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São Luís – MA
2008
FRANCISCO DAS CHAGAS MACHADO PEREIRA
São Luís-MA
2008
FRANCISCO DAS CHAGAS MACHADO PEREIRA
Banca Examinadora
___________________________________________
Prof. ª Karla dos Anjos
Orientador
___________________________________________
1ª Examinador(a)
___________________________________________
2ª Examinador(a)
Aos meus pais, razão do meu esforço; a
minha esposa Cláudia,
amiga e companheira de todas as horas
e, aos meus irmãos pelo apoio e
dedicação.
AGRADECIMENTOS
“A propriedade particular e os
planos de urbanização não são mais
pólos que se combatem, mas
elementos de organização
territorial...”
Veiga de Farias
Resumo
Palavras-chave
Loteamento – Burocracia – Registro – Irregularidades – Regularização
Abstract
The word to divide land into parcels means to divide, to become the land in certain
number of small lands é to transform a soil into vérios lots. It constitutes in the soil
subdivision in lots for urban construction. The parcelamento é approved first for the
City, being that in the city of São Luís the land division processes must be submitted the
SEMUR (City department of Urbanism), later for the Notary's office of Real estate
record . The phases of the process are burocréticas and are citizens to the urbanísticas
rules. The proprietério does not have freedom to parcel out its property of the form that
to understand well, therefore must obey the rigorismo of the law to obtain the necesséria
approval and if not to subject the sanctions, which can be criminal, civil and
administrative.
Word-key
Land division - Bureaucracy - Register - Irregularities - Regularization
Sumário
Introdução .............................................................................................................
I- Origem histórica da legislação imobiliária e parcelamento do solo.................
1.1 – Generalidades da lei 6.766/79......................................................................
II- Parcelamento do Solo.........................................................................................
2.1- Arruamento......................................................................................................
2.2- Desmembramento e loteamento.......................................................................
III- Espécies.............................................................................................................
3.1- Loteamento rural.............................................................................................
3.2- Loteamento fechado........................................................................................
3.3- Loteamento irregular........................................................................................
3.4- Loteamento clandestino...................................................................................
IV- Loteamento Irregular e/ou Clandestino.............................................................
4.1- Regularização dos loteamentos.........................................................................
4.2- Formas de regularização..................................................................................
4.3- Reflexos da regularização.................................................................................
4.4- Conseqüências jurídicas....................................................................................
V- O papel do Ministério Público na regularização...................................................
5.1 - Aspectos penais tratados pela Lei 6.766/79.......................................................
Conclusão...................................................................................................................
Referências.................................................................................................................
Introdução
O direito de propriedade é sem dúvida um dos direitos mais importantes tutelados pela
nossa sociedade. No Brasil, esse direito é efetivado constitucionalmente, como exemplo
dessa afirmação, temos na Constituição o artigo 5º, inciso XXII, afirmando que “é
garantido o direito de propriedade”, e ainda, no inciso XXIII, prevê que “a propriedade
atenderá sua função social”.
Com o passar dos anos, foram poucas as normas publicadas a respeito desse assunto. A
lei mais importante que dispõe sobre o parcelamento do solo, atualmente é a Lei nº
6.766/79.
Antes dessa lei, o que regia o parcelamento era o Decreto-Lei nº 58/37, regulamentado
pelo Decreto-Lei nº 3.079/38, que se estabelecia entre muitas falhas, pois não tratava de
alguns assuntos importantes. Contudo, mesmo depois da Lei 6.766/79, ainda há algumas
lacunas a serem solucionadas.
Na lei de Parcelamento do Solo Urbano, não consta uma matéria específica sobre a
maneira de regularização de loteamentos irregulares ou clandestinos; a lei é omissa e
não diferencia inúmeras espécies de irregularidades.
À medida que vão surgindo casos concretos a serem solucionados, os juristas baseiam-
se em jurisprudências, doutrinas e pesquisas para resolução dos conflitos.
Deste modo, o foco de interesse do presente trabalho é essencialmente, as hipóteses de
incidência das irregularidades dos loteamentos, sejam elas do ponto de vista da
propriedade em si ou do enfoque dos adquirentes dessas áreas.
