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Em meio à crise ambiental contemporânea, sustentada por uma estrutura social que tem como lógica a produção e o consumo, emergem diferentes possibilidades de articulação entre áreas distintas do conhecimento buscando estratégias para lidar com os problemas ambientais. Nesse sentido, a educação tem papel fundamental, constituindo-se numa das principais forças regentes da estrutura social. Outro fenômeno social que tem se destacado nas últimas décadas é o lazer. Educação e lazer são temas que possuem relações que se estendem em diversos contextos e, tanto no escolar quanto no não escolar, a educação pelo lazer tem aparecido cada vez mais nos processos de ensino e de aprendizagem. Dentro dessa lógica, apresentamos os resultados de uma pesquisa teórica em três partes: a primeira busca, por meio de uma contextualização histórica conceitual da educação ambiental, identificar as propostas críticas que estão em pauta na contemporaneidade; na segunda parte buscamos a compreensão de alguns elementos essenciais para a definição do conceito “lazer”; na terceira parte, já em nossas considerações finais, buscamos uma compreensão de lazer que possa realmente contribuir com as propostas críticas de educação ambiental, propondo, inclusive, um caminho para uma possível “educação ambiental pelo lazer”.
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Encontros contemporâneos entre lazer e educação ambiental: um possível caminho para a educação ambiental pelo lazer (Lazer e Sociedade, 2011)
Em meio à crise ambiental contemporânea, sustentada por uma estrutura social que tem como lógica a produção e o consumo, emergem diferentes possibilidades de articulação entre áreas distintas do conhecimento buscando estratégias para lidar com os problemas ambientais. Nesse sentido, a educação tem papel fundamental, constituindo-se numa das principais forças regentes da estrutura social. Outro fenômeno social que tem se destacado nas últimas décadas é o lazer. Educação e lazer são temas que possuem relações que se estendem em diversos contextos e, tanto no escolar quanto no não escolar, a educação pelo lazer tem aparecido cada vez mais nos processos de ensino e de aprendizagem. Dentro dessa lógica, apresentamos os resultados de uma pesquisa teórica em três partes: a primeira busca, por meio de uma contextualização histórica conceitual da educação ambiental, identificar as propostas críticas que estão em pauta na contemporaneidade; na segunda parte buscamos a compreensão de alguns elementos essenciais para a definição do conceito “lazer”; na terceira parte, já em nossas considerações finais, buscamos uma compreensão de lazer que possa realmente contribuir com as propostas críticas de educação ambiental, propondo, inclusive, um caminho para uma possível “educação ambiental pelo lazer”.
Em meio à crise ambiental contemporânea, sustentada por uma estrutura social que tem como lógica a produção e o consumo, emergem diferentes possibilidades de articulação entre áreas distintas do conhecimento buscando estratégias para lidar com os problemas ambientais. Nesse sentido, a educação tem papel fundamental, constituindo-se numa das principais forças regentes da estrutura social. Outro fenômeno social que tem se destacado nas últimas décadas é o lazer. Educação e lazer são temas que possuem relações que se estendem em diversos contextos e, tanto no escolar quanto no não escolar, a educação pelo lazer tem aparecido cada vez mais nos processos de ensino e de aprendizagem. Dentro dessa lógica, apresentamos os resultados de uma pesquisa teórica em três partes: a primeira busca, por meio de uma contextualização histórica conceitual da educação ambiental, identificar as propostas críticas que estão em pauta na contemporaneidade; na segunda parte buscamos a compreensão de alguns elementos essenciais para a definição do conceito “lazer”; na terceira parte, já em nossas considerações finais, buscamos uma compreensão de lazer que possa realmente contribuir com as propostas críticas de educação ambiental, propondo, inclusive, um caminho para uma possível “educação ambiental pelo lazer”.
Ministro do Esporte Orlando Silva Secretria Nacional de Desenvolvimento do Esporte edoLazer Rejane Penna Rodr i gues Escola de Artes, Cincias e Humanidades Diretor: Prof. Dr. J os J orge 80ueri Filho Vice-Diretor: Prof. Dr. Edson Rober t o Leite Universidade de So Paulo Reitor: Prof. Dr. J oo Grandino Rodas Vice-Reitor: Prof. Dr. Hlio Nogueira da Cruz REVISTA LAZl!R &SoCIEDADE Editor Executivo lnternacional Prof. Dr. Andr Thibault (uQTR/Canad) Editor Executivo Nacional Prof. Dr. Rieardo Ricci Uvinha ('''WUSP/~NPq) Coordenador Cientlfico Prof. Dr. Edmur Antonio Stoppa (GIELI1.:SP/CNPq) Coor denador es tcmtcos Profa. Dra. Iuliane Pedreschi Rodrigues (GIElJ liSPICNl'q) Prof. Dr. Reinaldo Tadeu 8oseolo Paeheco (GIEIJ U>P/CNPq) Prof. Dr. Sidnei Raimundo (CIElJ USPICNpq) Comit editorial Prof. Dr. Helder Ferreira lsayarna (l"FMG1"C.) Profa. Dra. Leila Mirtes Santos de Magalhes Pinto (SNDElJ DF) Prof. Dr. Nelson Carvalho Mareellino (C"'.IEP"P) Equipe de apoio editorial Alipio Rodrigues Pines lunior (CIEUUSP/CNpq) Bianca Aparecida Arajo Pizzoliro (G1EL/USP/CNPq) Eduardo Motoyuki Fushiki (GIElJ USP/CNpq) Fernanda Ribeiro de Moura (CIEUSP/CNpq) Iranilda Oliveira de Medeiros (GIEUUSP/C,"q) Ianana Carrasco Castilho (CIEUUSl'lCNpq) llio