Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
ARTIGO ARTICLE
da família. Como estabelecer um projeto comum
entre trabalhadores e usuários?
Abstract The article presents the results of a qua- Resumo O artigo apresenta os resultados de pes-
litative research, whose objective is to determine quisa qualitativa, cujo objetivo foi conhecer o
the extent to which teamwork in family health quanto o trabalho em equipe de saúde da família
fosters and the participation of the community in favorece a participação da comunidade na cons-
a health project, in light of the fact that health trução de um projeto assistencial. Material empí-
care is aimed at the population. Empirical mate- rico foi obtido por meio de entrevista semi-estru-
rial was obtained by means of a semi-structured turada com trabalhadores e conselheiros de uma
interview with workers and advisors of a Health Unidade de Saúde da Zona Leste do Município
Unit in the Eastern zone of the Municipality of de São Paulo, e documentos oficiais da Secretaria
São Paulo, and from official documents from the Municipal de Saúde, no período de 2001 e 2002.
Secretariat of Health of the Municipality of São Utilizou-se a técnica de análise de conteúdo e as
Paulo, in the period of 2001 and 2002. The tech- categorias analíticas: participação, controle so-
nique of content analysis and the following ana- cial, trabalho em equipe e processo saúde-doença.
lytical categories were utilized: participation, so- Os depoimentos evidenciam três dimensões dis-
cial control, teamwork, and health-disease pro- tintas sobre participação: direito à saúde e cida-
cess. The interviews show three different dimen- dania, assistencialismo e necessidade de capaci-
sions about participation: the right to health and tação dos conselheiros, e duas noções para o con-
citizenship; the existence of assistencial services, trole social, fiscalização e parceria. Os trabalha-
and the need of capacitation of the members of the dores destacam o trabalho em equipe para opera-
health councils. There are two notions for social cionalizar a saúde da família; no entanto, não in-
control, i. e., auditing and partnership. Health cluem os usuários na dinâmica do grupo de tra-
workers emphasize teamwork as a means to make balho e no planejamento das ações. Os avanços
family health operational; however, they do not na participação e no trabalho em equipe não ga-
1
Escola de Enfermagem da include the users in the dynamics of the teamwork rantem ainda a construção de um projeto assis-
Universidade de São Paulo.
and in the planning of actions. Advancements in tencial comum, o que deve constituir-se no pró-
Av. Dr. Enéas de Carvalho
Aguiar 419, Cerqueira the participation and in teamwork still do not ximo passo.
Cesar, 05403-000, São guarantee the construction of a common health Palavras-chave Participação comunitária, Pro-
Paulo SP. marinape@usp.br
project, which should be the focus of the next step. grama Saúde da Família, Trabalho em equipe,
2
Universidade de São Paulo,
Key words Community participation, Family Processo saúde-doença, Políticas de controle social
Escola de Enfermagem,
Departamento de Health Program, Teamwork, Health-disease pro-
Orientação Profissional. cess, Social Control Policies
324
Nascimento, M. S. & Nascimento, M. A. A.
trabalhador, o usuário está ausente do planeja- no estímulo à participação. Esse conflito, agente
mento e da tomada de decisão. Ou seja, no pla- comunitário e ou agente institucional também
no assistencial e da construção do projeto assis- foi identificado e analisado em pesquisa desen-
tencial comum, o trabalho em equipe está “para volvida por Silva & Dalmaso (2002).
dentro” da equipe. Nesse sentido, reproduz-se o Os relatos do gerente e da enfermeira apon-
modelo de “pensar por”, “planejar por”, “decidir tam para um avanço na dimensão do trabalho
por”, ao invés de “pensar com”, “planejar com”, com a comunidade na perspectiva de uma in-
“decidir com” o usuário e a população. tegração e um envolvimento maior. Ambos tra-
Nisto parece residir o grande conflito entre tam da necessidade de organizar do serviço em
trabalhadores e conselhos, pois a população é função das necessidades da comunidade, ou se-
chamada a participar, sobretudo para legitimar ja, na lógica do usuário e não das tarefas ou
decisões técnicas já tomadas pela equipe. Ou procedimentos a serem cumpridos, dada uma
ainda, há situações em que usuários e usuários- rotina preestabelecida, em parte, dissociada das
conselheiros apresentam críticas ou sugestões necessidades de saúde (Franco & Merhy; 1999).
