soberania da ONU e a de Saddam
e suas conexões, até construir uma teia Hussein, entre a prepotência da OTAN e a
comunitária tornando o corpo apto a viver da Sérvia, entre a boçalidade do assaltante
no ciberespaço.11 Através e a da po lí cia; enquanto assistíamos
da prática da ação direta fez da CMC um ao des fi lar sem-fim do desalento dos
lugar de percepção, afeto e atividade para que nunca mais terão um emprego, ao
as novas comunidades virtuais. Formadas estarrecido ama nhe cer dos iraquianos
de modo autopoético12, sob um modo de fundidos aos escombros dos bombardeios,
governo anárquico, as comunidades virtuais à fuga de ses pe ra da dos ko so va res no
transformaram a organização política das fogo cruzado da Sérvia e da OTAN e ao

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aterrorizante espetáculo da histeria dos in for ma ção adequada que eliminará
reféns fabricados pelas empresas para o excesso de dados do fato atual. 21 O
servir de escudo vivo na proteção de seu marketing — em sua elaboração das
dinheiro. Ao mesmo tempo em que todos formas de garantia do sucesso global — é o
esses dados pipocavam sem cessar grande ditame moral que o Estado Imperial
colorindo nossa digestão, caminhávamos oferece à atitude contemporânea. Ele nos
tropeçando pelas ruas nos corpos estirados aconselha a escolha de procedimentos de
do ser aí habitando o de sam pa ro dos baixo risco para integrar a grade de nossa
bancos e das calçadas, errando sem-fim programação diária no cálculo de nossos
por terra, mar e ar, suportando o eterno gestos. A fama deixou de ser o brilho
exílio da vida no Império global. efêmero do que se distingue na ousadia
Até que uma intempestiva Seattle irrompeu de um ato, para tornar-se o sucesso de um
súbita — transformando o desamparo em programa de ação medido pelo ilimitado
festa, a errância em comício e o exílio em de sua continuidade no tempo. Dominado
luta — para nos lembrar, em seu sopro por esta boa forma, o próprio ser tornou-
de vida, a estupidez que essas escolhas se leviano em nossa atualidade. Pois
encerravam. hoje não nos confrontamos mais com a
Nada mais previsível do que a verdade ou falsidade da existência, como
estupidez. Podemos sempre contar com na antigüidade; ou com a autenticidade
sua pre sen ça em nossas previsões. O e inautenticidade da existência, como na
próprio an te ci pá vel é a forma pura da modernidade. Ago ra somos convidados
estupidez e é a ele que prestamos conta a escolher entre o excesso e o sucesso
em toda história dos acontecimentos. global da existência. De ve mos decidir
A estupidez é o an te ci pá vel de todo consensualmente a eliminação do risco,
acontecimento, a universal verdade que trazido por todos esses seres aí sem-teto,
dele se encarrega per omnia se cu la sem-terra, sem-proteína, sem-capital, sem-
seculorum. Presa ao coração da atualidade, crédito, sem-saúde, sem-emprego, sem-
como uma coroa de espinhos, ela nos fala raça, sem-língua, sem-rumo e sem-pátria
com ares de douta sapiência da canga que não podem ser absorvidos pela lógica
do medo ao novo — hoje passeando da antecipação do mundo globalizado.