Ramos Ferrcira da Silva (GIEUUSP/CNpq) Kleber Vincius Barros Kaehinski ('OIEUUSP'CNpq) Larissa Costa Silva (GlflJ USI'/CNpq) Rafacla Amorim Gomes (GIEUU>P/CNl'q) Rosana Fernandcs dos Santos (GIWUSI'/CNpq) Tamires Martins da Silva (t,lflJ USP/CNPq) Thais Hel ena Fr anceschi ni (iIFlJUSP/CSpq) Revisores ad hoc nest a edi o Profa. Dra. Alcyane Marinho (cesse/se) Profa, Dra. Gisele Maria Schwartz (UNESP/SP) Prof Dr. Paulo dos Santos Pires (UNlvALJ iSC) Prof Dr. Sandoval Villavcrde Monreiro (IFR~/RN) Prof. Dr. Silvio Lima Figueiredo (CFPAlPA) Editor. Aleph Rua Dr. LulaMigliano, 1110Cj. 301- 05711-900 - So Paulo - SI' - Brasil Telefone: 15511137433202 - www.editoraaleph.eom.br-aleph@editoraaleph.com.br Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (Universidade de So Paulo, Escola de Artes, Cincias e Humanidades. Biblioteca) Lazer & sociedade I Escola de Anes. Cincias c Humanidades da Universidade de SJo Paulo. ser. 2011. - So Paulo: EACHIUSP: Aleph, 2011v.; 23 em Ir r egul ar . Resumos em Ingls, francs e espanhol . Subttulo: Lazer e ambiente: propostas. tendncias c desafios. Edi-obrasileira da revista Loisir cl socit = Society and leisure, ISSN 07053436. originalmente pubhcada em francs e ingls pela Universit du Qubec j Trois-Rivires. Editado em parceria com o Ministrio do Esporte. Secretaria Nacional de Desenvolvimento do Esporte c do Lazer. Edi t or Executivo Internacional: Andr Thibault: Edi t or Execut i vo Naci onal : Ri car do Rlcci Uvi nha. ISSN 2179-5371 1. Lazer c-Aspectos sociais. I. Universidade de So Paul o. Escola deArtes.Cincias e Humanidades. 11.Loisir et soctt. CDD-J 06.4812 As opinies emuidas nesta publicao so de exclusiva e Inteira responsabilidade dos seus autores, nac exprimindo. necessariamente, o ponto de vista do Ministrio do Esporte ou da Secretaria Nacional de Desenvolvimento do Esporte e do Lazer, ___________________ --.:~~.~nd~d pmihida. Sumr i o Mensagem do editor executivo internacionaL . Andr Thibault Mensagem do editor executivo nacional.. ...--..-.--....--.---- ..... ... Ricardo Ricci Uvinha Encontros contemporneos entre lazer eeducao ambiental: um possvel caminho para aeducao ambiental pelo lazer Cae Rodrigues eRobsOI1Amaral da Silva opapel do lazer na apropriao territorial urbana: estudo dos parques lineares, cemitrios, praas eperiferias --..- . Carla Rodrigues e Maria Luiza Abrantes Parques urbanos: interseces entre lazer eespao na cidade . Paulo Cezar Nunes [unior Realidades edesafios de parques naturais emreas urbanas: o Parque Estadual do Utinga, emBelrn do Par . Patricia Thatyane Miranda Cabtal, Mirleide Chaar Bahia e Silvio Lima Figueiredo Glampings eo apelo pr-arnbiental: turismo verde com estilo eglamour .... Gisele Maria Schwartz, Cristiane Naomi Kawaguti, GiseLle Helena Tavares, Ana Paula Evaristo Guizarde Teodoro e[uliana de Paula Figueiredo opapel do profissional de Educao Fsica ematividades de lazer voltadas ao ecoturismo - -- -- -- . Ana Ceclia Amaral Caetano eHumberto Lus de Deus Incio 5 7 9 25 41 55 69 87 Encont r os cont em por neos ent r e l azer e educao ambi ent al : um possvel cami nho par a a educao ambi ent al pel o l azer Coe Rodrigues' Robson Amoral do Sitvo' REsUMO: Emmeio crise ambiental contempornea, sustentada por uma estru- tura social que tem como lgica aproduo eo consumo, emergem diferentes possibilidades de articulao entre reas distintas do conhecimento, buscando estratgias para lidar com os problemas ambientais. Nesse sentido, aeducao tem papel fundamental, constituindo-se numa das principais foras regentes da estrutura de uma sociedade. Outro fenmeno social que tem sedestacado nas ltimas dcadas o lazer. Educao elazer so temas que possuem relaes que se estendem em diversos contextos e, tanto no escolar quanto no no escolar, aeducao pelo lazer tem aparecido cada vez mais nos processos de ensino e de aprendizagem. Dentro dessa lgica, so apresentados os resultados de uma pesquisa terica em trs partes: a primeira tem o propsito de, por meio de uma contextualizao histrica conceitual da educao ambiental, identificar as propostas crticas que esto em pauta na contemporaneidade; na segunda parte, buscou-se acompreenso dealguns elementos essenciais para adefinio do conceito "J azer"; na terceira parte, j nas consideraes finais apresentadas, procurou-se uma compreenso de lazer que possa realmente contribuir com aspropostas crticas de educao ambiental, sugerindo, inclusive, um caminho para uma possvel "educao ambienta! pelo J azer". I Doutorando emEducao, pela Universidade Federal de So Carlos - UFScar.Contato: avenida Tancredo deAlmeida Neves, 457/344 - 13561-260- So Carlos/sr: e-mail: caejah@hotmail.com. 2 Mestre emEducao, pela Universidade Federal deSo Carlos - urscar, Contato: rua Professor J os deCarnargo, 283 - CEP 13566-440- So Carlos/sr: e-mail: juninhoamaral(l.bol.com.br. 10 Lazer &Sociedade PALAVRAS-CHAVE: educao ambiental crtica; educao pelo lazer: pedagogia dialgica. ABSTRAcr:Amid the contemporary environmental crisis, underpinned by a social structure that values, above ali, production and consumption, different possibilities of cooperation emerge between distinct areas of knowledge in search of strategies for dealing with environmental problems. In this sense, education plays a fundamental role, becoming a major force of the social structure. Another social phenomenon that has emerged in recent decades is leisure. Furthermore, education