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RESUMO
O esporte competitivo oferece muitas situações potencialmente causadoras de estresse,
independente da modalidade esportiva e da idade dos praticantes. Esse estresse que é
vivenciado pelos atletas se tornou foco de alguns estudos na literatura científica, embora falte
maior atenção para este processo. Sabe-se que o estresse pode causar reações negativas para o
organismo e prejudicar a performance do atleta, assim como debilitar a saúde do mesmo,
porém pouco se sabe sobre os sintomas de estresse apresentados pelos atletas, em especial
com relação às crianças envolvidas no esporte competitivo. Por isso o objetivo desse estudo
foi investigar quais os sintomas mais freqüentes de estresse pré-competitivo na natação,
considerando as categorias Mirim I (9 anos) e Mirim II (10 anos).
Participaram como sujeitos 30 atletas da região metropolitana de São Paulo de ambos
os sexos e competidores de natação. O instrumento utilizado foi a Lista de Sintomas de Stress
Pré-Competitivo Infanto–Juvenil (LSSPCI) do autor De Rose Jr. (1996), que consiste em um
questionário que demonstra 31 sintomas de estresse pré-competitivo, com escala de avaliação
variando de 1 á 5, sendo 1 (nunca), 2 (poucas vezes), 3 (algumas vezes), 4 (muitas vezes) e 5
(sempre), onde as crianças assinalaram a resposta que mais correspondeu as suas expectativas.
De acordo com os resultados apresentados os atletas apresentaram um índice de
ansiedade elevado nos momentos que antecedem a competição, elevando também o nível de
estresse, sendo que em destaque os sintomas considerados mais freqüência foram: “Não vejo
a hora de competir”, “Sinto-me mais responsável” e “Sinto muito cansaço no final do treino”,
pois apareceram nas duas categorias com uma incidência muito grande.
Palavras-chave: Competição Infantil – Especialização Esportiva Precoce – Criança e
Esporte.
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Introdução
O esporte em todo o seu contexto é um fenômeno totalmente inserido na vida social e
cultural das pessoas, sendo que, no Brasil atualmente se pratica algum tipo de esporte
competitivo ou recreativo, envolvendo adultos, adolescentes e crianças. Essa popularidade
vem crescendo desde o século XVIII após a revolução industrial, onde o esporte perdeu o
sentido aristocrático e passou a fazer parte das classes sociais mais pobres, que por terem
maior tempo de lazer, aumentaram suas práticas esportivas (DE ROSE JR., 1996).
Este fenômeno vem acompanhando a evolução do mundo com sendo parte íntima do
ser humano, através de jogos utilitários, festivais e preparação guerreira (RAMOS, 1992).
Segundo Rúbio (2002) o esporte teve seu início na pré-história, sendo reinventado na Grécia
no século XIX como uma nova proposta pedagógica, que também envolvia a educação de
crianças e jovens onde Platão, Aristóteles e Pródicus ensinavam as vantagens da ginástica
para a saúde. Também nesta época havia grande interesse pelo esporte competitivo que, para
alguns filósofos, era uma prática alienada do esporte e foi considerado como um dos
indicadores da decadência da cultura grega.
Alguns pensadores criticavam e condenavam os atletas que se preocupavam apenas
em vencer, pois a saúde destes que competiam era muito instável devido a grande exigência
física, cognitiva e psicológica dos treinamentos, onde eles passavam a maior parte do tempo
nos ginásios lutando, fazendo um severo regime alimentar e sem gozar de uma vida longa e
saudável (RÚBIO, 2002).
