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Neste artigo apresenta-se, inicialmente, a análise de alguns dados do sistema elétrico brasileiro com o objetivo de identificar as possíveis razões para a implantação de Smart Grids no país. Com base nisso, é exibido um paralelo entre as realidades brasileiras e mundiais. Em seguida, são expostas informações sobre os projetos de P&D das concessionárias de energia elétrica em progresso relacionados ao tema, e finalmente é posta a visão dos autores sobre o papel das universidades nesse contexto. Esse trabalho, embora teórico, presta-se a motivar reflexões quanto às ações a serem priorizadas para a otimização da produção de soluções associadas à realidade nacional.
Neste artigo apresenta-se, inicialmente, a análise de alguns dados do sistema elétrico brasileiro com o objetivo de identificar as possíveis razões para a implantação de Smart Grids no país. Com base nisso, é exibido um paralelo entre as realidades brasileiras e mundiais. Em seguida, são expostas informações sobre os projetos de P&D das concessionárias de energia elétrica em progresso relacionados ao tema, e finalmente é posta a visão dos autores sobre o papel das universidades nesse contexto. Esse trabalho, embora teórico, presta-se a motivar reflexões quanto às ações a serem priorizadas para a otimização da produção de soluções associadas à realidade nacional.
Neste artigo apresenta-se, inicialmente, a análise de alguns dados do sistema elétrico brasileiro com o objetivo de identificar as possíveis razões para a implantação de Smart Grids no país. Com base nisso, é exibido um paralelo entre as realidades brasileiras e mundiais. Em seguida, são expostas informações sobre os projetos de P&D das concessionárias de energia elétrica em progresso relacionados ao tema, e finalmente é posta a visão dos autores sobre o papel das universidades nesse contexto. Esse trabalho, embora teórico, presta-se a motivar reflexões quanto às ações a serem priorizadas para a otimização da produção de soluções associadas à realidade nacional.
Pedro de Faria Correia, Marcos Venicio Vasconcelos, Ansio de Leles
Resumo Neste artigo apresenta-se, inicialmente, a anlise de alguns dados do sistema eltrico brasileiro com o objetivo de identificar as possveis razes para a implantao de Smart Grids no pas. Com base nisso, exibido um paralelo entre as realidades brasileiras e mundiais. Em seguida, so expostas informaes sobre os projetos de P&D das concessionrias de energia eltrica em progresso relacionados ao tema, e finalmente posta a viso dos autores sobre o papel das universidades nesse contexto. Esse trabalho, embora terico, presta-se a motivar reflexes quanto s aes a serem priorizadas para a otimizao da produo de solues associadas realidade nacional.
Os Sistemas Eltricos de Potncia (SEP) deparam-se, hoje, com novos desafios e exigncias de uma sociedade digitalizada e conscientizada ambientalmente, com demandas de mais qualidade, segurana, flexibilidade e sustentabilidade [1]. O governo tambm exerce presso sobre o setor eltrico na busca por maior eficincia e transparncia. Nesse cenrio, as limitaes do sistema atual vm sendo colocadas cada vez mais em evidncia, dando corpo a crescentes questes que discutem o futuro dos SEP e que abrangem esferas no apenas tcnicas, mas polticas e sociais [2]. Solues prticas vm sendo buscadas para fazer frente a essas dificuldades, e o que se v em diversos pases uma cada vez mais madura convergncia para o desenvolvimento daquilo que se convencionou chamar Redes Eltricas Inteligentes, ou Smart Grids. Isso se faz evidente, sobretudo, pelos volumosos investimentos em numerosas iniciativas voltadas para a implantao desse conceito em todo o mundo e tambm no Brasil, que hoje d os primeiros passos nessa tendncia mundial de migrao tecnolgica e conceitual. Sabendo-se que as Redes Inteligentes no tm frmula pronta e que motivaes diferentes geram solues diferentes, um aprofundado estudo daquilo que essa ferramenta oferece, das necessidades brasileiras, e das realidades tcnica, econmica e social atuais se faz indispensvel para uma eficaz transio na busca de sistemas eltricos mais inteligentes. O presente artigo, aps breve introduo sobre caractersticas do sistema eltrico atual e do que constitui o Smart Grid, apresenta de forma resumida os possveis motivadores nacionais frente ao que vem norteando os esforos em outros pases. Em seguida, investiga-se a atual situao na qual o Brasil se encontra no processo de modernizao de suas redes, com a exposio de algumas informaes relacionadas aos projetos de P&D das concessionrias de energia eltrica, muitas vezes incentivados pela ANEEL. Com base na anlise dos materiais exibidos, os autores apresentam as suas vises sobre o papel e a importncia das universidades nesse contexto, especialmente quanto necessidade de construo de laboratrios especializados na rea.