and leisure are issues that have relations that extend in different contexts, and, both in school and in non-school contexts, education through leisure has appeared increasingly in teaching and learning processes. Within this logic, wepresent, inthree parts, the results of atheoretical research: the first part aims to identify, through the analysis of the conceptual history of environmental education, the critical proposals that are on the agenda today; in the second part we present some of the essential elements for understanding the definition of Teisure", in the third part, already in our final remarks, weseek an understanding of leisure that could really contribute with critical environmental education proposals, proposing apath towards a possible "environrnental education through leisure" KEvwORDs:critica I environmental education; education through leisure; dia- logic pedagogy. R.esuM2:Dans le cadre de Ia crise contemporaine sur I'environnement, sous- tendue par une structure sociale organise par Ia logique de production et de consommation, on regarde l'mergence des possibilits diffrentes de coordination entre diffrents doma ines de Iaconnaissance qui cherchent des stratgies pour faire face aux problemes environnementaux. En cesens, l'du- cation joue un rle fondamental car elle constitue I'une des principales forces rgentes de Iastructure sociale. Un autre phnornne social qui a rnerg au cours des dernieres dcennies est leloisir. Les thrnes d'ducation et du loisir serencontrent dans des contextes diffrents, tant au contexte de l'cole que en dehors, I'ducation par leloisir est apparue de plus en plus dans leprocessus de I'enseignement et I'apprentissage. Dans cette logique, on prsente les rsultats de cette recherche thorique en trois parties: a partir d'une contextualisation historique-conceptueUe de l'ducation I'environnement, Iaprerniere partie cherche identifier lespropositions critiques qui sont mis aujour; Iadeuxirne partie, on essaie de comprendre certains lments essentiels pour Iadfinition du "loisr", ensuite, dans Ia troisieme partie, dj aux remarques finales, on Cae Rodrigues e Robson Amaral da Silva cherche une cornprhension de "loisir" qui peut vraiment contribuer avec les propositions critiques de l'ducation I'environnement, en tant que, on pro- pose une voie vers une possible "l'ducation I'environnement par le loisir" MOTS-CL2s:ducation I'environnement critique; l'ducation par le loisir; pdagogie dialogique. REsUMEN:En medio a Ia crisis ambiental contempornea, apoyada por una estructura social que sigue Ialgica de Iaproduccin ydei consumo, diferentes posibilidades decooperacin emergen entre Iasdistintas reas dei conocimiento buscando estrategias para hacer frente a los problemas ambientales. En este sentido, Iaeducacin juega un papel fundamental, convirtindose en una fuerza importante de Iaestructura social. Otro fenmeno social que ha surgido en Ias ltimas dcadas es el ocio. La educacin yel ocio tienen relaciones que se ex- tienden en diferentes contextos, y tanto en Iaescuela cuanto fuera de Iaescuela Iaeducaein mediante el ocio ha aparecido cada vez ms en Iaenseanza yen el aprendizaje. Dentro deestalgica, sepresenta, en tres partes, losresultados de una investigacin terica: Iaprimera bsqueda, por medio de una contextualizacin conceptual histrica deIaeducacin ambiental, Iaidentificacin deIaspropuestas fundamentales que estn en Iaagenda de hoy; en Iasegunda parte tratamos de entender algunos elementos esenciales para Iadefinicin de"ocio"; en Iatercera parte, ya en Ias observaciones finales, buscamos Ia comprensin de ocio que puede realmente contribuir a Ias propuestas criticas de educacin arnbental, proponiendo un posible camino aIa"educacin ambiental mediante el ocio" PALABRAS CLAVE: educacin ambiental crtica; educacin mediante el ocio; Ia pedagoga dialgica. Introduo e objetivos A motivao inicial para o desenvolvimento desta pesquisa fundamenta-se na afirmativa de que o lazer um dos campos do conhecimento que compartilha alguns dos mesmos ideais da educao ambiental, em especial a busca pela legitimao por meio de um trabalho crtico einterdisciplinar. Segundo Gomes eMeio (2003), o lazer, nas ltimas dcadas, passou a ocupar um espao significativo em jornais, peridicos de assuntos gerais ena comunidade acadmica como um todo, destacando-se aorga- nizao de grupos de pesquisa oriundos das mais diversas reas do conhecimento, a realizao de eventos cientficos relacionados ao assunto e o incremento do nmero de publicaes especficas. Diante desse crescimento quantitativo e qualitativo, cresceu tambm o nmero de trabalhos que investigam as sinergias entre o lazer eas questes ambientais, acom- 11 12 Lazer &Sociedade panhando a tendncia de outras reas. Entretanto, esses trabalhos, em sua maioria, tm como foco principal as relaes entre asatividades na natureza (compreendidas como prticas de lazer) e aconscientizao ambiental, que ocorreria especialmente pela sensibilizao decorrente do envolvimento do indivduo com uma natureza bela, distante efrgil (RODRIGUES, 2010). Nesse sentido, essas relaes ficam dema- siadamente presas a um conceito preservacionista, deixando de contribuir para o sentido mais amplo de educao ambiental, que reconhece que as razes da aparente criseambiental contempornea sedesdobram na natureza simblica do ser humano, ou seja, esto associadas maneira como o ser humano compreende o mundo, ese