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Físicos conseguem "despir" buraco negro

15-11-2007

Dupla de teóricos brasileiros mostra como expor ao cosmo


objeto com concentração infinita de massa

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma dupla de físicos brasileiros conseguiu demonstrar como é


possível "despir" um buraco negro para revelar o que há dentro
desse estranho tipo de objeto cósmico.

Usando conceitos de física quântica, George Matsas e André da


Silva, do Instituto de Física Teórica da Unesp, elaboraram um
modelo matemático que elimina a "fronteira" do buraco negro, o
limite de aproximação a partir do qual não se pode escapar de sua
atração. O objeto, descrito em estudo na revista "Physical Review
Letters" (prl.aps.org), porém, é de uma classe especial.

Um buraco negro convencional pode se formar a partir do colapso


de uma estrela, quando ocorre uma concentração colossal de
matéria no espaço de um só ponto, chamado "singularidade". Sua
força gravitacional é tão grande que nada, nem mesmo a luz,
consegue escapar da fronteira batizada de "horizonte de eventos"
pelos físicos (veja quadro à esquerda).

O que Matsas e Silva descrevem, contudo, é o que os físicos


chamam de "singularidade nua", um buraco negro sem horizonte.
Em tese, energia e matéria podem escapar dos seus arredores e,
portanto, a singularidade seria observável. Para chegar ao
resultado, porém, os físicos tiveram de resolver um problema
imposto pela teoria da relatividade geral, de Einstein, que explica a
gravidade.

Física fora da lei

"Nós chamamos de singularidade aquilo no qual as equações da


natureza quebram, o que é uma situação muito ruim, porque nós
físicos acreditamos que tudo pode ser matematizado", diz Matsas.
"Mas quão ruim é ter uma singularidade na relatividade geral? Se
ela estiver dentro de um horizonte de eventos, em princípio, tudo
bem, porque mesmo que não se saiba descrevê-la, isso não
influencia o resto do Universo, já que nada pode escapar de dentro
[da fronteira do buraco]."

Há problemas, porém, em recorrer à relatividade para analisar o


problema. Uma vez que a singularidade é um ponto infinitamente
pequeno, há fenômenos nos buracos negros que só podem ser
elucidados pelas equações da mecânica quântica, teoria que
explica o mundo das partículas elementares.

Acontece que a relatividade e a mecânica quântica são teorias


incompatíveis entre si. E a maneira com que os físicos concebem
uma singularidade nua é essencialmente relativística.

Um buraco negro pode perder seu horizonte de eventos ao entrar


em rotação com velocidade grande o suficiente para "expulsá-lo"
por meio de força centrífuga -a mesma força que atira crianças para
fora de um carrossel. Mas as equações de Einstein impedem que
um objeto entre em um buraco negro com velocidade grande o
suficiente para aumentar sua rotação e expor a singularidade.

Barreira energética

Na prática, o que acontece, é que uma partícula teria de romper


uma espécie de "barreira energética" intransponível antes de
contribuir para que a rotação do buraco negro ultrapasse o limite
que o transformaria em singularidade nua.

Analisando o problema do ponto de vista quântico, porém, Matsas e


Silva conseguiram fazer -em teoria, diga-se logo- com que
partículas entrassem no buraco negro por meio de um efeito
chamado "tunelamento". É um fenômeno conhecido na física
quântica, no qual uma partícula pode atravessar essa barreira
energética tomando uma espécie de atalho, desaparecendo de um
lado e aparecendo do outro. Não é nenhuma mágica, diz Matsas:
"O tunelamento é muito comum em situações microscópicas, só fica
mais improvável nas macroscópicas".

Com o trabalho, os brasileiros procuram contribuir para superar o


maior desafio atual da física: unificar a mecânica quântica e a
relatividade geral em uma teoria só. Pode a descoberta ajudar
nessa meta? "Pode ser que sim, mas não é garantido", diz Matsas.
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe1511200703.htm

informações complementares:

