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Introdução
O presente texto apresenta alguns resultados de uma pesquisa que buscou identificar as
alterações introduzidas pela Resolução 386/91, do Conselho Estadual da Educação, na
política de educação de jovens e adultos no Estado de Minas Gerais, em relação à
legislação anterior. De modo geral, a pesquisa buscou verificar qual o impacto da
Resolução 386/91 na ampliação do atendimento à educação de jovens e adultos. O estudo
procurou, também, trabalhar estatisticamente os dados coletados para conhecer a realidade
da educação de jovens e adultos no estado, verificando a relação entre a demanda e o
atendimento público e privado. A pesquisa objetivou, ainda, contribuir, em forma de
subsídio, para a formulação de políticas públicas para a educação de jovens e adultos.
O estabelecimento de uma política educacional que atenda à população que não concluiu o
ensino fundamental na idade própria sofreu alterações significativas nos últimos vinte e
cinco anos. A Lei 5692/71, que atribuiu um capítulo para o ensino supletivo, recomendava
aos Estados atender aos jovens e adultos através de cursos e exames. O Parecer 699/72, do
Conselheiro Valnir Chagas, estabeleceu a doutrina para o ensino supletivo. Os exames
supletivos, antigo madureza, passaram a ser organizados de forma centralizada pelos
governos estaduais. Os cursos, por outro lado, passaram a ser regulamentados pelos
respectivos Conselhos Estaduais de Educação.
As políticas de educação para jovens e adultos definidas no regime militar devem ser
compreendidas em um contexto mais amplo. Durante esse período, o MEC firmou
convênios com a “Agency for International Development” (AID), os conhecidos acordos
MEC-USAID, imprimindo uma marca no desenvolvimento da educação daquele período.
O tecnicismo, concepção educacional surgida nos Estados Unidos, com seus princípios de
racionalidade, eficácia e produtividade, veio atender às orientações gerais do governo
militar, de enfatizar as inovações organizacionais e técnicas. A educação se colocava,
também, a serviço do binômio desenvolvimento-segurança. Entre os vários programas
criados dentro dessa compreensão, destacam-se, para a educação de jovens e adultos, o
Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), sobre o qual não nos deteremos aqui,
e a Lei 5692/71.
1
As pesquisas analisadas por Haddad, durante o período de 1964 a 1985, revelaram que o
problemas da educação.
A Lei 5.692, que dedicou pela primeira vez na história da educação um capítulo ao ensino
anos para ser editada, a 5.692/71 foi elaborada em um prazo de 60 dias, por nove membros,
indicados pelo então Ministro da Educação Coronel Jarbas Passarinho. Entre as principais
para oito anos, unificando os antigos ensino primário e ginasial, criando, assim, o ensino de
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MINAS GERAIS, Resolução - CEE/MG- Nº 134/71.
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Capítulo V é dedicado ao ensino supletivo numa transposição da lei maior. Trata-se da
escolarização regular.
ensino supletivo. O passo seguinte foi dado pelo MEC quando instituiu um grupo de
trabalho para definir a política do Ensino Supletivo e propor as bases doutrinárias sobre a
matéria, resultando no Parecer 699/72 do relator Valnir Chagas, que conceitua e estrutura o
ação. Proposto pelo relator como o maior desafio aos educadores brasileiros, o ensino
supletivo foi apresentado como um manancial inesgotável de soluções para ajustar, a cada
mundo. O Parecer 699/72 foi elaborado para dar fundamentação ao que seria a doutrina do
ensino supletivo. Nesse sentido ele viria a "detalhar" os principais aspectos da Lei 5692, no
que tange ao ensino supletivo, facilitando sua compreensão e orientando sua execução.
iniciais de atendimento a essa prerrogativa foram os exames e os cursos. O que até então
Exames Supletivos. A novidade trazida pelo Parecer 699/72 estava em implantar cursos que
metodologias.
2
BRASIL, Parecer CFE Nº 699/72, de 5 de julho de 1972.
3
A Lei 5692/71 concedeu flexibilidade e autonomia aos Conselhos Estaduais de Educação
para normatizarem o tipo de oferta de cursos supletivos nos respectivos Estados. Isso gerou
QUADRO 1
1972-1976
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aprendizagem (professor) quando necessitasse de alguma explicação ou mesmo para tirar
dúvidas através das consultas (atendimento individual ou em pequenos grupos). Para a
implantação dos CES, as Secretarias Estaduais estabeleciam convênios com os governos
municipais.