II. O SISTEMA ELTRICO BRASILEIRO E O SMART GRIDS
O SEP brasileiro, similarmente ao que se encontra no resto do mundo, constitudo de uma extensa e complexa infraestrutura que visa o fornecimento de energia eltrica aos consumidores finais. Para tal, a composio bsica desse sistema engloba as atividades de gerao, transmisso, distribuio e por fim, os usurios. A Figura 1 mostra como se organiza essa estrutura.
Figura 1. Sistemas Eltricos de Potncia atuais (fonte: [14]) Da Figura 1, percebe-se uma marcante caracterstica dessa composio, que a sua natureza hierrquica: a gerao centralizada e o fornecimento unidirecional, deixando os consumidores como agentes meramente passivos na cadeia produtiva e de transporte da energia eltrica. O sistema eltrico presente no Brasil conta com 63 concessionrias e 38 permissionrias de distribuio, que forneciam energia eltrica para mais 70 milhes de unidades consumidoras em 2011 [4]. Dessas, 85% eram residenciais, com consumo mdio mensal de 158 kWh [5]. No entanto, esse dado isolado no permite uma compreenso geral do sistema nacional, que marcado por profunda diversidade. A exemplo disso, considera-se o caso da cidade de So Paulo, com consumo mdio residencial de 229 kWh/ms, em contraste com o estado do Sergipe, onde esse nmero no passa de 71 kWh/ms, segundo dados da ANEEL de 2011. A origem dessa discrepncia pode estar associada a aspectos sociais e econmicos como a desigualdade de renda, uma vez que, em 2010, enquanto So Paulo possua uma renda per capta mdia anual superior a R$21.000, esse valor no chegava a R$7.500 no estado do Sergipe [6]. Outra caracterstica do sistema eltrico brasileiro que se associa a esse quadro a elevada disparidade nos nveis de qualidade de servios prestados. A Figura 2 exibe a distribuio do indicador de continuidade Durao Equivalente de Interrupo por Unidade Consumidora (DEC) no Brasil.
Figura 2. Distribuio do indicador de qualidade DEC no Brasil (fonte ANEEL) Na Figura 2, verifica-se que a regio Sudeste do pas registra os melhores ndices, enquanto o Norte apresenta patamares bem inferiores, representados na cor vermelha. Alm dos aspectos mencionados, o SEP brasileiro tambm pode ser caracterizado, entre outros, pelas limitaes do sistema de absorver novas fontes alternativas, que vm apresentando constante crescimento; pelo nmero ainda elevado de interrupes de fornecimento envolvendo grande nmero de usurios; e pela falha comunicao entre o consumidor e a distribuidora, afinal, ainda hoje, para que uma concessionria tenha conhecimento de uma falta de energia, h a necessidade de contato do cliente [1]. Assim, entende-se que o Brasil tem pela frente grandes desafios, que podem ser enfrentados com a explorao e o desenvolvimento de modelos propostos dentro do que se pensa de Smart Grids. Neste caso, importante notar que Smart Grids no se define como uma tecnologia ou um equipamento especfico, mas sim como um conceito, uma maneira de se trabalhar o SEP [1]. A Figura 3 mostra o modelo conceitual obtido do NIST (National Institute of Standards and Technology, dos EUA), que explicita os agentes envolvidos na composio das redes inteligentes, bem como suas relaes.