pimpão o vistoso traje do risco — que A comunidade ativista, entretanto,
trazemos firmemente atada aos ombros da trans for mou na prática o sentido da
conveniência cotidiana. Se na totalidade pa la vra re sis tên cia. Ela mergulhou nas
moderna o “futuro” batia às nossas portas en tra nhas da In ter net enquanto novo
e pre ci sá va mos estar preparados para meio e constituiu através das potências
enfrentar os seus desafios, na globalidade anárquicas e libertárias, trazidas por ela,
con tem po râ nea “o futuro já começou” suas comunidades e suas práticas. Para
— nós o tra ze mos em nossos genes, o ativismo re sis tir não é mais apenas
em nossos vícios e em nossas dívidas sofrer a paixão do embate com o poder
— e precisamos conjurar a fatalidade nele atual do Estado e seus dispositivos de
anunciada nos programas que vamos governo. Resistir tornou-se também
confeccionar para reger nossas práticas.18 inventar os movimentos através dos quais
Pois o neodarwinismo nos ensinou que os modos autônomos de viver e governar
a evolução é conservadora, decidida no a própria vida possam ser, ao mes mo
consenso bilionário da relação dos genes19; tempo, as formas de lutar e se manifestar
o desenvolvimento é avaro, decidido na publicamente.22
auto-sustentabilidade da con su ma ção
das energias finitas 20 ; e a sabedoria
é mesquinha, decidida na seleção da Militância e ativismo

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“Nossos críticos dizem que somos
Vida, comunidade e luta política tornam-se contra a globalização, mas isto está
um só e mesmo movimento, ultrapassando er ra do. Nós queremos globalizar
a dicotomia assinalada por Sartre, no a pro te ção ambiental, os padrões
pre fá cio à Crítica à Razão Dialética de tra ba lho e uma qualidade de
intitulado Questão de Método, quando vida decente para todos os seres
defende o exis ten ci a lis mo enquanto humanos. O Banco Mundial e o FMI
ideologia. Para Sartre, o marxismo só foram as criadas da mesquinharia
se ocuparia da exis tên cia depois que das corporações por tempo suficiente
alguém é inserido no sistema de produção, — está na hora de diminuir estas
ao ganhar seu primeiro salário; tendo instituições.”27
mesmo assim uma única recomendação
a dar ao existente: faça a revolução! Com
isso o revolucionário tornava-se alguém Intempestividade, movimento e
apartado de toda e qualquer vida própria comunidade
que não a militância. O militante, a partir
desta concepção, tornava-se alguém que Unindo o trabalho vivo à realização vital,
sacrificava a realização da própria vida o ativismo conquistou para sua vida e luta
no altar dos interesses da revolução. O política uma característica que Nietzsche
problema de como seria essa vida em uma reivindicava para seu combate filosófico:
sociedade sem classes, onde o trabalho o poder da intempestividade. Embora um
não mais seria a mera capitalização da dos significados dessa palavra seja inatual,
atividade voltando a se fazer vivo e ativo, não se pode dizer que o intempestivo se
permanecia um mistério que se perdia encontre ausente da atualidade. 28 Mas
nas brumas das fórmulas genéricas esta presença tem uma forma bastante
— como, por exemplo, a famosa fórmula inusitada. Ela se manifesta apenas para
para a distribuição dos bens “a cada um aqueles que mantêm uma grande atenção
na me di da de suas necessidades”— voltada para suas próprias presenças
incapazes de responder positivamente à no presente. Podemos
questão da ordenação e desenvolvimento assinalar a intempestividade no ativismo
das co mu ni da des no meio social. Este político de movimentos como o DAN
modelo de militância dissociado da vida (Direct Action Network) — que foi um dos
ativa 23 vai pre va le cer, por exemplo, no principais organizadores das manifestações
desenvolvimento da revolução russa, em Seattle contra a OMC e é um dos
fazendo com que os ati vis mos dos membros da federação de movimentos que
construtivistas 24 ou da co mu ni da de de criou o IMC —; ou então na atividade dos
Kronstadt25 sejam perseguidos e destruídos hackers ligados ao grupo cDc (cult of Dead
pelos militantes da revolução. Deste modo cow), criadores do temido Back Orifice,
a atitude militante acaba por transformar o um programa open source e gratuito que
desejo libertário da revolução no pesadelo serve para administrar as redes criadas
totalitário do stalinismo. O ativismo recusa pelo Windows NT da Microsoft de forma
a militância para construir uma vida ativa tão simples e eficiente que serviu de base
ao mesmo tempo pública e secreta através para a criação e multiplicação dos vírus
dos sistemas hipermídia, in ven tan do chamados de trojans (troianos). O mesmo
modos de viver no novo meio que reúnam se repete nos movimentos de criação de
realização individual e atividade comunitária software de código fonte aberta e domínio
como expressões de um mesmo combate público — que fazem, por exem plo,
político.26 Como expõe o IMC: proliferar a imensa variedade de versões
do sistema operacional Linux ou geram a

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firme e elegante integridade do FreeBSD que eles próprios realizam. O que mantém
—; so bre tu do na comunidade que cria o “2600” e outras comunidades ativistas
programas gratuitos que geram na Internet é uma potência logal 29 difusora que
redes peer to peer (P2P) de pesquisa e rompe o poder integrador glocal da grade
tro ca de ar qui vos entre computadores, moduladora. O logal é ao mesmo tempo a
como o Napster, o Freenet ou o Gnutella. conectividade viva e a interação vital que
Tomemos o exemplo do movimento constituem o intempestivo no coração do
hacker ligado ao grupo “2600” para melhor ativismo e da nova mídia. A nova mídia não
compreendermos o sentido do intempestivo é um meio de vida, como eram os velhos
em uma comunidade ativista. Se tentarmos locais de trabalho e as antigas profissões.
