0 оценок0% нашли этот документ полезным (0 голосов)
38 просмотров4 страницы
Agosto de 2014: BOLETIM DO COMPA Nº 4 - Ocupação Guarani-Kaiowá: Ação-Direta, Autonomia, Autogestão e Solidariedade. Leituras de uma militância anarquista
Оригинальное название
BOLETIM DO COMPA Nº 4 - Ocupação Guarani-Kaiowá: Ação-Direta, Autonomia, Autogestão e Solidariedade. Leituras de Uma Militância Anarquista
Agosto de 2014: BOLETIM DO COMPA Nº 4 - Ocupação Guarani-Kaiowá: Ação-Direta, Autonomia, Autogestão e Solidariedade. Leituras de uma militância anarquista
Agosto de 2014: BOLETIM DO COMPA Nº 4 - Ocupação Guarani-Kaiowá: Ação-Direta, Autonomia, Autogestão e Solidariedade. Leituras de uma militância anarquista
Ocupao Guarani-Kaiow: Ao-Direta, Autonomia, Autogesto e Solidariedade. Leituras de uma militncia anarquista
Encontro entre indgenas Guarani-Kaiow e moradores da Ocupao urbana Guarani-Kaiow
Agosto de 2014, Frente de Luta Por Moradia do COMPA
Desde meados de outubro do ano passado, o COMPA acompanha a luta da Ocupao Guarani-Kaiow, situada em Contagem, Regio Metropolitana de Belo Horizonte (MG). A Ocupao existe desde 09 de maro de 2013 e conta com 150 famlias que ocuparam um terreno que at ento abrigava um enorme matagal entregue s moscas da especulao imobiliria. O terreno, que encontrava-se penhorado, cuja empresa proprietria devedora fiscal (Construtora Muschioni), fica na regio do Ressaca, uma regio administrativa do municpio de Contagem que conta com bairros que, em geral, no tm perfil de bairros de alta renda da cidade.
OS PRINCPIOS E AS CONTRADIES DO SISTEMA DE ESTADO E CAPITALISTA
Estamos juntos com a luta da ocupao por meio da Frente Terra e Autonomia, FTA, que a frente que a nossa militncia constri junto a moradores e mais apoiadores externos e que existe h aproximadamente sete meses. A FTA consiste em uma frente independente de ideologias e organizaes polticas que se articula em torno de princpios determinados para atuar nas lutas urbanas da cidade, atualmente com foco na luta por moradia. Compartilhamos de princpios como anticapitalismo, autonomia, autogesto, ao-direta, solidariedade, apoio-mtuo, horizontalidade, autodisciplina e independncia poltica. A FTA uma articulao muito cara para a militncia do COMPA, por se tratar de uma iniciativa coletiva de carter libertrio e anticapitalista que tem como objetivo se inserir em lutas como a de moradia, que, para ns, alm de uma luta digna uma luta potencialmente revolucionria por contestar diretamente a propriedade privada e o capitalismo.
No somente pela contestao propriedade privada, a luta por moradia, nas atuais condies polticas, econmicas e sociais, levantam outras reflexes importantes acerca de mais contradies do capitalismo de nosso tempo. A especulao imobiliria, a gentrificao das cidades, comercializao dos espaos comuns, a poltica neodesenvolvimentista do governo federal, que garante o crdito, mas no para a moradia de pessoas realmente pobres e que tampouco distribui a riqueza, e at mesmo a questo da mobilidade urbana ficam em evidncia quando o povo se organiza e cumpre com suas prprias mos a rdua tarefa de conseguir uma casa prpria nos dias de hoje.
Alm da questo econmica, a crtica ao Estado e seu papel na sociedade se desenvolve de modo mais simples e at mesmo prtico quando se tem esse perfil de luta social, basta percebermos como o Estado e suas instncias tratam as ocupaes urbanas. Represso policial e falta de dilogo do poder pblico com o povo pobre que ocupa os terrenos ociosos so posturas que evidenciam o carter de classe que h e que inerente no Estado e em qual classe ele se insere. Essas e outras questes que se levantam na rbita da luta por moradia esto intimamente ligadas com os conceitos que os princpios da FTA buscam e resgatam, que se complementam e se constituem no dia-a-dia da luta.