Figura 3. Modelo conceitual de Smart Grids (fonte: [2]) Da Figura 3 pode-se entender o conceito de Smart Grid como sendo a rede eltrica que se beneficia de tecnologia digital avanada para monitorar e gerenciar o transporte de eletricidade em tempo real. Com fluxos bidirecionais de energia e informaes entre o sistema de fornecimento de energia e o cliente final, ela integra e possibilita aes de todos os usurios a ela conectados, de modo a fornecer eficientemente, uma energia sustentvel, econmica e segura [2], [3]. Algumas das caractersticas que se espera que as redes inteligentes possibilitem ao SEP so:
Possibilidade de participao ativa dos consumidores; Capacidade de acomodar fontes de energia alternativas; Reduo de perdas, elevando a eficincia do sistema e causando menor impacto ambiental; Fornecimento de energia com a qualidade exigida pela sociedade digital; Antecipao e resposta a distrbios no sistema (auto- recuperao); Viabilizao de novos mercados competitivos de energia
III. MOTIVADORES NO BRASIL E NO MUNDO
A busca por uma rede mais eficiente e aderente s necessidades e exigncias atuais algo global. No entanto, os pontos que motivam essa demanda, em geral, diferem muito entre os pases e as regies, e a anlise desses motivadores certamente um dos aspectos que molda as estratgias de implantao das redes inteligentes. Grosso modo, pode-se dizer que no mundo, so trs os principais motivadores para Smart Grids, a saber: a necessidade de reduzir a emisso de gases poluentes na atmosfera; a reduo do consumo de energia eltrica; e a reduo dos custos relacionados operao da rede. Nos EUA, que possuem a maior economia e um dos maiores consumos de energia eltrica no mundo [2], a eficincia das redes caracteriza-se como aspecto vital. Como consequncia, seus principais esforos esto voltados para os problemas relacionados aos seus ativos envelhecidos. Alm disso, demandas quanto segurana do sistema e a limpeza da matriz, predominantemente constituda por carvo, tambm constituem fortemente os motivadores estadunidenses. J a Europa apresenta a preocupao ambiental como seu foco principal, em que a busca por uma matriz mais limpa norteia, prioritariamente, as aes de modernizao do sistema. Com isso, surgiu a Agenda 20/20/20 - coletnea de metas a serem alcanadas at 2020, como o aumento do uso de fontes alternativas e da eficincia energtica [3], [5], [7], [8]. No Brasil, nos ltimos anos, muito se tem discutido acerca de quais so os principais motivadores para a implantao de Smart Grids. Naturalmente, isso se d porque o pas no pode se lanar em grandes e dispendiosos esforos sem essa cuidadosa avaliao, simplesmente tomando como modelo as aes de outro pas de realidade tcnica e social diferentes [1], [2], [9]. Nesse contexto, apresenta-se a Figura 4, que compara a matriz energtica de diversos pases.
Figura 4. Matriz energtica em diversos pases (fonte: ANEEL) Na Figura 4, observa-se que a matriz energtica brasileira uma das mais limpas do mundo, com cerca de 90% de sua energia proveniente de fontes renovveis, especialmente via usinas hidreltricas, contra os 18% da mdia mundial em 2007. Assim, o motivador ecolgico, to presente em outras naes, no representa uma real necessidade no Brasil. Ainda, apresenta-se a Figura 5, que ilustra o consumo de energia per capita por ano em diferentes pases e regies do mundo.
Figura 5. Consumo de energia per capita (kWh/ano) (fonte: ANEEL) Da Figura 5 possvel inferir que a reduo do consumo de energia eltrica no deve se configurar como objeto de ao prioritria no Brasil. Nosso consumo baixo quando comparado ao dos pases desenvolvidos, e assim, sua diminuio devido ao advento de redes inteligentes no pagaria seu investimento. Em adio, importante citar que devido ao reduzido salrio mnimo presente no pas, a diminuio de custos operacionais tambm no tende a se caracterizar como forte razo para a implementao de Smart Grids. A Figura 6 mostra a comparao do salrio mnimo entre diferentes pases.
Figura 6. Salrio mnimo mdio (fonte: IEA)
No entanto, outros fatores podem ser apontados como indicativos para justificar modificaes da rede eltrica brasileira rumo a uma rede mais inteligente. A Figura 7, que exibe os percentuais de perdas tcnicas e no tcnicas no Brasil, ilustra um desses aspectos.