I - Origem histórica da legislação imobiliária e parcelamento do solo
Logo após, com a Lei nº 1.237, de 24 de setembro de 1864, criou-se o Registro Geral, o
qual ordenou a escrituração em livros de todos os direitos reais imobiliários,
contemplando a transcrição como modo de transferência do domínio, porém, apesar das
falhas, essa lei foi de grande importância para o sistema registrário da época. O
princípio da publicidade não havia sido incorporado integralmente e o princípio da
especialização veio a ser consagrado com o Decreto nº 169-A, de 19 de janeiro de 1890.
Como a publicidade era falha, a transcrição não consistia prova de domínio; o Decreto
nº 370, de 02 de maio de 1890, reafirma os princípios do Decreto anterior.
O Código Civil de 1916 traz o conceito de proprietário. A este era dado o direito de
usar, gozar e dispor de seus bens, desta forma, o proprietário de uma gleba poderia
aliená-la a quem bem entendesse, pois a legislação não dizia quais eram as limitações
para alienar um ou mais lotes. Não havia regulamentação no Código Civil, nem lei
especial sobre determinado assunto.
Foi a primeira legislação a determinar que as plantas deveriam ser aprovadas pela
Prefeitura Municipal, mas o Decreto era claro quanto ao seu teor, pois fazia menção aos
loteamentos para venda de lotes a prestação. Tais disciplinas, contudo, não traziam
normas gerais sobre direito urbanístico, o que fez com que proliferassem ainda mais os
loteamentos clandestinos, trazendo prejuízos irreparáveis tanto aos adquirentes dos lotes
como para a estrutura urbanística da cidade.
Em 1988, com o advento da Constituição Federal, em seu artigo 182, que trata da
política urbana, nos trouxe que cabe ao Poder Público Municipal, mediante lei
específica, exigir do proprietário de solo urbano não utilizado e não edificado a
promoção do parcelamento.
Com a Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, o novo Código Civil entrou em vigor,
porém, no que se refere ao parcelamento do solo, nada foi alterado. Trouxe apenas
inovações sobre o direito de propriedade. O caput do artigo 1228 conceitua o direito de
propriedade e o parágrafo 1º, traz as inovações referentes às questões sociais:
Art. 1.288. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de
reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades
econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o
estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico
e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
Trata-se de requisitos mínimos, ou seja, dos aspectos primordiais aos quais devem
obedecer os loteamentos, ressalvando que ao Município é lícito exigir, por meio de lei
própria ou pelo plano diretor, outros requisitos além dos mencionados nos referidos
preceitos legais. Especial atenção deve ser dada ao fato da Lei nº 6.766/79 decorrer de
competência legislativa da União Federal, ressalvada, contudo, a competência dos
Estados, Distrito Federal e Municípios para fixar normas que atendam as peculiaridades
locais e regionais, o que se revela de extrema importância para regular o
desenvolvimento social e urbano.
O fato é que a Lei Federal estabelece diretrizes gerais para o parcelamento do solo
urbano, possibilitando, assim, que a administração pública municipal fixe condutas
próprias quanto ao parcelamento do solo, porém, considerando as particularidades
locais. Nesse aspecto, em que pese a existência ou não do Plano Diretor, a Lei de
Zoneamento Urbano e o Código de Obras, por exemplo, continuam a ter validade, isto
porque o plano diretor é instrumento básico, mas não único para traçar critérios de
política urbana. Tal entendimento vem corroborado por Hely Lopes Meirelles que diz:
Foi a lei 6.766/79 que deu início ao parcelamento do solo urbano. No Brasil, desde
então, quase não há legislação pertinente sobre o assunto. Tal legislação baseia-se pelos
princípios constitucionais relacionados ao direito de liberdade de iniciativa e de
propriedade. Por liberdade de iniciativa, entende-se que o indivíduo pode administrar
sua propriedade da maneira que lhe convém, porém, há restrições urbanísticas que
devem ser respeitadas.
O artigo 2º da lei 6.766/79 dispõe que “o parcelamento do solo urbano poderá ser feito
mediante loteamento ou desmembramento, observadas as disposições desta Lei e as das
legislações estaduais e municipais pertinentes”.
A mesma lei, em seu artigo 4º, define lote como sendo “o terreno servido por infra-
estrutura básica, cujas dimensões atendem os índices urbanísticos definidos no plano
diretor ou em lei municipal, para a zona em que se situe”. Este artigo apenas estabeleceu
que os municípios possuem competência própria para legislar sobre o parcelamento do
solo, obedecendo ao disposto em lei.
Como infra-estrutura básica, entende-se que seja apenas o necessário à condição de
moradia do indivíduo, para que este não viva em condições sub-humanas. É necessário,
assim, que tenha pelo menos os equipamentos públicos, como exemplo, os
equipamentos comunitários que são educação, cultura, lazer e os equipamentos urbanos,
que podem ser considerados água, esgoto, energia elétrica e rede de telefonia.
2.1 - Arruamento
De acordo com José Afonso da Silva (1981, p. 380), “arruamento é a divisão do solo
mediante a abertura de novas vias de circulação e a formação de quadras entre elas”. Ou
seja, a abertura de ruas não basta para definir arruamento como instituto do
parcelamento do solo, além das ruas, é necessário que se formem quadras.
Com a promulgação da lei 6.766/79, a distinção ficou clara, porém, alguns proprietários
de grandes áreas continuaram desmembrando seus lotes no mínimo permitido por lei;
vendiam essa área já desmembrada e depois, desmembravam novamente até venderem
toda a área e atingirem assim seu objetivo que era burlar a lei. O autor João Baptista
Galhardo considera desmembramento como: A subdivisão de gleba em lotes destinados
à edificação, com aproveitamento do sistema viário existente, desde que não implique
na abertura de novas ruas e logradouros públicos, nem no prolongamento, modificação
ou ampliação dos já existentes. (GALHARDO, 2004, p.19).
No desmembramento se aproveita todo o equipamento urbano, como por exemplo, as
guias, sarjetas, água, sistema de esgoto e eletricidade. O mesmo autor conceitua
loteamento como sendo “a subdivisão de glebas em lotes destinados à edificação, com
abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento,
modificação ou ampliação das vias existentes, tudo por conta do loteador”. Lotear,
portanto, significa transformar uma gleba grande em vários lotes.
III – Espécies
Também é possível o parcelamento do solo para fins urbanos dentro da zona rural. Se o
imóvel rural estiver localizado em zona urbana ou de expansão urbana, o loteamento
não necessita de aprovação do INCRA. Como exemplo desses loteamentos, cita-se os
sítios de recreio.
Dispõe o capítulo XX, seção V, no item 148 das Normas de Serviço da Egrégia
Corregedoria Geral de Justiça do Estado de São Paulo:
Item 148 – o parcelamento de imóvel rural para fins urbanos deve ser precedido de:
a) lei municipal que o incluía a zona urbana ou de expansão urbana do Município;
b) averbação de alteração de destinação do imóvel, de rural para urbano, com
apresentação de certidão expedida pelo INCRA.
Deste modo, quando o imóvel passa do perímetro rural para perímetro urbano, é
necessário anuência do INCRA para cancelar o cadastro de imóvel rural e, por
conseqüência, o imóvel será cadastrado como urbano para efeito tributário.
Existe uma lacuna com relação a esses loteamentos, pois se as vias de circulação e
praças pertencem ao domínio público, deveriam ser de acesso público, e não os são, por
se tratar de loteamento fechado. Neste caso, entende-se que a Prefeitura através da
permissão ou concessão de uso, pode dar exclusividade aos moradores desse tipo de
loteamento.
A visão de José Afonso da Silva (1981, p. 400) é de que o loteamento fechado vem a ser
“modalidade especial de aproveitamento condominial de espaço para fins de construção
de casas residenciais térreas ou assobradadas ou edifícios”.
Tal loteamento é feito sem a aprovação da Prefeitura, sem ter o projeto e, quando há,
está em desarmonia com o que pede a legislação, ou mesmo quando não cumpre o prazo
estipulado, estes loteamentos geralmente não possuem registro junto ao Serviço de
Registro de Imóveis, porém são passíveis de regularização. Conforme afirma Narciso
Orlandi Neto (1985, p. 08), “o parcelamento pode estar contaminado por irregularidades
urbanísticas, administrativas, registrárias e de execução”. O mesmo autor assegura ainda
que: Não existe na Lei de Parcelamento do Solo Urbano, disciplina da forma de
regularização dos parcelamentos irregulares. Existe quando muito, a previsão da
possibilidade de regularização (artigos 38 e ss, 40 e ss, e 41 da lei 6766/79). Não cuida a
lei, por exemplo, da irregularidade e, em conseqüência, não mostra como podem e
devem ser supridas. É omissa, por fim, em relação àquelas atuações irreversíveis.