formam ereformam por meio de um projeto sociocultural que envolve o conhecer e o reconhecer num constante epermanente jogo de ideias ediscursos. Pensando emsinergias entre lazer eeducao ambiental que possam contribuir para esseconceito mais amplo deeducao ambiental, compreende-se lazer enquanto fenmeno historicamente constitudo, equepossui relaes dialticas comasociedade, ou seja, a mesma sociedade que o gerou e exerce influncias sobre o seu desenvol- vimento tambm pode ser por ele questionada na vivncia de seus valores. Dessa forma, essefenmeno no pode ser pensado isoladamente de outras prticas sociais nemdeseucontexto. Nessesentido, olazer aqui seconfigura como prtica social, que seconstitui enquanto: [...] dimenso dacultura capazdepromover aconscientizao dos indivduos atravs de suas vivncias eexperincias (ldicas ou no ldicas) dediversos contedos culturais emumtempo eespao prprios, tendo como dimenso fundamental aintencionalidade do ser (SILVA, 2008, p. 20-21). Diante do exposto, o objetivo deste artigo investigar asinergia entre aprtica sociallazer eaeducao ambiental crtica, justificando-se na real necessidade deque tais sinergias sejam compreendidas para se pensar emtrabalhos eprojetos que pos- sam(des)envolver esses dois grandes campos. Para tanto, o ponto de partida ser um "olhar" fenomenolgico, por acreditar-se que esseolhar busca elementos para superar asdicotomias enraizadas pelo dominante paradigma cartesiano. A pesquisa terica foi apresentada em trs partes: a primeira tem o propsito de, por meio de uma contextualizao histrica conceitual da educao ambiental, identificar aspropostas crticas que esto empauta nacontemporaneidade; nasegunda parte, buscou-se a compreenso de alguns elementos essenciais para a definio do conceito "lazer"; naterceira parte, jnas consideraes finaisapresentadas, procurou-se uma compreenso delazer que possa realmente contribuir comaspropostas crticas de educao ambiental, sugerindo, inclusive, umcaminho para uma possvel "educao ambienta! pelo lazer". 13 Cae Rodrigues e Robson Amaral da Silva Educaoambiental- Contextualizao histrica conceitual Na nossa casa amor-perfeito mato E o teto estrelado tambm tem luar A nossa casa at parece um ninho Vem um passarinho pra nos acordar Na nossa casa passa um rio no meio E o nosso leito pode ser o mar A nossa casa de carne eosso No precisa esforopara namorar A nossa casa no sua nem minha No tem campainha pra 110S visitar A nossa casa tem varanda dentro Tem um p de vento para respirar A nossa casa onde a gente est A nossa casa em todo lugar (ANTUNES,2004) oconceito deeducao ambiental surgiu, emmeados dos anos 1960, emmeio crescente capacidade deexplorao dos recursos naturais, aoavano do conhecimento cientfico e ampliao do movimento ambientalista, "como resultado de uma onda universal de preocupao em preservar erestaurar o meio violentamente agredido" (FAGIONATO-RuFFINO, 2003, p. 5), ou seja, carregando em sua raiz conceitual uma definio fundamentalmente preservacionista. Como resultado dessa"onda ambien- talista", nas dcadas seguintes, vrios encontros, conferncias, congressos eseminrios por todo omundo sepropuseram adiscutir atemtica, consequentemente atribuindo novos significados para o conceito de educao ambiental. Em 1975, como resultado da"Conferncia deBelgrado", foi formulada a"Carta de Belgrado", documento que decretou parmetros para uma nova tica global pelo crescimento econmico com controle ambiental, uma tica de "erradicao das causas da pobreza, fome, analfabetismo, poluio, explorao e dominao", e, pela cooperao ecoexistncia das naes, uma tica de paz (FAGIONATO-RuFFINO, 2003, p. 6). Tambm nessa conferncia se reconheceu a importncia da escola para o de- senvolvimento da educao ambiental em carter interdisciplinar, porm, por meio de uma educao individualista e comportamentalista, centrada no indivduo e na transformao deseu comportamento, buscando atransformao dasociedade pelo resultado dasoma deseus indivduos transformados, processo que" [...] no temsido capaz decausar transformaes significativas narealidade socioambiental" (VIIGAS & GUIMARES, 2004, p. 58). 14 Lazer&Sociedade Essa perspectiva de transformao da realidade pelo indivduo transformado, ou seja, com um foco de ao no resultado, uma viso simplista, pois reduz uma realidade que complexa. Simplista, pois, ao restringir a responsabilidade dos pro- blemas socioambientais ignorncia do indivduo essuas atitudes "ecologicamente incorretas", desconsidera aresponsabilidade detoda adimenso pblica epoltica na gnesedesses problemas (Layrargues, 2003; Carvalho, 1995). Simplista, pois desconsi- dera aimportncia do movimento detransformao do sujeito inserido num processo coletivo detransformao darealidade socioambiental, equenas relaes intrnsecas aesseprocesso que ocorrem o aprender eo ensinar da formao para uma cidadania no individualizada', mas queseexerce, como aprendizagem, no movimento conjunto do coletivo. Essaperspectiva mais crtica, quecompreende arealidade emsuas relaes, uma realidade complexa, busca aao educativa no movimento, uma transformao simultnea dos indivduos edarealidade socioambiental (Vigas &Guimares, 2004). Em 1977, emTbilisi (Gergia, ex-unss), durante a"Conferncia Intergoverna- mental sobre Educao Ambiental", foi elaborada uma definio deeducao ambiental que serviu de sustentao para essa viso mais crtica da realidade socioambiental, instituindo essemomento como um dos mais