para a organização do trabalho da equipe, que No entanto, mostram uma tensão entre a pro-
são percebidas pelos trabalhadores e trabalha- posta de democratização das relações trabalha-
dor-conselheiros como fiscalização estrita, sem dores-usuários e a tendência inercial de repro-
relação com o controle social e a participação. dução das relações de poder entre o saber téc-
Quanto às atividades da equipe de saúde da nico e o saber popular, visto que a população
família, que podem contribuir para a partici- da área de abrangência e os usuários estão au-
pação da comunidade, apenas duas agentes co- sentes das discussões da equipe sobre as neces-
munitárias, além dos usuários, apontam a ne- sidades de saúde e o planejamento das ações.
cessidade de capacitar a população para parti-
cipação e controle sociais, com maior divulga-
ção das atividades dos conselhos entre a comu- Considerações finais
nidade. Isto remete às representações sobre
participação social identificadas nesta pesqui- A análise do material empírico permite obser-
sa, nas quais apenas os usuários necessitam de var que as representações sobre participação
capacitação para participação. não estão diretamente associadas àquelas que
Os trabalhadores, ao serem questionados se referem ao trabalho em equipe, todavia al-
sobre este tópico, citam atividades desenvolvi- guns paralelos foram possíveis, particularmen-
das pelas equipes da unidade, várias delas em te, no que se refere à participação como direito
parceria com voluntários ou outros profissio- e cidadania e a necessidade de capacitação para
nais, como grupos educativos, passeios, traba- o exercício do controle social.
lhos manuais (artesanato), caminhada, teatro Se por um lado, a noção de equipe revela-se
nas escolas, trabalho nas escolas, horta, Lian bastante consolidada e legitimada entre os en-
Gong, Yoga, Reiki, dentre tantos outros, o que trevistados, particularmente, entre os trabalha-
reproduz o conceito de saúde como qualidade dores, o que representa importante conquista
de vida, adotado pelo PSF e assinalado ante- nas relações de trabalho, usualmente tão desi-
riormente. Os mesmos trabalhadores reconhe- guais e assimétricas; por outro lado, essa inte-
cem a visita domiciliar como um espaço im- gração está para dentro da própria equipe.
portante de sensibilização e mobilização da co- Esta constatação sugere que o próximo pas-
munidade para a participação e controle social. so e o maior desafio das equipes de saúde da fa-
Apenas uma das ACS entrevistadas abordou mília estejam justamente em construir possibi-
a necessidade de adequar a linguagem utilizada lidades efetivas de uma prática, na qual usuário
com a população, de modo a assegurar a troca e a população sejam partícipes do trabalho em
de conhecimento entre trabalhadores e usuá- equipe, ou seja, integrem-se no processo de
rios e, com isso a maior integração e participa- construção de um projeto assistencial comum.
ção da comunidade no serviço e, especialmen- Da mesma forma, a equipe pode deixar-se al-
te, no próprio cuidado. Por outro lado, alguns cançar pela comunidade, sobretudo por reco-
depoimentos apontam o aspecto de institucio- nhecer-se, ela própria, como comunidade,
nalização do agente comunitário, como possí- usuário, cidadão, na busca de condições de vi-
vel comprometedor do vínculo do agente com a da e de convivência melhores, mais saudáveis e
população de sua área de abrangência e, conse- mais integradas.
qüentemente, das potencialidades desse vínculo
331
Bardin L 1977. Análise de Conteúdo. Edições 70, Lisboa. Oliveira VC 2000. Comunicação, informação e ação so-
Bastos LGC 2003. Trabalho em equipe em atenção pri- cial. pp. 65-74. In JP Santana (org.). Organização do
mária à saúde e o Programa Saúde da Família. Disser- cuidado a partir de problemas: uma alternativa
tação de mestrado. Faculdade de Medicina, Universi- metodológica para a atuação da equipe de saúde da
dade de São Paulo, São Paulo. família. Organização Pan-Americana da Saúde/Re-
Brasil 2003. Ministério da Saúde. Secretaria da Atenção à presentação do Brasil, Brasília.