explicar o que é o “2600”, só poderemos A nova mídia é um meio para viver, um
fazê-lo invocando uma interminável lista meio onde o tempo do trabalho não se
de atividades; pois o 2600 é um site na contrapõe mais ao tempo de vida, um meio
Internet, uma revista trimestral impressa onde o trabalho vivo determina o trabalho
(2600 Hackers Quartely), uma revista “morto” e onde o movimento vivo de cada
eletrônica, um newservice, um programa de par ti ci pan te constitui o espaço vital da
rádio semanal (Off The Hook) transmitido atividade comunitária.30
ao vivo também em streamedia pela O logal é uma das qualidades que
Internet, um lugar para conversa diária dis tin gue a nova mídia e o ativismo
sobre ques tões da comunidade hacker ex pli can do sua intempestividade. Ele
internacional em um grupo de salas de se contrapõe ao glocal, que é a marca
chat (irc service), um encontro semanal da presença do Império globalizado nas
em diversas localidades espalhadas nos localidades através do controle exercido
Estados Unidos feito pelos que participam por suas agências de comando e empresas
do grupo, uma reunião na primeira sexta- de dis tri bui ção. O glo cal instaura um
feira de cada mês disseminada por todo regime de tempo informacional produzido
o mundo que acontece a partir das cinco pela antecipação científica do futuro no
horas da tarde, um arquivo vivo sobre presente. Este regime se sustenta através
outras publicações e zines feitos por e para da divulgação científica na velha mídia
hackers que pode ser manipulado através corporativa dos dis cur sos da genética,
do serviço de ftp, um grupo de pesquisa economia e informática que se dirigem
e debate sobre questões de segurança e invariavelmente para o tema da saúde,
liberdade de expressão na Rede que realiza seja ela biológica, financeira ou existencial.
a cada dois anos o congresso Hackers On Antecipando doenças e degenerações
Planet Earth (HOPE), uma newslist que em certas atitudes ou comportamentos,
discute o congresso bianual (hopelist), uma es tes discursos geram a no ção de
newslist que prepara o congresso que vai “comportamento de risco” que transformam
se realizar. as pro ba bi li da des em prog nós ti cos,
através do uso abusivo da estatística e dos
gráficos que corrobora a confusão entre
O Logal e a nova mídia os diagramas e os índices no universo
dos signos. Deste modo os cientistas
De fato, tudo o que foi mencionado girando tornam-se as pitonisas contemporâneas
em torno do grupo ou movimento 2600 e a mídia o intérprete fiel dos vaticínios
pode ser diferente amanhã, mesmo o seu ocultos em suas mensagens. De fato, as
nome, pois o nome é o que menos importa atualidades que a mídia corporativa tão
em um tal tipo de movimento comunitário ciosamente procura cultivar são apenas as
que se sustenta e se desenvolve através da ilustrações, repetidas ad nauseam, destes
conexão de seus membros nas atividades vaticínios fatais que em sua interpretação

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a tec no ci ên cia contemporânea ela bo ra mídia tão diferente da antiga. É preciso
sem ces sar. A contrapartida oferecida acom pa nhar sua atividade no calor da
às perigosas sensações das atitudes própria manifestação, no minuto a minuto
de risco é o gozo da espetacularização do em ba te dos ma ni fes tan tes com a
autocontemplativa feito pelas massas de arrogância dos que se julgam dirigentes do
sua pró pria conversão em mercadoria, mundo atual e seus agentes, voluntários
enquanto público especializado, através ou não, que produzem a mídia corporativa.