(ORLANDI NETO, 1985, p. 06).
O vício não sanado impede que o loteador parcele a gleba naquele determinado local; se
este o fizer, surgirá um loteamento irregular.
Os casos mais freqüentes de irregularidades são os que descumprem os requisitos
urbanísticos e as exigências estaduais. No primeiro caso, a Municipalidade fica
“prejudicada”, pois em alguns loteamentos, a população que adquiriu tais lotes já
realizou a construção de suas casas, algumas delas vivendo em condições precárias,
tanto por ausência dos requisitos urbanísticos ou pela falta de infra-estrutura do local.
Por outro lado, há a legislação municipal que não concorda com o crescimento
desorganizado da cidade. Em alguns casos, o Poder Público pode exigir que o loteador
recomponha o dano causado ao interesse público, pois se houver dano, ele tem a
obrigação de indenizar.
Quando o loteador já alienou a maioria dos lotes, fica difícil para o Poder Público fazer
exigências referentes à regularização. A solução deverá ser tomada pelos proprietários
dos lotes que deverão, porém, respeitar as exigências urbanísticas. Tais exigências
poderão ser referentes ao loteamento ou se transformar em indenização em dinheiro,
quando, por exemplo, o loteamento não puder ser recomposto.
O Poder Público zela pelo interesse público e, se há lotes vagos sem aproveitamento em
determinado local da cidade, de acordo com a função social da propriedade, a Prefeitura
pode exigir o parcelamento da área, tentando adaptar o loteamento irregular a sua
legislação urbanística, visto que cada Município tem sua Lei Orgânica que dispõe sobre
o parcelamento do solo.
De acordo com o plano diretor, verificar-se-á se está sendo cumprida a função social da
propriedade. O plano diretor está centrado na adequação dos espaços habitáveis,
devendo cuidar precisamente da organização dos espaços físicos dos municípios como
exemplo, deverá conter normas e diretrizes sobre o parcelamento do solo, seu uso e
ocupação, revitalização e preservação.
.
A Lei 6.766/79 exige ainda, a anuência prévia do Estado no que diz respeito às glebas
localizadas em áreas de interesse especial, como por exemplo, de proteção dos
mananciais ou ao patrimônio histórico, cultural, paisagístico e arqueológico, localizados
em área limítrofe de município. A falta de registro do parcelamento do solo também é
preocupante, pois impossibilita os adquirentes dos lotes de registrarem seus contratos de
compromisso de compra e venda, ou até mesmo, suas escrituras definitivas. Sendo
assim, não existe a possibilidade de se tornarem donos de seus imóveis, pois quem não
registra não é dono, conforme o artigo 1245 do Código Civil:
O registro é fundamental em um loteamento, pois somente com ele temos certeza que
todas as etapas foram cumpridas, procura-se proteger o interesse de seus adquirentes.
5 .O Município tem o poder-dever de agir para que o loteamento urbano irregular passe
a atender o regulamento específico para a sua constituição. 6.Se ao Município é
imposta, ex lege, a obrigação de fazer, procede a pretensão deduzida na ação civil
pública, cujo escopo é exatamente a imputação do facere, às expensas do violador da
norma urbanístico-ambiental.5.Recurso Especial provido. (STJ – RESP 448216 – SP –
1º T. – Rel. Min. Luiz Fux – DJU 17.11.2003 – p.00204).
O loteador de uma área irregular causa dano não só ao adquirente, mas também aos
padrões urbanísticos do município.
A ocupação do solo requer certos critérios e algumas providências são indispensáveis
para que o ser humano possa viver com dignidade, quando há um problema em uma
área que foi loteada, o problema não atinge apenas um, mas sim a toda uma
coletividade. A regularização da área objetiva o desenvolvimento urbano e o
melhoramento das condições de vida dos indivíduos. Com a regularização, os
proprietários podem registrar seus contratos, implicando na constituição de um direito
real oponível contra terceiros.