Figura 7. Perdas tcnicas e no tnicas (fonte: ANEEL) Na Figura 7, observa-se que as perdas representam quase 20% da energia gerada no pas. As comerciais, que alcanam cerca de 7% dessa energia, com prejuzos da ordem de R$ 8 bilhes anuais, indicam um motivador econmico a ser explorado [9], [10]. Embora se espere um maior impacto do combate s perdas na distribuio, interessante ressaltar que as mesmas podem ser reduzidas tambm na transmisso, com grande auxlio do advento da gerao distribuda. Outro aspecto que pode justificar o desenvolvimento de Smart Grids no Brasil diz respeito frequncia e durao de interrupes do fornecimento verificadas no sistema. Quando comparados os ndices nacionais com o que se observa em pases desenvolvidos, detecta-se a necessidade de melhorias [11]. Ainda, relevante citar que aes voltadas reduo da demanda de pico, alm de diminuir o custo da eletricidade, podem aliviar a infraestrutura existente e, consequentemente, postergar investimentos em sua expanso [2], o que pode ser tambm um motivador para a implantao desse novo sistema no pas.
IV. CONJUNTURA NACIONAL
Alguns passos vm sendo dados no sentido de promover essa migrao da rede eltrica brasileira para as redes inteligentes. A ANEEL regulamentou, nos ltimos anos, alguns itens relacionados a Smart Grids, que podem incentiv-lo, como o Power Line Comunication (PLC), que contribuir para solues in home; a gerao distribuda de pequeno porte, tornando o Brasil um dos pioneiros na regulamentao dessa rea [12]; e mais recentemente, a medio inteligente, com suas primeiras funcionalidades e prazos para substituio. O prximo item da agenda a aplicao do novo modelo de tarifao, que passa a considerar novos postos tarifrios, de grande importncia para a reduo do pico de demanda. H, no Brasil, um considervel nmero de projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Demonstrao sobre Smart Grids ou sobre aspectos relacionados diretamente a ele. Muitos so apoiados pela ANEEL, como no caso da Chamada de Projeto Estratgico de P&D n 011/2010, que promoveu estudos de aplicabilidade no Brasil [14]. O projeto foi dividido em sete blocos, que so apresentados na Figura 8.
Figura 8. Blocos de Pesquisa Projeto Estratgico de P&D da ANEEL (fonte: [14]) Da Figura 8 apreende-se a organizao empreendida pela ANEEL no sentido de promover um eficaz esforo em conjunto rumo ao desenvolvimento do Smart Grid no pas, bem como suas interaes intrnsecas. Esse projeto, que foi apresentado em workshops em trs etapas, gerou uma Agenda de P&D, com temas relacionados s redes inteligentes sugeridos para desenvolvimento nos prximos anos e resultou em um livro, onde se apresentam os resultados obtidos nos diferentes blocos de pesquisa. Vrias concessionrias vm investindo em P&D e na implantao de projetos piloto, como o caso da Cemig, que foca em automatizao da distribuio, e da EDP Bandeirante, que objetiva transformar o municpio de Aparecida em uma smart city, a exemplo da cidade de vora, em Portugal [15]. Alm dessas, a Light, a Ampla e outras tambm apresentam projetos avanados. De uma maneira geral, os programas piloto tm dado maior importncia implantao de infraestrutura de medio inteligente, em cujo campo se estima a substituio de 63 milhes de medidores nos prximos anos, e em solues em gerao distribuda, principalmente com fontes solares e elicas, alm de automao da distribuio e outros [2], [13]. Com isso, somam-se 178 projetos e um investimento superior R$410 milhes [2]. A Figura 9 apresenta os projetos divididos por tema.