das banalidades cotidianas.31 Ape nas na ur gên cia des te combate a
Mas mesmo o riso, a admiração, o emergência de um enfoque inusitado sobre
choro, o desprezo, o medo ou a confiança um bor dão re pe ti do glo bal men te pelas
que devem temperar o desfiar de situações agências de notícias e os jornais que dela
corriqueiras do noticiário precisam também se alimentam pode ganhar todo seu sabor.
ser antecipáveis para que a felicidade seja Como na “batalha de Seattle”, quando, após
anunciada para. se consumar em algum a declaração do estado de emergência,
con su mo futuro. 32 Vagas im pres sões a mídia corporativa passou a condenar
e fra cas associações são o que resta em uníssono os estranhos “baderneiros
após a jornada de assédio diário que a vestidos de preto” que estavam “pondo em
mídia corporativa realiza. Mesmo quando risco” a “segurança” e a “integridade” da
deve atuar como uma mídia de eventos, “população ordeira e pacífica”; o IMC fez
organizando-se em torno de competições surgir na Net, e se espalhar como um vírus
esportivas, sho ws pops, grandes por toda parte, um cartaz com a foto de um
lan ça men tos ou festas de premiações, policial vestido de preto investindo com sua
ela se revela incapaz de aban do nar a moto sobre os manifestantes ajoelhados
atitude de press release e prog nós ti co em meio ao gás lacrimogêneo com a frase:
probabilístico que a impedem, hoje, de “Nós também repudiamos a atitude desses
noticiar qualquer acontecimento. estranhos baderneiros vestidos de preto
Talvez isso seja um dos motivos que que usam de violência contra a população
fizeram a nova mídia atingir um grande ordeira e pacífica”.
sucesso não apenas entre o grande público, Embora na cobertura de Seattle
mas também no seio da velha mídia. Da te nham con tri bu í do gente do peso de
revista Wired até o Washington Post, o Chom-sky, Ramonet e Ralph Nader, uma
IMC tem recolhido elogios e aprovações. das me lho res reportagens foi feita por
São afagos, porém, equivocados, pois um estudante de jornalismo e repórter de
in ca pa zes de per ce ber a novidade Portland, chamado Jim Desillas, através
desse meio recém-nascido. Pois para o de uma re por ta gem/depoimento dada
ativismo do IMC cobrir um acontecimento para os jor na lis tas Tim Perkins e Atau
é também prepará-lo, invocá-lo e mimá- Tanaka do IMC usando um telefone público
lo, cuidar de sua preparação e de seu fora da cidade. Intitulada “Dano
desenvolvimento. Mas fazê-lo Colateral em Seattle”, a matéria traçava um
do modo que um meio jornalístico pode painel vivo do que estava acontecendo de
fazê-lo: transformando em no tí cia as forma apaixonada, porém veraz.
narrações apaixonadas do acontecimento, Atra vés dela descobrimos, por
ex plo ran do as fabulações, pro fis si o nais exem plo, uma imagem da OMC que
ou amadorísticas, favoráveis ou contrárias contrasta vivamente com aquela sugerida
ao acon te ci men to como os pon tos de pela monumentalidade de aço e vidro do
vista locais que constituem seu território. World Trade Center:
Não basta, porém, recolher suas notícias Eu entrevistei delegados. Nenhum
como informações sobre o que aconteceu deles tinha nada de positivo para dizer
para com pre en der o que faz a nova sobre a OMC. Dois delegados caribenhos

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es ta vam furiosos com a perda de armado” da OMC que funciona através das
empregos. Um delegado do Peru pegou um agências de financiamento (FMI, BM) e que
megafone, subiu no carro e discursou para no limite podem arruinar uma economia
os manifes tan tes contra a Organização lo cal através do ataque especulativo à
Mundial do Comércio. Ele disse que ela moeda.
prejudicava os trabalhadores e fazendeiros.
