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que ouo meu corao acima das buzinas, das freadas, dos pneus daqueles
carros todos. Ento, tudo cresce, tudo aumenta e eu no sei em que momento
chego a dormir nesses dias, pois to difcil que acabo cedendo sem
descansar, caindo de sono antes de dormir um sono normal.
Depois, h os passos. Passos de gente que anda na rua, talvez, dentro
de suas casas, certamente. Eles andam, e andam, e mexem em coisas, como
se a noite no fosse o tempo de no estarem ali, de estarem parados, em
silncio, sem sons, sem tanto mexer aqui e ali, essas manias de acordar de
madrugada e pegar coisas na geladeira, e se mexer ao ponto de cegar meus
sentidos. s vezes, a que paro, tento dormir, entro em concentrao, procuro
fixar os olhos nas estrelas l de fora ou nas pequenas estrelas que algum,
no sei quando, fixou no teto do quarto, e que brilham em cor de fsforo,
verdes e acesas, como pontos de concentrao de minha mente, e ento que
desmaio, me entrego e durmo, muito pouco, at ser acordado novamente por
passos, estrada e gente.
Em terceiro lugar, aparece a escurido, ela prpria. Quando consigo
abstrair at mesmo dos pontinhos verdes do teto, a escurido que me invade
a mente. Nessa escurido eu penetro com os olhos, afastando-a aos poucos,
at me sentir completamente dentro dela, sem nada mais que os olhos l
dentro, vendo tudo, como um gato que anda sem esbarrar em nada pela noite,
como uma sombra, que em tudo se encosta mas no esbarra, como um fugidio
mocho em mergulho sobre um rato, eu mergulho, e ela ento me envolve em
escuro abrao, em profunda paz, como dentro de uma caverna, sem som que
perturbe, sem gente e seus passos odiosos, sem nada que nos tire do
envolvimento amoroso de uma noite verdadeira.
ento, s ento que pode brotar finamente, aos poucos e leve como
os dedos de Aurora retirando o manto dos ombros de Atlas, a rstia de manh
que me traz quarto adentro, para fora das sombras, quando me acordo de uma
pequena morte breve, perdida nas trevas da noite interminvel e finalmente
finda.
Lembrei-me de Sartre, agora h pouco. Era uma coisa, uma pequena
expresso, uma frasezinha, com um pensamento meio darwiniano, algo como
s a angstia criadora, ou s a angstia constri. (Se se faz necessrio