Вы находитесь на странице: 1из 66

Anita Blake 7 - Oferendas Queimadas

Capítulo 1

A maioria das pessoas não encara as cicatrizes. Eles olham, é claro, depois eles desviam o
olhar. Você sabe, aquele olhar rápido, então ficam pasmos, e então tem que dar uma
segunda olhada. Mas eles fazem isso rápido. As feridas não são como um show de
aberrações, mas elas são interessantes. O capitão Pete Mckinnon, Bombeiro e investigador de
incêndios culposos sentou-se frente a mim, suas grandes mãos estavam envolvendo o copo
de chá gelado que a nossa secretária, Mary, havia trazido para ele. Ele estava encarando
meus braços. Não no lugar onde a maioria dos homens olha. Mas não foi sexual. Ele estava
encarando as cicatrizes e não parecia estar embaraçado sobre isso.
Meu braço direito foi fatiado duas vezes por uma faca. Uma cicatriz era branca e antiga. A
segunda era ainda rosada e nova. Meu braço esquerdo estava pior. Um monte de tecido
cicatrizado assentado na curva do meu braço. Eu teria que levantar pesos pelo resto de
minha vida ou as cicatrizes teriam endurecido e eu perderia a mobilidade do braço, isso foi o
que meu fisioterapeuta disse. Havia uma queimadura em forma de cruz, um pouco torta
agora por causa da irregular marca de garras que um metamorfo havia feito. Havia lá mais
uma ou outra cicatriz escondidas embaixo de minha blusa. Mas o braço realmente é o pior.

1
Bert, meu chefe, solicitou que eu usasse meu terno ou blusas de mangas compridas no
escritório. Ele disse que alguns clientes expressaram limitações com relação as minhas...
recém adquiridas feridas. Eu não tinha usado camisas de manga comprida desde que ele
pediu. Ele diminuía a temperatura do ar condicionado todos os dias. Estava tão frio hoje que
eu tive alguns arrepios. Todos os outros haviam trazido casacos para o trabalho. Eu estava
comprando camisas curtas para mostrar minhas cicatrizes das costas.
McKinnon havia sido recomendado para mim pelo sargento Rudolph Storr, policial e amigo.
Eles tinham jogado futebol juntos no colégio, e tem sido amigos desde então. Dolph não usa a
palavra "amigo" com frequencia, então eu soube que eles eram próximos.
"O que aconteceu com seu braço?" McKinnon perguntou finalmente.
"Eu sou uma executora de vampiros legalizada. Algumas vezes eles ficam irritados." Eu tomei
um gole do café.
“Irritados", ele disse e sorriu.
Ele colocou seu copo na mesa e tirou seu blazer. Seus ombros eram quase tão largos como
quanto ele era alto. Ele era poucos centímetros mais baixo do que o 1,83 do Dolph mas ele
não perdia por muito. Ele estava apenas nos quarenta, mas seu cabelo já era grisalho com
um pouco de branco nascendo nas suas têmporas. Isso não o fazia parecer distinto. Isso o
fazia parecer cansado.
Ele havia me ultrapassado nas cicatrizes. Marcas de queimadura arrastavam pelos seus
braços de suas mãos e desapareciam embaixo das mangas curtas de sua camisa branca. A
pele era manchada de rosa, branco e uma estranha sombra bronzeada como a pele de algum
animal que deve ter sido mudada regularmente.
"Isso deve ter doído" Eu disse. "Você viu o interior do hospital com alguns desses."
"Sim." Eu puxei a manga do meu braço esquerdo e mostrei o lugar brilhante onde uma bala
tinha raspado em mim. Seus olhos se alargaram um pouco. "Agora que nós provamos que
somos grandes valentões he-mens, você pode cortar o papo furado? Por que você está aqui,
Capitão Mckinnon?"
Ele sorriu e colocou seu blazer nas costas de sua cadeira. Ele pegou o chá de cima da mesa e
o bebeu. "Dolph disse que você não gosta de ser avaliada."
"Eu não gosto de passar por inspeções."
"Como você sabe que passou?"
Era minha vez de sorrir. "Intuição feminina. Agora, o que você quer?"
"Você sabe o que o termo firebug significa?"
"Um incendiário," Eu respondi.
Ele olhou expectante para mim.
"Um psicocinético, alguém que pode chamar o fogo psiquicamente."
Ele acenou. “Você já viu um verdadeiro psicocinético?"
"Eu vi filmes de Ophelia Ryan" Eu disse.
"Os antigos em preto e branco?" ele perguntou.
"Sim."
"Ela está morta agora, você sabe."
"Não, eu não sabia."
"Queimada até a morte em sua cama, combustão espontânea. Muitos dos firebugs morrem
dessa forma, como se quando eles envelhecessem, eles perdessem o controle disso. Você já
viu algum deles em pessoa?"
"Não."
"Onde você viu os filmes?"
"No segundo semestre de Estudos Psíquicos. Nós tivemos vários psíquicos nos visitando e
falando conosco, demonstrando suas habilidades, mas psicocinética é uma habilidade tão
rara, eu não penso que o professor pôde encontrar algum."
2
Ele acenou e bebeu o resto de seu chá em uma única e longa golada. "Eu conheci Ophelia
Ryan uma vez antes dela morrer. Boa mulher." Ele começou a virar o copo cheio de gelo ao
redor de suas largas mãos. Ele encarou o copo e não a mim enquanto falava. "Eu conheci
outro firebug. Ele era jovem, por volta dos vinte. Ele começou colocando fogo em casas
vazias, como vários psicocinéticos. Então ele fez com prédios com pessoas ainda dentro
deles, mas todos conseguiam sair. Então ele fez com um cortiço, uma verdadeira armadilha
de fogo. Ele colocou fogo em todas as saídas. Matou mais de 60 pessoas, a maioria mulheres
e crianças."
McKinnon me encarou. O olhar em seus olhos era assombrado. "Ainda é a maior contagem de
corpos que eu já vi serem queimados. Ele fez o mesmo com um prédio empresarial, mas
perdeu algumas saídas. 23 morreram."
"Como vocês o pegaram?"
"Ele começou escrevendo para os jornais de televisão. Ele queria crédito pelas mortes. Ele
colocou fogo em alguns policiais antes de o pegarmos. Nós estávamos usando aqueles
grandes casacos cinza que eles usam nas plataformas petrolíferas. Ele não podia nos
queimar. Nós o levamos para a delegacia, e esse foi nosso erro. Ele colocou fogo na
delegacia."
"Aonde mais você poderia ter levado ele?" Eu perguntei.
Ele encolheu pesadamente os ombros. "Eu não sei, algum outro lugar. Eu ainda estava na
roupa, e eu o segurei perto. Disse a ele que nós queimaríamos juntos se ele não parasse. Ele
sorriu e botou fogo em si mesmo." McKinnon colocou seu copo cuidadosamente na ponta da
mesa.
"As chamas eram de um azul suave quase como fogo de gás, mais pálida. Não queimou ele,
mas de alguma forma queimou minha roupa. A maldita coisa era calculada para algo como
6.000 graus, e começou a derreter. A pele humana queima a 120 graus, mais de alguma
forma eu não derreti a uma poça de água, só a roupa. Eu tive que tirar enquanto ele sorria.
Ele seguiu para a porta e não pensou que alguém seria estúpido o suficiente para segurar
ele."
Eu não disse o óbvio. Eu deixei ele falar.
"Eu prendi ele no corredor e o golpeei na parede algumas vezes. Coisa engraçada , onde
minha pele o tocava, não queimava. Era como o fogo circulava o espaço e começava em
meus braços, então minhas mãos estão bem."
Eu concordei. "Há uma teoria que a aura dos psíquicos os impede de queimar. Quando você
tocou a pele dele, você estava muito perto da sua aura, sua própria proteção de queimar."
Ele me encarou. "Talvez tenha sido isso o que aconteceu, por que eu o bati conta a parede
repetidas vezes. Ele estava gritando, 'Eu vou te queimar. Eu vou te queimar vivo.' Então o
fogo mudou de cor para amarelo, normal, e ele começou a queimar. Eu deixei ele ir e fui para
o extintor de incêndio. Nós não podíamos deixar seu corpo em chamas sair. O extintor
funcionou nas paredes, em todo o resto mas não iria funcionar nele. Era como se o fogo
estivesse escorregando para fora do seu corpo bem do fundo. Nós diminuímos algumas das
chamas, mas havia muito mais delas até que ele estivesse todo em fogo."
Os olhos de McKinnon estavam distantes e cheios de horror como se ele estivesse vendo.
"Ele não morreu, Ms. Blake, não como ele deveria. Ele gritou por tanto tempo e nós não
pudemos ajudá-lo. Não pude ajudá-lo." A voz dele estremeceu. Ele só sentou lá encarado o
nada.
Eu esperei e finalmente disse, gentilmente, "Por que você está aqui, Capitão?"
Ele piscou e ficou em choque. "Eu penso que nós temos outro firebug em nossas mãos,
Ms.Blake. Dolph disse que se alguém pode nos ajudar a cortar a perda de vidas, esse alguém
é você."

3
"Habilidades psíquicas tecnicamente não são sobrenaturais.É somente um talento como uma
boa bola curva."
Ele balançou a cabeça. "O que eu vi morrer no chão da delegacia naquele dia não era
humano. Aquilo não poderia ser humano. Dolph disse que você é uma expert em monstros.
Ajude-me a pegar esse monstro antes que ele mate.
"Ele ou ela ainda não matou? São só danos de propriedade?" Eu perguntei.
Ele confirmou. "Eu poderia perder meu emprego vindo até você. Eu deveria manter isso na
linha e ter permissão do chefe de comando, mas nós só perdemos alguns prédios.Eu quero
manter isso dessa forma."
Eu tomei um lento suspiro e deixei o ar sair. "Eu estarei contente em ajudar, Capitão, mas
honestamente eu não sei o que fazer por você."
Ele tirou um grosso arquivo. "Aqui está tudo que nó temos. Olhe isso e me ligue essa noite."
Eu peguei o arquivo dele e coloquei no meio de minha mesa.
"Meu número está no arquivo. Ligue-me. Talvez seja outro firebug. Talvez seja algo mais. Mas
o que quer que seja, Ms. Blake, isso pode se banhar em chamas e não queima. Isso pode
andar por um prédio e colocar fogo como borrifos de água. Sem pressa, Ms. Blake, mas as
casas tem ido pelos ares como se elas tivessem sido encharcadas de algo. Quando pegamos
a madeira no laboratório, está limpa. É como se o que quer que seja que esteja fazendo isso
possa forçar o fogo a fazer coisas que não devia fazer."
Ele olhou seu relógio. "Eu estou muito atrasado. Estou trabalhando em por você nisso
oficialmente mas temo que eles iram esperar até pessoas morrerem. Eu não quero esperar."
"Eu te ligo esta noite, mas talvez tarde. Quão tarde é muito tarde pra ligar?"
"Qualquer hora, Ms. Blake, qualquer hora."
Eu concordei e acenei. Eu ofereci minha mão. Ele apertou. Seu aperto era firme, sólido, mas
não muito apertado. Muitos clientes homens que querem saber sobre as cicatrizes apertam
minha mão como se quisessem que eu gritasse "tio". Mas McKinnon era seguro. Ele tinha suas
próprias cicatrizes.
Eu mal me sentei quando o telefone tocou. "O que é, Mary?
"Sou eu," Larry disse. "Mary não achou que você se importaria dela me pôr na linha
diretamente."
Larry Kirkland, executor de vampiro em treinamento, era suposto que ele estivesse no
necrotério estacando vampiros.
"Não. Qual é o problema?"
"Eu preciso de carona pra casa." Havia um pouco de hesitação em sua voz.
"O que há de errado?"
Ele sorriu. "Eu deveria saber melhor sobre ser recatado com você. Eu estou todo machucado.
O médico disse que eu vou ficar bem."
"O que aconteceu?" Eu perguntei.
"Venha me buscar que eu te conto tudo." Então o pequeno filho da mãe desligou o telefone.
Tinha somente uma razão para ele não querer me contar. Ele tinha feito algo estúpido e se
machucou. Dois corpos para estacar. Dois corpos que não levantariam por pelo menos mais
uma noite. O que pode ter dado errado? Como o velho ditado diz, há somente um jeito de
saber.
Mary remarcou minhas consultas. Eu coloquei em meu ombro o coldre com a Browning Hi-
Power para fora do topo da gaveta na mesa e ela escorregou. Desde que eu parei de usar
minha jaqueta no escritório, eu tive que por a arma na gaveta, mas fora do escritório e
sempre depois do anoitecer eu usava minha arma. A maioria das criaturas que havia me
assustado estavam mortas. A maioria eu fiz pessoalmente. Balas de prata é uma coisa
maravilhosa.

4
Capítulo 2

Larry sentou cuidadosamente no banco passageiro do meu Jeep. É difícil sentar em um carro
quando suas costas estão cheias de pontos. Eu vi a ferida. Era uma perfuração afiada e um
longo, sangrento arranhão. Duas feridas na verdade. Ele ainda usava a camisa azul que ele
estava usando antes, mas o fundo estava todo ensanguentado e rasgado. Eu estava
impressionada que ele conseguisse impedir que as enfermeiras a cortassem. Elas tinham a
tendência de cortar as roupas que ficavam no caminho.
Larry se esticou contra o cinto de segurança, tentando encontrar uma posição confortável.
Seu cabelo curto e ruivo tinha sido cortado recentemente, curto o suficiente para que os
cachos não fossem notados. Ele tinha 1,65, uma polegada mais alto que eu. Ele tinha se
formado em biologia sobrenatural Maio passado. Mas com as sardas e algumas verrugas de
dor entre seus olhos azul-claro, ele parecia ter mais 16 do que 21.
Eu estava tão ocupada assistindo ele se contorcer que eu perdi a entrada para a I-270. Nós
estávamos presos na Ballas ate chegarmos à Olive. Era pouco antes do almoço, e a Olive
estava cheia de pessoas que estavam tentando encher suas bocas de comida para chegar
rápido no trabalho.
"Você tomou as pílulas para dor?" Eu perguntei.
Ele tentou sentar suavemente, um braço escorado na ponta do banco. "Não."
"Por que não?"
"Por que coisas como essas me derrubam. Eu não quero dormir."
"O sono do remédio não é a mesma coisa de um sono normal," Eu disse
"Não, os sonhos são piores," ele disse.
Ele me tinha ali. "O que aconteceu, Larry?"
"Eu estou surpreso que você esperou tanto para perguntar."
"Eu também, mas eu não queria perguntar para você na frente do médico. Se você começar a
fazer perguntas para os pacientes os médicos tendem a sair e tratar outra pessoa."
"Eu queria saber pelo médico o quão sério esses machucados eram."
"Só alguns pontos," ele disse.
"Vinte" eu disse.
"Dezoito" ele respondeu.
"Eu estava arredondando."
"Confie em mim," ele disse. "Você não precisa arredondar." Ele fez uma careta enquanto dizia
isso. "Por que isso dói tanto?" Ele perguntou.
Essa deveria ser uma pergunta retórica, mas eu respondi de qualquer forma. "Toda vez que
você mover seus braços ou suas pernas você usa músculos nas suas costas. Movendo sua
cabeça os músculos de seus ombros fazem os músculos de suas costas se mexerem. Você
nunca aprecia as suas costas até se machucar."
"Ótimo." Ele disse.
"Chega de bobagens, Larry. Diga-me o que aconteceu." Nós estávamos parados em uma
longa linha de tráfego iluminando até a luz sobre a Olive. Ficamos presos entre duas
pequenas tiras de shoppings. O da nossa esquerda tinha um chafariz e V. J.'s Tea e Spice,
onde eu comprava todo o meu café. Na nossa direita estava a Streetside Records e o
Restaurante chinês. Se você viesse ao Ballas no horário de almoço, você tinha tempo o
suficiente para estudar as lojas dos dois lados.
Ele sorriu, e então gemeu. "Eu tinha que estacar dois corpos. As duas vítimas de vampiros
que não queriam se levantar como vampiros."
"Eles tinham testamentos, eu me lembro. Você tem feito muitos desses ultimamente."
Ele confirmou, então congelou em um gesto pequeno. "Até para acenar minha cabeça dói."
"Vai doer mais amanhã."
5
"Deus, obrigada, chefe. Eu realmente precisava saber isso.”
Eu encolhi os ombros. "Mentir para você não faz a dor diminuir."
"Alguém já te disse que suas boas maneiras são horríveis?"
"Muitas pessoas."
Ele fez um pequeno gemido. "Isso eu acredito. De qualquer forma, eu tinha terminado os
corpos e estava me arrumando para ir embora. Uma mulher enrolou um outro corpo. Disse
que era um vampiro sem uma decisão judicial de execução."
Eu olhei de relance para ele, com um olhar severo. "Você não estacou um corpo sem a
papelada, estacou?"
Ele olhou com uma carranca. "É claro que não. Eu disse a eles, sem decisão judicial, sem
vampiros mortos. Estacar um vampiro sem uma ordem judicial é assassinato, e eu não vou
estar sob acusação por que alguém desandou com a papelada. Eu disse aos dois em termos
inequívocos."
"Então?" Eu perguntei. Eu facilitei a linha do tráfego um pouco mais perto da luz.
"Então outro atendente do necrotério veio. Eles foram procurar a papelada perdida. Eu fui
deixado com o vampiro. Era manhã. Ele não ia a lugar algum." Ele tentou olhar para outro
lugar e não encontrar meus olhos, mas isso machucou. Ele terminou me encarando, zangado.
"Eu saí para um cigarro."
Eu olhei para ele e tive que pisar nos freios quando o tráfego parou. Larry estava afundando
no cinto de segurança. Ele se lamentou e quando ele finalmente se ajeitou no assento ,ele
disse,"Você fez isso de propósito."
"Não, eu não fiz, mas talvez eu devesse ter feito. Você deixou o corpo de um vampiro
sozinho. Um vampiro que deve ter mortes o suficiente para ter um mandato de execução,
sozinho no necrotério."
"Era só um cigarro, Anita. O corpo estava deitado lá na maca. Não estava preso ou
acorrentado. Não havia cruzes em nenhum lugar. Eu já fiz execuções. Eles engessam os
vampiros com correntes de prata e cruzes até tornar-se difícil encontrar o coração. Aquilo só
não parecia certo. Eu queria falar com o médico examinador. Ela tinha que aprovar todos os
vampiros antes da execução, ou alguém tinha. Além de EU fumar. Eu pensei que nós
poderíamos fumar juntos em seu escritório."
"E..." eu disse.
"Ela não estava lá, e eu voltei para o necrotério. Quando eu cheguei lá, a mulher atendente
estava tentando estacar o peito do vampiro."
Foi sorte que nós estávamos parados no trânsito. Se estivéssemos em movimento eu teria
atropelado alguém. Eu o encarei. "Você deixou seu kit de vampiros abandonado."
Ele conseguiu um olhar envergonhado ao mesmo tempo. "Meu kit não inclui armas como o
seu, então eu pensei quem incomodaria."
"Muitas pessoas roubam coisas de sacolas para guardar como souvenires, Larry." O trânsito
começou a andar e eu tiver que olhar para a rua ao invés de seu rosto.
"Está bem, está bem, eu estava errado. Eu sei que eu estava errado. Eu a segurei ao redor da
cintura e a tirei de cima do vampiro." Seus olhos desviaram para baixo, não olhando para
mim. Essa foi a parte que o incomodou, ou a parte que ele pensou que me incomodaria. "Eu
me virei para olhar o vampiro. Para ter certeza que ela não o havia ferido."
"Ela faz isso em suas costas." Eu disse. Nós andamos uma polegada. Estávamos presos agora
entre o Dairy Queen e Kentucky Fried Chicken em um lado, e a Infiniti car dealership e um
posto de gasolina no outro lado. O cenário não estava melhorando.
"Sim, sim. Ela deve ter pensado que eu estava mal por que ela me deixou e voltou para o
vampiro. Eu a desarmei, mas ela ainda estava tentando pegar o vampiro quando o outro
atendente entrou. Precisou que nós dois segurássemos ela. Ela estava louca, maníaca."

6
"Por que você não sacou sua arma, Larry?" A arma dele estava no kit de vampiro dele por que
o coldre e suas costas machucadas não combinavam. Mas ele foi armado. Eu o levei para
uma aula de tiros, e para caçadas até eu ter certeza que ele não atiraria no próprio pé.
"Se eu sacasse minha arma, eu teria atirado nela."
"Esse meio que é o ponto, Larry."
"Esse é exatamente o ponto," ele disse. "Eu não queria atirar nela."
"Ela poderia ter matado você, Larry."
"Eu sei."
Eu agarrei o volante tão forte que chegou a salpicar minha mão de manchas brancas e
vermelhas. Eu soltei um longo suspiro e tentei não gritar. "Você obviamente não sabe, ou
você teria sido mais cuidadoso."
"Eu estou vivo, e ela não está morta. O vampiro não teve nem um arranhão. Tudo deu certo."
Eu puxei o carro para a Olive e comecei rastejante pela 270. Nós precisávamos ir em direção
ao norte de St. Charles. Larry tinha um apartamento lá. Era uns 20 minutos dirigindo, pegar
ou largar. Seu apartamento tinha vista para um longo lago onde os gansos aninhavam na
primavera e se reuniam no inverno. Richard Zeeman, professor da escola infantil, lobisomem
alfa, e naquele tempo, meu namorado, tinha ajudado ele a se mudar. Richard tinha realmente
gostado dos gansos se aninhando sob a varanda. Eu também tinha.
"Larry, você tem que ser menos suscetível ou você acabará sendo morto."
"Eu vou continuar fazendo o que eu acho que é certo, Anita. Nada que você diga vai mudar
minha opinião.
"Droga, Larry. Eu não quero ter que enterrar você."
"O que você teria feito? Atirado nela?"
"Eu não teria ficado de costas para ela, Larry. Eu provavelmente teria desarmado ela ou a
mantido ocupada até o outro atendente chegar. Eu não teria atirado nela."
"Eu deixei as coisas saírem do controle," ele disse.
"Sua prioridade era desarmar. Você deveria neutralizar a ameaça antes de você ter checado a
vítima. Vivo, você poderia ajudar o vampiro. Morto, você é só mais outra vítima."
"Bem, pelo menos eu tenho uma cicatriz que você não tem."
Eu balancei minha cabeça. "Você tem que tentar mais se você quer alguma cicatriz que eu
não tenho."
"Você deixou uma humana colocar uma de suas próprias estacas em suas costas?"
"Dois humanos com mordidas múltiplas, quem eu costumava chamar de serviçais humanos,
antes de saber o que o termo realmente significava. Eu apunhalei uma. A mulher veio pelas
minhas costas."
"Então o seu não foi um erro." ele disse.
Eu encolhi os ombros. "Eu poderia ter atirado neles quando eu os vi pela primeira vez, mas eu
não matava humanos tão facilmente naquela época. Eu aprendi minha lição. Só por que não
tem presas não quer dizer que não pode te matar."
"Você costumava ser mais suscetível sobre atirar em serviçais humanos?" Larry perguntou.
Eu virei na 270. “Ninguém é perfeito. Por que a mulher teve esse trabalho para matar o
vampiro?"
Ele sorriu ironicamente. "Você vai amar essa. Ela é membro da “Humanos Primeiro”. O
vampiro era médico no hospital. Ele tinha se escondido no closet. Era onde ele dormia
durante o dia se ele ficasse até muito tarde no hospital. Ela o colocou na maca e o levou para
o necrotério."
"Eu estou surpresa que ela simplesmente não o colocou na luz do sol. O ultimo raio de sol
serve tão bem quanto os raios de meio dia."

7
"O closet que ele usava era no chão só no caso de alguém abrir a porta na hora errada do dia.
Nenhuma janela. Ela estava com medo de que alguém pudesse vê-la antes dela poder levá-lo
para o elevador e para fora."
"Ela realmente achou que você iria somente estacá-lo?"
"Eu penso que sim. Eu não sei, Anita. Ela era louca, realmente louca. Ela cuspiu no vampiro e
em nós. Disse que nós iríamos queimar no inferno. Que nós tínhamos que limpar o mundo dos
monstros. Que os monstros iriam escravizar todos nós." Larry arrepiou-se, então fez uma
carranca. "Eu pensei que Humanos Contra Vampiros eram ruins o suficiente, mas esse outro
grupo, Humanos Primeiro, é genuinamente assustador."
"HCV tenta trabalhar dentro da lei", eu disse. "Humanos Primeiro nem mesmo finge se
importar. Eles alegaram que estacaram um prefeito vampiro em Michigan."
"Alegaram? Você não acredita neles?"
"Eu penso que alguém próximo a ele o fez."
"Por quê?
"Os policias me mandaram uma descrição e algumas fotos da segurança que ele havia
utilizado. Humanos Primeiro podem ser radicais, mas eles não parecem ser muito bem
organizados ainda. Você teria que ter um plano e ser muito sortudo para pegar aquele
vampiro durante o dia. Ele era como muitos dos antigos, muito sérios sobre a sua segurança
durante o dia. Eu penso que quem quer que tenha feito isso está feliz em deixar os radicais
levarem a culpa."
"Você disse a polícia o que você acha?"
"Claro. Isso foi a razão deles perguntarem."
"Eu estou surpreso deles não terem pedido pra você ir lá e ver tudo pessoalmente."
Eu encolhi meus ombros. “Eu não posso ir pessoalmente para todo crime sobrenatural. Além
do que, eu sou tecnicamente uma civil. Policiais estão sendo espertos sobre envolver civis nos
casos, mas mais importante, a mídia estaria em cima disso. A Executora Soluciona um
Assassinato de Vampiro."
Larry sorriu. “Essa seria uma manchete muito leve para você."
"Infelizmente," Eu disse. "Eu também penso que o assassino é humano. Eu penso que é
alguém próximo dele. É como qualquer outro bem planejado assassinato exceto pela vítima
ser um vampiro."
"Somente você iria fazer um assassinado a portas trancadas de um vampiro ser algo
ordinário," Larry disse.
Eu tive que sorrir. "Eu acho que sim." Meu beeper vibrou, e eu pulei. Eu peguei a maldita
coisa da minha blusa e segurei onde eu pude ver o número. Eu amarrei a cara.
"O que há de errado? É a polícia?"
"Não. Eu não conheço o número."
"Você não dá o número de seu beeper para estranhos."
"Eu estou ciente disso."
"Hey, não fique chata comigo."
Eu suspirei. "Desculpa." Larry foi lentamente me acalmando. Ele estava, repetidamente, me
ensinando a ser boazinha. Qualquer um outro e eu teria alimentado eles com a cabeça numa
cesta. Mas Larry conseguia apertar meus botões direito. Ele pôde me ensinar a ser boa e eu
não o acertava com balas. A base de um relacionamento de sucesso.
Estávamos apenas a alguns minutos do apartamento de Larry. Eu o coloquei na cama e
respondi a ligação. Se não fosse a polícia ou uma caçada a zumbis, eu ficaria muito irritada.
Eu odeio ser bipada quando não é importante. É pra isso que beepers servem, certo? Se não
fosse alguma coisa importante, eu iria chover no desfile da alguém. Com Larry dormindo, eu
poderia ser tão má quanto eu quisesse ser. Isso era quase um alívio.

8
Capítulo 3

Quando Larry estava a salvo em sua cama com seu Demerol, em um sono tão profundo que
nada nem um terremoto iria acordá-lo, eu fiz minha ligação. Eu ainda não tinha a mínima
idéia de quem seria, o que me incomodou. Não era só inconveniente, era enervante. Quem
estava dando meu número por aí e por quê?
O telefone nem terminou de chamar antes que fosse atendido. A voz do outro lado era
masculina, suave, e em pânico. “Alô, alô.”
Toda a minha irritação foi embora lavada pro algo muito parecido com medo. “Stephen, o que
há de errado?”
Eu o ouvi engolir no outro lado da linha. “Graças a Deus.”
“O que aconteceu?” Eu fiz minha voz bem clara, calma, por que eu queria gritar com ele,
forçar ele a me contar o que diabos estava acontecendo.
“Você poderia vir ao hospital St. Louis University?"
Aquilo chamou a minha atenção. “Quão machucado você está?”
“Não sou eu.”
Meu coração foi parar em minha garganta, e minha voz saiu espremida e apertada. “Jean-
Claude.” No momento que eu disse, eu percebi que era bobagem. Era à tarde ainda. Se Jean-
Claude tivesse precisado de um médico, eles teriam ido até ele. Vampiros não viajam bem
durante o dia. Por que eu estava preocupada com um vampiro? Acontece que eu estou
namorando ele. Minha família, católicos devotos, está simplesmente aterrorizada. Eu ainda
estou um pouco envergonhada sobre isso, é difícil me defender.
“Não é Jean-Claude. É Nathaniel."
“Quem?”
Stephen respirou profundamente em um longo e sofrido suspiro. “Ele é do grupo do Gabriel.”
Era outra forma de dizer que ele era um homem-leopardo. Gabriel era o líder dos leopardos, o
alfa, até eu matar ele. Por que eu o matei? A maioria das feridas que ele me deu já
cicatrizaram. Era um dos benefícios das marcas de um vampiro. Eu não me machucava tão
facilmente mais. Mas tinham algumas cicatrizes acima de minha bunda e nas minhas costas,
sensíveis, quase delicadas, mas eu sempre teria algo que me lembra Gabriel. Uma lembrança
que sua fantasia era me estuprar, me fazer gritar seu nome, aí então me matar.
Conhecendo Gabriel, provavelmente não teria diferença para ele fazer quando eu morresse,
depois, ou durante- os dois teriam servido para ele. Contanto que eu ainda estivesse quente.
A maioria dos licantropos não gosta de carniça.
Eu soei casual sobre isso, mesmo em minha própria mente. Mas meus dedos traçaram minhas
costas como se eu pudesse sentir as cicatrizes através da minha saia. Tive que ser casual
sobre isso. Tem que ser. Ou você começa a gritar, e você não para.
“O hospital não sabe que Nathaniel é um metamorfo, sabem?” Eu perguntei.
Ele abaixou sua voz. “Eles sabem. Ele está se curando muito rápido para que eles não
saibam.”
“Então para que sussurrar?”
“Por que eu estou na sala de espera no telefone público.” Tinha um som do outro lado como
se ele tivesse tirado o receptor para longe de sua boca. Ele murmurou: “Eu estarei desligando
em um minuto”. Ele voltou para a linha. “Eu preciso que você venha aqui, Anita.”
“Por quê?”
“Por favor.”
“Você é um lobisomem, Stephen. Por que você está dando uma de babá para gatinhos?”
“Eu sou um dos nomes na carteira dele em caso de emergência. Nathaniel trabalha no
Prazeres Malditos.”

