Вы находитесь на странице: 1из 58
EPOCA | | | RENASCIMENTO E MANEIISMO i I Capitulo I INTRODUGAO boi I do século XV a mesos do XVI os principais parses do © pelo n a ademte cla Europa, nos de um et « politica feu ‘initia desenvolve-se para além dos quadros corporativos das cides, mos os artestos passa a trabalhar por conta de capita Kos tecnicos, favoreeidos pel ale invengdes ¢ melhora as. Os joes feuds apropriam:se tanto quanto postem de terras comuais, re inwlo muitos servos ou colonos a asslaiados e preduzindo para 6 mereado. O aumer de trocas, implicande oda cireulagio monetiria, trac dle ouro, prata © outras merealoi scam-se minds, qu maritime par imo dos meas de troca, © provocat o resultado a pro- se 0 trabalho mincito & fora da Europa, O descobrimento da prata na An Irwin vem ao encontro desta nocessidade de acres pe preciosas, ten ata de pregos, ruinosa para os que vivem de foros e servigos feudais, + banedrias a eseaa des as finan Tornan-se possiveis grandes acumulages de capital e operas «be toda « Europa e respectivos interesses ultram cents, como os Fugger ¢ 0s Welser. Deseobrem-se m os. Formam-se jos de drenay Jo-¢ mobilizagio dos meios monckirios servem dde Prang impétio de Carlos V (ependente da casa Fugger e das minas de prata) o império porta ues (lependente do ouro da Mina ¢ da pimenta). Os monatcas, recorrend largamente vw empristin, consuming em massa material de guerra, onde jé enti Figura a at dle base aos grandes estados nacionals ¢ até supranseion 170 LMISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA Iharia, oferecendo garantias de diversa orden, estimul ui. P agi do poder econ ¥ vores 8 ealera favorece « burguesia mercante; outeas 1, aetua como vértice de um inistativ, na su sioe parte oriumla da aistocra ‘Os bens feudais da Igreja dio origem a constantes conilitos entre a Lgrea¢ 0s princi 1pes, que tendlem a chamar a si, no todo ow em parte, © poder reli ticos, quer separanda:se de Ro he, com o rei de Branga, co on jioso © 05 bens eclesi o Henrique VII de Inglaterra, quer atrane sesies importantes incremento do volume da produgio, sob o estimul do coméreio europe € intercontinental, agelera:se o ritmo de desenvolvi rento de alg esia industrial eco fe no Reno, mo Baltico e na Flandres, A burg, estas eda des resist ds tentativas de dominagdo empreendidas por Carlos V € por outros princ ‘Ao mesmo tempo, 0 feud ‘Alen Eva eircunstincias failitaram a propa aumento da exploragio agricola, em que se angame alguns senhores. a si © provoca insurreigies como a de 1525 na nha ado da heresiareligiosa desencadeada pelo protesto de Lutero contra a vend de indulgéneias, em 1517, Os eseritos de Lutero © ‘outros protestantes fornarany-se rapidam nte conhecidos, ga 0 da ia das cidades, desejosa de se libertar da tutela eclesistica, apoio. com grande parte, © mov inypronsa. A bu nento. O mesmo izeram os principes alemies, que cobigavam, Massa dle camp ne do Evangelho cont sono ial © mercantil — que os oprimia, Mas Lutero condenow os levantamentos populares A Ierejaatravessa entio um momento dificil O rei de Inglaterra sepa toma una atitude ambigua; € mesmo 0s principe ‘tum a Santa $6, como Carlos V, eujo exsrcito em 1527 saque di Roma, que mesino ce porais da Cir ‘8 bens Feds se do Papa; risa Papa desea Roma, Este os eatslicosinterpectaram como easigo diving das romans, Fevelow até que ponte a rel 1, po A noeessidide ham a 1a imeresses dint £08 €, em religiosa & geralmente admit nde favor uns corrente a, a6 por alguns car Aeais, Enco sem pir em discussie a autoridade do Papa, preconiza a ements dos abusas e a interiorizagio do sentimente religioso, Ess ccortente, que tem o seu intérprete mixin em Erasmo de Roterdio, cheyow a apanceer 30 possivel entre Luteranos ¢ «Papists Apis uma época de lccisio, define-se a nova fisionomia politica & lig de Trento (1545-63) eon antiga cristandade: a P do catiico; a cides do Reno, do Baltico e do mar do Norte, 0 eixo do religioss ds Europa, No e nese as pontes entre os dois fragmentos e baluarte do tante. A Franga est divi ‘ume outro, No fragmento catélieo desenvolv reaege conhecida polo nome de «Contra-Reforms, que consiste, sob seu aspects 1 FROCA ~ RENASCIMENTO B MANEIRISMO m negative, numa repressie por meins coactivos de todas as manifestagdes cultucais sus- incluindo manifestagdestoleradas Co aspecto postivo, numa tentativa de recuperago da Eseoléstica © no desenvol de formas exteriores de devogio, A Inquisigdo (roman, espanhola ¢ portugue ‘se 0 principal instrumento de repressio ideolgiea. A Compania de Jesus cabe ui 0 etridentinos, No mundo ‘em geral, mais favordveis & expanso da cineia, assim como a difusio de peitas de heterodox ane épocas Jo clo novo eatolic a Inglaterra as eidades la Fh c faléin da Espanha, Portugal, donvinios nas fndias Ocidentas, 0 Brasil, grande parte da IN rosa organizagiio a, et, funcionars em ben aristocracia de sangue, servida por um pox tare que possui, além da maior parte da terra em Esp ‘0 © 05 saques € tributes de guerra ou dominio. A aristoeracia feu a, postos lominantes no coméreio transoce ddofesa da Fé catdlica & 0 motivo mais frequ dal pata as guertas no exterior € as confiscagies ou perseguigdes no interior, Em con sas invocand fio de cides bu 'x08 aparecem como ua Fe x08 ap em Portugal Acentus-se,apsisa descoberta do caminho martin para fn, 0 processo de com stag do poder poltco cconsmico sob a chefia do ri, inicio co ‘do Now cexploragio do ouro da Mina, 4 exploragio econsimica do ultra ior parte absorvid Ul, sob formas. ular e bra ronoplios dos « jet direitos sbanaise, “or dua oligarquia}, 0 que difcultou a acum cultura c, en 2 cexpausdes econdimicas fossem varias ¢ ‘ultramatinos, monopélios de produgio interna inistragao da Coma af tal propriamente dito e seu poste ‘co interna, sta espécie de monopiio eon Idales erescentes, no S6 por vfcios interno so se ng otandeses, Franceses, Ingleses,aliados por nv cada ver mais o dominio m lira inlas da colonizag or investinvento etcial ullramarino a favor da nobreza porque os ataques jos do exterior — de veres no Oriente a populace locais — difc em erise por meados do séeulo XVI. D. Joo TIT izam-setentativas i mas volta estrada ¢ feitoris. O sistema c descobrir Sobrigadoa ‘América e n ‘novas minas de ouro ou prata se pois ao projecto im LISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA 4." EPOCA — RENASCIMENTO MANEIRISMO is dag Quibie vem age com Castols aparecew final sala, i ‘Outras invengdes E espa sos de explo tnhola, que se mantém até finais dt Guetra dos Trinta Anos, cerea de meados do séeulo nig da io de core ra a ocupagio do reino de Fez. O desastre de Ake or : das, como a chi nica com 0 clapso militar e politico, A uniao ; planet ne 4 maior par Coron portuguesa imtepr-s, desde 1580, no sistema de hepemon modicum a8 eonce es moltsseculares do Burop. ‘dos costumes e das erengas. aperfeigo io de mvinas, ete., mostram de forma fl c da camada ditigeme como emtos téenicas, come # artilhatia, os novos proces: possibilidades de dom 4, abrind cansinos pat 10 Final do séeulo XVE com 0s traalhos de Galil, reas Habsburgs. [Nao surpreene por isso que aq sia mercantil no dei depois de termin 1 nobrezs. Pouce a prineipie a esbogar-se um moderno ideal de sociedad, sob a alegor ‘ropa, e matemitica ¢ experimen vega imperial ow Higa No entan sanguinidade dos sal ¢ Espanhs, & bur ce aléin, sobretud antes de se desencadearem & udos do século XVI mesmo dnteo de Pot cen as Iutasreligiosas que ensanguentaram os mi xava de progredir, desafianlo © monopdlio do Estado e 0 poxter pores fo entre o ultram nde parte ‘uma distant cidade quimériea e racionalizada, sem tribunais nem violéncias — a Utopie nde dos jukeus convertidos i orga em 1496 e efectv (1516) de Toms Morus (a que se s . le, Cidade do los, Daqui tam pretexto 0s efrculos dirigentes pata insttuir a Inquisiio 1602 (0 por Campanella, © a Nova Adintila, 1627, de Francisco Bacon) (1526), em teoria dirigida sobretudo eontea a pritiea clandestina do 0 Santo Ofc, estabeleceu-sea discriminagio contra os «Cristios: Noves ppouco domina a praga de Lisboa ¢ 0 com estes homens de neqsicios dese ol, escrita em, jsmo. Gragas ados antes do seul XV neste contexto que se torna possivel uma assin _ verdiadeiros| reco Embora alguns autores latinos no fossem ‘on supostos descendemtes ds Judeus, que cram grande parte dos «homens de negcios=, (especialmente Séneca, Cicero ¢ Ovidio) € muitas lygares-comuns literérios dt Antig tenlou-se impedir © acesso deles a postos de direego no Estado, na Iereja e até na dade tivessem feito caminko até a literatura cortés através das obras lo elero medieval, Universidade; 10 mesmo tempo que, através do fisco inquisitorial, se expropriava uma certs facets da cultura eissica eram inassimiliveis pelo mundo feudal e aprario. O desen: parte dos seus bens. Esta perseguigd0 foi contraproduceate, pois teve, entre outros res j volvimento dt sociedade mercantil e de cola unva cultura ligada 2 sua experiencia poe tados, o de que muitos eristdos-novos emigraram e constitu ‘com nijcleos na Holanda, na Branga, na Inplater hora pelo clero es universiades nos sSevlos ho Brasil, no Peru, na Africa © na imediatamente anteriores, ¢ um dos efeitos desta situagdo é oalargamento da curiosidade fndia, pelas mathas da qual passava una grande parte do connéreio mundial. Através des 4 outros aspectos do pat n que, contrarian las telagies, at bu dea pamhar um earicter cosmopolita, se dignificassem as actividades eivis,o saber pritico ou especulative sem directrizesteo ‘© Iver © a operosidade mercantl, a inteligeneia e até o corpo humano, a vida io cultoral ant fe A Bscokisi juesia mereantil portugues te terrena, Pouco a pouco, @ esquema teoldgicn da Crago, Queda © Redengio serve dle HB Aspectos culturais: Ren iscimento, Humanismo e Classi , Renascer dt mo vodlelo a este ouiro: Luzes preco-romsnas, Trevas -piticass € ura amiga, Daqui a designayio de Renascinsento, que ais 6 n cexplicitamente em relagdo so Quattrocento (séeulo XV ik tv sentido lato, domarcagiio 6 probemstica) do séeulo XVI europeu. Os qu ras necessiaes e asprages cult ns tarde se comegou Odes se-como grande movinsemto que se designa pela pi cio, das wetiviaes industria e das eidades relacion a no) ea uma pate (cua entists italiano ainda lavra Renasciniemio A velha cultura clerical no eonsegue satistoz no atacam a Escolisties de frente: ‘encarecen apenas o magistéro literirio dos elissicos sais. F alguns ¢ alos por un l srentemente sibitos, mas na realidadls props ansigo, e apuraan novos nics histérco-f Se. ‘spn zeraliente fora da hierarquia clerical, e que eonstituem umn grupo cada ver mais nume: oso, Alguns govam de sinecuras eclestist Fungi diplo rnticas ¢ de chancel os so pelagogs leceionand e dene Hiais e burguesas. A pa nente a difusio das ideias © das not igicos que permitam a sn fel recuper » processe, transforinam rapid te © horizonte mental dos grupos 10 sio 08 Hum ores deste movin A descoberta d Aipogratia em meados do sée lo XV 6 estimulada pola existenc de um puiblicn em eresci 18 04 seculares,outtos exer nto, para 0 qual jo hastava a reprodugao manuscrita do dele colégios ou casas senbo: livro, Mas ess inve neo a principio uspeito, além de mostrar ive ‘ra furasnsmo com quc se designou este movimento, inspirada ‘ou quetidade humana, como cultura ¢ estr: ay posibilidades da técnica, aeclerou prodigies pelo conceito de humanitas (0 da fammanidade, ‘ura moral) de C serengan 1.