importantes na histria conceitual da educao ambiental, ao defini-Ia como: Processodereconhecimento devaloreseclarificaodeconceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades emodificando asatitudes emrelao ao meio, para entender eapreciar asinter-relaes entre osseres humanos, suas culturas eseusmeiosbiofsicos.A educaoAmbiental tambmestrelacionada comaprtica detomadas dedecises eaticaqueconduzem para amelhoria daqualidade devida. Almdo reconhecimento das relaes natureza-sociedade, o evento destacou o carter interdisciplinar daeducao ambiental, edelineou como seus principais objeti- vosaconscincia do meio ambiente global easensibilizao pelasquestes ambientais. Como consequncia dessas orientaes, surgiu uma corrente de educao ambiental que compreende a importncia de formar cidados que entendam e incorporem os problemas deseu ambiente, eque ajam ativa ecriticamente diante desses problemas, uma educao ambiental que busca superar aviso "ecolgico-preservacionista'; uma I Guimares(2004) denominouessemovimentodetransformaodarealidadesocioambientalque oindivduovivencianarelaocomocoletivoemumexercciodecidadaniade"movimentocoletivo conjunto",nomenclaturaque, apesardeparecerredundante(coletivoconjunto),objetivareforar aideiadeum"movimentocomplexodeaoconjuntaqueproduzsinergia'; enoummovimento queagrupaforasindividualizadasdeformaaditiva. CaeRodrigueseRobsonAmaraldaSilva 15 vertente "socioarnbiental" da educao ambiental (MEDINA, 1997). importante ressaltar que, apesar da fora que essa vertente ganhou desde os anos 1980, no exagero afirmar que as prticas aliceradas na educao ambiental preservacionista so predominantes ainda hoje, dentro efora da escola. Em 1992, no Rio de J aneiro (Brasil), aconteceu a "Conferncia das Naes Unidas sobre o meio ambiente e o desenvolvimento", resultando na elaborao da Agenda 21 (dentre outros documentos), um programa de aes com o objetivo de promover, globalmente, uma nova forma de prtica ambiental: aeducao ambiental para asustentabilidade, ou seja, uma educao ambiental baseada nos princpios do desenvolvimento sustentvel", O"Tratado deEducao Ambiental para Sociedades Sustentveis eResponsabi- lidade Global': tambm elaborado na Conferncia (no Encontro da Sociedade Civil - Frum Global), explicitou osprincpios para essaeducao ambiental: crtica eino- vadora, individual ecoletiva, que, socialmente orientada, mas centrada no educando, pretende o desenvolvimento ntegro do indivduo, objetivando a participao ativa dessesujeito embusca da transformao social. Uma educao ambiental interdisci- plinar, que, por uma perspectiva holstica, relaciona ser humano, natureza euniverso, tencionando, nessas relaes, pela atuao consciente epelo dilogo, asolidariedade, aigualdade, o respeito eavalorizao pelas diversas culturas, etnias esociedades. O educador, enquanto educador, assume-se, na impossibilidade de sua neutralidade poltica, no compromisso com atransformao, e, pela nfase no aprender, busca a emancipao, o engajamento, a participao do educando, criando novos estilos de vida, desenvolvendo conscincias ticas etrabalhando pelademocratizao dos meios de comunicao (FAGIONATO-RuFFINO, 2003; LEONARDI, 1997). Essespressupostos tornaram-se muito relevantes para aeducao ambiental, que, partindo de um enfoque crtico eholstico, assume como objetivo buscar os valores que contribuam para a formao de cidados conscientes, aptos atomar decises e contribuir ativamente para aconstruo de uma sociedade sustentvel, que, segundo Ruscheinsky et aI. (2002, p. 8), pode ser definida como: [...] aqueviveesedesenvolveintegrada natureza, considerando-a umbem comum. Respeitaadiversidadebiolgicaesociocultural davida. Estcentrada no pleno exerccioresponsvel econsequente dacidadania, comadistribuio equitativa da riqueza que gera. No utiliza mais do que pode ser renovado e favorececondies dignas devidapara asgeraes atuais efuturas. A concepodeeducaoambiental baseadanasustentabilidade(EducaoAmbiental paraa Sustentabilidade)tomacomorefernciaocaptulo36 daseoIV daAgenda21. 16 Lazer&Sociedade Apesar do profundo senso tico, igualitrio ejusto dessa perspectiva ambiental pelasustentabilidade, h um problema de compatibilidade com ainsustentabilidade do princpio do lucro eda constante busca pela expanso emovimentao de capi- tais inerentes ao modelo de desenvolvimento baseado em uma ideologia capitalista (GADOTTI,2000; ALMEIDA&SUASSUNA, 2005). Emdireta relao comessemodelo de desenvolvimento, associa-se ointeresse das diversas esferas que compem asociedade (Estado, empresas, ONGs,movimentos sociais etc.), cada uma com seus distintos va- lores, emdirigir o processo social de acordo com suas posies, o que gera uma luta pelo poder (LIMA,2004). Esse duelo caracterizado por uma busca constante dos atores sociais pela legitimao deseus discursos eprticas, ao mesmo tempo deslegi- tirnando osdiscursos easprticas do outro, uma luta pelaconstruo dacredibilidade para tornar-se autoridade no campo, por exemplo, da sustentabilidade, podendo, assim, discriminar as prticas que so ou no sustentveis. O problema maior que aconstituio da realidade por meio da legitimao do discurso escolta os interesses dominantes - hoje, algica do capital. Nessesentido, oque umlado - por exemplo, o movimento ambientalista - con- sidera prticas insustentveis, como aproduo eo consumo desenfreados eaprio- ridade do lucro edo desenvolvimento econmico, o outro lado - como asempresas e o