Em qualquer faixa etária e em qualquer nível o esporte de alto nível exige do
indivíduo uma preparação mínima, onde lhe é cobrado o máximo de suas qualidades físicas,
técnicas e psicológicas (DE ROSE JR., 1996), perdendo o sentido educacional, participativo e
deixando
de lado a preocupação com a saúde. Fica claro que o esporte competitivo
(principalmente nas categorias infanto-juvenis) exige sacrifícios sociais da pessoa, que para
abrir mão de uma vida saudável e aceitar esses sacrifícios o aluno deverá entender e aceitar os
fatores negativos e positivos, ou seja, o ser humano deve estar avançado suficientemente no
seu desenvolvimento psicológico e cognitivo para obter essa característica. Os treinadores
devem pensar sobre as particularidades de cada faixa etária e realizar um trabalho onde não
haja um atropelamento na seqüência de aprendizagem e não exponha a criança cada vez mais
cedo nas competições de caráter oficial, onde o estresse é alto, assim como as exigências do
rendimento físico. O que acontece atualmente em muitas instituições esportivas é a
valorização somente da competição, onde a criança mal aprende as técnicas da modalidade e
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Esporte-Aspectos Gerais
O esporte é uma palavra da língua portuguesa que possui uma grande variedade de
significados. Para o conhecimento empírico muitas manifestações do movimento humano,
que envolve regras sendo recreativo ou competitivo, é entendido como esporte. De acordo
com Fanali (1978) o esporte é definido como uma valorização dos exercícios físicos intensos
a ponto de aprimorar as capacidades morfofisiológicas e psíquicas, com o intuito da superação
do seu recorde ou de um adversário. Com essa mesma linha de raciocínio De Rose Jr. (2001)
& Barbanti (1994) descrevem que esse termo envolve necessariamente atividades
competitivas, com a execução de intenso esforço físico e a utilização de habilidades motoras
complexas, ou seja, para esses autores o esporte se resume unicamente ás competições
formais do tipo copas do mundo, olimpíadas campeonatos regionais e estaduais ou qualquer
tipo de competição onde é exigido rendimento físico. Por outro lado Viana et al. (1985) define
o desporto como atividades onde o ser humano sofra alguma adaptação fisiológica,
cinesiológica ou psicológica com o objetivo de recreação, participação ou competição. Freitas
(1992) apud De Rose Jr., 1996 na sua pesquisa identificou alguns significados da palavra
esporte, como por exemplo, competição, exercício intenso, jogo, luta e lúdico, a pesquisa
mostrou que o esporte varia desde um momento recreativo até um jogo formal. Já Tubino
(2001) acredita que o esporte é um fenômeno sócio-cultural que sempre teve um aspecto
pedagógico muito presente, apesar da existência explícita da competição, nota-se nesta
definição que o autor destaca o esporte no seu contexto educacional. Para deixar claro o que o
esporte representa na atualidade é necessário voltar as suas origens e entender como ele
evoluiu até hoje.
No período pré-histórico o homem que vivia em um ambiente rudimentar, levava uma
vida marcada de atividades e esforços para a própria sobrevivência como caçar, pescar e se
defender de predadores, esse cotidiano proporcionava uma prática de atividades físicas
constantes como se fosse uma educação física espontânea. Também nesta época, para cultuar
Deuses, já eram praticados exercícios físicos sistematizados como a dança, por exemplo,
através de grandes festivais (RAMOS, 1982). Outras duas formas de atividade física eram
vivenciadas na pré-história, uma delas é a preparação de guerreiros e a outra, a partir do
período paleolítico, aparecem os jogos utilitários e recreativos, que também eram
sistematizados, porém competitivos e com o estabelecimento de regras que, apesar da
existência da disputa os participantes, vencedores e vencidos, aceitavam o resultado de forma
amistosa (RAMOS, 1982). Nos tempos de hoje esta prática se assemelha com o esporte
participação e com o ideal olímpico, o chamado “Fair Play” ou “Jogo Limpo”.
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vezes são causadas pelo estresse, pode-se perceber no treinamento e na competição já naquela
época.
O esporte renova-se a partir do século XIX com influências de algumas
transformações políticas e sociais, uma de maior importância foi à revolução industrial, que
influenciou na evolução do esporte adquirindo uma perspectiva sócio-cultural muito forte (DE
ROSE JR., 1996 e RÚBIO, 2002), que de acordo com Tubino (2001) essa perspectiva
ampliou muito a abrangência do seu conceito.
No manifesto do esporte criado em 1964 pelo “Conseil International d’Education
Phisique et Sport”, o termo esporte vem sendo dividido em três formas distintas, Tempo livre
de Trabalho, Escolar e Alto Rendimento (TUBINO, 1993 apud DE ROSE JR., 1996). No
Brasil foi adotada uma classificação para definir o esporte, com base neste manifesto, através
da lei Nº 8672 de 6 de Julho de 1993, artigo 3º diferenciando-o como: Esporte Educação,
Esporte Participação e Esporte Rendimento (DE ROSE JR., 1996 e TUBINO, 2001).
Esporte-Educação: o que se espera do esporte como cunho educacional é que o
conteúdo seja fundamentalmente educativo e esta prática tenha a responsabilidade na
formação do ser humano. O esporte para exercer esta educação, segundo Lima (1987) apud
Tubino (2001), deve estar vinculado a três áreas da atuação pedagógica, que são: a de
integração social, a de desenvolvimento psicomotor e a das atividades físicas educativas.
