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Linhas de pacificação

ADRIANO MOREIRA

i, 2010-01-26

http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1478804&seccao=Adriano%20Moreira&tag=O

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A inquietação mundial traduzida pela teoria do choque das áreas culturais, agravado pela introdução
de valores religiosos no conceito estratégico dos poderes em conflito, provocou uma distraída
atenção a linhas de compreensão, cooperação, e pacificação, que se vão desenvolvendo com
notícia pública bem mais modesta do que a debruçada sobre os inquietantes confrontos militares e
actos terroristas.

O agravamento desta área de combates torna evidente, e culposa, a sua relação com os avanços
da ciência e da técnica, transferidos pelas malhas empresariais, lícitas ou ilícitas, e sempre
desligadas da ética que deve presidir à estruturação da sociedade da informação e do saber.
Todavia, a mesma linha da ciência e da técnica, quando não alheada dos valores que orientam a
política do desenvolvimento humano sustentado, é uma prática animada de esperança no sentido de
superar os desvios que alimentam a dispersão de capacidades bélicas, quer no domínio das armas
ligeiras, quer no domínio das armas de destruição maciça.

É neste pendor que se inscreve, de acordo com a documentação que vai sendo divulgada, a
intervenção da Islamic World Academy of Sciences, que levou a cabo a sua 16.ª Conferência em
Kazan, capital da república autónoma de Tatarstan na Federação Russa. Com a intervenção da
UNESCO, a conferência procurou definir o estado de arte em várias repúblicas da Federação, em
ligação com as várias instituições que integram a Academia Russa das Ciências.

Se usarmos a terminologia, que tende para total desactualização, dos tempos da guerra fria, o grupo
tem aquela referência cultural de eventual suspeita discriminação, mas a leitura do comunicado
mostra que é muito mais vinculado aos valores do conceito da casa comum, que é a terra, do que à
consolidação desatempada de isolacionismos e confrontos. Ainda que a definição formal dos
problemas assumidos fique marcada pela proclamada busca da relação entre ciência, tecnologia, e
inovação para "o desenvolvimento sustentado do mundo islâmico", a terminologia final aponta para
dar um passo seguro no sentido do relacionamento intercultural cooperante, e orientado pelo
desenvolvimento global sustentado, e não para a definição de uma balança de poderes sustentada.
É evidente nos relatos que a questão do ocidentalismo versus orientalismo está presente, que o
processo histórico é revisitado por vezes com ressentimento. Mas uma das notas que merece ser
destacada, sem erros de valoração no contexto da reunião, é a esclarecida proposta de dar vida à
herança humanista do islamismo, antes do declínio que levou a um dogmatismo teológico. O
Príncipe El-Hassan Bin Talal, Founding Patron da Academia, insistiu em que " a essência do
humanismo islâmico é uma profunda e larga aceitação do mundo e um profundo e abrangente amor
para, e afinidade com, a essência humana enquanto humana". Aquilo que sugere é um projecto em
que o evidente assumido ocidentalismo seja articulado com uma apropriada crítica da modernidade
e uma reanimação de um perdido espírito do humanismo islâmico.
Em síntese, a preocupação de não perder a aquisição dos avanços ocidentais, que projectam
efeitos colaterais cuja bondade será aferida pelos valores do renovado humanismo islâmico. Trata-
se, no conceito assumido, de uma oportunidade de ouro para participar na resolução dos problemas
do homem moderno, orientado pela vocação de uma sociedade da informação, do saber, e da
sabedoria, um conceito em que a convergência das atitudes entre as diferentes áreas culturais, só
pode ter por horizonte a paz.

É evidente que a paz de que se fala, como trajecto e resultado, tem que ver com valores assumidos
à luz de inspirações religiosas, ou da razão informada pelos valores de um laicismo com raízes
clássicas, mas convergentes no reconhecimento e reprovação dos conflitos concretos que dizimam
as populações.

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