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A Política Educacional para Jovens e Adultos em Minas Gerais (1991-1996)

SOARES, Leôncio José Gomes

Introdução

O presente texto apresenta alguns resultados de uma pesquisa que buscou identificar as
alterações introduzidas pela Resolução 386/91, do Conselho Estadual da Educação, na
política de educação de jovens e adultos no Estado de Minas Gerais, em relação à
legislação anterior. De modo geral, a pesquisa buscou verificar qual o impacto da
Resolução 386/91 na ampliação do atendimento à educação de jovens e adultos. O estudo
procurou, também, trabalhar estatisticamente os dados coletados para conhecer a realidade
da educação de jovens e adultos no estado, verificando a relação entre a demanda e o
atendimento público e privado. A pesquisa objetivou, ainda, contribuir, em forma de
subsídio, para a formulação de políticas públicas para a educação de jovens e adultos.

A necessidade de pesquisar a educação de jovens e adultos decorre, principalmente, da


ausência de estudos que possam subsidiar a elaboração de políticas educacionais para a
área. Com o fechamento da Fundação Educar, em 1990, o Governo Federal vem se
ausentando do cenário educacional havendo um esvaziamento constatado pela inexistência
de um órgão ou mesmo um setor do Ministério da Educação voltado para a educação de
jovens e adultos. Muitos dos Governos Estaduais seguiram o Governo Federal
reformulando suas políticas e reduzindo os investimentos nessa área. Com a ausência de
uma política mais definida por parte dos Governos Federal e Estadual a pressão para o
atendimento a essa parcela da população vem recaindo sobre os governos municipais. A
falta de recursos financeiros, aliada à escassa produção de estudos e pesquisas sobre a área,
têm contribuido para a ausência de originalidade nas políticas educacionais municipais
resultando, muitas delas, na mera reprodução do ensino regular para a educação de jovens e
adultos.
Para a realização da pesquisa, foi feito um levantamento, no Conselho Estadual da
Educação e na Secretaria Estadual de Educação, dos Cursos Regulares de Suplência, de
iniciativa pública e privada, autorizados a ter avaliação no processo desde a publicação da
Resolução 386/91. Dados censitários, levantados pelo IBGE, também foram utilizados no
trabalho.
Aspectos da política de educação para jovens e adultos durante a ditadura militar

O estabelecimento de uma política educacional que atenda à população que não concluiu o
ensino fundamental na idade própria sofreu alterações significativas nos últimos vinte e
cinco anos. A Lei 5692/71, que atribuiu um capítulo para o ensino supletivo, recomendava
aos Estados atender aos jovens e adultos através de cursos e exames. O Parecer 699/72, do
Conselheiro Valnir Chagas, estabeleceu a doutrina para o ensino supletivo. Os exames
supletivos, antigo madureza, passaram a ser organizados de forma centralizada pelos
governos estaduais. Os cursos, por outro lado, passaram a ser regulamentados pelos
respectivos Conselhos Estaduais de Educação.

As políticas de educação para jovens e adultos definidas no regime militar devem ser
compreendidas em um contexto mais amplo. Durante esse período, o MEC firmou
convênios com a “Agency for International Development” (AID), os conhecidos acordos
MEC-USAID, imprimindo uma marca no desenvolvimento da educação daquele período.
O tecnicismo, concepção educacional surgida nos Estados Unidos, com seus princípios de
racionalidade, eficácia e produtividade, veio atender às orientações gerais do governo
militar, de enfatizar as inovações organizacionais e técnicas. A educação se colocava,
também, a serviço do binômio desenvolvimento-segurança. Entre os vários programas
criados dentro dessa compreensão, destacam-se, para a educação de jovens e adultos, o
Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), sobre o qual não nos deteremos aqui,
e a Lei 5692/71.

1
As pesquisas analisadas por Haddad, durante o período de 1964 a 1985, revelaram que o

Estado procurava introduzir a utilização de tecnologias como meio de solução para os

problemas da educação.

"Esta idéia da tecnologia a serviço do econômico e do pedagógico, perdurou


por todo o período estudado. O Estado se propunha a oferecer uma educação
de massas, a custos baixos, como perspectiva de democratizar oportunidades
educacionais, "elevando" o nível cultural da população, nível este que vinha
perdendo qualidade pelo crescimento do número de pessoas, segundo sua
visão." (HADDAD, 1991:189).

O tecnicismo, associado à concepção da teoria do capital humano, caracterizaram a

educação e, particularmente, a educação de adultos, no regime militar.

A Lei 5.692, que dedicou pela primeira vez na história da educação um capítulo ao ensino

supletivo, foi aprovada em 11 de agosto de 1971 e veio a substituir a Lei 4.064/61,

reformulando o ensino de 1º e 2º graus. Enquanto a última LDB foi resultado de um amplo

processo de debate entre tendências do pensamento educacional brasileiro, levando treze

anos para ser editada, a 5.692/71 foi elaborada em um prazo de 60 dias, por nove membros,

indicados pelo então Ministro da Educação Coronel Jarbas Passarinho. Entre as principais

determinações da 5692/71 destaca-se a extensão da obrigatoriedade do ensino de quatro

para oito anos, unificando os antigos ensino primário e ginasial, criando, assim, o ensino de

1º grau. Em relação ao 2º grau, a LDB estabeleceu a profissionalização compulsória,

visando à formação de mão-de-obra para um mercado de trabalho em expansão e à

contenção da demanda para a universidade.

Em Minas Gerais, o Conselho Estadual da Educação, através da Resolução 134/71, buscou

fixar normas preliminares de implantação do regime instituído pela Lei 5692/71.1 O

1
MINAS GERAIS, Resolução - CEE/MG- Nº 134/71.

2
Capítulo V é dedicado ao ensino supletivo numa transposição da lei maior. Trata-se da

organização, segundo as normas do Conselho, da oferta de cursos e exames supletivos para

adolescentes e adultos que não tivessem seguido ou concluído, na idade própria, a

escolarização regular.

A Lei 5692/71, de Diretrizes e Bases da Educação, inovou com um capítulo dedicado ao

ensino supletivo. O passo seguinte foi dado pelo MEC quando instituiu um grupo de

trabalho para definir a política do Ensino Supletivo e propor as bases doutrinárias sobre a

matéria, resultando no Parecer 699/72 do relator Valnir Chagas, que conceitua e estrutura o

ensino supletivo preconizado na lei.2, e o segundo que tratava da política e as linhas de

ação. Proposto pelo relator como o maior desafio aos educadores brasileiros, o ensino

supletivo foi apresentado como um manancial inesgotável de soluções para ajustar, a cada

instante, a realidade escolar às mudanças que se operavam em ritmo crescente no País e no

mundo. O Parecer 699/72 foi elaborado para dar fundamentação ao que seria a doutrina do

ensino supletivo. Nesse sentido ele viria a "detalhar" os principais aspectos da Lei 5692, no

que tange ao ensino supletivo, facilitando sua compreensão e orientando sua execução.

A estruturação do Ensino Supletivo após a LDB de 1971 seguiu a orientação expressa na

legislação de procurar suprir a escolarização regular de quem não a tinha. As formas

iniciais de atendimento a essa prerrogativa foram os exames e os cursos. O que até então

era o "madureza", passou ao controle do Estado, foi redefinido e se transformou em

Exames Supletivos. A novidade trazida pelo Parecer 699/72 estava em implantar cursos que

dessem outro tratamento ao atendimento da população fora da escola, a partir de novas

metodologias.

2
BRASIL, Parecer CFE Nº 699/72, de 5 de julho de 1972.

3
A Lei 5692/71 concedeu flexibilidade e autonomia aos Conselhos Estaduais de Educação

para normatizarem o tipo de oferta de cursos supletivos nos respectivos Estados. Isso gerou

grande heterogeneidade nas modalidades implantadas nas unidades da federação. Para

implementar a legislação, a Secretaria Estadual da Educação criou, em 1975, o

Departamento de Ensino Supletivo (DESU) em reconhecimento a importância crescente

que essa modalidade de ensino vinha assumindo.

