Nada cresce ou se cria. Só o Espírito se move. Ele representa
o impulso criador da Vida. Por ser ele que descreve e percebe a Vida tal qual ela é, sua existência se torna condição imprescindível. Tudo na Vida, portanto, é impulso criador. O impulso que nos leva a viver e a realizar no mundo não parece ser diferente para cada ser humano. O desejo de ter prazer, de ter poder ou mesmo a busca por uma auto-realização, parece-nos ter uma origem comum. Essa origem advém da estrutura íntima do Espírito que contém a capacidade de ser receptivo ao influxo criativo de Deus e, ao mesmo tempo, a disposição de aplicar esse ganho externo vindo do Criador. Todos somos “convidados” ao uso desse impulso participando da organização e manutenção do Universo. Usando a criatividade e aplicando as leis de Deus, com o livre-arbítrio, contribuímos com Ele na expansão da Natureza. A esse impulso, quando se manifesta na busca pela expressão instintiva que inclui a conservação da própria vida, atribuo o adjetivo de primário. É nessa fase que o ser solidifica sua existência pela estruturação e defesa da vida orgânica. É primário por que é básico e primitivo. Está presente em todos os seres da Natureza. É a manifestação do Impulso Divino na forma mais inconsciente e embrutecida possível. Por sua causa o Espírito estará atuando na Vida deterministicamente, sem consciência de sua existência e, principalmente, de sua individualidade. Após o aprendizado, recebendo desde milhões de anos as primeiras manifestações do Impulso Divino, o ser viverá a fase em que ele se apresentará de forma secundária. É quando ele passa a expressá-lo de três formas distintas: do sexo, do desejo de referenciar-se e do estabelecimento de um espaço próprio. Embora continue a manifestá-lo na forma primitiva, ele buscará refinar esse impulso interno irrefreável, nas ações que podem ser, mesmo que por instantes, postergadas. Nesse período seu desejo de poder se manifestará, instalando-se nele as primeiras ocorrências egóicas. Em toda sua evolução o Espírito estará sujeito a esse impulso, sendo característica de maturidade a educação de seu uso. O impulso terciário, isto é, a manifestação do Impulso Divino, de forma mais madura ocorrerá quando o Espírito começar a compreender que é inevitável fugir dele e que deve utilizá-lo a serviço da Vida. Com ele buscará livrar-se de seus medos, das tensões psíquicas provocadas pelas experiências comuns e estará consciente de sua utilidade na aquisição do conhecimento das leis de Deus. É ainda nessa fase que ele aprenderá o significado das relações afetuosas, do amor, do perdão e de outras formas superiores de expressão daquele Impulso. A descoberta da necessidade de auto-realização, da realização do si mesmo, da individuação, ou de qualquer denominação que venhamos a dar ao sentido da Vida, pressupõe uma percepção plena da natureza do Impulso Divino, bem como do conhecimento de sua utilidade. Esse impulso também foi chamado por Jung de energia psíquica, a qual se distribui pelo perispírito e nos permite a realização de todas as emoções, pensamentos e atitudes.
Excerto do livro Psicologia do Espírito, de Adenáuer Novaes