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EDITORIAL 1
ISSN 1808-8899
Inclusão: R. Educ. esp., Brasília, v. 4, n. 1, p. 1-61, jan./jun. 2008
SUMÁRIO
1 4 7
Editorial Entrevista Destaque
Claudia Pereira Dutra Fernando Haddad Política Nacional de Educação
Secretária de Educação Especial/MEC Ministro da Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva
18 33 49 51
Colóquio Enfoque Informes Opinião
Política Nacional de Educação Questões preliminares Conferência Nacional da A Política Nacional de Educação
Especial na Perspectiva da sobre o desenvolvimento Educação Básica Especial na Perspectiva da Educação
Educação Inclusiva de políticas de Educação Inclusiva
Claudio Roberto Baptista Inclusiva BPC na Escola Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva
Maria Teresa Eglér Mantoan David Rodrigues Ela Wiecko Volkmer de Castilho
Maria Amélia Almeida Alexandre Carvalho Baroni
Rita Vieira de Figueiredo Criança e adolescente com Izabel Maria Madeira de Loureiro Maior
Ronice Müller de Quadros deficiência: impossibilidade José Rafael Miranda
Soraia Napoleão Freitas de opção pela sua educação Eduardo Barbosa
Claudia Pereira Dutra exclusivamente no Cláudia Maffini Griboski
Antônio Carlos do Nascimento Osório atendimento educacional Clélia Brandão Alvarenga Craveiro
Eduardo José Manzini especializado
Denise de Souza Fleith Patrícia Albino Galvão Pontes
4 ENTREVISTA
Fernando Haddad Ministro da Educação
À
frente do Ministério da Edu- de Desenvolvimento da Educação lidades educacionais e potencializa
cação, o ministro Fernando – PDE, e das políticas públicas para políticas que reforçam a sua inter-
Haddad tem uma gestão a educação inclusiva. dependência. Um exemplo claro é
marcada pela consistência das po- a articulação entre a educação bá-
líticas educacionais e intenso diá- 1. Revista Inclusão: Ao abordar sica e a superior, em regime de co-
logo com os diferentes setores so- os enlaces conceituais que envol- laboração, na UAB as universidades
ciais. Entre políticas importantes de vem a execução do PDE, o senhor públicas ofertam formação para os
sua Pasta, destacam-se o Programa afirma a necessidade de superar a professores, os estados e municí-
Universidade para Todos – ProUni, visão fragmentada da educação. pios mantêm os pólos presenciais e
a Universidade Aberta do Brasil Como o PDE se traduz em propos- a União efetiva o fomento. Visando
– UAB, e o Fundo de Manutenção e tas concretas? dar conseqüência às normas gerais
Desenvolvimento da Educação Bá- e às diretrizes estabelecidas para a
sica e Valorização dos Trabalhado- Fernando Haddad: A partir da educação, o PDE torna-se estraté-
res da Educação – FUNDEB. Nesta concepção sistêmica de educação, gico para assegurar a educação in-
entrevista, o ministro fala dos fun- o PDE ultrapassa as falsas oposi- fantil, a aprendizagem, a alfabetiza-
damentos que embasam o Plano ções entre os níveis, etapas e moda- ção, a permanência, a valorização
I – Introdução
O movimento mundial pela cas da produção da exclusão den- classes especiais passa a ser repen-
educação inclusiva é uma ação po- tro e fora da escola. sada, implicando uma mudança
lítica, cultural, social e pedagógica, Ao reconhecer que as dificulda- estrutural e cultural da escola para
desencadeada em defesa do direi- des enfrentadas nos sistemas de que todos os alunos tenham suas
to de todos os alunos de estarem ensino evidenciam a necessidade especificidades atendidas.
juntos, aprendendo e participando, de confrontar as práticas discrimi- Nesta perspectiva, o Ministério
sem nenhum tipo de discrimina- natórias e criar alternativas para da Educação/Secretaria de Educa-
ção. A educação inclusiva constitui superá-las, a educação inclusiva ção Especial apresenta a Política
um paradigma educacional funda- assume espaço central no debate Nacional de Educação Especial na
mentado na concepção de direitos acerca da sociedade contemporâ- Perspectiva da Educação Inclusiva,
humanos, que conjuga igualdade nea e do papel da escola na supera- que acompanha os avanços do co-
e diferença como valores indisso- ção da lógica da exclusão. A partir nhecimento e das lutas sociais, vi-
ciáveis, e que avança em relação à dos referenciais para a construção sando constituir políticas públicas
idéia de eqüidade formal ao con- de sistemas educacionais inclu- promotoras de uma educação de
textualizar as circunstâncias históri- sivos, a organização de escolas e qualidade para todos os alunos.
A escola historicamente se ca- exclusão tem apresentado carac- distinção dos alunos em razão de
racterizou pela visão da educação terísticas comuns nos processos de características intelectuais, físicas,
que delimita a escolarização como segregação e integração, que pres- culturais, sociais e lingüísticas, en-
privilégio de um grupo, uma exclu- supõem a seleção, naturalizando o tre outras, estruturantes do modelo
são que foi legitimada nas políticas fracasso escolar. tradicional de educação escolar.