QUADRO 1

EXAMES SUPLETIVOS NO ESTADO DE MINAS GERAIS

EDUCAÇÃO GERAL - 1º e 2º GRAUS

1972-1976

ANO DRE candidatos inscrições aprovações


1972 8 7.042 24.912 5.070
1973 10 20.332 62.324 21.537
1974 13 33.728 122.194 38.592
1975 21 56.000 200.187 68.815
1976 24 82.792 293.354 95.747

Fonte: Programação 77/79 - SEE/MG, Superintendência Educacional, DESU

No caso de Minas Gerais, o Conselho Estadual, bem como a Secretaria Estadual da


Educação, optaram pelo atendimento aos jovens e adultos através dos exames de massa e
da criação dos Centros de Estudos Supletivos. Os CES, como ficaram conhecidos
nacionalmente, foram implantados com o apoio do MEC. Com características peculiares de
“centro de estudos”, nos CES o aluno (cliente) adquiria os módulos instrucionais (material
didático), estudava-os de acordo com o seu ritmo próprio, procurando o orientador de

4
aprendizagem (professor) quando necessitasse de alguma explicação ou mesmo para tirar
dúvidas através das consultas (atendimento individual ou em pequenos grupos). Para a
implantação dos CES, as Secretarias Estaduais estabeleciam convênios com os governos
municipais.

A implantação dos Centros de Estudos Supletivos, em Minas, onde recebeu a versão de


CESU, teve início no ano de 1976. Os dados iniciais dos três primeiros Centros, período de
implantação, número de inscritos e freqüentes, estão no Quadro 2.

QUADRO 2
CENTROS DE ESTUDOS SUPLETIVOS
ESTADO DE MINAS GERAIS

CES data da implantação inscritos freqüentes

CESU de Contagem março/76 1.202 500

CESU de Divinópolis agosto/76 497 360

CESU de Ipatinga agosto/76 1400 657

Fonte: Programação 77/79 - SEE/MG, Superintendência Educacional, DESU

Com a crescente demanda de trabalho do Departamento em atender os pedidos de

instalação de Centros de Estudos Supletivos e o empenho em organizar os Exames

Supletivos, a responsável pela área, professora Maria Vicentina de Campos Carvalho,

solicitou ao Secretário da Educação, Professor José Fernandes, a transformação do

Departamento de Ensino Supletivo em Diretoria, o que possibilitaria melhor estruturação e

autonomia. Uma das justificativas apresentadas foi a de que os exames supletivos eram

5
3
feitos sem nenhuma organização pedagógica nem administrativa. Por fim, em 13 de

outubro de 1977, o então Departamento, ligado diretamente à Superintendência

Educacional, foi transformado em Diretoria de Ensino Supletivo pelo Decreto nº 18.749

que reorganizou a Secretaria da Educação. A Diretoria de Ensino Supletivo - DESU -

passou a ter como competência orientar e supervisionar a organização e o funcionamento

do ensino supletivo, observadas as normas fixadas pelo Conselho Estadual de Educação.4

Segundo Vicentina Carvalho, a estrutura da Secretaria de Educação de Minas Gerais

sempre acompanhou a estrutura do MEC. De certa forma isto representa uma sintonia com

as políticas do governo federal podendo vir a garantir, com mais facilidade, o repasse de

recursos para a execução de metas em comum. Ressaltou que sempre procurou manter uma

aproximação tanto com o Conselho Estadual da Educação quanto com o Ministério.

Freqüentemente, dirigia-se à Brasília, acompanhada de assessores e mais algum membro do

Conselho, a convite do Departamento de Ensino Supletivo do MEC, atendendo à

solicitação de se fazer um trabalho integrado.

Durante as décadas de 70 e 80 foram criados no Estado de Minas Gerais 24 Centros de


Estudos Supletivos (CESUs), 74 Unidades de Ensino Supletivo (UES) e 86 Postos de
Ensino Supletivo (PES). Nesse período, surgiram inúmeros cursos livres de iniciativa
privada, com o objetivo de preparar para os exames de massa, realizados pela Secretaria
Estadual da Educação a cada semestre. No mesmo período, apenas os cursos privados
“Roma” e “Promove”, sediados em Belo Horizonte, obtiveram a autorização para avaliação
no processo e expedição de certificados de conclusão. Pode-se afirmar que nos anos 70 e
80 a oferta de ensino supletivo público, no Estado de Minas Gerais, esteve reduzida à
realização dos exames de massa e à criação dos CESUs, das UES e dos PES.

3
Entrevista concedida a esse pesquisador pela professora Maria Vicentina de Campos Carvalho em 01 de
outubro de 1992.
4
Secretaria Estadual da Educação MG. A Educação Supletiva em Minas Gerais, Superintendência
Educacional, Diretoria de Ensino Supletivo, nov.1985, p.8

6
Apesar da orientação dada pelo MEC para que se procurasse meios para diminuir a procura

dos exames, a legislação estadual procurou ser rígida no tocante à autorização para que

esses cursos funcionassem com avaliação no processo. Na década de 70, apenas dois

estabelecimentos particulares, como já foi referido, obtiveram autorização do Conselho

Estadual da Educação com a supervisão da Secretaria da Educação, para atuarem com

avaliação no processo, concedendo certificado de conclusão. Isso se modificaria, como se

verá, com a Resolução 386, de 1991, que concedeu autorização de funcionamento para

novos cursos regulares de suplência. Mesmo assim, os exames supletivos continuam sendo

procurados por elevado número de candidatos. Somente nos exames de julho de 1995,

inscreveram-se, em Minas Gerais, cerca de 43.600 candidatos, para o primeiro e segundo

graus (ESTADO DE MINAS,14/07/95). Mantém-se a atualidade da expressão de Valnir

Chagas, quando redigiu, há mais de vinte anos, o Parecer 699/72: "os exames de suplência

são hoje espetáculos de grandes números, a exigirem soluções para grandes números"

(PARECER 699/72:382).

Nesse contexto, podem ser levantadas as seguintes questões: será que o grande contingente
de jovens e adultos que, depois de abandonar a escola em Minas Gerais, conseguiu
concluir o ensino fundamental e o ensino médio é oriundo da iniciativa privada? Será que o
atendimento público está muito aquém da demanda em potencial de candidatos jovens e
adultos à conclusão do ensino fundamental e médio?

Mudanças na legislação do ensino supletivo em Minas Gerais

Uma das alterações significativas ocorridas em relação ao ensino supletivo em Minas


Gerais depois do fim da ditadura militar, deu-se com a aprovação da Resolução 386, de 15
de março de 1991. A Resolução resultou da necessidade de se fazer uma revisão do último
dispositivo legal que regulamentava o ensino supletivo no sistema estadual de ensino,

7
datado de dezembro de 1987; anterior, portanto, à Constituição de 1988, necessitando ser
atualizado.

A principal alteração adveio das discussões havidas no Conselho Estadual da Educação a


respeito do conceito de ensino regular introduzido pela Constituição de 88. A justificativa
que propôs a atualização da Resolução está exposta na Indicação nº 01/90 do CEE/MG. O
Artigo 208, inciso I, da Constituição de 88 estabelece que "o ensino fundamental é
obrigatório, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria". O inciso VI,
do mesmo Artigo, determina que "haja oferta de ensino noturno regular, adequado às
condições do educando".

A Resolução anterior, de 1987, havia regulamentado duas modalidades diferentes de


ensino, o regular e o supletivo, de acordo com a Lei 5692/71, que fixava a obrigatoriedade
do ensino de 1º grau para todos, porém só na faixa etária de sete a quatorze anos (art. 176,
parágrafo 3, inciso II). Em conseqüência desse parâmetro, o ensino regular ficou destinado
a crianças e pré-adolescentes, na idade própria, no caso do 1º grau, e o ensino supletivo aos
que não cursaram, na idade própria, o ensino regular. Na Lei 5692/71, o conceito de ensino
regular está vinculado à idade própria.

A demora na aprovação de uma nova LDB vem colocar fatos como esse em questão. A
Constituição de 88 avançou em relação à anterior ao estender o direito ao ensino
fundamental (1º grau) para todos em qualquer idade. Esse preceito constitucional legitima
as pressões da população para ter acesso à escolarização. Na falta de uma lei que estabeleça
as diretrizes e determine as bases para a educação nacional, o Conselho Estadual de
Educação de Minas Gerais procurou regulamentar o ensino supletivo buscando uma
atualização com a Carta Magna. Dessa forma se manifestou o Conselheiro Samuel Rocha
Barros na Indicação nº 01/90:

"Uma das conseqüências fundamentais dessa nova visão é a obrigação imposta


ao Poder Público de proporcionar ensino fundamental, em caráter regular a
adolescentes e adultos. Recurso, aliás, educacionalmente indicado para a
gradativa erradicação do analfabetismo é a extinção dos atuais exames

8
supletivos. Uma vez que o ensino fundamental é obrigatório para todos, em
qualquer idade, já não se justifica a existência de exames supletivos de
educação geral, mas, ao contrário, impõe-se a instalação de cursos regulares
(grifo do autor) de ensino fundamental supletivo, como no passado era regra
no ensino público (cursos primários noturnos).' 5

O Parecer 270/91, em seu histórico, descreveu o percurso da discussão ocorrida no


Conselho desde a apresentação da Iindicação 01/90 em junho de 1990 até a aprovação da
Resolução 386/91 em 15 de março de 1991. A proposta de revisar a Resolução anterior
provocou uma discussão que envolveu os Conselheiros e a equipe da Diretoria de Educação
de Adultos, da Secretaria Estadual de Educação.
A Resolução 386/91 regulamentou os cursos regulares de suplência, restringiu a criação de
novas unidades oficiais de estudos supletivos e deu um caráter temporário à realização dos
exames de suplência em nível de ensino fundamental.

Os cursos regulares de suplência ficaram definidos em lei, observando-se a especificidade


das características dos alunos a que se destinam:

"Art. 9º - O curso regular de suplência tem estrutura, duração, carga horária,


regime didático e metodologia específicos, tendo em vista os seus objetivos e as
características dos alunos a que se destina." 6

O Art. 14 da Resolução 386/91 determina a duração dos supletivos em metade do tempo da


carga horária que o ensino fundamental. Para os cursos a partir da 5ª série, o Art. 15 admite
o regime semestral, podendo a matrícula ser efetuada por disciplina. O Conselho manteve,
assim, as características dos dois únicos cursos regulares de suplência, de iniciativa privada,
existentes no Estado, aprovados em 1979 e 1980.

5
MINAS GERAIS. - PARECER CEE/MG Nº 270/91, de 15-03-91, Câmara de Ensino Supletivo.
6
MINAS GERAIS. - RESOLUÇÃO CEE/MG Nº 386, de 15 de março de 1991.

9
A Resolução 386/91 possibilitou uma expansão do ensino supletivo no Estado, se
comparado com a situação anterior. Até então, a oferta de suplência estava restrita aos
Centros e Unidades de Estudos Supletivos de 1º e 2º graus, localizados em parte dos
municípios do Estado, aos cursos de suplência de 1ª a 4ª séries nas escolas estaduais e aos
dois únicos cursos particulares com avaliação no processo, reconhecidos pelo Conselho
Estadual da Educação. No mais, quem desejasse estudar, teria que dispor de recursos
financeiros para se matricular nos cursos livres preparatórios para os exames supletivos.

A regulamentação dos Cursos Regulares de Suplência possibilitou a ampliação da oferta


existente na rede particular de cursos com a avaliação no processo. Além dos Centros de
Estudos Supletivos (CESUs), das Unidades de Ensino Supletivo (UES) e dos Postos de
Ensino Supletivo (PES) existentes, passaram a ser criados, pela iniciativa pública, cursos
regulares de suplência nas várias superintendências de ensino do estado. A Resolução
386/91 passou também a autorizar a avalização no processo a inúmeros cursos privados,
fato raro até então.

Do período que compreende a publicação da Resolução, março de 1991, até dezembro de


1996, data da vigência da nova LDB, foram aprovados 315 Pareceres referentes à Educação
de Jovens e Adultos (Quadro 3). Os Pareceres se referem a autorização para funcionamento
de cursos de suplência, a pedidos de renovação, entre outros.

QUADRO 3
PARECERES SOBRE CURSOS DE SUPLÊNCIA
1991 a 1996

ANO Autorização para pedidos de renovação outros


funcionamento
1991 17 - -
1992 32 3 1
1993 44 3 6
1994 26 1 5

10
1995 96 2 9
1996 63 7 -
Total 278 16 21
FONTE: Biblioteca do CEE/MG

Muitos Pareceres se referiam à autorização para funcionamento de mais de um curso


elevando, assim, o número de cursos se comparado ao número de Pareceres (Quadro 4). Do
total de Pareceres, 232 se referem a autorização de 376 Cursos Regulares de Suplência
(Quadro 5). Esse número é muito expressivo se considerarmos a pouca oferta, em Minas
Gerais, de Cursos Regulares de Suplência antes de 1991.

QUADRO 4
PARECERES SOBRE AS MODALIDADES DOS CURSOS DE SUPLÊNCIA
1991 a 1996

ANO Curso Qualificaçã Unidade Estudo Aproveitamento de CESU


Regular de o de Estudo Complementa Estudo
Suplência Profissional Supletivo r
1991 3 9 3 2 - -
1992 23 13 1 - - -
1993 31 22 3 - - 1
1994 20 14 - 1 - -
1995 85 19 2 1 1 2
1996 70 1 - - - -
Total 232 78 9 4 1 3
FONTE: Biblioteca do CEE/MG

QUADRO 5
CURSOS DE SUPLÊNCIA

11
1991 a 1996

ANO Curso Regular de Qualificação Estudo Aproveitamento


Suplência Profissional Complementar de Estudo
1991 2 11 3 -
1992 43 28 - -
1993 67 42 - -
1994 31 20 2 -
1995 144 39 1 2
1996 89 1 - -
Total 376 141 6 2
FONTE: Biblioteca do CEE/MG
Entre os cursos regulares, prevalecem os de Ensino Fundamental (238), notadamente os
correspondentes às séries de 5a à 8a (Quadro 6). Os dados do IBGE apontam um índice de
79% de jovens e adultos em Minas Gerais que não concluíram o ensino fundamental. Esse
índice revela o quanto a demanda por escolaridade ficou represada no Estado. Se o número
de cursos significa uma expansão em relação ao que havia, está muito longe de atender às
reais necessidades de escolaridade dos jovens e adultos que tiveram de abandonar a escola.

QUADRO 6
CURSOS DE SUPLÊNCIA
1991 a 1996

ANO 1a a 4 a 5a a 8a 1a a 8a Médio
1991 - 2 - -
1992 - 23 - 20
1993 - 37 - 30
1994 - 20 1 10
1995 1 79 15 49
1996 - 59 2 28

12
Total 1 220 18 137
FONTE: Biblioteca do CEE/MG

Ao analisar os dados correspondentes às redes de ensino deparamos com dois terços dos
cursos pertencentes à iniciativa privada. Foram apenas 124 cursos da rede pública (Quadro
7). Esse dado nos remete à análise, ao entendimento sobre o que realmente alterou na
política educacional para jovens e adultos no Estado de Minas Gerais. Em uma primeira
análise, o número por si só já significaria uma expansão sem precedentes. Mas, o que estará
por trás desses números expressivos? Com a ausência do Estado na educação de jovens e
adultos criou-se uma cultura da escolaridade paga para aqueles que não a “aproveitaram”
na idade adequada. Essa idéia não está dissociada da idéia de educação compensatória, de
“recuperar o tempo perdido”. É comum encontrarmos em “Folders” e “Outdoors” de
publicidade dos cursos supletivos privados, os apelos a esse tipo de educação. Muitos
jovens e adultos sentem recair sobre si o fracasso de uma escolaridade incompleta e
assumem o ônus de custear, novamente, seus estudos em cursos privados preparatórios para
os exames ou mesmo regulares de suplência.