9
“Ele é um stripper?” Eu fiz essa pergunta por que ele poderia ser um garçom, mas não era
provável. Jean-Claude é o dono da Prazeres Malditos, e ele nunca teria desperdiçado um
metamorfo o colocando fora do palco. Eles são muito exóticos.
“Sim.”
“Vocês dois precisam de carona?” Era meu dia para isso, eu acho.
“Sim e não.”
“Tinha algo na voz dele que eu não gostei. Uma inquietação, uma tensão. Stephen não era
uma pessoa muito reservada. Ele não faz joguinhos. Ele só fala. “Como Nathaniel se feriu?”
Talvez seu eu fizesse perguntas melhores, eu teria respostas melhores.
“Um cliente ficou muito rigoroso.”
“No bar?”
“Não. Anita, por favor, não há tempo. Venha cá e tenha certeza que ele não vá para casa com
Zane.”
“Quem diabos é Zane?”
“Outro do grupo do Gabriel. Ele tem sido o cafetão deles desde que Gabriel morreu. Mas ele
não está protegendo eles como Gabriel protegia. Ele não é alfa.”
“Cafetão? Do que você está falando?”
A voz do Stephen alterou-se para muito cuidadosa. “Oi Zane. Você já viu Nathaniel?”
Eu não pude ouvir a resposta, só o ruído das pessoas na sala de espera. “Eu não acho que
eles vão dar alta nele agora. Ele está machucado.” Stephen disse. Zane deve ter parado bem
próximo ao telefone, muito próximo de Stephen. Um baixo rosnar saiu do outro lado da linha.
“Ele vai sair quando eu o mandar sair.”
A voz do Stephen chegou ao ponto de pânico. “Eu não penso que os médicos vão gostar
disso.”
“Eu não ligo. Com quem você está falando?”
Para a voz dele estar tão clara ele deveria ter o Stephen encostado na parede. Ameaçando
ele, sem dizer nada específico.
O sussurro ficou bem claro de repente. Ele tomou o telefone de Stephen. “Quem está
falando?”
“Anita Blake, e você deve ser Zane.”
Ele sorriu, e soou bem baixo, de sua ameaça eu estava certa. “A lupa dos lobisomens. Oh, Eu
estou tão assustado.”
Lupa era a palavra que os lobisomens usavam para a acompanhante do líder. Eu fui a
primeira humana a ser honrada. Eu nem estava namorando o Ulfric deles. Nós terminamos
depois que eu o vi comer alguém. Hey, uma garota tem que ter princípios.
“Gabriel não estava assustado comigo também. E veja como eu o peguei.” Eu disse
Zane ficou quieto por meia batida de coração. Ele respirou no telefone como um cachorro
ofegante, pesado, mas não como fazendo de propósito, mais como se ele não conseguisse
evitar.
“Nathaniel é meu. Não se aproxime dele.”
“Stephen não é um de vocês.” Eu disse.
“Ele pertence a você?” Eu pude ouvir um tecido se movendo. Um sentido de movimento do
outro lado da linha que eu não gostei. “Ele é tão bonito. Você provou esses lábios macios?
Esse cabelo longo e loiro deitou em seu travesseiro?”
Eu sabia sem mesmo ver que ele estava tocando Stephen, acariciando ele conforme dizia.
“Não toque nele, Zane.”
“Tarde demais.”
Eu agarrei o telefone apertando e forçando minha voz a ficar calma, então eu disse: “Stephen
está sob minha proteção, Zane. Você me entendeu?”
“O que você faria para manter seu lobo a salvo, Anita?”
10
“Você não quer apertar esse botão, Zane. Você realmente não quer.”
Ele abaixou sua voz para um sussurro quase doloroso. “Você me mataria para manter ele a
salvo?”
Eu normalmente tenho que conhecer alguém antes de começar a ameaçá-lo de morte, mas
eu estou prestes a abrir uma exceção. “Sim.”
Ele sorriu, baixo e nervosamente. “Eu vejo o porquê do Gabriel ter gostado de você. Tão dura,
tão segura de si. Tããão perigosa.”
“Você soa como uma péssima imitação do Gabriel.”
Ele fez um som que era alguma coisa entre um assobio e um bah. “Stephen não deveria ter
interferido.”
“Nathaniel é amigo dele.”
“Eu sou todos os amigos que ele precisa.”
“Eu não acho isso.”
“Eu estou levando Nathaniel comigo, Anita. Se Stephen tentar me parar, eu irei machucá-lo.”
“Você machuca o Stephen, eu machuco você.”
“Então assim seja.” Ele desligou.
Merda. Eu corri para meu Jeep. Eu estava 30 minutos de distância, 20 se eu acelerasse muito.
20 minutos. Stephen não era dominante. Ele era uma vítima. Mas ele era também leal. Se ele
pensa que Nathaniel não deve ir com Zane, ele vai tentar impedir. Ele lutaria por isso, ele
poderia jogar seu corpo na frente do carro. Eu não tenho dúvidas que Zane o atropelaria. Isso
na melhor das hipóteses. No pior Zane levaria os dois Stephen e Nathaniel. Se Zane agir
como Gabriel assim como fala, eu preferiria arriscar minhas chances na hipótese do carro.

Capítulo 4

Minha segunda sala de emergência em menos de 2 horas. Estava sendo um dia de cartão
vermelho, mesmo para mim. Uma boa notícia que um dos ferimentos não era meu. Más
notícias que isso poderia mudar. Alfa ou não, Zane era um metamorfo. Eles são capazes de
espremer um elefante de tamanho médio. Eu não iria lutar com ele braço a braço. Eu não só
provavelmente perderia, mas como também ele arrancaria a arma de minhas mãos e iria
comê-las. A maioria dos licantropos gosta de tentar se passar por humanos. Eu não tinha
certeza que Zane ligava para pequenos detalhes como esses.
Eu ainda não queria matar Zane se eu não fosse obrigada. Isso não era compaixão. Era o
pensamento de que eu seria forçada a fazer isso em público. Eu não quero ir para a cadeia. O
fato de que a punição me incomodava mais do que o crime disse algo sobre minha condição
moral. Tem dias que eu penso que eu estou me tornando uma sociopata. Alguns dias eu
penso que eu já me tornei.
Eu estava carregando balas banhadas de prata em minha arma a todo o momento. Prata
funciona em humanos, tão bem quanto na maioria dos seres sobrenaturais. Por que ficar
trocando pelas normais que só machucam humanos e pouquíssimas criaturas? Mas há alguns
meses atrás eu encontrei um fairie* que tinha quase me matado. Prata não serve para fairies,
mas a bala normal serve. Então eu comecei a manter um pente de balas normais no meu
porta-luvas. Eu descasquei as duas primeiras rodadas de meu pente de prata e as soldei. O
que significa que eu teria duas balas para desencorajar Zane, antes de matá-lo é claro. Por
que, não cometo erros, se ele continuar vindo até mim após eu ter atirado nele com duas
rodadas, o que doeria muito mesmo que você possa curar o estrago, a primeira bala de prata
não estaria destinada a ferir somente.
*(gente fairie= fada , acontece que no outro livro ela encontrou um homem e eu não achei o
masculino de fada, então eu deixei assim =D)

11
Não foi até eu entrar pelas portas que eu percebi que eu não sabia o sobrenome de Nathaniel.
O sobrenome de Stephen não iria me ajudar. Merda.
A sala de espera estava lotada. Mulheres com bebês chorando, crianças correndo entre as
cadeiras que não pertenciam a ninguém, um homem com um tecido ensangüentado enrolado
em sua mão, pessoas com nenhum ferimento visível paradas surdamente no lugar. Stephen
não estava em nenhum lugar por lá.
Gritos, o som de vidro quebrando; metal chiava no chão. Uma enfermeira correu para longe.
“Chame mais seguranças, agora!” Uma enfermeira atrás da recepção pressionou os botões
do telefone.
Chame isso de chute mas eu apostava que era aonde Stephen e Zane estavam. Eu mostrei
minha ID para a enfermeira. “Eu estou com o teme de Investigações Sobrenaturais Regional.
Posso ajudar?”
A enfermeira encarou minha arma. “Você é uma policial?”
“Eu estou com a polícia, sim.” Precaver é o melhor. Como civil ligada ao esquadrão da polícia
você aprende a fazer isso.
“Graças a Deus.” Ela começou a me empurrar para onde estava o barulho.
Eu usei meu braço livre e peguei minha arma. A salvo, apontando para o teto, pronta para ir.
Com balas normais eu não teria apontado para o teto, não com um hospital cheio de
pacientes ao meu redor, mas as duas balas de segurança não eram chamadas de segurança
sem alguma razão.
Os fundos estavam como qualquer área de emergência sempre foi. Cortinas presas com
faixas de metal, então era possível fazer várias salinhas individuais para exames. Uns
punhados de cortinas estavam fechados , mas os pacientes estavam sentados, encarando
através das cortinas, assistindo ao show. Uma parede dividia a sala de um corredor, então
não havia muito para ver.
Um homem usando uma roupa verde foi voando pelo ar daquele lado da parede. Ele bateu na
parede oposta, deslizando pesadamente, e parou bem devagar.
A enfermeira perto de mim correu em direção a ele, eu a deixei ir. Esperei lá longe, médicos
estavam sendo jogados por todo o lugar, aquilo não era um trabalho para um curador. Era um
trabalho para mim. Mais duas pessoas com roupas cirúrgicas foram jogadas no chão, um
homem e uma mulher. A mulher estava acordada, olhos abertos. Sua cintura fazia um ângulo
de 45 graus, quebrada. Ela viu minha ID presa em minha jaqueta. “Ele é um metamorfo.
Tenha cuidado.”
“Eu sei o que ele é,” Eu disse. Eu abaixei a arma só um pouco.
Seus olhos vacilaram, e não foi de dor. “Não atire em meu centro de trauma.”
“Vou tentar não fazer” Eu disse e passei por ela.
Zane deu passos para fora do corredor. Eu nunca tinha visto Zane antes, mas quem mais
poderia ser? Ele estava carregando alguém em seus braços. Eu pensei primeiro que era uma
mulher, por causa do cabelo longo e brilhante, mas com as costas expostas os ombros eram
muito musculosos, muito masculinos. Deveria ser Nathaniel. Ele cabia facilmente nos ombros
do homem alto.
Zane tinha cerca de 1,80, alto e magro. Ele usava somente calças de couro, vestidas em seu
magro e pálido corpo. Seu cabelo era branco-algodão, cortado nos lados com o topo longo
com picos cheios de gel.
Ele abriu a boca e rosnou para mim. Ele tinha presas, superiores e inferiores, como um bom
gato. Jesus Cristo.
Eu apontei a arma para ele e deixei o ar entrar e sair de meu corpo até eu ficar calma. Eu
estava armando para uma linha no ombro dele onde o Nathaniel ainda estava. Nessa
distancia eu o atingiria.
“Eu irei pedir somente uma vez Zane. Ponha ele no chão.”
12
“Ele é meu, meu!” Ele deu alguns passos pelo corredor e eu atirei.
A bala acertou ele, e ele cambaleou de joelhos. O ombro que eu acertei parou de funcionar, E
Nathaniel deslizou de seus braços. Zane levantou com um homem pequeno em seus braços
como um brinquedo. O machucado de seu ombro já estava curando, se recriando como fotos
de uma flor desabrochando.
Zane poderia ter tentado passar por mim, usar sua velocidade, mas ele não tentou.
Ele só veio andando através de mim como se ele não acreditasse que eu fosse fazer. Ele
deveria ter acreditado.
A segunda bala o acertou no peito. Sangue saiu de sua pele pálida. Ele caiu de costas,
curvado, lutando para respirar, com um buraco em seu peito. Eu fui até ele, sem correr, sem
pressa.
Eu andei ao redor dele, fora do alcance dos braços, ele levantou um poço para trás de mim e
para o lado. O ombro que eu atirei ainda estava marcado, seu outro braço preso sob o corpo
de Nathaniel. Zane arfou para mim, olhos castanhos selvagens.
“Prata Zane, o resto das balas são de prata. Eu irei atirar na cabeça e espalhar seu cérebro
por todo esse chão limpo.”
Ele finalmente suspirou, “Não faça.” “Sangue encheu sua boca e escorreu para seu queixo.”
Eu apontei a arma para sua face, no nível das sobrancelhas. Se eu puxasse o gatinho, ele
estava morto. Eu encarei aquele homem que eu nunca conheci antes. Ele parecia jovem,
nenhum lugar perto dos 30. Um grande vazio me preencheu. Era como ficar parado no meio
de um branco. Eu não senti nada. Eu não queria matá-lo, mas eu não ligava se o fizesse. Não
importava para mim. Aquilo só importava para ele. Eu deixei aquele conhecimento preencher
meus olhos. Que eu não ligo se for de uma forma ou de outra. Eu o deixei perceber isso, pois
ele era um metamorfo, e ele entendia o que eu estava mostrando para ele. A maioria das
pessoas não. A maioria das pessoas sãs de qualquer forma.
Eu disse,”Você vai deixar o Nathaniel sozinho. Quando a polícia chegar, você vai fazer tudo
que eles mandarem você fazer. Sem argumentos, sem luta, ou eu vou te matar. Você me
entendeu, Zane?”
“Sim”, ele disse, e mais sangue saiu em uma pesada linha de sua boca. Ele começou a
chorar. Lágrimas jorraram em suas manchas de sangue em seu rosto.
Chorando? Os malvados não deveriam chorar.
“Eu estou tão grato por você ter vindo,” ele disse. ”eu tentei cuidar deles, mas eu não pude.
Eu tentei ser o Gabriel, mas eu não pude ser ele.” Seu ombro tinha sarado o suficiente para
ele poder cobrir seus olhos com as mãos assim não pudemos ver ele chorando, mas sua voz
estava cheia de lágrimas, e também sangue.
“Eu estou tão grato que você veio até nos, Anita. Eu estou tão grato que não estamos mais
sozinhos.”
Eu não sabia o que dizer. Negar que eu seria a líder deles parecia ser uma idéia ruim com
corpos pela área. Se eu recusasse sua oferta, ele poderia ficar nervoso de novo e eu teria que
matar ele. Isso eram as lágrimas? Talvez. Mas era mais que isso. Era o fato de eu ter matado
o alfa deles, o protetor deles, e nunca ligar para o que aconteceria com o resto dos homens-
leopardo. Nunca tinha ocorrido a mim que não havia nenhum no segundo comando, ninguém
para preencher o lugar de Gabriel. Eu certamente não poderia ser a alfa deles. Eu não me
torno peluda uma vez por mês. Mas isso impediria Zane de lançar alguns médicos, eu poderia
jogar por um tempo.
Na hora que os policiais chegaram, Zane estava curado. Ele se enrolou ao redor do corpo
inconsciente do Nathaniel como se fosse seu ursinho de pelúcia, ainda chorando. Ele alisou o
cabelo de Nathaniel e sussurrou repetidamente, “Ela vai nos manter seguros. Ela vai nos
manter seguros. Ela vai nos manter seguros.”
Eu penso que ‘ela’ sou eu, e isso estava num caminho longo em minha cabeça.
13
Capítulo 5

Stephen deitou na cama estreita do hospital. Seu cabelo loiro ondulado era maior que o meu,
se estendendo pelo travesseiro branco. Cicatrizes vermelho vivo e rosa atravessavam seu
rosto. Parecia que ele havia sido jogado pela janela, que foi exatamente o que aconteceu.
Stephen , que não pesava mais que eu 2 quilos, ficara em seu território. Zane tinha
finalmente jogado ele pela janela. Como se tivesse jogado alguém por um ralador de queijo
de arame. Se fosse um humano, ele estaria morto. Até mesmo Stephen estava ferido, muito
ferido. Mas ele estava se curando. Eu não podia ver as cicatrizes se curando. Era como tentar
assistir uma flor desabrochar. Você sabe que acontece, mas você nunca consegue ver. Eu dei
uma olhada de volta para ele, e lá se foi outra cicatriz. Aquilo era irritante como o inferno.
Nathaniel estava na outra cama. Seu cabelo era mais longo que o de Stephen. Era do
comprimento da cintura. Eu achava. Difícil dizer já que só o vi de bruços. Era um castanho
escuro avermelhado, quase castanho mais não era. Era cheio, de um mogno profundo. O
cabelo se deitava nos lençóis brancos como um pêlo de um animal, grosso e brilhante.
Ele era mais pra bonito do que lindo, e não devia ter mais de 1,70. O cabelo passava uma
ilusão de feminilidade. Mas seus ombros eram desproporcionalmente largos, parte
halterofilismo, parte genética. Ele tinha ótimos ombros, mas eles pertenciam a alguém 15
centímetros mais alto. Ele tinha que ter 18 para ser stripper na Prazeres Malditos. Sua face
era esbelta e suave. Ele deveria ter 18, não muito mais. Talvez um dia ele cresça de acordo
com os ombros.
Nós estávamos em um quarto semi-privado na enfermaria isolada. O andar onde a maioria
dos hospitais mantém os licantropos, vampiros, e outras criaturas sobrenaturais. Qualquer
coisa que eles pensassem ser perigosa. Zane havia sido perigoso. Mas os policiais já tinham
transportado ele, com as feridas mais ou menos curadas. Sua pele havia empurrado minhas
balas para fora, para o chão como se rejeitando pedaços de órgãos.
Eu não penso que nós precisemos de isolamento para Stephen e Nathaniel. Eu poderia estar
errada sobre Nathaniel, mas eu não pensava assim. Eu confiava muito no julgamento do
Stephen.
Nathaniel não tinha voltado a consciência. Eu perguntei quais eram seus ferimentos, e eles
me disseram, pois ainda achavam que eu era uma policial, e eu salvei a bunda deles.
Gratidão é uma coisa maravilhosa.
Alguém tinha realmente eviscerado o Nathaniel. Eu não quero dizer só cortar seu intestino
com uma faca. Eu quero dizer, abrir ele e deixar seus intestinos caírem no chão; eles
encontraram pedaços de detritos em cima do intestino. Havia sinais de traumas severos em
outras partes do corpo. Ele havia sido abusado sexualmente. E sim, um prostituto pode ser
deflorado. O que leva a isso é ele negar a clientela. Ninguém, nem mesmo um licantropo iria
aceitar ser violentado enquanto suas partes internas estivessem espalhadas pelo chão. O
atentado poderia acontecer primeiro, aí eles tentariam matar ele. Seria um pouco menos
doentio dessa forma. Só um pouco.
Tinham marcas em seus pulsos e tornozelos ele havia sido acorrentado. As marcas eram
vermelho sangue como se ele tivesse lutado, e eles não estavam curando. Isso significa que
eles tinham utilizado correntes de prata pura então iriam machucar e não somente prender.
Entretanto quem tenha feito isso já sabia que pegaria um licantropo. Eles estavam
preparados. O que levantou algumas questões muito interessantes.
Stephen disse que Gabriel estava prostituindo os homens-leopardo. Eu entendia por que uma
pessoa iria querer algo tão exótico como um homem-leopardo. Eu sei que existem
sadomasoquistas existem. Metamorfos poderiam se machucar muito. Então a combinação

14
fazia certo sentido. Mas isso ia além de jogos sexuais. Eu nunca havia escutado nada tão
brutal não sendo um caso de um serial-killer.
Eu não podia deixá-los sozinhos e desprotegidos. Mesmo sem a ameaça de assassinatos
sexuais, eles ainda eram homens-leopardo. Zane tinha chorado e beijado meus pés, mas
havia outros. Se eles não tinham estrutura de bando, nenhum alfa, eles não tinham ninguém
para mandar deixarem Nathaniel em paz. Sem um líder seria um problema ter que voltar para
matar cada um deles individualmente. Não é um pensamento prazeroso. Leopardos reais não
ligam para quem está no comando. Eles não têm estrutura de bando, mas metamorfos não
são animais, eles são pessoas. O que significa que não importa quão solitários e
descomplicados a forma animal seja, a metade humana encontra uma forma de contornar o
assunto. Se Gabriel tivesse escolhido seus acompanhantes, eu não podia confiar que eles não
viriam para buscar Nathaniel de novo. Gabriel tinha sido um gato doente, e Zane não havia
me impressionado muito também.
Quem eu chamaria para reforço? O bando local de lobisomens, é claro. Stephen era um
membro do bando. Eles deviam proteção a ele.
Houve uma batida na porta. Eu peguei a Browning e a coloquei em meu colo embaixo da
revista que eu estava lendo. Eu consegui encontrar um exemplar três meses atrasado da
National Wildlife, com um artigo sobre ursos Kodiak. A revista escondia bem a arma.
“Quem é?”
"É o Irving." Eu deixei a arma, só no caso de alguém empurrar ele e entrar. Irving Griswold
era um lobisomem e um repórter. Para um repórter ele era um cara legal, mas ele não era tão
cuidadoso como eu era. Primeiro veria se estava sozinho, depois guardaria a arma.
Irving abriu a porta, sorrindo. Seu cabelo crespo castanho bagunçado como uma auréola
marrom com uma careca reluzente no meio. Óculos em cima de seu pequeno nariz. Ele era
baixinho e passava a impressão de ser circular sem ser gordo. Ele parecia tudo menos um
grande e gordo lobo.
Ele nem parecia um repórter, o que fazia dele um grande entrevistador mas sempre o
mantinha longe de ser o entrevistado. Ele trabalhava para o St. Louis Post-Dispatch, e tinha
me entrevistado muitas vezes.
Ele fechou a porta atrás dele.
Eu tirei a arma do meu colo.
Os olhos dele se alargaram. Ele falou baixo, mas não sussurrando. “Como está Stephen?”
“Como você entrou aqui? Era para ter um policial na porta.”
“Deus, Blake, estou feliz em te ver também.”
“Não brinque comigo, Irving. Era para ter um guarda lá fora.”
“Ele está falando com uma enfermeira linda no balcão.”
“Merda.” Eu não era uma policial de verdade, então eu não podia ir lá gritar com ele, mas
estava tentada. Havia uma lei rodando em Washington que daria aos caçadores de vampiros
crachás federais logo. Algumas vezes eu penso que isso seria uma má idéia. Algumas vezes
não.
“Fale comigo rápido antes que eu seja expulso. Como está Stephen?”
Eu disse a ele. “Você não se importa com Nathaniel?”
Ele pareceu desconfortável. “Você sabe que Sylvie é líder do bando quando Richard esta fora
da cidade em seu mestrado, certo?”
Eu suspirei. ”Não, eu não sabia.”
“Eu sei que você não está falando com Richard desde que vocês terminaram, mas eu pensei
que alguém mais teria mencionado isso.”
“Todos os outros lobisomens ficam estranhos ao meu redor como se tivesse havido uma
morte. Ninguém fala sobre Richard comigo, Irving. Eu pensei que ele havia proibido eles de
falar comigo.”
15
“Não que eu saiba.”
“Eu estou surpresa que você tenha vindo aqui atrás uma história.”
“Eu não posso fazer essa história, Anita. É muito perto de ‘casa’.”
“Por que Stephen?”
“Por que todos os envolvidos são metamorfos e eu sou só um pequeno repórter.”
“Você realmente pensa que perderia seu trabalho se eles descobrissem?”
“O trabalho que vá para o inferno. O que minha mãe diria?”
Eu sorri. “Então você não pode bancar o escoteiro.”
Ele franziu. “Você sabe, eu não tinha pensado nisso. Quando alguém do bando se machuca
em público quando isso não pode ser escondido, Raina costumava correr para o resgate. Com
ela morta, eu não acredito que existe nenhum alfa que não esteja escondendo o que
realmente é. Ninguém que eu confie para olhar Stephen de qualquer forma.
Raina tinha sido a lufa do bando antes de eu pegar a vaga. Tecnicamente a antiga lupa não
tem que morrer para descer de posição, diferente do Ulfric, ou rei lobo. Mas Raina tinha sido a
namoradinha do Gabriel. Eles dividiam certos hobbies, como fazer filmes pornôs estrelando
metamorfos e humanos. Ela estava ajudando a filmar enquanto Gabriel estava tentando me
estuprar. Oh, sim. Raina tinha feito ser um verdadeiro prazer arrancar o bilhete dela.
“Essa é a segunda vez que você ignora o Nathaniel.” Eu disse. “O que está rolando Irving?”
“Eu te disse, Sylvie está no comando até que Richard volte a cidade.”
“E?”
“Ela proibiu qualquer um de nós de ajudar aos homens-leopardo.”
“Por quê?”
“Raina utilizava muito os homens-leopardo nos filmes pornô dela, juntamente com os lobos.”
“Eu vi um dos filmes. Eu não fiquei impressionada. Horrorizada, mas não impressionada.”
Irving pareceu muito sério. “Ela também deixava Gabriel e os gatos punirem os membros
desobedientes do bando.”
“Punir?” Eu perguntei.
Irving balançou a cabeça. “Sylvie era um dos que foram punidos, mais de uma vez. Ela odeia
todos eles Anita. Se Richard não tivesse proibido ela teria utilizado o bando para caçar e
matar todos os leopardos.”
“Eu vi o que era considerado diversão para Gabriel e Raina. Eu acho que estou do lado de
Sylvie dessa vez.”
“Você limpou a casa para a gente, você e Richard. Richard matou Marcus e agora ele é o
Ulfric do bando. Você matou Raina para nós, e agora você é nossa lupa.”
“Eu atirei nela Irving. De acordo com as leis do bando, até que eu saiba, usar armas nega o
desafio. Eu trapaceei.”
“Você não é lupa por que você matou Raina. Você é lupa por que Richard te escolheu como
companheira dele.”
Eu balancei minha cabeça. “Nós não estamos namorando mais Irving.”
“Mas Richard não escolheu uma nova lupa, Anita. Até que ele o faça, o trabalho é seu.”
Richard era alto, moreno, bonito, honesto, confiável, e valente. Ele era perfeito exceto pelo
fato dele ser um lobisomem. Até isso tinha sido perdoado, ou eu pensei que sim. Até eu vê-lo
em ação. Ver toda a transformação. A carne se contorcendo, um pouco de sangue.
Agora eu estava namorando somente Jean-Claude. Eu não estava certa sobre o quanto eu
havia melhorado entre namorar o vampiro chefe da cidade no lugar do lobisomem chefe, mas
eu tinha feito minha escolha. Eram as mãos pálidas de Jean-Claude que seguraram meu
corpo. Seus cabelos negros, que se curvaram em meu travesseiro. Seus olhos azul meia-noite
que eu encarei enquanto fazia amor.
Boas garotas não faziam sexo com criaturas sobrenaturais, principalmente as meio mortas.
Eu não penso que boas garotas se arrependem sobre ex-namorado A, quando ela escolheu o
16
namorado B. Talvez eu esteja errada. Richard e eu nos evitávamos quando podíamos. O que
tinha acontecido por mais de 6 semanas. Agora ele estava fora da cidade. Era mais fácil de
evitar agora.
“Eu não irei perguntar sobre o que você está pensando,” Irving disse. “Eu acho que sei.”
“Não seja tão esperto.” Eu disse.
Ele espalhou suas grandes mãos. “Ossos do ofício.”
Aquilo me fez sorrir. “Então Sylvie proibiu todos de ajudar os leopardos. Aonde isso encaixa o
Stephen?”
“Ele foi contra as suas ordens diretas, Anita. Para alguém tão baixo na estrutura do bando
como Stephen, isso prova coragem. Mas Sylvie não está impressionada. Ela irá dilacerá-lo, e
ela não permitirá ninguém a vir aqui e cuidar deles. Eu a conheço o bastante para saber isso.”
“Eu não posso fazer isso 24h por dia, Irving.”
“Eles irão se curar em um dia ou mais.”
Eu franzi para ele. “Eu não posso ficar aqui por dois dias.”
Ele olhou para longe de mim e foi ficar ao lado da cama de Stephen. Ele encarou o homem
dormindo, mãos bateram na frente dele.
Eu caminhei até eles. Eu toquei o braço do Irving. “O que você não está me contando?”
Ele balançou a cabeça. “Eu não sei o que você quer dizer.”
Eu o virei, fiz ele me olhar. “Fale comigo, Irving.”
“Você não é uma metamorfo, Anita. Você não está namorando o Richard mais. Você precisa
sair de nosso mundo, não entrar mais nele.”
Ele parecia tão sério, solene, que isso me assustou. “Irving, o que há de errado?”
Ele só balançou a cabeça.
Eu segurei os dois braços dele e resisti a vontade de balançar ele. “O que você está
escondendo?”
“Há um jeito de você conseguir que o bando proteja Stephen e também o Nathaniel.”
Eu dei um passo para trás. “Estou ouvindo.”
“Você é superior a Sylvie.”
“Eu não sou uma metamorfo Irving. Eu era a namorada do líder. E nem isso eu sou mais.”
“Você era mais que isso, Anita, e você sabe. Você matou alguns de nós. Você matou
facilmente e sem remorso. O bando respeita isso.”
“Jesus, Irving, para que tanto endosso.”
“Você se sente mal por ter matado Raina? Você perde o sono por causa do Gabriel?”
“Eu matei Raina por que ela estava tentando me matar. Eu matei Gabriel pela mesma razão,
auto-preservação. Então não, eu não perco nenhuma noite de sono.”
“O bando te respeita, Anita. Se você puder encontrar alguém do bando que todos já saibam
que é um metamorfo e os convença que você é mais assustadora que Sylvie, eles iram cuidar
dele, de todos eles.“
“Eu não sou mais assustadora que Sylvie, Irving. Eu não posso bater neles até eles virarem
uma polpa, ela pode.”
“Mas você pode matá-los.” Ele disse isso quietamente, assistindo a minha face, procurando
pela minha expressão.
Eu abri minha boca, e fechei. “O que você está tentando que eu faça, Irving.”
Ele balançou sua cabeça. “Nada. Esqueça o que eu disse. Eu não devia ter dito. Traga mais
policiais aqui e vá para casa, Anita. Só saia daqui enquanto você pode.”
“O que está rolando Irving? A Sylvie é um problema?”
Ele olhou para mim. Seus normais olhos bem dispostos, solenes, preocupados. Ele balançou
sua cabeça. “Eu tenho que ir, Anita.”
Eu segurei os braços dele. “Você não vai a lugar algum até que tenha me contado o que está
acontecendo.”
17
Ele se virou para mim devagar, relutante. Eu deixei seus braços e dei um passo para trás.
“Fale.”
“Sylvie desafiou todas as pessoas de nível superior no bando, e venceu.”
Eu olhei para ele. “E?”
“Você entende como é incomum para uma mulher lutar até chegar ao segundo comando. Ela
tem mais de 1,50, pequena, desossada. Pergunte como ela está ganhando.”
“Você está ficando recatado, Irving. Isso não é como você costuma ser. Eu não vou brincar de
20 questões com você. Só me diga.”
“Ela matou os dois primeiros que ela lutou. Ela não precisava. Ela escolheu fazer isso. Os
outros três só aceitaram o fato dela ser dominante a eles. Eles não queriam arriscar ser
mortos.”
“Muito prático.” Eu disse.
Ele concordou. “Sylvie sempre foi assim. Ela finalmente conseguiu pegar um em um do grupo
para lutar. Ela é muito pequena para ser um dos chefões. Além disso, eu penso que ela tem
medo de Jamil, e Shang-da.”
“Jamil? Richard não o tirou do grupo? Mas ele sempre foi um dos lacaios de Marcus e Raina.”
Irving encolheu os ombros. “Richard pensou que a mudança seria suave se ele mantivesse
um pouco do poder.”
Eu balancei minha cabeça. ”Jamil deveria ter sido expulso ou morto.”
“Talvez, mas atualmente Jamil parece dar suporte ao Richard. Eu penso que ele realmente se
surpreendeu quando não foi assassinado instantaneamente. Richard ganhou sua lealdade.”
“Eu não sei se Jamil tem alguma lealdade” eu disse.
“Nenhum de nós sabe. Sylvie lutou e ganhou o lugar de Geri, segundo no comando.”
“Ela matou para isso?”
“Surpreendentemente, não.”
“Ok, então Sylvie está estripando o bando. Ela é a segunda no comando. Ótimo, então o que?
“Eu acho que ela quer ser um Ulfric, Anita. Eu acho que ela quer o trabalho do Richard.”
Eu o encarei. “Só tem um jeito de ser Ulfric, Irving.”
“Matando o antigo rei,” Irving disse. “É, eu acho que Sylvie sabe isso.“
“Eu nunca a vi lutar, mas já vi Richard lutar. Ele pesa mais que ela quase 45 kg, 45kg de
músculo, e ele é bom. Ela não pode bater nele em uma luta justa, pode?”
“É como o Richard é ferido, Anita. O coração é ainda mais fora dele. Eu acho que se ela o
desafiar e realmente quiser isso, ela ganha.”
“O que você está me dizendo? Que ele está depressivo?” Eu perguntei.
“É mais que isso. Você sabe o quanto ele odeia ser um dos monstros. Ele nunca tinha matado
alguém até Marcus. Ele não pode se perdoar.”
“Como você sabe tudo isso?”
“Eu escuto. Repórteres são bons ouvintes.”
Nós nos encaramos. “Me conte o resto.”
Irving olhou para baixo, depois para cima. “Ele não fala de você comigo. A única coisa que ele
diz é que até mesmo você não pôde aceitar o que ele é. Até você, a Executora estava
horrorizada.”
Era a minha vez de olhar para baixo. “Eu não queria estar.”
“Nós não podemos mudar como nos sentimos,” Irving disse.
Eu encontrei seus olhos. “Eu o faria se pudesse.”
“Eu acredito em você.”
“Eu não quero que Richard morra.”
“Nenhum de nós quer. Eu temo o que Sylvie faria sem nenhum de nós para pará-la.” Ele se
moveu para a outra cama. “Primeira ordem de trabalho seria matar todos os leopardos. Nós
iríamos massacrá-los.”
18
Eu respirei fundo. “Eu não posso mudar a forma de como eu me sinto sobre o que eu vi Irving.
Eu vi o Richard comer o Marcus.” Eu passeei pela sala pequena, balançando minha cabeça.
“O que eu posso fazer para ajudar?”
“Ligue para o bando e ordene que eles te reconheçam como lupa. Faça alguns deles virem
aqui e tomarem conta dos dois contra as ordens de Sylvie. Mas você tem que dá-los a sua
proteção. Você tem que prometer a eles que ela não irá machucá-los, pois você não vai
deixar.”
“Se eu fizer isso e Sylvie não gostar, eu terei que matar ela. É como se eu tivesse armando
para ela ser morta. Isso é um pouco premeditado, mesmo para mim.”
Ele balançou sua cabeça. ”Eu estou te pedindo para ser nossa lupa. Para ser a lupa de
Richard. Para mostrar a Sylvie que se ela continuar pressionando, Richard pode não matá-la
mais você irá.”
Eu concordei. “Merda.”
“Desculpe, Anita. Eu não iria dizer nada, mas...”
“Eu precisava saber.” Eu disse. Eu o abracei, e ele ficou surpreso, então me abraçou de volta.
“Para que foi isso?”
“Por ter me dito. Eu sei que Richard não gostará.”
O sorriso saiu de seu rosto. “Richard só puniu dois membros do bando desde que ele tomou o
comando. Eles desafiaram a autoridade dele, muito, e ele quase matou os dois.”
“O que??” Eu perguntei.
“Ele fatiou eles, Anita. Ele estava como outra pessoa, outra coisa.”
“Richard não faz coisas como essa.”
“Ele faz agora, não o tempo todo. Na maior parte do tempo ele está bem, mais aí ele lancha e
fica com raiva. Eu não quero estar por perto quando ele perde a paciência.”
“Quão ruim ele fica?” Eu perguntei.
“Ele tem que aceitar o que ele é, Anita. Ele tem que abraçar a sua besta, ou ele vai ficar
louco.”
Eu balancei minha cabeça. “Eu não posso ajudá-lo a aceitar sua besta, Irving. Eu não posso
aceitar também.”
Irving encolheu os ombros. “Não é tão ruim ser peludo, Anita. Existem coisas piores... como
ser morto-vivo.”
Eu franzi para ele. “Saia daqui, Irving, e obrigada por ter me dito.”
“Eu espero que você ainda agradeça em uma semana.”
"Eu também."
Irving me entregou alguns números de telefone e foi embora. Não queria que ninguém ficasse
muito tempo. Pessoas poderiam começar a suspeitar que ele fosse mais que um repórter.
Ninguém parece se importar com minha reputação. Eu levantava zumbis, matava vampiros, e
estava namorando o mestre da cidade. Se as pessoas começarem a suspeitar de eu ser uma
metamorfo, qual a diferença que isso faria?
Três nomes dos submissos do bando que Irving pensou que seriam fortes o suficiente para
brincar de guarda e fracos o suficiente para serem intimidados. Eu não queria fazer isso. O
bando era baseado em obediência: punição e recompensa, na maioria das vezes punição. Se
os membros do bando que eu chamar se recusarem, eu tenho que puni-los, ou eu não seria a
lupa, não seria forte o suficiente para ser o apoio de Richard. Claro, ele provavelmente não
estaria grato. Ele parecia me odiar agora. Eu não o culpo. Ele odiaria minha interferência.
Mas isso não era só sobre Richard. Era sobre Stephen. Ele tinha salvado a minha vida uma
vez e eu não retornei o favor. Ele também é daquelas pessoas que é vítima de todos, até
mesmo hoje. Eh, Zane tinha quase matado ele, mas essa não era a questão. Ele havia
colocado amizade acima da lealdade ao bando. O que significa que Sylvie podia tirar a