Eu en tre vis tei um cara norueguês do O mais importante, porém, surge
Greenpeace. To tal men te contra ela. me nos na qui lo que se apresenta no
Mesmo um delegado da Holanda disse conteúdo das denúncias. A verdadeira
que ela prejudicou os fazendeiros de lá. estranheza está na atitude dos delegados
Ele disse que embora se suponha que da OMC para com a própria organização.
ela é democrática, isto é atualmente uma Eles não estão co nec ta dos a ela, são
mentira. Os EUA, Inglaterra, Canadá e apenas as so ci a dos da ins ti tui ção,
uns poucos outros se reúnem e decidem associação esta que no mais das vezes
o que querem fazer. Então eles convocam responde sobretudo às necessidades de
o resto dos outros países para votar e se sobrevivência das agências de produção
eles votam errado eles ameaçam: “Vocês e distribuição local re pre sen ta das nos
não vão receber financiamentos” ou coisa Es ta dos nacionais. Necessidades de
semelhante. Eles conseguem o que querem so bre vi vên cia são necessariamente
dos delegados chantageando-os. reativas, criam apenas vínculos fracos e
Os italianos que nós entrevistamos ligações flutuantes. A melhor expressão
estavam fora de si também. Não consegui deste desligamento do associado para com
en con trar nenhum delegado que fosse a instituição é a surreal cena do delegado
favorável a ela.33 peruano da OMC fazendo comício contra
Podemos encontrar neste fragmento ela de megafone na mão em cima de um
de relato vivo aquilo que a velha mídia carro, em meio ao en gar ra fa men to do
selecionaria como “informação” e que pode bloqueio.
ser enumerado de forma diagramática Em alguns momentos esta surreal
numa lista de tópicos: es tra nhe za ganha os contornos do
vandalismo estúpido quando os policiais
1. A OMC privilegia os processos de atacam uma bom ba de gasolina com
ganho através de fusões e incorporações bombas de gás. Em ou tros ganha os
que racionalizem a distribuição das contornos do ter ror como na paralisia
mer ca do ri as e otimizem os serviços catatônica que acomete a velha senhora
agregados a elas através da automação asmática que tinha sa í do para fazer
como forma de aumentar a competitividade compras e que se viu en go li da pelo
empresarial, gerando o desemprego como combate. Diante dos policiais vestidos de
conseqüência do downsizing como prática negro disparando as bombas de gás, dos
empresarial. helicópteros sobrevoando o centro e dos
2. Apesar de propalar o liberalismo, a policiais que investiam a cavalo contra os
OMC apoia o protecionismo agrícola norte- transeuntes, a velhinha reviveu a sensação
americano, seja pela prática dos subsídios, dos negros anos de dominação nazista.
seja pela política agressiva de empresas, Ou a cena em que uma garota de 18 anos
como a Monsanto, na área dos produtos — após estar caída e subjugada na rua
agrícolas geneticamente modificados. com os lábios sangrando — é atacada por
3. As decisões da OMC são tomadas policiais recebendo vários jatos de pimenta
previamente pelos países WASP e depois e sofre uma regressão violenta que a faz
impostas aos demais membros através de chorar como um neném, recitando: Ave
pressões e chantagens. Existe um “braço Maria, Ave Maria, Ave Maria...34

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Sempre se criticou a Internet por falar pontos de vista e interesses dos manifestantes. Embora o
apenas ao intelecto e só lançar apelos à IMC tenha surgido dentro desse formato ele rapidamente
imer são virtual, implicando uma atrofia ultrapassou os seus limites ao se apropriar de modo
do corpo e do desejo por relações reais. ori gi nal das pos si bi li da des abertas pelos sistemas
Mas com ela a velha consciência, tragada hiper-mídia e radicalizar as possibilidades de governo
pela mente individual na aurora da idade democrático dos sistemas de edição.