e práticas educacionais reproduto- A partir da visão dos direitos hu- A educação especial se organi-
ras da ordem social. A partir do pro- manos e do conceito de cidadania zou tradicionalmente como aten-
cesso de democratização da escola, fundamentado no reconhecimen- dimento educacional especializado
evidencia-se o paradoxo inclusão/ to das diferenças e na participação substitutivo ao ensino comum, evi-
exclusão quando os sistemas de dos sujeitos, decorre uma identifi- denciando diferentes compreen-
ensino universalizam o acesso, mas cação dos mecanismos e processos sões, terminologias e modalidades
continuam excluindo indivíduos e de hierarquização que operam na que levaram à criação de institui-
grupos considerados fora dos pa- regulação e produção das desigual- ções especializadas, escolas espe-
drões homogeneizadores da es- dades. Essa problematização expli- ciais e classes especiais. Essa organi-
cola. Assim, sob formas distintas, a cita os processos normativos de zação, fundamentada no conceito
O Censo Escolar/MEC/INEP, reali- especializado, acessibilidade nos Para compor esses indicadores
zado anualmente em todas as esco- prédios escolares, municípios com no âmbito da educação especial,
las de educação básica, possibilita o matrícula de alunos com necessida- o Censo Escolar/MEC/INEP coleta
acompanhamento dos indicadores des educacionais especiais, escolas dados referentes ao número geral
da educação especial: acesso à edu- com acesso ao ensino regular e for- de matrículas; à oferta da matrícula
cação básica, matrícula na rede pú- mação docente para o atendimen- nas escolas públicas, escolas priva-
blica, ingresso nas classes comuns, to às necessidades educacionais das e privadas sem fins lucrativos;
oferta do atendimento educacional especiais dos alunos. às matrículas em classes especiais,
Quanto à distribuição dessas das, principalmente em institui- crescimento de 146% das matrí-
matrículas nas esferas pública e pri- ções especializadas filantrópicas. culas nas escolas públicas, que
vada, em 1998 registra-se 179.364 Com o desenvolvimento das ações alcançaram 441.155 (63%) alunos
(53,2%) alunos na rede pública e e políticas de educação inclusiva em 2006, conforme demonstra o
157.962 (46,8%) nas escolas priva- nesse período, evidencia-se um gráfico:
A educação especial é uma mo- O atendimento educacional es- especializado diferenciam-se da-
dalidade de ensino que perpassa to- pecializado tem como função iden- quelas realizadas na sala de aula
dos os níveis, etapas e modalidades, tificar, elaborar e organizar recursos comum, não sendo substitutivas
realiza o atendimento educacional pedagógicos e de acessibilidade à escolarização. Esse atendimento
especializado, disponibiliza os re- que eliminem as barreiras para a complementa e/ou suplementa a
cursos e serviços e orienta quanto a plena participação dos alunos, formação dos alunos com vistas à
sua utilização no processo de ensi- considerando suas necessidades autonomia e independência na es-
no e aprendizagem nas turmas co- específicas. As atividades desenvol- cola e fora dela.
muns do ensino regular. vidas no atendimento educacional Dentre as atividades de atendi-
VII – Referências
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A
proposição da nova Políti- nização de um sistema educacio- 1. O documento “Política Nacio-
ca Nacional de Educação nal inclusivo. nal de Educação Especial na Pers-
Especial na Perspectiva da Neste colóquio dialogam os pectiva da Educação Inclusiva”
Educação Inclusiva/2008 reflete a professores pesquisadores da área contextualiza a inclusão como
ampla discussão realizada nos di- de educação especial, que inte- um movimento mundial que se
versos fóruns educacionais sobre graram o Grupo de Trabalho no- intensifica a partir da Conferên-
inclusão no País, as conquistas do meado pela Portaria Ministerial nº cia Mundial de Educação para
movimento das pessoas com defi- 555/2007, que teve a incumbência Todos – 1990, da Declaração de
ciência, bem como os avanços dos de elaborar a nova Política. A fim de Salamanca – 1994 e da Conven-
marcos legais e educacionais. O dar conseqüência a esta elabora- ção da Guatemala – 1999, con-
Documento configura a educação ção, esses professores, juntamente figurando um novo paradigma
inclusiva como uma ação política, com a equipe gestora da Secretaria educacional. Como os demais
cultural, social e pedagógica em de Educação Especial, desencadea- países estão redimensionando
defesa do direito de todos a uma ram um amplo debate sobre a edu- a educação especial nesta pers-
educação de qualidade e da orga- cação especial em nosso País. pectiva?
RO NI CE QUAD ROS
tões fundamentais é visibilizar e quando se aproxima
assumir as diferenças dentro dos
espaços educacionais partindo das necessidades
do pressuposto que não basta lingüísticas,
estar junto para haver inclusão,
mas importa o que fazem esses
culturais, sociais das
educandos dentro desses espa- pessoas revisando
ços para que sejam significativas permanentemente
as aprendizagens. As diferenças
fazem parte dos grupos sociais o seu papel e sua
e são determinadas a partir da responsabilidade com
perspectiva do outro. Em relação
à diferença surda, o reconheci-
a inclusão, dá um passo
mento da Libras e do Português positivo na tarefa
como segunda língua no Decreto imensa de reverter os
5626, foi um avanço em termos
de Brasil. Isso é um redimensiona- quadros dramáticos de
mento em termos de perspectiva exclusão social.