19
proteção do bando dele. Ele seria como os homens-leopardo, comida de ninguém. Eu não
poderia deixar isso acontecer com ele, não se eu pudesse parar é claro.
Stephen poderia acabar morto. Richard pode acabar morto. Eu talvez tenha que matar Sylvie.
Eu talvez tenha que mutilar ou matar alguns membros do bando para fazer meu ponto.
Talvez, talvez, talvez. Merda.
Eu nunca matei antes exceto por legítima defesa ou vingança. Se eu colocar o meu chapéu no
aro, isso seria premeditado, assassinato a sangue frio. Talvez não no sentido literal, mas eu
sabia que eu estaria iniciando um movimento. Era como dominó. Todos eles ficam parados e
retos, até que você bata em um deles; aí não tem quem para. Eu iria acabar como uma
estampa bonita no chão: Richard estaria sólido no poder, Stephen e os homens-leopardo a
salvo, Sylvie derrubada, ou morta. As três primeiras coisas iriam acontecer. Seria escolha da
Sylvie a última coisa.
Difícil, mas é verdade. É claro, havia outra opção. Sylvie me matar. Isso meio que melhoraria
as coisas para ela novamente. Sylvie não era exatamente uma impiedosa, mas ela não
deixava ninguém tirar ela do caminho. Nós dividíamos essa característica. Não, eu não sou
impiedosa. Se eu fosse, eu teria só chamado a Sylvie para uma reunião e atirado na testa
dela. Eu não era sociopata o suficiente para fazer isso. Misericórdia vai te matar, mas às
vezes é o que te torna humano.
Eu fiz as ligações. Eu escolhi o homem primeiro, Kevin, sem sobrenome. Sua voz estava cheia
de sono, grossa, como se ele fumasse.
“Quem diabos tá me ligando?”
“Amável, “eu disse, “muito amável.”
“Quem é?”
“É Anita Blake. Você sabe quem sou eu?” Quando tentar ser ameaçadora, menos é melhor. Eu
e Clint Eastwood.
Ele estava quieto por quase 30 segundos, e eu deixei o silêncio crescer. Sua respiração
aumentou. Eu quase consegui sentir seu pulso pelo telefone.
Ele respondeu como se estivesse acostumado com ligações de estranhos e negócios do
bando. “Você é nossa lupa.”
“Muito bem, Kevin, muito bem.” Ser condescendente é bom também.
Ele limpou sua garganta. “O que você quer?”
“Eu quero que você venha ao Hospital St. Louis University. Stephen e Nathaniel se feriram. Eu
quero que você cuide deles para mim.”
“Nathaniel, ele é um dos homens-leopardo.”
“Isso mesmo.”
“Sylvie nos proibiu de ajudar os homens-leopardos.”
“Sylvie é a lupa de vocês?” Perguntas são ótimas, mas só se você souber as respostas. Se
você fizer as perguntas e as respostas te surpreenderem, você parecerá boba. Difícil ser
ameaçadora quando parece ser pouco informada.
Ele ficou quieto por um segundo. “Não.”
“Quem é?”
Eu escutei ele engolir. “Você é.”
“Eu sou superior a ela?”
“Você sabe que é.”
“Então você traga a sua bunda aqui, e faça o que eu pedi.”
“Sylvie irá me machucar, lupa. Ela realmente irá.”
“Eu cuidarei para que ela não faça isso.”
“Você é somente a namorada humana de Richard. Você não pode lutar contra Sylvie não e
sobreviver.”
“Você está certo, Kevin. Eu não posso lutar com Sylvie, mas eu posso matar ela.”
20
“O que você quer dizer?”
“Que se ela machucar você por me ajudar, eu mato ela.”
“Você não pode estar falando sério.”
Eu suspirei. “Veja, Kevin, eu já conheci Sylvie. Confie em mim quando eu digo que eu posso
apontar uma arma na cabeça dela e puxar o gatilho. Eu posso e irei matar Sylvie se ela me
forçar a fazer isso. Sem piadas, sem blefes, sem jogos.” Eu escutei a minha voz enquanto eu
dizia. Eu soava cansada, quase entediada, e também seria isso quase me assustou.
“Certo, eu farei isso, mas se você me deixar ela pode me matar.”
“Você tem minha proteção, Kevin, e eu sei o que isso significa para o bando.”
“Isso significa que eu tenho que reconhecer você como dominante a mim,” ele disse.
“Isso também significa que se qualquer pessoa te desafiar, eu posso ajudá-lo a lutar suas
batalhas. Parece uma troca justa.”
Silêncio encheu a linha do telefone novamente. Sua respiração diminuiu, aprofundou-se.
“Prometa-me que você não irá me matar.”
“Eu não posso prometer isso, Kevin, mas eu posso prometer que se Sylvie te matar, eu irei
matar ela por você.”
Silêncio, menor dessa vez. “Eu acredito que você faria. Eu estarei no hospital em quarenta
minutos ou menos.”
“Obrigada, eu estarei esperando.”
Eu desliguei e fiz as outras duas ligações. Os dois concordaram em vir ao hospital. Eu tinha
desenhado uma linha no chão com Sylvie de um lado e eu do outro. Ela não iria gostar, nem
um pouco. Não podia culpá-la. Se seus lugares estivessem invertidos, eu ficaria chateada.
Mas ela deveria ter deixado Richard quieto. Irving havia dito que era como se Richard
estivesse ferido, como se o seu coração tivesse saído de seu corpo. Eu tinha ajudado a pôr
essa ferida ali. Eu tinha cortado seu coração em pequenos pedacinhos e dançado em cima
deles. Não deliberadamente. Minhas intenções eram boas, mas você sabe o que dizem sobre
boas intenções.
Eu não podia amar Richard, mas eu podia matar por ele. Matar era o presente mais prático
desses dois. E ultimamente virou muito, muito prático.

Capítulo 6

Sargento Rudolph Storr apareceu antes que os lobisomens babás pudessem chegar. Eu
mesma liguei para ele. Ele era o homem no comando do Time Regional de Investigação
Sobrenatural, RIPT*, ou RIP*. Muitas pessoas nos chamavam de RIP, para descanse em paz.
Hey, pelo menos eles sabem quem nós somos.
Dolph tinha 1,83, forte como um lutador de luta - livre, mas não era somente o tamanho físico
que fazia ele ser impressionante. Ele tinha levado o esquadrão que havia sido criado como
uma piada para satisfazer os liberais e fez da certo. RPIT tinha solucionado mais crimes
supernaturais nos últimos três anos do que qualquer outra unidade policial. Incluindo o FBI.
Dolph tinha até sido convidado para uma palestra na Quantico. Nada mal para alguém que
tinha recebido o cargo como uma forma de punição. Dolph não era exatamente um otimista,
poucos policiais eram, mas dê a ele limões e ele fará uma limonada.
Ele fechou a porta atrás dele e me encarou. “O médico disse que minha detetive estava aqui.
E eu estou vendo você.”
“Eu nunca disse que era detetive. Eu disse que eu estava com o esquadrão. Eles assumiram o
resto.”
Ele balançou a cabeça. Seu cabelo preto escondia o topo de suas orelhas. Ele estava
precisando de um corte. “Se você estivesse brincando de policia, por que você não gritou com
o guarda que deveria estar nesta porta?”
21
Eu sorri para ele. “Eu pensei em deixar isso para você. Eu presumo que ele saiba que ele é
um cara ruim.”
“Eu cuidei disso,” Dolph disse.
Ele ficou parado na porta. Eu fiquei parada na minha cadeira. Eu tinha administrado para não
puxar minha arma nele. Eu estava feliz sobre isso. Ele estava me encarando severo o
suficiente para machucar sem piscar a arma para ele.
“O que está acontecendo, Anita?”
“Você sabe tudo que eu sei.” Eu disse.
“Como aconteceu de você estar aqui bem na hora?”
"Stephen me ligou.”
“Conte-me.” Ele disse.
Eu contei a ele. Eu até mesmo acrescentei a parte do cafetão. Eu queria que isso parasse. Os
policiais são muito bons em parar o crime, se você disser a verdade. Eu deixei de fora
algumas coisas, como eu ter matado o homem-leopardo alfa. Foi a única coisa que eu deixei
de fora. Para mim, era quase o mesmo de ser honesta.
Dolph piscou para mim e anotou tudo em seu confiável caderninho. “Você está me dizendo
que a vítima permitiu alguém a fazer isso a ele?”
Eu balancei minha cabeça. “Eu não penso que seja tão simples. Eu acho que ele foi lá
sabendo que seria acorrentado. Ele sabia que haveria sexo e dor, mas eu não penso que ele
sabia que chegaria tão perto de matarem ele. Os médicos tiveram que dar sangue a ele. Seu
corpo estava entrando em choque mais rápido do que se curando.”
“Eu ouvi dizer que metamorfos se curam de feridas piores que essa.” Dolph disse.
Eu encolhi meus ombros. “Algumas pessoas se curam melhor do que outras, até mesmo os
metamorfos. Nathaniel é muito baixo na estrutura do bando, como me foi dito. Talvez parte
de ser fraco é não se curar tão bem.” Eu espalhei minhas mãos. “Eu não sei.”
Dolph deu uma olhada em suas anotações. “Alguém deixou ele na entrada de emergência
enrolado em um lençol. Ninguém disse nada. Ele só apareceu.”
“Ninguém nem sequer viu nada, Dolph. Não é essa a regra?”
Isso me fez ganhar um pequeno sorriso. Foi bom ver o sorriso. Dolph não estava muito feliz
comigo ultimamente. Ele recentemente descobriu que eu estava namorando com o mestre da
cidade. Ele não gostou disso. Ele não confiava com ninguém que socializasse com monstros.
Não podia culpar ele.
“É, essa é a regra. Você está me contando tudo que você sabe Anita?”
Eu levantei a mão fazendo a salvação dos escoteiros. “Eu mentiria para você?”
“Se isso for adequado para você, sim.”
Nós nos encaramos. O silêncio cresceu. Eu deixei ficar assim. Se Dolph pensasse que eu ia
ceder primeiro, ele estava errado. A tensão entre nós não era o caso. Era a desaprovação na
minha escolha de namorados. Seu desapontamento comigo estava sempre presente agora.
Pressionando, ponderando, esperando que eu me desculpasse ou dissesse alguma coisa
nojenta, só para brincar. O fato de eu estar namorado um vampiro o fez confiar menos em
mim. Eu entendia. Dois meses atrás, ou menos, eu me sentiria da mesma forma. Mas aqui eu
estava namorando quem, e o que, eu estava namorando. Dolph e eu, ambos, tínhamos que
lidar com isso.
E ainda, ele era meu amigo, e eu o respeitava. Eu até concordava com ele, mas se eu
pudesse em algum momento sair desse maldito hospital, eu tinha um encontro com Jean-
Claude essa noite. Desatenta de minhas dúvidas sobre Richard, morais em geral, e o morto-
vivo, eu queria o encontro. O pensamento de Jean-Claude me esperando fez meu corpo se
arrepiar e esquentar. Vergonhoso, mas verdade. Eu não pensava que nada menor que
terminar com Jean-Claude teria satisfeito Dolph. Eu não estava certa de que isso era uma

22
opção por muitas razões. Então eu sentei e olhei para o Dolph. Ele encarou de volta. O
silêncio crescia mais pesado a cada tick do relógio.
Uma batida na porta nos salvou. O oficial, agora atentamente na porta, sussurrou algo para
Dolph. Dolph assentiu e fechou a porta, a olhada que ele me deu era menos amigável, se
fosse possível.
“Oficial Wayne disse que três parentes de Stephen estão lá fora. Ele também disse que se
eles forem parentes de verdade, ele vai comer a própria arma.”
“Diga a ele para engolir.” Eu disse. “Eles são membros do bando. Lobisomens se consideram
mais próximos do que família.”
“Mas legalmente não são família,” Dolph disse.
“Quantos membros de seu grupo você quer perder quando o próximo metamorfo vier passar
por essa porta?”
“Nós podemos atirar neles tão bem quanto você, Anita.”
“Mas você ainda tem que avisá-los antes de atirar, não tem? Você ainda tem que tratá-lo
como pessoas ao invés de monstros ou vocês acabam na frente da prancheta de revisão.”
“Testemunhas dizem que você deu ao Zane, sem nome, um aviso.”
“Eu estava me sentindo generosa.”
“Você estava atirando nele na frente de testemunhas. Isso sempre faz você ficar generosa.”
Nós voltamos a nos encarar. Talvez não fosse só por namorar um vampiro. Talvez fosse o fato
de Dolph ser um irrevogável policial e ele estivesse começando a desconfiar que eu estava
matando pessoas, assassinando pessoas. Pessoas que me feriam ou ameaçam tinham a
tendência a sumir. Não muitos, mas o suficiente. E menos de dois meses atrás eu matei duas
pessoas cujos corpos não puderam ser escondidos. Legítima defesa nas duas vezes. Nunca vi
dentro da sala de audiências. Os dois assassinos com históricos maiores que minha altura. As
impressões digitais da mulher tinham solucionado muitos assassinatos políticos que a Interpol
tinha metido. Longo tempo bandido que ninguém se lamentou, pelo menos não a polícia.
Mas isso alimentou as suspeitas de Dolph. Inferno. Isso não fez nada mais do que as
confirmar.
“Por que você me recomendou a Pete McKinnon, Dolph?"
Ele não respondeu por um longo tempo, eu pensei que ele não iria responder, mas finalmente
ele disse, “Por que você é a melhor no que faz Anita. Eu posso não sempre aprovar seus
métodos, mas você ajuda a salvar vidas, põe embora os caras malvados. Você é melhor numa
cena de crime do que alguns dos detetives de meu esquadrão.”
Para Dolph, isso era um discurso. Eu abri minha boca, fechei, então disse, “Obrigada Dolph.
Vindo de você, isso é um grande elogio.”
“Você só passa muito tempo com os malditos monstros, Anita. Eu não digo quem você
namora. Eu digo tudo isso. Você tem brincado pelas regras por tanto tempo, algumas vezes
você esquece como é ser normal.”
Eu sorri. “Eu levanto os mortos para viver, Dolph. Eu nunca fui normal.”
Ele balançou sua cabeça. “Não dê uma de desentendida sobre o que eu estou dizendo, Anita.
Não são os pelos ou as presas que te fazem um monstro, não sempre. Algumas vezes, é só
onde você desenha sua linha.”
“O fato de eu brincar com monstros me torna valiosa para você, Dolph. Se eu jogasse como
certinha, eu não seria tão boa ajudando você a solucionar crimes sobrenaturais.”
“É, algumas vezes eu me pergunto se eu te deixar sozinha, não utilizar você como ajuda, se
isso seria... melhor.”
Eu franzi para ele. “Você está dizendo que você se culpa pelo que eu me tornei?” Eu tentei
sorrir disso, mas sua face me parou.

23
“Com que frequência você vai atrás dos monstros em meus casos? Com que freqüência você
tem que barganhar com eles para ajudar a mandar embora os caras ruins? Se eu deixasse
você sozinha...”
Eu me levantei. Eu o alcancei, então eu deixei minha mão cair sem tocar ele. “Eu não sou sua
filha, Dolph. Você não é meu guardião. Eu ajudo a polícia por que eu gosto. Eu sou boa nisso.
E quem mais você vai chamar?”
Ele concordou. ”É, quem mais? Os metamorfos lá fora podem entrar e... visitar os pacientes.”
“Obrigada, Dolph.”
Ele tomou um longo suspiro e deixou sair uma longa arremetida de ar. “Eu vi a janela pela
qual seu amigo Stephen foi arremessado. Se ele fosse um humano, ele estaria morto. Foi
sorte que esses civis não morreram.”
Eu balancei minha cabeça. “Eu acho que Zane estava sendo cuidadoso com os humanos, pelo
menos. Com a força que ele tem, seria mais fácil matar do que aleijar.”
“Por que ele se importaria?”
“Por que ele está na cadeia, e assim ele consegue fiança.”
“Eles não deixaram ele sair,” Dolph disse.
“Ele não matou ninguém, Dolph. Desde quando você já viu alguém não conseguir fiança de
assalto e agressão?”
“Você pensa como um policial, Anita. É o que faz você boa.”
“Eu penso como uma policial e um monstro. Isso é o que me faz ser boa.”
Ele concordou, fechou seu caderno e o colocou em um pequeno bolso em sua jaqueta. “É,
isso é o que faz você boa.” Ele se foi sem mais nenhuma palavra. Ele deixou entrarem os três
lobisomens e fechou a porta.
Kevin era alto, escuro, mal vestido e cheirava a cigarro. Lorraine era arrumada e vaidosa
como uma professora do segundo grau. Ela cheirava ao perfume White Linen e piscava
nervosamente às vezes. Teddy, preferência dele não minha, pesava cerca de 130 kg, maior
parte disso eram músculos. Ele puxou seu cabelo para baixo a um espinho bem escuro, e sua
cabeça parecia muito pequena comparada a seu corpo forte. O homem parecia assustador,
mas foi o aperto de mão de Lorraine que deixou o poder vibrar pela minha pele. Ela parecia
um coelho assustado e tinha poder suficiente para ser o grande lobo mau.
Com vinte minutos eu estaria livre para sair. O incompatível trio de lobisomens tinha dividido
o trabalho, assim um deles estaria com os garotos todo o tempo. Eu confiava nesses novos
lobos para cuidar deles? Sim. Por que se eles abandonassem seus postos e deixassem
Stephen ser morto, eu realmente irei matá-los. Se eles tentassem seu melhor e não fossem
bons o suficiente, tudo bem, mas se eles só desistirem... Eu tinha dado a Stephen e a
Nathaniel minha proteção. Eu não estava brincando. Eu me fiz ter certeza de que eles sabiam
disso.
Kevin disse isso melhor, “Se Sylvie aparecer, nós vamos mandar ela pra você.”
“Faça isso.”
Ele balançou a cabeça, brincando com o cigarro apagado. Eu disse a ele que não poderia
fumar aqui, mas só o toque pareceu confortá-lo. “Você mijou na lagoa dela.”
Eu sorri. “Eloquente, Kevin, muito eloqüente.”
“Eloquente ou não, Sylvie irá chutar a sua bunda se ela puder.”
O sorriso se alargou. Eu não pude ajudar. “Deixe eu me preocupar com minha própria bunda.
Meu trabalho é manter a sua bunda longe dela, não a minha.”
Os três lobisomens me olharam. Tinha algo no rosto de todos eles, quase a mesma
expressão, mas eu não pude ler. “Ser uma lupa é mais do que lutar por dominância.” Lorraine
disse com a voz baixa.
“Eu sei disso.” Eu disse.
“Você sabe?” Ela perguntou, e tinha algo infantil na questão.
24
“Eu penso que sim.”
“Você nos mataria se falhássemos com você,” Kevin disse, “mas você morreria por nós? Você
arriscaria o mesmo preço que você está nos pedindo para pagar?”
Eu gostava mais de Kevin quando ele não estava sendo eloqüente. Eu encarei esses três
estranhos. Pessoas que eu acabei de conhecer. Eu arriscaria minha vida por eles? Posso pedir
a eles para arriscar a vida deles por mim se eu não estava retribuindo o favor?
Eu os olhei, realmente olhei para eles. As mãos pequenas de Lorraine apertando seus pulsos
tão forte que as mãos mexeram. Teddy, que me encarou calmamente, com olhos de
aceitação, mas havia um desafio neles, uma inteligência que você não perceberia se olhasse
somente para o corpo. Kevin, que parecia que devia estar em um beco em um bar bebendo
até a sua quota de uísque. Tinha algo embaixo do cinismo. Era medo. Medo de que eu fosse
como todos os outros. Alguém os usa e não liga para eles. Raina tinha feito isso, e agora
Sylvie. O bando devia ser o refúgio deles, a proteção, e não o que eles mais temem.
O poder quente, elétrico encheu a sala, fluiu para fora deles, dançando pelo meu corpo. Eles
estavam nervosos, assustados. Emoções fortes fazem com que metamorfos deixem vazar
seus poderes. Se você fosse sensível a isso, você sentiria. Eu senti muito durante os anos.
Nesse momento foi diferente de alguma forma. Eu não só sentir o poder, meu corpo reagiu a
ele de alguma forma. Não é apenas um tremor de pele, uma linha de arrepio, mas algo mais
profundo.
Era quase sexual, mas não era isso também. Era como se o poder tivesse encontrado parte
de mim, acariciado parte de mim, que eu nunca soube que estava lá.
O poder me encheu, tocou algo, e eu senti, o que quer que seja, abrindo como uma opção a
ser adicionada. Uma onda de energia de calor jorrou de meu corpo e se espalhou pela minha
pele. Como se cada poro de meu corpo estivesse emitindo uma linha quente de calor. Isso
trouxe um suspiro a minha garganta. Eu sabia o gosto desse poder, e isso não era Jean-
Claude. Era Richard. De alguma forma, eu bati no poder de Richard. Eu me perguntei se ele
sentia tudo aquilo longe do estado, estudando para sua graduação.
Seis semanas atrás eu salvei a vida dos dois, eu deixei Jean-Claude ligar nós três uns aos
outros. Eles estavam morrendo e eu não pude os deixar ir. Richard já invadiu meus sonhos
por acidente, mas na maioria das vezes, Jean-Claude nos mantinha separados porque era
muito doloroso. Essa foi a primeira vez que senti o poder de Richard desde então. A primeira
vez que eu sabia com certeza que havia uma ligação ali, ainda forte. Mágica é assim. Até o
ódio não pode destruí-la.
Eu de repente tinha as palavras, palavras que eu nunca poderia saber. “Eu sou a lupa, eu sou
a mãe de todos, eu sou a guardiã de vocês, seu refúgio, sua paz. Eu vou ficar ao lado de
vocês contra qualquer ofensa. Seus inimigos são meus inimigos. Eu divido sangue e carne
com vocês. Nós somos lukoi, nós somos o bando.”
O calor me cortou abruptamente. Eu me arrepiei. Só as mãos de Teddy me impediram de cair
no chão. “Você está bem?” ele perguntou com uma voz profunda e impressionada como o
resto dele.
Eu concordei. “eu estou bem, estou bem.” O mais rápido que pude, eu dei um passo para
trás. Richard tinha sentido a atração a centenas de milhas de distância, e ele me cortou. Ele
fechou a porta sem saber o que eu estava fazendo, ou porque estava fazendo. Uma onda de
raiva dançou pela minha cabeça como um grito silencioso. Ele estava tão zangado.
Nós dois éramos ligados a Jean-Claude. Eu era sua serviçal humana e Richard seu lobo. Era
uma intimidade dolorosa.
“Nós não somos lukoi,” Lorraine disse. “Você não é uma metamorfo. Como você fez isso?”
Eu sorri. “Ultra secreto.” A verdade era que eu não sabia. Eu teria que perguntar a Jean-
Claude essa noite. Eu esperava que ele pudesse explicar isso. Ele era somente o terceiro
vampiro mestre da história que teve os dois, um humano e um metamorfo em uma ligação.
25
Eu suspeitava fortemente que não havia um manual, e que Jean-Claude voava sobre isso mais
vezes do que eu queria saber.
Teddy se ajoelhou. “Você é lupa.” Os outros dois seguiram ele. Eles se humilharam como
bons submissos lobos, pensei que Kevin não gostava, e eu também não. Mas eu não tinha
certeza de quanto era formal e quanto era necessário. Eu os queria submissos por que eu não
queria ter que lutar com ninguém, ou matar ninguém. Então eu os deixei rastejarem pelo
chão e correrem suas mãos pelas minhas pernas, e cheirarem minha pele como cães. E foi aí
que a enfermeira entrou.
Todos se levantaram do chão. Eu tentei explicar e finalmente parei. A enfermeira só ficou
parada lá nos encarando, com um estranho e congelado sorriso em sua pele. Ela finalmente
voltou para fora sem fazer nada. “Eu irei mandar o Dr. Wilson vir para checar eles.” Ela
balançou a cabeça muito rápido e fechou a porta atrás dela. Se ela estivesse usando saltos,
eu apostaria que poderíamos a ouvir correr.
Tanto por não ser um dos monstros.