€ oda América — ambos rap versalente humanos, os quais se achariam definides tanto nas Escrituras e na Patristiea & profana da Antiguidade cias, € constituiu-se em poslerose factor de transformagio ideoliyica © deseobrimento do eaminho mat ddamente div 4 MISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA Petrarea, herdeiro da poesia provengal, corosdo no C eipe dos pots, mnsavelmente emt busca de eéaices latinos, Boceaccio (1313-1375), Poggio (1380-1459), Alberti (1404-1472) ¢ outros letras i lianos descobrem ¢ dao a conliecer textos ignorados de Técito, Cieeto, Quintiliano, Tito Livio, Prelados bizantinos fixads em Iti por oa ‘outros intelee itso (1341), come pri » doy conelivy quatracentistas, Jos aos Turcos, ¢ erudtositalianos, como Filelfo, ¢ Lorenzo Valla (405-157), criador da fiologia clisi para a revelagio din ieas, quase compl ‘Ocidemte medicval Os primeitos focos des is de Birincio, posteriormente contribu noradas no cultura srenaseidae situam-se em Florenga, onde Cosme dle Médicis, por influgncia do neoplaténieo Marsilio Fie Plawniea,frequentada por Pico della Mirandola, Lei f¢ Mirandola procur w, funda a eslebre Academia Baptista Albert ¢ outros; Ficino mv incorporar na doutvina crista tradigdes esotéricas afi do platonismo, como a do hermetismo de pretensa origem epipeia, do mistcisn dos Gris & Cabala judaic wi texloo Renascimentoe apresenta, mesmo posterior is mats na corte pont fe wastrolog nente, complenas ligasies con as ci es. O Remascimento enconteou inyportantes de varios principes italia finda m Milo, Ferrara, Minn, Rimin or inicios do século XVI, ¢ sobretudo por 1520-30, 0 mov liano) transpe 08 Alpes. Entretanto 0s seus préprios progressos de religiosa criam condigbes para un filokigica aplicamse as Ese sregos € latinos, com 0 Hw das Faculh 0s (e depois transalpinos) © sortes dos bargueses out das condottcy i do ita i igor erudito c a crise uiude mais ofensiva, Os métads de erica histo. Pate wo -vontade com que tinham versado autores profanos. Os ie, nos seus textos originals hebr Wo com a resistencia das velhas universidads, c especialimente a Sorbona, levam les de Teolopia, Em Paris, os Humanistas, em luta cor Franciseo 1 fundar 0 College Royal (1530), onde se ensinam, algun do Latim, o Grego 160 Hebraico, © que conta ene as seus mesttes 0 ica Guilherme Bude, Em Espanha, o Humanism eonsegue penetrar na Universidade de Salamanca inspira a fun «dug pelo cardeal Cisneros da Universidade de Aleabi de Henares (1508), que tem entre fs seus mestres 0 granle filélogo Amténio de N p ja, Foi nesta universdce que se pre fue eiton em 1571 Biblia poliglota (em lati, gregoe hebraico). Em Lovaina funda se © Coligio Trilingue, onde ensina Juan Luis Vives, Em Vitemberga distin Melunchion (forma helonizada do sew apelide: Selwarzerd — 2 le A difuso da favor Entre outros, Aldo Manticio, de Venza, langa-se, can 1493, num vas «0 dos elissicos greco-latinos das obras de exeyrese os Hu Reform Os humanistas dle 1520-90 atacan ditectamente a Escobistica, Sob o panto de vista pedagdigien, © sou ileal & 8 reaizag ra Terra Negra) ia pelas novas técnicas de proce do veo, Listas, precursoras da estétcas do 1." EPOCA ~ REN. MENTO E MANEIRISMO Ms ividuo, ideal que & exaltaco edifundide por Juan Luis Vives, Melanciton, Guilherme Budé, Anwinio de Nebrija, Brasmo, e outros, Em hugs Tistas edispatadoras, propunham a leitura ¢ 0 coment tendentes a apreender, pela critica filoligica e hist6riea, 0 seu significado preciso. As 1s tradicionais acrescentava dos autores eientficos Sob © ponte de vista filoséfica, oy Hi fico; muitos voltam-se para Platio e para os fil6safos neoplatdnicos (especialmente Plo- iévcis com o Cristianisino (cua teoogia foi estruturada pelo neo- tino, faclmente com to assim no encalgo da platonismo), € que autorizam una relipiosidade intimista, sep da, Outros renovam 0 3 stotelismo, quer culo Acaden 1 de Florenca, j menciona segundo a corrente pantefsta ¢ materalista de Averrdis (averrofsmo de Psa, XV c inicio do XV, deferdide por Pomponsicio (1462-1542) de acord co Afrodisias: quer tentando Roms ¢ Ermolie Barbaro tharmonizagio do arstotelismo e do n Veneza, plitouisino, come Bessariao © a rligiosa, muitos hom Bim mate is préximos da Reforma) tas (em aera, 08 Erasmo, vive ppreconizam o regresso a ui ctistianismo primitivo, enquanto outros, co 11 a.um progtessa exoys rte. Talos “9 pet atria © anist6rica di ‘uma {8 aworizada pelas Eserituras mas a Tscolas todavia, em descartarse da diakéetica chic ‘concord Incdievais, eondenam as exterioridades formalistas do cullo, 6 excesso da ttela clerical sobre 0s legos mesino mais cullos e exemplares, © monaguisnn0 ocioso, adigio com ose frequentemente em cont ritualist e a suficicia doutoral, Enecontr a da heresia. 4 Lorenzo Vala demonstra x apo peradlor Consta lontrina oficial da Fereja, nas frome’ crifia do famoso texto de daago a0 Papa da cidade de Roma pelo ino, coleccionando, comparando ¢ traduzindo diversos textos grezos da Biblia, Luadicionais. Alguns, tino, B é levado 4 por em divida certas iterpretagdes e até certos do Fhumanistas, como Melanchton, Lefevre d'Btaples, Reuchlin, aderem a Reforma; outros, prio Erasmo, hesitant muito femnpo entre ela ¢ & ortodexia romana, Outros ‘se para uma reforma dente dla Ipreja Ro 1a, como o-cardeal Sadoleto inc Enfim, sob 0 ponto de vista social, os Humanistas advogam a escotha dos die 7 ino) Sound o saber © a capacidade, condensin a guerra € abeiramse por vezes do it moderna de tolerncia, preconizando, nomeadamente, uma solugao pacifien (i ia nna 6 fatima € vivida, mais Uo los dissios entre eristios: 0 Cristianisino consist {que em teorias ou tos, endo fanaticamente diseutidos, Muito cevitar as poénsias srriscadas e inte, canal ticas ou palact ulo os seus entusiasmios paca a simples istico em Jim ow grexo. F uma nova aristo ressurregio do mais puro classieismo esi intelectual que assim se forma, abrogqelada atts do privilégio de um saber dit 176 LMISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA com expresso em Hoguas mortas, que exi nolo talento e écio, varrendo a barbara ter escolistica,substituindo a subtileza sa pela elegincia verbal. Esta teen cia generalizou-se,& medida que a repressio instaurada pela Contra-Reforma tornou peri g0sas todas as manifestagdes de av tal, Certo Hut por fim, contacto com forgas ¢ aspiragies « que devia quer existénes prio nome, convertendo-se mum Pela sua vids ¢ polas suas obras, © mais tipico representante dos Humanistas é Desi- crwligio formalist dério Erasmo, le Roterdio, revebido, solicitado e recompensado pelos mis poderosos soberanos dlo tempo (Carlos V, Leo X, Paulo I, Henrique VIL, Francisco 1, D. Jie ML), que via através da Europa e afirma ostensivamente o sew cosmopolitismo, earteando. uaa que miliza, com correspondentes de todas as nacionalidade, se fora das lua reigiosas, apesar de soleitado pelo Paps e por Later; mas, polas suas edigdes e exegeve biblicas, pola demincia da critica da Bscokistien, pela reformista que chegou a ter 0 ‘O-esforgo dos Hun pedlagogin que substitusser tendéncias que se manifest ‘ura para a actividade produtiv sda Antiguidadte apd eclesiistica, pl wpa co eroxos ¢ influentes adeptos, tama f o, criow uma cortente religiosa osofia, mia moral e uma do mundo feudal no consegue todavia integra todas as o Renaseimento, Com a sua eruligiliveesea, set aber Jes tenieas de «praticose como Bernando de Palissy (Revette ra certs probe wbes, problemas que dio a séfieo de Montaigne ¢ outros, Deixa de fo ‘éritable, 1563), Nao encontra resp ws teligiosos € is postos pela deseoberta de nova iv amentos ao ceptcisme fio igualmente, 0 deside hicizagio lo Estado, a que Maguiavel responde coloe: 1516). Enfim, nao cabem dentro do Humanismo certas formas extremas de {da moral religiosa (0 Principe, steticisino € individualismo, representadas por personales como Cel para quem a sealizagdo pessoal ¢o culko da beleza esto acina de quaisquee norntas reli ‘elosas ou moras, Esta ttima ten o earacteristica de alumas cortesitalianas ‘do Renasclanento, nelulndo em dada fase & pontficks, eda corte de Francisco Tae Fra (© Humanism apron os, as formas métrieas, ‘8 recursos estilisticos, a diseiplina gramatieal dos antigos autores gregos e romanos, Nao cabe considerar-se aqui © uso das Winguas literdriaselissieas, que pries prob Aretino, Miguel Angelo, meals as repr, 0s 4 nas de adaptagio vocabular ¢ fonétea mais graves punha-os a adaptago das Kiagus modernas ao estilo ant 0. AS HOt rns Tite jas preseritas pela Postica de Arist6teles, pela Aste Postica de Horicio, pelos 205 ret6ricos de Cicero, Quintiliano e P pre io, © Mogo, s6 limitadamente poderiany sr aos eseritores quatrocentistas¢ quinhentisias, de mentalidade diferente (embor hem sempre tendo consciéneia disso) e embaragados por um meio I diferente, que ni permitia, por exemplo, 3 1." EROCA ~ RENASCIMENTO B MANEIRISMO im 0s eseritores do italia eum petfodo muito breve de inicio do séeulo XVI europe, Esse perfodo, tambs nado como Alta Remaseen ar-se-ia pola fase mais expansiva e atrevid do Huma nismoliterdri ¢ eritico, pelo prestigio absorvente dos modelos chissicos greco-romanos, por uma gio de meias artistions que tem a sta expressio mais caracteritica idee geometrizante ds le ‘numa pretensio de imitoldgicas, na busca de um equiltbrio sereno entre 0 ideal © 0 real, ie 0 espirto e & nature A patie de cere de 1520, avolu ‘estéticos do Alto Renascimento: a muneira, ou estilo individual, de wm artista como M Angeto comeca a ser mais apreciada pel apreensio, em perspectiva, em equilforio mec ddaquilo que hajade essen isso de ‘nome generico de tod assstinos, no decorner destes o tear de vida, na ideologia ¢ nas formas patentes periodizagio diferente arte ¢ da Titeratura cismo renascentista, a Re dale das alegori repacio dos ieais uel é caracteristico de Leo juno, ta com lenge plastica ou postica despolarizam-se, dade nardo da Vinci. Os motivos de a ndo ten ses insoliveisenibo toeno de fi uiciosamente observados. A arte opde-se & nature Ada 1 Yeres um scntimento poapleno de irre ramse a sugestio de graga numa atitude improvivel, ws 178 LISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA posigdes comborcidas como uma serpente ow um pentinaela, sicos ou pel lingua de fopo ascensional (figura se samado; 0s proprios lugares-con insinnagio do suspenso ou incor equistas de transitoriedade a Vi nse numa pungéncia mais subtil, num estilo torturado; o belo aparece 3s vezes lo com 0 disforme; ¢ o tom humoral mais earacterstico & 0 de patético ora surdamente cerebral, 0 incompreensibilidale radical ou lubirintic as contradigaes. do requint , produto da prude indo as veres for do de Reforma ¢ a unio com a Espanha Corea de 1550 ocorrem, com efeito, alguns acontec dem coma crise geval atris aludia, Bra 1547 € definitivamente estabelecia em Portugal, spss esforgos que datavam de 1531. Naguele mesmo ano sai © primeite rol de livos proibides, sucessivamente aerescentaalo em 1551, 1561, 1564, 1581, 1624. Em 1550 0 grupo de professores trvido 4 Portugal por Andké de Gouvei (if «em 1548) & postoa margem axis um processo movide por inimigos do Colégio, Em 1555 no Coligio das Antes, & Companhia de Jesus, mos secunekirias) em Lisboa e Evora, 14 universidade sus nesta via cidade. A patti de 1587, ‘ano da mote de D. Joao I, « principal personagem do reino é 0 cardealinfante D, Hew rigue, inquisidor-geral, qu repéneia com a rainhs-viiva, Em 1564 as decisbes do concilio de Trento sao promulgadas em Portugal sem restigdes, caso tnico entre os reinos da Europa Ocidenal, Desde cerca de 1550 foram sileneiados mesmo os mais est nyo erasmistas, como André de Resende, Damiio de Gis e Diogo de Teive, ¢ por 1580 cst extinta a geragio dos letrdos e graméicos antieseokistiens que tintam campeado por alta escolares do inicio do reinado de D. Joio IH, Mesmo Heitor P sicos, preconiza em 1572 a subordinagio das bolas: as kas By nputados pola C hardin Ribeito, Si de Miranda, Joao de Barros, Jor de Montemor, Anténio Ferreira, Nenhum livre podia sar, na segunda metade do sécule XVI, sem trés licens: 8 do jo velo 1 Inquisigio i, rebaptizado ev «que entio dominava os Estudos Mer ce que no mestno ano fund: ares (hoje dit das grandes retor 0, que tio bem conhece 0s ci tes & obra pi dle salva re oS autores proibidos ou ura contam-se Gil Vicente, Ber rte de Vasconcelos, Jo ico na diocese respec tiva ¢a do Pago. O relator do Santo Oficio examinava o livro em manuscrito e obrigava la «nada segunda metade rar que coahece- ‘mass somente um texto a0 qual os eensores lo, amputiclo ow acrescenti-lo, antes de the conceder afr ccontém contra a nossa Santa Fé e bons costumess, B, assim, desde do século XVI até & reform pombalina da Censura 9 mos 0 texto original de ‘obra impress 3." EPOCA — RENASCIM 183 m. A impressio, a venda, a heranga e 9 entrada de livtas vindos do estrangeiro .ineluindo inspeegdes domiciidrias, dects ules, com recompersit de dentincias secrets cestavam sujitas a apertada vigilane Bes perielicas obrigariase as mais graves penal A usta dos bens confiseados. ‘Aos efeitos da Contra-Reforma vieram junta Espanhia, Do primeino resulfou, como