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Resenha bibliogriifica 2 Capitalismo desorganizado ‘OFFE, Claus, Capitalismo desorganizado. Sio Paulo: Brasiliense, 1989. 322 p. BRUNo Pino W. REIs* Num contexto como o que vivemos no Brasil de hoje, em que os “pacotes” econdmicos governamentais so reccbidos com crescente ceticismo e as opinives tendem a ser convergidas para a necessidade de solugies negociadas entre os principais atores coletivos da nossa economia, nada mais apropriado que rever os lemas e impasses com que esto se defrontando as democracias européias, ‘ondesolucdes de compromisso entre sndicatos, empresarios ¢ Estado vem regendo hdécadaso funcionamento desuas economias’E precisamente isto que Claus Offe trata ao longo dos oito ensaios de Capitalismo desorganizado. [Nopimeir esi, economia poltiea do mercado de rabalho, em co-aviora ‘com Karl Hinrichs, s40 constatadas a fragmentagio do mercado de trabalho, bem ‘como as desvantagens estratégicas que pesam sobre a forga de trabalho em sua interagio com os empregadores, além da superposigéo de direitos de compradores evendedores de forga de trabalho. A assimetria na capacidade estratégica das partes € 0 conflito potencial delineado pela su ‘de direitos constituem, para os futores,rabessufcontes paras regulamenagso do mercado de trabaifo pelo Estado, que estaria, juntamente com os sindicatos, diante de um problema de maximizacéo: reduzr as diferencas de poder entre a oferta ea demanda de forca de trabalho, sem erradicé-tas, pois nesse ponto, segundo os autores, os empregadores se desinteressariam do mercado de trabalho. No segundo ensaio, O futuro do mercado de trabalho, Offe detecta aquele que talvez.seja o mais importante dos problemas do mercado de trabalho: seu “fecha- mento” ia pivlgis copporaivs bares 8 lnre movimentagéo da milo-de- obra, como decorréncia das estratégias racionais do Estado ¢ dos agentes no mercado. Vale a pena destacar o “aparente” paradoxo de que 0 mercado sai da + Doluped. eg, Plan, Econ, Rive Janeiro, v2, 419-422, ag0.1991 situago de concorréncia perfcita a partit do momento em que os atores intcressa- ‘dos passam a agir racionalmente, em fungio de seus interesses, e tentam construit monop6lios ou oligopdlios que thes garantam vantagens estratégicas em sua com- petig8o com os demais agentes no mercado. Segue-se a conclusto de que, excluida 4 agio do Estado — por meio de leis antitrustes ou outras —, um mercado em concorréncia perfeita ¢ logicamente incompativel, a longo praza, com a suposigéo de agentes maximizadores, Alem sso, 4 nova conjuntura emergent desde & década de 70 (na qual Offe inclui o fim do ciclo de erescimento econdmico acelerado, observado nos anos do pés-guerra) e as perspectivas de um funciona- mento adequado do mercado de trabalho ficam seriamente comprometidas. Feita a ressalva de que eventuais configuragdes institucionais alternativas 30 ‘mercado de trabalho devem preservar as liberdades individuais em nivel compativel com oestado de direito exigido pela democracia moderna, Offe mostra a insuficién- gia de diversas opaties conbecdas,recusando nfo somente a alternatva neoliberal (pela sua inviabilidade politica a longo prazo, dada a sua rejeicéo pelos sindicatos), como também o recurso indefinido a previdencia social (por dificuldades crescentes de financiamento) ¢ & protegdo juridica a0 trabalho (por fazer cair a oferta de femprego). AS sugestdes de Offe, de cardter obscuro e francamente especulativo, revelam de mancira eloguente a complexidade do problema e levam-no a constatat a impossibilidade da recuperagio do pleno emprego a curto prazo. A partir dessa constatagao, no terceiro ensaio, Trés perspectivas para o problema do desemprego, Ofte procura descobrir qual seria aestratégia indicada para alcancar ‘© pleno emprego, a0 mesmo tempo em que se pergunta se este ¢ realmente desejavel. O primeiro diagnéstico examinado, denominado “ortodoxo", atribui 0 desemprego @ uma intromisséo indevida do Estado no mercado de’trabalho, mantendo os salérios acima do nivel de equilibrio. A solugio ortodoxa envolveria ‘a queda dos saldrios reais que, aumentando os lucros (suposta a sustentaco da ‘demanda por meio de inovagbes),clevaria os investimentos ¢, conseqiientemente, ‘ nivel de emprego. Offe rejeita ésta estratégia a0 demonstrar, além da faldcia no ‘conceito de “salério de equilfbrio” que, no seu entender, admitiria pelo menos tres ‘definigbes, o carder incerto do nexo postulado pela ortodoxia entre lucro, investi- mento ¢ emprego. A sustentacio da demanda através de inovagbes é imprecisa, ‘dadas as caracterfsticas altamente improvéveis que os novos produtos tefiam de possuir (Iais como possibilidade de consumo em massa, produgio inofensiva 20 fncio ambiente, et) Ainda mals importante, forgoso roconhece a inviablidade da estratégia ortodoxa para 0 pleno emprego, se forem consideradas as escolhas racionais do governo, dos empregadores ¢ dos sindicatos dentro do de ‘arganha do conflito distributive, Segundo Offe, a nenhum dos trés interessa prioritariamente o pleno emprego, parecendo pouco plausivel um cendrio que Viabilize a adogdo de uma estratégia como a ortodoxa com vistas ase alcangar esse objetivo. ‘O segundo diagnéstico, que Otfe chama de “realista", parte da premissa de que © pleno emprego & impossivel e deve ser abandonado como meta, Em vez de oferecer emprego a todos que desejem trabalhar, os “realistas” procuram desincen- livara oferta de mao-de-obra, retirando do mercado de trabalho algumas parcelas da populagéo (05 mais freqdentemente mencionados, segundo Offe, so, pela 20 esq Plan. Econ, ¥ 21,2060. 