Estrela morta gera buraco negro de tamanho recorde

Objeto a 1,8 milhão de anos-luz de distância tem massa de 24 a 33


vezes a do Sol

Recordista anterior ficou no topo só duas semanas; novo buraco


contraria previsões e sugere mudança em teorias sobre a evolução
estelar

Concepção artística mostra buraco negro (centro do clarão)


engolindo gás de sua estrela vizinha

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um buraco negro recém descoberto, formado a partir do colapso de


uma estrela, bateu com folga o recorde de maior "cadáver estelar"
já visto por telescópios. Em estudo divulgado ontem, pesquisadores
do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, em Cambridge
(EUA), estimam que o objeto detectado por eles tenha uma massa
no mínimo 24 vezes à do Sol, podendo chegar a 33 vezes.
O gigante engolidor de matéria foi encontrado por meio de imagens
dos telescópios Chandra e Swift, da Nasa, ambos capazes de
detectar raios X. O buraco negro, um objeto que não emite luz nem
nenhum tipo de radiação, não pode ser observado diretamente. A
matéria quente que se agrega ao seu redor, porém, emite raios X, e
por isso foi possível localizá-lo.

O novo buraco, achado na galáxia IC 10, tirou do trono um outro,


anunciado há apenas duas semanas na galáxia M33, com 16
massas solares.

A importância da descoberta desta vez, porém, não é apenas de


escala. "Todos as cálculos teóricos feitos até agora sugerem que
não é possível surgir um buraco negro maior do que 20 massas
solares a partir da morte de uma estrela", disse à Folha Andrea
Prestwich, autora principal do estudo que relata a descoberta na
revista "Astrophysical Journal Letters".

Buracos negros gigantescos -com milhões de vezes a massa do


Sol- existem apenas no centro de algumas galáxias, e não são
originados a partir de estrelas colapsadas.

Prestwich conseguiu medir a massa do objeto escuro em IC 10


porque ele orbita uma outra estrela. Medindo a velocidade com que
ele gira ao redor dela é possível calcular sua força gravitacional e
sua massa.

Segundo a pesquisadora, será preciso reformular teorias sobre


como as estrelas evoluem ao longo de sua história para conseguir
explicar a existência de um buraco negro tão grande.
A chave, segundo ela, é entender como o vento estelar – uma
corrente de partículas eletricamente carregadas- é emitido pela
estrela e a faz perder massa. "Acho que veremos que estrelas
gigantes perdem muito menos matéria ao longo de sua evolução do
que imaginamos, e talvez seu tempo de vida seja menor", diz
Prestwich. "Hoje se estima que uma estrela de 100 ou 60 massas
solares possa perder 80% de sua massa ao longo da vida. Pode ser
que não seja assim."

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe3110200701.htm

+ MARCELO GLEISER

O bit e o buraco negro


Será que tudo que cai nele desaparece para sempre?

Existe uma estranha controvérsia na física teórica, o chamado


paradoxo da informação. É tudo culpa dos buracos negros, sem
dúvida os objetos mais peculiares que existem. Einstein não era um
fã deles, mesmo que sejam conseqüência direta da sua teoria
gravitacional, a teoria da relatividade geral. É que os buracos
negros abusam das leis da física, forçando-as a passar dos seus
limites.

Antes de falarmos do paradoxo da informação, convém lembrar o


que são buracos negros. Toda estrela tem um ciclo de vida: ela
nasce, evolui e morre. Essa trajetória depende essencialmente da
massa da estrela. Quanto mais massa, menos ela vive e mais
dramática sua morte. Alguns dos eventos mais energéticos que
existem no Universo, explosões de supernova, talvez até dando
origem às explosões de raios gama, são os estertores de estrelas
com massas dez ou mais vezes maiores do que a do Sol. Pois bem,
segundo a teoria da relatividade de Einstein, a massa encurva o
espaço: quanto mais massa, maior a curvatura do espaço à sua
volta. O leitor pode imaginar o que ocorre se levarmos essa idéia ao
extremo. Se a concentração de massa for muito grande, a curvatura
será também enorme. E quanto maior a curvatura, mais difícil é
escapar de suas garras, como numa ladeira com inclinação
variável. O buraco negro nasce quando a curvatura é tal que nada
escapa de seu interior, nem mesmo a luz.

O tamanho de um buraco negro é dado pelo seu "horizonte", a


distância que delimita sua influência irreversível. Se alguém ou algo
atravessar o horizonte de um buraco negro, jamais escapará de
dentro dele. O problema é que ninguém sabe exatamente o que
ocorre dentro de um buraco negro.

Será que tudo que cai num buraco negro desaparece para sempre?
Será que os buracos negros duram para sempre? E se não
durarem? Será que as coisas que caíram neles reaparecem
misteriosamente?