spontimos, mute! nismo, Ot ‘a partir de 1581, 68 da unio com ro ssas dr Huma nto da eorte de Lisboa, 0 foco ido teve como consequéneia o desapareei literério mais estimulante do Pais. Os homens de letras € artistas, ue até entio vivia clhotan sobre da munificéncia népi tid, o1 se aw miecenato das maiores casas senhor duques de Braganga, Outros viveram & sombra das ordens religiosas a que pertenciam, tanclo uma temstica predonsinantemente devota. O teatro, o gr lo XVI, decaiu ap6s as eriagdes de Gil Vieente © Anténio Pet os padres ronascentist Na pross 1 & ocupado pelos eronista das diversas orens religiosas, quer 0 pprocuratam a protec da corte de M ais, como as dos condes de Vila Real e dos fe género das cortes rmonirquicas do sé Na lirica © na &pi ‘6 primeico plano da c seems ‘da histiria do Reino, quer da dos conventos ¢ santos respeetivos. Tirante os diseipulos smal se renovtra hentistas tefugiads em varias «cortes na aldeiae,o clero re ‘na produgao L ‘A Universidade Coimbra, que se wrnou um dos prineipais focos da neo-esc0 ro império espanhol € nos restantes paises da Contra-Refor ula pelos Jesui- tas, embora as outras prinipais order tenhann acesso is suas estedras, O jesuta Peudro da Fonseca (1528-1599), que de Portupal, ensinow alia Légica den tro deste espitito, Prancisco Suacez (1548-1617), jesuta espanhol, teve em Coimbra coiteda donde irtadion 0 seu famoso magistério, espe Daraine 0 século XVIF atinge 0 seu apogew a sescola co iva para adaptar a Escobistica eo Atiststeles dos Escoldsticos a proble es Baltasar do Amaral, orga a posigao pre sa Teles, inimo espanol € outro foco impor me se entre estes conimbric Francisco Soares (ite Lusitano, ps s cltado), Inicio de Carvalho. A universidade je ola se dstinguiu o espanol Las de Motina (1580-1624), tor de uma célebre teoria que visava eoneiliar a teoria da Graga com a do livre arb dos Dominica trio — teor os. © cnsino universiviio jesulta, de inicio razoavelmente amedidag nosso temps Aléin do ensino universitari, os Jesuitas dominam, em geral, com os seus colégins 1 que encontrou forte oposigde por pact ializaulo eeficiente, de © estes em postilas sem autora responsivel, equivalentes x sebemtas iris, em tod a extensao do império da m istocracia de sangue amo Coligio das Ants de de Artes, 08 Estudos Meno: q sa Austria, através de numerosas escolas onde se eda como a burguesia, Nesses colépios, entre os quais se desta st HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA » Ano de Lisboa, além de nogies de M sérias & construgo ou manobra naval, 2 tien ¢ Geometria neces iar, ete, ministra-se prineipalmente nas cla erugto humanistica, 2. A Ratio Studiorum, regulamento pedagogico (1599), tem em vista de cidade de disputa e de exibigao literiria em publico, através de sabat uma cultura ger qu istien nasa insp de todas as escolas jesu ravolver & expressi oral eset ‘as, concursos de emulacio escolar, réits, representagies teatrais, proserevend expr umente todo 0 magistério ow pr gosto da novida fica escolar que favorega a curiosidade intelectual, @ ©. 0 espiritoerftco, Ariswteles, base de (odo 0 ensin, deve seri pretalo segundo os comentalores consay Diterentemente do que sucede em Espanh los, especialmente S, Tons, 1-0 papel cultural das outras ordens rel siosts é em Portugal nesta época modesto em comparagi com o dos Jesuitas, Des ‘no entanto 208 Ci reienses de Alcobga, 20s Dominicanos, rnumerosas hi ins, histias mowssticas,histirias da proxhugio impress em Hingua portugues no sé Con Dilingues no s6 0 cespanliis sedi dor de Sevilla de Tirso de Molina. Si XVI éin ter bem presente que sob © governo dos Filipes so, autores como @ paiblico portugui Um exemplo de ores 405 portugucscs & 0 panegirico de Lisboa com que abre EI Burla Ficativo & também que o Quijote de Cervantes tenha duas ediges em Lisboa no prdprio ano da sua primeira edigao; © que a primeira ‘edigio do Guemuin de Alfarache, 2. parte, de Mateo Aleman, sejaigualmente lisboeta shogitse desta forma una tendéncia a dar ao castelhano, lingua geral da Pe ponderincia no teatro © nos géneros de grande citculagio, come 0 romance, fieando o uguts reduzide i condigo de Hingua regional. Te insula, pre po vimvos da auséneia de urna corte n ulencia passageira, resltante come ia emt Lisboa, © que pode ter coatribud para «deca ta de continuidade do romance ¢ do teat em lingua portugues: stl dencia ou f A literatura 1 desta época sofre também, mas, pelas razdes pontadas, Contra-Reforma. Apresenta mumerosas nedievais a que o esplemlor da corte espahola c © gosto de que se roxtelam iar brill: a neo-escokistica omista ‘com muito: menor in sobrevivenci xles» de Espaniha do por veres via nova e has universidades; a expressio analdgica e ale ental so do espectacular; 0 culto alas imagens; 0 auto sa 9 w Tteratura aseétiea e mstica (Frei Luvs de ada, que viveu em Portugal e ¢4 produziv uma parte importante da sua obra, $8. ‘Teresa de Avila, 8. Joao da Cruz, Frei Luis de Leio). Um sentimento de frustragio, stabilidade e de desequiltbrio, os, violentos comtrastes We grandeza € miséria, 0s desastes militares, parecem taut se eseticamente pelo exagero patétias pelo arroubo sa; pela oposigo entre a sublimidade da alia © 0 g10> avaleiresco ¢ 0 picaros por un ia fidalga e de imistico © peli maceragi asc tesco do corpo, entre © to de bizar pitoresco Folelsricn; pola obsessio do tansraciona; pela pesquisa dos re 5." EPOCA ~ RENASCIMENTO B MANEIRISMO ss pela evasio para o inefivel, pela supest lo inapreensivel, subti e fugiio. Estas te jas diversamente combiniadas conforme as conjunturas gerais, os meios, os autores. nsito do. Mane fas artes, assinalam a vers espanbols do. Encontramo-las, de modo cambiante, em Ce jgma do ateaso feudal da Espana; Lope de Vew ism a0 Barroco, ntes, que dew no Quijote © melhor sin “que exallou 0 «ponte mente coun ua ideal monaruias Luts de Gongs ador de uma poe- sia ule & anlar a expressio discursiva; Mateo Alemin, que no Guzman de Alt © principal momento da novela ce -honra cavaleiresc, pondo em acco uma expéeie de hers {que a sugestio por negativo, 0 picato. No meio portuguds, como ve por inicios do rei braun os, oclassicismo da Alta Remascena i ilo de D, Joi IIL, com alguns rastos mais tardios em Jovi de Barros, ames; o Maneirismo, de que $6 muito recentemente se comegou scentuala de certa regressio ascetic: contemporincas; quanto a0 Bi Fale alguns dos seus cerca de 1620 e a condighes nacionais s6 propic a Res ncoclassicisme seadémico, goticizane, nbs dificil deseobrit iterioemente, ms as ifestagdies mais ear rm ula se defi terfsticas pelo final sao e época de D. Jodo V, quando jf na Franca MM BIBLIOGRAFIA SOBRE 0 RENASCIMENTO E A CONTRA-REFORMA EM GERAL Elton, G. R.A Europa durante a Reforma (1517-1559), tad. port. Presenca, 1982 dele, 3.* ed, Colin, Paris, 1977. Gorin, EO Renascimenta,histria de uma rovalueo cultural, rad. por. Tees, Porto, 1972 Bunnassar, Bartolomé Jacquart, Jean: Le XVI Martin, Allted von: Sociologia det Renacimionto, trad. esp., «Coleccién Popular», Fondo de Cultura Econémica, México, 4." ed., 1970. Préclin, Edmond: Le XVI Silo, cal, «Clio», Prosses Universitaires, Paris 1 4.% ed, Colin, Paris, 1977, Leb1un, Francois: Lo XVI Siete Braudel, F.: La Mediterzando ot le Monde Mtécitérranden & "Epoque de Philippe M, 3% ed., Colin, Paris, 2 vols,, 1976 (trad, port, Dom Quixote, Lisboa, 2 vols., 1983-84, ‘obra fandamontal; ¢ Civilizagsio Material, Economia 6 Capitalism, trad. port do 1.° tomo da ed francesa 1967 (reed. aum. em 3 vols., 1970-86), Cosmos, 1970, 188 HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA ‘Século XVI, Ed, Prosenga, 1982, 9." ed. 1987; Regiment Escolar de Sama Cruz de Coins bra, ibidem, 1974; 0 Exasmisma e a Inquisicio ona Portugal, sbidem, 1975. Osénio, J. Alvos: O Humanismo Portugues 0 Erasmo (Os «Cotdquios» de Erasmo edi tados em Coimbra}, tose de doutoramento, 2 vols, Porto, 1979, Martins, José V. Pina: Aspectos do Erasmismo de Andid de Resende, sop. do «Ew phrosyne>, nova série, n.” 3, 1969, Lisboa; Humanismo e Erasmismo na Cultura Port ‘guesa do séc, XVI, F. C, Gulbonkian, Centro Cultural Portuguis, Paris, 1973, © Hurnaisme ‘et Renaisance de "ialio au Portugal, ibider, 2 vots., 1989, entre outros trabalho seus. Si, Artur Moreira de: De Re Erasmiana, Aspectos do Erasniismo om Portuas 1977; Humanistas Portugueses om trdlo, Lisboa, IN-CM, 1983. Ver ainda rubricas Humanisimo Ranascimento no Dieiondrio de Histéria de Porta: gol, dit. por Joel Serrio, eno Diciondrio de Literatura, 2.* ed. dit. por Jacinto do Prado Covino (tom bibliogratial Rebelo, Luis de Sousa: A Tradicdo Cissica na Literatura Portuguesa, Livios Hoi zonte, Lisboa, 1982. Invontirios bibioaréticos 1 Braga, 4 uma Biblogratia das Obras Improssas om Portugal no Século XVI, por Anténio Joaquim Ansolmo, Public. da Biblioteca Nacional, Lisboa, 1926. Ver, a este respeito, Macedo, Jorge Borges de: Livros Imoressos om Portugal no Século XVI. Intoresses 0 For mas de Mentalidade, in «Arquivos, IX, 1975, pp. 183 0 sods. ogo, Raul: Os indi IcALP, 1982, 4 Albuquerque, Lus: Cidncia e Experiéncia nos Descobrimentes Portuguese, «Bibi toca Breve», ICALP, 1983; As Navegandes e a sua Projeccdo na Ciéncia © na Cultura, Gradiva, 19817; 0 Humanismo Portugués, 1500-1600, Acad. das Ciencias, Lisboa, 1988, Barreto, Luts Filipo: Descobrimentos e Ronascimonto, IN-CM, 1983, © Caminhos do sabor no Renaseimonto Portuguds, IN-CM, 1985, Martins, tsaltina das Dores Figueiredo: Bibliogratia do Humanismo em Portugal no ‘Século XVI, Contio de Estudos Clissicos e Humanisticos da Universidade da Coimbra, INIC, 1986 fobra fundamental de consulta: rofere 3314 tits) Traducdes de textos latinos do Humanismo em Portugal Resende, Andeé de: Oragdo de Sepiéncia (Orato pro rostris), ad. Miguel Pinto do Meneses, Lisboa, 1956. Ob205 Portuguesa, comestudo 0 notas do José Pore T a Cost expurgatérios 0 a cultura portuguesa, «Biblioteca Breves, obrimentas.¢ motodologio pri-cientiica: Clissieos $4 Barbosa, Aires: Antinoria e Epigramas, trad. José Pereira Tavares, sep. eAtawivo do Distrito de Avelton, XXVI, 1960. Fornandes, M.° Jolo: Orapiio sobre a Fama da Universidade (1548), trad. dot ‘com pref, sobre os humanistas conimbricenses o bibliogtatia, por Jorge Alves Osério, Instituto de Estudos Clissicos, Coimbra, 1967 Lati= Renascontista om Portugal, sole. Wad, e notas de A. da Costa Romatho, NIC, Coimbra, 1985, | Capitulo II GIL VICENTE O estudo da obra dramética vicentina deve preceder 0 ntistas, quer por razdes cronoldgicas, quer outras perso nalidades ou correntes renase pelo facto de tal obra se poder encarar como acabamento das melhores tra~ digdes dot urpreendente que a emergéncia de uma al personalidade de sintese se tenha verificado num pais onde essas tradi- «bes dramiticas medievais nao parecem ter florescido de um modo beilhante, ‘ow sequer, hoje, distintamente perceptivel, Mas s de Gil Vieent mos e amadurecidos frutos de uma cultur prestes a murchar, Gragas a certos elementos doutrinitios e estéticos, 0 tea fo vicentino também participa, entre nds, de uma ineipiente atmosfera hum nista e renascentista, que us condigdes hist6ricas jit referidas mal deixaram sobreviver i carreira do dramaturgo. Por outro ldo, @ despr ws fontes, estruturas e ton facidade que, por vezes, 0 torna extraordinariamente wedissemos a obra vicentina pela mais racionalizada ro medievo europeu. B 40 Ver o§ autos ia inexa pens como ti jddacle das jddadles communica a essi 0, embora, se moden \6 dos rominticos ¢ rea- oo formalizada est listas), pudesse dar a impressio global de uma certa e desco rogeneidade: ica dos ckissicos posteriores ( ycertante hete- MVida e obra nasceu 8 rola de © que se sabe de Gil Vieent 1465; eneenow a sti princi peca em 1502; foi colaboraor do Cuncionciro Geral de turgo, reduz-se ao sexu 190 HISTORIA DA LITERATURA PORTU A Garcia de Res lo, Desempenhou na corte w impor ee onganizador das Fes tas palacianas, como, por exemplo, da recepyo em Lisboa a tereeira muhier de D. M Reecheu tengas e prémios de D. Jodo HI, Aleangou nos mies sulicos que Ihe pe 1531, pore perante os frades de Santarém, eensurar seve exp & como resultado daira divina, A este p uma carta na qual se pronunciava contra a persegu auto data de 1536, ¢ o de um tertamoto, num diseurso opssto esereven a0 1 novida aos Judeus. O seu ditimo I de si posteriormente esta altura, Prepatow una 1 4 conclu. O seu contemporiineo Garcia de Resende mencion 1 actividade teatral de Gil Vicente entre 08 notiveis 0s seus autos, foram reeditados, Destas edigbes, algumas das quais proibidas pela Inquisicio, ape se conhecem o Auto da Barca do Inferno, a Farsa de Inés Pereira, © D. Duardos e Pranco da Maria Parla, Nomecmos ails 18s pegas que ni figoram na Cop todalas obras de Gil Vicente, organizada ¢ publicada e1m 1562 pelo filho L nie incompleta e defeituosa; essas rs pecas so 0 AuO dt Fest pelo conde de |, €0 Auto de Deus Padre, Just ‘glo Humana, publicados em 1948 por I. sido posta em divida, ms folhetos de eordel que depois cam de i Vieomte, 1 publicado 1¢ Misericdnia e Obra da Gera ab Révalh, A autenticidade destas trés obras tem dubiuivel que a Copilagam, fonte quase exclusiva, como, mlhe pelo menes tr’s autos dle que temos noticia e que foratn proibidos (Auto da Aderéneia do Pago, Auto la Vida do Pago « Jubifeu de Amores). Por outco lado, a etonologia indicada por Las Vieente tem cerros evidentes, deficiéneia que prejudiea 0 bom conhecinente ck sua linha evokutiv 4 sua classificagao e a denominagdo dos autos exigem também correegées, que adiante nvestigadores, como Braamcamp Freire, Osea de Pratt 1. 8. Révah, tem sido possvel reconstituir uma ordenagio verosimil. Tra naga drat definitiva, mas muita aproximada, mantendo con quanto possfvel, a fim de evitar di de Obras Completa: vemos, do teatro vieentino, estd incompleta: f ada pelo ultimo destes investigadores, que de rest iculdades de ilentfieacao com as edigies existe 1502 — Auto de Visitagdo (ou Mondlogo do. Vagucieo), 1504 — Auw de 8. Martinho, 1506 — Sermio perunte a Rainhe D. Leonor 1509 — Auto da India: Auto Pastorit Castethano, 1510 — Auto dos Reis Magos; Auto da Fé, Velho da Horta Auto dos Quatro Tempos; Auto da Sib 1514 — Exortagio da Guerra, 5." EPOCA ~ RENASCIMENTO E MANEIRISMO 11 1515 — Quem Tem Farelos?; Auto da Mofine Mendes (ou Mistérios ta Virgen. 1517 — Auto da Barca do Inferno, 1518 — Auto da Alm; Auto 1519 — Auto dt Bares da Gloria, 1520 — Auto dia Fama, mpropriamente chamado dla Barc do Purgatirio, 1521 — Contes de Jupiter; Comedie de Rubena; Auto day Ciganes, 1522 — D. Duandos. 1523 — Farsa de Inds Pereira; Auto Pastoril Portugués: Auto de Amadis de Gaul 1524 — Comedia do Vitivo Frigua do Amor: Auto dos Fisicas, 1525 ou 26 — O Jie da Beira 1526 — Templo de Apolo; Auo da Feien 1527 — Nau de Amores; Comédia sobre a Divisa da Cidade de Coimbra Farsa dos Almocreves: Tragicomedia da Serra da Estrela; Breve Stunirio da Histsria de Deus seguido do Diogo dos Judeus sobre Ressurreigio; Auto das Fads (2. 1327 ow 28 — Auto da Fest 1529 — Triunfo do Inverno (¢ do Verao) 1529 ow 30 — 0 Clérigo da Beira 1532 — Auto da Lusitinia 1533 ~ Rom 1534 — Auto da Caaneia 1536 — Floresta de Enganos ravados, WMOrigens ¢ estruturas do teatro vicentino Durante a Idade Média existiu um t pelo menos, das representagdes litirgicas do pais so, no século XV: os mistérios, que punham em rel ale da Pascoa. Os seus géne de lista, por vezes com ce ie de episédios, a vida de Cristo segundo © Novo Testamento, e a parte do Vellio Testamento que se considerava como «prefiguragao» daquele; as moralidades, pegas mais curtas cuja nit present ‘ou a Virgem intervinham miraculosamente; as farsa, 26 popular, normalmente de intengio satiric; as sotties, farsas camavalescas cujo ta era um «sandew» (franeés sot), 0 que permitia eriticas livres is pet jonagens era Jas, como os vicios e virtudes, ou tipos psicol ‘0 particularmente ™ IISTORIS DA LITERATURA PORTUGUES 1 BOCA — RENASCIMENTO B MANEIRISMO 3 inca repre burlescos outras, 108 religiosos, como ladainhas; despropésitos de sandeus com raizes no Sandeu carnavalesco (Sor, Narr ou Foo), to conkie~ cido por toda a Europa, etc, Vai integrando, por outro lado, novas formas jas fora de Portugal, como a fantasia de Torres Ni (se & que niio se the antecipou); as moralidades ¢ os mistérios franceses © nitagdes jocosas d valescos woes vestes sacerdotats Faltam doc testar a exist@ncia de mistérios, moralidades e mil res em Portugal, Sube-se, no entanto, que se represen vam sermoes burlescos, se mimavam pequenas f teatrais eri sas sobre histori ingleses, que cultivou de maneira a fazer supor algum conhecimento do tea- tradigoes, oso europeu, se niio preferirmos acredi .E vai prineipalmente aprendendo a estilizar jores habituam-se a fa que ja seg to rel € da procissio de Corpus Christi se realizava . stepre- senagdese, com pastores € eis magos adorando o Presépio, apéstolos, {scaras ¢ figuras alegéricas de anjos ou deménios. Os «momos» da corte de D. Joao I e de D. Manuel nto passam de panto hoje ignoradas, na Peninsul 1 propria real ues nistico, e trazem aos espectadores as preocupagdes ¢ os desejos pro- le nacional: os seus pa ar 0 portu- as alegrica prios da sua condigao, Nem todas as fontes vicentinas teriio um ears avaleirescas ou de si Mendes, o da Mulher Brava e Mulher boos da majes- Certos episédios de fars reo momo do Cavalleiro do Cisne, Mansa ipe D. Afonso, em que o proprio inspiram-se em romances de eavalatia. Os autos das Bareas Encontramos jt no Cancioneiro Geral alegorin cuj »s dos Mortos de Luciano de sa, como os de Anrique dt Mota, que podem estar sata, século Ila, C. Por outro lado, a investigagiio re cia, nao apenas dos textos, como das iluminuras dos Livros de Horas, de a lisboctas, de inicio do séeulo XVI, quer em » os das Bareas), quer em simples le régia aq) comemorativo do Certos autos por exemplo) vém de exemplos efou de contos « ciam-se numa D, Info TI desempenhou u pequenos esbocos de F na lina de desenvolvim Gil Vicente mio f primeira pega vicentina, o Auto da Visitagio, vaqueiro, destinado a festejar on MD, € filia-se dire presentagdes de outro poeta pala elhano Juan del cuja Tinguagem diale suesa era bilingue, sendo eastelhanas todas as esposas dos reis de Portugal nie evidenciou a influén- io de velhos arremedos truanescos ¢ jograles . lis mal conhecida, A © simples mondlogo de um nto de um principe (o futuro D. Joao marece ligado a esta que edigies, algu tipos sociais das moratidades (sobretu pormenores simbélicos. 19,2 0 fil A corte portu- 10 postico, a cor estrutura dramdtica e x0 longo desta produtiva carreira de 34 anos, em que se pode de inovagoes mais ou menos notiveis: em 1509, uma pr te farsa (Auto da india) emergindo entre as éclogas dra- (ow autos pastoris) de escola salmantina que predominam de i em 1510, primeiro esbogo de uma moralidade (Auto da Fé), a que se segue tentativas em 1513, até 2 elaboragaio, em 1517-19, das quatro ‘desse pénero. Eniretanto, em 1514, com a Exortagio da Gu plexidade © variedade de desenvolvem-s cescalar uma sét culo XVI. Por via dos contactos entre as cortes peninsulares, Gil Vicente, de resto, todos 08 por portugueses do Cancioneiro Geral, cone: de lingua castelhana. Assim & que os seus pri- ciros pastores tém, no 0 portugues nistico, ileones, als ja literariamente artificia . que Juan del Encina © seu disefpul Lucas Ferninde, cena. M ndo e enriqu A6rio teatra dialecto semicaste: izado ¢ convenciona como ele de Si duas now. Thano, ser | lanea Gil Vicente, ao par de Naharro, a fantasia alegérica de com ‘iulica ou politica, mais tarde designada como tragicomeédia, que (por veres incxtricavelmente misturada com a comédia propriamente dita) v comprazimento de D. Joao II (grande apreciador de romances de eavataria), conto 4 Coméadia de Rubena, de estratura trouxeram pa ing Vicente integra novos ele ciomais: o sermao burlesco (género que existe século XV, & as, medida que vai ava ndo as suas formas e repe os, alguns sem dhivida tr literatura espanhola do centages populares portuguesas da mesma época), ! dominar desde 0 decénio de 1520, p we se dec! ra em preficio a nda muito, D, Duardos; mas & fr ee ee oo HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA tivace irre de facto. uma hist © @ romana) se encamin reconhecimento: a idemifieagao «a neira da nova comeédia fitiea de amor entre principes que (2 a rappy-end gragas & perips pe de um apaixonado (ou apai- imental cons ia de umn feliz, ). A tensio profunda da comédia hd uma ambiguidade entre a exaltagio do amor como pri de um san. 6a gue nobre (que se ignora), € a ideia, oposta, de que «el precio personae, Como obra-prima dranitica (¢ lirica) deste nero deve conside! se o meneionado D, Duardos. O ano de 1527 assinala quantitativamente acmé, ou apogeu, da earreira vicentina tante (¢ 6 tinico ineontrov. (Breve Sumario d tink ou seja, um anilagre, 2én maturgos da «escola vieent io mal conhecidas as condigdes da encenagao vicentina. Mas, pelas poueas tien la \r ¢ desse ano data © mais imp '$0) dos seus mistérios de larga perspectiva biblica Historia de Deus). Gil Vicente produita jé em 1504 a das suas pega, alids muito breve, baseada nun epistidio hagiogritico, (larga earn ro que no entanto ra entre os drat icias contidas nas pegas, & de conjecturar que de simples repre ha passadlo depois i montagem de Neste se faria, mais tarde, a instalagdio das bareas, da etc. , exigidas pelas moralidades ou fantasias alegsrica diversos espacos simboli un assinakados por cortinas outros. re estrado, ago ao rés do soalho se t fu, dae: agem, is mais complexas, Os sda ce meios. Na farsa de Inés Pereira, 0 exterior da rua contrast doméstico. A primeira cena do Auto da Lusi iS pegs requerem multipl devogio integr por uma deposigiio de com o interior inia decorre em dois andares, idade de entradas ou portas. Os autos de ‘ou por um quatdro vivo de Nativie Cassandra). Nada comprova a existéneia de uma companhia profi actores, embora perfodos de intensa actividade eénica, como os de 1523-24 © 1526-28, requeressem uma certa permanéncia € treino do clenco, Destas eircunstincias singulares em que nascem ws caracteri prias das pegas parte & dificil reduzir aos géneros tfpicos do teatro A primeira classificagio metiica das pega filho e editor do Poota, que as dividiu em autos de des dias, tr grande de Gil Vicente deve-se a0 so, farsas, comé gicomédias e obras menores. 4." EPOCA ~ RENASCIMENTO F MANBIRISMO 19s Esta classificagao & arbitrdria, pelo menos q comeédia (palavra que Luts Vicente o teatro ckissico, mas na aceperio mais, nto As obras profanas, huma diferenga se descobre entre a, niio no sentido que the ria de Torres Naharro: pega facto de o de enredo com remate alegre) ¢ a tragicomédi estruturas di -ntinos alinharem, em geral, divers goes. Podem, no entanto, distinguir-se sem grande ri ilo 0s simples monélogos, como 0 Auto da Visitagiio © 0 Sermio perant mao burleseo» (ow lence também a um género medieval, © «pranto jocoso», podemos conside- sinha D. Leonor, que ntes, semiburlesco), ¢ 0 Pranto de Maria Parda, que per os autos pastoris, que se estruturam como éelogas T » 6 Auto Pastoril Castethano ou 0 Auto Pastoril Portugués. maneira de Juan del Enc dle didlogos edmicos de pastores, con Por vezes estes didlogos de pastores combinam-se com alegorias, como acon- tece no Auto da Fé, no Auto Pastorit da 5 ‘bém, os pastores sio figuras biblicas, como no Auto da Sibila Ci Ha muitos didlogos pastoris, eam fangdes diversas em pegas religiosa no Auto da Mofina Mendes, ou profanas, como no Templo de Apolo. em segundo lugar, encontramos o teatro relig terizar pelos autos de moralidade. F um grupo {inguir dois tipos. H4, com efeito, ressurreigio de Cristo, resumem de Cristo para redimir 0 pecado original & anunciad erra da Estrela; por vezes, tam andra. como jemos carac: lulos que, a propésito do nascimento ou ‘oria teolgica da Redengao: a vin ou pref Fetas e por episédios do Velho Testamento, ow até da literatur ada por pro= eda histor is o tema do Auto da Sibila Cassandra (em que 0s pro! pastores); do Auto dos Quatro Tempos; do Auto da Mofina dos Mistérios da Virgem; do Breve Sumirio da Historia de envolve 0 tet Mendes Deus. poderia antes considera ‘rado, Outro tipo constituem-no aquelas pegas que, sob for ciadamente alegéri 1 Alma, que poe «da Guarda, e salva gr m virludes e vicios; 0 dos trés Autos das Barcas, onde estes ste Ghlimo & 0 que de de modo mais completo, & nati se como um mistério muito resumido e esq nit mais pron do Auto. onde se mer 196 [HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA 1. EPOCA ~ RENASCIMENTO MANEIRISMO 197 ads ¢ aquelas premiadas, Estas pegas estruturam-se como alego riores, nomeadamente em alegorias. Por exemplo, a gens silo personifi 0 Auto da Feira, ¢ a Barca do Inferno e do Purgatsrio, rados. Por vezes 0 esquema alegsrico religioso parece oferecer um pretexto, farsas. Certas alegorias profanas parecen las pi s de farsas, como a Romagem de Agravados, na 0 do Auto da Barca do Inferno, cujo pro- qual, a caminho de uma romaria, passam, evidenciando orias religiosas, como ncerram viirias peque: ler sido especialme! ria; as person es alegsi cas ou tipos re {ago em cena de sitiras ou caricaturas bi tum quadro exterior para a apresent rande parte © {tira social (a0 contririo do que ae cenguadrar s profanes. 