Nestas três áreas os objetivos envolvem proporcionar ao educando a participação nas
atividades e a oportunidade para eles decidirem sobre elas, estimular o poder de decisão,
realizar atividades que atendam as necessidades do movimento e aquisição de melhores níveis
das capacidades físicas. Moreira & Simões (2000) definem esta manifestação como Desporto
Escolar, que além dos objetivos citados á cima devem envolver também valores sociais de
formação de atitude da conduta humana, porém esta proposta não é comumente vista nas
escolas em um âmbito geral. Um grande erro percebido na evolução do Esporte-Educação é a
reprodução do modelo competitivo, onde a performance é valorizada, excluindo a essência da
proposta e se tornando uma prática seletiva (TUBINO, 2001). A educação física de um modo
geral possui uma ferramenta muito importante na educação e formação do ser humano, que a
partir da educação do movimento conseguimos proporcionar uma educação sobre ele,
envolvendo a parte anatômica e fisiológica, e educar através deste passando alguns
conhecimentos gerais de outros assuntos, talvez o grande equívoco de alguns profissionais
seria a valorização da parte Física da disciplina, esquecendo-se da Educação do ser como um
todo, que é tão comentada por grandes educadores.
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adulto evolui cerca de 13 á 14 vezes em um jovem de 8 anos o máximo que se atinge é cerca
de 9,4 vezes (TANI et al. 1988).
Para Weineck (1999) um treinamento muito intenso que se atinja o máximo do
desempenho esportivo ainda na infância pode levar a uma predominância no metabolismo
funcional (adquirido durante as sessões de treino), em relação ao metabolismo normal da
idade, prejudicando seu desenvolvimento fisiológico e também como conseqüência haverá
uma redução na tolerância aos estímulos, causando estresse.
Outra variável de muita importância no processo de iniciação esportiva que é
necessário comentar é sobre o desenvolvimento motor, pois este se encontra, até a puberdade,
em suscetíveis mudanças que irão determinar a variedade e a eficiência dos movimentos na
fase adulta (BOULCH, 1983 & TANI et al., 1988).
O autor Tani et al. (1988) apresenta a taxionomia do desenvolvimento motor feita por
Harrow em 1983 dividindo-o em seis níveis desde o nascimento até a fase adulta. O primeiro
nível é marcado pelos Movimentos Reflexos que são involuntários e garantem a
sobrevivência do bebê, assim como servem de base para futuros movimentos voluntários. No
nível dois, surgem os movimentos voluntários, denominados nesta fase de Habilidades
Básicas, permitindo a locomoção e a manipulação de diversos objetos. As Habilidades
Perceptivas caracteriza o nível três, onde o indivíduo utiliza a percepção recebendo estímulos
visuais, auditivos, táteis e cinestésicos que são interpretados pelo cérebro, que por sua vez
envia uma decisão de resposta, dando condições para a criança se adaptar ao ambiente em que
ela vive. No nível quatro as Capacidades Físicas são funcionalmente essenciais ao executar
uma tarefa motora, quando elas são desenvolvidas ocorre uma melhora no nível de habilidade,
como exemplo pode-se citar as capacidades de resistência, flexibilidade e a agilidade. As
Habilidades Específicas surgem somente no quinto nível, onde as habilidades motoras
tornam-se mais complexas e com objetivos específicos, como a execução técnica de uma
modalidade esportiva. E por fim o último estágio, chamado de Comunicação Não Verbal,
definido por habilidades ainda mais complexas de modo que a qualidade dos movimentos
expressem uma comunicação corporal, por exemplo, a ginástica rítmica desportiva e as
danças. Relacionando esta taxionomia com a pirâmide de desenvolvimento motor feita por
Gallahue em1982 citado por Tani et al. (1988), o nível 1 corresponde a idade de 0 á 4 meses,
o nível 2 aproximadamente de 1 á 2 anos, o terceiro nível de 2 á 7 anos, o quarto de 7 á 12, e
no níveis 5 e 6 a partir dos 12 anos.