Bem, as coisas que caírem num buraco negro serão certamente


desmanteladas, trituradas pelas incríveis forças gravitacionais que
residem nele.
Porém, as partículas mais elementares da matéria, as que não
podem ser destruídas pois não existe nada menor do que elas,
devem resistir à essa trituração toda.

Stephen Hawking, há vários anos, propôs que os buracos negros


não são eternos. Usando as leis da mecânica quântica, a que
descreve a física dos átomos e partículas, ele mostrou que buracos
negros perdem sua massa bem devagarinho, como se estivessem
evaporando. Ora, se buracos negros evaporam, o que ocorre com
toda a massa que engoliram enquanto existiram, inclusive a matéria
da estrela que deu-lhes origem? Esse é o paradoxo da informação.
Uma das possibilidades é que a informação que desaparece é
"devolvida", bem aos poucos, durante a evaporação do buraco
negro. Outra possibilidade, bem mais exótica e improvável, é que
buracos negros são passagens para outros pontos do universo,
como se fossem as entradas de túneis.

Nesse caso, a informação simplesmente sairia em outro ponto do


espaço. Ainda outra possibilidade é que, ao evaporarem, buracos
negros passam por várias etapas, sendo que as últimas ocorrem
em mais de quatro dimensões. A informação que entrou sai na
forma de vibrações de geometrias com dimensões extra.

Recentemente, Tanmay Vachaspati, um físico indiano trabalhando


nos EUA e seus colaboradores sugeriram que o problema da
informação não existe porque buracos negros não existem! Claro,
não sabemos ainda como resolver o paradoxo. Mas é óbvio que
muita informação a respeito está sendo gerada.
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth
College, em Hanover (EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo"

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0107200702.htm

Buraco negro não existe, diz trio de físicos dos EUA

Pesquisadores propõem solução para enigma elaborado por


Stephen Hawking

Estudo é debatido há um ano e passou pelo crivo de


publicação rigorosa; autor diz que pode testar idéia em
acelerador de partículas

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um trio de físicos está propondo uma solução inusitada para um


enigma que desafia a ciência há mais de 30 anos. Tanto a
elaboração do problema quanto a solução oferecida são bastante
complexos, mas o resultado final de tudo pode ser resumido de
maneira simples: buracos negros não existem.

A alegação, afirmam seus autores, é a resposta para um enigma


proposto pelo britânico Stephen Hawking, mais conhecido como
autor do livro "Uma Breve História do Tempo", portador de uma
doença neurológica que o deixou paralisado.

A inexistência dos buracos negros foi proposta por grupo de físicos


da Universidade Case, de Cleveland (EUA), em um estudo que já
está circulando há alguns meses entre a comunidade de físicos
teóricos. Só agora, porém, o trabalho foi aceito para publicação em
uma revista com um crivo rigoroso, a "Physical Review D".

Com 15 páginas cheias de equações e diagramas, Dejan Stojkovic,


Lawrence Krauss e Tanmay Vachaspati detalham a sua proposta de
solução para o que os físicos conhecem como o "paradoxo da
informação". O problema está ligado à natureza dos buracos
negros, objetos cósmicos tão maciços que sua gravidade captura
tudo o que está em volta e não deixam escapar nada -nem mesmo
a luz.

Segundo a concepção clássica, buracos negros são produzidos


quando uma estrela maciça demais implode. Toda sua massa fica
concentrada em um ponto de dimensão zero, chamado de
"singularidade". Nada que se aproxime além de uma certa fronteira,
chamada de "horizonte de eventos", escapa à fome do mostro.

Morte impossível

O problema é que esse conceito entra em conflito com a física


quântica, conforme o paradoxo proposto por Hawking em 1974.
Segundo ele, um buraco negro não é um monstro imortal que só faz
crescer. Se esses objetos cósmicos ficarem muito tempo sem nada
para engolir, eles acabam perdendo massa na forma de radiação e
finalmente morrem. O problema é que essa morte aniquilaria toda a
informação contida na matéria engolida pelo buraco negro. Isso vai
contra leis básicas da física quântica, segundo a qual a informação
pode ser transformada, mas nunca aniquilada.