Figura 9. Projetos de concessionrias por tema A Figura 9 mostra a maior concentrao de projetos voltados automao da distribuio e gerao distribuda, seguidos por telecomunicaes e medidores inteligentes. Nesse escopo vale comentar o fato da regio Sudeste ser destaque quanto ao nmero e valor dos investimentos, que supera em cerca de 2,5 vezes a soma dos valores nas outras regies [2]. A Figura 9 tambm revela apenas uma iniciativa voltada para o fornecimento de novos servios ao consumidor, fato que pode se alterar com a apropriao do novo sistema e de suas oportunidades pelo mercado. Em universidades e centros de pesquisa tambm esto sendo realizados importantes estudos, geralmente com apoio de rgos federais ou em parceria com empresas interessadas. Porm, isso tem se dado de maneira mais tmida. O nmero de projetos conduzidos por universidades reduzido em comparao quele das concessionrias e poucas so as instituies que possuem projetos voltados formao de mo de obra especializada em redes eltricas inteligentes [2]. As iniciativas acadmicas hoje somam 79 projetos em temas que dizem respeito ao Smart Grids, e mesmo esses projetos apresentam limitada influncia e profundidade quando comparado aos fornecedores [13]. Isso pode estar relacionado com o fato de que no se percebe, hoje, um forte incentivo para o desenvolvimento desses projetos, enquanto a indstria tem sido foco de importantes investimentos [16].
V. A INICIATIVA ACADMICA E LABORATRIOS EM SMART GRIDS
Apesar da implantao de um sistema eltrico inteligente lidar com grande variedade de locais, realidades e dimenses, importante manter em mente que as ambies desse processo no se limitam questo tcnica. Ademais, faz-se necessrio ressaltar que, para a indstria, o Smart Grid se caracteriza como uma grande oportunidade de se reduzir a dependncia tecnolgica do pas, aproveitando o fato de se tratar de um conceito recente, com tecnologia igualmente nova. Por essa razo, o objetivo inicial dos projetos em Smart Grids de que produzam estratgias de pesquisa, de desenvolvimento e de demonstrao que viabilizem a avaliao de projetos piloto que geraro solues e produtos de forma quase simultnea aos outros pases [11]. Esses aspectos permitem perceber que as atividades acadmicas voltadas ao desenvolvimento de pesquisa de base, ao treinamento e formao de mo de obra especializada e qualificada, dentre outras aes, assumem papel prioritrio para o sucesso desta empreitada. Essa noo da importncia da evoluo de como se compreende o Smart Grid e da capacidade de trabalh-lo de maneira eficiente no ignorada. Seminrios, fruns e workshops voltados para o assunto, alm de cursos que so oferecidos, sob demanda, por institutos privados ocorrem com certa frequncia. A Cemig, concessionria que pesadamente investe no desenvolvimento de uma rede mais inteligente, com investimentos programados em mais de R$ 200 milhes [2], [17], tambm comea a promover cursos de especializao na rea. Porm, esses eventos so quase que exclusivamente voltados para um ambiente j profissional, intentando promover uma adaptao nova realidade que se percebe no horizonte, e no de fato na criao dessa realidade [18]. Naturalmente, esses esforos so de grande valia para o pas que pretende alcanar em um futuro prximo uma rede inteligente plenamente estabelecida. No entanto, sublinha-se a necessidade de fomentar e favorecer a formao de base de profissionais aptos a atuarem no contexto de Smart Grids. O ambiente no qual o SEP vai se desenvolver nos prximos anos apresentar caractersticas estruturais bastante diferentes das atuais, e as novas funes e oportunidades associadas a esse sistema demandam engenheiros j inseridos na mentalidade smart [19]. Essa preocupao, juntamente com a de fomento inovao e produo de conhecimento, bastante evidente nos pases que projetam sua transio da rede eltrica para os prximos anos. A presena de centros de pesquisa voltados exclusivamente para o desenvolvimento do conceito de Smart Grid e de tecnologias a ele relacionadas prova disso. Enquanto no Brasil o nmero de laboratrios operacionais e de projetos para a construo desse tipo de instalao que permite pesquisas de base reduzido, ao redor do mundo a situao diferente. Por meio de laboratrios bem equipados e com uma mentalidade voltada para o desenvolvimento de solues prticas, diferentes pases tm obtido bons resultados. O Durham University Smart Grid Laboratory, na Inglaterra, um exemplo de infraestrutura que dispe de diversos equipamentos, como uma rede de baixa tenso flexvel, um Real Time Digital Simulator (RTDS), alm de emuladores fotovoltaicos, elicos, entre outros [20]. Numerosos projetos em variadas linhas de pesquisa, alm de diversos cursos, tronam-se possveis graas a esse ambiente. A Figura 10 mostra o esquema eltrico do supracitado laboratrio.
