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poética
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RUY BELO
(1933-1978)
ANTÓNIO GEDEÃO
( 1906-1997)
É um bom dissolvente.
Embora com excepções mas de um modo geral,
dissolve tudo bem, ácidos, base e sais.
Congela a zero graus centesimais
e ferve a 100, quando à pressão normal.
DAVID MOURÃO-FERREIRA
(1927-1996)
SONETO DO CATIVO
Se é sem dúvida Amor esta explosão
de tantas sensações contraditárias,
a sórdida mistura das memórias,
tão longe da verdade e da invenção;
MIGUEL TORGA
(1907-1995)
Livro de Horas
FLORBELA ESPANCA
(1894-1930)
Horas mortas... Curvada aos pés do Monte Eu quero amar, amar perdidamente!
A planície é um brasido e, torturadas, Amar só por amar: Aqui... além...
As árvores sangrentas, revoltadas, Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Gritam a Deus a benção duma fonte! Amar! Amar! E não amar ninguém!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede: E se um dia hei-se ser pó, cinza e nada
--- Também ando a gritar, morta de sede, Que seja a minha noite uma alvorada,
Pedindo a Deus a minha gota de água! Que me saiba perder... pra me encontrar...
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EUGÉNIO DE ANDRADE
(1923-2005)
POEMA À MÃE
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
JOSÉ RÉGIO
(1901-1969)
Cântico Negro
O general
E este silêncio
Caiu de alguma cidade da Lua?
Levantai-vos!
CRAVEIRINHA
Nem nada!
Eu
Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.
VINICIUS DE MORAES
A Porta
MÁRIO CESARINY
(1923-2006)
Pastelaria
Afinal o que importa não é a literatura nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que
importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que
importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante
Afinal o que
importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
AL BERTO
(1948- )
Há-de flutuar uma cidade
por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas
estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)
um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade