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http://dn.sapo.pt/2008/04/11/opiniao/a_qualidade_desta_democracia.html

A QUALIDADE DESTA
DEMOCRACIA

Fernanda Câncio
jornalista
fernanda.m.cancio@dn.pt

Uma jornalista apresenta um projecto de documentários a uma produtora de audiovisual. A produtora


acolhe o projecto e apresenta-o a um canal público de TV, que encomenda os documentários. Um partido
político resolve tratar esta decisão como uma "contratação" da jornalista para o canal público e
qualifica-a de "pornográfica", anunciando um "requerimento" para "pedir explicações". E que apresenta o
partido, como fundamento de tão trepidante indignação e fino palavreado? A inexperiência televisiva da
jornalista (falso); as suas opiniões (intolerável); a sua vida privada (abjecto).

Não, não sucedeu na Venezuela de Chávez nem na Rússia de Putin, para nos ficarmos apenas por países
com democracias, digamos, de qualidade duvidosa, e onde a intimidação ostensiva de jornalistas é
comum. Foi por cá e o partido dá pelo nome de PSD - o mesmo que enquanto se diz "muito preocupado
com a qualidade da democracia portuguesa" interdita congressos a jornalistas por "não serem
confiáveis".

O que, convenhamos, bate certo, deprimentemente certo. Um país no qual um partido que foi de Sá
Carneiro, que forneceu o actual presidente da República e que ainda hoje pretende ser alternativa
credível de governo acha que se pode permitir este comportamento de ditador carroceiro é um país no
qual a qualidade da democracia deixa a desejar. Não tanto, claro, que este tipo de gesto dê dividendos;
não tanto que não se erga, da esquerda à direita (sobretudo na blogosfera) um coro de indignações, a
que se junta a do Sindicato dos Jornalistas, acusando este atentado à constitucionalmente sagrada
liberdade de expressão - mas é pouco, como consolo.

Sabemos que o carácter precioso da liberdade tem, para muita gente, dias - como quem diz cores,
cartões, conveniências. Só que quando dirigentes partidários com assento no parlamento e passagem
por cargos governativos acham que podem imiscuir-se, publicamente e sem qualquer disfarce, nas
opções editoriais de um canal público e na liberdade profissional de um jornalista, procurando condicionar
o primeiro e assumindo a pura perseguição pessoal do segundo, ante o silêncio da maioria das sentinelas
dos fascismos que amanhecem e a cumplicidade acéfala de outros jornalistas - aqueles que seguram o
microfone e a caneta e a quem jamais ocorre a pergunta óbvia, a saber, qual é mesmo o problema do
PSD com esta jornalista -, chegou-se a um novo patamar. Aquele em que tem de se explicar tudo do
princípio. O que é um jornalista e para que serve, o que é a vida privada e para que não deve jamais
servir. Em suma: o que é a civilização e a democracia. E a decência, já agora. Sabendo, claro, que há
mentes pornográficas nas quais nenhum princípio tem guarida.

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