No pretendendo esgotar um debate minucioso sobre cada princpio, temos neste texto uma avaliao de como estes princpios esto inseridos na luta por moradia daquelas 150 famlias, em seus espaos coletivos e de vivncia, sejam as assembleias, as atividades, as manifestaes ou mesmo os encontros espontneos nos espaos comuns da comunidade, ainda que muitos mantenham-se despercebidos. A prtica poltica coletiva que se desenvolve na ocupao predominantemente autogestionria, autnoma, coletivista e de ao-direta. O que se percebe que a conscincia geral da assembleia se guia pela via da combatividade, ao-direta e coletividade, mesmo que em determinados assuntos ainda sejam orientados pela coordenao, como, por exemplo, quando preciso tomar medidas mais estratgicas sobre momentos que requerem cautela e experincia (como uma negociao com o poder pblico ou algum ato mais elaborado). Coordenao tal que aberta e horizontal, sendo composta tambm por alguns moradores e apoiadores com mais experincia nos meandros da luta por moradia.
A MORADIA NO MAIS COMO PAREDES, TETO E CERCAS
O senso de comunidade muito se desenvolveu com os moradores da ocupao, que, em sua maioria, j moravam na regio do Ressaca. A concepo da moradia construda no curso da luta da ocupao saltou, para muitas famlias, do mbito individual e hoje situa-se no coletivo. H uma compreenso majoritria de que moradia no simplesmente ter posse de um lote cercado, mesmo que conquistado por meio da ocupao; a viso da moradia como todo o ambiente que envolve a sua conquista, defesa e garantia de sua casa se amplia cada vez mais. Ou seja, h um entendimento de que o interesse, cuidado e a construo permanente do seu ambiente de moradia, no caso a comunidade, de forma ampla, horizontal e autogestionria, o fator preponderante para que o seu teto seja garantido, tornando-se esse o legtimo significado de moradia. Nesse sentido, a importncia e necessidade da assembleia, das tomadas de decises e trabalhos coletivos se faz real. Isso pode ser bastante claro se levarmos em conta a necessidade de se organizar para lutar contra o despejo, por exemplo, mas a questo vai alm desse ponto, que de certo modo imediatista: h um avano na conscincia da construo coletiva do viver, tendo a compreenso dessa construo coletiva como fundamento para o sentido do que significa moradia.
Desse modo, a organizao comunitria passa a ser pautada como fundamental para o o processo dirio da ocupao. Essa organizao comunitria pode ser traduzida como uma expresso prtica de Organizao Popular, que se faz vital para estratgias de longo prazo que prope uma transformao mais radical da sociedade, nas entranhas da organizao das relaes sociais (seja no ambiente de moradia, de trabalho, estudo, etc). Assim, nesse aspecto, os laos se estreitam mais entre os moradores, as decises coletivas tornam- se mais legtimas e elaboradas, as condies de conquistas so fortalecidas, a conscincia individual e comum dos moradores avana na pedagogia diria da luta e um terreno frtil para um mundo novo semeado no agora.
Como um resultado subjetivo dessa pedagogia diria da luta, a moradia, podemos dizer, vem a ser entendida como um espao de auto fortalecimento, apoio-mtuo e iniciativa coletiva, embora possa no ser propriamente uma concluso de uma reflexo crtica profunda dos moradores. Entendida como tal, a preocupao com o espao comunitrio torna-se comum e natural, o que explica as vrias mobilizaes para o cuidado, a manuteno e a construo dos espaos coletivos da ocupao. E exemplos para essa preocupao e cuidado no faltam: a mobilizao para o cercamento da rea verde; a deciso e delimitao dos nomes das ruas; a construo de um espao comunitrio que acolhe as plantas, maquetes, fotos, textos, memrias da prpria ocupao e da luta de moradia da Regio Metropolitana de Belo Horizonte, alm de guardar objetos e ferramentas coletivas; a preocupao com a limpeza da Praa Nelson Mandela (vulgo P de Manga); e mais recentemente, a construo de um palco e do Centro Social, que, com apoio externo de movimentos, organizaes, estudantes e arquitetos, hoje vem realizando mutires nos quais muitos moradores esto participando, dando na prtica o verdadeiro sentido para a palavra coletividade. Tudo isso, importante destacar, proposto, criticado e decidido em assembleias pautadas na horizontalidade.
