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SOS pela Igreja de hoje

"Santo Padre:

Atrevo-me a dirigir-me directamente a Vós, pois o meu coração sangra


ao ver o abismo no qual se está precipitando a nossa Igreja.
Certamente desculpará a minha franqueza filial, inspirada na
"liberdade dos filhos de Deus" à qual nos convida São Paulo, e pelo
meu amor apaixonado pela Igreja.

Agradecer-lhe-ia também que saiba desculpar o tom alarmista desta


carta, pois, como se diz a respeito do tempo, "faltam cinco minutos..."
e a situação não pode esperar mais.

Permita-me em primeiro lugar apresentar-me. Jesuita egípcio libanês


de rito melquita, à beira de compltar 76 anos. Desde há três anos sou
reitor do colégio dos jesuítas no Cairo, depois de ter desempenhado os
seguintes cargos: superior dos jesuítas em Alexandria, superior
regional dos jesuítas do Egipto, professor de teologia no Cairo, director
de Caritas-Egipto e vice-presidente de Caritas Internationalis para
Oriente Médio e África do Norte.

Conheço muito bem a herarquia católica do Egipto por ter participado


durante muitos anos nas suas reuniões como Presidente dos
superiores religiosos de institutos no Egipto. Tenho relações muito
próximas com cada um deles, alguns dos quais são meus antigos
alunos. Por outro lado, conheço pessoalmente o Papa Chenouda III,
com quem me encontrava regularmente. E quanto à hierarquia
católica da Europa, tive a oportunidade de me encontrar
pessoalmente muitas vezes com alguns dos seus membros, como o
cardeal Koening, o cardeal Schönborn, o cardeal Martini, o cardeal
Daneels, o Arcebispo Kothgasser, os bispos diocesanos Kapellari e
Küng, os outros bispos austríacos e além de bispos de outros países
europeus. Estes encontros acontecem devido às minhas viagens
anuais para dar conferências pela Europa: Áustria, Alemanha, Suíça,
Hungria, França, Bélgica... Nestas viagens dirijo-me a auditórios muito
diferentes e aos media (periódicos, rádios, televisões...). Faço o
mesmo no Egipto e no Médio Oriente.
Visitei cerca de cinquenta países nos quatro continentes e publiquei
uns 30 livros em 15 línguas, sobretudo em francês, árabe, húngaro e
alemão. Dos 13 livros nesta língua, quiçá tenha "Gottessöhne,
Gottestöchter" [Filhos, Filhas de Deus], que lhe fiz chegar pelo seu
amigo o P. Erich Fink de Baviera.

Não digo isto para presumir, mas livre para lhe dizer simplesmente
que as minhas intenções fundamentam-se num conhecimento real da
Igreja universal e da sua situação actual, em 2007.