moderna, foi expelida para a extensão do
mundo real. 3 O termo open-publishing utilizado pelo IMC está em
A mente está aí convertida em bits e clara referência ao termo open-source que se utiliza para
pode ser conectada por telefone, cabo ou designar o software que tem o código fonte aberto para
onda. E o corpo que se imaginava imóvel, que a comunidade de programadores possa examinar
fixado em algum monitor, jorrou por todas ou alterar. Em um outro texto o IMC justifica a adoção
as ruas do mundo cantando a luta por do sistema operacional FreeBSD para integrar a sua
novos modos de viver. rede afirmando que sua criação e desenvolvimento são
A nova mídia desenvolve sua inteiramente democráticos, um trabalho todo desenvolvido
cobertura como um documentário ficcional e decidido pelas comunidades que se integram a ele. Para
cujo ro tei ro vai sendo escrito através o IMC o DOS/Windows seria ditatorial enquanto que o
das fabulações narradas pelos próprios LINUX seria uma monarquia medieval pois tem Linus
participantes. Se ela pode abandonar a Torvalds como seu monarca e vários nobres aliados como
isenção jornalística e permanecer veraz, seus desenvolvedores autorizados. O sistema de edição
deve ser porque sua evidente adesão ao do IMC mantém estreita correlação com o sistema do
acontecimento se faz para proveito do FreeBSD.
jornalismo.
Disposta a construir o acontecimento 4 O termo copyleft foi criado para contrapor-se ao termo
por todos os mei os que o sistema copyright que rege o material produzido pela mídia
hi per mí dia é capaz de ope rar, recebe corporativa e regulamenta a propriedade do material pela
uma contrapartida ética endereçada pelo agência ou veículo garantindo as restrições de reprodução,
próprio acontecimento para sua atitude, divulgação e utilização da produção. O copyleft permite
devolvendo-lhe a força da verdade. a livre distribuição e veiculação do material desde que
Pois nela o acon te ci men to recebe respeitada sua integridade e citada a fonte produtora e a
de volta o esplendor de sua neutralidade sua autoria.
e estranheza, tornando-se de novo um
combate, um campo de batalha onde uma 5 Cf. IMC, about us. http://indymedia.org/about.php3.
ci ber vi ta li da de esboça seus pri mei ros “Indymedia is a collective of independent media
gestos balbuciando suas primeiras palavras organizations and hundreds of journalists offering
. grassroots, non-corporate coverage. Indymedia is a
democratic media outlet for the creation of radical,
accurate, and passionate tellings of truth. We work out of
Notas a love and inspiration for people who continue to work for
a better world, despite corporate mediaʼs distortions and
1 Cf. NIETZSCHE, F. (1989). A Hora mais Silenciosa, In unwillingness to cover the efforts to free humanity.”
Assim Falou Zaratustra. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
p.158. “São as palavras mais silenciosas as que trazem 6 Palavra formada pela conjunção das palavras digital e
tempestade. Pensamentos que chegam com pés de literati.
pomba dirigem o mundo.”
7 Cf. BARBROOK, R e CAMERON, A. (2000). LʼIdéologie
2 A mídia sob demanda é uma alternativa à mídia de Californienne, Paris: Biblioweb. Endereço: http://
atualidades corporativa que foi criada pelas ONGs para www.samizdat.net/biblioweb/txt.php3? detail=n973259183.
fazer a cobertura de suas manifestações exprimindo os article

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Comum, n° 11, Rio de Janeiro: NEPCOM, maio-agosto de
8 A este respeito é fundamental a leitura do trabalho de 2000.
Ronda e Michael Hauben sobre a história da construção
da Internet. Ela mostra como as novas tecnologias da 17 Cf. El Mate, Amauta Collective et alt. (1999). Network of
comunicação possuem uma dupla origem fundada nas Alternative Resistance, Internet: Argentina. Endereço: http:
necessidades estratégicas da máquina militar e nos //webs.sinectis.com.ar/redresistalt/english.html.
investimentos de desejo da política libertária democrática.