inclusiva porque a língua consti-
tutiva dos sujeitos passa a assu-
mir uma representação política
fundamental. No entanto, ainda
são incipientes as abordagens
no campo pedagógico com co-
nhecimento de causa propiciado ticas, culturais, sociais das pessoas te”, na rede regular de ensino. A
no contato com as comunidades revisando permanentemente o Lei 4.024, de 1961, também afir-
surdas. O ponto referencial modi- seu papel e sua responsabilidade mava que “no que for possível”
fica de acordo com os olhares dos com a inclusão, dá um passo posi- as crianças com necessidades es-
sujeitos implicados, ser “surdo”, tivo na tarefa imensa de reverter peciais deveriam ser atendidas na
ser “cego” etc. tem múltiplos sig- os quadros dramáticos de exclu- rede regular de ensino. E assim,
nificados na suas relações com o são social. tantas outras leis... Se analisarmos
outro dentro dos espaços sociais, que em 1961 o Brasil já dispunha
dentre eles, o espaço escolar. É 2. Tendo em vista que no Brasil, de uma lei que garantia o aten-
importante assinalar que a Decla- desde a promulgação da Consti- dimento dessas crianças na rede
ração de Salamanca provocou a tuição Federal de 1988, os precei- regular de ensino, enquanto que,
visibilização das diferenças. Este tos legais já definem a educação nessa mesma época, na Escandi-
é o tipo de movimento que está como um direito de todos com návia se falava no “Princípio de
sendo desencadeado a partir do igualdade de oportunidades, o Normalização” ou seja, “deixar
que vem sendo referido como que justifica, hoje, a elaboração que as pessoas com deficiência
educação inclusiva no mundo. Os deste Documento? mental tivessem uma convivência
tempos, os espaços e as formas o mais próximo possível do nor-
de ensinar e aprender passam a Maria Amélia: Eu iria um pouco mal”, o Brasil saiu na vanguarda
ser ressignificados a partir das di- antes da Constituição de 1988, em termos de inclusão. No en-
ferenças. Sob essas perspectivas, que definiu que os alunos com tanto, termos como: “no que for
a Educação Especial, quando se necessidades especiais deveriam possível”, “preferencialmente” im-
aproxima das necessidades lingüís- ser atendidos, “preferencialmen- pediram que o processo inclusivo
SO R AIA FR EI TA S
pelo propósito de realizar um gran- rios para garantir a aprendizagem
de investimento nas escolas para escolar. A articulação entre o ensi-
acolher a todos os alunos, criando no comum e a educação especial,
melhores condições de infra-estru- sobretudo através do atendimento
tura e formação profissional que educacional especializado, deve
contemplem a promoção do ensi- visar sempre a aprendizagem dos
no e da aprendizagem e a avaliação alunos que se beneficiam desse
do processo educacional. Neste serviço. Na verdade, o que deve
sentido, as mudanças devem acon- mudar nos sistemas de ensino é a
tecer no âmbito geral dos sistemas oferta do atendimento educacio-
de ensino e a implementação da nal especializado para os alunos
Política Nacional de Educação Es- que dele necessitam e o que já se
pecial na Perspectiva da Educação vem reivindicando há muitas dé-
Inclusiva exigirá que cada sistema cadas: a transformação da escola
reestruture a sua rede de ensino pública brasileira, especialmente
para assegurar a atuação da educa- no que consiste a gestão da escola
ção especial nas escolas regulares ... há a necessidade e a gestão da classe. Transformar a
com propostas pedagógicas, recur- de repensar a gestão da classe significa transfor-
sos pedagógicos e de acessibilida- mar as práticas que temos hoje (em
de para a plena participação dos organização escolar sua maioria pautadas no conceito
alunos com deficiência, transtornos nos níveis macro e de homogeneidade) em práticas
globais de desenvolvimento e altas que atendam a diversidade da sala
micro estruturais,
habilidades /superdotação. de aula (pautadas no principio da
contemplando desde a heterogeneidade). Essa transfor-
Soraia Napoleão Freitas: Penso gestão no sentido mais mação da escola não é requerida
que esta Política, ao propor a articu- em decorrência da demanda de
lação entre o ensino regular e a edu- amplo do “sistema de inclusão escolar, visto que não são
cação especial, lança a possibilidade ensino” e da escola, apenas as crianças com deficiência
da escola repensar a totalidade da até a organização da que apresentam dificuldades para
sua organização, historicamente se- se apropriarem dos conteúdos es-
dimentada. Ou seja, a educação es- prática educacional em colares, mas também uma grande
pecial, que na organização dos “sis- sala de aula. parte daquelas consideradas nor-
temas de ensino” configurava um mais.
“sistema paralelo”, passa a constituir
parte integrante desses “sistemas”. Antônio Osório: A reconstrução
Logo, há a necessidade de repen- Rita Vieira: A primeira mudança das práticas pedagógicas e de suas
sar a organização escolar nos níveis é uma mudança de perspectiva: a respectivas orientações configura-
macro e micro estruturais, contem- escola é compreendida como um das por diferentes grupos (gesto-
plando desde a gestão no sentido espaço de direito, um bem social res, educadores e demais segmen-
mais amplo do “sistema de ensino” que deve ser assegurado a TODAS tos) envolve discussões a respeito
e da escola, até a organização da as crianças, indistintamente. Neste da complexidade que permeia a
prática educacional em sala de aula. novo documento fica claro o que é tentativa de definirmos um siste-
É um entendimento diferenciado de competência da escola comum ma de ensino no nível nacional ou
de ensinar e aprender que precisa e o que é de competência da edu- local. Essas práticas, analisadas iso-
perpassar as organizações escolares cação especial, devendo os siste- ladamente, desenham um mosaico
e que modifica o entendimento de mas de ensino se organizarem para em que cada pedaço tem funções
gestão até então conhecido. oferecer a TODAS as crianças não pré-estabelecidas dentro de uma
DENISE FLEITH
disponível no portal do Ministério diferentes conflitos históricos da
da Educação. sociedade, que não personifique
o aluno como marca ou estigma,
Antônio Osório: O principal de- diferenciando ou categorizando,
safio são as práticas pedagógicas como se fosse recuperável ou não,
exercidas até então. O exemplo normal ou “anormal”, mas como su-
disso é o currículo adequado à es- jeito de suas próprias construções
trutura do sistema e das escolas de históricas a partir de suas condi-
forma limitada. Os anos 80 sinali- ções pessoais.
zaram uma nova possibilidade de
organização curricular, numa pers- Soraia Napoleão Freitas: As mu-
pectiva progressista, dando ênfase danças impulsionadas pela edu-
às experiências culturais trazidas cação inclusiva estão aparecendo
pelo aluno para resolver os pro- cada vez mais no cenário educa-
blemas enfrentados no cotidiano, cional brasileiro. Vale destacar que
promovendo, segundo Freire, o a concepção do professor é que
pensamento crítico e privilegiando define a implementação das ações
a justiça social e à equidade. Neste pedagógicas, tendo em vista a in- jamento e a avaliação sob a ótica
momento, a valorização por parte clusão. Nesse sentido, a formação da valorização da diversidade e do
das escolas passou a ser os méto- do professor é um desafio cons- respeito à diferença.