Capítulo 7

Aproximar-me dos lobos-babás me fez atrasar para o meu encontro. Tirar um tempo para ler
o arquivo de Mckinnon me fez atrasar, mas se houvesse um incêndio essa noite, eu ficaria
envergonhada de não estar preparada. Eu aprendi duas coisas com aquele arquivo. Primeiro,
que todos os incêndios começaram depois do anoitecer, o que me fez pensar
instantaneamente em vampiros. Exceto que vampiros não podiam iniciar incêndios. Essa não
era uma das habilidades deles. De fato fogo era uma das coisas que eles mais temiam. Oh, eu
vi alguns vampiros que podiam controlar chamas já existentes em uma pequena extensão.
Fazer a chama de uma vela acender ou apagar, truques de salão, mas fogo era um elemento
de pureza. Pureza e vampiros não se misturam. A segunda coisa que aprendi do arquivo foi
que eu não sabia muito sobre incêndios em geral ou incêndios culposos. Eu precisaria de um
livro ou uma boa palestra.
Jean-Claude tinha feito reservas no Demiche's, um restaurante muito bom. Eu tive que correr
para casa, minha nova alugada casa, para me trocar. Eu me atrasei o suficiente para pedir
que ele me encontrasse no restaurante. O problema com encontros chiques era aonde eu iria
colocar minhas armas. Vestidos são o último desafio para carregar armas ocultas.
Formais escondem mais, porém dificultam o ato de pegar a arma. Tudo que era necessário
tornou-se difícil. Essa noite eu estava usando uma cinta espaguete formal com fendas
elevadas em ambos os lados, Eu tinha que ter certeza de que a calça correspondesse com o
preto, e as roupas íntimas também pretas. E se eu tivesse que pegar a arma eu certamente
me movimentaria. Então por que usar isso? Resposta: Eu tinha uma pistola Firestar 9mm
presa em minha cinta.
A cinta era uma tira de elástico ia acima de minha calcinha, mas abaixo de minha roupa. Isso
foi desenhado para ser usada com uma calça e uma blusa por dentro dela. Puxe a blusa para
fora com a mão livre, tire a arma, e violá, comece a atirar. A cinta não trabalha bem com a
maioria das roupas formais, por que você tem milhares de roupas para tirar antes de
conseguir pegar a arma. Era melhor do que nada, mas só se os vilões fossem pacientes. Mas
esse vestido, tudo que eu tinha que fazer era por minha mão por dentro de uma das mangas.
Eu tinha que puxar a arma para fora, para baixo e tirar por baixo do vestido, então isso não
era velocidade, mas não era tão ruim. A cinta também não dava certo com vestidos
especialmente sob medida. Ninguém gosta de ver o formato da arma.
Eu achei um sutiã sem alças que combinava com a calcinha preta, então assim que eu tirasse
a arma e o vestido eu estaria usando lingerie. Os sapatos eram de salto alto, mais alto do que

26
eu aceitaria normalmente, mas ou era isso ou a barra do vestido. Como eu me recusei a
costurar, salto então.
O único inconveniente importante para as cintas de espaguete foi que elas mostravam todas
as minhas cicatrizes. Eu pensei em comprar um casaco para cobrir, mas esse vestido não
combinava com um casaco. Então eu o apertei. Jean-Claude já tinha visto as cicatrizes antes,
e poucas pessoas eram rudes o suficiente para darem segundas olhadas.
Eu estava ficando muito boa em me maquiar, sombra, blush, batom. O batom era vermelho –
muito, muito vermelho. Mas eu estava colorida para isso. Pele pálida, cabelo preto e enrolado,
olhos castanhos puros. Eu era um contraste de cores fortes e o brilho do vermelho
combinava. Eu estava me sentindo uma coisa bonita até eu ter um vislumbre de Jean-Claude.
Ele estava sentado à mesa, me esperando. Eu podia vê-lo pela entrada, embora o maitre
fosse duas pessoas frente a mim. Eu não me importei. Eu apreciei a vista.
O cabelo de Jean-Claude era preto e enrolado, mas ele fez algo que estava liso e bom, caindo
pelos ombros, curvado nas pontas. O seu rosto parecia mais delicado, como se fosse de
porcelana. Ele era lindo, não bonito. Eu não sei o que salvava sua face de não ser feminina –
algumas linhas de seu queixo, a curva do queixo, alguma coisa. Você nunca o confundiria por
nada além de um homem. Ele estava vestido de azul real, uma cor que eu nunca o vi usando.
Uma jaqueta curta de um brilhante, quase metálico estava sobreposto com um preto e
estampas de flores. A camisa era sua típica com babados, à la 1600, mas era rica, azul
vibrante, o monte de babados que subiam de seu pescoço até sua face e caiam para suas
mangas da jaqueta cobrindo a parte de cima de suas mãos brancas.
Ele segurava uma taça de vinho vazia, girando a haste da taça entre seus dedos, assistindo a
luz passar pelo cristal. Ele não podia beber vinho mais do que um gole de cada vez e isso com
muito esforço.
O maitre me guiou entre as mesas até ele. Ele olhou para cima, e ver seu rosto inteiro fez
meu peito apertar, e de repente era difícil respirar. O azul tão próximo a seu rosto fez seus
olhos mais azuis do que eu já vi antes, não a cor de azul meia-noite, mas azuis cobalto, a cor
de uma boa safira. Mas nenhuma jóia que eu já vi tinha um peso de inteligência, de
conhecimento sombrio. O seu olhar enquanto me assistia chegar fez-me arrepiar. Não era
frio, não era medo. Era antecipação.
Nos saltos, e com as fendas dos dois lados do vestido, era uma arte andar. Você tinha meio
que se jogar nisso, um arremesso, um desleixo, um andar com rebolado, ou o vestido
circulava suas pernas e os saltos se bagunçavam em seus tornozelos. Você tinha que andar
como se soubesse que usar isso e parecer maravilhosa. Se você duvidasse de si, hesitasse,
você cairia no chão e se transformaria em uma abóbora. Depois de anos não sendo capaz de
usar saltos e vestidos, Jean-Claude tinha me ensinado em um mês o que minha madrasta não
conseguiu me ensinar em 20 anos.
Ele encarou, e eu não me importei, pensei que era uma vez o tempo que eu me incomodei
com meu acompanhante do baile por se levantar toda vez que alguma garota sentava-se a
mesa. Primeiro, eu amadureci desde então; segundo, eu poderia ver o resto da roupa de Jean-
Claude.
A calça era de linho preto, se ajustando suave e perfeitamente no corpo dele, encaixando de
forma que eu sabia que não havia nada embaixo da calça além dele. Botas pretas subiam
suas pernas até seus joelhos. As botas eram suaves, como couro, enrugada e agastada.
Ele deslizou até mim, e eu fiquei lá o vendo vir. Eu ainda estava meio com medo dele. Com
medo do quanto eu ainda o queria. Eu era como um coelho pego em linhas inimigas,
esperando pela morte vir. Mas o coração do coelho bate rápido e mais rápido? A respiração
dele vem como uma asfixia em sua garganta? Há uma onda de ansiedade ao medo, ou há lá
só a morte?

27
Ele enrolou seus braços a meu redor, me trazendo para perto. Suas mãos pálidas eram
quentes enquanto deslizavam pela parte nua de meu braço. Ele tinha se alimentado de
alguém essa noite, pegou emprestado seu calor. Mas ele foi emprestado com boa vontade,
até ansiosamente. O mestre da cidade nunca implorava por doadores. Sangue era o único
fluido corporal que eu não dividiria com ele. Eu deslizei minha mão sobre a seda de sua blusa,
em baixo da pequena jaqueta. Eu queria moldar meu corpo contra o fervor dele. Eu queria
correr minha mão contra a aspereza do linho, contrastando com a suavidade da seda. Jean-
Claude era sempre um banquete de sensualidade, direto para baixo de sua roupa.
Ele beijou minha boca suavemente. Ele tinha aprendido que o batom sai. Então ele virou
minha cabeça para um lado e respirou pela minha face, descendo pelo meu pescoço. Seu
hálito era como uma linha de fogo passando pela minha pele. Ele falou com seus lábios logo
acima do grande pulso em meu pescoço. “Você está encantadora essa noite, ma petite.” Ele
pressionou seus lábios contra a minha pele, suavemente. Eu deixei sair um suspiro e saí de
perto dele.
Eu estava andando muito com vampiros para deixar que me desse um beijo na garganta. Isso
era um gesto reservado para amigos muito próximos. Isso mostrava muita confiança e
afeição. Recusar significava que você estava chateado e desconfiado. Isso ainda parecia
muito íntimo para ser feito em público, mas eu o vi fazer com outros e vi lutas começarem
com a recusa. Isso era um gesto antigo voltando a moda. De fato, isso estava virando uma
chic saudação entre os animadores e outros da mesma laia. Era melhor do que beijar o ar
próximo ao rosto de alguém, eu acho.
O maitre puxou minha cadeira. Eu acenei para ele. Isso não era feminismo, mas sim falta de
graça. Eu nunca pretendi ficar na mesa sem a cadeira balançando minhas pernas tão longe
da mesa que eu teria que acabar puxando para frente eu mesma. Então deixe para lá, faço eu
mesma.
Jean-Claude assistiu enquanto eu sentava em minha cadeira, sorrindo, mas ele não se
ofereceu para ajudar. Eu finalmente o convenci disso pelo menos. Ele se sentou em sua
própria cadeira com graciosidade. Era quase um movimento afeminado, mas ele era como um
gato. Até descansado havia alguns músculos sob sua pele, uma presença física que era
completamente masculina. Eu costumava pensar que era um truque de vampiro. Mas era ele,
somente ele.
Eu balancei minha cabeça.
“O que há de errado, ma petite?”
“Eu me sentia uma coisa linda até eu ver você. Agora eu me sinto como uma das irmãs feias
da Cinderela.”
Ele fez tut-tutt para mim. “Você sabe que é linda, ma petite. Devo eu alimentar a sua vaidade
te falando o quanto você é linda?”
“Eu não estava procurando por elogios.” Eu gesticulei para ele e balancei minha cabeça
novamente. “Você está incrível essa noite.”
Ele sorriu, mexendo sua cabeça para um lado fazendo seu cabelo ir para frente. ”Merci, ma
petite.”
“O cabelo vai ficar liso permanentemente?” Eu perguntei. “Está ótimo,” eu acrescentei
rapidamente, mas eu esperava que não fosse permanente. Eu adorava seus cachos.
“Se fosse, o que você diria?”
“Se fosse, você já teria respondido. Agora você está me testando.”
“Você choraria a perda de minhas ondas?” ele perguntou
“Eu poderia retornar o favor,” eu disse.
Ele alargou seus olhos em horror. “Não é seu coroamento, ma petite, mon Dieu.” Ele estava
sorrindo de mim, mas eu já estava acostumada.
“Eu não sabia que você poderia conversar com uma roupa tão apertada,” eu disse.
28
Seu sorriso abriu. “E eu não sabia que você poderia esconder uma arma em um... vestido tão
curto.”
“Contanto que eu não abrace ninguém, eles nunca irão saber.”
“Verdade.”
Uma garçonete veio e perguntou se queríamos bebidas. Eu pedi uma água e uma coca. Jean-
Claude recusou. Se ele pudesse pedir algo, seria vinho.
Jean-Claude trouxe sua cadeira para perto de mim. Quando o jantar chegasse, ele voltaria
para seu lugar de origem, mas escolher os alimentos era o entretenimento da noite. Foram
necessários vários jantares para saber o que Jean-Claude queria – não, precisava. Eu era a
serviçal humana de Jean-Claude. Eu tinha três de suas marcas. Um dos efeitos colaterais da
segunda marca era que ele poderia tirar sustento de mim. Então se estivéssemos em uma
longa viagem por mar, ele não teria que se alimentar de nenhum humano a bordo. Ele
poderia viver através de mim por um tempo. Ele podia provar comida através de mim.
Pela primeira vez em aproximadamente 400 anos ele pôde experimentar comida. Eu tinha
que comer por ele, assim ele poderia apreciar a refeição. Isso era trivial comparado a outras
coisas que ele ganhava pela ligação, mas parecia ser a coisa que mais o agradava. Ele pedia
a comida com a alegria de uma criança e me assistia comê-la, degustando. Em particular, ele
ia rolar em suas costas como um gato, apertar as mãos à boca como se estivesse tentando
drenar todos os sabores. Essa era a única coisa que ele fazia que era fofa. Ele era gostoso,
sensual, mas raramente fofo. Eu ganhei quase dois quilos em 6 semanas comendo com ele.
Ele colocou seus braços nas costas de minha cadeira, e nós lemos o cardápio juntos. Ele ficou
próximo o suficiente para seu cabelo encostar em minha bochecha. O aroma de seu perfume,
oh, desculpe, colônia, acariciou minha pele. Eu pensei que se o que Jean-Claude usava era
colônia, então o Brut era spray de matar inseto.
Eu movi minha cabeça para longe de seu cabelo, mais por que o sentimento dele tão próximo
era tudo que eu podia pensar. Talvez se eu tivesse aceitado seu convite para viver com ele no
Circo dos Malditos, algum desse sentimento teria desaparecido. Mas eu aluguei uma casa em
tempo recorde no meio do nada, assim meus visinhos não levariam tiros, que foi a razão pela
qual eu me mudei do meu último apartamento. Eu odiava a casa. Eu não era o tipo de garota
que morava em casas. Eu era o tipo de garota que gostava de condomínios. Mas condomínios
tinham visinhos também.
O cordão de sua jaqueta estava roçando contra o meu ombro. Ele colocou sua mão em meu
ombro, suavemente com seus dedos alisando minha pele. Sua perna encostou em minha
coxa, e eu percebi que não tinha escutado merda nenhuma do que ele havia dito. Isso era
vergonhoso.
Ele parou de falar e olhou para mim, me contemplando com seus olhos incríveis. “Eu estava
explicando minhas escolhas para você. Você escutou alguma coisa?”
Eu balancei minha cabeça. “Me desculpe.”
Ele sorriu, e pairou sobre a minha pele o seu hálito, quente e deslizando sobre o meu corpo.
Era um truque de vampiro bem baixo na escala, e virou uma brincadeira pública para nós.
Individualmente nós fazíamos outras coisas.
Ele sussurrou contra a minha bochecha. “Sem desculpas, ma petite. Você sabe que me
agrada que você me ache... intoxicante.”
Ele sorriu novamente, e eu o empurrei. “Vá se sentar do outro lado da mesa. Você esteve
aqui por tempo o suficiente para saber o que quer.”
Ele moveu sua cadeira obedientemente de volta para o lugar de origem. “Eu tenho o que
quero, ma petite.”
Eu tive que olhar para baixo e não encontrar seu olhar. Calor subiu do meu pescoço para a
minha face, e eu não pude controlar.
“Se você quer dizer o que eu quero para o jantar, essa é uma questão diferente,” ele disse.
29
“Você é uma dor no saco,” eu disse.
“E também em vários outros lugares,” ele respondeu.
Eu não pensei que poderia ficar mais vermelha. Eu estava errada. “Para com isso.”
“Eu amo o fato de poder deixar você vermelha. É encantador.”
O tom de sua voz me fez sorrir em desrespeito a mim mesma. “Este não é um vestido para
estar encantadora enquanto o usa. É para ser sexy e sofisticada.”
“Não se pode ser encantadora e ao mesmo tempo sexy e sofisticada? Há alguma regra sobre
ser todos os três?”
“Habilidoso, muito habilidoso,” eu disse.
Ele alargou seus olhos, tentando fazer um olhar inocente e falhando. Ele era muitas coisas,
mas inocente não era uma delas.
“Agora vamos começar a negociar o jantar,” eu disse.
“Você faz isso parecer uma pequena tarefa.”
Eu suspirei. “Antes de você eu pensava que comida era algo que você come somente para
não morrer de fome. Eu nunca vou apreciar tanto a comida como você. É quase como um
fetiche para você.”
“Dificilmente um fetiche, ma petite.”
“Um hobby então.”
Ele assentiu. “Talvez.”
“Então só me diga o que você quer do cardápio, e nós iremos negociar.”
“Tudo o que é requerido é que você prove o que é pedido. Você não tem que comer.”
“Não, nada mais dessa coisa de provar. Eu ganhei peso. Eu nunca ganho peso.”
“Você ganhou menos de dois quilos, que eu saiba. Procurei me esforçar para encontrar esses
quase dois quilos e não os encontro. Isso aumentou seu peso para 50 quilos, estou correto?”
“Exatamente isso.”
“Oh, ma petite, você esta engordando muito.”
Eu olhei para ele, e não era um olhar amigável. “Nunca brinque com uma mulher sobre sue
peso, Jean-Claude. Pelo menos não as americanas do século vinte e um.”
Ele espalhou suas mãos. “Minhas mais profundas desculpas.”
“Quando pedir desculpas, tente não sorrir ao mesmo tempo. Isso arruína o efeito.” Eu disse.
Seu sorriso aumentou até que um pouco de suas presas saíssem. “Eu tentarei me lembrar
disso no futuro.”
A garçonete voltou com minhas bebidas. “Vocês gostariam de fazer o pedido, ou vocês
precisam de mais alguns minutos?”
Jean-Claude olhou para mim.
“Alguns minutos.”
E a negociação começou.
Vinte minutos depois eu precisava de outra Coca, e nós já sabíamos o que nós queríamos. A
garçonete voltou, com a caneta posicionada, esperançosa.
Eu ganhei nos aperitivos, então nós não teríamos nenhum. Eu desisti da salada, e deixei-o ter
a sopa. Sopa de tomates, hey, não era tão difícil. Nós dois queríamos a carne.
“O corte petite,” eu disse a garçonete.
“Como você gostaria da preparação?”
“Metade mal passada, e metade bem passada.”
A garçonete piscou para mim “Perdão, senhorita?”
“É um corte em oito, certo?”
Ela confirmou.
“Corte na metade, e faça metade bem passado , e metade mal passado.”
Ela franziu para mim. “Eu não sei se podemos fazer isso.”

30
“Com esses preços vocês deveriam trazer a vaca e fazerem um ritual de sacrifício na mesa.
Só faça isso.” Eu a entreguei o cardápio. Ela o pegou.
Ainda franzindo, Ela virou para Jean-Claude. “E o senhor?”
Jean-Claude deu um pequeno sorriso. “Eu não irei pedir comida essa noite.”
“Gostaria de um vinho no lugar do jantar, então, senhor?”
Ele nunca perdia uma. “Eu não bebo – vinho.”
Eu tossi Coca por toda a toalha de mesa. A garçonete não fez nada a não ser me entregar o
Heimlich. Jean-Claude sorriu até lágrimas saírem das pontas de seus olhos. Não era possível
ter certeza com essa claridade, mas eu sabia que as lágrimas eram avermelhadas. Sabia que
haveria pontos rosados no guardanapo quando ele terminasse de limpar seus olhos. A
garçonete fugiu sem pegar a piada. Encarando do outro lado da mesa o vampiro sorridente,
eu me perguntei se eu peguei a piada ou só um pedaço da piada. Havia noites que eu não
tinha certeza se havia pegado a piada por completo.
Mas quando ele pôs sua mão atravessando a mesa para me alcançar, e eu peguei.
Definitivamente, só um pedaço da piada.

Capítulo 8

A sobremesa era bolo de chocolate com framboesa e torta de queijo. Uma tripla ameaça para
qualquer plano de dieta. Sinceramente eu preferia minha torta de queijo. Frutas, exceto
morangos, e chocolate só melavam o puro sabor do creme de queijo. Mas Jean-Claude
gostava, e a sobremesa tomava o lugar do vinho que eu não quis beber durante o jantar. Eu
odiava o sabor de álcool. Então Jean-Claude escolhia a sobremesa. Além do que o restaurante
não serve somente torta de queijo. Não é artístico o suficiente, eu acho.
Eu comi toda a torta de queijo, raspei o resto do chocolate ao redor do prato, empurrei. Eu
estava satisfeita. Jean-Claude tinha colocado seus braços atravessando a toalha de mesa,
descansou seu queixo em seu braço, e fechou os olhos, desfalecendo, tentando saborear
cada ultimo detalhe. Ele piscou para mim, como que saindo de um transe. Ele falou, com a
cabeça ainda descansando no braço, “Você deixou um pouco de chantilly, ma petite.”
“Estou cheia.” Eu disse.
“É chantilly de verdade. Ele derrete na boca e desliza pelo céu da boca.”
Eu balancei minha cabeça. “Estou satisfeita. Se eu comer mais, me sentirei doente.”
Ele deu um longo suspiro e se sentou direito. “Tem noites que eu desespero você, ma petite.”
Eu sorri. “Engraçado, eu penso a mesma coisa de você às vezes.”
Ele negou com a cabeça, fazendo uma pequena bola. “Touché, ma petite, touché." Ele
encarou atrás de meus ombros e endureceu. O sorriso não saiu de sua face. Estava seco e
limpo. Sua face estava com uma mascara vazia. E eu sabia sem me virar que havia alguém
atrás de mim, alguém que ele temia.
Eu me dirigi de uma forma para derrubar o guardanapo, e peguei com minha mão esquerda.
Com minha mão direita eu puxei a Firestar. Quando eu me sentei certo novamente. A arma
estava na minha mão em meu colo. Pensar em atirar no Demiche's pareceu uma má idéia.
Mas, não seria a primeira má idéia que eu já tive.
Eu me virei para ver um casal andando em nossa direção através das mesas e cristais. A
mulher parecia ser alta, até que eu tive o vislumbre dos saltos altos que ela estava usando.
Stiletto, quatro polegadas. Eu teria torcido o meu tornozelo tentando usar um desses. O
vestido era branco, quadrado no pescoço, a forma encaixando, e mais caro do que toda a
minha roupa somada, até mesmo se somar a arma. Seu cabelo era um loiro quase branco tão
pálido que quase combinavam com o vestido e a simples estola de pele de marta ao redor de
seus ombros. O cabelo estava pilhado em um monte no topo de sua cabeça com um brilho da
prata e do cristal de fogo de diamantes para enquadrar os cabelos como uma coroa. Ela era
31
branco giz, e apesar da maquiagem perfeita eu sabia que ela não tinha se alimentado ainda
essa noite.
O homem era humano, embora houvesse uma energia emanando dele que me fez querer
tirar a parte humana. Ele era bronzeado de um maravilhoso marrom rico que a pele oliva
pode gerenciar. Seu cabelo era um luxuoso castanho encaracolado, cortado curto na lateral,
bem feito para que as curvas ficassem próximas aos seus olhos. Os olhos eram castanhos
puro e assistiam Jean-Claude firmemente, divertidos, mas uma diversão escura. Ele estava
vestido com um terno branco de linho, completo com uma gravata de seda.
Eles pararam em nossa mesa como eu sabia que fariam. O rosto lindo do homem estava todo
virado para Jean-Claude. Eu podia não estar lá. Ele tinha traços muito fortes, de longas
bochechas para um nariz quase recurvado. Em cada direção seu rosto seria modesto. Em vez
disso foi surpreendente, atraente, bonito de uma forma absolutamente masculina.
Jean-Claude se levantou, mãos soltas ao seu lado, com sua face linda e vazia. “Yvette, faz um
longo tempo.”
Ela sorriu lindamente. “Muito tempo, Jean-Claude. Você se lembra de Balthasar?” Ela tocou o
braço do homem, e ele amavelmente o deslizou ao redor da cintura dela. Ele beijou a
bochecha dela. Ele olhou para mim então pela primeira vez. Não era o tipo de olhar que eu
sempre tinha de algum homem. Se fosse uma mulher eu diria que ela estava com ciúmes. O
inglês dos vampiros era perfeito. O sotaque dela era de puro francês.
“Claro, e me lembro dele.” Jean-Claude disse “Tempo passado com Balthasar é sempre
memorável.”
O homem se virou para Jean-Claude então. “Mas não memorável o suficiente para manter
você conosco.” Ele, também, soava francês, mas havia uma corrente inferior de uma outra
língua. Era como misturar azul e vermelho e conseguir roxo.
“Eu sou mestre de meu próprio território. É o sonho de todos, não é?”
“Alguns sonham em ser do conselho.” Yvette disse. Sua voz ainda estava meio divertida, mas
havia algo escondido agora, como nadar na água escura sabendo que existem tubarões lá.
“Eu não aspiro coisas tão altas,” Jean-Claude disse.
“Mesmo?” Yvette perguntou.
“Mesmo.” Jean-Claude respondeu.
Ela sorriu, mas seus olhos estavam distantes e vazios. “Nós devemos ver.”
“Não há nada para ver, Yvette. Eu estou feliz onde estou.”
“Se isso é verdade, você não tem nada a temer de nós.”
“Nós não temos nada a temer,” eu disse. E sorri enquanto falava.
Os dois olharam para mim como se eu fosse um cachorro que havia feito algum truque
interessante. Eu realmente estava começando a não gostar deles.
“Yvette e Balthasar são enviados do conselho, ma petite.”
“Esplêndido para eles,” eu disse.
“Ela não parece estar muito impressionada conosco,” Yvette disse. Ele virou toda a sua face
para mim. Seus olhos eram cinza-esverdeado, com manchas cor de âmbar dançando ao redor
de suas pupilas. Eu a senti tentar me puxar para dentro daquele olhar, e não funcionou. O
poder dela se elevou sobre minha pele, mas ela não conseguiu me capturar com seu olhar.
Ela era poderosa, mas ela não era uma vampira mestre. Eu podia sentir a idade dela como
um dom em meu esqueleto. Mil anos pelos menos. O ultimo vampiro que eu conheci que era
dessa idade tinha limpado meu relógio. Mas Nikolaos era o mestre da cidade, e Yvette nunca
seria isso. Se um vampiro não tinha chegado a ser mestre com mil anos, ele, ou ela, nunca
seria. Um vampiro ganha poderes e habilidades com a idade, mas havia um limite. Yvette
tinha alcançado o dela. Eu encarei seu olhar, deixei seu poder fazer cócegas pela minha pele,
e não era impressionante.
Ela franziu. “Impressionante.”
32
“Obrigada,” Eu disse.
Balthasar andou por ela e parou em minha frente. Ele colocou uma mão nas costas de minha
cadeira e se abaixou para mim. Se Yvette não era mestre, então ele não era seu serviçal. Só
um mestre vampiro poderia ter um serviçal humano. O que significa que ele pertencia a outra
pessoa. Alguém que eu não havia conhecido ainda. Por que eu tinha o sentimento de que
conheceria essa pessoa logo?
“Meu mestre é um membro do conselho,” Balthasar disse. “Você não tem idéia do tipo de
poder que ele empunha.”
“Pergunte-me se eu me importo.”
Raiva passou por sua face, escurecendo seu olhar, o fazendo apertar mais a cadeira. Ele
colocou sua mão em minha perna próxima do meu joelho e começou a apertar. Eu brinquei
com monstros tempo o bastante para saber como força sobrenatural era. Seus dedos
escavaram a minha pele, e eu sabia que ele poderia continuar apertando até meu músculo
estalar e ele por a mostra meus ossos.
Eu segurei sua gravata e o puxei para perto, e meti o cano da Firestar no peito dele. Eu assisti
a surpresa crescer em sua face.
“Aposto que posso abrir um buraco em seu peito antes de você quebrar minha perna.”
“Você não ousaria.”
“Por que não?” eu perguntei.
Um toque de medo encheu seus olhos. “Eu sou o serviçal humano de um dos membros do
conselho.”
“Não me impressionei,” Eu disse. “Tente a porta número dois.”
Ele franziu para mim. “Eu não entendo.”
“Dê a ela uma razão melhor para não te matar,” Jean-Claude disse.
“Se você atirar em mim na frente de todas essas pessoas você vai para a cadeia.”
Eu suspirei. “Aí está a razão.” Eu o puxei próximo o suficiente que nossos rostos quase se
tocaram. “Tire a sua mão de meu joelho, e eu não puxarei o gatilho. Continue me
machucando, e eu irei ter minha chance com a polícia.”
Ele me encarou. “Você faria isso, você realmente faria isso.”
“Eu não blefo, Balthasar. Lembre-se disso para referências futuras, e talvez eu não tenha que
te matar.”
Sua mão folgou, então se moveu lentamente para longe de mim. Eu deixei ele se mover de
volta. Sua gravata deslizando pela minha mão como uma linha de pesca. Eu relaxei em minha
cadeira. A arma nunca saiu de baixo da toalha de mesa. Nós havíamos sido a alma da
discrição.
A garçonete veio. “Há algum problema?”
“Nenhum problema,” eu disse.
“Por favor, traga a conta,” Jean-Claude disse.
“Agorinha mesmo.” A garçonete disse. Ela assistia nervosa enquanto Balthasar se levantava.
Balthasar tentou alisar as rugas de suas calças de linho, mas não se pode fazer muita coisa
com linho. Não foi feito para se ajoelhar com ele.
“Você venceu a primeira rodada Jean-Claude. Tome cuidado para que não se torne uma
vitória pequena.” Yvette disse. Ela e Balthasar saíram sem mesmo pegar uma mesa. Acho
que eles não estavam com fome.
“O que está acontecendo?” Eu perguntei.
Jean-Claude se sentou. “Yvette é uma bajuladora do conselho. Balthasar é o serviçal humano
de um dos membros mais poderosos do conselho.”
“Por que eles estão aqui?”
“Eu acredito que seja por causa de Mr. Oliver.”