mercado financeiro - incorpora em seus discursos como prticas sustentveis. Como exemplo dessa legitirnao dasustentabilidade do desenvolvimento econmi- co pelo mercado financeiro, pode-se citar o crescente investimento de empresas em prticas de responsabilidade social eambienta I. Asempresas continuam produzindo em larga escala, mas, blindadas por outras prticas, como o plantio de rvores ou investimentos em prticas de educao arnbiental, legitimam-se como empresas ambientalmente responsveis. Adotando conceitos modernos, como o da sustentabilidade, por exemplo, as empresas incorporam feies transformadoras enquanto, naverdade, perpetuam um "conservadorismo dinmico", que, segundo Guimares (1998, p. 16), "a tendncia inercial do sistema social para resistir mudana, promovendo aaceitao do discurso transformador precisamente para garantir que nada mude". A educao ambiental que no busca ou no consegue mudar essa realidade, denominada por Guimares (2004) de "conservadora", reproduz os paradigmas' constituintes e constitudos da e pela sociedade moderna em sua ao educativa, tornando-se ela prpria um dos 5 Segundo Guimares (2004), paradigma pode ser definido como produto (e produtor) de uma construo histrica socialmente determinada (edeterminante) que, pelas relaes de poder cons- tituintes (econstitudas) da (na) realidade social, reflete posies sociais predominantes decertos grupos eclassesociais. J Morin (1997) compreendeu paradigma como estruturas de pensamento que, inconscientemente, comandam osdiscursos dos indivduos, CaeRodrigues e RobsonAmaral da Silva 17 mecanismos de sua reproduo eparte ativa do processo de conservao social pela legitimao dos interesses dominantes. Emcontraposio aessas prticas educativas "conservadoras", surgem algumas propostas deeducao ambiental comoutros elementos estruturantes naorganizao dos processos de ensino ede aprendizagem. Nesse sentido, destacam-se aeducao ambiental crtica, aecopedagogia, aeducao ambiental transformadora, aalfabe- tizao ecolgica, abordagens discutidas por diferentes autores no livro organizado pelo Ministrio do Meio Ambiente, Identidades da educao ambiental brasileira (2004), alm da ecomotricidade (RODRIGUES& GONALVESJ UNIOR,2009). Essas abordagens possuem como ponto comum pilares construdos apartir dos ideais da educao crtica, ideais defendidos e, em grande parte, construdos pelo educador Paulo Freire. Ao trabalhar com a percepo do educando "sendo-com-outros-no-mundo", visando sua insero crtica na realidade ebuscando, por meio da problernatizao dos temas pertencentes ao seu universo vivido, o despertar daconscincia, apedago- gia freireana prope uma rica contribuio terica emetodolgica para aprtica da educao ambiental (LIMA,2004). A educao libertadora, sustentada por uma viso emancipatria de mundo, est fundada na importncia do dilogo nos processos educacionais, na relao horizontal educador-educando, na valorizao do conheci- mento de experincia feito do educando, desua historicidade, de sua cultura, deseus processos sociais, na liberdade pela crtica, pela reflexo, pela criatividade, no amor como ato deliberdade, como fundamento do dilogo, como princpio dabusca curiosa do ser humano, ser inconcluso, incompleto einacabado, pelo ser mais (FREIRE,1983; 1987; 1992; 1996; 2000). As prticas mais comuns de educao arnbiental, sejam na escola, sejam no contexto no escolar, ainda esto demasiadamente presas ao ensino sobre anatureza, para a natureza e, especialmente nas ltimas dcadas, na natureza. Apesar de, como afirmou Barros (2000), haver realmente uma relao direta entre o envolvimento de indivduos emprticas nanatureza eaincorporao deuma ticavoltada conservao dos ambientes que gostam de frequentar, o contato espordico do ser humano coma natureza no o suficiente para justificar uma mudana decomportamento perante as questes ambientais, uma vez que esse indivduo est cotidianamente envolvido por umcontexto imerso nos valores de uma sociedade que segue algica do capital, ou seja, da produo edo consumo (RODRIGUES, 2010). Issosignifica que, apesar dareconhecida importncia dacriao delaos afetivos entre o ser humano eanatureza, papel bem desenvolvido pelas prticas de lazer na natureza, uma abordagem que objetiva, especialmente pelasensibilizao, aadmirao por uma natureza bela, apreservao de uma natureza frgil ou ainda o respeito por uma natureza distante, no sdemasiada simplista, como pode, naverdade, reforar 18 Lazer &Sociedade aviso fragmentria entre ser humano enatureza, notoriamente uma das principais causas da crise ambiental contempornea. olazer na contemporaneidade - "Olhar" a partir da natureza Pensar nos encontros contemporneos entre educao ambiental elazer significa tambm, eno somente, "olhar" para adinmica dessa prtica social hodiernamente. "Olhar" que dotado de intencional idade, no sentido de apreender o lazer em sua manifestao na vida dos seres humanos, levando-se em considerao aspectos de ordem histrica, poltica, cultural, social, econmica, ou seja, um "olhar" de com- preenso, ou, segundo os dizeres de Merleau-Ponty (1996), de "reapoderarnento da inteno total" desse fenmeno. O lazer tem sido alvo de um processo intenso de valorizao, que serevela em diferentes maneiras deconsumo, deobjetos ebens culturais - shows, livros, CDS,filmes, brinquedos -, de equipamentos - academias, centros decompras (shopping centers), parques temticos, clubes - ede servios - Internet, viagens, passeios -, bem como no quediz respeito reivindicao deumdireito, por parte dapopulao, para uso efetivo de um tempo e um espao passveis de escolha eque no estejam predeterminados pela condio social (DE PELLEGRIN, 2006). Essa valorizao do campo abre grande espao para a"indstria do entreteni- mento", que investe demaneira pesada naveiculao daconcepo delazer enquanto consumo (DE PELLEGRIN, 2006), e o desejo pelo consumo aparece como uma das principais caractersticas da sociedade contempornea. Diante de uma avalanche persuasiva realizada por diversos meios de comunicao, sucumbiu-se a um consu- mo desenfreado dos apetrechos desse diversificado mercado arquitetado pelo capital. Identificou-se, dessa forma, um processo que aponta para a subordinao do lazer forma "mercadoria", processo que searticula mercantilizao de todas as coisas, invadindo acotidianidade etodas asesferas desociabilidade, para consolidar-se como padro dominante das experincias de lazer (MASCARENHAS, 2005). Dimensionando areflexo para asexperincias de lazer emcontato direto com a natureza, cuja expresso hegemnica nos dias atuais tem se referido aos esportes deaventura, observa-se que elas seconstituem em um nicho de mercado por demais interessante. Alm da mercadorizao das paisagens naturais, os indivduos so le- vados aquisio de equipamentos, vestimentas etransportes que proporcionaro a (em geral falsa) sensao de um contato ainda mais prximo com o meio ambiente. A fetichizao da mercadoria, comprada econsumida, diante de uma necessi- dade criada por uma sociedade cuja essncia est emaranhada srelaes capitalistas, Cae Rodrigues e Robson Amaral da Silva 19 permite, demaneira geral, uma valorizao maior dos produtos utilizados do que da vivncia propriamente dita. Esseciclo gera um estilo de vida emblemtico, ligado a determinado grupo social que tem emseu universo apossibilidade de adquirir/con- sumir certos produtos/servios que no esto ao alcance de todos. So os indivduos que, durante a semana, trabalham nos grandes centros ur- banos, num ritmo intenso, digno das grandes metrpoles, eque, aos fins desemana, almejam a tranquilidade proporcionada pelo contato com a natureza. Colocam em suas malas todas as roupas dry fit, tnis para tracking eequipamentos que utilizaro neste hobby, earrumam tudo dentro do porta-malas de seu off-road, eco ou weekend, eseguem seu trajeto. Essa uma das expresses da grande contradio existentes na sociedade contempornea, um estilo de vida acessvel a poucos, mas que setorna a referncia para muitos. A moderna sociedade urbano-industrial apresenta como uma de suas caracte- rsticas marcantes oindividualismo, abusca incessante pelo lucro, umgrande nmero de informaes eo consumo exacerbado, evno lazer mais um tempo/espao dede- senvolvimento dessas caractersticas. Almdisso, verificou-se uma grande adeso, por parte dapopulao, aprticas alienantes econformistas delazer, que sodesvinculadas de um compromisso maior comasociedade. Nesse sentido, Marcellino (1995, p. 28) exps que" [...] aobservao daprtica do lazer nasociedade moderna marcada por fortes componentes de produtividade. Valoriza-se aperformance, o produto, e no o processo devivncia que lhed origem". No entanto, seessa realidade emque o lazer semanifesta de forma alienante construda pelo prprio indivduo, possvel, igualmente, transform-Ia no sentido de forjar essa prtica social em uma perspectiva emancipatria, como "[ ...] fora de reorganizao da sociedade, agncia educativa capaz de fomentar e colaborar para aconstruo de novas normas, condutas evalores para o convvio entre os homens [...I"(MASCARENHAS, 2000, p. 1). Consideraes finais: educao ambiental pelo lazer Pensar o lazer inserido emuma proposta que aspire auma sinergia comaedu- cao ambiental requer um redimensionamento no "olhar" para essa prtica social, assim como foi possvel observar na estruturao de uma compreenso crtica da educao ambiental. A base que ser estabelecida para esseoutro "olhar" (despido da pretenso de ser "o olhar", enquanto nico, para arelao lazer-educao ambiental) funda-se emalguns aspectos relevantes para a Fenomenologia. Essa fundamentao justifica-se, consoante o pensamento que norteia o presente trabalho, pela crtica da filosofia fenomenolgica s vises dicotmicas enraizadas na conternporaneidade, 20 Lazer &Sociedade principalmente pela longa dominncia do paradigma cartesiano. Algumas dessas dicotomias esto na base de reconhecidos problemas filosficos contemporneos, como oproblema corpo-mente (amplamente discutido inclusive na educao fsica) easeparao ser humano-mundo, um dos pilares da atual crise ambiental. Ao se abordar um "possvel caminho para a educao ambiental pelo lazer", faz-se necessrio, para que o intento aqui delineado seja pertinente, pensar no duplo aspecto educativo do lazer (objeto eveculo de educao). A ideia de uma educao para epelo lazer foi inicialmente apresentada por Renato Requixa (1980) eposterior- mente desenvolvida por outros autores, como Marcellino (1995) eCamargo (1998 e 2003). Para estes ltimos, olazer seconfigura enquanto objeto (educao para olazer) eveculo (educao pelo lazer) de educao. O lazer enquanto veculo de educao (educao pelo lazer) significa aproveitar o potencial educativo que as vivncias de lazer possuem para que possam ser trabalhadas questes como valores, condutas e comportamentos (MELO&ALVESJ UNIOR,2003), contribuindo, assim, para o desen- volvimento dos indivduos. Pensando