dos de ensino, desprovidos, muitas tante. Não se trata do professor ter
vezes, de conteúdos, mas manten- conhecimento das especificidades Rita Vieira: Na minha opinião o
do os mesmos mecanismos de con- e características das deficiências ou principal desafio da escola brasileira
trole e as formas mais tradicionais dos indicadores de altas habilida- é assegurar a escola de tempo inte-
de avaliação de desempenho dos des/superdotação dos alunos, mas, gral. O tempo escolar que temos em
alunos. Nos anos 90, o currículo foi sobretudo, do professor ressignifi- nosso País, atualmente (meio tur-
defendido a partir dos discursos de car a base da sua prática educativa, no), é insuficiente para a formação
uma perspectiva crítica, reflexos ou seja, pensar o currículo, o plane- (acadêmica, intelectual, moral, ética
ANTÔNIO OSÓRIO
educacional cacional inclusivo? Para discutir o
atendimento educacional especia-
especializado, lizado, gostaria de iniciar dizendo
indiscutivelmente, que devemos acolher com cautela
a afirmação “o atendimento educa-
tem que ter a função cional especializado é promotor do
complementar ou acesso ao currículo comum” contida
suplementar, assim na questão proposta aos debatedo-
res. Considero que seria temeroso
como as instituições se a Política Nacional de Educação
especializadas ou as Especial restringisse a grande tarefa
de “garantia de acesso ao currículo”
escolas especiais. ao atendimento educacional espe-
cializado. Essa garantia é algo mui-
to mais amplo e depende de nossa
visando à apredizagem dos edu- mos podem levar essas escolas a se capacidade de reinventar a escola,
candos, avaliações e terminalidade, transformarem em centros de aten- aprendendo com a tradição peda-
a partir das condições cognitivas de dimento educacional especializado gógica de muitos, como Paulo Frei-
cada educando. – AEE. Essa transformação, no en- re, que nos ensinam a valorizar per-
tanto, terá caráter temporário, pro- cursos singulares de aprendizagem,
Maria Teresa Mantoan: A grande visório, porque a tendência é alocar, a conceber a aprendizagem e o en-
novidade da Política Nacional de gradativamente, o AEE nas escolas sino como parte de um binômio in-
Educação Especial é marcar a esco- comuns, como é prescrito nos tex- dissociável, a reconhecer que aquilo
la comum como lugar preferencial tos legais referentes à educação em que habitualmente chamamos de
do atendimento educacional espe- geral e à educação especial. Quanto “currículo” precisa se alimentar de
cializado, segundo o que prescreve ao impacto na educação brasileira, vida para que haja maior possibili-
a Constituição/88. A partir do que espera-se que a Política seja o mar- dade de que cada aluno encontre
nos propõe a Política podemos in- co de que necessitamos para uma sentido naquilo que deve aprender.
ferir que o papel das instituições es- tão esperada e necessária reviravol- Assim, essa não pode ser concebida
pecializadas passará a ser mais forte ta educacional, que nos conduza à como uma tarefa nem da educação
e incisivo no sentido de garantir às inclusão plena em todos os níveis e especial apenas, e muito menos de
pessoas com deficiência e a outros modalidades de ensino e à melho- um serviço da educação especial.
públicos da educação especial o ria da qualidade dos processos de Reconheço que o atendimento
que lhes é de direito, ou seja, a in- ensino e de aprendizagem. educacional especializado pode ser
serção total e incondicional no meio um recurso extremamente valioso
escolar, social, laboral, no lazer, nos Claudio Baptista: Ao abordar o para os sujeitos que são identifica-
esportes, na vida cidadã. As insti- atendimento educacional especia- dos como alunos com deficiência,
tuições especializadas avançarão, lizado, gostaria de discutir alguns com transtornos globais do desen-
portanto, no cumprimento de seus pontos que emergem como cen- volvimento e com altas habilidades.
ideais maiores, ao assumirem esse trais em outras questões propos- Esse serviço, quando em sintonia
papel. As escolas especiais terão de tas neste debate. Como ocorre, ou com o projeto político pedagógico
buscar novos rumos, porque o ensi- deveria ocorrer, a articulação entre da escola, quando articulado às de-
no especial não é mais substitutivo o ensino regular e a educação es- mais práticas docentes, quando não
do ensino regular e todos os alunos pecial? Como se configura a rea- restrito à dimensão clínica do aten-
devem estar juntos, aprendendo, lidade atual com relação à educa- dimento, quando não entendido
segundo a capacidade de cada ção inclusiva e quais os desafios a apenas como um espaço físico di-
um, nas escolas comuns. Esses ru- serem superados? Como o grupo ferenciado, poderá contribuir para
* Doutor em Ciências da Motricidade Humana na área de Educação Especial e Reabilitação (UTL/FMH), professor da Universidade Técnica de Lisboa, e
coordendor do Fórum de Estudos de Educação Inclusiva (www.fmh.url.pt/feei)
A great number of countries have subscribed the need a real IE. The questions that seem more important
of an educational policy aiming Inclusive Education. and are discussed in this paper, are: what is the tar-
International organizations, namely United Nations get-population of IE, which are the available models
and UNESCO, have been producing documents where of support, which are the changes that regular schools
Inclusive Education (IE) is regarded not anymore as an must undergo, the need of resources and the relation-
option but as a right of each student. Meanwhile, dif- ship between regular schools and special schools.
ferent models of educational policies co-exist, all of
them aiming IE. This paper clarifies, as a starting point, Key words: educational policy, inclusive education,
the concept of IE and then discuss which options of special educational needs, special
educational policy can be more adequate to promote education.