Ao propor que buracos negros não existem, o grupo de Krauss


oferece uma solução para o enigma. "Se estivermos corretos,
nenhuma informação será perdida ao atravessar o horizonte de
eventos de um buraco negro, porque esse horizonte jamais se
formaria", disse Krauss à Folha. "Nós tivemos um bocado de
discussão com muitos colegas, e muitos deles estão céticos, mas
até agora ninguém conseguiu oferecer uma razão definitiva pela
qual isso não esteja correto."

Apesar aceito pela "Phisical Review", porém, o novo estudo ainda


deve passar pelo crivo da comunidade científica para deixar de ser
tido como proposta intelectualmente isolada.

Segundo o físico Daniel Vanzella, professor da USP de São Carlos,


não é a primeira vez que alguém postula a inexistência de buracos
negros. Mas, na maioria das vezes em que isso ocorreu num
passado recente, físicos não demoraram a encontrar erros em
contas ou problemas de interpretação nos estudos. "Na minha
opinião, esse trabalho merece uma análise mais cautelosa", afirma.
"Certamente a comunidade vai olhar com carinho e cuidado esse
paper [estudo]."

O físico Marcelo Gleiser, professor do Dartmouth College (EUA) e


colunista da Folha, classificou o novo trabalho como "interessante"
e "elegante", mas "inconclusivo". "Talvez seja um passo na direção
certa, mas falta muito para se concluir se de fato não existe
paradoxo de informação", afirmou. "Como todas as novas idéias em
ciência, ainda é cedo para concluirmos algo de concreto."

Buraco mais embaixo

Como afinal de contas o grupo de Krauss (também conhecido com


autor de livros de ciência para leigos, como "A física de Jornada nas
Estrelas") conseguiu "destruir" os buracos negros? E que são,
afinal, os objetos escuros e maciços que os astrônomos acreditam
ser buracos negros?
"Estamos propondo que objetos colapsados que parecem ser
buracos negros nascentes, na verdade, não vão se contrair além de
seus próprios horizontes de eventos, e portanto não se tornarão
buracos negros verdadeiros", diz Krauss. Segundo ele, a matéria
concentrada no local evaporaria toda na forma de radiação, assim
como Hawking previu, só que antes de o buraco negro se formar. O
que existiria, então, é uma espécie de "quase-buraco negro".
"Mas nossos resultados são mesmo sugestivos, não conclusivos",
afirma o físico americano. "Mandamos o artigo para o Stephen
[Hawking], mas ele ainda não respondeu."

Segundo Gleiser, um dos problemas de extrair muitas


interpretações do novo artigo é que os autores usam um modelo
matemático "muito idealizado" para descrever o colapso de um
estrela, um fenômeno extremamente complexo. "Uma estrela é
maciça, e eles pegam um sistema muito mais simples que isso, que
é como se fosse uma casca esférica colapsando", diz Vanzella.
Além da simplificação, Krauss interpretou seus cálculos da
perspectiva de um observador externo, para solucionar um
problema ligado à teoria da relatividade. "Um observador longe de
um objeto em colapso o veria "congelar" à medida que começasse
a se aproximar do limite de se tornar um buraco negro", explica. "O
relógio de um observador externo anda num ritmo diferente daquele
de alguém que está caindo lá."

Segundo os autores, a conclusão poderá ser testada no LHC, o


mega-acelerador de partículas a ser inaugurado em 2008. Essa
maquina será capaz de produzir minúsculos buracos negros (ou o
que quer que sejam). O tipo de radiação que emitirem revelará o
que são.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2306200703.htm

+ Marcelo Gleiser

A curiosidade das crianças

Pai, por que o céu é azul? O que acontece de dia com as


estrelas?
O escritor tcheco Milan Kundera, em seu mais famoso romance, "A
Insustentável Leveza do Ser", presta uma homenagem à
curiosidade das crianças: "De fato, as únicas questões realmente
sérias são aquelas que até uma criança pode formular. Apenas as
questões mais inocentes são realmente sérias. Elas são as
questões sem resposta. Uma questão sem resposta é uma barreira
intransponível. Em outras palavras, são as questões sem resposta
que definem as limitações das possibilidades humanas, que
descrevem as fronteiras da existência humana".

Que adulto nunca se deparou com uma criança fuzilando perguntas,


"Por que isso? Mas por que aquilo?"

Pena que tantos adultos tenham esquecido que, quando eram


crianças, também perguntaram, aflitos, sobre os mistérios do
mundo, da vida e da morte, e façam tão pouco esforço para
responder às perguntas dos filhos, sobrinhos ou netos: "Pai, por
que o céu é azul? O que acontece de dia com as estrelas? O que
faz elas brilharem? Será que existe vida em outros planetas? Como
a vida surgiu aqui? E as estrelas, como nasceram? O que
aconteceu com a vovó depois que ela morreu? Quando você vai
morrer?"

"Ah, sei lá filho! Pô, pára de ficar fazendo perguntas. Vai jogar bola,
vai!" Essa semana dei uma palestra na escola do meu filho de 13
anos. Na realidade, não consegui dar a palestra. Um dia antes, o
professor sugeriu que cada um dos alunos me desse uma pergunta
por escrito, algo que quisessem saber sobre astronomia ou física.
Resultado: recebi umas cem perguntas, todas relevantes, sobre
assuntos de ponta em astrofísica. (Bem, quase todas; uma mocinha
pediu-me que convencesse seus pais a deixá-la pôr um brilhante no
nariz. Mas ela fez perguntas pertinentes também.)

Quando cheguei na escola, resolvi falar apenas sobre as perguntas


enviadas e deixei minha apresentação com "Datashow" de lado.
Foi uma das melhores experiências da minha carreira como
professor. Primeiro, pelo privilégio de poder falar para 50 crianças e
jovens, com idades entre dez e 14 anos.

Segundo, pelo entusiasmo contagiante que emanava deles. Era


possível sentir a eletricidade no ar, o interesse pelos assuntos, a
curiosidade enorme de entender os mistérios do Universo, a
tentativa de dar sentido à vida, de pô-la em contexto dentro da visão
de mundo científica que tanto define os caminhos da sociedade
moderna.

Foram várias perguntas sobre buracos negros, esses estranhos


restos mortais de estrelas que esgotaram seu combustível nuclear,
cuja gravidade é tão poderosa que pode sugar tudo, inclusive a luz:
"O que acontece se cairmos dentro dum buraco negro?

Como nasce um buraco negro? Será que a Terra cairá num deles?
Será que eles desaparecem? Se nem luz sai deles, como são
detectados?" Outras sobre a expansão do Universo: "Por que o
Universo está em expansão? Quão rápida é ela? Será que pára um
dia? O que existia antes do Big Bang? Como a gente sabe que o
Universo tem 14 bilhões de anos?" E, claro, sobre vida extra-
terrestre: "O senhor já viu um extra-terrestre? O senhor acha que
existe vida em Marte? E em outros planetas? Quantos planetas
extrasolares já foram descobertos?" Será que essas dúvidas são
tão diferentes das que a maioria dos adultos?

Como disse o físico I. I. Rabi, os cientistas são os "Peter Pans" da


sociedade; querem permanecer crianças, curiosos, perguntando-se
sempre sobre os mistérios do mundo. De minha parte, decidi que a
cada vez que sentir a chama falhar e precisar de um pouco de pó
de pirlipimpim, visitarei uma escola e conversarei com as crianças.
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth
College, em Hanover (EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo"

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0402200702.htm

Sonda vê buraco negro em ação

Telescópio espacial registrou a captura de uma estrela por


objeto maciço no centro de uma galáxia

Astrofísicos identificaram violenta explosão de luz ultravioleta


emitida pela estrela enquanto estava sendo rompida e
absorvida
Desenho mostra buraco negro distorcendo e engolindo estrela
DA REDAÇÃO

Um telescópio da Nasa flagrou pela primeira um buraco negro


engolindo uma estrela. Ao captar os raios ultravioletas emitidos
durante esse violento evento cósmico, a sonda orbital Galex
(abreviação de Galaxy Evolution Explorer), da Nasa, deve ajudar
astrofísicos a estudar o processo para entender como os grandes
buracos negros evoluem junto das galáxias que os abrigam.

Buracos negros são objetos cósmicos com concentração de massa


tão grande que, a uma certa distância, nem a luz é capaz de
escapar de sua gravidade. "Um buraco negro supermaciço no
núcleo de uma galáxia é revelado quando uma estrela passa perto
o suficiente para ser rompida por forças de maré [distorção causada
pela gravidade]", escreveram os cientistas em estudo divulgado
ontem. "Um clarão de radiação é emitido pelos restos estelares que
mergulha do buraco negro", explicam em trabalho que será
publicado na revista "The Astrophysical Journal"
(www.journals.uchicago.edu/ApJ).