QUADRO 2
CENTROS DE ESTUDOS SUPLETIVOS
ESTADO DE MINAS GERAIS
autonomia. Uma das justificativas apresentadas foi a de que os exames supletivos eram
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3
feitos sem nenhuma organização pedagógica nem administrativa. Por fim, em 13 de
sempre acompanhou a estrutura do MEC. De certa forma isto representa uma sintonia com
as políticas do governo federal podendo vir a garantir, com mais facilidade, o repasse de
recursos para a execução de metas em comum. Ressaltou que sempre procurou manter uma
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Entrevista concedida a esse pesquisador pela professora Maria Vicentina de Campos Carvalho em 01 de
outubro de 1992.
4
Secretaria Estadual da Educação MG. A Educação Supletiva em Minas Gerais, Superintendência
Educacional, Diretoria de Ensino Supletivo, nov.1985, p.8
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Apesar da orientação dada pelo MEC para que se procurasse meios para diminuir a procura
dos exames, a legislação estadual procurou ser rígida no tocante à autorização para que
esses cursos funcionassem com avaliação no processo. Na década de 70, apenas dois
verá, com a Resolução 386, de 1991, que concedeu autorização de funcionamento para
novos cursos regulares de suplência. Mesmo assim, os exames supletivos continuam sendo
procurados por elevado número de candidatos. Somente nos exames de julho de 1995,
Chagas, quando redigiu, há mais de vinte anos, o Parecer 699/72: "os exames de suplência
são hoje espetáculos de grandes números, a exigirem soluções para grandes números"
(PARECER 699/72:382).
Nesse contexto, podem ser levantadas as seguintes questões: será que o grande contingente
de jovens e adultos que, depois de abandonar a escola em Minas Gerais, conseguiu
concluir o ensino fundamental e o ensino médio é oriundo da iniciativa privada? Será que o
atendimento público está muito aquém da demanda em potencial de candidatos jovens e
adultos à conclusão do ensino fundamental e médio?
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datado de dezembro de 1987; anterior, portanto, à Constituição de 1988, necessitando ser
atualizado.
A demora na aprovação de uma nova LDB vem colocar fatos como esse em questão. A
Constituição de 88 avançou em relação à anterior ao estender o direito ao ensino
fundamental (1º grau) para todos em qualquer idade. Esse preceito constitucional legitima
as pressões da população para ter acesso à escolarização. Na falta de uma lei que estabeleça
as diretrizes e determine as bases para a educação nacional, o Conselho Estadual de
Educação de Minas Gerais procurou regulamentar o ensino supletivo buscando uma
atualização com a Carta Magna. Dessa forma se manifestou o Conselheiro Samuel Rocha
Barros na Indicação nº 01/90:
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supletivos. Uma vez que o ensino fundamental é obrigatório para todos, em
qualquer idade, já não se justifica a existência de exames supletivos de
educação geral, mas, ao contrário, impõe-se a instalação de cursos regulares
(grifo do autor) de ensino fundamental supletivo, como no passado era regra
no ensino público (cursos primários noturnos).' 5
5
MINAS GERAIS. - PARECER CEE/MG Nº 270/91, de 15-03-91, Câmara de Ensino Supletivo.
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MINAS GERAIS. - RESOLUÇÃO CEE/MG Nº 386, de 15 de março de 1991.
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A Resolução 386/91 possibilitou uma expansão do ensino supletivo no Estado, se
comparado com a situação anterior. Até então, a oferta de suplência estava restrita aos
Centros e Unidades de Estudos Supletivos de 1º e 2º graus, localizados em parte dos
municípios do Estado, aos cursos de suplência de 1ª a 4ª séries nas escolas estaduais e aos
dois únicos cursos particulares com avaliação no processo, reconhecidos pelo Conselho
Estadual da Educação. No mais, quem desejasse estudar, teria que dispor de recursos
financeiros para se matricular nos cursos livres preparatórios para os exames supletivos.
