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A NATUREZA POR TRÁS DE UM VÉU

31-10-2007

FÍSICA – ASTROFÍSICA – CIÊNCIA – DEUS – COSMO –


UNIVERSO – VIDA – TEORIA UNIFICADA – SOBRENATURAL

Marcelo Gleiser,
De 48 anos, é professor do Dartmouth College, nos Estados
Unidos, e autor de cinco livros sobre ciência e conhecimento

NOSSO COLUNISTA ENTRA FUNDO NA DISCUSSÃO DA REPORTAGEM


DE CAPA DESTA EDIÇÃO: AFINAL, QUEM (OU O QUÊ) ERA DEUS PARA
EINSTEIN?

Quem acha que ciência e religião são duas coisas completamente


antagônicas deveria ler a célebre autobiografia de Albert Einstein,
Pois é, um dos maiores nomes da ciência de todos os tempos, o
homem que nos presenteou com toda uma nova visão de mundo,
era uma pessoa profundamente religiosa. Porém o sentido dessa
religiosidade deve ser entendido com muito cuidado. Einstein
detestava a autoridade de qualquer espécie, especialmente a que
se impunha por meio de ortodoxias religiosas ou políticas. Não
acreditava em um deus sobrenatural ou em qualquer forma de
religião organizada. Sua religiosidade foi evoluindo aos poucos, do
tradicional ao pessoal, uma história de amor entre a razão e o
mundo.
Como ele mesmo afirmou, quando menino era bastante religioso
no senso comum, mistificado pelos mistérios da natureza e pela
possibilidade de um deus criador. Com 5 anos, seu pai deu-lhe uma
bússola de presente. O menino Einstein olhava boquiaberto para o
instrumento, tentando entender sempre para o norte, que segredos
ocultava. Forças invisíveis estavam atuando, revelando um aspecto
mágico da natureza, uma realidade que ia além da nossa
percepção sensorial.
Aos 12 anos, essa fé num criador que comandava o mundo se
transformou. Einstein deixou de acreditar nas histórias da Bíblia e
passou a se aprofundar no estudo da ciência. Se a natureza
ocultava a sua essência dos homens, cabia a eles tentar desvendá-
la. E, para isso, o único caminho era por meio do uso da razão, do
método científico. Apenas desse modo seria possível mergulhar
fundo nos mistérios do Cosmo e decifrá-los para que todos
compartilhem de sua beleza. Einstein considerava essa busca, a
devoção de um cientista, a verdadeira religião: “A mais profunda
emoção que podemos experimentar é inspirada pelo senso de
mistério. Essa é a emoção fundamental que inspira a verdadeira
arte e a verdadeira ciência”, escreveu. Vemos que os mistérios do
mundo despertavam a mesma emoção que sentiu quando era
menino, ao ver a bússola apontar para o norte. A emoção do
menino inspirou a devoção do artista, uma devoção que o próprio
Einstein acreditava ser essencialmente religiosa: “A existência de
algo que nós não podemos penetrar, a percepção da mais profunda
razão e da beleza mais radiante do mundo à nossa volta, que
apenas em suas formas mais primitivas são acessíveis às nossas
mentes – é esse conhecimento e emoção que constituem a
verdadeira religiosidade; nesse sentido, e nesse sentido apenas, eu
sou um homem profundamente religioso”.
Para Einstein, a religião organizada, com sua ênfase em
hierarquia e poder, com seu autoritarismo e repressão, violava a
essência da espiritualidade humana, que deveria ser livre para
dedicar-se ao que existe de mais importante em nossas vidas, o
mundo onde vivemos e as pessoas com quem dividimos nossa
existência. Nós somos matéria antes, durante e após as nossas
vidas, matérias em diferentes níveis de organização. Enquanto isso,
nada mais nobre do que nos entregarmos à natureza, ao seu
estudo e contemplação. Era essa a essência da religiosidade
humana, associar o sagrado à natureza, e não uma divindade
antropomórfica, vaidosa e caprichosa.
Einstein acreditava na força da matemática, da razão, para
decifrar a essência do mundo natural. Seu credo era formado por
equações, a língua universal do Cosmo. Durante as três últimas
décadas de sua vida, dedicou-se à busca de uma teoria unificada,
uma teoria capaz de descrever todos os fenômenos naturais a partir
de uma única força, a causa de todas as causas, o princípio
absoluto. Se Einstein acreditava em algum Deus, era nesse, cuja
essência única se ocultava na diversidade dos fenômenos naturais,
como uma noiva que oculta o seu sorriso por trás de um véu,
seduzindo o noivo a vislumbrá-lo.

Marcelo Gleiser

Fonte:
Revista Galileu – edição 196 – novembro de 2007 – página 39 –
Horizontes

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