6. pésito de Gloria) predon anos, que insere uma Con m terceiro lugar hia considerar arte dos autos pode conceber «duz-se a um episédio e6mico colbido em flagrante na vida da personagem ples desfile de tipos ou casos a pretexto de uma alegoria central (as Barcas, tipica. iso de Quem Tem Farelos?, onde se conta © percalgo suec- a Romagem, a Frigua ou Naw de Amores, etc.), 0 que constitui o dltimo ido 4 um triste escudeiro n uma chuva de trogas © maldigdes. P hhaver qualquer relagao entre a cabega © 0 eabo da pega. :s, o11 0 de O Clérigo da Beira, Nesta tim te um padre rezando distraidame: eceraé com 0 da Barc da cos em mondlogos ¢ ditlogos, campor fidalgos, freiras, elérigos; ou numa cade -se como sit jina sobre o de editfic como a Floresta de édia sentimen Na fornia mais simples, a far de variadas vigarices, Grande morador, corrido pel mie da requestada, sob sua origem processional medieva. 1 Vezes estes quadros sucedent-se, sem avalleirescos, como 0 Ama- quarto lugar, hi a considerar os autos dis de Gaula, 0 D. Duardos, s6dios senti Comédia do Vitivo, meras encenagoes de epi dos Almocre nde voga na Corte. ntais cavaleirescos, entao em ge tas pegas sucessivan je as matinas, um nistico rou tém de comum com as farsas desenvolvidas, como a Inés Percira, 0 9 bado na corte, ¢ um eseravo negro que rouba: as perso sens dao (os de enredo, hist6r llogadias ¢ monologadas no paleo. No D. Duar As outras, s 1 qualquer e s desfilam em torno de um motivo central -Ihe um proceso de desenvolvimento, como no caso de O Juiz da Beira, perante cujo tribunal c idacle de acgao. Por vezes, também, os epissdios dos, tido como o melhor exemplar do género, hi uma grande efusio de lirismo £0 dos padres do amor cortes, € 0 auto personagy hos monélogos do protagonista, de conclui por um belissimo rimance ou balada, Dentro do mesmo grupo deve englobar-se a Comédia de Rubena, hist6- via de uma enjeita wt mulher pega tem a pa farsas mais desenvolvidas qui desde que masce n principe, Esta ¢ fim, E 0 caso do Auto da India, onde se apresenta o caso de ut ticularidade de estar dividida em cenas, cada uma delas com que eng; istado no ultramar; ou o do Auto de Inés Pereira, ; 6 seu imteresse proprio (por vezes de farsa) e separ jue ilustra com uma hist6ria picante o dito popular «antes quero burro que valos de varios anc me leve que cavalo que me derrube»; ou ainda o do Velho di Horta, que tivados pelos continuadores de Gil Vicente, lembra a comédia cl: nos exibe, desde o principio até seu ridieulo dest moga. Nestes hho, a paixio de um velho import caredo assume © reconhecimento de persomagens lutos, a histéria corre cm didlogos e acgdes que se a resolver pelo casamento sucedem sem (ransigiio; so como contos dialogados no paleo, sem qualquer © conflito entre o amor ¢ a desigualdade social. Mas alguns (e sobretudo do de unidade de tempo, ¢ sem qualqu imentagiio de qut- 0 de Rubena) niio dispensa dros ow actos a marcar a descontinuidade dos tempos. Nisso diferem estru= stoct por um: icas, antes tidas por viloas, de forma preoeupa num narrador que ligue as cenas entre si nto ¢ tiltimo grupo a considerar € o das alegorias de tema turalmente da comédia de Plauto ou de Molitre. Poderiamos talvez classifi profano, que oferecem formas variadas, Ha uma alegoria de conjunto que Jos como autos de enredo. ‘Trata-se da forma mais desenvolvida, mas serve de tema central ou de quadro, & roda ou dentro do qual se desenvol- cexcepcional, da farsa vicentina, vem episédios de farsas, cenas de amor, cfinticos e até bailados, Por exem- Normalmente, Gil Vicente f estes aparecem frequentemente enquisd nos pequenos quadros ou Hage Wes, € | plo, hipiter retine cortes p a D. Beatriz, duques exte int ios em esquemas que thes si 198 LISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA Ou, a prop apresen sito do casamento de D. Joao Hl, a desposada, D. Catarina, se-nos sob a forma de um Castelo, a cujo aleaide (0 Coragio) 0 ; dentro do Castelo 1 cujos ferre’ tas, que (Em por companheiras os quatro Gozos de ami deus Cupido obede inde for sao quatro pla cesta forja transforma os homens: dos ne} ‘as faz brancos, dos frades leigos, da Justica, uma velhat muito coreovada, faz uma moga escorreita, fa Fr gua do Amor, Estas pegas, como a Nau de Amores, 0 Templo de Apolo ce outras, que exigem i og rentadas com os momos que se realizavam ida, esti fia vistosa e compli inca apa- radicionalmente na corte por- alvez, por influéncia da corte dos duques de Borgonha, sspectic © embutit nelas em cadeias unilineares compa das srevistas» pop ail Vicente los falados aquelas alegorias mu ares modernas. Nas alegorias mencionadas, a fiego alegérica ni esti em relagdo organica com 0 contetido da peca, Noutras, em compensagtio, essa relagio € mais intima, como sucede n’O Triunfo do Inverno, na Romagem fados, na Exortagao dat orra, © em geral nas pec s alegdricas de oso, de que ji fakimos. Esta el sificago do teatro vicentino em autos pastoris, moralidades, fa sas, autos caval sos, autos alegéricos (de tema profano) ni passa de simples tentame aproximativo. O auto pastoril ¢ « mor -se, como vimos, no Auto da Sibila Cassandra, A fantasia alegsrica religioso ¢ a de tema profano tocam-se por vezes, como no Auto dos Quatro Tempos. natureza pet nificadas e pelo prop 10 MesmIO tempo felagam de tema n que © Menino-Deus ¢ adorado pelas fir 0 pite 1 social ¢ uma «obra de devogito Por outro lado, se (08 autos ps (0 farsas de assunto caracterizadamente campestre; que como 0s autos eavaleirescos, formas de teatro de ent nase distinguem facilmente as alegorias p podlemos dizer que encontramos em Gil a fars social-moral, que tem talver 0 seu methor exemplo em Quem Tem Farelos? (aut pli do; que, nfim, s6 quanto ofanas das moratidades. ‘cente trés formas de estru- ristico de um caso ou um tipo tura eéni simples episédio car tica Farsa do sseudeiro); 0 auto de enredo, com modalidades exem- pela Inés Pereira © pelo Amadis de Gaula; © 0 auto alegsrico, 1." EROCA — RENASCIMENTO # MANEIRISO 19 no, quer religioso, como a do Amor ou 0 Triunfo do Inverno. Dest a que integra maior mimero de ‘que talvez melhor represente a eoncepgao vicentina do teatro ples tentativa de comé- Jia shakespeariana, que tendem a definir um caréeter Jos autos das Bareas, quer profa f smentos é a do auto alegérico, aquele como a Frégua 's estruturas, a mais comum CO auto de enredo nio deve considerar-se como sit dia motieresca ou de tr uma histéria romanesea (como um conto de Boe: . como Ber- central, E, na realid ceaceio) representa tolt Brecht, deram que autores moder no paleo, género imentos, nprevistos deseavoh Diferentemente do que sucede com 0 teatro chissico, 0 t niio tem como propdsito apresenta die earacteres e de contradigées entre (ou dentro de) eles, mas um teatro de ‘ou um teatro de ideias, No paleo vieentino no perpassam carac~ teres individualizados, s agindo segundo a I6gica dligio, fixada de uma ver para sempre; © outros c conflitos psicolégicos. Nao é um teatro mas tipos soc sua con= tes personificados, Espe- de Encina e adaptado a realidade portuguesa, 0 Camponés, 0 Moga de vila, a Alcoviteira, figura ja celebrizada em tina, 0 Frade foli literatura medieval; ) personificagies alegdrica Portuguesa, as quatro Estagdes; €) personagens bfblicas e mitieas, ev Profet Diabo, ou Diabos, a hierarquia dos Anjos, sspanha pel 2 volta do qual havia toda um como Roma, represe! 1 € Sibilas, os deuses greco-romanos; d) figuras teolégics a Alma; €) e, caso & parte, © | europeu, as vezes vazado nos moldes de € um tipo tradicion Parvo, qu fonso ¢ do Juiz. da Beira, ete., que para expr os vicentinos. So cestas figuras que, contracenando, divertem simplesmente os olhos & 0s obvi ie; ou parti da, realizam no da, Gil Vicente certos pastores hobos, do vikio alguns dos m: tal como a con dos; ou expoem a doutrina crist tem que ele se empenta paleo aquilo a que poderiamos chamar uma poesia ceno} Convém registar agui que alguns passos dos autos revelam € interesse despreconcebido € no pokimico por certos aspectos lade n que na Comédia de Rubena encontramos wi fam imitar a inguagem © as reacgoes da garotada; e que na introducao ao Auto da Lusitdnia vem d cena cipam no debate de id infantil repassada de ternura em que se pro 200 HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA a atmosfera aparente. Estes esbogos sem deformagio acrin rriondrios condizem de inspiragdio postiea que iremos encontrar nos autos vieentinos. IBA siitira social Na enorme parada de tipos que nos of ce Gil Vicente importa disti wqueles a que poderfamos cli guir, dos tipos satiricos propriamente ditos, 3 nomeadamnente sonaagens nisticas, Nos pastores vicentinos hi unna.grancle parte de convengao a, como jd vimios, Servem para fazer rir a gente da corte, com a sua simplicidade, Mas, quando, pastores ¢ outras pei il Vicente se elev: ideias, esta mesma mplicidade de eriangas grandes dé lugar a paradoxos. belecida, De toda a maneir 0 folel juuizos que poem em causa toda a ordem esta so quase 86 eles, juntamente com os a ‘Comparecem outros tipos tradicionais e em grande parte convencionais, ‘embora com alguma dose de realidade re plo, a velha beberrona (Maria Parda), a desavergonhacla ¢ vivaz alcoviteira (O Juiz da Beira, Comédia do Vitivo, Inés Pereira, Barca do Inferno) ¢ 6 Judeu Beira, Inés Pereira, Barca do Inferno, Diil ‘¢d0), Em relagdo a estes tipos, Gil Vicente limitou-se a segu os preconceitos corrente vos, outro tipo da tradi riea, que tém direito a entrar no rein dos céus, onhecivel, como, por & oo sobre a Ressurre opinido e tanto na corte como no sei do povo. Mas, nat em que aqueles preconeeitos, apresentando-noy (Auto dit Lusitdnia) ain uma familia hebrai como vimos, os Judeus inspiraram-the una marece esquecer imidade de zante, em contraste com a carieatura dos tragos de mesquinhez © ganiineia de outras suas personagens israelits O tipo mais insistentemente observado e satirizado por Gil Vicente é sem mente 0 frade, presente em todos os sectores da sociedade portuguesa, na corte € no povo, na cidaule e na aldeia, Gil Vicente desconformidade entre os actos e os ideais, pois, ent lugar aa riqueza mbiciona hon- dhivida 0 clérigo, e especia censura nele de praticar a austeridade, a pobreza e a rentincia av mundo, bi m mulher e prok ras © cargos, procedendo como se a onde! igo sacerdotal 0 imunizasse 5." EPOCA ~ RENASCIMENTO E MANEIRISMO 201 cont 1s castigos que Deus tem reservados para os pecadores. A prin ambigio dos el ntinos ¢ bispar, ou seja, tornarem-se bispos ow pre: lados. Para o conseguir, um frade que participa na Romagem de Agi ddefiamna- ns © mortifi érigos vie ravados ode ¢ com palha amarela de modo a aparentar um rosto macile ices. Asi na anticleriea um extraordingria violencia, tem, além do seu fundo popular e tradicional, intengoes bei veres alvos directos. Segundo Gil Vicente, os frades sio i umerosos: «Somos mais frades que a terra». Na Fr boli view que ati definidas © as Jesejavelmente 1a do Amor, que sim- ode Portugal a propésito do casamento dor regenerag sem vocagiio entra na frdgua e sai transformado em soldado; ¢ n rads agu mento. Na Exortago da Guerra, Gil Vicente fuz-se intérprete da pretensio do rei a cobrar o tergo dos rendimentos dos bens eclesiisticos para a «guerra santa» em Africa, Desta forma se critica 1 multiplicagio excessiva do clero © dos rendimentos ecle jam entio desamortizar ¢ adjudicar & coroa ¢ 2 alta nobreza. entio em contlito | damon esmo tra 108, que Os monareas « Mesmo a C a romana jente com © rei de Portus: 14, como Veremos, aos ataques de Gil Vicente, Outro