Resumo
O texto faz uma análise sobre as disposições constitu- atendimento educacional especializado, enquanto
cionais e legais atinentes à educação e, mais especifi- modalidade. Os argumentos contrários são enfren-
camente, à obrigação dos pais em matricular os seus tados, demonstrando que os mesmos não subsistem
filhos na escola comum. É ressaltada a impossibilidade frente à nossa Constituição Federal.
de opção pela escola especial para as crianças e ado-
lescentes com deficiência, esclarecendo a diferença Palavras-chave: educação inclusiva, deficiência , es-
entre a escolarização, enquanto nível de ensino, e o cola especial
* Promotora de Justiça/RN, Coordenadora do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Defesa da Pessoa com Deficiência e do Idoso do Minis-
tério Público do Estado do Rio Grande do Norte. Tese aprovada, por unanimidade, no XVII Congresso Nacional do Ministério Público, em Salvador/BA,
no período de 26 a 29 de setembro de 2007.
This text presents an analysis of the constitutional education, and special educacional attendence,
and legal provisions pertaining to education, and while modality. The opposites arguments are faced,
more specifically, the obligation of parents to en- showing that they will not prevail over the Federal
roll their children in regular school. It highlights Constitution.
the impossibility of choice of the special school for
children and adolescents with disabilities, explain- Key words: inclusive education, disability, special
ing the difference between schooling, as level of school.
1. Considerações Iniciais ce que a educação escolar compõe- especializado (e não a educação re-
se da Educação básica, formada por gular) seja prestado na rede regular
três etapas, quais sejam: educação de ensino.
A Constituição Federal de 1988 infantil, ensino fundamental e en- A Lei de Diretrizes e Bases da
reconhece a importância do direito sino médio; e Educação Superior. Educação Nacional deixa clara a
fundamental à educação ao pres- Portanto, esta é a educação regular distinção feita entre os níveis de en-
crevê-lo, em seu artigo 205, como que deve ser oportunizada a todas sino e as suas modalidades. No que
um direito de todas as pessoas, as pessoas, não se confundindo se refere ao atendimento educacio-
considerando-o como imprescin- com o atendimento educacional nal especializado, este é prestado
dível ao pleno desenvolvimento da especializado. pela educação especial, referindo-
pessoa, ao seu preparo para o exer- Interpretações equivocadas se a esta o art. 58 da LDB3 como
cício da cidadania e à sua qualifica- são levadas a efeito em razão da sendo ela uma modalidade educa-
ção para o trabalho1. redação do artigo 208, III da Consti- cional e, portanto, não se confunde
A educação é o primeiro dos tuição Federal, onde se afirma que com os níveis da educação escolar
direitos sociais a ser elencado pela “o dever do Estado com a educação (educação básica e superior). Esta
nossa Constituição Federal2, tendo será efetivado mediante a garantia conclusão se extrai da própria es-
este diploma legal reconhecido a de atendimento educacional espe- trutura tópica e organizacional da
sua importância na formação do cializado aos portadores de defici- mencionada LDB. Em seu Título
homem enquanto cidadão. Em ra- ência, preferencialmente, na rede V são apresentados os Níveis e as
zão da fundamentalidade desse regular de ensino” (grifamos). Tal Modalidades de Educação e Ensino,
direito, não é possível admitir que dispositivo tem sido utilizado para sendo a educação especial tratada
ele seja negado a qualquer pessoa, justificar que a freqüência dos alu- em capítulo destacado da Educa-
independentemente do motivo. nos com deficiência na rede regular ção Básica e Superior.
Ao tratar do direito à educação, de ensino é uma preferência e não A denominação ‘escola especial’
está a Carta Magna a se referir es- uma obrigatoriedade. Todavia, ape- tem relação com a expressão ‘edu-
pecialmente à educação escolar, sar de uma leitura desatenta do re- cação especial’. Assim, a escola é
responsável pelo desenvolvimento ferido dispositivo poder levar a esta definida como ‘especial’ em razão
da base nacional comum prevista errônea conclusão, o que o legisla- do serviço nela prestado, qual seja,
na Lei de Diretrizes e Bases da Edu- dor constitucional está a afirmar, na o oferecimento do atendimento
cacional Nacional (Lei nº 9.394/96). verdade, é que há uma preferência educacional especializado. Toda-
Esta lei, em seu artigo 21, estabele- em que o atendimento educacional via, apesar de nominada de escola,
1
Art. 205: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
2
Art. 6º da Constituição Federal: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção
à maternidade e à infância; a assistência social aos desamparados, na forma desta Constituição”.
3
Art. 58 da LDB: Entende-se por educação especial, para os efeitos desta lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede
regular de ensino, para educando portadores de necessidades educacionais especiais (grifo nosso).
4
Art. 227: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à ali-
mentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de
colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.
5
Art. 229: “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, ca-
rência ou enfermidade”.
6
Art. 22: “Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes a obrigação de cumprir
as determinações judiciais”.
Art. 55: “Os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”.
7
Art. 24: “A perda e a suspensão do pátrio-poder serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil,
bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22”.
8
Art. 246 do Código Penal: “Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar: Pena – detenção de 15 (quinze) dias a 01
(um) mês, ou multa”.
3. Argumentos contrários
9
A Resolução 49/153 (1995) tem em seu título: Em direção à plena integração de pessoas com deficiência na sociedade (grifo nosso).
10
Assembléia Geral das Nações Unidas, 68ª Sessão Plenária em Nova York, 14 de dezembro de 1990.