E ainda, de acordo com José Carlos de Freitas, o Poder Judiciário pode tomar
providências à cerca das ilegalidades, como por exemplo, algumas medidas que foram
deferidas como antecipação de tutela ou liminares nas ações civis públicas:
Averbação publicitária da ação civil pública. O juízo por onde tramita a ação civil
pública sobre o loteamento ilegal pode comunicar seu ajuizamento ao registro predial,
por ofício, para promover a averbação publicitária.
Abstenção do recebimento das prestações e cobrança. È possível e necessária a decisão
que determina a suspensão da cobrança de contribuições relativas à manutenção de vias
de uso comum, em razão da inexecução das obras de infra-estrutura e urbanização.
Bloqueio dos lotes dados em caução. Admite-se medida que visa assegurar a realização
de obras de loteamento aprovado e registrado, garantindo eventual execução de
condenação.
Para Nicolau Balbino Filho (2004, p. 294), o loteamento tem seu aspecto moral e social,
“pois que a habitação dá à família o sentido de si mesma, da sua organização definida
(...)”.
O grande problema é que depois de vendidos todos os lotes, ou pelo menos a maioria
deles, o loteamento é abandonado pelo loteador. Estes loteamentos causam prejuízos
aos adquirentes dos lotes e ao Poder Público.
Como não há regularização, conseqüentemente, não há registro. Sendo assim, mesmo
querendo, a regularização da área o adquirente fica sem saída, pois como prova de
aquisição geralmente, possuem um simples contrato de gaveta, não sendo este passível
de registro. Os adquirentes dos lotes em áreas irregulares, geralmente encontram-se
vislumbrados pela facilidade de pagamento, que são um misto de preços baixos e
condições de pagamento.
Porém, a medida que o homem se urbaniza, a propriedade passa a ter maior relevo. A
fim de assentar a nova classe social originada do fenômeno migratório, surgiram formas
de loteamento de maneira a adaptar a propriedade à capacidade econômica da classe
operária. O loteamento passou a corresponder, portanto, a uma forma de socialização da
propriedade.
O fato é que o ordenamento territorial brasileiro nunca recebeu a devida atenção por
parte dos governos, que deixaram o assunto a cargo das tendências políticas
dominantes, resultando o caos generalizado. Essa explosão demográfica foi tão
expressiva que surpreendeu até mesmo o poder público. De fato, não houve tempo hábil
para qualquer planejamento eficiente no uso e ocupação do solo, de modo que a
concentração urbana foi crescendo intensamente e o assentamento nas cidades se fez de
maneira desordenada e iníqua, de modo que as glebas eram divididas sem quaisquer
critérios técnicos, estruturais e urbanísticos, originando os loteamentos clandestinos.
Diante disso, impõe-se a necessidade de uma nova concepção de uso do solo urbano,
sendo que Ricardo Pereira Lira, com muita propriedade, elenca alguns dos fatos que
desencadearam a necessidade, quais sejam: Excessivo crescimento da população
urbana, especialmente em decorrência da industrialização; assentamento dessa
população de forma desordenada, sem qualquer planejamento e mediante o qual coube à
população carente tão somente periferia e, por fim, a atividade especulativa do
proprietário do solo. (LIRA, 1997, p.157).
Em meio a este contexto surge, inclusive, a figura do “loteador pirata”, cuja atividade
consiste em comprar grandes glebas e revender os piores lotes a famílias de baixa renda,
exigindo do poder público a infra-estrutura necessária. Como se vê, inúmeros os
problemas e imperativas
as soluções.
Entende-se por interesses difusos, os interesses que atentem ao bem estar do indivíduo,
como a habitação e urbanismo, a regularização dos espaços urbanos e a exigência que
compõe o direito de moradia, olhados sob o prisma de interesse coletivo.
O Ministério Público atua forçando o loteador assumir sua obrigação para com o
empreendimento, no caso de não obter êxito, cabe ao município tal incumbência. Ainda,
a promotora salienta que “quando os responsáveis pelo loteamento não concordarem
em regularizá-lo ainda na fase de inquérito civil, não restará alternativa ao Ministério
Público, senão ajuizar ação civil pública”.
De acordo com os autores acima citados, o Ministério Público pode ajuizar ações com o
objetivo de compelir o Poder Público a respeitar as normas urbanísticas na inércia do
loteador, ou, até mesmo regularizar obras faltantes, exercendo o papel de agente
fiscalizador em defesa dos interesses coletivos. Se há um desrespeito as normas de
organização do espaço urbano, é natural que o Ministério Público intervenha.