tipo insistente nos autos sita ocioso e vadio, com alg acteristicas semethantes de Tormes novela picaresea espanhola de meados do século. O Escudeiro nita os padroes da nobreza, toca guitarra, vers iis: m acrescentamento», que o instalard de vez na nobreza, Mas niio tra |. faz serenatas as filhias nicos», pavoneia-se de bravo e cavaleiro, espera o seu nedo, 6 corrido sob a chuva de insultos da mie passa fome estreme, tem da pretendida, que 0 aconselha ‘gua, Esta parasitagem faminta, que tendi aprender um offeio pau morrer A min- com at decadén= parte de burgueses © a nbém aqui tempo que de um problema colocado ao nivel dos governantes. Mas cube perguntar et és do Escudeiro, 0 proprio ide ida nobre, O facto é que, embora relativamente raros, os fidalgos apare cem também duramente atacados nos autos, Na Barea do Inferno e n dos Almocreves earacterizam-se por uma prestn Vicente se fiz eco de um sentimento popular, ao mesmo que medida ele visa, at ia Farsa » balofa e por explora: 20 2 LMISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA rem 0 trabalho dos servidores sem Ihes pagar (o que também sucede com as relativamente aos resp ctivos: mogos). mais favorecido © grupo dos magistrados e dos administrado- inhos, corregedores, juizes, in: idveis espoliadores do povo, sito impiedos mente fustigados na Barca do Inferno, na Flore Justiga é uma ve inos, na Frigua do Amor, onde repletas de galinhas, perdizes e bolsas, as miio enormes, habituad hare, A co ws vezes saudada como 0 jardim onde se © 08 Fequintes, aparece outras vezes como um foco de corrupgie, rapina & Sade Mi £0, eis 0 titulo, {nau prestes covada com as algibeiras as belezas, nepotismo, responsivel pelos males da Nagio, tal como a vi na Carta a D. Jodo IIL Aderéneias (isto é, empenhos) do Pil dew ‘as eclipsadas, No Triunfo do Inverno, a naufragar, por incompet anda Is suas peg ia do piloto, que de’ inh os funcion, corte, esc sas a. um simples m ro que, vitima da sua franqueza, nunca subira de posto, Os al ios dist as benesses. e despacl yentos de ordo com os seus int 8 presidentes ¢ os mesmos requerentese, diz. um de Agravados, Nao eseapam, enfim, & teiro que rouba 0 povo nos pregos, 0 usurdrio, além do piloto Ede notar, todavia, que o tinico ourives que nun ot queixosa da Romagem critica vicentina oficiais mecdnicos, como 0 s; ompetente. sce (08 ourives eram e! ma do fidalgo que the nao paga \lores e homens de negdcio, int n Portugal) figura como vi {do comparecem mer rios capitalistas, armador contratadores, ete., que ganhavam ja entao un importancia crescente. Estes tipos esto, ap: nte, fora do cireuito men tal de por esta dos «pobr Vicente, provavelmente por nao serem perso wens pade n fora da tipologia tradicional, Mas ao ust mesteirais», nao faltam correctivos. 1a desta hierarquia social de parasitas © ociosos? wradors. Este Lavrador, que ririo, explorador far duas répidas it (Barca do Purgatorio, Romagem de nte ridculo de que Falémos a pro- ‘mas impressionantes entra Agravaclos), no 6 o nistico simpatica paisito dos tipos foleléricos. FE uma personagem patét tem acentos comoventes. Trabal limpar as go em ci ‘a cuja vor acusadora exten vo, sem tempo sequer pa as do suor, O produto do trabalho é-Ihe arrancado pelos cobra: 1." EPOCA ~ RENASCIMENTO B MANEIRISMO 203 no como um cao, Ate dores de rendas ou pelos frades. Na igreja escorragam Deus, segundo Joao Murtinheira, pa ceaviando-Ihe o sol e a chuva fora de tempo — curiosa express fe humanos. Em resumo, segundo 0 jo da Barca do Purgat6rio: ece comprazer-se ei m qua dro de valor avrador do 'S mera Aunt impropriamente d Nas somos vida das gentes fe morte cas nossus vidas E todavia, pondera o mesmo Lavrador, tos vimos do n Este sentimento da con dos privilégios s Vicente, € a contrapartida grave do riso que ele prodigaliza das outras eamadas. Para abranger 0 eonjunto da tipologia vient via circunscrever & pirimide feudal. Por exemplo, u a da vila», a Isabel de Quem smo pai Adio, ids sustenticulo is, tem um acento profundamente sincero em Gil proposito 10 nos podemos toda dos tipos que Gil Vicente observa com mais realismo é a Tem Farelos?, ou a Inés Pereir mos a sua condigio social, 0 avila», isto 6, fora da corte, num aglomerado urbano, Ela pretende subir de condigio e por isso tem ouvidos atentos pi deiro, que blasona de fidalgo. Reay mie, Inés Pereir casanido com o Eseudeiro, ide s com tum ristico que se gu Ings Pereira que, em ver de amessar 0 pio da casa, pinta o rosto € ensa fs gestos diante do espelho. Ea personagem principal do Auto da india mulher do soldado que fiz vida alegre n ta humoristica de C eval sobre 0 tema do ndultério feminino, contra o trabalho em casa a que a quer depois de ter querido libertar-se da condigio fidelidade conjugal em segundas miip- 1a cabega dela, Isabel preludia, pois, aquel ‘auséneia do marido (tipo de fens, ima longa tr cla se lig meno alids aludido numa c moes). F ‘mas impressiona a extraordinsria vivacidade estas figuras. eri io tradicional da sociedade, em que os lavraclores Se ponderarmos todos estes lados. as que Gil Vicente ndo se afasta de um sastentam a hie A ssitira anticle lal, constituida principalmente por clérigos ¢ nobres. al, assim como a sitira dos escudeiros, svi temas tradicio- 20 IISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA hais, como 0 mostram 0 Livro de Buen Amor do arcipreste de Hita (século Uo Lazarillo de Tormes. Fm troca, falta nos autos vicenti~ nos muito tipicos do século XVI, como a acu XVD 0u 0 ja ros € MeZO- em prejuizo da ordem senhorial, fenémenos que irritam v nente Miranda © os dois satiricos atrés mencionados do Cancioneiro de Resende, Duarte ¢ Alvaro Brito Pestana, Mas Gil Vice ista outro fenémeno social coincidemte com aquele: a migragio dos provine! Fos para a corte, onde iam aumentar a multidkio dos dvidos de methoria: Cedo nio hide haver vibios ‘Todos d°ELRei, todos dEL-Rei! ‘este propésito, pela voz do Almocreve, ex: em que 0 filho do lavrador casava com lavradora Ue oficial, em que os fidalgos de casta ser 8 camponeses diva asociedade de outrora com filha, mos reis e Semhores, ¢ em que 0 filho de ofici 1 0 pay a todos, O sentim > populr que fiz vibrar 05 autos vicentinos 1s também salta aos olhos que esse senti= iento popular se c! ‘staliza em torno dos valores tradicionais. Gil Vicente aceita-os, como os tinha de a tar 0 povo. O grupo deveras inovador n Epoca, ¢ perigoso para a hierarquia feudal, nao era o do camponés nem o do artesio, mas sim o do mereador, que Gil Vivente ignor ‘Todavia, numa famosa cena inicial do Auto da Feira cador atribui ao Diubo mer- cio livre que de um modo admiravel resume rcantil © a ética feudal, dentro nia apologia do com © contraste entre uma étiea de cujo quadro de va ores hi sempre algo de demoniaco no comércio, aproximadamente semelhantes se aplicam ao espirito de da Guerra, © Auto da Fauna ou 0 episédio aleiros na Barca do Inferno, © que parece desmentido no Auto da once um soldado do Oriente confessa, na intimidade, nivo ter tido outro propdsito sendo 0 de enriquecer com a pilhagem O esp Considera sertizaday que inspira a Exortags ind seruzada» servia, sem diivida, os i ei de Portugal, mas era também a repre que } populagio © que ni podia dei ser aceite pelos préprios participantes, fossem cles capitics ou simples » colectiva e herdica sem alternat nag rl al guerra uma parte activa d 5. EPOCA = RENASCIMENTO B MANEIRISNO 208 élebres Trovas di as de G wdarra, contes 's se Lornaram, comprovam que soldados. As por Vicente, que tio popul pirito de eruzada, pro- duto de uma estrutura social, penetrara em todas as camadas. Eo epissdio ddo Auto da India situa-se provayelmente num plano donde se nao extraem iimplicagées gerais, Quanto aos Judeus, que ora sio satirizados segundo 0 rio dos preconceitos demag dlespreconceituosi no mencionado epissdio do Auto da Lusitania, a carta a em cat observados de forma realista € uma atitude religiosa anti- forivel & politica de assimilagao tole: rante que fora a de D, Manuel e que s6-a partir de 1531 deixou de ser a de D. Joao IIL & portanto dificil uma destringa absoluta entre o que hé de cortesanesco © 0 que hi de comum na obra de Gil V dle Lope de Vega, que simultaneamente consegue expr cente, O seu caso compara-se a0 8 ideais da monar- quia espanhola ¢ os da tradigao comum. Hoje € que damos por eerta vis eri tica talver. entio despercebid O que que no houvesse © sentimento, aids abstracto, da injus seu conjunto, e especialmente emt relagio ao nponés, que servia a es fculo pro- dutivo, Uma curiosa pega parece po jcos valores admi- tidos. No Juiz da Beira, um ri julgar mais: um rapaz, que desflorou uma moga é absolvido, porque, jo quer dizer societdade de instrumento ede sust em east os mais bi prante € meio sandeu aparee IS pessoas NO lo 0 juiz, isso nio tem mal; uma alcovitei ai também absolvi jue deseneaminhow a filha 1, porque 0 juiz. considera as alcoviteiras » criado uma instituigao lil e necesssi o que deve 0 s: é condenado a sustentar o criado até pagar a divida, ete. E: exactamente 0 epost do que exigiam nesta época as leis © os costumes, w pouco como as sentengas do juiz Azdak de Bi saricho Panga na ilha da Baratari ical que s6 pode corresponder Hes, as de nt, ou como, Mas a critica que elas presenta afirmagio, pelo paradoxo, de certos direitos imanentes & vida, MO teatro de id as Gil Vicente participa no grande debate de ideias que apita a primeira ctade do século XVI € que assume p \cipalmente a forma de discusses 206 LMISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA twoldgicas. Alguns dos seus 1 religiosa. gios de D, Joao III com 0 clero dissengdes entre o Papa e Carlos V, cu tos, € especialmente © Auto da Feira, inter- vém na polémi nstin violent ido do rei de Portugal, que culmi- naram no saque ¢ ineéndio de Roma em 1527, d the oportunidade p neste campo, ir muito mais longe do que qualquer outro autor portugues do século XVI Roma, quer dizer, a corte pontificia, € um das personagens prineipais do Auto da Feira, Pretende comprar a paz em troca de indulgeneias, per- does e outros bens supostamente espirituais, de valor venal. O Serafim recusst aceitar-Ihe esta mereadoria e censura-Ihe os vicios sem ce A situ: Go resume-se neste dito de Roma: OW, vend sme a paz nos Céu pois tenho o poster na Terra! éncias, perdoes e semethantes fontes de réditos para Ja por Lutero e estava entio na ordem do dia, f ido peloy erasmistas, Gil Vicente nio pode ser conside inte ver sista (falta-the, por exemplo, o radical antibeticismo do sibio de Rotentio, e sobeja-the um forte eulto da Vinge), mas coincide nalguns pontos criti reformadora comum a Erasmo. Faz tamby das (Triunfo do Inverno; lem do culto dos santos, d bremos o seu desinte S. Martino sem sobrenatural, talvez simpl cissiio de Corpus); satiriza os pregadores medievais ¢ suas subtileza Listicas ¢ Rainha D. Leonor); tusti faiates para pro: 10s supersticiosos, to frequente nos seus autos, das tes ocultas, astrologia, feiti hago © outras. Isso no quer dizer que exclua possibitidade de influxos astrolégicos: 0 que ele exclui € a possibilidade humana de devassar © oculto 36, de resto, Ihe interessam os bens que se podem coneiliar pela graga divin, ea mediante a f€ © as boas obras, 3." EPOCA ~ RENASCIMENTO & MANEIRISMO 207 Kém dos temas erasmistas eda hete Gil Vicente vai todavi aproxim: rodoxia, ou daguilo que, apés 0 coneflio de Trento, se consideraria hetero: doxo, No Auto da Feira, 0s tinicos que merecem o bom acolhimento do Ser fim so os pastorinhos simples, que no pretendem comprar virtudes © revido com a serra da Estrela, Dir-se-ia “éu como um sitio ps da Barea da Glo jit referida eritica das indul “des € outras «obras», mostra que Gil Vicente ndo anda, por vezes, muito longe de algumas tes i arentar-se com o fi da Reforma, O seu Cristianismo parece smo presentado por Jacopon rico-religiosos, como iade Bi de tendéneia heterodoxa, 1 de Todi; eb 9 franciseana inspirag tada por Abel no Breve Sumio da Hist6ria de Deus. A influ Vicente I pelo menos num passo da Rom: \gravados, $6 podia fortalecer estas raizes tradicionais, pasos que de verdadeiros milagres hagiolgicos em Gil Combinando @ Vicente, 0 seu descaso quanto ao culto dos Santos (sobretudo em Triunfo pl a sua constante troga das adivinhagdes ou profecias — com jo