Elas exprimiam tanto os interesses do departamento de 18 Cf. VAZ, P. (1997). O Inconsciente Artificial, São Paulo:
segurança americano — conduzir e articular as forças Unimarco.
aliadas em um ambiente caógeno de confronto termo-
nuclear —, quanto os interesses da comunidade científica 19 Cf. DAWKINS, R. (1989). O Gene Egoísta, Belo Horizonte:
universitária — o desenvolvimento acentrado de projetos Itatiaia.
científicos por parceiros dispersos geograficamente. Cf.
HAUBEN, M. e HAUBEN, R. (1997). Netizens: On The 20 Cf. DENNETT, D. C. (1998). A Perigosa Idéia de Darwin: a
History and Impact of USENET and Internet, Los Alamitos, evolução e os significados da vida, Rio de Janeiro: Rocco.
CA: IEEE Computer Society Press. Endereço: http:
//www.columbia.edu/~hauben/netbook/. 21 Cf. DENNETT, D. C. (1997). Tipos de Mentes. Rumos a
uma compreensão da consciência, Rio de Janeiro: Rocco.
9 Cf. LÉVY, P. (1998). A Inteligência Coletiva. Por uma
antropologia do ciberespaço, São Paulo: Loyola. 22 Cf. El Mate, Amauta Collective et alt. (1999). Network of
Alternative Resistance, Internet: Argentina. Endereço: http:
10 Cf. RHEINGOLD, H. (1993). The Virtual Community, Nova //webs.sinectis.com.ar/redresistalt/english.html.
York: Harper Collins.
23 Para compreender o conceito de vida ativa ver ARENDT,
11 Cf. RHEINGOLD, H. (1985). Tools for Thought, New York: H. (1981). A Condição Humana, Rio de Janeiro: Forense
Simon & Schuster. Universitária.

12 Cf. MATURANA, H. e VARELA, F. (1997). De Máquinas e 24 Cf. BANN, S. (1974). The Tradition of Constructivism,
Seres Vivos. Autopoiese – a organização do vivo, Porto Londres: Thames and Hudson.
Alegre: Artes Médicas.
25 Cf. VOLINE (1972). Du Pouvoir Bolchéviste à Cronstadt
13 Os grupos de afinidades se formam através do tipo de InLa Révolution Inconnue, Paris: Pierre Belfond.
participação que o manifestante está disposto a realizar
(distribuir panfletos, disseminar informes, bloquear uma 26 Cf. El Mate, Amauta Collective et alt. (1999). Network of
entrada, etc.). Alternative Resistance, Argentina: Internet. Endereço: http:
//webs.sinectis.com.ar/redresistalt/english.html.
14 O cluster de processamento paralelo reúne diversos
gru pos de afinidade para operar a realização da 27 Trecho retirado de um exemplo de press release
manifestação em uma certa área ou zona. O termo é elaborado pelo IMC como parte de um kit de exemplos
oriundo da área de informática e designa um modo de documentos para as comunidades ativistas usarem
anárquico de ordenar o processamento de algum material nas suas relações com a mídia corporativa durante a
que diversos processadores operam paralelamente em manifestação de 16 de abril de 2000 contra o Banco
simultâneo. Mundial. A tradução é nossa. “Our critics say weʼre against
globalization, but thatʼs wrong. We want to globalize
15 Os grupos de afinidades elegem seus porta-vozes que environmental protections, labor standards, and a decent
re a li zam a coordenação integrada da manifestação quality of life for all human beings. The World Bank and
através da realização da reunião de conselhos. IMF have been the handmaidens of corporate greed for
long enough—its time to shrink these institutions.”