As transações imobiliárias são reguladas por lei. Nesta lei, com relação ao parcelamento
do solo, tem-se um capítulo reservado às penalidades de natureza criminal, destinadas a
punir as infrações que estão acima da culpa civil. Como exemplo, podemos citar as
vendas de lotes em que os loteamentos não estão regularizados.
Pena: Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa de 10 (dez) a 100 (cem) vezes o
maior salário mínimo vigente no País.
O artigo 51 da referida lei, abrange a todas as pessoas que concorrem com o lotador nos
delitos previstos no artigo 50.
Art. 51º - Quem, de qualquer modo, concorra para a prática dos crimes previstos no
artigo anterior desta Lei incide nas penas a estes cominadas, considerados em especial
os atos praticados na qualidade de mandatário de loteador, diretor ou gerente de
sociedade.
Caracteriza-se crime o fracionamento da gleba com o objetivo de burlar a lei ou, ainda,
em desacordo com o que a mesma estabelece. A lei é muito clara quanto às limitações
impostas pelo legislador. Tais limitações são uma maneira de impedir que se proliferem
loteamentos irregulares ou clandestinos, atribuindo responsabilidade penal àquele que
de qualquer modo infringir ou contribuir para esse tipo de loteamento.
Conclusão
Considerando o quadro traçado, ainda que de maneira breve, é imperioso concluir que
os loteamentos clandestinos e irregulares, especialmente em face da condição sócio-
econômica de seus habitantes, merecem e necessitam não só de proteção legal, como
também do amparo dos entes públicos competentes, com o intuito de buscar a
regularização dos mesmos, minorando, assim, a grave crise habitacional brasileira e
levando um mínimo de dignidade ao cidadão.
Não pairam dúvidas nos meios jurídicos no sentido de que os loteamentos clandestinos
e irregulares caracterizam-se como verdadeiros problemas para a sociedade
contemporânea, não só jurídicos como sociais.
A busca da solução deste grave problema enfrentado pela sociedade seja ela dos grandes
centros urbanos, cidades de porte médio e até mesmo dos pequenos municípios, passa
necessariamente, pela atuação do Município, do Estado e da União.
De igual forma, aos demais operadores do direito cabe agir sempre na busca de meios
técnicos e jurídicos capazes de ensejar uma fiscalização do parcelamento do solo urbano
eficaz e nos moldes da legislação pátria que regula a matéria, ou seja, a proteção dos
direitos de propriedade. Ainda que a lei que rege o parcelamento do solo urbano
apresente falhas, o seu aspecto positivo suplanta os pontos negativos, sempre corrigíveis
desde que sua correção mereça o empenho das entidades político-administrativas
responsáveis.
Portanto, a Lei 6.766/79 que resguarda o direito de propriedade dos cidadãos necessita
de melhores condições para o seu cumprimento, inclusive um melhor aparelhamento
dos órgãos públicos fiscalizadores, para que haja a coibição de irregularidades, visando
o bem estar social em homenagem ao que reza a nossa Carta Magna, quando preceitua o
direito de moradia, no seu capítulo de direitos sociais.
REFERÊNCIAS
São Luís, MA. Lei Orgânica do Município de São Luís, de 05 de abril de 1990.
Constituição Federal
BRASIL, Constituição (2001). Constituição da República Federativa do Brasil.
Atualizada até a Emenda Constitucional nº 31, de 14 de dezembro de 2000,
acompanhada de notas remissivas e dos textos, na íntegra, das Emendas Constitucionais
de Revisão. São Paulo: Saraiva, 2001.
BRASIL, Código Civil, 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
c) Livros
ATHAYDES, Olmiro Gayer.; ATHAYDES, Lisete A. Dantas Gayer. Teoria e prática
do parcelamento do solo. São Paulo: Editora Saraiva, 1984.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 24. ed. rev.e atual. São
Paulo: Malheiros, 1999.
MUKAI, Toshio.; ALVES, Alaor Caffé.; LOMAR, Paulo José Vilela. Loteamentos e
desmembramentos urbanos. 1. ed. São Paulo: Sugestões Literárias S/A, 1980.
SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Editora Revista
dosTribunais, 1981.