Segundo os autores do estudo, o fenômeno observado pelo Galex


que permitiu identificar o buraco negro gigante em ação foi um
clarão de raios ultravioleta vindo do interior de uma galáxia distante,
a 3 bilhões de anos luz. A freqüência da radiação captada pelo
Galex estava dentro daquela esperada para o fenômeno.
"A luminosidade, a temperatura da radiação e a curva de
decaimento do clarão estão perfeitamente em acordo com
previsões teóricas para a perturbação de maré [distorção
gravitacional] sobre a estrela", relatam os cientistas.

Centro movimentado
Os cientistas afirmam que a única maneira de explicar esse clarão
misterioso é recorrer às previsões teóricas sobre buracos negros
em atividade. Acredita-se que buracos negros supermaciços como o
detectado pelo Galex existam no centro de todas as galáxias,
incluindo a Via Láctea, aquela onde o Sol reside.

"Esse clarão ultravioleta veio de uma estrela sendo literalmente


rompida e engolida pelo buraco negro", disse o astrofísico Suvi
Gezari, do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), um dos
autores do estudo. "Esse tipo de evento é muito raro, então tivemos
sorte de poder estudar todo o processo do início ao fim."

O trabalho publicado agora é resultado do fruto de dois anos de


observação seguidos de vários meses de análise. A sorte à qual
Gezari se refere é a de ter conseguido observar a galáxia antes do
início do processo de captura. "Nós observamos a galáxia em 2003
e não havia nenhuma luz ultravioleta vindo de lá", disse. "Depois,
em 2004, vimos de repente essa fonte [de radiação] extremamente
brilhante."

Para complementar as observações, os astrofísicos também


usaram imagens feitas na faixa de freqüência dos raios X, captadas
pelo telescópio espacial Chandra. Na década de 1990, esse
observatório orbital já tinha colhido imagens de núcleos galácticos
mostrando o cenário antes e depois de estrelas serem engolidas,
mas nunca o fenômeno havia sido captado durante o processo.

Sorte de veterano

"Essa foi a primeira vez que realmente conseguimos monitorar o


clarão de radiação de um evento desses em detalhes", afirmou
Gezari. Ele expressa em números aquilo que chama de sorte: "Só
uma vez a cada 10 mil anos uma estrela passa perto o suficiente de
um buraco negro no centro [de uma galáxia] para ser destruída e
engolida dessa maneira".

Os cientistas pretendem agora usar os dados descritos no estudo


para observar outras galáxias. "Agora que sabemos que podemos
observar esses eventos com luz ultravioleta, temos uma ferramenta
para achar outros", diz Gezari.
Com Reuters

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0712200601.htm
Dimensão do astro não altera comportamento
DA REDAÇÃO

Um estudo na edição de hoje da revista "Nature" mostra que,


apesar de possuírem um ar de mistério, buracos negros podem ser
bem previsíveis. Ao analisar padrões de emissão de raios X em
diversos buracos negros, o grupo do físico Ian McHardy, da
Universidade de Southampton (Reino Unido) descobriu que o
comportamento desses astros é sempre o mesmo, não importa a
massa de cada um deles.

"Descobrimos que a acreção, o processo de "alimentação" -no qual


os buracos negros atraem matéria das redondezas- é o mesmo
para buracos negros de todos os tamanhos", diz McHardy. A
diferença entre um buraco negro pequeno e um gigantesco, do tipo
que se abriga nos centros de galáxias, é apenas de escala.
Essa constância no crescimento não existe, por exemplo, em
estrelas, que podem mudar de composição e comportamento
conforme sua massa.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0712200602.htm

+ Marcelo Gleiser

Os bastidores da ciência

Descobertas precisam ser avaliadas antes de virar notícia

Existe uma percepção popular dos cientistas como sendo os donos


da verdade. Quando a ciência diz que uma coisa é desse jeito e não
de outro, ou que o que ocorre nesse fenômeno é isso e não aquilo,
as pessoas aceitam sem saber por quê. A ciência é uma grande
caixa preta. Uma das maiores dificuldades em se levar ciência ao
público é explicar como essas "verdades" são obtidas sem
transformá-las em dogmas. Afinal, é essa a distinção essencial
entre ciência e religião: em ciência, conclusões são obtidas
empiricamente, por meio de um processo progressivo de tentativa e
erro, enquanto em religião a verdade é revelada por processos não
explicáveis, como textos sagrados escritos por divindades
sobrenaturais, visões milagrosas ou profecias misteriosas.