no lazer como veculo para acompreenso daatual realidade daedu- cao ambiental, aponta-se para anecessidade de uma viso para alm dos esportes emcontato com anatureza, que, apesar de notoriamente importantes para esseen- tendimento, semostram insuficientes para acompreenso do conceito de educao ambiental apresentado neste trabalho, principalmente pela forte ligao com a in- dstria deentretenimento epelaviso predominantemente preservacionista ligada a essas prticas, que so realizadas, de forma geral, na"natureza distante", como seteve oportunidade de discutir emtpico anterior. Para tanto, o campo do lazer tem que ultrapassar a viso simplista apresenta- da pela indstria do entretenimento, uma viso que reproduz os valores da ordem vigente, regida pelo desejo do consumo. Assimcomo aeducao ambiental tem que ultrapassar aviso conservadora epreservacionista, que apresenta a natureza como algo distante, longe do meio urbano, longe dos indivduos emgeral, homens emu- lheres. O ser humano no est na natureza, elea natureza, eaeducao ambiental pelo lazer comea na compreenso dessa relao, pela qual o mesmo ser humano, enquanto sujeito histrico, deve ultrapassar o viver, deve existir, que mais do que estar no mundo, estar comele, numa "dialogao eterna" do ser humano como ser humano, do ser humano com o mundo (FRElRE,2000). Segundo Sampaio (2006, p.96), "o primeiro ambiente no qual vivemos nossa corporeidade eapartir dela fazemos nossa experincia de ser no mundo". O corpo tempo, motricidade, fala, espao, no o"[00'] simples resultado das associaes estabelecidas no decorrer da experincia, mas uma tomada de conscincia global de minha postura no mundo intersensorial" (MERLEAU-PONTY, 1996,p.143). Issosignifica que aeducao ambiental pelo lazer mais do que uma simples associao de dois Cae Rodrigues e Robson Amaral da Silva 21 campos distintos; , por todos osindivduos, "sendo-com-os-outros-ao-mundo", uma experincia aser vivida. Para Merieau-Ponty (1996), pensar experimentar, mas no um processo de experimentao segundo o pensamento operatrio, via laboratrio, mas um experi- mentar com o corpo, o vivenciar. Conhecer acoisa viv-Ia, uma vez que o mundo no aquilo que cada um pensa, mas aquilo que seviveemabertura com o mundo, eo conhecimento do "ser-ao-mundo" conhecimento do ser humano edo mundo em uma relao indissocivel. Como esseconhecimento do ser humano s pode ser realizado emsua existncia no mundo, edisso no h como fugir, deve-se encarar a relao lazer-educao ambiental de forma dialtica eintencional, reunindo sujeito e objeto, existncia esignificao. no mundo que osseres humanos encontram sentido, efazemdele ummundo humano, detal maneira que oprocesso detransformao deste mundo tambm um processo de transformao dos seres humanos. Analogamente, possvel pensar na transformao da unidade indissocivel ser humano-meio ambiente por intermdio da educao ambiental pelo J azer. A experincia daeducao ambiental pelo lazer ultrapassa o mero conhecimento emprico eracional da relao entre J azer eeducao ambiental, pois, no tempo eno espao dessas relaes, ocorpo semovimenta, eofazpor intermdio deuma conscin- ciasustentada por um"arco intencional", considerando-se que toda conscincia de algum ou dealguma coisa (MERLEAU-PONTY, 1996). Isso significa que aconscincia dessa relao no serestringe somente aos aspectos simplesmente cognitivos, como a incorporao decomportamentos "ecologicamente corretos" emprol deuma aparente necessidade de preservao ambiental ou aaprendizagem de tcnicas de esportes na natureza, mas sedesenrola atravs deuma abertura aintencional idades, e, perdendo- -seeencontrando-se nesses caminhos, o Ser compreende que aeducao ambiental , assimcomo o lazer, uma necessidade fundamentalmente humana. Dessa maneira, asexperincias delazer que sepautarem no contexto da"educa- o ambiental pelo lazer" ssero redimensionadas quando ossujeitos sedispuserem a assumir compromissos que superem posturas acrticas (viso preservacionista da natureza, consumismo exacerbado no lazer) para uma postura ativaehumanizadora, buscando recriar, "transfazer" suaprtica, que seassocia ideia deque "[00'] o ser hu- mano, enquanto indivduo sente o mundo e, apartir do que, lheatribui significados. Significa ir alm de, superar um simples fazer. um're-criar' interminvel esempre inacabado, pois oser humano sempre umser depossibilidades" (MARTINS, 1992, p.2). Ao seconceber a"educao ambiental pelo J azer" como fenmeno epossibili- dade de interveno pedaggica no campo do lazer, pretende-se contribuir para que essa prtica seja repensada, melhor conhecida e compreendida enquanto realidade mltipla, contraditria e complexa, que apresenta em seu interior a qualidade de 22 Lazer &Sociedade possuir inmeras possibilidades de mudana narelao educao arnbiental-Iazer, ser humano-natureza. "Olhar" aprtica pedaggica nesses termos auxiliar naconstruo deoutra realidade, provida designificao para todos os envolvidos, mas, para isto, o ser humano deveperceber-se enquanto "ser-ao-mundo", compreendendo que oviver sempre intencional, o que significa que todos esto, a todo momento, construindo e"re-construindo" arealidade. Referncias ALMEIDA,Arthur J . M. de & SUASSUNA,Dulce. A formao da conscincia ambienta! na escola. Revista Eletrnica do Mestrado em Educao Ambientai, v. 15, p. 107-129, Rio Grande, jul./dez., 2005. Disponvel em: <http://www.remeaJ urg.br/>. 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