Para Gallahue & Ozmun (2001) no período de 6 á 10 anos, denominado de final da
infância, as habilidades perceptivas estão crescentemente em maturação, melhorando a
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integração com as estruturas motoras, sendo que no final desta fase espera-se que a criança
possa desempenhar muitas habilidades sofisticadas como rebater uma bola arremessada,
porém, se as crianças não tiverem oportunidade para aprender, praticar e se não forem
encorajadas para isso futuramente as informações perceptivas e motoras serão insuficientes
para desempenhar com eficiência as atividades motoras mais complexas. O autor Boulch
(1893) comenta que toda experiência motora vivida serve posteriormente como instrumento
para a memória do corpo que é inconsciente, mas a eficácia dos ajustes dos movimentos a
serem aprendidos posteriormente depende diretamente dessa memória, ou seja, a criança
compreende e domina uma situação nova pela sua prática pessoal e pela sua própria
exploração, e não utilizando como referência às experiências dos adultos, que quando impõem
padrões fixos de movimento inibem a criatividade e limitam a capacidade de ajuste da criança
ao ambiente. Jolibois (1976) comenta que “A tomada da consciência do esquema corporal é a
chave da maturidade física e psíquica...”, segundo ele o objetivo da educação e da iniciação
esportiva precoce é dar condições á maturidade, fornecendo uma base com diversos estímulos
para que a criança possa inventar rapidamente sua imagem corporal. Sobre essa imagem
corporal Boulch (1983) afirma que é preciso atingir 10 ou 12 anos de idade para que na
aprendizagem a pessoa tenha mais facilidade em imaginar o corpo em movimento, utilizando-
se da prática mental, o que permite uma verdadeira representação imaginária em uma
seqüência motora, facilitando a aprendizagem.
O papel do adulto é mais eficaz quando ele valoriza os sucessos e encoraja as crianças,
pois é no nível afetivo e pela atenção que se dá aos alunos que eles se sentem motivados pela
prática e se tornam mais freqüentes nas aulas. Se o treinador propõe um espaço muito restrito
através de proibições ele pode provocar uma reação de supertensão reacional nos atletas
originando bloqueios, por outro lado se durante os treinos não são fixados limites, sem
fornecimento de qualquer tipo de feedback a criança perderá seus pontos de referência
causando insegurança e até ansiedade (BOULCH, 1983), talvez o grande desafio seja
encontrar o meio termo entre a rigidez na cobrança e o ato de deixar a criança livre dessa
cobrança.
Já no processo competitivo além dos fatores citados acima deve-se pensar sobre a
carga psicológica que o atleta experimenta nesse processo. Para alguns autores a competição
esportiva é um bom momento para a criança avaliar sua performance em relação às outras,
obtendo uma maturação psicológica, há também nesta idade uma preocupação em aprimorar
as habilidades motoras, onde a competição irá proporcionar um ambiente favorável para a
resolução de problemas motores, estimulando também o desenvolvimento cognitivo, porém o
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ambiente competitivo não deve seguir o modelo adulto, onde há uma grande exigência pela
vitória e uma valorização do resultado (MONTANARI, 1997).
Estresse Definições
Nos últimos tempos a palavra estresse ganhou uma popularidade muito grande, e
como conseqüência à população começou a utilizar este termo para nomear muitas situações
cotidianas. Por inúmeras vezes os valores de ansiedade, nervosismo e preocupação são
atribuídos ao estresse, talvez devido á semelhança das reações orgânicas, mas não
necessariamente são sintomas do estresse.
A interpretação equivocada deste termo já acontecia em épocas passadas, onde por
volta do século XVIII o enfoque desta palavra era de uma pressão excessiva sobre uma
pessoa, no sentido de conceder muita responsabilidade para alguém resolver uma tarefa e
mostrar um bom rendimento ao fazê-la, ou em uma situação de avaliação ou de competição
(LIPP, 2003). Um exemplo prático desta pressão acontece em uma competição esportiva, pois
o atleta está sendo pressionado pela torcida, pelos familiares e amigos, e principalmente pelo
treinador a obter um bom resultado, deixando um clima em que este atleta se sente coagido
por essas forças, que sendo excessiva ela pode prejudicar sua performance. No século
seguinte foram feitas algumas averiguações sobre uma possível relação entre perturbações
emocionais e doenças físicas e psíquicas, mas essa teoria não recebeu nenhuma atenção na
área científica, já no século XX o estresse novamente foi relacionado com o aparecimento de
doenças, onde o médico inglês William Osler em 1910 propôs uma ligação entre trabalho
excessivo acrescido de preocupações, com problemas cardíacos e novamente não foi dada
muita importância para o caso (LIPP, 2003). Em 1936 o endocrinologista canadense Hans
Selye sugeriu o termo “stress” para nomear o conjunto de reações orgânicas não específicas,
mas semelhantes, em seus pacientes quando se deparavam com situações de angústia ou
tristeza, chamadas por ele em 1926 de Síndrome Geral de Adaptação (S.G.A.), após esta data
o termo “estresse" ficou com esse significado que conhecemos hoje (LIPP, 2003 & MARGIS
el al., 2003).