16 Cf. Starhawk, Como Bloqueamos a OMC, In Lugar

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28 Segundo Nietzsche a atualidade é um regime de tempo delegates from the Caribbean were angry about job loss.
dominado pelas solicitações cotidianas do meio social e One delegate from Peru took a bullhorn and got up on a
pelos interesses individuais presentes na consciência. car and spoke to the protestors against the World Trade
Organization. He said it hurts the workers and farmers. I
29 Geramos o termo logal, formado pelo lo de local, o g de interviewed a Norwegian guy from Green-peace. Totally
login e o al de global para contrapor ao seu correlato against it. Even a delegate from Holland said it had
glocal, formado pela junção do glo de global e cal de hurt the farmers there. He said though it is supposedly
local. Com ele pretendemos contrapor o poder de difusão democratic, thatʼs actually a lie: the US, England and
das localidades e a força de conexão dos projetos Canada and a few others get together and decide what
das comunidades virtuais aliados à sua potência de they want to do. Then they ask the rest of the countries to
propagação à pressão da presença global do mundo vote and if they vote wrong they threaten ʻYou wonʼt get
unificado das grandes corporações. loansʼ, or whatever. They get them to do what they want by
blackmailing them. The Italians we interviewed were upset
30 Negri e Lazzarato ressaltam as novas potências do too. I couldnʼt find any delegates who were in favor.”
trabalho e da subjetividade na sociedade contemporânea.
Eles observam que se na época clássica a revolta 34 Cf. Jim Desillas, Tim Perrkins e Atau Tanaka, Collateral
representava a atitude radical do questionamento e na Damage in Seattlle In Nettime Newslist, 03/12/1999.
época da representação ela era representada pela reapro-
priação, na época comunicacional atual ela se manifesta
como potência autônoma e constitutiva dos sujeitos pois
a revolta e a reapropriação precisam se encarnar em um Referências
processo de liberação da subjetividade que se forma no
próprio interior das máquinas de comunicação, sem o que Específicas
elas apenas reproporiam, sob novas formas, a velha forma
do Estado. A figura do intelectual sofre uma transformação AMARAL, M.T. dʼ. (org.) Contemporaneidade e Novas
correlata nestas três épocas. No período da política Tecnologias. Rio de Janeiro: IDEA / Sete Letras, 1996.
clássica ele tinha funções epistemológicas com vocações
éticas e no período disciplinar ele é levado a se engajar ______. O Homem sem Fundamentos.Rio de Janeiro: UFRJ.
em qualquer direção. Hoje, com o domínio do trabalho
imaterial qualitativamente generalizado o intelectual está ANTOUN, H. Nas Teias da Globalização. In: Veredas. Rio de
no interior do processo de produção fazendo dos jovens Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, ano 3, n. 25, 1998.
estudantes, na medida que representam o trabalho vivo
virtual e estão submetidos à intelectualidade de massa, BERARDI, F. Cyberpunk e mutazione. Genova: Costa e Nolan,
o elemento dinâmico das lutas políticas e transformações 1994.
sociais. Cf. NEGRI, A. LAZZARATO, M. (1991) Travail BRUNO, F. Do Sexual ao Virtual. São Paulo: Unimarco, 1997.
Immatériel et Subjectivité, Paris: Biblioweb. Endereço:
http://www.samizdat.net/biblioweb/txt.php3?detail=n97173 DAWKINS, R. O Gene Egoísta. Belo Horizonte: Itatiaia, 1989.
5022.article.
DELEUZE, G. e GUATTARI, F. Mille Plateaux. Paris: Minuit,
31 Cf. DEBORD, G. (1997). A Sociedade do Espetáculo, Rio 1980.
de Janeiro: Contraponto.
DENNETT, D. C. Tipos de Mentes. Rumos a uma
32 Cf. BRUNO, F. (1997). Do Sexual ao Virtual, São Paulo: compreensão da consciência. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
Unimarco.
______. A Perigosa Idéia de Darwin: a evolução e os
33 Cf. Jim Desillas, Tim Perrkins e Atau Tanaka, Collateral significados da vida. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
Damage in Seattlle In Nettime Newslist, 03/12/1999.
A tradução é nossa. “I interviewed delegates. None of DORIA, F. A. e DORIA, P. Comunicação: dos fundamentos à
them had anything favorable to say about the WTO. Two Internet. Rio de Janeiro: Revan, 1999.

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