A ASSEMBLEIA PELA ORGANIZAO POPULAR
Mas a noo de comunidade ainda vai alm do cuidado com o espao comunitrio. A mediao de conflitos que surgem entre moradores tambm se d em assembleia. Interessante perceber que em bairros comuns tais prticas quase sempre no existem. A propsito, no so realizadas assembleias na maioria dos bairros comuns. Tal fato um exemplo simples da diferena de organizao e proposta de vivncia entre o atual modelo vigente capitalista, individualista, competitivo e munido de preconceitos e o modelo construdo pela ocupao que tende muito mais ao coletivista, solidrio, de apoio-mtuo e que, ainda que ainda existam muitos preconceitos, d alguns passos rumo desconstruo, morosa ou instantnea. Se trata de um avano de conscincia de resolver conflitos, pendncias e outras quaisquer demandas no seu local de moradia, o que j mira um novo modo de fazer poltica e organizar a sociedade.
Ressaltar essas questes da Ocupao Guarani-Kaiow no quer dizer que seja diferente em outras ocupaes urbanas. O sentido deste texto justamente de evidenciar esses pontos positivos das ocupaes urbanas organizadas que sustentam, no tendo talvez esse objetivo determinado, alguns dos pilares de novas propostas de organizao social, baseada no coletivo, e no no individual; baseada na solidariedade, e no na competio; na autogesto, ao-direta e independncia, e no na dependncia do Estado e da iniciativa privada; feita pelo povo, e no imposta ao povo.
A SOLIDARIEDADE
A questo da solidariedade sempre um fator muito preponderante, mas isso no s na ocupao. O povo pobre, de modo geral, muito mais solidrio que o punhado de ricos que erguem suas fortalezas no Mangabeiras, Belvedere ou Nova Lima. Isso notrio: enquanto o pobre sente a dor e a necessidade do prximo como se fosse a sua (porque na maioria das vezes a sua), e, assim, busca ajudar como pode, tendo apenas um pouco mais do que o necessrio para sobreviver, sendo que o rico, com sua fortuna e sua ganncia, se guia pelo lado contrrio e tende a ser mais fechado, ambicioso e egosta, colocando em cheque os modelos de sociedade propostos e estimulados pelo capitalismo. Pode at existir a filantropia, mas ela est longe de ser comparada com a solidariedade do povo oprimido para com ele mesmo. Se no h uma conscincia de classe constituda entre os nossos, o que impede passos mais largos na luta contra a explorao e a dominao, h ainda uma solidariedade que muitas vezes bonita de se ver e que h de ser resgatada, reivindicada e fortalecida para o avano dessa conscincia de classe.
Assim, basta que alguma companheira com seus vrios filhos chegue em assembleia e pea algum apoio, prontamente os moradores interrompem a pauta que possam estar discutindo e buscam apoi-la da melhor forma possvel. Sendo uma companheira com seus filhos, ou algum morador que perdeu sua casa por algum motivo (incndio, chuva etc.) ou qualquer outra pessoa que precise de ajuda, a assembleia no hesita em abra-la, praticando e dizendo aqui e ali, em alto e bom tom, palavras como solidariedade e coletividade.
E a solidariedade no se reduz ao aspecto territorial da ocupao, nas relaes internas das famlias. Por se ter uma conscincia de luta, vrias famlias se voltam solidrias a outras lutas populares da cidade, sendo elas por moradia ou no. As expresses de solidariedade s Ocupaes do Isidoro exemplificam isso muito bem: atualmente, trs ocupaes urbanas da Regio Metropolitana de Belo Horizonte sofrem uma ameaa real de serem despejadas. Elas so formadas por 8 mil famlias e se situam na regio da mata do Isidoro, norte da capital, conhecida como "Granja Werneck". No dia que houve a iminncia do despejo, no qual havia uma certeza de que seria realizada a operao policial, a ocupao se levantou s 5h e fez um ato na Praa So Vincente, um cruzamento com um enorme fluxo de trnsito, evidenciado o perigo do massacre que se anunciava e demonstrando, por meio da combatividade e ao-direta, toda solidariedade s ocupaes. No houve o despejo por uma ao do Ministrio Pblico e pela mobilizao de apoio s ocupaes do Isidoro, e a Ocupao Guarani-Kaiow teve um papel destacado nesse cenrio.