No ano de 1956, Selye conceituou estresse relacionado às reações biológicas de defesa
do organismo á agentes nocivos internos ou externos, onde o organismo luta para manter ou
restaurar seu equilíbrio (DE ROSE JR., 1996). Para chegar a essa definição ele se baseou nos
conceitos de Bernard que em 1879 sugeriu que apesar das mudanças no ambiente externo o
ambiente interno dos organismos devem permanecer constantes, sem grandes variações, e
Cannon que em 1939, recomendou o termo homeostase para nomear os esforços que o
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organismo faz para manter seu equilíbrio interno, com a utilização dessas duas referências
Selye definiu o estresse como a quebra deste equilíbrio interno (LIPP, 2003).
A autora Lipp (2003) considera muito difícil conceituar o estresse, em primeiro
lugar porque ele é utilizado para descrever tanto a causa geradora do estresse, como as
respostas ou efeitos gerado pelo organismo á esse estímulo, e em segundo por ele ser um
processo complexo e ter intensidades diferentes, como exemplo ela cita uma pessoa que está
passando por uma situação de estresse temporário, podendo ser de baixa ou alta intensidade,
assim como outra pessoa pode estar em um grau avançado a ponto de desencadear doenças,
porém ambas estarão simplesmente estressadas. Apesar dessa dificuldade ela definiu o
estresse como uma reação complexa do organismo que pode ser psicológica ou fisiológica,
com o objetivo de enfrentar algo que ameace a homeostase interna do sujeito, ocorrendo em
situações que o amedronte, irrite ou que o faça muito feliz. Segundo Martins (2004) o estresse
é um conjunto de ações orgânicas que os seres humanos utilizam para se adaptarem ás
atividades essenciais da vida melhorando seu rendimento e desempenho se tornando nocivo
somente no caso de ser excessivo ou de difícil controle, isso normalmente acontece quando o
estímulo permanece durante um longo tempo. Seguindo o mesmo raciocínio Ballone (1999)
relata que o estresse é uma reação orgânica normal e necessária, utilizada pelo ser humano
para se adaptar a uma situação nova, ou á alguma mudança, deixando-o em estado de maior
atenção diante dos estímulos externos. Segundo McGrath (1970) citado por Weinberg &
Gould (2001), o estresse é definido como um desequilíbrio entre os fatores estressantes e a
capacidade de resposta do organismo, considerando que a falha em resolver a tarefa pode
obter consideráveis conseqüências. A autora Lucarelli & Lipp (1998), comenta sobre o
estresse positivo e negativo que independente de ser um ou outro, ambos provocam uma
reação onde a pessoa entra em estado de alerta, ativando o sistema nervoso simpático e
conseqüentemente a liberação de adrenalina, preparando o indivíduo para uma situação de
luta ou fuga. Para Margis et al.(2003) o indivíduo sofre estresse pela percepção de um
estímulo que provoque excitação emocional, perturbando a homeostase e disparando um
mecanismo de adaptação que, entre outras alterações é caracterizado pela excreção de
adrenalina.
Nota-se que não há muita divergência entre os conceitos e resumidamente eles
descrevem que o estresse é uma ação ou reação que o organismo apresenta diante de um
estímulo que interfira na sua homeostase e pode prejudicar o corpo se for muito intenso ou se
persistir durante um longo tempo. Diante da complexidade que é o processo de estresse e da
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perceber uma situação como sendo ameaçadora, quebrando a homeostase, mesmo se ela não
oferecer risco algum, enquanto outro pode interpretar a mesma circunstância como sendo
normal.
Reações do Organismo ao Estresse
Diante dessa diversidade de situações o organismo utiliza alguns recursos para se
adaptar e retornar ao seu estado de equilíbrio interno, alguns autores propuseram modelos que
explicam como o estresse age na estrutura orgânica.