33
Mr. Olive havia sido um dos vampiros mais velhos que eu já conheci. O mais velho que já foi
insinuado para mim. Ele tinha milhões de anos de idade, sem piada, um milhão de anos,
dando ou tirando. Para todos esses com cabeça para pré-história, sim, isso significa que ele
não era um Homo Sapiens. Homo Erectus, e capaz de andar por aí durante o dia, pensei que
eu nunca o vi atravessar diretamente a luz do sol. Ele havia sido o único vampiro a me
enganar por até alguns momentos pensando que ele era humano, o que é meio que irônico,
ele não era humano de forma alguma. Ele tinha um plano de matar Jean-Claude, tomar
controle dos vampiros da área, e forçar eles a fazer uma chacina com humanos. Oliver tinha
pensado que uma matança como essa iria forçar as autoridades a fazer com que os vampiros
se tornem ilegais novamente. Ele pensou que os vampiros se espalhariam tão rápido com a
legalidade que a raça humana iria se extinguir. Eu meio que concordava com ele.
O plano dele podia ter funcionado se eu não o tivesse matado. Como eu o fiz é uma longa
história, mas eu terminei em um coma. Uma semana inconsciente, fora de mim, tão perto da
morte que os médicos não sabem como eu sobrevivi. É claro que eles também não sabiam
como eu entrei em coma, e ninguém queria explicar sobre marcas de vampiros e vampiros
homo erectus.
Eu encarei Jean-Claude. “O maluco filho da puta que tentou te matar no último Halloween?”
"Oui."
“O que tem ele?”
“Ele era um membro do conselho.”
Eu quase sorri. “De forma alguma. Ele era velho, mais velho que o pecado, mas ele não era
tão poderoso.”
“Eu te disse que ele concordou em diminuir seus poderes, ma petite. Eu não sei quem ou o
que ele era antes, mas ele era o membro do conselho conhecido como o Earthmover*."
“Como?”
“Ele podia fazer a terra tremer usando somente o seu poder.”
“De forma alguma,” Eu disse.
“De todas as formas, ma petite. Ele concordou em não fazer a terra engolir a cidade por que
seria culpa de um terremoto. Ele queria que a matança fosse culpa dos vampiros. Você se
lembra que o plano dele era fazer com que os vampiros voltassem a ser ilegais. Um terremoto
não faria isso. Um banho de sangue sim. Ninguém, nem mesmo você, acreditaria que um
mero vampiro poderia causar um terremoto.”
“Você está certo, eu não acreditaria.” Eu encarei sua face cuidadosamente. “Você está
falando sério.”
“Muito sério, ma petite.”
Era muito para receber de uma só vez. Quando estiver em dúvida ignorar e for terrivelmente
impressionado. “Então nós apagamos um membro do conselho, e agora?”
Ele balançou a cabeça. “Não há nenhum medo em você, ma petite. Você entende o perigo
que nós nos metemos?”
“Não, e o que você quer dizer com ‘perigo que todos nós nos metemos’? Quem mais está em
perigo além de nós?”
“Todas as nossas pessoas,” ele disse.
“Defina ‘todas’” Eu disse.
“Todos os meus vampiros, e qualquer um que o conselho considere nosso.”
“Larry?” Eu perguntei.
Ele afirmou. “Talvez.”
“Eu devo ligar para ele? Avisar ele? Quanto perigo?
“Eu não tenho certeza. Ninguém nunca matou um membro do conselho sem pegar o seu
lugar.”
“Eu o matei, não você.”
34
“Você é minha servente humana. O conselho vê tudo que você faz como uma extensão de
minhas ações.”
Eu o encarei. “Você quer dizer que qualquer um que eu matar será seu assassinato?”
Ele concordou.
“Eu não era sua serviçal humana quando eu matei Oliver.”
“Eu manteria essa ponta de sabedoria só conosco.”
“Por quê?”
“Eles podem não me matar, ma petite, mas caçadores de vampiros que matam um membro
do conselho são executados. Não há nenhum julgamento, nenhuma hesitação.”
“Mesmo que eu seja sua serviçal agora?”
“Isso pode salvar você. É uma de nossas leis mais rígidas não destruir os serviçais dos
outros.”
“Então eles não podem me matar por que eu sou a sua serviçal.”
“Mas eles podem causar danos, ma petite. Eles podem te machucar tanto que você vai
desejar a morte.”
“Você quer dizer tortura?”
“Não no sentido tradicional. Mas eles são mestres em encontrar o que mais te aterroriza e
usarem isso contra você. Eles irão usar os seus desejos contra você e complicar tudo que
você acredita.”
“Eu já conheci mestres vampiros que podem sentir os seus maiores desejos e usar isso contra
você.”
“Tudo que você viu conosco antes, ma petite, é como um sonho distante. O conselho é a
realidade. Eles são o pesadelo que todos nós somos baseados. A coisa que até mesmo nós
temos medo.”
“Yvette e Balthasar não pareciam tão assustadores para mim.”
Ele olhou para mim. Não havia nenhuma expressão em sua face. Era uma máscara, suave,
agradável, escondida. “Se eles não assustaram você, ma petite, é só por que você não os
conhece. Yvette é uma bajuladora do conselho por que eles são poderosos o suficiente para
darem a ela um suprimento de vítimas.”
“Vítimas? Você não está falando de presas humanas está?”
“Podem ser humanos. Mas Yvette é considerada pervertida mesmo por outros vampiros.”
Eu não tinha certeza se queria saber, mas... “Pervertida em quais sentidos”
Ele suspirou e olhou para baixo, para suas mãos. Elas deitavam muito calmamente na toalha
de mesa. Era como se ele estivesse fugindo de mim. Eu pude ver as paredes clicarem de
volta no lugar. Ele estava se reconstruindo, Jean-Claude o mestre da cidade. Era um choque
perceber que tinha acontecido uma mudança. Tinha sido tão gradual que eu não tinha
percebido isso, em nossos encontros, ele era diferente. Eu não sei se ele era mais ele mesmo
ou mais o que ele achava que eu queria que ele fosse, mas ele era mais “relaxado”, com a
guarda mais baixa. Assistir ele colocar sua mascara pública enquanto eu estava sentada na
frente dele era quase depressivo.
“Yvette ama os mortos.”
Eu franzi para ele. “Mas ela é uma vampira. Isso é redundante.”
Ele me encarou, e não era um olhar amigável. “Eu não irei me sentar aqui e debater com
você, ma petite. Você divide minha cama. Se eu fosse um zumbi você não iria nem tocar em
mim.”
“Isso é verdade.” Me levaram poucos segundos para entender o que ele havia acabado de
dizer. “Você está me dizendo que Yvette gosta de fazer sexo com zumbis, corpos podres de
verdade?”
“Além de outras coisas, sim.”

35
Eu não pude esconder o nojo de minha expressão. “Meu Deus, isso é...” As palavras falharam.
Então eu encontrei uma palavra. “Ela é uma necrófila.”
“Ela usaria um corpo morto se nada mais estivesse disponível, mas ela realmente gosta de
corpos apodrecidos. Ela acharia seu talento um tanto atraente, ma petite. Você poderia
levantar para ela vários parceiros.”
“Eu não levantaria um morto para o divertimento dela.”
“Não inicialmente,” ele disse.
“Não, não sob nenhuma circunstância.”
“O conselho tem uma forma de encontrar circunstâncias que podem te forçar a fazer quase
tudo.”
Eu assisti sua face e desejei poder decifrá-la. Mas eu entendi. Ele já estava escondendo deles.
“Quão profundo é o buraco que nos metemos?”
“Profundo o suficiente para enterrar todos nós, se o conselho quiser.”
“Talvez eu não devesse ter tirado a minha arma,” eu disse.
“Talvez não,” ele disse.
A conta veio. Nós pagamos. Nós saímos. Eu fiz uma parada no banheiro feminino na saída
para poder recolocar a arma. Jean-Claude pegou a chave de meu carro, então eu não teria
que me ocupar com nada além da arma. Era uma pequena caminhada do banheiro até a
porta. Arma preta em um vestido preto. Ou ninguém notou, ou ninguém queria se envolver. O
que era novidade?

Capítulo 9

O estacionamento estava escuro, a escuridão estava brilhando com piscinas de manchas de


luz brilhando carros Jaguars, Volvos, e Mercedes eram as espécies dominantes no local. Eu
peguei um vislumbre do meu Jeep numa distância de um plano. Eu perdi um lado enquanto
passávamos pelos carros. Jean-Claude segurou as chaves de meu carro bem apertadas para
que não fizessem barulho enquanto nos movíamos. Nós não estávamos de mãos dadas, ou
algo mais agora. Eu tinha a Firestar segurando com as duas mãos, apontada para o chão, mas
pronta. Eu estava explorando o estacionamento. Meus olhos variavam entre a frente e o
fundo. Eu não estava disfarçando. Um policial saberia o que eu estava fazendo a jardas de
distância. Eu estava procurando por perigo, buscando por alvos.
Eu me sentia boba e nervosa. A pele em meu ombro nu estava arrepiando a minha espinha.
Era bobagem, mas eu teria me sentido melhor de jeans e camiseta. Mais segura.
“Eu não acho que eles estejam aqui fora,” eu disse baixinho.
“Eu tenho certeza de que você está certa, ma petite. Yvette e Balthasar entregaram sua
mensagem e correram de volta para seus mestres.”
Eu olhei para ele antes de voltar minha atenção para o estacionamento. “Então por que eu
estou em modo de combate?”
“Por que o conselho viaja em comitiva. Nós não vimos o último deles esta noite, ma petite.
Disso, eu posso prometer a você.”
“Ótimo.”
Nós viemos ao redor dos últimos carros entre nos e meu Jeep. Havia um homem encostado de
contra ao Jeep. A Firestar estava de repente apontada para ele. Sem pensar, só paranóia - oh
desculpa, precaução.
Jean-Claude congelou atrás de mim, totalmente imóvel. Os vampiros antigos podem fazer isso
- só parar, parar de respirar, parar de se mover, parar tudo. Como se quando você olhasse
para longe eles só desaparecessem.
O homem estava encostado no fundo de meu Jeep de perfil. Ele estava no meio de um cigarro
aceso. Você pensaria que ele não tinha nos visto, mas eu sabia melhor. Eu estava apontando
36
a arma para ele. Ele sabia que estávamos lá. O fósforo acendeu, mostrando o mais perfeito
rosto que eu já havia visto. O seu cabelo brilhava como ouro, ombro comprido, grossas curvas
para combinar com seu rosto. Ele atirou o fósforo no chão com um agitar de sua mão. Ele
pegou o cigarro de sua boca e ergueu seu rosto para o céu. A luz da rua acentuou por sua
face e eu cabelo dourado. Ele teve três tragadas perfeitas e sorriu.
O sorriso traçou minha espinha como se estivesse me tocando. Me fez arrepiar, e eu pensei
em como diabos eu achei que ele era humano.
“Asher,” Jean-Claude disse. A única palavra foi dita sem nenhuma emoção, vazia e sem
significado. Mas isso era tudo que eu podia fazer para não olhar para o rosto de Jean-Claude.
Eu sabia quem era Asher, mas somente de reputação. Asher e sua serviçal humana, Julianna
haviam viajado com Jean-Claude pela Europa por algumas décadas. Eles haviam sido uma
ménage à trois, a coisa mais próxima de família que Jean-Claude havia tido desde que havia
virado um vampiro. Jean-Claude havia sido chamado por que sua mãe estava morrendo.
Asher e Julianna haviam sido pegos por uma igreja. Caçadores de vampiros preparados.
Asher se virou e nos mostrou seu perfil do lado direito. A luz da lua que havia acariciado a
perfeição de seu lado esquerdo parecia acre agora. O lado direito de sua face parecia cera de
vela derretida. Cicatrizes de queimadura, cicatrizes de ácido, água benta. Vampiros não
podiam se curar de machucados feitos por objetos sagrados. Os padres tinham uma teoria de
que eles poderiam queimar o demônio para que ele saísse com uma gota de água benta por
vez.
Eu mantive a arma nele, sólida, sem vacilar. Eu já tinha visto piores, recentemente. Eu tinha
visto um vampiro cujo rosto estava apodrecendo de um lado. Um olho estava saindo da
cavidade. Comparado a isso, Asher era um garoto da capa de revista GQ. A coisa que me fez
ficar assustada foi que o resto dele era tão perfeito. Tornava isso mais terrível, mais obsceno.
Eles tinham deixado seu olho puro, e a linha do meio de sua face, também seu nariz, o
volume de sua boca, sentava em seu mar de cicatrizes. Jean-Claude havia salvado ele antes
que os fanáticos o matassem, mas Julianna havia sido queimada como uma bruxa.
Asher nunca desculpou Jean-Claude pela morte da mulher que os dois amavam. De fato, pelo
que eu ouvi, ele queria a minha morte. Ele iria matar a servente humana de Jean-Claude
como vingança. O conselho recusou o pedido dele até agora.
“Se afaste do Jeep, devagar,” eu disse.
“Você atiraria em mim por encostar em seu carro?” ele soava divertido, agradado. O tom de
sua voz, a forma que ele escolhia as palavras, me lembrou Jean-Claude quando eu o conheci
pela primeira vez. Asher ficou de pé usando só seu corpo. Ele soprou a fumaça do cigarro em
mim e sorriu novamente.
O som deslizava pela minha pele como um toque, suave e sentindo -oh, tão fracamente -
como a morte. Era a risada de Jean-Claude, e isso me dava nos nervos.
Jean-Claude tomou um profundo, e estremecido suspiro e deu um passo a frente. Ele não
bloqueou a minha linha de tiro, e ele não me disse para abaixar a arma. “Por que você está
aqui, Asher?” Sua voz realizou algo que eu raramente ouvia, arrependimento.
“Ela irá atirar em mim?”
“Pergunte a ela você mesmo. Não sou quem segura a arma.”
“Então é verdade. Você não controla sua própria escrava.”
“Os melhores serventes humanos são os que vêm selvagens a suas mãos. Você me ensinou
isso Asher, você e Julianna.”
Asher jogou o cigarro no chão. Ele tomou rápidos passos para frente.
“Não,” eu disse.
Suas mãos estavam enroladas em punhos ao seu lado. Sua raiva passou pela noite como uma
luz apagando. “Nunca, nunca diga o nome dela novamente. Você não merece dizer seu
nome.”
37
Jean-Claude estava se fazendo superficial. “Como você desejar. Agora, o que você quer
Asher? Anita ficará impaciente logo.”
Asher me encarou. Ele olhou para mim da cabeça aos pés, mas não era sexual, pensando o
que havia lá dentro. Parecia que estava me examinando, como se eu fosse um carro que ele
estava pensando em comprar. Os seus olhos eram uma estranha sombra de azul pálido.
“Você realmente atiraria em mim?” Ele virou sua cabeça de forma que eu não podia ver suas
cicatrizes. Ele sabia exatamente onde as sombras iriam cair. Ele deu um sorriso que era
possível derreter dentro de minhas meias. Não funcionou.
“Corte o charme e me dê uma razão para não te matar.”
Ele virou sua cabeça assim um pouco do seu cabelo dourado caísse sobre o lado direito de
sua face. Se minha visão noturna fosse pior, isso teria escondido as cicatrizes.
“O conselho estende o convite para Jean-Claude, Mestre da Cidade de St. Luis, e sua escrava
humana, Anita Blake. Eles solicitam suas presenças essa noite.”
“Você pode abaixar a arma, ma petite. Nós estamos a salvo até que vejamos o conselho.”
“Assim desse jeito,” eu disse, “Da última vez eu ouvi que Asher queria me matar.”
“O conselho não aceitou seu pedido,” Jean-Claude disse. “Nossos serventes humanos são
muito preciosos para que eles aceitem.”
“Verdade,” Asher disse.
Os dois vampiros se encararam. Eu esperava que eles tentassem poderes de vampiro um no
outro, mas eles não fizeram. Eles só ficaram lá, olhando um para o outro. Suas faces não
diziam nada, mas se eles fossem pessoas e não monstros, eu teria dito a eles para se
abraçarem e fazerem as pazes. Dava para sentir a dor no ar. Eu percebi algo que eu não
havia notado antes. Eles tinham se amado uma vez. Somente amor pode se tornar em um
rancor tão grande. Julianna tinha sido a ligação deles, mas não tinha sido só ela que eles
amavam.
Era a hora de guardar a arma, mas irritantemente, eu tinha que dar uma olhada no
estacionamento. Eu realmente tinha que investir mais em calças formais. Vestidos eram
horríveis para transportar e carregar.
Não havia ninguém além de nós três no estacionamento. Eu virei de costas para os dois e
levantei o vestido para poder guardar a arma.
“Por favor, não seja modesta em minha presença.” Asher disse.
Eu arrumei o vestido do jeito que estava antes de me virar. “Não se lisonjeie.”
Ele sorriu e sua face parecia divertida, condescendente e algo mais. Esse “algo mais” me
incomodou. “Modéstia. Fora também casta antes de nosso arrojado Jean-Claude encontrar
você?”
“Já é o suficiente, Asher.” Jean-Claude disse.
“Ela era virgem antes de você?” Ele fez a pergunta e virou sua cabeça e sorriu. Ele sorriu até
que tivesse que encostar-se ao Jeep para se segurar. “Você se desperdiça com virgens. É
simplesmente perfeito.”
“Eu não era virgem, não que seja de sua conta.”
A risada parou abruptamente, estava alarmante. Ele se deslizou para o chão, sentando no
escuro pavimento. Ele me encarou através de seu cabelo dourado. Seus olhos estavam
estranhos e pálidos. “Não virgem, mas pura.”
“Eu já tive joguinhos o suficiente para uma só noite,” eu disse.
“Os jogos estão só começando,” ele respondeu.
“O que isso deveria significar?” eu perguntei.
“Isso significa, ma petite, que o conselho nos espera. Eles vão ter vários jogos para jogarmos,
nenhum deles prazeroso.
Asher se levantou como se estivesse sendo puxado por cordas. Ele levantou, se limpou. Ele
estabeleceu seu o casaco preto mais solidamente no lugar. Estava calor para um casaco
38
longo. Não que ele fosse se importar necessariamente, mas estava esquisito. Vampiros
tentavam disfarçar mais do que isso. Fez eu me perguntar o que estava embaixo do casaco.
Era possível esconder uma arma bem grande embaixo de um casaco longo dessa forma. Eu
nunca conheci um vampiro que carregasse armas, mas sempre tinha uma primeira vez.
Jean-Claude havia dito que estaríamos a salvo ater encontrarmos o conselho, mas isso não
significa que Asher não podia pegar uma arma e nos apagar. Foi descuidado guardar minha
arma sem checar Asher primeiro.
Eu suspirei.
“O que há de errado, ma petite?”
Asher era um vampiro. Quanto mais perigoso ele poderia ser com uma arma? Mas eu não
podia fazer isso. “Deixe-me testar meu entendimento. Asher é quem vai nos levar de carro
para encontrá-los?”
“Eu devo, para dar a vocês as direções,” Asher disse.
“Então vire de contra o Jeep.”
Ele franziu para mim em divertimento, de forma um pouco condescende. “Como?”
“Eu não me importo se você é o segundo vindo do Anticristo, você não pode se sentar perto
de mim em meu carro sem eu saber que está carregando uma arma.”
“Ma petite, ele é um vampiro, se ele estiver sentado atrás de você em um carro, ele está
próximo o suficiente para te matar sem uma arma.”
Eu balancei minha cabeça. “Você está certo. Eu sei que está certo, mas o ponto não é lógica,
Jean-Claude. O ponto é que eu não posso simplesmente deixar ele no carro atrás de mim sem
saber o que está embaixo do casaco. Eu só não posso.” Era verdade. Paranóico, mas ainda
verdade.
Jean-Claude me conhecia bem demais para saber que não precisava argumentar. “Muito bem,
ma petite. Asher você seria muito bom se você se encostasse de contra ao Jeep.”
Asher sorriu brilhantemente para nós dois, mostrando as presas. “Você quer me revistar? Eu
poderia te partir em pedacinhos com minhas próprias mãos, e você está preocupada se eu
tenho uma arma?”
Ele riu, um som baixo que fez minha pele se arrepiar. “Isso é tão fofo.”
Fofa? Eu? “Só faça, por favor.”
Ele virou de frente para o Jeep, ainda sorrindo suavemente.
“Mãos no capô, pés separados.” Eu tirei minha arma mais uma vez. Talvez eu devesse
carregá-la em uma corrente no meu pescoço. Eu pressionei o cano contra sua espinha. Eu
senti ele endurecer contra minhas mãos.
“Você estava falando serio sobre isso.”
“Absolutamente,” Eu disse. “Pés mais afastados.”
Ele deslocou seus pés, mas não foi suficiente.
Eu chutei os pés separando-os até que comecei a procurar com uma mão.
“Dominante, muito dominante. Ela gosta de ficar por cima?”
Eu o ignorei. Mais surpreendente, Jean-Claude também.
“Devagar, devagar. Jean-Claude não te ensinou a não ser precipitada?” Ele puxou um suspiro
no momento mais apropriado. “Oooh, isso é bom.”
Sim, era vergonhoso, mas eu o revistei de cima a baixo. Não havia nada para encontrar. Mas
eu me senti melhor. Eu andei para trás até que eu estivesse fora de alcance e coloquei minha
arma de volta no lugar.
Ele estava assistindo através dos ombros. “As calcinhas combinam com o sutiã?
Eu balancei minha cabeça. “Você pode se levantar agora.”
Ele ficou de contra ao carro. “Você não precisa me despir para me revistar?”
“Em seus sonhos,” eu disse.

39
Ele se levantou, desamassando seu casaco. “Você não tem idéia do que eu sonho, Anita.” Eu
não pude ler sua face, mas o olhar já era o suficiente. Eu não queria saber o que Asher via
quando fechava seus olhos durante o dia.
“Devemos ir?” Jean-Claude perguntou.
“Você está com tanta pressa para acabar com sua vida?” Asher perguntou. A raiva voltou
com uma agitação, as provocações divertiam o galante.
“O conselho não irá me matar essa noite,” Jean-Claude disse.
“Você tem certeza?”
“Suas próprias leis proibiram que todos nós nos Estados Unidos, brigássemos uns contra os
outros até que a lei seja aprovada ou não em Washington. O conselho quer que sejamos
legalizados nesse país. Se eles quebrarem suas próprias regras, ninguém mais irá obedecê-
los.”
Asher virou toda a sua face para a luz. “Existem coisas piores que a morte, Jean-Claude.”
Jean-Claude suspirou. “Eu não desamparei você Asher. O que eu poderia dizer para convencê-
lo da verdade? Você pode sentir a verdade de minhas palavras. Eu fui a você assim que eu
soube.”
“Você teve séculos para se convencer sobre o que você quer que a verdade seja, Jean-Claude.
Querer que isso seja verdade não torna isso verdade.”
“Então assim seja, Asher. Mas eu desfaria tudo que você pensa que eu fiz, se eu pudesse. Eu
a traria de volta se eu pudesse.”
Asher levantou suas mãos como se pudesse tirar essa memória de seu pensamento. “Não,
não, não! Você a matou. Você a deixou morrer. Você a deixou queimar até a morte. Eu a senti
morrer, Jean-Claude. Eu era seu mestre. Ela estava com tanto medo. Por último ela pensou
que você viria e a salvaria. Eu era seu mestre e eu sabia que suas últimas palavras foram o
seu nome.”
Jean-Claude virou de costas para Asher. O outro vampiro cruzou a distância entre eles com
dois passos. Ele pegou o braço de Jean-Claude e o virou. A luz da rua mostrou lágrimas na
face de Jean-Claude. Ele estava chorando por uma mulher que estava morta a mais de 200
anos. Era um longo tempo para lágrimas.
“Você nunca havia me dito isso antes,” Jean-Claude disse baixinho.
Asher o empurrou forte o suficiente para ele tropeçar. “Guarde suas lágrimas, Jean-Claude.
Você vai precisar delas para você e para ela. Eles me prometeram uma vingança.”
Jean-Claude limpou as lágrimas com o fundo de suas mãos. “Você não pode matá-la. Eles não
irão permitir isso.”
Asher sorriu, e era quase desagradável. “Eu não quero a vida dela, Jean-Claude. Eu quero seu
sofrimento.” Ele andou ao meu redor, circulando como um tubarão. Eu me movi junto a ele e
eu sabia que ele estava próximo demais. Se ele me atacasse, eu nunca pegaria a arma a
tempo.
“Você finalmente me deu o que necessito para te ferir, Jean-Claude. Você ama mais alguém.
Amor nunca está livre, Jean-Claude. É a emoção mais valorosa que temos, e eu vou ver você
pagar por isso.” Ele parou frente a Jean-Claude, mãos na cintura a seu lado. Ele estava
tremendo com o esforço para não atacar. Jean-Claude tinha parado de chorar, mas eu não
tinha certeza se ele estava de volta. Naquele momento eu percebi que ele não queria ferir
Asher. Culpa é uma coisa magnífica. O problema era que, Asher queria ferir ele.
Eu andei para entre eles. Eu tomei um passo para frente. Asher teria que dar um passo para
trás ou nós estaríamos nos tocando. Ele deu um passo para trás, encarando para baixo, para
mim como se eu tivesse aparecido somente agora. Ele havia se esquecido de mim por algum
tempo.

40
“Amor não é a emoção de maior valor Asher.” Eu disse. Eu dei mais um passo para frente, e
ele andou mais um passo para trás. “Ódio é. Por que o ódio irá te corroer por dentro e te
destruir, bem antes de te matar.”
“Muito filosófico,” ele disse.
“Filosofia é ótima,” eu disse. “Mas se lembre disso: nunca mais nos ameace novamente. Por
que se você fizer, eu irei te matar. Por que eu não me importo com nenhuma merda que
aconteceu no seu torturante passado. Agora, devemos ir?”
Asher me encarou por um momento. “Certamente. Eu mal posso esperar para você ser
apresentada ao conselho.”
Ele fez isso com a intenção de ser sinistro, e foi. Eu não queria ir e conhecer os chefões do
reino vampírico, mas nós estávamos indo. Uma coisa eu aprendi sobre vampiros mestres.
Você pode correr, mas não longe o suficiente. Você pode até mesmo se esconder, mas não
para sempre. Eventualmente, eles te encontram. E vampiros mestres não gostam de esperar.

Capítulo 10

Eu dirigi. Asher deu as direções. Ele também se pendurou no fundo do banco. Eu não pedi
para ele por o cinto de segurança. Jean-Claude sentou-se no banco de passageiro ao meu
lado, silencioso, não olhou nem para Asher nem para mim.
“Alguma coisa está errada.” Jean-Claude disse.
Eu olhei para ele. “Você quer dizer além de o conselho vir para a cidade?” Ele balançou a
cabeça. “Você pode sentir?”
“Eu não sinto nada.”
“Esse é o problema.” Ele virou o máximo que o cinto permitia para encontrar os olhos de
Asher. “O que está acontecendo com o meu pessoal?”
Asher se sentou de forma que sua face aparecesse perfeitamente no reflexo do espelho,
como se ele quisesse que eu o visse. Ele sorriu, toda a sua face morreu enquanto ele sorria. A
pele da cicatrizes tinha músculos por baixo. Tudo parecia funcionar bem exceto pelas
cicatrizes. Seu olhar era presunçoso, satisfeito consigo mesmo. O tipo de diversão que gatos
têm quando atormentam ratos.
“Eu não sei o que está acontecendo com eles, mas você deveria. Você é - apesar de tudo - o
Mestre da Cidade.”
“O que está acontecendo, Jean-Claude? O que há de errado?” Eu perguntei.
“Eu deveria ser capaz de sentir os meus, ma petite. Se eu me concentrar, é como... ruídos. Eu
posso sentir o fluxo deles. Em uma estrema profundidade eu posso sentir sua dor, seu medo.
Agora eu estou me concentrando, e é como um vazio.”
“O mestre de Balthasar te impediu de ouvir o choro de seus vampiros.” Asher disse.
As mãos de Jean-Claude se apertaram em um borrão tão rápido que chegava a ser mágico.
Ele segurou o colarinho do casaco de Asher, torcendo em um anel sufocante. “Eu-não-tenho-
feito-nada-de-errado. Eles não têm nenhum direito de causar dano aos meus.”
Asher não tentou se soltar. Ele só o encarou. “Há um lugar vazio no conselho pela primeira
vez em mais de 4000 anos. Quem esvaziou o lugar, pega o lugar. Essa é a lei da sucessão.”
Jean-Claude soltou Asher devagar. “Eu não quero.”
“Você não deveria ter matado Earthmover, então.”
“Ele teria nos matado.” Eu disse.
“Privilégio do conselho,” Asher respondeu.
“Isso é ridículo,” Eu disse. “Você está dizendo isso por que nós não nos deitamos e morremos,
nós seremos mortos agora?”