Volto ao tema desta carta, e tentarei ser breve, claro e o mais


objectivo possível. Em primeiro lugar, algumas constatações (a lista
não é exaustiva):
 A prática religiosa diminui constantemente. As igrejas são
frequentadas por pessoas cada vez mais idosas que vão
desaparecer em breve (...).
 Os seminários e os noviciados esvaziam-se de dia para dia e
as vocações estão em queda livre. O futuro apresenta-se
bastante sombrio e não vemos quem nos virá substituir (...).
 Muitos padres deixam o exercício sacerdotal e o pequeno
número dos que vão ficando, cuja idade frequentemente
ultrapassa a da reforma, são obrigados a assumir o encargo de
várias paróquias, fazendo-o de uma maneira apressada e
administrativa (...).
 A linguagem da Igreja é anacrónica, aborrecedora,
repetitiva, moralizadora e completamente inadaptada à nossa
época. Não pretendo afirmar que se deve dizer sim a tudo nem
adoptar uma atitude demagógica, pois a mensagem do
Evangelho deve apresentar-se com toda a sua exigência e
significado. O importante é começar a “nova evangelização” de
que falava João Paulo II. E, ao contrário do que muitos pensam,
ela não consiste na repetição de tudo o que é antigo e que não
interessa a quase ninguém, mas na invenção duma nova
maneira de proclamar a fé aos homens do nosso tempo.
 Para o conseguir, é urgente uma renovação profunda da
teologia e da catequese que devem ser completamente
repensadas e reformuladas. Um padre e religioso alemão que
encontrei recentemente, dizia que a palavra mística nem sequer
é mencionada no Catecismo da Igreja Católica (1993). Fiquei
estupefacto. É preciso dizer que a nossa fé é demasiado cerebral,
abstracta, dogmática e que fala bem pouco ao coração e ao
corpo.
 A consequência é que uma grande parte dos cristãos foram
bater à porta das religiões asiáticas, das seitas, da “new age”, do
espiritismo, das igrejas evangélicas ou de outras parecidas. Não
é de admirar! Vão procurar noutros lados o alimento que não
encontram entre nós, pois têm a impressão que em vez de pão
lhes oferecemos pedras. A fé cristã que antes dava um sentido à
vida das pessoas tornou-se hoje um enigma, um vestígio de um
tempo que já passou.
 No campo da moral e da ética, as imposições do magistério
sobre o casamento, a contracepção, o aborto, a eutanásia, a
homossexualidade, o casamento dos padres, os divorciados
casados de novo, etc, já não interessam a quase ninguém e
provocam nas pessoas cansaço e indiferença. Todos estes
problemas morais e pastorais necessitam mais do que
declarações peremptórias. Precisam de uma abordagem
pastoral, sociológica, psicológica, humana, em uma linha mais
evangélica.
 A Igreja católica que, durante séculos, foi a grande
educadora da Europa, parece ignorar que esta Europa acedeu à
maturidade. A nossa Europa adulta recusa ser tratada como uma
criança que ainda não atingiu a idade do uso da razão. O estilo
paternalista de uma Igreja “Mater et Magistra” está
definitivamente ultrapassado e actualmente já não pega. Os
cristãos aprenderam a pensar por eles mesmos e já não estão
dispostos a engolir qualquer coisa.
 As nações que outrora foram as mais católicas - França,
"primogénita da Igreja" ou o Canadá francês ultra-católico deram
uma reviravolta de 180 graus, caindo no ateísmo, no
anticlericalismo, no agnosticismo, na indiferença. No caso de
outras nações europeias, o processo está em marcha. Pode
constatar-se que quanto mais um povo é acarinhado no regaço
da Igreja no passado, mais forte se torna, posteriormente, a
reacção contra ela.
 O diálogo com as outras igrejas e religiões tem recuado. O
progresso constatado durante meio século está actualmente
muito comprometido.
Perante tais constatações, a reacção da Igreja é dupla:
 Ou tende a minimizar a gravidade da situação e a consolar-se ao
constatar que há uma certa renovação na sua ala mais
tradicional assim como nos países do terceiro mundo.
Ou invoca a confiança no Senhor que a socorreu durante 20
séculos e que vai continuar a ajudá-la também a superar esta
nova crise, como o fez nas crises precedentes. Afinal, não tem
ela promessas de vida eterna?
A isso eu respondo:
 Para resolver os problemas de hoje e de amanhã, não basta
refugiar-se no passado nem apoiar-se em amostras sem
fundamento sério.
 A aparente vitalidade das igrejas no Terceiro Mundo é
enganadora. Muito provavelmente essas novas Igrejas passarão
pelas mesmas crises vividas pelo actual cristianismo europeu.
 A modernidade é incontornável e foi por a Igreja ter esquecido
isto que passa hoje por uma tal crise. O Vaticano II tentou
recuperar quatro séculos de atraso, mas temos a impressão de
que a Igreja está a fechar lentamente as portas que então foram
abertas, e tenta virar-se para Trento e Vaticano I mais do que
para Vaticano III. Lembremos a repetida advertência de João
Paulo II: “Não há alternativa ao Vaticano II.”
 Até quando continuaremos a seguir a política da avestruz e a
enterrar a cabeça na areia? Até quando recusar ver as coisas
como elas são? Porque é que havemos de tentar salvar as
aparências, uma fachada que hoje não consegue convencer
ninguém? Até quando continuar nesta teimosia, nesta
intolerância total, a recusar todas as críticas, em vez de ver nelas
uma ocasião de se renovar? Até quando iremos adiar uma
reforma que se impõe imperativamente e que já tardou demais?
É olhando decididamente para a frente e não para trás que a
Igreja cumprirá a sua missão de ser luz do mundo, sal da terra e
fermento na massa. Ora, o que hoje nós constatamos,
infelizmente, é que a Igreja vai a reboque da nossa época, depois
de ter sido a pioneira do mundo durante séculos.
Repito o que disse no princípio: como se diz a propósito do tempo
“faltam cinco minutos”. A história não fica à nossa espera,
sobretudo numa altura em que o ritmo se acelera e tudo anda
tão depressa.
Qualquer empresa comercial, ao constatar prejuízos ou um mau
funcionamento, põe-se imediatamente em questão, chama
especialistas, tenta recuperar, mobiliza todas as suas energias
para se transformar radicalmente.
 Porque é que a Igreja não faz o mesmo? Porque é que não
mobiliza todas as suas forças vivas para uma aggiornamento
radical? Porquê?
 Por preguiça, cobardia, orgulho, falta de imaginação e
criatividade, por um quietismo condenável, convencida de que o
Senhor vai resolver e de que a Igreja já conheceu muitas outras
crises no passado?