QUADRO 7
CURSOS DE SUPLÊNCIA
REDE PRIVADA / REDE PÚBLICA
1991 a 1996

ANO Rede Privada Rede Pública


1991 12 5
1992 32 4
1993 52 14
1994 26 12
1995 85 54
1996 27 35

13
Total 234 124
FONTE: Biblioteca do CEE/MG

Dos cursos autorizados a funcionar na rede pública de ensino, 59 foram da rede estadual
enquanto 65 da municipal (Quadro 8). Esse fato parece demonstrar o movimento emergente
das iniciativas municipais em decorrência da ausência do Estado. BEISIEGEL (1997),
analisando o período em questão, aponta a desobrigação do governo federal para com a
educação de jovens e adultos. Analisando discursos de Ministro e assessores do MEC, o
autor descreve o descaso e o abandono do governo para com este setor da educação.
HADDAD (1991) mostra como o governo federal se afastou da educação de jovens e
adultos, a partir do fechamento da Fundação Educar, e como os governos estaduais seguem
a mesma orientação, desfazendo órgãos que até então se responsabilizavam por esta área.
Na V Conferência Internacional de Educação de Adultos, patrocinada pela UNESCO,
realizada em 1997, em Hamburgo, na Alemanha, o governo brasileiro expressou, através da
delegação oficial, sua política de investimento na educação fundamental das crianças, e
uma suposta intenção de equacionar os futuros problemas com a educação dos jovens e
adultos.

QUADRO 8
CURSOS DE SUPLÊNCIA PÚBLICOS
REDE ESTADUAL / REDE MUNICIPAL
1991 a 1996

ANO Rede Estadual Rede Municipal


1991 5 -
1992 3 1
1993 5 9
1994 4 8
1995 29 25
1996 13 22

14
Total 59 65
FONTE: Biblioteca do CEE/MG

Com o esvaziamento de uma política do governo federal para a educação de jovens e


adultos e a conseqüente retirada dos governos estaduais, a pressão da população pelo
atendimento à educação tem recaído nos governos municipais. Nos últimos anos foram
inúmeras as iniciativas municipais resultantes de pressões da população e da sociedade civil
organizada (ver, por exemplo, SOARES, 1995; HADDAD e DI PIERRO, 1994; SPOSITO,
1993; CAMPOS, 1985).

Considerações finais

Existe hoje uma diversidade de ações no campo da educação de jovens e adultos que difere
quantitativa e qualitativamente do que existiu nas décadas de 70 e 80. Essa diversidade
passa pelas iniciativas no âmbito municipal, estadual e federal, bem como pelas
organizações do mundo do trabalho e da sociedade civil. Deparamos com projetos de
alfabetização e de programas de escolarização de jovens e adultos que se realizam em
escolas públicas e privadas, passando pelas fábricas, pelas igrejas, por tribos indígenas
chegando até aos assentamentos do MST.

Dada essa diversidade, é que se faz necessário passar do mero dado quantitativo para
parâmetros substantivos que contribuam para qualificar as especificidades da educação de
jovens e adultos em seus diversos contextos sócio-culturais. Nesse sentido, a pesquisa
apresentada neste texto deverá se desdobrar em uma análise que privilegie os aspectos
qualitativos de todo esse processo. A princípio, pretende-se estabelecer um perfil dos cursos
de iniciativa pública e privada implantados no Estado de Minas Gerais após a Resolução
386/91, a partir de estudo e análise das concepções de educação de jovens e adultos neles

15
presentes, das metodologias desenvolvidas e dos processos de seleção e capacitação de
professores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEISIEGEL, Celso de Rui. A política de educação de jovens e adultos analfabetos no

Brasil. Em OLIVEIRA, Dalila Andrade (org.). Gestão Democrática da Educação:

desafios contemporâneos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

BRASIL. Parecer nº 699/71. Regulamenta o Capítulo IV da Lei 5692/71. 6 julho1972.

Conselho Federal da Educação. Rio de Janeiro: Revista Brasileira de Estudos

Pedagógicos, v.59, nº 131, p.363-568, jul/set. 1973.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição: República Federativa do Brasil. Brasília:

Senado Federal, Centro Gráfico, 1988.

CAMPOS, Rogério C. A luta dos trabalhadores pela escola. Belo Horizonte: Faculdade de

Educação da UFMG, 1985. (Dissertação, Mestrado).

CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS. Parecer nº 358/76. 11


nov. 1976. Manifesta-se sobre pedido de aprovação de “plano especial de ensino

supletivo”, com avaliação no processo, formulado pelo Curso Promove Ltda.

CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS. Parecer nº 455/79. 22

nov. 1979. Pedido de autorização de funcionamento de cursos de suplência de 1º e 2º

Graus, modalidade A e B, no Colégio Roma, em Belo Horizonte.

16
CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS. Resolução Nº 386/91.

15 de março de 1991. Dispõe sobre os cursos regulares e exames de suplência e de

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