R
ealizou-se de 14 a 18 de abril eixos temáticos. No eixo “Inclusão deliberações, a atribuição da esco-
de 2008, em Brasília/DF, sob e Diversidade na Educação Básica”, la pública de receber a todos, re-
a Coordenação do Secreta- a plenária aprovou as propostas afirma o compromisso constitucio-
ria Executiva Adjunta do Ministé- que afirmam a construção de um nal do Estado brasileiro. Fortalece,
rio da Educação, a I Conferência sistema educacional inclusivo, em ainda, as ações de formação con-
Nacional da Educação Básica sintonia com a Política Nacional de tinuada de professores, a organi-
– CONEB, reunindo mais de mil re- Educação Especial na Perspectiva zação de equipamentos, recursos
presentantes dos estados e do Dis- da Educação Inclusiva (2008). Com e adequações dos prédios escola-
trito Federal. A Conferência trouxe esta resolução a CONEB reafirma res para a acessibilidade.. Também
como tema central “A construção o acesso às classes comuns do en- na Conferência foi aprovada uma
do sistema nacional articulado de sino regular e a oferta do atendi- moção de apoio à ratificação da
educação” e dentre seus objetivos mento educacional especializado, Convenção da ONU sobre os Direi-
tos da Pessoa com Deficiência que
estão: a implementação de um re- não substitutivo à escolarização. A
proíbe toda e qualquer forma de
gime de colaboração e da qualida- decisão fortalece a escola pública
discriminação. A ratificação desta
de social da educação básica; a de- na efetivação do direito à educa-
Convenção representa um gran-
finição de parâmetros e diretrizes ção as pessoas com deficiência,
de avanço no reconhecimento da
para contribuir com a qualificação transtornos globais do desenvol-
diversidade humana e à conquista
do processo de ensino e aprendi- vimento e altas habilidades/super- da cidadania plena pelos mais de
zagem e a definição de políticas dotação. Segundo Claudia Dutra, 24 milhões de brasileiros que têm
educacionais que promovam a in- Secretária da Educação Especial do algum tipo de deficiência.
clusão social, de forma articulada, MEC, uma conferência que reúne
entre os sistemas de Ensino. representantes de todos os setores
Estes propósitos nortearam as da educação e dos movimentos
discussões que aconteceram nos sociais do país e resgata, em suas
N
esta seção os convidados, Rafael Miranda, assessor técnico, Perspectiva da Educação Inclusiva.
Maria do Pillar, Secretá- Eduardo Barbosa, Presidente da Esta política reposiciona a escola
ria da Educação Básica do FENAPAE, Cláudia Griboski, Direto- questionando os valores tradicio-
MEC, Ela Wiecko de Castilho, Sub- ra de Políticas de Educação Espe- nais de homogeneidade e norma-
procuradora-Geral da República e cial da SEESP/MEC, Clélia Brandão, lização que pautaram as práticas
Procuradora Federal dos Direitos Conselheira do Conselho Nacio- pedagógicas e visa garantir a uni-
do Cidadão, Alexandre Baroni, Pre- nal de Educação, manifestam seu versalização do ensino, a participa-
sidente do CONADE, Izabel Maior, posicionamento sobre a Política ção e a aprendizagem para todos
Coordenadora Geral da CORDE e Nacional da Educação Especial na os alunos.
A cada reflexão acerca da esco- nar o conhecimento para todas namento escolar sob a lógica da
la verdadeiramente inclusiva nos as crianças no espaço e no tem- inclusão. A inclusão exige, para
deparamos com um paradoxo: o po escolar, independente de suas além do campo das adaptações
inegável otimismo com que nos condições? Quais as mudanças e físicas e materiais, uma nova pos-
acenam as pesquisas que apon- as reformulações pedagógicas ne- tura da escola comum, que na sua
tam o crescimento histórico da cessárias para enfrentar o desafio real opção por práticas heterogê-
educação de meninos e meninas da inclusão? Como aprender com neas, passa a propor no projeto
com deficiência em ambiente de os excluídos? político pedagógico, no currículo,
ensino regular no País, esbarra- na metodologia de ensino, na ava-
se em questionamentos diversos liação e na atitude de professores
que nos remetem às barreiras que e estudantes, ações que favore-
ainda impedem as escolas de se çam a integração social e a dispo-
abrirem, incondicionalmente, às nibilidade de enfrentamento cole-
diferenças. tivo de um desafio: a convivência
Em um país acostumado à ex- O MEC tem uma política na diversidade.
clusão de negros, de mulheres, clara de inclusão de O MEC tem uma política clara
de índios, de pobres, podemos todas as crianças nas de inclusão de todas as crianças
dimensionar as dificuldades da nas escolas públicas do País. É fun-
inclusão de crianças com deficiên- escolas públicas do País. damental para o Plano de Desen-
cias nas escolas regulares. As ge- É fundamental volvimento da Educação que haja
rações anteriores foram educadas uma clareza de inclusão de todos.
em ambientes onde não existia “o
para o Plano de O MEC não abre mão de uma edu-
diferente”. Muitos de nós, que fo- Desenvolvimento da cação pública com qualidade para
mos crianças na década de 1960, Educação que haja uma todos, inclusive, para as crianças
só fomos conhecer pessoas com com deficiência.
síndrome de Down ou paralisado clareza de inclusão de A inclusão que sonhamos re-
cerebral ou cegos, depois de adul- todos. O MEC não abre quer que os sistemas educacio-
tos! Será que não existiam crianças nais modifiquem não apenas as
mão de uma educação
com deficiências ou elas estavam suas atitudes e expectativas em
segregadas, escondidas? pública com qualidade relação a esses alunos, mas que se
Os questionamentos, por outro para todos, inclusive, organizem para construir uma real
lado, sobre os obstáculos à univer- escola para todos, que dê conta
salização da educação inclusiva, para as crianças com das especificidades das diferen-
passam pela quebra de paradig- deficiência. ças. Projetos inovadores, avanços
mas numa instituição nascida sob tecnológicos e as novas concep-
o dogma da exclusão, em que o ções no campo pedagógico, assim
conhecimento historicamente era como a assimilação da educação
privilégio de alguns. Como fazer como direito, impõem uma mu-
com que a escola obtenha as con- dança irreversível em relação aos
dições essenciais para realmente modelos e parâmetros da inclusão
acolher e integrar as crianças, sem Práticas comprovadas em dife- na escola pública brasileira. O Cen-
um sistema educacional paralelo rentes regiões do País nos conven- so Escolar nos permite o otimismo,
ou segregado, em regime de edu- cem de que ainda há necessidade as diretrizes do PDE nos apontam
cação especial? Como proporcio- de se repensar o modo de funcio- os caminhos!