41
“Ninguém veio aqui planejando matar ninguém,” Asher disse. “Acredite em mim, esse foi o
meu voto, mas foi minoria. O conselho só quer ter certeza que Jean-Claude não está tentando
montar seu próprio pequeno conselho.”
Jean-Claude e eu, ambos olhamos para ele. Eu tive que mudar minha atenção de volta para a
estrada, pois eu estava quase parando atônita.
“Você está balbuciando, Asher.” Jean-Claude disse.
“Nem todos estão felizes com as regras atuais do conselho. Alguns dizem que são
antiquadas.”
“As pessoas tem dito isso por 400 anos,” Jean-Claude disse.
“Sim, más até agora não havia alternativa. Alguns vêem sua recusa ao lugar no conselho
como um sopro para a nova ordem.”
“Você sabe por que eu não aceitei.”
Asher sorriu, como uma pequena lâmina passando por minha pele. “O que você quer dizer,
Jean-Claude?”
“Eu não sou poderoso o suficiente para manter um lugar no conselho. O primeiro desafiante
iria perceber isso e me matar, então ele teria meu lugar no conselho. Eu seria um pretexto.”
“Ainda assim, você matou um membro do conselho. Como você conseguiu isso, Jean-Claude?”
Ele encostou-se ao fundo de meu banco. Eu pude sentir ele. Ele pegou uma curva de meu
cabelo, e eu mexi minha cabeça para longe.
“Onde diabos estamos indo? Era para você dar direções,” eu disse.
“Não são necessárias direções,” Jean-Claude disse. “Eles tomaram o Circo.”
“O que?” Eu o encarei, e a única coisa que impediu o Jeep de frear foi sorte. “O que você
disse?”
“Você não entendeu ainda? O viajante, mestre de Balthasar, bloqueou meus poderes e os
poderes de meus vampiros, e os impediu de me alcançar.”
“Seus lobos. Você deveria ter sentido algo dos lobos. Eles são os animais que você chama,”
eu disse.
Jean-Claude se virou para Asher. “Somente um vampiro poderia ter impedido meus lobos de
pedir por minha ajuda. O Mestre das Bestas.”
Asher descansou seu queixo no fundo de meu assento. Eu senti ele acenar.
“Saia de meu banco,” eu disse.
Ele levantou sua cabeça mas não se moveu de volta realmente.
“Eles devem acreditar que meus poderes cresceram para mandarem dois mestres do
conselho,” Jean-Claude disse.
Asher fez um som áspero. “Somente você, Jean-Claude, seria arrogante o suficiente para
acreditar que dois mestres do conselho vieram ao país por você.”
“Se não foi para me ensinar uma lição, então por que eles estão aqui?” Jean-Claude
perguntou.
“Nossa princesa das trevas desejava saber como esta legalidade estava funcionando para os
vampiros nos estados. Nós estávamos viajando de Boston para New Orleans para São
Francisco. Ela escolheu quais cidades nós deveríamos visitar, e em qual ordem. Nossa
princesa das trevas deixou St. Louis, e você, por último.”
“Por que ela faria isso?” Jean-Claude perguntou.
“A Rainha dos Pesadelos pode fazer tudo que quiser,” Asher disse. “Ela diz para irmos a
Boston, nós vamos.”
“Se ela disser, ande para a luz do sol lá fora, você iria?” Eu perguntei. Eu dei uma olhada
nele. Ele estava próximo o suficiente que virar minha cabeça era o suficiente, não era
necessário espelho.
Sua face estava vazia e linda, em branco. “Talvez,” ele disse.
Eu me virei de volta para a estrada. “Você é doido, vocês todos são doidos.”
42
“Verdade,” Asher disse. Ele cheirou meu cabelo.
“Pare com isso.”
“Você cheira a poder, Anita Blake. Você exala a morte.” Ele traçou seus dedos ao longo de
meu pescoço.
Eu freei o Jeep propositalmente, fazendo-o deslizar pelo banco dos fundos.
“Não toque em mim.”
“O conselho pensou que nós o acharíamos cheio de poder. Cheio de novas habilidades, ainda
você parece o mesmo. Mas ela é diferente. Ela é nova. E tem esse lobisomem. Sim, esse
Ulfric, Richard Zeeman. Você tem ele ligado a você também.”
Asher se sentou novamente no banco, não tão perto de mim. “São seus escravos que têm o
poder, não você.”
“Padma é alguma coisa sem seus animais? Jean-Claude perguntou.
“Verdade, embora eu não diria isso na frente dele.” Ele encostou nas costas no banco
novamente não encostando em mim desta vez. “Então você admite que são os seus escravos
que te dão o poder para matar um membro do conselho.”
“Minha serviçal humana e meu lobo são meras extensões de meu poder. Suas mãos são
minhas mãos; suas ações, minhas ações. Essa é a lei do conselho. Então o que importa de
onde meus poderes vêm?”
“Citando a jurisprudência do conselho, Jean-Claude. Você tem sido cauteloso desde a última
vez que nos encontramos.”
“Precaução tem me servido bem, Asher.”
“Mas você tem se divertido?” Era uma pergunta estranha vindo de alguém que supostamente
odiava Jean-Claude.
“Alguma, e você, Asher como isso é justo para você? Você ainda está servindo ao conselho,
ou você veio a essa missão somente para me atormentar?”
“Sim, para as duas questões.”
“Por que você não fugiu de suas obrigações com o conselho?
“Muitos aspiram a servir eles,” Asher disse.
“Você não.”
“Talvez vingança tenha mudado minhas aspirações.”
“Ódio é um fogo vermelho, e não dá nenhum calor.”
Asher se jogou de volta no banco, deslizando o máximo de distância possível que o banco o
permitia. Eu dei uma olhada no reflexo do espelho. Ele estava amontoado no escuro, se
abraçando. “Quando eu te ver chorar por sua amada, eu terei o calor que preciso.”
“Nós estaremos no circo logo,” eu disse. “Qual é o plano?”
“Eu não tenho certeza se há um plano. Devemos supor que eles têm todos os nossos aliados
escravizados. Então será somente o que nós dois podemos fazer sozinhos.”
“Nós tentaremos pegar o circo de volta, ou o que?”
Asher sorriu. “Ela está falando sério?”
“Sempre.” Jean-Claude respondeu.
“Certo. O que nós deveremos fazer?”
“Sobreviva se você puder,” Asher disse.
“Cale a boca.” Eu disse. “Isso é o que eu preciso saber Jean-Claude. Nós iremos entrar lá
chutando algumas bundas, ou nos rastejar?”
“Você rastejaria para eles, ma petite?”
“Eles têm Willie, Jason, e quem sabe quantos mais. Então, sim, se isso os mantivesse a salvo.
Eu rastejaria um pouco.”
“Eu não acredito que você seria muito boa nisso,” Jean-Claude disse.
“Eu não sou.”

43
“Mas não, sem rastejar essa noite. Nós não somos fortes o suficiente para tomar o circo, mas
nós iremos entrar, como você disse, chutar algumas bundas.”
“Dominante?” eu fiz disso uma pergunta.
"Oui."
“Quanto dominante?”
“Seja agressiva, mas não estúpida. Crie feridas em quem você for capaz de ferir, mas não
mate. Nós não queremos dar a eles um pretexto.”
“Eles pensam que você irá começar uma revolução, Jean-Claude.” Asher disse da escuridão.
“Como todos os revolucionários, morto você vira um mártir. Eles na querem você morto.”
Jean-Claude se virou para que pudesse ver o outro vampiro. “Então o que eles querem Asher?
Diga-me.”
“Eles tem que fazer de você um exemplo. Certamente você verá isso.”
“Se eu estivesse planejando um segundo conselho na America, sim, eu veria esse ponto. Mas
eu sei minhas limitações. Eu não posso segurar um lugar no conselho contra todos os que
querem. Essa seria a minha sentença de morte. Eu quero simplesmente ser deixado de lado.”
Asher suspirou. “É tarde demais para isso, Jean-Claude. O conselho está aqui, e eles não irão
acreditar em seu protesto de inocência.”
“Você acredita nele,” eu disse.
Ele ficou quieto por alguns segundos, então disse. “Sim, eu acredito nele. A única coisa que
Jean-Claude sempre fez bem foi sobreviver. Desafiar o conselho não é uma boa maneira de
fazer isso.” Asher foi para frente, contra os bancos, colocando sua face bem próxima da
minha. “Lembre-se Anita, que todos esses anos atrás, ele esperou para me salvar. Esperou
até ele saber que não seria pego. Esperou até que ele pode me salvar sem arriscar a própria
vida. Esperou até que Julianna estivesse morta, por que era um grande risco a correr.”
“Isso não é verdade,” Jean-Claude disse.
Asher o ignorou. “Seja cuidadosa para que ele não espere para te salvar.”
“Eu não fico esperando que ninguém me salve,” eu disse.
Jean-Claude encarou para fora da janela, para os carros passando. Ele estava balançando sua
cabeça gentilmente, para frente e para trás, frente e trás. “Eu já estou cansado de você,
Asher.”
“Você está cansado de mim por que eu falo a verdade.”
Jean-Claude virou seu rosto para ele. “Não, eu estou cansado de você por que você me
lembra dela, e que uma vez, há muito tempo atrás, eu quase fui feliz.”
Os dois vampiros se encararam. “Mas agora você tem uma segunda chance.” Asher disse.
“Você também poderia ter uma segunda chance, Asher. Se você deixasse o passado para
trás.”
“O passado é tudo que tenho.”
“E isso não é minha culpa,” Jean-Claude disse. Asher deslizou de volta para a escuridão, se
apertando contra o banco, Eu pensei que Jean-Claude havia ganhado a argumentação por
agora. Mas pode chamar isso de pressentimento; eu não acho que essa briga acabou.

Capítulo 11

O Circo dos Malditos é um armazém transformado. Da frente é como um carnaval com


pôsteres promovendo um show de aberrações, e palhaços dançando no topo girando em cima
do letreiro incandescente. Do fundo, é só escuro.
Eu parei o Jeep em um pequeno estacionamento reservado para empregados. Era pequeno
por que a maioria dos ajudantes vivia no circo. Não era necessário um carro se você nunca
saía. Eu estava esperando que nós precisássemos de nosso carro.

44
Eu desliguei o motor, e o silêncio preencheu o carro. Os dois vampiros afundaram em um
silêncio absoluto que eu tive que olhar para eles para ter certeza que ainda estavam lá.
Mamíferos podem congelar, mas um coelho congelado esperando por uma raposa passar é
uma coisa vibrante. A respiração é cada vez mais rápida. Seu coração bate. Vampiros são
mais como cobras. A cobra coloca um pedaço de seu corpo para fora e depois congela. Não
há nenhuma percepção de movimento. Nenhuma sensação de que o movimento irá
continuar. Naquele momento gélido a cobra parece surreal, mais como um trabalho da arte,
mais uma coisa esculpida do que uma coisa viva. Jean-Claude parecia ter caído em um poço
de silêncio onde movimentos, até respirar, eram proibidos.
Eu olhei para Asher. Ele se sentou no banco de trás. Absolutamente calmo, uma perfeita
presença dourada, mas não viva.
O silencio preencheu o Jeep como água congelada. Eu queria bater palmas, gritar, qualquer
coisa que fizesse barulho, para assustar eles para que reagissem novamente. Mas eu sabia
melhor. Tudo que eu teria seriam uma piscada e um olhar. Um olhar que não era humano e
talvez nunca tivesse sido.
O som de meu vestido contra o estofado era alto. “Eles irão me revistar a procura de armas?”
Minha voz parecia monótona contra o pesado silêncio.
Jean-Claude piscou graciosamente, então virou seu pescoço para olhar para mim. O olhar era
pacífico, melhor do que vazio. Eu estava começando a me perguntar se a quietude era uma
forma de meditação para os vampiros. Talvez se nós saíssemos bem essa noite eu
perguntaria.
“Esse é um desafio, ma petite. Eles vão nos deixar sermos perigosos. Embora eu não exibiria
seu armamento. Sua pequena arma é o suficiente.”
Eu balancei minha cabeça. “Eu estava pensando em mais.”
Ele levantou suas sobrancelhas. “Mais?”
Eu me virei para ver o Asher. Ele piscou e levantou seus olhos para mim. Eu atingi
firmemente as luzes e vi a verdadeira cor de seus olhos pela primeira vez. Eles eram azuis.
Mas só isso não era suficiente. Eles eram azul claro enquanto os de Jean-Claude eram azul
escuro. Pálidos, gelados azuis, a cor dos olhos de um surpreendente Husky. Mas não eram só
os olhos, era o cabelo. Era dourado, mas o dourado normal de um loiro escuro. Na luz
verdadeira do carro, eu percebi que não era só ilusão de alguma luz fosca, era dourado. O seu
cabelo era o dourado mais puro que eu já vi fora de uma garrafa ou uma tinta metálica. A
combinação do cabelo e dos olhos era incrível. Mesmo sem as cicatrizes ele não pareceria
real.
Eu olhei de um vampiro para o outro. Jean-Claude era mais lindo, e não era por causa das
cicatrizes. Asher parecia mais bonito do que lindo. “O mesmo vampiro fez vocês dois, certo?”
Eu perguntei.
Jean-Claude afirmou.
Asher me encarou.
“Para onde ela foi?” eu perguntei. “Estudos-de-Belezas-Extraordinárias-Somos-Nós?
Asher soltou um duro riso. Ele arrastou seus dedos pelo lado assustador de sua face, fazendo
a pele esticar, puxando-a para longe de seus olhos para que pudéssemos ver a carne pálida
no interior de sua cavidade ocular. Ele enfatizou tudo em uma espécie de máscara hedionda.
“Você acha que eu sou lindo, Anita?” Ele soltou a pele, e a colocou de volta no lugar,
resiliente, perfeita de sua própria maneira.
Eu olhei para ele. “O que você quer que eu diga, Asher?”
“Eu quero que você fique aterrorizada. Que quero ver em sua face o que eu vi na face de
todos pelos últimos 200 anos – nojo, escárnio, horror.”
“Desculpe.” Eu disse.

45
Ele se inclinou no banco, mostrando as cicatrizes na luz. Ele parecia ter uma noção exata de
como a luz cairia em suas cicatrizes, para saber como a sombra ficaria. Anos de prática, eu
acho.
Eu só olhei para ele. Eu encontrei seus pálidos, e perfeitos olhos, olhando por entre as grossas
curvas de seu cabelo dourado, seus lábios cheios. Eu dei de ombros. “O que eu posso dizer?
Eu sou uma pessoa que gosta de cabelos e olhos, e você tem um ótimo cabelo e olhos
incríveis.”
Asher se jogou de volta no banco. Ele olhou para nós dois, e havia uma grande raiva em seus
olhos. Uma raiva tão horrível que me assustou.
“Assim,” ele disse. “Agora você está com medo de mim. Eu posso ver isso, cheirar isso,
provar isso.” Ele sorriu, satisfeito com si, triunfante de alguma forma.
“Diga a ele o que você teme, ma petite.”
Eu olhei para Jean-Claude, Então para Asher. “Não são as cicatrizes, Asher. É o seu ódio que
me assusta.”
Ele inclinou-se, e eu acho que sem querer, seu cabelo se espalhou por seu rosto, camuflando-
o. Tinha o olhar de longo hábito, um longo conforto. “Sim, meu ódio é assustador.
Aterrorizante. E se lembre, Anita Blake, que esse ódio é todo para você e seu mestre.”
Eu sabia que ele queria dizer Jean-Claude, e eu não podia argumentar com esse título mais,
embora algumas vezes eu queria. ”Ódio torna todos nós feios.” Eu disse.
Ele assobiou para mim, e não havia nada humano no gesto.
Eu dei a ele um olhar entediado. “Sai fora, Asher. Lembre-se disso, eu já fiz isso. Se você quer
brincar de grande vampiro mau, entra na fila.”
Ele tirou seu casaco abruptamente, com um movimento violento. Uma jaqueta marrom da
tweed acabou amassada no banco. Ele virou sua cabeça, assim eu pude ver as cicatrizes que
desciam por seu pescoço pela gola da camisa branca. Ele começou a desabotoar a camisa.
Eu olhei para Jean-Claude. Sua face estava insensível, inútil. Eu estava sozinha. Então o que
mais era novidade?
“Não que eu não aprecie a oferta, mas eu não deixo um homem se despir no primeiro
encontro.”
Ele rosnou para mim. Ele empurrou seu peito contra a luz, a blusa ainda dobrada
cuidadosamente em suas calças. As cicatrizes driblavam sua pele como se alguém tivesse
desenhado, dividindo seu corpo com uma linha no centro. Uma metade pálida e perfeita, e
outra monstruosa. Eles tinham sido mais cuidadosos com sua face e pescoço. Eles não tinham
sido cuidadosos com o peito. As cicatrizes arroias faziam um corte profundo. A pele estava
tão derretida que nem parecia real mais. As cicatrizes flutuavam de seu estômago até dentro
do topo de suas calças.
Eu encarei por que isso era o que ele queria que eu fizesse. Quando eu pude finalmente
encontrar seus olhos, eu não tinha mais palavras. Eu tinha colocado água benta em uma
mordida de vampiro uma vez. Limpeza, eles chamam isso. Tortura era outra palavra para
isso. Eu rastejei, xinguei e vomitei. Eu não podia imaginar a dor que ele tinha passado.
Seus olhos estavam arregalados, ferozes e temíveis. “As cicatrizes continuam até lá em
baixo,” ele disse.
Isso deixou um rastro de recursos visuais que eu estava tentando evitar. Eu pensei em várias
coisas para dizer: “Wow”, mas parecia coisa de escola e era cruel; “Sinto muito” era
totalmente inadequado. Eu abri minhas mãos largamente, ajoelhando no banco, olhando para
ele. “Eu te perguntei antes, Asher. O que você quer que eu diga?”
Ele se empurrou o mais distante possível de mim, ficando de contra a porta do Jeep. “Por que
ela não desvia o olhar? Por que ela não me odeia? Por que ela não tem nojo desse corpo?”

46
Da mesma forma que ele tinha nojo. Essa frase ficou pendurada no ar, mas estava em seus
olhos, e na forma que ele se segurava. Não ditas, as palavras ficaram no ar como um pesado
empurrão de um trovão.
Ele gritou, “Por que eu não vejo nos olhos dela o que eu vejo nos olhos de todos?”
“Você não vê horror em meus olhos, mon ami.” Jean-Claude disse.
“Não,” Asher disse, “Eu vejo pior. Eu vejo pena!” Ele abriu a porta do carro sem se virar, eu
teria dito que ele caiu do carro, mas não foi verdade. Ele flutuou antes que pudesse tocar o
chão. Houve um remoinho de vento que tomou conta de mim como uma tempestade, e ele foi
embora.

Capítulo 12

Nós sentamos no silêncio por alguns segundos, ambos encarando a porta aberta. Finalmente
eu tive que preencher o silêncio. “Meu, as pessoas vem e vão rápido por aqui.”
Jean-Claude não entendeu a referência ao filme. Richard teria entendido. Ele gostava de “O
mágico de Oz.” Jean-Claude me respondeu, sério, “Asher sempre foi muito bom em voar.”
Alguém deu uma risadinha. O som fez com que eu alcançasse minha Firestar. A voz era
familiar mas o tom era novo; arrogante, profundamente arrogante.
“Balas de prata não irão me matar mais, Anita. Meu novo mestre me prometeu isso.”
Liv apareceu na porta aberta do carro, nos espiando, braços musculosos sustentando a porta.
Ela sorriu aberto o suficiente para mostras suas presas. Quando você passa dos 500 anos
como a Liv, você só mostra as presas se quiser. Ela estava sorrindo como o gato Cheshire,
muito contente sobre algo. Ela usava um sutiã esporte preto e shorts curtíssimos de modo
que todo o corpo musculoso brilhasse nas luzes da rua. Ela era a vampira que Jean-Claude
tinha convidado para seu território recentemente. Era para ela ser um de seus tenentes
vampiros.
“Que canário você comeu?” Eu perguntei.
Ela franziu para mim. “O que?”
“O gato que comeu o canário.” Eu disse.
Ela continuou franzindo. O inglês de Liv era perfeito, sem nenhum tipo de sotaque. Algumas
vezes e me esquecia que não é sua primeira língua. Muitos dos vampiros perderam seus
sotaques originais, mas eles ainda não entendem algumas gírias. Mas, hey, eu aposto que Liv
sabe alguns jargões eslavos que eu nunca ouvi.
“Anna está perguntando por que você está tão contente com si mesma,” Jean-Claude disse,
“Mas eu acho que já sei a resposta.”
Eu olhei para ele, e então olhei novamente para Liv. Eu tinha a Firestar exposta, mas sem
apontar. Era para ela estar do nosso lado. Eu estava tendo o pressentimento de que ela tinha
mudado.
“Liv disse, seu novo mestre?” Eu perguntei.
“Sim,” Jean-Claude respondeu.
Eu levantei a arma apontando para ela. Ela sorriu. Era enervante. Ela sentou-se no banco de
trás, ainda sorrindo. Muito nervosa. Liv podia ter 600 anos de idade e algo mais, mas ela não
era poderosa. Certamente não poderosa o suficiente para se livrar de balas de prata.
“Você sabe que eu vou atirar em você Liv. Então qual é a piada?”
“Você não pode sentir, ma petite? A diferença nela?”
Eu estabilizei minha mão no fundo do banco, com a arma apontando para seu impressionante
peito. Eu estava a menos de dois pés dela, a essa distância a bala tiraria seu coração de seu
corpo. Ela não estava preocupada. Ela deveria estar.
Eu me concentrei em Liv. Tentei rolar seu poder para minha mente. Eu já havia feito isso
antes, sabia como ela era em minha cabeça. Eu pensei que sabia. Seu poder bateu contra
47
meu esqueleto, cantarolando em baixo de meus ossos. Eu pude sentir seu poder tão
profundamente que era quase doloroso.
Eu tomei um profundo suspiro e soltei devagar. Eu mantive a arma apontada para ela. “Se eu
puxar esse gatilho, Liv, mesmo se você se levantar rapidamente, você morrerá.”
Liv olhou para Jean-Claude. Era um longo, e vaidoso olhar. “Você sabe que eu não morrerei
Jean-Claude.”
“Somente o Viajante poderia fazer uma promessa tão extravagante, e espera cumpri-la,”
Jean-Claude disse. “Você é um pouco feminina demais para os seus gostos, a menos que ele
tenha mudado.”
Sua face estava desdenhosa. “Ele está acima de desejos mesquinhos. Ele me ofereceu
somente o poder, e eu aceitei.”
Jean-Claude balançou sua cabeça. “Se você realmente acredita que o Viajante esta acima dos
desejos do corpo, então ele tem sido muito... cuidadoso em torno de você, Liv.”
“Ele não é como os outros,” ela disse.
Jean-Claude suspirou. “Nisso eu não irei discutir, Liv. Mas seja cuidadosa para que o seu poder
não se torne viciante.”
“Você só quer me assustar, mas isso não irá funcionar, Jean-Claude. O poder dele não é como
nada que eu já senti antes, e ele pode dividir. Eu posso ser o que eu fui feita para ser. Você
diria qualquer coisa para se salvar essa noite.”
Ele encolheu os ombros. “Talvez.”
“Eu pensei que Liv havia feito um juramento de lealdade a você,” eu disse.
“Oui.”
“Então o que está acontecendo?”
“O conselho será muito cuidadoso ao observar as regras, ma petite. O Circo é um negócio
público, assim o conselho poderia atravessar sem ser convidado. Ao invés disso, eles
encontraram alguém que os convidasse para dentro.”
Eu encarei a vampira sorridente no fundo de meu Jeep. “Ela nos traiu?”
“Sim.” Ele disse suavemente. Ele tocou meu ombro. “Não mate ela, ma petite. A bala iria
entrar, porém o Viajante não permitiria que ela morresse. Você iria simplesmente desperdiçar
uma bala.”
Eu balancei minha cabeça. “Ela traiu vocês, todos vocês.”
“Se eles não tivessem subornado alguém, eles teriam torturado outra pessoa para que ela
nos traísse. Eu prefiro esse método.” Ele disse.
Eu abaixei o cano da arma para longe da face sorridente de Liv. Eu poderia ter puxado o
gatilho e não ter me importado com isso. Ela teria feito todos os estragos que poderia ter
feito. Não era como se eu a estivesse matando para nos salvar. Eu não queria, e não quero
puxar o gatilho. Eu só pensei que ela deveria morrer por ter nos traído. Nenhuma raiva,
nenhum ultraje, somente bons negócios. Era um péssimo precedente permitir que alguém nos
traia e sobreviva. É um mau exemplo. Eu percebi que com uma pequena surpresa que matá-
la não significaria nada para mim. Somente bons negócios. Meu Deus. Eu guardei a arma. Eu
não queria matar ninguém tão friamente. Matar não me incomodava, mas deveria significar
alguma coisa.
Liv encostou-se ao banco, sorrindo, contente de eu ter visto a inutilidade de atirar nela. Se ela
percebesse por que eu não tinha feito, ela talvez ainda estivesse assustada comigo, mas ela
estava se escondendo por trás do poder desse Viajante. Confiante que seu escudo era
suficiente para tudo. Se ela me irritar essa noite, talvez nós testemos essa teoria.
Eu balancei minha cabeça. Se eu estava indo conhecer o chefão do reino vampírico eu
precisava de mais armas. Eu tinha as bainhas de pulso, completas com facas de prata, no
porta-luvas. Eu sempre as carregava em meu Jeep caso eu estivesse usando algo que elas
não combinassem, como um vestido. Nunca se sabe quando precisamos de uma boa faca.
48
“Eu direi a eles sobre as armas que eu ver.” Ela disse.
Eu terminei colocando as facas nos lugares. “Yvette e Balthasar sabem que eu tenho uma
arma. Eu não estou tentando ser sutil aqui, só preparada.” Eu abri a porta e saí do carro. Eu
procurei pela escuridão por mais companhia, pensei que os realmente velhos se escondiam
mesmo estando quase à vista. Alguns vampiros tinham habilidades de um camaleão, se
misturando com a paisagem. Eu vi um que podia se cobrir de sombras, então arremessá-las
de lado como um manto. Eu fiquei impressionada.
Liv desceu correndo do carro para ficar do meu lado. Ela tinha levantado muitos pesos para
poder cruzar seus braços confortavelmente, mas ela estava tentando. Tentando fazer uma
postura indiferente, de guarda. Ela tinha 1,80 de altura e seu corpo era construído como uma
casinha de tijolos; ela não tinha que tentar muito para parecer intimidadora.
Jean-Claude saiu do carro para o meu lado, se colocando entre nós duas. Eu não tinha certeza
de quem ele estava protegendo; Ela ou eu.
Ele tinha o longo casaco de Asher em seus braços. “Eu sugiro, ma petite, que você use isso
para cobrir suas armas.”
“Eu irei dizer a eles sobre as facas,” Liv disse.
“Se as armas estiverem expostas, é mais um desafio,” Jean-Claude disse. “Alguém vai querer
tirá-las de você.”
“Eles podem tentar,” eu disse.
Jean-Claude me entregou o casaco, envolto de seus braços. “Por favor, ma petite.”
Eu peguei o casaco dele. Ele não diz “Por Favor” com freqüência.
Eu vesti o casaco preto. Eu estava lembrando de duas coisas. Primeira, Estava muito quente
para usar um casaco. Segunda, Asher tinha 1,80 de altura ou mais, o casaco era enorme. Eu
comecei a dobrar as mangas.
“Anita,” Liv disse.
Eu olhei para ela.
Ela estava séria agora, Sua face forte nórdica vazia e ilegível. “Olhe para meus olhos.”
Eu balancei minha cabeça. “O que vocês fazem, sentam assistindo filmes antigos do Drácula
e roubam o diálogo?”
Liv deu um olhar ameaçador e deu um passo para frente. Eu só continuei encarando ela.
“Guarde a rotina de grande e má vampira, Liv. Nós já fizemos isso e você não pode me
deslumbrar com seus olhos.”
“Ma petite,” Jean-Claude disse, “faça o que ela pede.”
Eu franzi para ele. “Por quê?” Desconfiada, quem eu?
“Por que se o poder extra do Viajante pode te deslumbrar através dos olhos de Liv, é melhor
você saber aqui onde você está relativamente a salvo, do que lá dentro entre nossos maiores
inimigos.”
Ele tinha um ponto, mas eu não gostei. Eu suspirei. “Certo.” Eu encarei sua face, dentro de
seus olhos azuis, pensei que a cor estava um pouco lavada pela luz da rua.
Liv se virou; transbordando uma luz amarela da porta aberta do carro que alcançou seu olhar
e fez aqueles incríveis azuis-violeta, quase roxos. Seus olhos eram sua melhor característica e
eu nunca tive nenhum problema encontrando esse olhar de pétala de flor.
Eu ainda podia. Nem mesmo uma dorzinha.
As mãos de Liv se embaralharam em sua cintura. Ela falou, mas eu não pensei que ela estava
falando com nenhum de nós dois, “Você me prometeu. Me prometeu poder o suficiente para
deslumbrar ela.”
Houve uma carga de vento, frio o suficiente para me fazer tremer e me amontoar no longo
casaco.
Liv sorriu, um alto e triunfante som. Ela levantou seus braços para o vento gelado como se
eles estivessem envolvendo ela como cortinas na brisa.
49
O vento gelado levantou os pelos da minha nuca, mas não era a temperatura, era o poder
nela.
“Agora," Liv disse, “olhe em meus olhos, se você se atrever.”
“Um pouco melhor no diálogo,” eu disse.
“Você está com medo de meu olhar, Executora?”
O vento gelado que havia vindo de nenhum lugar morrera, depois enfraqueceu, uma carícia
gelada estava passando. Eu esperei até o calor do verão deslizar sobre mim como plástico
embrulhado, esperei até suor deslizar por minha espinha; Então eu olhei para cima.
Já era distante o tempo que eu evitava olhar para os olhos de um vampiro. Eu tinha um tipo
de imunidade natural, mas mesmo os vampiros inferiores eram perigosos. Seu olhar era um
truque que quase todos tinham em menor grau, ou extensão. Meus poderes haviam crescido,
e as marcas de vampiro haviam melhorado isso. Eu era praticamente imune ao olhar de
vampiros. Então por que eu estava com medo agora?
Eu encontrei o olhar violeta de Liv, sem vacilar. A princípio não havia nada além de sua
extraordinária cor. Uma tensão saiu de mim, meus ombros relaxaram. Eles eram somente
olhos. Então era como se o violeta de seus olhos fossem água, e eu era algo patinando sobre
a superfície, até que algo surgiu em seus olhos e me puxou para baixo. Sempre antes era
como se eu estivesse caindo, mas agora é como se algo me tivesse, algo cruel, e forte. Aquilo
me sugava para baixo como água embaixo do gelo. Eu gritei, e ataquei. Ataquei aquilo que
arremeteu contra a película de gelo, alcançando uma superfície que não era física, não era
nem mesmo metafórica, mas eu lutei para subir. Lutando contra a força da escuridão.
Eu voltei a mim, ajoelhada no estacionamento com as mãos de Jean-Claude apreendidas nas
minhas. “Ma petite, ma petite, você está bem?”
Eu só balancei minha cabeça. Eu não confiava em minha voz ainda. Eu tinha esquecido o
quanto eu odiava ser deslumbrada pelos seus olhares. Esquecido o quanto desamparada eu
me sentia. Meu próprio poder estava me tornando descuidada ao redor de coisinhas de
merda.
Liv encostou no lado do Jeep. Ela parecia cansada, também. “Eu quase tive você.”
Eu encontrei minha voz. “Você não teve nada. Não era por seus olhos que eu estava sendo
sugada. Eram os dele.
Ela balançou sua cabeça. “Ele me prometeu o poder para fazer isso com você Anita. Para
tomar sua mente.”
Eu deixei Jean-Claude me ajudar a levantar, o que já lhe diz o quão frágil eu estava me
sentindo. “Então ele mentiu, Liv. Não é seu poder, é o dele.”
“Você teme a mim agora.” Ela disse. ”Eu posso sentir o seu medo em minha cabeça”
Eu concordei. “Sim, eu estou com medo. Se isso faz você feliz, então pode comemorar.” Eu
comecei a me afastar dela. Mais armas. Eu preciso de mais armas.
“Isso me faz feliz,” ela disse. “Você nunca saberá o quanto feliz isso me deixa.”
“O poder dele deixou você, Liv,” Jean-Claude disse.
“Irá retornar,” ela disse
Eu estava do outro lado do Jeep. Eu estava indo para a parte de trás do carro agora, mas eu
não queria estar no alcance de Liv por agora. Eu havia me libertado, mas eu não queria
continuar testando minha sorte.
“O poder pode retornar Liv, mas Anita quebrou sua conexão com você. Ela empurrou seu
poder de lado.”
“Não,” Liv disse. “Ele escolhi deixar ela se libertar.”
Jean-Claude sorriu e isso correu pelo meu corpo, e eu sabia que Liv sentiu também. “O
Viajante teria mantido ma petite presa, se ele pudesse segurá-la. Mas ele não pode. Ela é um
peixe muito grande até mesmo para a sua rede.”
“Mentiroso!” Liv disse.
50
Eu deixei Liv e Jean-Claude para discutirem entre si. Eu tinha quebrado o poder do Viajante,
mas não havia sido bonito, ou fácil. Apesar de pensar nisso, logo que comecei a lutar ele tinha
quebrado.
A triste verdade é que eu não tinha tentado me proteger. Eu tinha encarado os olhos vazios
de Liv, esperando confiante que ela não podia me deslumbrar. Isso havia sido estúpido. Não –
arrogante. Algumas vezes não tinha muita diferença entre os dois.
Eu fui para a parte de trás do Jeep. Eu rastejei até a área de carga. Edward, assassinos dos
mortos-vivos, havia me persuadido a permitir que ele remodelasse meu Jeep. A roda de um
lado agora era também um compartimento secreto. Dentro estava minha Browning e minha
armação extra. Eu tinha me sentido boba quando ele me convenceu a isso. Eu não achava
mais bobeira agora. Eu abri o compartimento e encontrei uma surpresa. Uma mini-Uzi
completa com um tiracolo. Havia um bilhete preso a arma.
“Você nunca tem muito poder de fogo.”
Ele não tinha assinado, mas era Edward. Ele tinha começado sua carreira como um assassino
regular, mas humanos se tornaram muito fáceis então ele trocou para monstros. Ele amava
desafios. Eu tinha outra mini-Uzi em casa. Tinha sido um presente de Edward, também. Ele
tinha os melhores brinquedos.
Eu tirei o casaco e coloquei o tiracolo com a Uzi em meu peito. Quando eu coloquei o casaco
de volta, a Uzi deslizou para minhas costas. Não era perfeito, mas também não era notável. A
segunda Browning Hi-Power também estava no compartimento. Eu coloquei esta em meu
bolso e dois pentes extras de munição no outro bolso. Quando eu me levantei, o casaco
estava engraçado, mas era tão grande em mim que não era notável.
Os vampiros não estavam discutindo mais. Liv encostou contra o Jeep, carrancuda, como se
Jan-Claude tivesse ganhado a conversa, tido a última palavra.
Eu me mantive assistindo ela. Eu queria atirar nela. Não por que ela nos traiu, mas por que
ela havia me assustado. Uma razão não muito boa. Além disso, foi minha própria falta de
cuidado que permitiu que ela me assustasse. Eu tento não punir as outras pessoas por meus
erros.
“Eu não posso te liberar sem te punir, Liv,” Jean-Claude disse. “O conselho verá isso como
fraqueza.”
Ela somente olhou para ele. “Bata-me se isso fizer você se sentir melhor, Jean-Claude.” Ela se
afastou do Jeep e atravessou a distância entre eles com três longos passos. Ela levantou seu
queixo como uma valentona desafiando você a dar o primeiro passo.
Ele balançou a cabeça. “Não, Liv.” Ele tocou sua face gentilmente. “Eu tenho algo melhor em
mente.” Ele acariciou sua face, esfregando sua mão no queixo dela.
Ela suspirou, esfregando sua face na palma dele. Liv estava tentando entrar nas calças de
Jean-Claude desde que ela chegou na cidade. Ela nunca escondeu seu plano de dormir com
outros para chegar ao topo. Ela tem estado muito... frustrada que ele não queira cooperar.
Ela deu um gentil beijo em sua palma. “As coisas poderiam ter sido tão diferentes se não
fosse por sua humana de estimação.
Eu andei para entre eles e era como se eu não estivesse lá. Eles estavam em um lugar
privado que passou a existir.
“Não, Liv,” Jean-Claude disse. “Isso não seria diferente. Não foi Anita que manteve você longe
de minha cama, foi você.” Sua mão fechou na garganta dela. Seus dedos convulsionando na
pele dela. Ele fez um movimento brusco e rasgou a frente da garganta dela para fora.
Liv desabou no chão, sufocando, o sangue fluía para a sua frente de cor carmesim, fora de
sua boca. Ela virou de costas mãos segurando a garganta.
Eu vim para ficar ao lado dele e encarei-a. Eu peguei um deslumbre de sua coluna no fundo
da ferida. Seus olhos estavam arregalados, cheios de dor e medo.