Um outro exemplo de solidariedade com as demais lutas das e dos debaixo foi a recepo dos ndios da tribo Guarani-Kaiow na ocupao. A atividade colocou a luta da cidade e a luta do campo juntas em uma roda de debate que contou com uma ampla participao dos moradores da ocupao, que trocaram experincias de luta e resistncia com os companheiros indgenas que historicamente vm sendo perseguidos e atacados na regio do Mato Grosso do Sul. O contato foi construtivo para a ocupao, que demonstrou mais uma vez sua solidariedade causa indgena, reafirmando a origem da escolha de seu nome.
A AO-DIRETA, O AVANO POLTICO E A QUESTO DAS MULHERES
Soma-se a tais expresses de solidariedade e apoio-mtuo uma regular defesa da ao-direta e combatividade como ferramentas para a luta. O reconhecimento da importncia das manifestaes, das viglias, do enfrentamento direto, o nimo mobilizador e o posicionamento combatente so frutos dessa luta. Saber que a sua moradia ser garantida com a luta poltica, enfrentando o executivo, judicirio e o capital um passo para compreender os problemas sociais de modo mais amplo, obtendo a capacidade de perceber o problema comum, a raiz das desigualdades e das opresses, que o capitalismo e suas estruturas de poder. Nesse sentido, surge uma real possibilidade de se afiar a crtica e entender a importncia da unio das lutas populares, desde entre as ocupaes urbanas at entre outros movimentos sociais, por se tratarem de lutas oriundas das contradies do capitalismo e dos seus domnios. Moradores, portanto, passam a perceber a necessidade de se organizar para lutar para alm da luta por moradia, mas por transformaes maiores na sociedade a partir da organizao popular.
Nesse contexto, h tambm um avano pessoal de alguns moradores que de tanto se envolverem nos espaos de organizao e mobilizao da comunidade tornam-se mais engajadas, com uma capacidade mais elevada de crtica social e uma viso poltica menos embaada e imediatista. Destaca-se, nesse ponto, a quantidade de mulheres que se levantam e se dispe como tal. Fortes pela realidade que as incumbe, por precisarem trabalhar mais, resistir mais, por conta do machismo que ora lhes violenta fisicamente, ora lhes deixa sozinha com os tantos filhos para criar, so elas que constituem a maioria das pessoas que constroem a ocupao desde o incio, levantam os barraces e tomam atitudes mais firmes e contundentes pela ocupao. Mesmo com o machismo, que atinge demasiado as mulheres negras e pobres, erguidas se dispe e algumas tornam-se essas lideranas comunitrias. No caso dessa liderana comunitria feminina, existe ainda mais um panorama positivo no que se refere ao exemplo de fora e disposio para as outras mulheres, tanto na luta por moradia, quanto na luta contra o machismo.
BREVES CONSIDERAES
Esses so alguns elementos apontados pela prtica poltica da ocupao Guarani-Kaiow que tm ligaes com princpios da FTA, que o COMPA compartilha igualmente. Alguns deles tm um estreito lao com o cotidiano daquelas famlias, enquanto outros, a FTA busca forjar no dia-a-dia de sua luta junto ocupao. Ateno, dilogo, debates, propostas, atividades, postura tica (saber ouvir e quietar o ego, ser companheiro e no pretensioso, vaidoso), so pontos cruciais para a absoro contnua e necessria da realidade da ocupao bem como para o exemplo, a fomentao e estmulo daquilo que propomos tambm compartilhar com a comunidade.
Norteados por essa tica libertria que nos guia pela base, na via autnoma, solidria e anticapitalista, seguimos companheira/os de aflies, embates, enfrentamentos, propostas e vitrias lado a lado com a ocupao, no nos furtando de sermos anarquistas, revolucionria/os, mas sem fugir dos nossos princpios to caros que remam contra a ideologizao e o aparelhamento do movimento social. A construo de Poder Popular se d pela base, na luta popular organizada e independente: assim compreendemos a estratgia de Criar um Povo Forte para caminharmos conscientes, rumo transformao social, contra o capital e as culturas de opresso impostas pelo capitalismo no dia-a-dia.
SANTIAGO, Renan. Música, Educação Musical e Multiculturalismo: Uma Análise Da Formação de Professores (As) de Três Instituições Da Cidade Do Rio de Janeiro