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escritores
• Alexandre Honrado
• Eça de Queirós
E nem sei se depois adormeci - porque os meus pés, a que não
sentia nem o pisar nem o rumor, como se um vento brando me
levasse, continuam a tropeçar em livros num corredor apagado,
depois na areia do jardim que o luar branqueava, depois na Avenida
dos Campos Elísios, povoada e ruidosa como numa festa cívica. E, oh
portento! Todas as casas aos lados eram construídas com livros. Nos
ramos dos castanheiros ramalhavam folhas de livros. E os homens, as
finas damas, vestidos de papel impresso, com títulos nos dorsos,
mostravam em vez de rosto um livro aberto, a que a brisa lenta
virava docemente as folhas. Ao fundo, na Praça da Concórdia, avistei
uma escarpada montanha de livros, a que tentei trepar, arquejante,
ora enterrando a perna em flácidas camadas de versos, ora batendo
contra a lombada, dura como um calhau, de tomos de Exegese e
Crítica. (...) E assim ascendi ao Paraíso.
A Cidade e as Serras
• Eugénio Lisboa
Em sentido muito real, as pessoas que leram boa literatura
viveram mais do que as pessoas que não sabem ler ou não se querem
dar ao trabalho de ler... Não é verdade que tenhamos uma só vida
para vivermos; se soubermos ler, poderemos viver tantas vida e
tantas variedades de vida quantas desejarmos.
Ler é transformarmo-nos de um em muitos - de singular em plural.
in, Diálogos com a literacia , org. Helena Cidade Moura
• Fernando Pessoa
Leio e estou liberto. Adquiro objectividade. Deixei de ser eu e
disperso. E o que leio, em vez de ser um trajo meu que mal vejo e por
vezes me pesa, é a grande clareza do mundo externo, toda ela
notável.
in, Livro do Desassossego. Bernardo Soares
• Haruki Murakami
"Decido matar o tempo que falta até ser noite e ir ler para uma
biblioteca. Desde pequeno que adoro passar horas e mais horas nas
salas de leitura das bibliotecas, por isso, antes de vir para Takamatsu,
tratei de reunir toda a informação acerca das bibliotecas que é
possível encontrar no centro e à volta da cidade. [...]
Costumo ir sempre à biblioteca pública depois das aulas. Mesmo nas
férias, é aí que me encontram. Devoro tudo e mais alguma coisa -
romances, biografias, livros sobre história, numa palavra, o que
estiver à mão de semear. Depois de ter passado em revista todos os
livros infantis, mudei para a secção seguinte, que é como quem diz,
às estantes de novidades e livros para adultos. Podia não entender
muita coisa que lá aparece escrita, mas lia-os sempre até à última
página.[...]
A biblioteca era a minha segunda casa. Ou, se calhar, até a minha
verdadeira casa." (p. 47)
In, Kafka à beira-mar
• Manuel Alegre
Yambo, a sixty-ish rare book dealer who lives in Milan has suffered a loss of
memory; not the kind of memory neurologists call 'semantic' (Yambo remembers
all about Julius Caesar and can recite every poem he has ever read), but rather his
'autobiographical' memory: he no longer knows his own name, doesn't tecognize his
wife or his daughters, doesn't remember anything about his parents or his
childhood.
His wife, who is at his side as he slowly begins to recover, convinces him to return
to his family home in the hills somewhere between Milan and Turin. Yambo
promptly retreats to the sprawling attic, cluttered with boxes of newspapers, comics,
records, photo albums and adolescent diaries.
There, he relives the story of his generation: Mussolini, Catholic education and guilt, Josephine Baker,
Flash Gordon, Cyrano de Bergerac.
As he recovers his memory, two voids remain shrouded in fog: a terrible event he experienced during the
resistance, and the vague image of a girl whom he loved at sixteen, then lost. But a relapse occurs.
Now in a coma, his memories run wild, and life racing before his eyes takes the form of a graphic novel.
Yambo struggles through the frames to find at last the face of the girl he loves: she descends the stairs of
their high school and morphs into a Dante-esque promise (or threat) of the afterlife, as he struggles harder
to capture her simple, innocent, real-life image - the schoolgirl he never forgot.
Copiously illustrated throughout with images from comics, book jackets, record sleeves and other printed
ephemera, The Mysterious Flame is a fascinating and hugely entertaining new novel from the
incomparable Umberto Eco.