1991 cordem, os imigrantes, as mulheres — principalmente as casadas —, 0s idosos ¢ 0s ovens), Os “eats” que advogum essa posiura parecem achar poswel que ‘aqueles que nao encontram lugar no mereado de trabalho possam vir, sempre que {quiserem, a encontrar uma forma de ocupagio socialmente reconhecida como tt cexagerando a capacidade de absorgio do desemprego por atividades auto-organi- ‘zadas, comunitérias, ete. O terceiro diagnéstico consistiria na desvinculagio da receita do sistema previ- dencisrio do nivel de emprego, transformando-se o que era “um beneficio em troca de contribuigoes pagas” num “direito do cidadso a uma renda minima’. Surpreen- dentemente, porém, Offe nao entra em detalhes acerca do crucial problema do financiamento deste sistema. Constatadas, portanto, a fragmentaczo do mercado de trabalho € a enorme hheterogencidade da forga de trabalho, ainda se fundamenta a hip6tese da unidade de interesses dos trabalhadores? O sexto ensaio, Diversidade de nteressee unidade sindical, em co-awtoria com Rolf G. Heinze, Karl Hinrichs e Thomas Olk, tenta responder esta pergunta. Os autores vao dizer que sim, desde que os sindicatos estendam sua ago aos desempregados. Cada vez mais enfraquecidos politicamente pela crescente heterogencidade dos trabalhadores, que passam a experimentar © esemprego como um problema individual, e nio mais “de classe", aos sindicatos aberia — abandonada a possibilidade do pleno emprego —a tentativa de uma “retirada organizada” de méo-de-obra do mercado de trabalho, associada a uma estratégia que englobasse os expulsos do mercado, E uma estratégia estranhamente parecida com a “realista’, que Otfe descreveria— e critcaria — no tercciro ensaio. Além disso, os autores nao se detém o bastante sobre o problema crucial de se determinar até que ponto € plausivel esperar que os sindicatos venhiam a estendet efetivamente sua representagio até 0s desempregados, hipdtese que, a primeira vista, parece bastante improvavel,seja pela l6gica que preside a dindmica da politica interna dos sindicatos, seja por dificuldades estratégicas associadas a0 reduzido poder de barganha da massa de desempregados. Este € um tema extraordinariamente convergente com os estudos que José Marcio Camargo e Edward J. Amadeo, do Departamento de Economia da PUC-RJ, ‘vem realizando acerca da distribuigao de renda e da inflagio no Brasil.| Também. eles apontam para a heterogeneidade da forga de trabalho € a conseqiente frag- mentagao do mercado de trabalho como forte empecitho a uma atuacao adequada do movimento sindical brasileiro, Isto porque, como a forga de trabalho € mais ‘organizada nos setores mais oligopolizados da economia (estes, conseqiiente- mente, possuem maior capacidade de repasse dos seus aumentos salariais aos Preqos), 0 aumento do grau de organizago da atuacio sindical tem contribuido erversamente para o incremento da inflagio e da concentragio de renda no pals, ‘um processo que redunda no empobrecimento das setores menos organizados da 1 es Ams ome), gm Po ala Ra eh tastes a ree fe er coca te ena Resenhabibiogjica2 a forga de trabalho nacional. E indtil, todavia, esperar que o rompimento desse cfrculo vicioso parta de uma iniciativa unilateral do movimento sindical, pois ele ‘tem uma vasta clientela cujos interesses € obrigado a atender, € ndo pode ser responsabilizado por todas as consequéneias ndo-intencionais de sua atuacéo. Nos demais ensaios, Offe trata de temas variados, como o crescimento do setor de ervigos, asuposta perda de centralidade da categoria “trabalho” na ciéncia social ‘contemporanea,o problema da atribuigdo de status piblico aos grupos de interesse, as recentes derrotas cleitorais sofridas pelos partidos social-democratas na Euro- pa. Visto da perspectiva de quem vive no Brasil, soa irdnicoo titulo do livzo, pois o ‘capitalismo desorganizado” de Claus Offe parece altamente organizado quando comparado a “selva” na qual opera a nossa oligopolizada economia, com sindicatos —‘amto patronais quanto opersrios — de pequena representatividade e limitada capociade de ago. Contudo ro nos deserve problemas com os uals mal ‘Ou mais tarde (eremos de lidar, se quisermos tentar tilhar (0 que parece inevitavel) 0 caminho da negociacdo € do pacto para o enfrentamento dos graves problemas de nossa economia—e, conseqientemente, de nossa precéria democra- ia Bi jografia AMADEO, E, J., CAMARGO, J. M, Choque ¢ concerto, Dados, jo de Janciro, v.32, ‘1, p.S-21, 1989. Relagtes entre capital e rabatho no Bras: pecepedo e aracao dos crores sola Ro de Jneiro: POC, Departamento de Eoonomi, 361990 (resto para Discusio} a Pesg Plan. Keon, ¥21,n. 2,950. 191

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