A autora Lipp (2003) desenvolveu um modelo explicativo do estresse com base no que
Hans Selye propôs em 1956, e de acordo com ele o estresse provoca três alterações principais
no corpo, que expressam como os sintomas surgem e se modificam, Selye explica o estresse
em três fases, onde na primeira há uma grande liberação de adrenalina, deixando a pessoa
mais ativa, elevando a tensão e o seu nível de ansiedade, ou seja, o organismo se prepara para
uma reação de luta ou fuga (LIPP, 2003; BALLONE, 1999; DE ROSE JR., 1996). O autor
Ballone (1999) interpreta esta reação parecida com a de um susto, envolvendo todo o sistema
em uma única ação, esta fase é chamada de Fase de Alerta. Se o estímulo estressor continuar
por algum tempo inicia-se a Fase de Resistência em que o organismo tenta uma adaptação,
pois a tendência é sempre buscar a homeostase. Nesta etapa as reações são contrárias da fase
anterior, pois alguns sintomas desaparecem havendo uma grande utilização de energia para a
adaptação do organismo ao estímulo, provocando uma sensação de cansaço e desgaste. Se a
pessoa é afastada da situação estressora os sintomas desaparecem, porém se haver
continuidade o sistema orgânico entra na última fase chamada de Fase de Exaustão, nesta os
sintomas se assemelham com os da primeira, porém com uma intensidade bem maior, o fator
agravante é que o indivíduo não possui mais estratégias para lidar com a situação e o
organismo extinguiu toda sua reserva de energia adaptativa, acarretando no aparecimento de
doenças e conseqüentemente a morte (LIPP, 2003). Partindo desta base Lipp acrescenta uma
quarta fase, chamada de Fase de Quase Exaustão, que acontece entre a Fase de Resistência e a
fase de Exaustão, pois segundo a autora há um espaço muito grande entre elas e os sintomas
são diferentes tanto na fase de resistência, quanto na de exaustão. Ocorre no organismo
variações de estados de bem estar e desconfortos psicofísicos, nesta fase o corpo já não
consegue mais resistir às tensões e começa a ceder, outra característica é o surgimento de
algumas doenças mostrando que a defesa do organismo já não é tão eficiente (LIPP, 2003). Já
o autor Mc Grath (1970) citado por Weinberg & Gould (2001) propôs um modelo em que o
estresse é descrito em quatro estágios, onde o primeiro é denominado de Demanda Ambiental
e acontece a partir do momento em que é imposto algum estímulo externo para uma pessoa,
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podendo ser físico ou psicológico e que possa causar um desequilíbrio. Com o surgimento
deste estímulo inicia-se a segunda fase chamada de Percepção da Demanda, onde a pessoa
reconhece a situação, mas pode interpretar como estressante ou não, se ela entender que possa
haver um desequilíbrio entre esta demanda e sua capacidade de resposta este processo entra
no terceiro estágio o de Respostas ao Estresse que é caracterizado pela perda na concentração,
aumento da tensão muscular e um aumento na excreção de adrenalina. No quarto estágio,
chamado de Conseqüências Comportamentais é definido como o comportamento que o
indivíduo terá em uma situação de estresse, voltando ao primeiro estágio, onde se forma um
ciclo surgindo uma nova demanda ambiental e passando por todas as fases novamente.
Estresse Infantil
De fato o estresse desencadeia reações orgânicas semelhantes na maioria dos seres
humanos, porém deve-se considerar alguns fatores que podem determinar como a pessoa irá
interpretar cada situação e como o organismo responderá a elas. A influência do ambiente, a
experiência previa, a personalidade individual e o desenvolvimento psicofisiológico são
pontos que variam de uma pessoa para outra e são importantes no processo de estresse, pois
estão diretamente relacionados. O estresse age de forma sutil e quando não é tratado surgem
doenças gravíssimas que podem até matar. Na criança não é diferente e pode ser até mais
perigoso, pois elas possuem menos recursos para lidar com algumas situações e estão
passando por um período onde o organismo está sofrendo diversas mudanças e de uma forma
mais rápida do que na fase adulta, aumentando a vulnerabilidade ao estresse (FRANCA &
LEAL, 2003).
A competição esportiva pode proporcionar aos atletas situações estressantes em
diferentes níveis. No nível baixo a característica é quando a exigência é baixa em relação à
capacidade de resposta, em um nível adequado é quando a exigência é compatível, sendo
considerada como um grau ótimo de estresse que causa uma ativação necessária no organismo
para realizar as respostas adequadas em uma condição excelente, mas quando a demanda
ultrapassa o limite da capacidade de resposta, pode acarretar em conseqüências negativas no
desempenho do atleta prejudicando o rendimento nas competições (DE ROSE JR., 1996).