milagreiro do seu do Inverno), © caréeter popularmente simples mas. Ia Virge culto ia dos trades. ‘6 teor da earta a D, Joao HI, em que se insurge contra a ten A ver os fendmenos naturais aterrador 10 puros milagres ou casti- 0s divinos —, no ¢ dificil eseobrir em Gil Vicente wma tendéneia para racionalizar a ideia de Deus, de forma a garantir uma ordem da natureza wrio h is constantes, embora transcendentes i obedecendo a | salvagio post-mortem. Ora Gil Vicente conhecia a tentativa de identificagio do sent » Absoluta, tentativa mais afim de login de Raimundo Lalio, que é um ‘0 da divindade como Raz: ‘nto mist 1 ao sistema tomista, A exposicaio lufiana io que de Aristdteles, ¢ por isso op le no Auto dos Quatro Tempos parece ser de inspit ma D. Joao Ill. Atra icismo franciscano ates wa do lulismo podiam sobre como também aa unir-se em Gil Vicente 0 ido ea creng: na ordem inalterivel da natureza 208 HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA BBVA poesia religiosa em Gil Vicente Nesta contiguidade do verostmil e do imagin fio rio, que 6a expr mais completa do entino, 0 r ia faceta apenas de um todo que o transcende, articul ws, com a ale mo sensorial aparece-nos como lando-se, por con oria, De facto, Gil Vicente nao ser se reservarmos tal conceito para quem conf vavel como um todo independente ¢ encerrado em si mesmo, com o seu dint mismo proprio: sivel constitui para ele somente uma das, faces do mundo. Gil Vicente que desencadeia os contTitos ¢ s Mo procura apenas no homem € nos grupos resolugdes. As suas pogas em que a realidade observiivel hhumanos a legrias corporizam uma visio religiosa entra como um elemento, Nos autos alegsricos religiosos, o real quotidiano exerce uma fungtio muito absoluto, imutivel, per tural. E neles Nagrante a busea de um efeito de oposigaio entre os dois mundos que lembra os pi neo Frei Carlos, contrapdem a transpa espessura opaces No Auto dos Mistérios da Virgem, mais conhecido pelo nome de Mofina Mendes, patentei as trevas © a luz. 0 intermezzo pastoril que deu 6 nome ao auto exerce um se este efeito do co aste entre o profano ¢ o divino, entre izado © resumido no centua, por con- la Virgem, pelas yem reveste una sole~ fungio dentro do simbolismo pote de azeite que a Mofina, baiando, deixa cair no el intemporalidude do mundo ideal, epresentado pe virtudes ¢ pelos anjos, euja ling nidade litirgica, realgada pelo latim das Escrituras. A prdpria Mofina é ambi gua (ora pastora real, ofa personificagiio da sort a), € 0 dramaturg, hum rasgo, salta finalmente da sua ristvel leviandade individual A conscién: anga de que, afinal, todos temos 0 nosso pote de azeite «que hi dar consigo em ter 0 Auto di Alma, inspirado no eonceito mero trinsito para a vida verdadeira e perd toda uma literatura — mais tarde, 0 Pil riorm igulleville, Pélerinage de Vie Humaine ma tradlugaio pareial portuguesa, ao ale nedicval de que 0 mundo é 0 vel, conceito que deu origem grim’s Progress de Bunyan, ¢ ante ilaume de Di ite © poema de de que exist ede Gil Vicente —, 5." EPOCA ~ RENASCIMENTO P MANEIRISMO da arte dares expresso pode considerar-se uma das mais acabadas ¢ | mo medieval, A situagio define-a 0 Anjo, logo de int: co ¢ sobrenatural: « Alma é uma entidade teolégica, §s vemos esta entidade 6tica ¢ do Cri cio, num plano simbs posta em t imaterial, este raio luminoso que cam 108 abstractos muito precisos. Quando pelo palco, enfiar, por suge (os, recobrir-se de um vestido do Diabo, braveletes nos bragos, calgar sap colorido e ro lamente 0 sentimeento de que esta tecer algo de incocrente. Na estrutura basica da pega s6 hi lugar para mente; tudo o que tem feitio, eor, sitio ab ereto, no tempo & no espago. O pecado, icon res intemporais, expressos simbol iva. C ce data é un 110 pecado s6 existe no con- a interve 10 espuiria coisas t isto 6, o imteresse pe portanto o ambiente restres, perturba nicial da peg. O Diabo est no seu procedendo como se ignorasse este ambiente, esta ordem intemporal de valores, dirigindo-se & Alma como a umxt criatura muckavel, passivel de pa Por momentos, o Diabo eonsegue trazer para © paleo a re clatividade espacial e tempérea. dade psicols go, o desespero, esbo- sent nos ¢ procurando arrasti ica e sensorial, despertar na Alma a vaidade, 0 emte em que hi braceletes, ¢ espelhos, ¢ chapins de Valencia, ¢ dias da semana, e prazos, Se taba: (0, © Diabo teria transformado a Alma numa Inés Pereira, & onde jd o Anjo perderia a cartada, O Anjo, contudo, inter- uma pureza ape vel, transcendente ao mundo sensfvel, repondo as coisas no plano intem= ar um mundo conti Iho de sed to num tempo de atalhar a obra do F tbo, de salva sim- boli poral © abstracto E este jogo que m que inicialmente ay colocara. az do Auto da Alnut uma obra tnica e uma expresso a vid e-em dado sentido dramitiea, de u segundo coneepeiio © os valores intempo ilu passa de ulo dos Anjos e odo Diabo. a du jidade irredunivel de planos re o mu césmica em Gil Vicente ia certa outras pegas alegorieas, Movi- icionais ou it ‘mentando uma populigao fantistica de mitos uginadlos por cle proprio, Gil Vicente eria verdadeiros poemas los, revelancdo-se 210 LISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA um extr ordimdrio poeta de tipo pouco frequente na literatura portuguesa, iio introvertido, & m: intes aberto 2 ine: vel e pluriforme beleza do vasto mundo, cuja expresso mais tipica se encontr nos Triunfos das estagdes: Auto dos Quatros Tempos e, sobretudo, Triunto do Inverno, perso 1 de Bernardim Ribeiro, got \do num portentoso Joao da Grenha, que assume, em rivel friso de n 1 grandeza dos elementos em fiiria, Através das suas falas © 8, 09 deuses, os monte 8 ventos perso- nificados, as estagdes do ano, os pastores, evoc nando, levantam um hino a va ¢ juvenil, bela na hi esquem: Esta no paleo as forgas césmi- eas, ¢, contra is Vores & natureza vi ndeza e na diversidade das suas manifestagdes, Neste ‘ou em voga, onde subsistem ‘€ motivos da primitiva poes nspiragdo insinua-se també plo D. Daardos), nas farsas (Quem Tem Farelos?) st de Ruben, Auto da Lusitinia). Pode dize liza certo folclore peninsu lassiea, da literatura biblica, ¢ cavalaria e dos rimances castel funde num todo m propicias ao inimeros se fartam das migalhas de Deus, de neves, ros ¢ charcos de Invern, galego-portuguesa, nos autos cavaleirescos (por exem- soméatias» (Come e que no teatro vie lar, enriquecido com a dupla he logia A com a contribuigao dos romances de os, entio em voga na corte. Tudo isto se vilhioso, feito de campos floridos, de searas e de serras wor, de ventos, de efltivios de Maio, de florestas onde bichos estrelas, de barcos embanc de mares de prata sob dos a vogar para paises de lenda; em que Jupiter adora 0 Mi no-Deus, emt que David todo com a Sibila, puscar Anibal ao Inferno la do banho, e Sale 1 danga com Betsabé sa io quer ca © © Diabo, evocado por um frade nigi para enaltecer el-rei D. Manuel — todos se movimentam ao som de gait © pandeiros, por entre um coro de pastores em fest Este hino multiforme & Natureza transborda de todas as convengdes, eT A nature pr indo a que consistiria em enquadrar a realidade em limites definides, de Gil Vicente tem uma forga ms re dentro d prias criagdes; e, como um vento de cumeada, varre todas as atmoste ntais em que se ni os homens. Mesino oD. Duardos, que em do lirismo de cont antes para a ave primeira cena da Comedia nde parte obedece aos padrdes convenciona clui num belo rima tara ili- que canta a partida la na companhia do mare 5." BPOCA ~ RENASCIMENTO MANEIRISMO au de Ruben, a parteira fiz entrar no quarto da meni tum vento poderoso que expulsa todas vida, que ¢ magica e animal, burlesea e gr ‘bes humana. grivida © queixosa ra $6 deixar luga de todas as con- Talvez pudesse ch bal cheia de alegria, da forga eriadora nda de Walt Whitman. Apar com o ascetismo ¢ 6 dualismo que 1 expressao v manente a0 universo, uma poesia nte tal poesia esté em contradic obras como 0 Auto da Alin poderia lembrar-se que encontramos uma insp 6 certo ponto compa is de S. Francisco de Assis, na medida em que io do mas rivel no Céintico das Criatu este parece oriet ccetismo medieval. os dos autos vicentinos Hil Aspectos Imaginando a um polo o Auto da Alma e a outro, por exemplo, uma ‘obra como 0 Triunfo do Inverno, veremos qu entre uma expresso gs uma acu tos vicentinos oseilam fea eoerente e de pureza We, €, por outro lado, Wwlagdo de elementos heterogéneos dentro de quadros que os nie jegram funcionalmente, como sucede no gético Hamejante, no plateresco © no manuiclino. A arte de Gil Vicente faz-nos, assim, assistir d desintegra- do do gético, sem ser ait isto é uma arte em que a ree par 4 04 para os grupos humanos, De resto, vida que integra exige porventura essa npativel com as regras do jogo do realismo Ja uma arte realist composigao jd conv a riqueza de temas ¢ de enorme liberdacle de fiegio, directo arte, no podemos d npressionados com ngdes do Anjo no Auto da Alma), a solenidade sagrad de sugestio litirgiea (Auto da Mofina Mendes), a forga do pathos (0 © as intervengdes dos quatro Doutores), a majestade da invocagio dos mistérios divinos (Auto dos Quatro Tempos, Breve Suinii- 0s gticos dest finha depurada e ele ante (por exemplo, cheia pendime rio da Historia de Deus); enfim, os cont miravelmer nal, segundo a concepgio da Idade Média (didlogo centre a Alma € 0 Diabo no Auto da Alma; didlogo de a rastes le conseguidos entre 0 espiritual € 0 ¢ 1s compradores | europeu, com o Serafim, no Auto da Feira), Entre todo 0 teatro mediev ————roOoOeOeOeeeeeeeeeeeee 212 HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA elevada res do ideal da talver est a_vicenti arte gética, Se atentarmos, por outra banda, nos momentos constitu a mi agi istas, notaremos 0 as urt0s dilogos como extraordindrio vigor e cert aude trago com que se desenham as person através de di 08 travados entre © Diabo e as diversas personagens do Auto de Barca do Inferno, ou, no final de Quem welos?, a disputa entre Isabel e a 1 ressaltam com vigoroso relevo ¢ recorte os tipos sociais, E - a0 longo dit extensa pega a que serve de protagonista, resulta, além de poderos da, inexcedivel gos que vio direitos ao essencial. De toda a persor dade de Inés Pe siliente e det nente certa no seu comportamento psicolégico. Os tipos agem segundo a sua légica e Isas. Not uita nem artificiosamente ca ritmo préprios, sem notas f ég cos tipicos. Da mesma forn catura, quer do encontro, mos também que a carieatura no a, 0 c6mico nasce, naturalmente, quer dessa cari as concepgdes diferentes © contradit6rias subja ceentes 9 comportamento de cada tipo social: exemplo o encontro a s6s de Inés Pereira, ainda soltei dleypeja ce ansiova por se desfazer da donzelia, com o pretendente Péro Marques, que procura uma esposa honesta e respeitivel. Se fosse caso de procurar na lit ‘ocorreriam certamente algumas pa nas de Camilo, como aquelas em que descreve com igu autenticidade tipos como o ferrador Joao da Cruz, a Maria Moisés, 0 Bento Pedreira ¢ outros. portuguesa um paralelo deste aspecto de Gil Vicent vigor, 16, Se conside mos, et sua div de Gil Vicente sob o aspecto postico, tons, de temas, de a notaremos ale de O lirismo cortés inspira alguns passos delicadissin outros. A poe mos cantares pa ia folelérica esta presente sob viirias formas: os a elisticos, de que mos exem- plares; as serranithas; as loas tradicionais de Natal; as balad que imitou, al tos, lids predor Thanos, e entao em moda, A poesia religiosa, ov até litdrgi ou rimanees, caste: est represen- ada por hinos, alguns de inspiragio fr ‘des inspiradas nos Salmos ou em outros livros biblicos: © Génesis, 0 Livro de Job ou. cedora da natureza prodigiosa tico dos Cainticos. ¥é fakimos da poes’ No seu. conjunto, os autos de Gi 5." EPOCA ~ RENASCIMENTO E MANEIRISO a3 do toda a tradigao peninsu- F, clerical e cortés, mas todos fundidos n enorme (esouro postico, restr lar nos seus diversos aspectos popul sos sociedade. nai pujantes da natureza Uma vida intensa percorre a expressio verbal em Gil Vicent vigos jonal. Gil Vicente nao & sob o ponto de vista . sem deixar de ser tradi~ uma apar |. sem partes mortas, conere nguistico e estilistico um novador. A sus ret6rica s6 conhece as formas simples do encarecimento, cata prefer as imagens tradicionais, como estrela, flor, mave, mar, ern