Cristo, no Evangelho, põe-nos em alerta: Os filhos das trevas são


muito mais hábeis na gestão dos seus negócios do que os filhos da
luz.
 Então o que fazer?
A Igreja de hoje tem uma necessidade imperiosa e urgente de
uma tripla reforma:
 Uma reforma teológica e catequética, para repensar a fé e a
reformular de modo coerente para os nossos contemporâneos.
Uma fé que já não significa nada, que não dá um sentido à
existência não passa de um simples adorno, uma super-estrutura
inútil que cai por si mesmo – é o que acontece actualmente.
 Uma reforma pastoral para repensar de alto a baixo as estruturas
herdadas do passado (ver abaixo as minhas sugestões neste
campo).
 Uma reforma espiritual para dar nova vida à mística e repensar
os sacramentos tendo em vista dar-lhe uma dimensão
existencial, de as articular com a vida. Teria muito que dizer
sobre isso. A Igreja de hoje é demasiado formal, demasiado
formalista. Temos a impressão de que a instituição abafa o seu
carisma e de que, para ela, o importante, no fundo, é uma
estabilidade toda exterior, uma respeitabilidade à superfície,
uma certa fachada. Não corremos o risco de que Jesus, um dia,
nos trate por “sepulcros caiados”?
Para terminar, sugiro que se convoque, ao nível da Igreja universal
um sínodo geral no qual participariam todos os cristãos, católicos e
não católicos, para analisar franca e abertamente todos os aspectos
de que lhe falei e outros que poderiam ser sugeridos. Esse sínodo
(evitemos a palavra concílio) duraria 3 anos e seria concluído por uma
assembleia-geral que faria um resumo de todos os resultados e
elaboraria as conclusões.
Termino, Santo Padre, pedindo que me perdoe a minha franqueza e a
minha audácia e solicitando a sua bênção paternal. Permita-me
também dizer-lhe que estou a viver estes dias na sua companhia
graças ao vosso livro notável, “Jesus de Nazaré”, que tem sido objecto
da minha leitura espiritual e da minha meditação quotidiana.

Sinceramente vosso no Senhor,


P. Henri Boulad, s.j.
henriboulad@yahoo.com
Tradução portuguesa feita a partir do original francês disponível em:
<http://ucipliban.org/arabic/index.php?option=com_content&task=view&id=12537&Itemid=253>,
09-02-10, 23:51:24 h.

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