O nosso entendimento é de clusão é irreversível, necessário tivas, assim como pela busca das
que uma política nacional de e possível. Para tanto, caberá às melhores condições para a sua
educação especial na perspecti- redes que respondem pelos pro- concretização. Afinal, a inclusão
va inclusiva deva apontar na di- cessos educativos dirigidos às nos termos defendidos requer o
reção da garantia da universaliza- pessoas com deficiência – sejam desenvolvimento de novas tec-
ção do ensino, que – vale ressaltar nologias e de novas metodolo-
– não implica exclusivamente na gias de ensino-aprendizagem; a
entrada dos estudantes com de- ampliação da oferta de recursos e
ficiência na rede comum de ensi- de apoio especializados; a revisão
no, como se as redes filantrópica e, também, a atualização da for-
e privada, por exemplo, não fi- ... o conceito de mação docente, especialmente
zessem parte do sistema nacio- inclusão escolar no que diz respeito à apropriação
nal de ensino. E nesse sentido é deve ser considerado de outros/novos conceitos que
importante também enfatizar possam vir a ter implicações im-
que as barreiras que impedem a como um processo portantes para o desenvolvimen-
escolarização das pessoas com de desenvolvimento to das pessoas com deficiências
deficiências intelectual e múl- intelectual e múltipla.
tipla não estão na entrada e/ou
institucional da Defendemos que uma esco-
na permanência de uma criança, escola e sujeito la especial não é uma escola se-
adolescente ou jovem na escola a um movimento gregada por que se destina a um
especial, mas – certamente – na determinado público. Quando
exclusão de qualquer possibili- endógeno, contínuo de necessário para garantir o direito
dade de seu ingresso no sistema evolução, que implica à educação, as escolas especiais
educacional. – enquanto uma escola inserida e
Por essa razão, o conceito de
em oportunidades respeitada no sistema regular de
inclusão escolar deve ser con- de construção, ensino – são também escolas in-
siderado como um processo de desconstrução e clusivas. Se hoje temos acúmulo
desenvolvimento institucional da histórico, maturidade política e
escola e sujeito a um movimento reconstrução, próprio cautela suficiente para construir-
endógeno, contínuo de evolução, dos processos mos uma política de educação
que implica em oportunidades evolutivos humanos e especial na perspectiva inclusiva,
de construção, desconstrução e não devemos permitir que ela se
reconstrução, próprio dos pro- institucionais. traduza ou se reduza a uma cru-
cessos evolutivos humanos e ins- zada contra as escolas especiais
titucionais. Temos afirmado que ou sequer venha a se prestar à
qualquer ruptura com o modelo desestruturação dessa rede, que
de escola especial, sem conside- por anos se dedicou à construção
rar a possibilidade de sua des- elas constituídas de escolas co- de propostas educacionais volta-
construção, reconstrução e/ou muns ou especiais, públicas, pri- das ao atendimento das distintas
ressignificação, é uma arbitrarie- vadas ou filantrópicas - a abertu- especificidades desse segmento
dade. ra para um diálogo permanente, populacional expressivo de crian-
A Federação Nacional das Apa- marcado pela troca de conheci- ças, adolescentes e jovens estu-
es entende que o processo de in- mentos e de boas práticas educa- dantes brasileiros.
A grande contribuição do do- de inclusão nos diferentes espa- gico da escola; nas secretarias de
cumento da Política Nacional de ços educacionais: nas instituições educação tem instigado o re-pla-
Educação Especial na Perspectiva especializadas tem provocado a nejamento de ações, a articulação
da Educação Inclusiva é a de escla- desestabilização entre o que está intersetorial, o monitoramento e a
recer e orientar os gestores dos sis- instituído e a mudança necessária avaliação da implementação das
temas de ensino, os educadores, as políticas públicas; na comunidade
famílias e a comunidade sobre os tem desafiado mudanças de atitu-
aspectos norteadores da proposta des que viabilizem a participação
de inclusão escolar. de pessoas com e sem deficiência
Esta proposta foi elaborada ... é preciso ter claro o em espaços comuns de aprendi-
com o objetivo de orientar a orga- zagem; e nas famílias tem opor-
nização de sistemas educacionais conceito de inclusão tunizado experimentar uma nova
inclusivos e, para isso, contou com que fundamenta realidade com acesso à informação
a contribuição de diversos colabo- e reconhecimento dos direitos fun-
radores, entre eles, pesquisadores,
o projeto político damentais de educação, cidadania
gestores, professores e represen- pedagógico de cada e convivência numa sociedade in-
tantes de instituições governamen- sistema educacional. clusiva.
tais e não governamentais. Com a Assim, para além de um docu-
finalidade de aprofundar o conhe- Um projeto que não mento orientador, a Política passa
cimento sobre educação para to- discrimina, que não a se constituir um marco na orga-
dos, direciona-se, principalmente, nização do sistema educacional
aos profissionais que trabalham
segrega e que se inclusivo, servindo de referencial
nas escolas de ensino regular, e organiza para receber para a formação de professores,
que por meio de ações articuladas cada aluno assumindo para a disponibilização dos servi-
entre a educação especial e o en- ços e recursos, e na ampliação da
sino regular poderão produzir mu- o compromisso da oferta do atendimento educacio-
danças significativas na qualidade gestão pública. É dessa nal especializado, fortalecendo
da escola. inclusão que falamos! o conceito de educação especial
Nesse sentido, a Política pro- que não concebe, nem em caráter
voca a reflexão da gestão e das extraordinário, a utilização desse
práticas educacionais para que atendimento em substituição à
dêem respostas às diferenças que escolarização realizada no ensino
os alunos apresentam no processo para a realização do atendimento regular.