É muito mais fácil trazer apenas o resultado das pesquisas


científicas, as descobertas feitas por esse ou aquele grupo, pelo
Telescópio Espacial ou por um físico teórico, do que explicar como
elas são feitas, os detalhes do processo de descoberta. Por
exemplo, "astrônomos descobrem que o centro de nossa galáxia
esconde um buraco negro gigantesco, com massa três milhões de
vezes maiores do que o Sol". Fantástica mesmo essa descoberta, e
parece ser verdadeira em quase todas as galáxias: os buracos
negros, esses escoadouros cósmicos de matéria, são bem mais
abundantes do que se esperava. Mas por que o público deve
acreditar nisso? Qual a diferença entre essa asserção e outra como
"hoje vi o fantasma de meu avô se barbeando comigo no espelho
do banheiro"?

Na descrição da descoberta científica está implícita a compreensão


de como cientistas trabalham: quando cientistas afirmam algo
publicamente, é porque essa afirmação passou já por todo um
processo de checagem que garante que ela esteja correta. Em
princípio, as coisas deveriam funcionar da seguinte forma: um grupo
de cientistas faz uma descoberta qualquer. O próximo passo é
enviar um artigo explicando a descoberta a uma publicação
especializada, lida por outros cientistas que fazem pesquisa nessa
área. O editor da publicação envia o artigo para dois ou três
especialistas, que dão o seu parecer. Se surgir alguma questão ou
erro, o artigo é enviado de volta aos autores. Se os autores
concordarem com o parecer dos especialistas, eles consertam o
artigo. Se não, têm a liberdade de confrontá-los, com o editor
servindo de mediador. Quando o artigo é finalmente aceito para
publicação é porque os autores e os especialistas concordam com a
versão final. O artigo é então lido por outros cientistas da área. Seu
sucesso é medido pelo número de vezes que é citado por outros
artigos: um número elevado de citações demonstra o interesse e a
aprovação por parte da comunidade científica.

Quando o resultado chega à imprensa, deveria ter passado por


esse processo. Pelo menos, seus autores deveriam ter conversado
com outros cientistas ou dado seminários sobre seus resultados.
Nem sempre isso ocorre. Na euforia da descoberta, cientistas
contatam a imprensa e resultados são disseminados antes de
serem propriamente checados. Outro problema é que descobertas
que envolvem experimentos complexos às vezes não são
duplicadas. Portanto, o processo é eficiente mas não perfeito.
Afinal, ele é produto de pessoas que, mesmo bem intencionadas,
não são infalíveis. Para complicar, existe a tentação da fama, das
bolsas de pesquisa, dos prêmios. Vide o exemplo do pesquisador
coreano que forjou os resultados sobre clonagem humana. O
divulgador de ciência tem que filtrar, dentro do possível, o certo do
incerto. Caso contrário, as pessoas não têm como diferenciar entre
buracos negros em galáxias e fantasmas em espelhos.
MARCELO GLEISER é professor de física teórica do Dartmouth
College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Harmonia do
Mundo"

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2910200601.htm

Expansão do Universo pode desacelerar

Estudo brasileiro indica que cosmos começará a frear taxa de


crescimento daqui a 6 bilhões de anos e terá fim tranqüilo

Pesquisa compatibiliza idéia da energia escura com tese que


quer unificar a física; medições no futuro próximo podem
confirmar proposta

REINALDO JOSÉ LOPES


DA REPORTAGEM LOCAL

Os boatos sobre um fim catastrófico para o Universo foram um


bocado exagerados, de acordo com um grupo de cosmólogos
brasileiros. Eles dizem ter mostrado que a fase de crescimento
acelerado pela qual o cosmos passa hoje deve arrefecer daqui a 6
bilhões de anos, levando estrelas, galáxias e tudo o que existe a
uma morte relativamente sossegada.

O trabalho é, por enquanto, teórico. Mas segundo o coordenador do


estudo, Jailson Alcaniz, do Observatório Nacional, no Rio de
Janeiro, confirmar suas conclusões por meio de dados
experimentais é uma possibilidade mais próxima do que se imagina.