51
Jean-Claude estava limpando sua mão com um lenço e seda que ele tirou de algum lugar. Ele
jogou os pedaços de carne na calçada, onde elas caíram parecendo pequenas e não
importantes o suficiente para alguém morrer sem elas.
Nós dois assistimos ela se contorcendo na calçada.
Na face de Jean-Claude estava a vazia máscara que ele utilizava, linda e distante, como se
tentando tirar algum conforto da lua. Eu não tinha um espelho, e minha face nunca seria sua
amável perfeição, mas estava vazia também. Eu assisti Liv baquear na calçada e não senti
nenhuma piedade.
Nenhum vento gelado veio para salvá-la. Eu acho que isso surpreendeu Liv, por que ela
alcançou Jean-Claude. Chegou a ele, implorando com os seus olhos para que ele a ajudasse.
Ele estava imóvel, afundado naquele grande silêncio de espera, como se ele estivesse
disposto a desaparecer. Talvez ele se incomodasse em vê-la morrer.
Se ela fosse humana, isso teria sido bem rápido, mas ela não era humana, e isso não foi
rápido. Ela não estava morrendo. Eu não tinha certeza se era pena, mas eu não podia só ficar
lá e assistir tamanha dor, tanto terror.
Eu puxei a Browning do casaco e apontei para a sua cabeça. “eu vou acabar logo com isso.”
“Ela irá se cuidar ma petite. É uma ferida que seu próprio corpo irá curar, com o tempo.”
“Por que seu novo mestre não esta ajudando ela?” eu perguntei.
“Por que ele sabe que ela irá se curar sem sua ajuda.”
“Não desperdiça energia, né?”
“Algo como isso,” ele disse. Era difícil dizer através do sangue, mas parecia que sua ferida
estava se preenchendo; havia tanto a preencher.
“Nós oferecemos nossas gargantas, nossos pulsos ou a curva do cotovelo uns aos outros
como uma saudação formal. A menor oferta a sua carne para o maior como um
reconhecimento de poder. É uma coisa linda, uma coisa educada, mas essa é a realidade, ma
petite. Liv me ofereceu sua garganta e eu aceitei.”
Eu encarei seus largos, largos olhos. “Ela sabia que isso era uma possibilidade?”
“Se ela não sabia, então ela é uma tola. Esse tipo de violência não é aprovado a menos que o
vampiro menor questione a autoridade do vampiro maior. Ela questionou minha dominância
sobre ela. Esse é o preço.”
Liv virou-se de lado, tossindo. Sua respiração sacudindo sua garganta em um doloroso
suspiro. As coisas estavam se reformando. Ela estava respirando novamente. Quando ela
tinha ar o suficiente para falar, ela disse, “Maldito seja você, Jean-Claude.” Então ela tossiu
sangue. Yummy.
Jean-Claude estendeu sua mão para mim. Ele a havia limpado, mas não tinha tirado o sangue
de entre as unhas, para isso é necessário água e sabão. Eu hesitei, depois peguei sua mão.
Teríamos mais sangue antes que a noite terminasse, isso era garantido.
Caminhamos para o circo. O casaco levantava atrás de mim como uma capa. A Uzi saltava
levemente em minhas costas. Eu tinha adicionado uma coisa extra do porta-luvas. Uma longa
corrente de prata com um crucifixo nela. Eu tinha correntes maiores depois que comecei a
namorar com Jean-Claude. A mais curta saia de minha roupa em momentos difíceis. Eu estava
carregada para um urso, um vampiro, e estava pronta para matar qualquer coisa. Edward
teria ficado orgulhoso.

Capítulo 13

A porta lateral do Circo não tinha trinco. A única forma de entrar é se alguém abrir a porta.
Medidas de segurança. Jean-Claude bateu, e a porta se abriu logo quando foi tocada. Aberta
esperando. Sinistro.

52
A porta se abriu em uma pequena sala de armazenamento com uma lâmpada acesa
pendurada no teto. Uma sala rígida com algumas caixas contra a parede. A porta a direita
conduzia para a parte principal do circo, onde as pessoas costumavam andar na roda gigante
e comer algodão doce. Uma pequena porta dava para a esquerda. Não havia luzes brilhantes
e algodão doce nesse lado.
A luz oscilava para frente e para trás como se alguém tivesse acabado de acertá-la. A
lâmpada nua feita de grossas sombras dançava até que fosse difícil distinguir entre luz e
sombra. Algo brilhava no lado esquerdo. Algo ligado a sua superfície. Eu não sabia o que era,
salvo que brilhava sob a luz estranha.
Eu empurrei a porta para me certificar que não havia ninguém atrás dela. Então eu coloquei
minhas costas para a porta e apontei a Browning para a sala.
“Pare a lâmpada de balançar,” eu disse
Jean-Claude alcançou e tocou a lâmpada. Ele tinha que ficar na ponta de pés para fazê-lo.
Quem tinha mexido com a lâmpada tinha mais de 1,80 de altura.
“A sala está vazia, ma petite.” Jean-Claude disse.
“O que há na porta?” Era liso e fino, e minha mente não podia reconhecer a forma daquilo. O
que quer que fosse, havia sido preso a porta com pregos de prata;
Jean-Claude deixou sair um longo suspiro. “Mon Dieu.”
Atravessei a sala com a Browning segurando com as duas mãos e apontada para o chão.
Jean-Claude disse que a sala estava vazia. Eu confiava nisso, mas eu confiava mais em mim.
Liv cambaleou até a porta. A frente de seu corpo estava coberta de sangue, mas sua
garganta estava perfeita. Eu me perguntei se o Viajante a ajudou depois que nós saímos. Ela
tossiu, e limpou sua garganta tão violentamente que pareceu doloroso. “Eu queria ver seus
rostos quando vocês verem o Mestre das Bestas.” Ela disse. “O Viajante se recusou a deixar
ele e seu povo o cumprimentarem pessoalmente. Este é o convite de entrada do Mestre das
Bestas. Vocês gostaram?” Ela soava ansiosa, descontente de alguma forma. O que diabos
estava na porta?
Mesmo estando próxima daquilo, eu não sabia o que era. Finos riachos de sangue escorriam
pela porta. O doce e metálico cheiro de sangue esquentou o ar. A coisa era fina como um
papel, mas tinha uma consistência mais parecida com plástico. Era enrolada nas bordas,
lutando contra os cinco pregos de prata.
De repente eu tive uma idéia terrível. Tão terrível que eu não podia olhar depois de ter
pensado. Eu tomei três passos para trás e tentei ver a silhueta. Lá, lá, dois braços, duas
pernas, ombros. Era uma pele de um humano. Uma vez que encontrei a forma dela eu não
conseguia parar de olhar. Eu sabia que quando eu fechasse meus olhos essa noite isso me
perseguiria. Essa coisa fina e esticada costumava ser uma pessoa.
“Onde estão as mãos e pés?” eu perguntei. Minha voz soava estranha, distante, quase
desapegada. Meus lábios e dedos tremiam com o puro horror disso.
“É apenas a parte de trás do corpo de alguém, a pele inteira, ma petite. Além disso, é difícil
tirar a vida de alguém quando essa pessoa está lutando,” Jean-Claude disse. Sua voz era
totalmente plana, cuidadosamente vazia.
“Lutando? Você quer dizer que quem isso era, estava vivo?”
“Você é a perita policial, ma petite.”
“Não teria sangrado essa quantidade se não estivesse vivo,” eu disse.
“Sim, ma petite.”
Ele estava certo. Eu sabia disso. Mas a visão de uma pele humana pregada na porta tinha
mexido comigo. Foi a primeira vez, mesmo para mim. “Meu Jesus, os pregos de prata
significam que a vitima era um vampiro ou um licantropo?”
“Provavelmente,” Jean-Claude disse.
“Isso significa que ainda está vivo?”
53
Ele olhou para mim. Seu olhar conseguiu ser vazio e eloqüente ao mesmo tempo. “Estava
vivo quando a pele foi removida. Se for vampiro ou licantropo a simples remoção da pele não
será o suficiente para matá-lo.”
Um arrepio me percorreu da cabeça aos pés. Não era exatamente medo. Era horror. Horror na
informalidade dele, na insensibilidade dele. “Asher falou de Padma. Ele é o Mestre das
Bestas?
“O Mestre das Bestas,” Jean-Claude disse. “Você não pode matá-lo por sua indiscrição, ma
petite.”
“Você está errado,” eu disse. O horror estava lá como um revestimento de gelo sob minha
pele, mas abaixo disso estava a raiva. E sob a raiva estava o medo. Medo de que alguém
tiraria a pele de um ser vivo somente para mostrar um ponto. Isso diz algo sobre a pessoa.
Diz sobre quantas poucas regras eles têm. Diz, em termos não certos, que eu deveria matá-lo
assim que o visse.
“Nós não podemos puni-los por isso essa noite, ma petite. Essa noite é sobre sobrevivência
para todos nós. Lembre-se de limitar sua raiva.”
Eu encarei a coisa na porta. “Eu já passei da raiva.”
“Então limite sua raiva. Nós devemos salvar o resto dos nossos.”
“Se eles estiverem vivos.”
“Eles estavam vivos quando eu desci para esperar por você,” Liv disse.
“De quem é essa pele?”
Ela sorriu, o que era de costume. Toda curada, toda melhor. “Adivinha.” Ela disse. “Se você
acertar, eu direi, mas apenas se você acertar.”
Eu me controlei para que eu não apontasse a Browning para ela. Eu balancei minha cabeça.
“Sem jogos, Liv, não com você. Os jogos não começam até chegarmos lá em baixo.”
“Bem dito, ma petite. Vamos descer.”
“Não,” Liv disse. “Não, vocês irão adivinhar. Vocês vão adivinhar quem é. Eu quero ver seus
rostos. Eu quero ver a dor em seus olhos enquanto você pensa em cada um de seus amigos,
Anita. Eu quero assistir o horror em sua face enquanto você imagina isso acontecendo com
cada um deles.”
“O que eu fiz para você Liv?”
“Você ficou em meu caminho,” ela disse.
Eu balancei minha cabeça e apontei a arma para ela. “Três strikes e você está fora, Liv.”
Ela franziu. “Do que você está falando?”
“Trair-nos foi um. Tentar me deslumbrar com seus olhos foi o número dois. Esse foi
parcialmente minha culpa, então eu deixei de lado. Mas você fez um juramento que iria
proteger o povo de Jean-Claude. Você jurou que iria usar esse incrível corpo, essa força, para
proteger aqueles mais fracos. A quem pertence essa pele foi alguém que você jurou proteger.
Ao invés disso, você os traiu. Entregou-os para o inferno. Strike três Liv.”
“Você não pode me matar, Anita. O Viajante irá me curar, não importa o que você faça.”
Eu atirei em sua rótula direita. Ela caiu no chão, segurando a perna ferida, se contorcendo,
gritando.
Eu me senti sorrir, mais desagradável. “Eu espero que isso doa, Liv. Eu espero que doa como
o inferno.”
A temperatura na sala caiu como uma pedra. Eu senti frio o suficiente que eu esperava ver
minha própria respiração. Os gritos de Liv pararam, e ela me encarou com seus olhos violeta.
Se olhar matasse, eu teria caído no local.
“Você não pode me ferir, Anita. Meu mestre não irá permitir.” Liv levantou-se ainda fraca e
manca. Ela andou até a porta com sua terrível carga. Ela esticou a borda da coisa, mostrando
buracos na pele, que não tinham nada a ver com o processo de esfolamento. “Eu me
alimentei dele enquanto era torturado. Eu bebi seu sangue enquanto ele gritava.” Seus dedos
54
saíram manchados de sangue. Ela os lambeu para limpar, deslizando seus dedos para dentro
e fora de sua boca. “Hmm, delicioso.”
Tudo que eu tinha que fazer era adivinhar quem era, e ela me diria. Tudo que eu tinha que
fazer era jogar seu jogo. Eu atirei em seu outro joelho.
Ela caiu no chão, guinchando. “Você não entende? Você não pode me ferir.”
“Oh, eu acho que posso, Liv, eu acho que posso.” Eu atirei no joelho direito novamente. Ela se
deitou de costas, gritando, agarrando os joelhos quebrados e recuando, por que seu próprio
toque machucava.
O poder do Viajante levantou o cabelo de meu corpo em um arrepio. Ele realmente ia curá-la.
Se eu não ia matá-la, eu tinha que estar em outro lugar antes dela começar a andar. Eu
conhecia Liv bem o suficiente para saber que quando ela conseguisse levantar ela estaria
com raiva. Não que eu a culpe. De fato, se eu ficasse lá só o tempo suficiente para ela se
levantar, seria legítima defesa. Claro que seria uma legitima defesa premeditada.
“Venha, ma petite, deixe ela. O Viajante não dá sua benção tão facilmente da segunda vez,
ou seria essa a terceira? Ele irá curar ela em seu próprio ritmo agora. Uma bênção e punição
rolando em um. Como a maioria dos presentes do conselho está acostumada a ser.”
Ele abriu a porta que levava para baixo. Sua mão veio com sangue nela. Ele segurou a mão
para fora e para frente dele como se ele não soubesse o que fazer com ela. Ele finalmente
entrou pela porta, limpando sua mão ao longo da parede, manchando de sangue as pedras
em uma linha carmesim.
“Quanto mais nos demorarmos, mais torturas eles irão pensar.” Com essa linha reconfortante
ele começou a descer as escadas. Dei uma ultima olhada em Liv. Ela se deitou de lado
chorando, gritando. Ela estava gritando que iria me ver morta. Eu devia ter atirado em sua
cabeça até que seu cérebro se espalhasse pelo chão. Se eu fosse realmente cruel, eu teria
feito. Mas eu não sou. Eu a deixei viva e gritando ameaças. Edward teria se desapontado
tanto.

Capítulo 14

Os degraus eram mais altos que o normal, como se para o que eles foram criados
originalmente não fosse humano. Eu chutei a porta para abrir, eu não queria tocar no sangue.
A porta cortou os gritos de Liv. Eu ainda podia ouvi-la muito fraca, como o zumbido de um
inseto, mas a porta era quase a prova de som. Era necessário algo para abafar os gritos.
Naturalmente esta noite estava tudo silencioso nas escadas. Um silêncio tão profundo que
vibrava nos meus ouvidos.
Jean-Claude se movia graciosamente, como um grande gato, descendo os degraus
estranhamente. Eu tive que dobrar o final do casaco sobre o meu braço esquerdo para não
tropeçar sobre ele. Mesmo assim, eu não deslizava pelas escadas. Eu andava tipo mancando.
Jean-Claude esperou na curva da escada um pouco antes eu alcançá-lo. “Eu podia carregá-la,
ma petite.”
“Não, obrigada.” Se eu tirasse os sapatos, o vestido seria tão longo que eu precisaria levantá-
lo. Eu precisava de uma mão livre para a arma. Se minhas escolhas estavam entre andar
devagar e ter uma arma na mão e ser rápida e ter minha mão cheia de vestido... Eu prefiro
ser lerda.
As escadas estavam vazias, largas o suficiente para dirigir um carro pequeno. A porta na base
da escada era de carvalho maciço, com ferro ligando a porta a uma masmorra. Hoje à noite,
essa não era uma boa analogia.
Jean-Claude puxou a porta pesada, e ela se abriu. Ela geralmente era mantida trancada. Ele
se virou para mim. “O conselho pode exigir que eu salvo a todos os presentes formalmente.”
“Você quer dizer como você fez com Liv?” Eu perguntei.
55
Ele deu um pequeno sorriso. “Se eu não reconhecer a dominância deles sobre mim, talvez.”
“O que acontece se você reconhecer?” eu pergunte.
Ele balançou a cabeça. “Se nós tivéssemos encontrado o conselho para algum tipo de ajuda,
então eu não lutaria. Eu simplesmente reconheceria sua superioridade e seria somente isso.
Eu não sou forte o suficiente para ser parte do conselho. Eu sei disso.” Ele alisou suas mãos
ao babado da camisa, ajustando o paletó mostrando seus punhos para mostrar sua melhor
forma. Ele normalmente exagerava com suas roupas quando estava nervoso. Claro, ele
exagerava com as roupas quando não estava nervoso também.
“Eu percebi um “mas” saindo,” eu disse.
Ele sorriu para mim. “Oui, ma petite. Mas eles vieram até nos. Eles invadiram nossas terras.
Ofenderam nossas pessoas. Se nós os reconhecermos como melhores que nós sem uma luta,
eles podem instituir um novo mestre a minha cidade. Eles podem tomar tudo que eu já
ganhei.”
“Eu pensei que a única forma de tomar o lugar de um mestre é se ele morrer.”
“Eles fariam isso, eventualmente.”
“Então nós vamos entrar e chutar algumas bundas.”
“Mas nós não podemos ganhar por violência, ma petite. O que nós fizemos com Liv era
esperado. Ela tinha que ser punida. Mas uma luta para matar ou morrer, o conselho seria o
vencedor.”
Eu franzi para ele. “Se nós não podemos dizer que eles são maiores e maléficos então tudo
bem, mas nós não podemos lutar também, o que nós faremos?”
“Nós jogamos o jogo, ma petite.”
“Que jogo?”
“O jogo que eu dominei no tribunal há muito tempo. É uma questão de diplomacia, desafio,
insultos.” Ele levantou minha mão esquerda e deu um amável beijo nela. “Você será muito
boa em partes desse jogo, e muito ruim em outras. Diplomacia não é seu forte.”
“Desafio e insultos são duas das melhores coisas que faço.”
Ele sorriu, ainda segurando minha mão. “Certamente, ma petite, certamente. Guarde a arma.
Eu não estou dizendo para não usá-la, mas tenha cuidado em quem você atira. Nem tudo que
você encontrar essa noite pode ser ferido por balas de prata.” Ele virou sua cabeça de lado
como se estivesse pensando. “Pensando nisso, eu nunca vi alguém tentando matar um
membro do conselho com armas modernas de prata.” Ele sorriu. “Isso deve funcionar.” Ele
balançou a cabeça como se estivesse se livrando da imagem. “Mas se chegar ao ponto de
tentar matar alguém do conselho com balas, então tudo estará perdido e tudo que nos
restará é tentar matar o máximo que pudermos.”
“Vamos salvar o máximo que pudermos também.” Eu disse.
“Você não os entende, ma petite. Se nos morrermos, eles não terão nenhuma misericórdia
com aqueles que são leais a nós. Em qualquer boa revolução, os leais morrem primeiro.” Ele
tocou a palma de minha mão direita suavemente, relembrando. Eu ainda tinha a arma sem
guardar. De alguma forma, eu só não queria colocá-la de lado.
Mas eu o fiz. Eu a coloquei a salvo. Eu não queria que eles soubessem que a arma estava lá.
Então eu não podia ficar segurando. Eu coloquei a trava de segurança por que eu não queria
atirar em minha própria perna. Isso seria constrangedor e também doloroso e provavelmente
não impressionaria o conselho nem um pouco. Eu não entendi “o jogo”, ma seu não rodeei
vampiros por tempo o suficiente para saber que se você os impressionasse poderia sair vivo.
Claro que, às vezes eles matam mesmo assim. As vezes um show de desafios só ganhava
uma morte mais lenta, como o que acontece com algumas tribos indígenas americanas que
só os inimigos que eram torturados eram dignos de honra. Uma honra que eu poderia viver
sem. Mas as vezes no meio da tortura você poderia se livrar. Se eles apenas rasgarem sua