Saúde. Departamento da Atenção Básica. Agentes Co- Peduzzi M 1998. Equipe multiprofissional de saúde: a in-
munitários da Saúde, Equipes de Saúde da Família e terface entre trabalho e interação. Tese de doutorado.
Equipes de Saúde Bucal em atuação. Brasília (DF). Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Esta-
Disponível em <www.saude.gov.br> dual de Campinas, Campinas.
Briceño-León R 1998. El contexto político de la partici- Peduzzi M 2001. Equipe multiprofissional de Saúde: con-
patión comunitaria en América Latina. Cadernos de ceito e tipologia. Revista de Saúde Pública 35(1):103-
Saúde Pública 14(supl. 2):141-147. 109.
Carvalho MCAA 2003. Participação social no Brasil hoje. Rodriguez CG 1994. Democracia y participatión ciu-
Pólis-Instituto de Estudos, Formação e Assessoria dadana: en busca de la equidad o de nuevos recur-
em Políticas Sociais, São Paulo. Disponível em sos? Revista Mexicana de Sociologia 3:192-204.
<www.polis.org.br/publicações/paper>. Santos L & Carvalho GI 1992. Das formas de controle so-
Franco TB & Merhy EE 1999. PSF: contradições de um cial sobre as ações e os serviços de saúde. Saúde em
programa destinado à mudança de modelo assisten- Debate (34):60-66.
cial. Departamento de Medicina Preventiva e Social, Secretaria Municipal da Saúde 2002. Atas das Reuniões
Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estad- Ordinárias e Extraordinárias do Conselho Municipal
ual de Campinas, Campinas. (Mimeo). de Saúde nos anos de 2001 e 2002. São Paulo.
Gohn MG 2003. Conselhos gestores e participação socio- Secretaria Municipal da Saúde, 2003. Coordenação de
política. (2a ed.). Cortez, São Paulo. (Coleção Ques- Epidemiologia e Informação. Dados Epidemiológi-
tões da Nossa Época, v. 84). cos. Boletim Informativo CEInfo. São Paulo.
Matumoto S 2003. Encontros e desencontros entre traba- Schraiber LB 1995. A pesquisa qualitativa em saúde: re-
lhadores e usuários na saúde em transformação: um flexões metodológicas do relato oral e produção de
ensaio cartográfico do acolhimento. Tese de doutora- narrativas em estudo sobre a profissão médica. Re-
do. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Uni- vista de Saúde Pública 29(1):63-74.
versidade de São Paulo, Ribeirão Preto. Silva IZQJ 2004. Equipe de saúde da família: problemati-
Mendes-Gonçalves RB 1992. Práticas de saúde: processos zando a articulação técnica e a interação entre os
de trabalho e necessidades. Centro de Formação de profissionais. Dissertação de mestrado. Instituto de
Trabalhadores em Saúde, Secretaria Municipal de Saúde Coletiva, Universidade Federal da Bahia, Sal-
Saúde, São Paulo. (Cadernos CEFOR, 1). vador.
Minayo MCS 1992. O desafio do conhecimento: pesquisa Silva JA & Dalmaso ASW 2002. Agente comunitário de
qualitativa em saúde. Hucitec, São Paulo. saúde: o ser, o saber, o fazer. Fiocruz, Rio de Janeiro.
Neder CAP 2001. Participação e gestão pública: a expe- Silva Júnior AG 1998. Modelos tecnoassistenciais em saú-
riência dos Movimentos Populares de Saúde no Mu- de: o debate no campo da saúde coletiva. Saúde em
nicípio de São Paulo. Dissertação de mestrado. Facul- Debate – Série Didática. pp. 72-89. Hucitec, São
dade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Paulo.
Campinas, Campinas.
Nemes MIB 1990. Ação programática em saúde: recupe-
ração histórica de uma política de programação, pp.
65-116. In LB Schraiber (org.). Programação em Artigo apresentado em 28/10/2004
saúde hoje. Hucitec, São Paulo. Aprovado em 8/12/2004
Versão final apresentada em 8/12/2004