Não tão distante


"Daqui a alguns poucos anos, é possível que nós já tenhamos
dados para descartar ou confirmar essa proposta. Para isso, ainda
é preciso melhorar a precisão das medições de fenômenos como as
explosões de supernovas, a radiação cósmica de fundo [o "eco" da
explosão que criou o Universo] e a estrutura dos aglomerados de
galáxias", afirma o cosmólogo.

O trabalho de Alcaniz e colegas do Observatório Nacional, da USP


e da Uern (Universidade Estadual do Rio Grande do Norte) acaba
de ser publicado na revista científica "Physical Review Letters". A
idéia é entender as conseqüências últimas de um fato
inquestionável: o Universo está inflando a um ritmo acelerado.
Medições da luz distante de supernovas (estrelas de grande massa
que explodiram) estão entre as principais provas dessa expansão
acelerada.

Para explicar esse processo, os cientistas propõem a existência da


chamada energia escura, que agiria de forma oposta à da
gravidade: por ter propriedades repulsivas, ela faria as coisas se
afastarem umas das outras, em vez de promover a atração entre
elas, como faz a força gravitacional.

Para os cosmólogos, o grande problema é imaginar que essa


expansão acelerada continue para sempre. "Se isso acontecer,
você acaba tendo um horizonte de eventos futuro, ou mesmo uma
singularidade", diz Alcaniz. Ambos os termos, tirados da física dos
buracos negros, referem-se a uma situação em que as leis do
cosmos simplesmente não valem mais -na singularidade de um
buraco negro, por exemplo, a gravidade e a pressão seriam
infinitas.

A imensa maioria dos físicos rejeita a existência de singularidades


porque a presença delas no mundo real faria com que o Universo
deixasse, na prática, de fazer sentido.

Em particular, a chamada teoria das cordas -hoje a principal


candidata a explicar todos os fenômenos cósmicos de maneira
coerente- não poderia ser formulada se a expansão desenfreada do
Universo realmente desembocar num horizonte de eventos. Uma
expansão acelerada eterna levaria a um "Big Rip" (grande rasgão,
em inglês), um tipo de morte cósmica na qual galáxias, estrelas e
até os próprios átomos seriam dilacerados.
Alcaniz e seus colegas escaparam desse dilema conciliando as
observações sobre a expansão com o conceito de campo escalar. O
lado interessante do campo escalar é que ele é dinâmico, "evolui ao
longo do tempo e do espaço na histórica cósmica", explica o
pesquisador. "Nesse contexto, a expansão teria sido desacelerada
no passado, teria começado a acelerar há 5 bilhões de anos e,
daqui a 6 bilhões de anos, pararia de acelerar de novo", diz ele.
Dessa forma, o risco de um "Big Rip" seria afastado. Ao invés de
ser feito em pedacinhos no fim de sua história, o Universo
continuaria a se expandir, mas num ritmo cada vez mais lento,
tornando-se, pouco a pouco, mais rarefeito e mais frio e morrendo
suavemente. "É um final como o que imaginávamos antigamente
para o cosmos", resume Alcaniz.

Hoje, tanto o modelo do "Big Rip" quanto o do grupo podem explicar


as observações astronômicas. Só medições mais precisas é que
poderão mostrar quem está com a razão.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0409200601.htm

ASTROFÍSICA

Buraco negro usa magnetismo ao engolir matéria


Buracos negros possuem uma força gravitacional capaz de atrair
qualquer objeto para uma viagem sem volta, mas na verdade é o
magnetismo ao redor desses monstros cósmicos que faz deles
engolidores de matéria. A conclusão é de um estudo publicado hoje
na revista "Nature", assinado pelo físico John Miller, da
Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.

Segundo o pesquisador, um vento de íons (partículas eletricamente


carregadas) é o que desestabiliza a órbita do gás que normalmente
rodeia os buracos negros. Sem tal perturbação, a gravidade faria
apenas a matéria orbitar a região indefinidamente.

Miller e seus colegas confirmaram a teoria ao usar imagens do


telescópio de raios-X Chandra para observar o sistema binário GRO
J1655-40, no qual um buraco negro engole gás que escapa de uma
estrela. (DA REDAÇÃO)

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2206200603.htm

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