Nos últimos anos houve um crescente número de crianças envolvidas no esporte
competitivo, mas também nota-se um abandono muito precoce em várias modalidades, esta
desistência é hoje em dia um tema bastante discutido na literatura e entre profissionais da área
(KNIJNIK et al., 2001). Alguns estudos mostrados por Knijnik et al. (2001) apontam fatores
que desmotivam as crianças á praticarem esporte, os principais motivos foram: muita ênfase
na competição e na vitória, desgosto com o técnico por exercer muita pressão e falta de jogo.
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Os autores Cruz e Costa (1997) citam um estudo de Martins de 1980 apontando que os
principais fatos que levam ao abandono são: o fato de jogarem pouco tempo; as críticas
constantes dos treinadores incluindo o reforço negativo e o estresse psicológico da
competição. Segundo Weinberg e Gould (2001) a maioria das crianças que abandonam o
esporte com freqüência é devido à baixa percepção da competência, pouco foco nas metas de
resultados e vivenciam um nível de estresse alto nos treinos e nas competições. Um estudo foi
realizado por De Rose Jr. et al. (2001) onde eles analisaram situações de estresse durante o
jogo de basquetebol infanto-juvenil, participaram do estudo 136 jogadores (75 meninos e 61
meninas) com idade de 15 á 19 anos, integrantes da Federação Paulista de Basquete, onde o
grupo analisado foi considerado experiente pelo tempo de prática. Os resultados mostraram
que em ambos os sexos as situações que mais causaram estresse foi em relação à arbitragem,
técnico, competência, dificuldade do jogo e companheiros de equipe. Em crianças e jovens,
três tipos de fatores de desistência foram identificados por Weimberg & Gould (2001), que
foram: a derrota, onde a criança fica mais ansiosa do que na vitória; a importância do evento,
pois a ansiedade aumenta em competições mais importantes; e o tipo de esporte, indicando
que as modalidades individuais são mais estressantes do que as coletivas. Na natação infantil
especificamente De Rose Jr. & Vasconcellos (1994) também indicaram que por ser um
esporte individual causam mais estresse em comparação aos esportes coletivos, assim como a
cobrança dos pais pode também prejudicar o rendimento da criança. Porém o autor Shigunov
(1998) realizou um estudo com o objetivo de identificar o nível de ansiedade em atletas e
comparar este nível em diferentes grupos, idade sexo e tipo de modalidade esportiva. A
amostra foi composta de 150 atletas, sendo 75 de cada sexo, praticantes de voleibol,
basquetebol, handebol, natação e atletismo. Os resultados mostraram que em relação ao sexo
os meninos apresentaram um nível médio de ansiedade e as meninas atingiram um nível
médio-alto, ou seja, as meninas foram mais ansiosas. E em relação ao tipo de esporte os
resultados apontaram que a natação e o atletismo, que são individuais, apresentaram um nível
de ansiedade abaixo dos encontrados nas modalidades coletivas, lembrando que a ansiedade
elevada pode causar estresse, e a pessoa estressada vivencia altos níveis de ansiedade
(WEINBERG & GOULD, 2001).
Percebe-se que algumas situações são potencialmente geradoras de estresse, dentre as
citadas acima se destaca a cobrança do técnico, o estresse causado no jogo, em relação à
percepção da capacidade e o fato de participarem pouco dos jogos.
Shigunov (1998) acredita ser importante tentar entender as reações psicológicas em
atletas durante a competição esportiva, pois essas podem gerar um elevado nível de ansiedade
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para alguns, onde o organismo pode interpretar a situação como ameaçadora acarretando a
uma reação de luta e fuga, que pode prejudicar o rendimento. Este autor relata que os atletas
são constantemente comparados tanto por pessoa desconhecidas, como pelas mais queridas, e
como conseqüência eles podem apresentar medo pela competição, devido ao possível
constrangimento pela derrota. Outra fonte de estresse citada por ele é quando o atleta não se
sente seguro no momento da competição, isso acontece quando ele não está bem treinado
física e tecnicamente e não acredita no seu potencial. Essa situação é mais comum em atletas
jovens do que em experientes veteranos. Por outro lado Lucarelli & Lipp (1998) relatam que
se a criança for capaz de perceber a presença de um estressor e conseguir utilizar habilidades
adequadas nas situações de estresse, poderá manejar este processo com satisfação, evitando
possíveis conseqüências negativas no futuro. A autora Fleury (2001) descreve que o
treinamento psicológico melhora as habilidades psicológicas da pessoa para que ela consiga
enfrentar as situações de estresse, melhorando ou mantendo seu rendimento esportivo, esse
treinamento procede de técnicas da psicologia, necessitando do conhecimento da modalidade
que a pessoa pratica, do treinamento realizado e das características pessoais do indivíduo.