Figura 10. Esquema eltrico do Durham University Smart Grid Laboratory (fonte: [20]) Da Figura 10 pode-se perceber a amplitude de recursos e possibilidades disponveis para um estudo que vislumbre a totalidade dos atributos de uma Smart Grid. Essa disponibilidade est de total acordo com a condio abrangente do assunto em questo e um dos principais atributos que um ambiente desses deve perseguir. Alm de Durham e outras universidades europeias, nos EUA tambm, universidades como as de Buffalo, da Flrida e da Califrnia possuem laboratrios j com produo e participao ativa na implementao de redes mais inteligentes. Nesse contexto, pode-se destacar o caso da Berkeley University, que, contando com o laboratrio Lab- Volt, oferece curso de profissionalizao em Smart Grids de dois anos de durao, com a presena de mdulos que lidam com diferentes aspectos do novo sistema eltrico, alm da possibilidade de treinamento em reas correlatas, como gerao distribuda e sistemas de transmisso e distribuio [21]. Esses laboratrios, que podem servir de modelo s iniciativas brasileiras, so capazes de executar variados testes, favorecendo a viso global que o assunto exige, bem como o desenvolvimento de aspectos especficos, em consonncia com os desafios enfrentados pelo setor eltrico nacional. Entre os possveis estudos, pode-se desenvolver e testar novos sistemas de distribuio e proteo; estudar o comportamento eltrico e os impactos associados s microgrids e suas tecnologias; produzir tcnicas de controle, monitoramento e comunicao para a rede; entre tantas outras possibilidades. Alm disso, estes ambientes exercem um papel vital para que cursos de graduao e ps-graduao estejam aptos a formar grupos de futuros profissionais qualificados e capacitados para lidar com o SEP nessa nova configurao que o Smart Grid. Mais um aspecto no qual a construo de laboratrios de grande relevncia na composio de um ambiente de debate em contexto acadmico, e, portanto, independente, das diretrizes estratgicas oficiais mais adequadas para a situao nacional. A importncia dessas definies absoluta e influencia todos os agentes relacionados s redes eltricas, e o papel de artigos e estudos acadmicos nesse sentido deve ser de acentuada evidncia. Muito se discute, por exemplo, se o foco que hoje dado pelo governo difuso de medidores eletrnicos em substituio dos eletromecnicos de fato o melhor caminho a ser seguido, revelia de programas que visem o desenvolvimento de automao da distribuio [22], [23]. Percebe-se, assim, que a importncia da universidade na inovao e na produo de conhecimento, j amplamente reconhecida, assume papel ainda mais crucial no contexto de Smart Grids. As mudanas no sistema j comeam a ocorrer e a necessidade de conceitos e de profissionais bem estabelecidos cada vez mais evidente, inclusive com o objetivo de no permitir que o Brasil fique para trs nessa tendncia tecnolgica que se configura como inevitvel.
VI. CONCLUSO
O trabalho aqui apresentado tem carter introdutrio de uma problemtica que deve ser encarada de forma ampla nos anos que seguem, vista a importncia do planejamento estratgico na concepo e implementao de um sistema da magnitude que as redes inteligentes exigem. Como em outras frentes, o quanto a iniciativa acadmica poder contribuir vai depender de uma srie de fatores, como determinaes e diretrizes estabelecidas pelo governo em seu planejamento estratgico e o incentivo disponibilizado. No entanto, inegvel o poder das universidades ao se apropriarem desse conceito, e passarem a gerar conhecimento, tecnologia inovadora e mo de obra qualificada. Nesse sentido, e com a observao do sucesso obtido em outros pases, percebe-se que o advento de laboratrios nacionais deve produzir uma grande e qualitativa expanso daquilo que se produz referente s redes eltricas inteligentes no Brasil. Dessa forma, fica ainda em aberto o questionamento das prioridades do governo quanto a esse desenvolvimento. O que se espera nos prximos anos que resultados mais efetivos sejam obtidos em projetos de P&D em que uma discusso ainda mais abrangente e melhor embasada acerca daquilo que se espera obter no pas, bem como das melhores formas de se atingir esses fins.