56
garganta, então suas opções acabaram. Nós estávamos definitivamente entrando para
impressionar.
Se nós não o fizéssemos, nós os mataríamos. Se não conseguíssemos... eles nos matariam.
Liv tinha acabado de ser a diversão da noite.
A sala era forrada de pedras novamente. Os esforços de Jean-Claude para redecorar jaziam
em uma pilha de tecido preto e madeira quebrada. A única coisa intocada era o retrato sobre
a lareira. Jean-Claude, Julianna, e um Asher sem cicatrizes olhando para as ruínas. Eu
esperava uma surpresa desagradável nos aguardando. Havia apenas Willie McCoy parado na
frente da gelada lareira. Ele estava de costas para nós, suas mãos cruzadas atrás dele. Seu
terno de cor verde-ervilha colidia com seu cabelo preto liso. Uma manga estava rasgada e
manchada de sangue. Ele virou para nós. Sangue escorrendo em um corte na testa. Ele
enxugou com um lenço coberto de esqueletos dançantes. Era de seda e havia sido um
presente de sua namorada, que tinha cerca de um século de idade, uma vampira que tinha
recentemente se juntado a nós. Hannah era alta, com pernas longas, tão amável quanto
Willie era baixo, Mal vestido, e bem... Willie.
Ele sorriu para nós. “Tanta bondade a de vocês se juntarem a nós.”
“Corte o sarcasmo,” eu disse. “Aonde estão todos?” Eu comecei a andar em direção a ele,
mas Jean-Claude me parou com uma mão em meu braço.
Willie sorriu quase gentilmente. Ele encarou Jean-Claude com um olhar de expectativa. Era
uma expressão que eu nunca havia visto no rosto de Willie.
Eu olhei para a perfeita máscara de Jean-Claude, fechada e cuidadosa. Não-amendrontada.
“O que está se passando?” eu perguntei.
“Ma petite, eu gostaria de te apresentar O Viajante.”
Eu franzi para ele. “Do que você está falando?”
Willie sorriu, e foi irritante como sempre, mas terminou baixo, a risada baixa arrepiou os
cabelos de minha nuca. Eu olhei para ele e sabia que choque invadia a minha expressão. Eu
tive engolir antes de poder falar, mesmo assim eu não sabia o que dizer. “Willie?”
“Ele não pode te responder, ma petite.”
Willie parou lá me encarando. Ele havia sido uma pessoa esquisita quando viva. Morto, ele
não tinha melhorado muito. Ele não estava morto a muito tempo para ter um domínio em
seus movimentos como os outros tinham. Ele andou em nossa direção e uma onda de graça
veio como líquido. Não era Willie.
“Merda.” Eu disse suavemente. “Isso é permanente?”
O estranho no corpo de Willie sorriu novamente. Eu estou meramente pegando esse corpo
emprestado. Eu pego emprestado muitos corpos, não é Jean-Claude?”
Eu senti Jean-Claude me arrastar para trás. Ele não queria se aproximar. Eu não discuti. Nós
nos afastamos. Era estranho ser afastada de Willie. Normalmente, ele era um dos vampiros
menos assustadores que eu conhecia. Agora, tensão cantava da mão de Jean-Claude. Eu
podia sentir seu coração batendo em minha cabeça. Ele estava com medo, e isso me fez ficar
com medo.
O Viajante parou, com as mãos na cintura, sorrindo. “Medo que eu vá usá-lo como meu
cavalo, Jean-Claude? Se você fosse realmente forte para ter matado Earthmover, então você
deveria ser forte o suficiente para resistir a mim.”
“Eu sou cauteloso por natureza, Viajante. Tempo não diminuiu o hábito.”
“Você sempre teve uma língua polida em sua cabeça e em muitos outros lugares.”
Eu franzi para os dois vampiros, não tendo certeza se tinha entendido o significado, não tinha
certeza se queria entender também. “Deixe Willie em paz.”
“Ele não está sendo prejudicado,” o vampiro disse.
“Ele ainda está dentro do corpo,” Jean-Claude disse. “Ele ainda sente, ainda vê. Você só o
colocou de lado, Viajante, não o substituiu.”
57
Eu olhei para Jean-Claude. Sua face não mostrava nada. “Você diz isso como se soubesse por
experiência própria.”
“O corpo de Jean-Claude era um de meus favoritos, a um tempo atrás. Balthasar e eu
apreciávamos muito ele.”
Balthasar saiu do corredor distante como se estivesse esperando por sua deixa. Talvez ele
estava. Ele estava sorrindo, mas era mais para mostrar os dentes do que por prazer. Ele
entrou na sala parecendo elegante e malandro com seu terno. Ele parou ao lado de Willie,
mãos no ombro do homem baixo. Willie, o Viajante, recostou-se contra o peito de Balthasar. O
homem maior colocou seus braços em torno dele. Eles eram um casal.
“Ele saberá o que eles estão fazendo com seu corpo?” eu perguntei.
“Sim,” Jean-Claude respondeu.
“Willie não gosta de homem.”
“Não.” Jean-Claude disse.
Eu engoli e tentei pensar racionalmente, eu não conseguia. Vampiros não podiam tomar
corpos de outros vampiros. Era impossível. Mas não era. Mas eu olhei para a face familiar de
Willie com pensamentos de um estranho flutuando por seus castanhos olhos e eu soube que
era verdade.
Aqueles olhos marrons sorriam para mim. Eu abandonei meu olhar. Se o viajante podia me
deslumbrar através dos olhos de Liv quando ele não estava dentro dela, então ele faria
comigo agora com certeza. Havia um longo tempo desde que eu tinha praticado o truque de
olhar para uma face sem encontrar os olhos. Era como uma brincadeira com o vampiro
tentando capturar meu olhar e eu evitando. Era irritante, e assustador.
Jean-Claude havia dito que violência não nos ajudaria essa noite. Ele não estava brincando. Se
um vampiro estivesse segurando Willie contra sua vontade, forçando ele sexualmente, eu
teria atirado nele. Mas era o corpo de Willie, e ele o teria de volta. Atirar nele era uma má
idéia. O que eu precisava era uma boa idéia.
“O viajante gosta de mulher?” eu perguntei.
“Você está se oferecendo para substituí-lo?” o vampiro perguntou.
“Não, só me perguntando se você gostaria se fosse ao contrário.”
“Ninguém mais tem a minha habilidade de dividir um corpo,” o viajante disse.
“Você gostaria se alguém o forçasse a fazer sexo com uma mulher?”
A face de Willie inclinou para um lado, e a expressão era alien para ele. O senso de alteridade
era forte o suficiente para fazer minha pele rastejar. “Eu nunca senti atração pelo corpo de
alguma mulher.”
“Você acharia desagradável,” eu disse.
Willie, o Viajante, afirmou. “Sim.”
“Então deixe Willie em paz. Escolha alguém que não se incomodaria tanto.”
O viajante se aconchegou nos braços de Balthazar e sorriu para mim. “Você esta apelando
para meu senso de misericórdia?”
Eu dei de ombros. “Eu não posso atirar em você. Você é do conselho. Eu estava esperando
que isso significasse que você tem mais regras que os outros. Acho que estava errada.”
Ele olhou para Jean-Claude. “Sua escrava humana fala tudo por você agora?”
“Ela faz bem o suficiente,” Jean-Claude disse.
“Se ela procura apelar pelo meu senso de justiça, então você não disse nada a ela sobre seu
tempo com a corte.”
Jean-Claude manteve minha mão esquerda apertada a sua, mas ele se distanciou de mim. Eu
senti ele se colocar em posição ereta como se ele estivesse curvado todo esse tempo,
amontoado em torno de seu pânico. Eu sabia que ele ainda estava com medo, mas ele subiu.
Bravo Jean-Claude. Eu não estava com tanto medo ainda. Mas eu não sabia nada mais.
“Eu não me debruço sobre o passado,” Jean-Claude disse.
58
“Ele está com vergonha de nós,” Balthazar disse, esfregando sua face contra Willie. Ele deu
um suave sorriso na têmpora de Willie.
“Não,” o Viajante disse. “Ele teme a nós.”
“O que você quer de mim Viajante? Por que o conselho invadiu minhas terras e tomou o meu
povo como refém?”
O corpo de Willie empurrou Balthazar ficando apenas na frente do homem mais alto. Willie
normalmente parecia menor do que era, curvado e tímido, mas agora ele parecia magro e
certo de si mesmo. O Viajante deu a Willie a graça e a segurança que ele nunca teve.
“Você matou o Earthmover, mas não veio tomar seu lugar no conselho. Não há outra forma
de ser parte do conselho exceto matando um dos membros. Nós temos uma vaga que só
você pode preencher Jean-Claude.”
“Eu não quero, eu não sou poderoso o suficiente para mantê-la.”
“Se você não é poderoso o suficiente então como você destruiu Oliver? Ele era uma ameaça
as forças da natureza.”
O Viajante andou em nossa direção com Balthazar o seguindo. “Como você o matou?”
Jean-Claude não andou para trás dessa vez. Suas mãos apertaram a minha, mas ele
continuou onde estava. “Ele concordou em não chamar a terra contra mim.”
O vampiro e seu serviçal nos circulavam como tubarões. Um circulando a esquerda, e o outro
a direita, então era difícil olhar para os dois.
“Porque ele limitaria seu poder?”
“Ele tinha sido desonesto, Viajante. Oliver desejava trazer de volta os tempos antigos quando
vampiros eram ilegais. Um tremor teria destruído a cidade, mas isso nunca seria posto como
culpa de um vampiro. Ele queria possuir meus vampiros e causar um banho de sangue que
faria nós voltarmos a ser caçados. Oliver temia que nós iríamos destruir todos os humanos
eventualmente, e depois a nós mesmos. Ele pensava que nós éramos muito perigosos para
ter direitos legais e liberdade.”
“Nós recebemos seu relatório.” O Viajante disse. Ele parou ao meu lado. Balthazar parou do
outro lado, próximo a Jean-Claude. Eles estavam se encarando. Eu não tinha certeza se isso
era o vampiro controlando seu serviçal ou se eram séculos de prática. “Eu conhecia os ideais
de Oliver.”
Eu me voltei para Jean-Claude. “São só vampiros ou ele pode tomar humanos também?”
“Você está a salvo de sua intrusão, ma petite.”
“Ótimo,” eu disse.
Eu encarei o Viajante, e estava assustada de como facilmente eu estava começando a pensar
em sue corpo como o do viajante e não o de Willie. “Por que você não parou Oliver, então?”
eu perguntei.
O Viajante se aproximou mais e mais até que somente uma polegada nos impedia de nos
tocarmos. “Ele estava no conselho. Membros do conselho não podem lutar entre si até a
morte. E nada além da verdadeira morte o pararia.”
“Você deixou ele vir até aqui, sabendo o que ele planejava fazer,” eu disse.
“Nós sabemos que ele tinha deixado o país mas não sabíamos para onde ele havia fugido ou
quais eram seus planos.” O Viajante levantou sua mão até minha face. Balthazar fez o mesmo
do outro lado com Jean-Claude. A mão pequena de Willie pairou em minha face.
“Você o declara um trapaceiro.” Jean-Claude disse. “Qualquer vampiro que o encontrasse
poderia o matar sem violar suas leis. Isso é o que trapacear significa.”
O viajante tocou as partes nuas de minha face. Um tremor, uma tentativa de um toque.
“Então vocês pensaram que nós não viríamos a sua porta por que você nos salvou de ter
problemas machucando a nós mesmos.”
“Oui.”

59
Balthazar parou de acariciar a face de Jean-Claude. Ele veio para ficar ao lado de seu mestre,
ele assistia o pequeno homem deslizar sua mão por minha face. Balthazar parecia estar
perplexo, surpreso. Alguma coisa estava acontecendo, e eu não sabia o que era.
O Viajante segurou meu queixo com sua mão. Ele virou minha face para ele. Ele deslizou sua
mão por meu maxilar, abaixo de meu pescoço, correndo os dedos em meu cabelo.
Eu me afastei dele. “Pensei que você não gostava de garotas.”
“Não gosto.” Ele ficou lá, olhando para mim. “Seu poder é incrível.” Suas mãos atacaram
muito rápido para ver, muito rápido para reagir. Ele tinha uma mão cheia de meu cabelo, e
seus olhos, os olhos de Willie, encontraram o meu. Eu estava me protegendo neste momento,
preparada, mas meu peito caiu até meus pés. Eu esperei para aquela escuridão gelada me
puxar para dentro. Nada aconteceu. Nós ficamos lá, a centímetros de distância, e eram
somente olhos. Eu podia sentir seu poder saindo de seus braços como uma marcha saindo
por seus gelados dedos, mas não era o suficiente.
Ele colocou suas mãos nos dois lados de minha face quase como se ele fosse me beijar.
Nossas faces estavam tão próximas que suas palavras pareciam intimidadoras, mesmo que
não fossem. “Eu poderia forçar meu olhar contra você, Anita, mas isso seria um desperdício
de poder que eu me arrependeria depois do amanhecer. Você feriu Liv duas vezes essa noite.
Eu estou curando ela, mas isso também toma poder.”
Ele deu um passo para trás, se abraçando como se ele tivesse ficado mais abalado ao me
tocar do que somente a sensação de sua pele. Ele levou três passos deslizando para se
colocar face a face com Jean-Claude. “O poder dela é uma coisa inebriante. Algo que envolve
sua pele fria e aquece seu coração por toda a eternidade.”
Jean-Claude soltou um pequeno suspiro. “Ela é minha escrava humana.”
“Certamente,” o Viajante disse. “Há cem anos eu poderia invadir você sem tocar sua pele.
Agora não posso. Ela deu a você esse poder?” Ele encostou sua face na de Jean-Claude como
havia feito comigo.
Eu puxei Jean-Claude para trás, fora de alcance, e fiquei entre eles. “Ele é meu, não divido.”
Jean-Claude colocou suas mãos a meu redor, me segurando ao seu lado. “Se você vai nos
deixar em paz, Eu deixarei Balthazar ou qualquer outra pessoa que você escolher me usar,
mas eu não terei o prazer de ser seu cavalo novamente, Viajante.”
Os olhos castanhos de Willie olharam para Jean-Claude. Havia lá uma astúcia, uma
intensidade assustadora, nesses olhos familiares. “Eu sou do conselho. Você não é. Você não
terá escolha nessa situação.
“Você está dizendo que se ele pegar o lugar no conselho, então você não poderá machucá-
lo?” eu perguntei.
“Se ele for poderoso o suficiente para segurar seu lugar no conselho, então eu não serei
capaz de invadir seu amável corpo, mesmo que meus lábios o pressionem.
“Deixe-me compreender. Se ele tomar o lugar no conselho, você ainda tentará se forçar para
dentro dele, por que se você puder forçá-lo, então ele não é poderoso o suficiente para ser
membro do conselho? Mas se ele não tomar o lugar, você fará da mesma forma.”
O Viajante deu um lindo sorriso para mim, deleite brilhando de seus olhos, os olhos de Willie.
“Verdade.”
“Por que tudo com você e seu povo é tudo ou nada? Vocês não fazem negócios. Vocês só
fazem tortura,” eu disse.
“Você esta nos julgando?” ele perguntou. De repente sua voz estava mais baixa e profunda
do que a de Willie podia ficar. Ele deu um ultimo passo para frente, e eu estava
repentinamente tocando os dois. Seus poderes flutuaram por mim; era como estar no meio de
dois tipos diferentes de fogo, mas não queimava. O poder do viajante era como o de Jean-
Claude, fresco e nadante, um sopro de mortalidade, o toque da sepultura.

60
O poder me fez soltar um suspiro e levantou todos os pelos de meu corpo. “Cai fora!” Eu
tentei tirar ele de perto de nós dois, mas ele segurou meu pulso muito rápido para pará-lo,
quase muito rápido para ver. A sensação de sua pele nua tocando a minha enviou uma onda
fria entorpecendo meu corpo, como uma lança de gelo. Ele me afastou de Jean-Claude.
Jean-Claude segurou meu outro pulso. No momento que sua mão tocou minha pele, o frio
desapareceu. Seu poder me varreu como uma corrente de água morna, mas não era seu
poder. Eu sabia o sabor deste calor. Era Richard. Jean-Claude estava trazendo o poder de
Richard da mesma forma que eu havia feito mais cedo.
Ele varreu o poder do Viajante de meu corpo como o calor do verão no gelo. Foi o viajante
que me soltou. Ele deu um passo para trás, colocando suas mãos no casaco como se
estivesse machucado. “Jean-Claude, você tem sido um menino muito desobediente.”
Jean-Claude me puxou contra ele, uma mão contra meu pescoço para que seus dedos
tocassem minha pele. Aquele calor elétrico ainda estava lá brincando entre a sua pele e a
minha, e eu sabia naquele momento que Richard havia sentido a nossa urgência, nossa
necessidade.

Capítulo 15

Um barulho fez todos nós nos virarmos para o corredor mais distante. Eu não reconheci o
homem. Ele era alto, esbelto, pele escura, talvez latino, talvez algo mais exótico. Ele não
usava nada além de uma calça preta de cetim com bordados prata ao longo das pernas. Ele
estava arrastando a namoradinha de Willie, Hannah por um braço.
Seu rímel havia escorrido por lágrimas pretas em seu rosto. Seu caríssimo corte de cabelo
ainda enquadrava sua face, ainda realçava seus olhos e suas fortes maçãs do rosto e lábios
cheios. Mas sua face era como uma máscara agora, lágrimas pretas, e batom Borgonha
manchando através de sua face como uma ferida.
O Viajante disse, “Por que você a trouxe aqui, Fernando?”
“Meu pai é um membro do conselho assim como você, Viajante.”
“Eu não discuti isso.”
“Mesmo assim você o proibiu de vir a este primeiro encontro.”
“Se ele é um membro do conselho, então deixe que ele me curve a sua vontade.” A voz do
viajante estava zombando. “Nós todos somos membros, mas nem todos somos iguais.”
Fernando sorriu. Ele pegou o vestido azul de Hannah e o rasgou ao longo de suas costas. Ela
gritou.
O Viajante se agitou, colocando suas mãos em sua face.
“Eu vou foder ela,” Fernando disse.
Balthazar caminhou até eles, mas dois leopardos do tamanho de pôneis rastejaram pelo
corredor. Um preto, um amarelo manchado, ambos grandes o suficiente para rasgá-lo em
pedacinhos. Eles rosnaram baixa e profundamente, se movendo com seus enormes pés para
entre Balthazar e Fernando.
Fernando segurou Hannah pela cintura, puxando o vestido sobre seu quadril para expor as
cintas ligas azul pálidas. Ela virou-se e bateu nele forte o suficiente para ele balançar para
trás. Ela era feminina, mas também era uma vampira que podia ter jogado ele contra a
parede e ter o segurado lá.
Fernando bateu em suas costas. Fazendo sangue sair de sua boca. Ela se sentou meio
atordoada no chão. O poder de Fernando flutuou pela sala como se ele estivesse se
segurando até agora. Metamorfo. Ele correspondia aos leopardos que estavam em suas
costas? Talvez, mas não importava que tipo ele era. Ele pegou Hannah pela frente do vestido,
arrastando-a pelos joelhos. Ele levantou sua mão para bater nela novamente.

61
Eu puxei a Browning do bolso do casaco. Willie caiu de joelhos no chão. Ele encarou e disse,
“presas de anjo.” Ele tentava se levantar mais não podia. Jean-Claude levantou ele pelos
braços e o levantou facilmente.
Fernando bateu em Hannah novamente. Uma batida casual que balançou sua cabeça para
trás e fez seus olhos revirarem. “Ele deve realmente amar você para tocar o Viajante toda vez
que você é abusada.”
A mão de Jean-Claude em meu braço me trouxe de volta a mim. Eu tinha a Browning
apontada para Fernando. Eu deixei sair um suspiro para me manter sem puxar o gatilho. A
trava de segurança estava desligada, e eu não me lembrava de ter feito isso. Por que
Fernando e não os gatinhos? Os homens-leopardo podiam atravessar a distância em um
piscar de olhos, mas eu sabia quem eram os Alphas. Retire o líder, e os gatos podem ir para
outro lugar.
Jean-Claude segurou Willie em um braço e o outro ainda segurava o meu, como se com medo
do que eu poderia fazer. “Fernando,” ele disse, “você já fez o que você foi mandado para
fazer. O Viajante se forçou a sair, e isso irá tomar um tempo a mais para que ele encontre um
segundo hospedeiro. Você pode liberar Hannah.”
Fernando sorriu para nós, dentes muito brancos em sua face escura. “Eu acho que não.” Ele
arrastou Hannah por seus pés, graços ainda ao redor de sua cintura prendendo seus braços
nos lados. Ele tentou beijá-la. Ela virou a cabeça e gritou.
Willie estava em pé sozinho agora. Ele empurrou Jean-Claude para longe. “Não, eu não
deixarei você machucá-la.”
O leopardo preto deitou de barriga, rastejando perto de Willie, e nós.
“Se nós vamos derrubá-los, temos que fazer isso agora,” eu disse. Fernando primeiro, depois
um dos leopardos, se eu tivesse tempo. Se não... um problema de cada vez.
“Ainda não, ma petite. O pai de Fernando, Padma, não irá perder seu tempo precioso
atormentando os menores. O Viajante irá voltar cedo demais para isso.”
“O Viajante não irá deixar eu prová-la quando ele voltar,” Fernando disse. Ele manteve
Hannah presa a seu corpo com um braço e levantou seu vestido com o outro.
“Ele realmente acha que nós iremos assistir enquanto ele a estupra?” Eu perguntei.
“Meu pai é o Mestre das Bestas. Você não irá me parar, por medo de sua ira.”
“Você não entende, não é, Fernando?” Eu apontei a arma para a sua cabeça.”Eu não ligo a
mínima para quem seu pai é. Deixe-a em paz, e diga a seus amigos peludos para se
afastarem ou eu vou fazer do seu pai um vampiro muito infeliz.”
“Você não quer que eu fique infeliz.” A voz fez com que meus olhos desviassem para o
corredor distante, mas a arma não se moveu.
O vampiro na porta era indiano. Ele estava vestindo um casaco longo, como uma túnica. Era
dourada e branca e brilhava na ponta de minha visão como se ele estivesse entrando mais na
sala. Eu mantive minha atenção em seu filho. Um monstro de cada vez.
Jean-Claude soltou sua mão de meu braço. Ele deu um passo para trás de mim e para o lado,
tomando cuidado para não bloquear meu tiro. “Pasma, Mestre das Bestas, saudações e boas
vindas a minha casa.”
“Jean-Claude, Mestre da Cidade, saudações. Sua hospitalidade tem estado além de minhas
expectativas.” Ele sorriu, mas era só uma risada. Teatral e irritante, até mesmo sinistra, mas
não fez minha pele arrepiar.
“Diga a ele para soltar a Hannah,” eu disse.
“Você deve ser a escrava humana de Jean-Claude, Anita Blake.”
“Sim, prazer em conhecê-lo. Agora diga a seu filho para soltar nossa vampira, ou eu vou
colocar um grande buraco nele.”
“Você não ousaria ferir meu filho.”

62
Era minha vez de sorrir, um curto, abrupto, e não muito divertido sorriso. “Seu filho disse
praticamente a mesma coisa. Ambos estão errados.”
“Se você matar meu filho, eu irei matar você. Matar todos vocês.”
“Certo, deixe-me testar meu entendimento. Se ele não a soltar, O que ele irá fazer com ela?”
Fernando sorriu, e era baixo e sibilante. A risada era o suficiente. Em algum lugar lá estava o
amável corpo preto peludo e olhos grandes em forma de botão; Homem-rato. “Eu irei tê-la
por que o Viajante proibiu, e meu pai a deu para mim.”
“Não,” Willie disse. Ele deu um passo para frente mas Jean-Claude o parou.
“Não,Willie. Essa luta não é sua.”
Fernando escorregou a mão na virilha de Hannah. Somente as mãos de Jean-Claude
impediram Willie de correr em direção ao metamorfo.
Hannah disse, “Mestre, me ajude.”
“Ele não pode ajudá-la, criança,” Padma disse. “Ele não pode ajudar nenhum de vocês.”
Eu apontei dois centímetros a direito da cabeça de Fernando. O tirou ecoou na grande sala. A
bala fez um buraco na parede de pedras. Todos congelaram.
“A próxima bala vai no crânio de Fernando.”
“Você não ousaria,” Padma disse.
“Você fica falando isso. Vamos entender uma coisa direito, Mestre das Bestas. Fernando não
irá estuprar Hannah. De forma alguma. Eu o matarei primeiro.”
“Então eu irei matar você,” Padma disse.
“Certo, mas isso não trará de volta o seu filho, não é?” Eu deixei a respiração sair de meu
corpo e senti calma derramando em mim. “Decida, Mestre das Bestas, decida.”
“Eu sou o Mestre das Bestas,” ele disse.
“Eu não ligo se você é Papai Noel. Ele solta ela ou ele morre.”
“Jean-Claude, controle a sua escrava.”
“Se você pode controlá-la, Padma, seja meu convidado. Mas tome cuidado. Anita nunca blefa.
Ela irá matar seu filho.”
“Decida,” eu disse suavemente, “-decida-decida-decida-decida.” Eu queria atirar nele. Eu
realmente queria, por que eu sabia que se eu não o matasse agora, eu teria que matá-lo mais
tarde. Ele era muito arrogante para esquecer esse assunto, e também muito cego pelo poder
para deixar Hannah em paz, e ele não podia tê-la. Essa era uma linha que ele não podia
atravessar e sobreviver.
“Deixe ela ir, Fernando.” Padma disse.
“Pai,” o homem parecia chocado.
“Ela irá atirar, Fernando. Ela quer atirar. Não quer, Anita?”
“Sim, eu quero.”
“Balas de prata, eu presumo,” Padma disse.
“Nunca saio de casa sem elas,” eu disse.
“Deixe ela ir, Fernando. Nem mesmo eu posso salvá-lo de uma bala de prata.”
“Não, ela é minha. Você prometeu.”
“Eu obedeceria seu pai, Fernando.”
“Você irá me desobedecer, meu filho?” Havia um tom na voz de Padma que enviou uma onda
de calor pela sala. O começo de raiva. Algo foi arremessado sobre minha pele, um remoinho
de poder, mas não era poder de vampiro, não exatamente. Ele não estava tentando controlar
Jean-Claude. Este tinha sabor de sangue morno, uma dança elétrica que dizia licantropo. O
que não era realmente possível. Um vampiro não pode ser um licantropo, e vice-versa.
Fernando se encolheu, agarrando Hannah para ele como uma boneca, escondendo sua face
no cabelo loiro dela. “Não, pai, eu nunca irei desobedecer você.”
“Então faça como mando.”

63
Fernando arremessou Hannah para trás. Ela fugiu para Willie. Ele a segurou em seus braços,
tocando o sangue em sua face, borrando-o com o lenço de seda.
Eu abaixei a arma.
Fernando apontou sua mão escura para mim. “Talvez eu peça para você ser minha animal de
estimação.”
“Fala demais, garoto rato. Vamos ver se você é homem o suficiente para fazer isso.” Eu
estava atraindo ele. Eu percebi que eu queria que ele me atacasse. Eu queria uma desculpa
para matá-lo. Nada bom. Nada bom. Eu tinha que me acalmar ou eu iria conseguir que nos
fossemos mortos.
O leopardo preto, com os ombros mais altos que minha cintura, começou a rastejar para mim.
Sua barriga estava encostada no chão, músculos tensos e ondulados. Eu apontei a arma para
ele. “Não tente isso.”
“Elizabeth,” Padma disse.
O nome me assustou. Eu já havia visto Elizabeth com a forma humana uma vez, com uma
espécie de distância. Ela era um dos homens-leopardo locais. Eu havia presumido, até aquele
momento, que os homens–leopardo eram parte da comitiva que Padma havia trazido com ele.
Se Elizabeth era local, os outros leopardos devem ser também. A única coisa que eu tinha
certeza é que não eram nem Zane nem Nathaniel. Fora isso, podia ser qualquer um. Mas
Zane me reconheceu como sua alfa, assim eu o salvei de estar aqui. Se Zane fosse alfa, bater
nele teria me dado todos os leopardos, e nenhum deles estaria aqui. Ou essa seria a teoria.
Comigo sendo meramente humana e não uma licantropo, o Mestre das Bestas poderia ainda
ter chamado os gatos. Mas eu teria tentado mantê-los a salvo. Eu me perguntava se Elizabeth
havia tentado.
Ela rosnou para ele, e para mim, para todos. Seus dentes eram branco-marfim, e pelo menos
3,05 metros, muito impressionante. Tão próxima assim, mesmo um leopardo real poderia ter
chegado a mim antes de eu poder atirar. Não é bom caçar uma coisa grande com uma arma
pequena.
O leopardo rastejou novamente para frente. “Elisabeth.” Essa única palavra foi arremessada
queimando junto com minha pele e me fez suspirar. O leopardo veio acima do short, como ela
tinha atingido ao fim de sua coleira. Ela rolou no chão, lutando, cortando o ar.
“Ela te odeia, Anita,” Padma disse. Sua voz estava normal agora, convencional, mas seja o
que ele estava fazendo com a mulher leopardo, ainda estava acontecendo. Eu podia sentir
como formigas marchando em minha pele. Formigas com pequenos e vermelhos atiçadores
em suas mãos.
Eu olhei para Jean-Claude, me perguntando se ele podia sentir isso. Sua face estava vazia,
branca, ilegível. Se ele sentia a dor, ele não mostrou.
Eu não tinha certeza se admitir que eu podia sentir era uma boa idéia. “Pare,” eu disse.
“Ela irá te matar se eu deixar. Você matou quem ela amava, o líder deles. Ela quer sua
vingança.”
“Você fez seu ponto. Deixe-a em paz.”
“Misericórdia por alguém que te odeia tanto?” Ele deslizou pelo quarto, seus pés mal tocando
o chão, como se ele andasse com as correntes minúsculas de seu próprio poder.
Eu deveria estar sentindo seus poderes vampíricos. Mas ele estava quase vazio, como se
alguma coisa o estivesse mantendo escondido para me proteger. Eu olhei para Jean-Claude
novamente. Ele era poderoso o suficiente para nos manter a salvo agora? O triunvirato tinha
ajudado ele muito? Sua face não me dizia nada, e eu não ousei perguntar, nada na frente do
Mestre das Bestas.
O leopardo deitou ao seu lado, ofegante. Ela ficou me olhando com seus olhos pálidos, e não
era um olhar amigável.

64
“Quando eu os chamei,” Padma disse. “Ela tentou negociar comigo. Eles não têm nenhum
alfa e ainda assim ela tentou negociar. Elizabeth traria os leopardos sem nenhuma luta, da
forma que eu quisesse, se eu deixasse ela matar você. Ajudasse ela a matar você.” O Mestre
das Bestas se moveu para atrás dele, e uma pequena e esbelta mulher parada ao lado dele,
como se ela estivesse esperando por ele chamá-la no corredor. Como um cão bem treinado.
Ela estava nua exceto pelo colar que devia pesar 2 kg e queimava com diamantes. Sua pele
era pálida mas ainda escura como um Americano-Africano vindo da Irlanda. Contusões
decorando seu rosto, correndo manchas roxas por todo seu corpo.
Ela era uma das mais bonitas mulheres que eu já havia visto, mesmo com os machucados.
Ela era perfeitamente proporcional da cabeça aos pés. Seus olhos eram castanhos e
desviaram do leopardo no chão para Jean-Claude e para o homem rato. Para frente e para
trás, para frente e para trás, até finalmente pararem e mim.
Ela implorou com os olhos, e eu não precisei de palavras para saber o que ela estava dizendo,
Me Ajude. Isso eu entendi, mas por que eu?
“Quando Elizabeth veio, ela trouxe os outros com ela. Eu escolhi Vivian como um presente
para mim.” Padma ofegou seus cabelos distraidamente, da forma que se faz com um
cachorro de estimação. “Eu darei a ela um presente por cada dano que eu fizer a ela. Ela será
rica, se sobreviver.”
O ar em torno dela tremia como o calor em uma estrada no verão. Outro leopardo que eu
nunca havia conhecido. Quantos deles estavam à solta? Quantas pessoas Elizabeth havia
entregado para os vilões?
“O que é isso, um estupro pai e filho?” eu perguntei.
Padma franziu para mim. “Estou ficando cansado de você, Anita Blake.”
“É mutuo.” Eu disse.
“Nós forçamos o Viajante a sair do corpo de seu hospedeiro, mas seu poder ainda te protege.
Ele estava mantendo você protegida dos vampiros. Agora parece que ele está protegendo
você das minhas ondas de poder. Uma pena. Você iria tremer ao sentir.”
Jean-Claude tocou meus ombros levemente. O toque era o suficiente. Eu não estava aqui para
um comércio com o Mestre das Bestas. Matar ele parecia uma boa idéia, mas eu já conheci
vampiros velhos que morriam com balas de prata. Seria sorte minha se Padma fosse um
deles.
Padma chamou os leopardos até ele. O amarelo circulou suas pernas como um grande gato.
Elizabeth sentou-se como um cachorro bem treinado.
Willie e Hannah foram esquecidos no quarto. Ele a tocou gentilmente, como se ela fosse de
vidro. Eles se beijaram, e um toque de seus lábios disse tudo, a ternura, o amor. Willie e
Hannah foram feitos um para o outro. Isso era lindo.
“Você vê por que eu a dei para meu filho. A angústia de tais abusos seria causada por ambos.
Mas o Viajante precisava de seus corpos.”
Eu o encarei. Era ruim o suficiente quando eu pensei que a escolha era só por que Hannah era
loira e amável, mas saber que foi crueldade e não só luxúria – isso tornou pior.
“Seu filho da puta,” eu disse.
“Você está tentando me chatear?” Padma disse.
Jean-Claude me tocou novamente. “Anita, por favor.”
Ele raramente utilizava meu nome. Quando ele o fazia, ou era algo muito sério ou algo que eu
não gostaria. Dessa vez eram os dois.
Eu não sabia o que eu estava prestes a dizer, por que de repente o Viajante levantou de seu
escudo. O poder de Padma caiu sobre nós. Aquilo trovejou sobre mim, enchendo minha
cabeça, lutando contra cada pensamento que eu tinha. Eu caí de joelhos como se eu tivesse
sido atingida por um martelo entre meus olhos.
Jean-Claude ficou em pé, mas eu senti ele escorregar ao meu lado.
65
Padma sorriu. “Ele não poder entrar em outro hospedeiro e manter seu escudo.”
Uma voz veio como um vento atravessando a sala. Eu não tinha certeza se havia escutado a
voz alta ou se estava dentro de minha cabeça. “Ele irá precisar de seu poder no corredor. Eu
escolhi tirar o escudo. Nada de jogos Padma, deixe que eles vejam o que está além do
corredor.” Havia um perfume com as palavras; cheiro de terra fresca, o odor de raízes saindo
do chão. Eu podia quase sentir o solo entre minhas mãos. Apertei minha mãos em torno da
Browning até que tremeu, e eu ainda não conseguia me livrar da sensação da terra entre as
mãos e a arma. Mesmo olhando para a arma, vendo que estava limpa, a sensação não foi
embora.
“O que está acontecendo?” eu perguntei. Surpresa e satisfeita como se pudesse formar uma
frase coerente.
“Eles são do conselho,” Jean-Claude disse. “Eles tiraram, como posso dizer, suas luvas?”
“Merda.” Eu disse.
Padma sorriu. Ele me encarou, e eu sabia que ele estava se concentrando em mim. Seu poder
bateu em mim, em mim. Foi algo entre colocar sua mão em um fio elétrico e empurrar a
mesma mão no fogo. O calor elétrico comeu meu corpo. O calor se reuniu no centro de mim.
Era como um punho flexível crescendo mais e mais. Se ele espalhasse seus dedos dentro de
mim, ele teria me dividido em vários pedaços, me estourado de dentro para fora com seu
poder. Eu gritei.

66

Вам также может понравиться