Acredita-se que seja necessário identificar alguns sintomas de estresse em crianças e
jovens para, além de poder aplicar o treinamento psicológico obter condições de saber quais
as conseqüências futuras que eles terão se forem expostos á situações estressantes com
freqüência. Castro et al. (1996), identificou 31 sintomas de estresse, onde os atletas mostraram
mais freqüência com a preocupação no resultado, medo em cometer erros, empolgação, muita
responsabilidade, medo em competir mal e ansiedade elevada.
Partindo dos estudos mostrados neste capítulo e observando que as crianças competem
cada vez mais cedo, nota-se aparentemente uma maior preocupação dos técnicos na
performance física, sendo que o prejuízo pode ocorrer tanto no desempenho físico quanto no
psicológico. Talvez devido a essa falta de preocupação percebe-se uma escassez de estudos
relacionados á identificação das reações psicológicas que a competição causa nos atletas, e
quem sabe se aumentando o foco nesse fenômeno futuramente os atletas serão capazes de
controlar os fatores envolvidos nesse processo e melhorar suas marcas.
Apresentação dos Resultados
Para melhor compreensão os resultados serão apresentados separando os sintomas
mais freqüentes na categoria Mirim I (ver tabela 1) e os mais freqüentes na categoria Mirim II
(ver tabela 2). Dentre os 31 sintomas pré-competitivos presentes no questionário foram
classificados 5, considerando os maiores valores percentuais da somatória das respostas 4
(muitas vezes) e 5 (sempre), apresentadas no questionário.
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dessas habilidades. A afirmação “Sinto-me mais responsável”, é uma opinião comum entre os
atletas nas duas idades pesquisadas, porém na categoria Mirim II essa responsabilidade fica
mais explícita, pois a “Preocupação com o resultado da competição” e o “Medo de competir
mal” mostram outras preocupações e talvez devido á elas os atletas se sintam mais
responsáveis. Esse ambiente de responsabilidade que é atribuído á crianças nas categorias de
bases confirma o estudo realizado por De Rose Jr. (1996) sobre sintomas de estresse
relacionado com o tempo de prática, onde é relatado que quanto maior a experiência do atleta
menor a freqüência desses sintomas. Esses resultados também podem gerar a desistência no
esporte, pois estudos mostram a ênfase no resultado da competição é um fator que
potencionalmente gera o abandono da prática, assim como em destaque a cobrança do técnico
e o estresse que é causado pela competição.
Considerações Finais
De acordo com a literatura pesquisada e analisando os resultados obtidos
(considerando as limitações do estudo) pode-se considerar que os sintomas de estresse pré-
competitivo que aparecem com maior freqüência nessas categorias são os que proporcionam
um nível de ansiedade elevado nos momentos que antecedem o evento e essa ansiedade pode
ser resultado de uma cobrança que o ambiente e as pessoas envolvidas proporcionam, direta
ou indiretamente, no sentido de que a criança querendo testar suas capacidades e habilidades,
que é característica desta idade, necessita de uma auto-afirmação, e essa cobrança por mais
indireta que seja está muito presente no modelo de competição atual na natação infantil, onde
as categorias de base realizam provas muito próximas do modelo de competição dos adultos.
Considera-se também que esse estresse pode levar o atleta a uma maturação psicológica
precoce, e pouco se sabe o que pode acontecer com a pessoa que vivencia uma intensidade
alta de estresse na infância.
De acordo com as conclusões obtidas surgem outras questões como, por exemplo, até
que ponto é saudável para o futuro do atleta vivenciar níveis de estresse desde o início de sua
carreira? E como podemos controlar este nível para atingir um grau ótimo de ansiedade de
forma que, ao invés de prejudicar possa auxiliar a performance? Por isso sugere-se estudos
com a preocupação nas conseqüências futuras desses atletas que experimentam níveis
elevados de estresse na infância. E analisando as limitações deste estudo, cita-se em destaque,
a dificuldade na interpretação das intensidades, onde as crianças reconheciam os sintomas,
mas, por vezes, não sabiam avaliar qual o grau de freqüência, por isso sugere-se outros
estudos com diferentes instrumentos para somar com a literatura atual.
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