VII. REFERNCIAS
[1] Ministrio de Minas e Energia, Relatrio do Grupo de Trabalho de Redes Eltricas Inteligentes, 2010. [2] Ministrio de Cincia, Tecnologia e Inovao, Redes Eltricas Inteligentes: Contexto Nacional, 2011. [3] International Energy Agency, Technology Roadmap Smart Grids, 2011. [4] http://www.brasil.gov.br/sobre/economia/energia/setor- eletrico/distribuicao (acesso: 29/12/2012) [5] http://rad.aneel.gov.br/ReportServerSAD?%2fSAD_REPORTS%2fCo nsumidoresConsumoReceitaTarifaMedia- ClasseConsumo&rs:Command=Render (acesso 25/01/2012) [6] IBGE, Censo Demogrfico 2010. [7] S. Suryanarayanan, P. F. Ribeiro, M. Godoy Simes, Grid Modernization Efforts in the USA and Brazil Some Common Lessons Based on the Smart Grid Initiative, 2010. [8] U.S. Department of Energy , The Smart Grid: An Introduction, 2008. [9] European Comission, Europe 2020 Targets. Disponvel em: http://ec.europa.eu/europe2020/europe-2020-in-a- nutshell/targets/index_en.htm (acesso em 07/12/2012). [10] Artur S. Carrijo e Roberto C. Lotero, Comparando a Realidade Brasileira com o Desenvolvimento de Smart Grid em Sistemas de Distribuio dos Estados Unidos e da Europa, 2012. [11] L. M. Freire, E. M. A. Neves, L. I. Tsunechiro, D. Capetta , Perspectives of Smart Grid in the Brazilian Electricity Market. [12] M. V. P. Alcntara, Aspectos Regulatrios e Projetos de P&D na Implementao da Rede Inteligente. Apresentado em 4 Frum Latino de Smart Grids, 2011. [13] Cyro Vicente Boccuzzi, Tecnologia de Smart Grids no Brasil: avanos regulatrios e institucionais, 2011. [14] M. V. P. Alcntara, Agenda de Pesquisa em Rede Inteligente no Programa de P&D da ANEEL, 2012. [15] Smart Grid News, InovCity completa um ano de implantao gerando resultados para populao, http://smartgridnews.com.br/inovcity- completa-um-ano-de-implantacao-gerando-resultados-para-populacao/ (acesso: 28/10/2012) [16] Smart Grid News, Prximo incentivo do governo ser para smart grid, http://smartgridnews.com.br/proximo-incentivo-do-governo-sera-para- smart-grid/ (acesso em 30/10/2012) [17] Smart Grid News, Cemig comea a instalar medidor inteligente de energia, http://smartgridnews.com.br/cemig-comeca-a-instalar- medidor-inteligente-de-energia/ (acesso em 30/10/2012) [18] http://sustentabilidadecemig.blogspot.com.br/2013/01/smart-grid- curso-capacitara.html (acesso em 28/01/2013) [19] Djalma M. Falco, Intergrao de Tecnologias para Viabilizao da Smart Grid. [20] Durham University, Smart Grids Laboratory. Disponvel em: https://www.dur.ac.uk/ecs/smart.grid/ (acesso em 17/11/2012). [21] Panfleto de treinamento do Lab Volt, disponvel em http://www.labvolt.com/downloads/download/88831_00.pdf. [22] R. C. Gomes, A. L. Printes, C. M. Ramos, Proposta de Sistema com Arquitetura para Implementao de uma Smart Grid na Rede de Distribuio de Baixa Tenso. [23] Jesse Berst, Are We Building the Grid @$$ Backwards?, http://www.smartgridnews.com/artman/publish/Delivery_Distribution_ Automation_News/Are-We-Building-the-Grid-Backwards-2796.html (acesso 23/11/2012)
Filtro Ativo de Potência e Armazenamento em Sistemas de Distribuição: uma Busca pela Qualidade e Eficiência Energética em Sistemas com Geração Intermitente