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O poema descreve as mãos como símbolo da condição humana, capazes de nos conectar ao divino através da bondade e compaixão, mas também frágeis e sujeitas aos sofrimentos da vida. As mãos representam a interpenetração do humano e do divino no homem, que pode ver além dos limites terrenos pela sensibilidade das mãos.
O poema descreve as mãos como símbolo da condição humana, capazes de nos conectar ao divino através da bondade e compaixão, mas também frágeis e sujeitas aos sofrimentos da vida. As mãos representam a interpenetração do humano e do divino no homem, que pode ver além dos limites terrenos pela sensibilidade das mãos.
O poema descreve as mãos como símbolo da condição humana, capazes de nos conectar ao divino através da bondade e compaixão, mas também frágeis e sujeitas aos sofrimentos da vida. As mãos representam a interpenetração do humano e do divino no homem, que pode ver além dos limites terrenos pela sensibilidade das mãos.
So os mais belos sinais da terra. Os anjos nascem aqui: frescos, matinais, quase de orvalho, de corao alegre e povoado. Ponho nelas a minha boca, respiro o sangue, o seu rumor branco, aqueo-as por dentro, abandonadas nas minhas, as pequenas mos do mundo. Alguns pensam que so as mos de deus eu sei que so as mos de um homem, trmulas barcaas onde a gua, a tristeza e as quatro estaes penetram, indiferentemente. No lhes toquem: so amor e bondade. Mais ainda: cheiram a madressilva. So o primeiro homem, a primeira mulher. E amanhece. Eugnio de Andrade, in "At Amanh"
Tpicos de anlise:
1. O poema trata o tema da interpenetrao entre a dimenso
terrena e a dimenso divina do homem, sendo esta um prolongamento daquela (Os anjos nascem aqui). 2. Os verbos no presente do indicativo apontam simultaneamente ou alternadamente para o momento vivenciado pelo sujeito potico e para a intemporalidade (qualquer tempo): Aqui esto as mos/
So os mais belos sinais da terra/ Os anjos nascem aqui. Exprime
uma articulao entre o individual (relativo ao poeta) e o universal, o momentneo e o intemporal (relativo a todos os homens e todos os tempos). 3. O ser humano surge representado atravs de uma sindoque (referncia parte para significar o todo) em que as mos (a parte) representam o todo o homem. Esta imagem justifica-se pelo facto de as mos serem a parte mais sensvel do corpo atravs delas que estabelecemos contacto fsico com o mundo. 4. Alguns pensam que so as mos de deus / Os anjos nascem aqui O homem, preso limitao enquanto ser terreno pode projetar-se para alm dele e aceder dimenso divina sem deixar a sua condio humana. atravs das mos que o divino se revela. Assim, o presente do indicativo remete ao mesmo tempo para o aqui e o agora do homem e para o tempo eterno (intemporal) do divino, pois ambos coexistem na mesma realidade as mos. 5. Aqui esto as mos O advrbio aqui, associado ao presente do indicativo esto, remete para a associao das mos ao momento da enunciao, ou seja o momento da escrita, que realizada com as mos, e tambm para a exposio da fragilidade das mos do homem so frgeis porque esto expostas e sem qualquer proteo. 6. So os mais belos sinais da terra Este verso remete para a ideia de que as mos pertencem ao mundo concreto, terreno, mas vo-se progressivamente desligando dele mos de deus, Os anjos nascem aqui. tambm a passagem do plano terreno para o plano intemporal de conotao divina. A alternncia e contaminao entre estes dois mundos mantem-se ao longo de todo o poema: mos de deus/ mos de um homem. 7. So o primeiro homem, a primeira mulher. E amanhece. Estes versos sugerem dois planos: o momento da enunciao vivido pelo poeta (amanhece aqui e agora, considera o poeta) e o momento da criao da humanidade com a referncia ao primeiro homem e primeira mulher referncia bblica criao divina do ser humano o casal Ado e Eva.
8. Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco, aqueo-as por dentro, abandonadas nas minhas, as pequenas mos do mundo. O poeta usa as mos como intermedirias entre ele e o mundo. Atravs delas respira o mundo e atravs delas exprime poeticamente as suas realidades. Por isso, tambm as mos do poeta so as mos de deus porque esto povoadas de anjos que lhe permitem ver o mundo de uma forma especial. este olhar especial que d ao poeta e s suas mos um toque divino. 9. No entanto, o sujeito potico reconhece, logo a seguir, que no pode libertar-se realmente da sua condio humana e que tem necessariamente de conformar-se com ela e com as limitaes que ela acarreta: () so as mos de um homem, trmulas barcaas onde a gua, a tristeza e as quatro estaes penetram, indiferentemente. o reforo da ideia fragilidade humana, representada nas mos desde o incio do poema, apesar de pertencerem a um ser (o poeta e todos os serem humanos) com um corao habitado por amor e bondade. So estas qualidades que tornam o ser humano divino, apesar de frgil. Por isso, o poeta afirma: No lhe(s) toquem.