de escolarização, por meio do rom- educacional especializado comple- Para garantir esses pressupos-
pimento com as concepções tradi- mentar ao ensino regular; nas esco- tos é preciso ter claro o conceito de
cionais de educação e constituindo las de ensino regular tem suscitado inclusão que fundamenta o proje-
a possibilidades de transformação a reflexão acerca da incorporação to político pedagógico de cada sis-
das escolas em suas dimensões pe- de metodologias e estratégias di- tema educacional. Um projeto que
dagógicas, culturais e sociais para ferenciadas que contemplem as não discrimina, que não segrega e
a concretização da inclusão. necessidades dos alunos com defi- que se organiza para receber cada
O impacto que a Política re- ciência, transtornos globais do de- aluno assumindo o compromisso
presenta é percebido na forma senvolvimento e altas habilidades/ da gestão pública. É dessa inclu-
como é compreendida a proposta superdotação no projeto pedagó- são que falamos!
Ao externar meus agradecimen- blicas para garantir a educação de principalmente daqueles com defi-
tos pela oportunidade de apresen- pessoas com necessidades educa- ciência, ao atendimento educacio-
tar a minha opinião sobre a Política cionais especiais. Nesses marcos, nal especializado; d) o público-alvo
Nacional de Educação Especial na verifica-se um grande vácuo entre das ações da educação especial
Perspectiva da Educação Inclusiva, o período imperial e os meados do na perspectiva inclusiva: os alunos
destaco o importante papel que século XX, numa clara demonstra- com deficiência, com transtornos
a Revista Inclusão vem desempe- ção da omissão do Estado brasileiro globais do desenvolvimento e com
nhando como instrumento de in- frente à questão da exclusão educa- altas habilidades/superdotação.
formação à comunidade sobre a cional das pessoas com deficiência Explicitados estão os objetivos
diversidade e a inclusão, bem como no decorrer da nossa história e uma que essa Política pretende alcançar:
à educação continuada aos educa- retomada, com ênfase, a partir da assegurar a inclusão escolar de todos
dores e profissionais que atuam na os alunos; orientar os sistemas de en-
Educação Especial. Esse é um tema sino para garantir o acesso à escola-
que a Câmara de Educação Básica rização, à transversalidade da educa-
colocou entre as suas prioridades, Trata-se de um ção especial, à oferta do atendimento
portanto, no momento, as Diretrizes documento cuja educacional especializado, à forma-
Nacionais para a Educação Especial ção de professores, à participação da
na Educação Básica (Parecer CNE/ orientação promoverá família e da comunidade, à acessibili-
CEB nº 17/2001, Resolução CNE/CEB reformas nos sistemas dade e à articulação intersetorial.
nº 2/2001) encontram-se em fase As Diretrizes da Política de Edu-
de reavaliação no contexto da ela-
de ensino e nas cação Especial na Perspectiva da
boração das Diretrizes Curriculares Diretrizes Curriculares Educação Inclusiva define, entre
Nacionais da Educação Básica. A da Educação Básica, a outros aspectos, que a educação
publicação deste documento em especial é uma modalidade trans-
análise, resultado de estudos e ava- partir de mudanças nas versal que perpassa pelos níveis e
liações elaboradas com significativa concepções filosóficas pelas etapas e modalidades de en-
participação da comunidade, estri- e político-pedagógicas sino, sem o objetivo de substituir as
bado nas orientações de um grupo funções da educação infantil, do en-
de trabalho de excelência, chega que se embasam no sino fundamental, do ensino médio,
em boa hora. direito à educação. da educação de jovens e adultos, da
A Política Nacional de Educação educação profissional e da educa-
Especial na Perspectiva da Educa- ção superior; uma modalidade es-
ção Inclusiva destaca, entre outros, colar complementar, que completa
os seguintes pontos importantes: Constituição Federal/88, cujas defi- a formação dos alunos por ela aten-
a) os aspectos político-filosóficos e nições políticas são mais avançadas didos no atendimento educacional
pedagógicos da inclusão que a so- que a própria Política Nacional de especializado.
ciedade brasileira e a comunidade Educação Especial/1994; c) as leis, Trata-se de um documento cuja
escolar reconhecem e que algumas normas e documentos históricos orientação promoverá reformas
escolas ou municípios já estão reali- nacionais posteriores a 2001 que, nos sistemas de ensino e nas Diretri-
zando para promoção do direito de com base na Constituição Fede- zes Curriculares da Educação Básica,
todos à educação; b) os marcos his- ral/88, sinalizam para a questão de a partir de mudanças nas concep-
tóricos, nacionais e internacionais, direito de TODOS à educação em ções filosóficas e político-pedagó-
sobre os quais o Brasil construiu e espaços comuns de aprendizagem gicas que se embasam no direito à
está construindo suas políticas pú- e também para o direito dos alunos, educação.
4 Aceitação e revisão dos textos: os 3 Palavras-Chave: fazer a indicação 8 Ilustrações (tabelas, gráficos, de-
artigos recebidos são enviados (com após o resumo (mínimo de três e senhos, mapas e fotografias): de-
exclusão do nome dos autores) a máximo de cinco palavras). Utili- vem estar incluídas ao longo do
dois pareceristas pertencentes ao zar o site do Thesaurus Brasileiro texto e também apresentadas à
Conselho Consultivo da Revista que da Educação do INEP no site www. parte e em material que permita a
indicam a aceitação, a recusa ou as inep.gov.br. reprodução.
( ) Uma
( ) Duas
( ) Três
( ) Mais de três, quantas? ______________________________________
2 – Função/Atividade
( ) Sempre
( ) Com freqüência
( ) Raramente
4 - Escolaridade
( ) Fundamental
( ) Médio
( ) Superior
( ) Pós-Graduação
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