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http://dn.sapo.pt/2008/04/29/opiniao/a_igreja_catolica_moda_perdao.html

A IGREJA CATÓLICA E A MODA


DO PERDÃO

João Miguel Tavares


Jornalista
jmtavares@dn.pt

A Igreja Católica rendeu-se à moda do perdão. Perdão aos muçulmanos, perdão aos judeus, perdão a
Galileu, perdão a todos os que foram ofendidos nos últimos 20 séculos, perdão a tudo o que mexe e,
sobretudo, perdão aos que já não mexem. A humildade fica sempre bem e está de acordo com metade
da mensagem de Jesus: pedir desculpa e desculpar os outros. Só que - parte chata - o homem
continuou a falar, e é na outra metade que mora a verdadeira ética cristã. Alguém se lembra da história
da mulher adúltera? "Vai, e de agora em diante não tornes a pecar", diz-lhe Jesus. O pedido de perdão
e o reconhecimento do erro só têm valor se a partir daí houver mudanças na nossa vida. Ora, a Igreja
Católica pede perdão com muita facilidade, mas tem muita dificuldade em emendar-se. E é por isso que
o encontro de Bento XVI com vítimas da pedofilia nos Estados Unidos não me impressiona por aí além.
Pode ser bonito - lá saiu mais um perdão, agora para os abusados de Boston - mas não muda coisa
nenhuma.

A dimensão da pedofilia no seio da Igreja Católica americana atingiu uma dimensão impensável,
envolvendo mais de quatro mil padres, cerca de 4% de todo o clero. No total, foram pagos dois mil
milhões de dólares em indemnizações. Dois mil milhões de dólares. Imaginem um católico a pôr uma
moedinha no cofre da igreja cheio de vontade de ajudar os pobres e depois ver esse dinheiro ser
desviado para o bolso de uma das 13 mil vítimas que foram abusadas por padres em criança. Mais do
que isso: as violações por parte de sacerdotes foram abafadas pela hierarquia católica, com
variadíssimos bispos (e pelo menos um cardeal) envolvidos na estratégia de silenciamento, optando por
proteger os abusadores durante décadas e décadas.

Vale a pena pedir desculpa por uma coisa destas? É sequer possível perdoar? Bento XVI acha que sim.
Só que, como várias vítimas reclamaram, o que se pede são actos e não palavras. Existem
reivindicações concretas, que passam pela mudança das leis canónicas, mas existe um problema global,
relacionado com a forma como a estrutura da Igreja convida ao silêncio e à submissão e, sobretudo,
como ela entende a sexualidade. Esta é uma conversa antiga, que habitualmente se esgota na questão
do preservativo. Mas a obrigatoriedade do celibato não é menos perniciosa. Seria certamente injusto
fazer uma ligação directa entre o celibato e a pedofilia, tanto mais que há estudos sobre o assunto
(poucos) que indiciam que as diferenças nas percentagens de sacerdotes católicos e protestantes
envolvidos em abusos não é significativa. Mas mais de quatro mil padres pedófilos não pode ser uma
simples coincidência. É preciso reflectir. Encontrar causas. Mudar tudo. A Igreja pode pedir os perdões
que quiser, mas enquanto não olhar realmente para dentro de si são apenas palavras vãs. Mesmo que
saiam da boca de um papa.|

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