QUADRO 3
PARECERES SOBRE CURSOS DE SUPLÊNCIA
1991 a 1996
10
1995 96 2 9
1996 63 7 -
Total 278 16 21
FONTE: Biblioteca do CEE/MG
QUADRO 4
PARECERES SOBRE AS MODALIDADES DOS CURSOS DE SUPLÊNCIA
1991 a 1996
QUADRO 5
CURSOS DE SUPLÊNCIA
11
1991 a 1996
QUADRO 6
CURSOS DE SUPLÊNCIA
1991 a 1996
ANO 1a a 4 a 5a a 8a 1a a 8a Médio
1991 - 2 - -
1992 - 23 - 20
1993 - 37 - 30
1994 - 20 1 10
1995 1 79 15 49
1996 - 59 2 28
12
Total 1 220 18 137
FONTE: Biblioteca do CEE/MG
Ao analisar os dados correspondentes às redes de ensino deparamos com dois terços dos
cursos pertencentes à iniciativa privada. Foram apenas 124 cursos da rede pública (Quadro
7). Esse dado nos remete à análise, ao entendimento sobre o que realmente alterou na
política educacional para jovens e adultos no Estado de Minas Gerais. Em uma primeira
análise, o número por si só já significaria uma expansão sem precedentes. Mas, o que estará
por trás desses números expressivos? Com a ausência do Estado na educação de jovens e
adultos criou-se uma cultura da escolaridade paga para aqueles que não a “aproveitaram”
na idade adequada. Essa idéia não está dissociada da idéia de educação compensatória, de
“recuperar o tempo perdido”. É comum encontrarmos em “Folders” e “Outdoors” de
publicidade dos cursos supletivos privados, os apelos a esse tipo de educação. Muitos
jovens e adultos sentem recair sobre si o fracasso de uma escolaridade incompleta e
assumem o ônus de custear, novamente, seus estudos em cursos privados preparatórios para
os exames ou mesmo regulares de suplência.
QUADRO 7
CURSOS DE SUPLÊNCIA
REDE PRIVADA / REDE PÚBLICA
1991 a 1996
13
Total 234 124
FONTE: Biblioteca do CEE/MG
Dos cursos autorizados a funcionar na rede pública de ensino, 59 foram da rede estadual
enquanto 65 da municipal (Quadro 8). Esse fato parece demonstrar o movimento emergente
das iniciativas municipais em decorrência da ausência do Estado. BEISIEGEL (1997),
analisando o período em questão, aponta a desobrigação do governo federal para com a
educação de jovens e adultos. Analisando discursos de Ministro e assessores do MEC, o
autor descreve o descaso e o abandono do governo para com este setor da educação.
HADDAD (1991) mostra como o governo federal se afastou da educação de jovens e
adultos, a partir do fechamento da Fundação Educar, e como os governos estaduais seguem
a mesma orientação, desfazendo órgãos que até então se responsabilizavam por esta área.
Na V Conferência Internacional de Educação de Adultos, patrocinada pela UNESCO,
realizada em 1997, em Hamburgo, na Alemanha, o governo brasileiro expressou, através da
delegação oficial, sua política de investimento na educação fundamental das crianças, e
uma suposta intenção de equacionar os futuros problemas com a educação dos jovens e
adultos.
QUADRO 8
CURSOS DE SUPLÊNCIA PÚBLICOS
REDE ESTADUAL / REDE MUNICIPAL
1991 a 1996
14
Total 59 65
FONTE: Biblioteca do CEE/MG
Considerações finais
Existe hoje uma diversidade de ações no campo da educação de jovens e adultos que difere
quantitativa e qualitativamente do que existiu nas décadas de 70 e 80. Essa diversidade
passa pelas iniciativas no âmbito municipal, estadual e federal, bem como pelas
organizações do mundo do trabalho e da sociedade civil. Deparamos com projetos de
alfabetização e de programas de escolarização de jovens e adultos que se realizam em
escolas públicas e privadas, passando pelas fábricas, pelas igrejas, por tribos indígenas
chegando até aos assentamentos do MST.
Dada essa diversidade, é que se faz necessário passar do mero dado quantitativo para
parâmetros substantivos que contribuam para qualificar as especificidades da educação de
jovens e adultos em seus diversos contextos sócio-culturais. Nesse sentido, a pesquisa
apresentada neste texto deverá se desdobrar em uma análise que privilegie os aspectos
qualitativos de todo esse processo. A princípio, pretende-se estabelecer um perfil dos cursos
de iniciativa pública e privada implantados no Estado de Minas Gerais após a Resolução
386/91, a partir de estudo e análise das concepções de educação de jovens e adultos neles
15
presentes, das metodologias desenvolvidas e dos processos de seleção e capacitação de
professores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEISIEGEL, Celso de Rui. A política de educação de jovens e adultos analfabetos no
CAMPOS, Rogério C. A luta dos trabalhadores pela escola. Belo Horizonte: Faculdade de
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CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS. Resolução Nº 386/91.
qualificação profissional.
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SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS. Redefinição e
SPOSITO, Marília Pontes. A Ilusão Fecunda: a luta por educação nos Movimentos
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