ao estilo de lac Mas hid um admiravel ritmo em crescendo, copioso c cntusiasta, além da constante riqueza de evocagdes a percorter estas sequen il Vicente & também fiel tha maior (verso de sete sflabais) € no modo de combi mo sucede no Auto da Alma ow n’O Velho da Hor abe usar 1is longo (onze, doze, Nao obstante © uso do verso, Gil Vicente sugere toda a vivacidade da marear distancia lite ins, omtinante da redondi tradigao no uso pre este verso com os |. Mas sflubas). seus quebrados, c« m mestria 0 verso n suagem coloquial, O verso niio serve nele pa iio ser em certas tiraday intencionalmente I fa valorizar a lingua corrente, chamando & atengio do leitor para parale: ntrastes, enfim, para t al como sucede com aior parte dos provérbios tradicic linguagem coloquial em Gil Vicente, © com a condigio social Nao se pode, allés, antes de varias, de acordo com 0 estilo das pei das personagens, Na época de Gil Vicente devia existir maior diversidade ves, mas também a das Linguistica, segundo nao s6 a diversidade das 1 condigdes sociais. O dramaturgo acusa esta diversidade, variando a expres- fea, © vocabulirio e as fSrmalas de tratamento con so fonética ou sin forme a ori {quase se limita ao terreno lexical, re ses indi n social das personagens, O estudo de P. Teyssier, que aligs ativos sociais e até psicolbgicos. mplo ergueja (em lugar de igreja pelas personagens urbanas), e sio eles, em geral, gem ary mesma forma que entoam os cantares © executam as dangas que eafaun nente certas formas, como por que € a forma wiliza em li desuso nas cidades. el LISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA H¥Dramaturgos populares Ainda que representado nos sal 1s do Pago, Gil Vivemte fez sentir a sue influéncia num cireulo muito mais amplo que o da corte, AS suas pecas, como vimos, corriam impressas pelo autor, em folhetos «de cordel», ea sua Com pilagao de 1562 contava sem dhivida co ero piblico. certo, portanto, que se popularizaram; ¢ no se deve excluir a hipdtese de ter sido representadas também fora do Paco (hipstese perfeitamente vidivel, visto que 0 texto impresso estava a0 aleance de muitos) Tal como sucedeu em outros paises ¢ desenvolveu-se em Portugal a0 longo do século XVI, num piiblieo bury © popular. Apesar de vérios surtos de oposigao e perseguicao pelas autori- n 1588 0 Ho: sder a re: pectiva autorizagio, arrecadando uma parte do lucro. As representagdes ticulares por grupos modestos n jd ter alguma organizagao regular, como se verifica pelo préprio testemunho auto-humoristico dos autos de El-Rei Seleuco (Camées), da Natural Invencio (Chiado) e dos Sétiros (anénimoy; mas a partir de 1591 constroem-se, em Lisboa, mediante contrato com o Hospi i dades, o interesse pelas representagdes eénicas al, que ‘Santos de Lisboa obtinha o privilégio de co pital de Todos-o: mas que pare préprios de pedra e alvens Outro ind io de certo interesse pe cago em 1587 de um volum 5 autos e coin dias portuguesas, compilaco por Afonso Lopes; eontém 12 autos, de Luts de Cam@es, Ant6nio Prestes, Antique Lopes, Jorge Pinto e Jersnimo Ribeiro. Nao saiu todavia a anunciada segunda parte desta colece nto lantes diversos autos de outros autores no incl qucle volume, como Anténio Ribeiro Chiado, Baltasar Dias, Afonso Alvares, além de outras pega a publi io. Entre Nos palcos representavam-se pogas EI Burlador de at descrigao elogiosa da hans, com © que contavam os villa, de ‘Tirso de Molin cidade de Lisboa, ¢ isso evidencia que 0 autor tink gio da pega na capital portuguesa, Mais do que bigaes ing mores daquela lin, . abre com unit ext te a represent n Espanha, o teatro foi prejudicado em Portugal com proi- uisitoriais muito seve 16 € com a afensiva dos Jest is contra a representagao de comeédias. O index portugues de 1581 manda vigiar com 1 EPOCA ~ RENASCIMENTO E MANEIRISWO 2s ngdo as pegas de teatro, e profbe expressamente toda a eritica a pesso eclesisticas — isto &, a0 poderoso ¢ numerosissimo estrato social de que na, O index de 1624 expurgados, nao contando com os de Gil nta, mais do que q quer outro, at siti enumera 23 autos, proibidos ou Vi te. O patronato régio de que beneficiou Gil Vicente s6 acidentalm fece ter acolhido wm como 0 Auto da Natural Invencio de Chiado; mas o bom acolhimento, tam jas nobres deve ter sido mais frequente. Os autores incluidos na cit de Afonso Lopes e 0s editaddos nas folhas volantes costumam ser, € nem sempre adequaad dos numa «escola vicentina. A heran 6, com efeito, f n ocasional, de algumas Ja coleetiinea te, engloba grante na maior parte deles. Conservam, em geral, © heptassflabo ional; imprecisio de lugar e tempo; certa desarticula permite a entrada de tipos e cenas alheias ao desenvolvimento da intriga, reduzindo-se até por veres no simples desfile de tipos caracterfsticos; assen: jo de estrutura que tam, por vezes ind mais, na linguagem popular. Subsistem muito tipos Alcoviteira, « Rapariga bur a heranga que sobre: inos, tais como o Escudeiro pobr istrado, a Regateira, o Fisico, ete. Trata-se dew vive, empobrec wlo-se e arcaizando-se. ‘A maior parte das obras deste conjunto pode wo, de Ant6nio Pr ‘studante ou Cena Poli ana de Antique Lopes, © Auto do Caseiro de Alvalade, andnimo (que lem: rantemente Quem Tem Farelos? e Inés Pereira), 0 Auto do Escu- deiro Surdo, anénimo, que parece ter sido muito popular, porque se Ihe chamou da Fome ¢ do Centeio ¢ Mitho, ete.; © to novelesco — eavaleiresco ou sentimental — no estilo do Dom Duar~ segunda categori dos, que gozou voga persistente até a0 século XVIIL: © Auto do Duque de 50 Auto de no, que tem mui do Vitivo; 0 Auto dos Sibios; o Auto dos Dous de Sebastido Pires; ‘ore © 0 Auto de D. Luts ¢ dos lorishel, ano Florenga, de Joi \s analogias coma Ladroes, de Anténio Lisboa; 0 Auto da Bela Menin ¢ provavelmente 0 Auto da Donzela da uurcos bos perdidos). 216 LISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA Quanto ao auto religioso, convém distinguir dois ramos. Um & a mora dade vicentina, a que pertencem 0 Auto da Avé-Maria de Ant6 io Prestes, pect alegsrica; o Auto do Dia de Jutzo, anénimo, anterior a 1559, onde res dos Autos das Barcas; 0 Auto da Paixao do P. F 10 1559, le que Manuel de Oliveira filmou uma salta a imitag: cisco Vaz, de Guim: representaciio popular transmor ia. O outro & um g vidas dos santos: quase tod sir Dias, Também se conset 10 que Gil Vicente cultivou escassamente, Alvares ¢ de Balt tioso pastoril, como a Pr: obras de Afonso, vam vestigios do auto reli- no, 1." edigio 1601, inte Lradigdio vicentina, Podemos aqui referir os sete ingé- fica de trés pastores, aividade de Ma nuos autos ou passoy em redondillia, sobre S.% Agostinho, S. F antecedentes u episédios da vida de Cristo, que 0 nobre © corajoso Pran- cisco da Costa (1953-1591) escreveu pu Jo dos seus com- panheiros de cere em Marrocos, onde se representaram, e que se encon tram no chamado Cancioneiro de D, Maria Henriques, publicado em 1956. Icunha «Chiado», ¢ Ant6nio Prestes, bem m 1. as personalidades mais marcantes. Chiado foi fora que fugit A vida conventual e fez em Lisboa ida goliardesea, no decorrer da quail compos € possivelmente representow ica de oito figuras (1543), Auto das Regaiciras (1569), Prética dos Compadres (1572), Auto da Natural Invengao, representado perante D, Joi III, Auto de Gongalo Chambao, Destas pegas apenas 0 Auro das Regateiras tem uma acgio consequente, que deste it boda de casa- mento, entre gente tipica de Alfama, Nas outras hi apenas tipos isolados, ndlo muito w ‘0s seus autos: Pr cco que se esboga e & depois esquecida, Os seus para o paleo a li cupagdes, ais usanga -se como observador da vid 1m popular, das quais nos di flagrantes. Anténio Prestes, de Torres Nova ancados & rua, gem, as preo- Chiado disti la e lin gua in funcions io judicial, que residia em Lisboa em 1565; esereveu sete autos, todos publicados Afonso Lopes (1586): Auto da Avé-Maria, extel tum eastelo das virtudes assaltadas por vicios ( Je alegérica de ogias com 0 Auto da Mofina Mendes de Gil Vicente), Auto do Procusador, Auto mbém apress 3.4 EPOCA ~ RENASCIMENTO E MANEIRISMO 27 do Desembargador, Auto dos Dois Irmaos, Auto da Ciosa, Auto do Mouro incamtado, Auto dos Camtarinhos, Prestes satiriza 0 pete nismo amat6rio e, de modo geral, a influéncia italiana, e manifesta por ums atmosfera de interior burgués da cor quismo, op soncepeao pa iia I agem € notavelmente como 6 seu metaforismo, colhido em grande parte na plistiea, vida quotidia também revelador de uma fantasia quase barroca, AS is alegorizagdes, que neles ocupam papel importante, cl popularidade, convém saliemtar Afi Santa Birbara, Santo Anténio, Santiago cS. Vicente; ¢ Bal iatural da ilha da Madeira, autor dos autos ou dos ti ‘I-Rei Salomiio, da Paixiio de Cristo, de Santo Aleixo, de da Feira da Ladra, do Nascimento de Cristo, do Marqués Principe Claudiano, da Historia da Imperatriz Porcina, Malicia das Mutheres ou com Consethos par bem cat sar las, cepo, +s dialogados de inta Catarina, de Mantua, do ém de Trovas n ar, Ambos le postico ora listas sobre io das vidas dos santos, aproveitando o que h exploraram 0 f addos como literatura de anhou largo piiblico, ‘des populares no principio deste © romanesco na Legenda Aurea, Foram muito edi eo tiltimo, sobretudo, linearmente doutrindrio, ga inda figurar em represen vivo no folelore brasileiro, Para melhor perspectiva cronolégiva, eon cordel a0 ponto dk século © de contin lembrar que s6 Anrique uncioneiro Geral, acompanhou Gil Vieente suas farsas © prantos sa esa 1516, € nente anterior 1506. Afonso Alvares, com um ar Dias, com privilé ais ou menos contemporiines dat fase final da car obra dle Chiado data de 1542, ve as pertencem, em geral, da Mota, nosso conhecide do anterior dos seus esbogos prova pe 31, ¢ Balla 1537, parecem pou reira vicentina, A p fe. Os restantes at del os de impressio ontorgados emt do a estima res e obras andi tel do século. ‘ao tereeiro qua memorativa vicentina em redondilha com c la por duas comédias bilin A fusao da tragicoméd 10 teatro decassi ascentista & represen 28 LMISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA ues de Simo Machado, editadas em 1601 sob o titulo de Comédias Por ‘uguesas: uma, dle cunho herdico, a Comédia do cerco de Dio, ¢ outra, de Comédia da Pastora Alfea. O que hi de ‘cio novelesea, muito imaginativamente herdiea, onde predomina o portugues (servindo 0 castelhano para distinguir as persona gens muculmanas), a exaltacdo da coragem e do humanitarismo portugues aa aleirismo, virtudes a nigos da religido, com uma generosidade talve7 or recente dos rimances mouriscos; ¢ a glor nna mod: ‘aga militar dos herdis 1 apologia nente adequada aos dos cercos ni 0 impede certos quaulros realistas da gue hhumanista da pa, Quanto & comeédia pastoril, particu gostos do melodrama barroco, ¢ eserita qu ino, embora c sempre em caste destinada a celebrar a cidade do Porto, desenvolve-se como um ballet de wutagdes ripidas © numerosas, & base de uma eadeia de desencontros do amor semelhante & do Auto Pastoril Portugués de Gil Vicente. Isto lemb acomtempor © teatro escolar jesurta de que vamos ocupar-nos, assinal gosto barroco, a tray (Os Jesuitas, na sua Universidade de fivora, no seu Cok colégios de Lisboa, Brag exeteicio de conversago latina e com uimero de fe (pessoas régias, provinciais, prelados, ete.) ou par isteibuigdes de prémios), tl come tinham feito os professorcs bordateses traztlos por 0s ners mais repre fantasia aleg das Artes coimbria, nos da India © do Brasil, eo se do teatro comemrativas para vista lusees André de Gow ados o ma agédia biblica ¢predoni xvi iva por Naharro © Gil Vie minada (como aa Compilagio dos autos vicentinos, 1562) de nagicomdia e enquadrada nya cenogratia que pretenie deshumbrar; a tragédi esd 1619), pastorais, sobretude prctextadas na histéria de David (Hrequentes sob io filipino). A g lade apresemtada em Portugal pelo teatro escolar jesuita ante no século wiogriiea (lominante neenagio enrigh 1gdes eenogrtieas itaianas do séeulo XVI 10s de fundo pintados sepundo as leis da perspectv as de cons rio, decoragio ¢ guarda-roupa aparatosos, efeitos de acompanbamento jnstrum coral. As personagens contava mutagdes mee ial ow se em regra por dezenas (ou cente 1." EPOCA ~ RENASCIMENTO E MANEIRISMO 219 iam, mesmo nas tragédias, de entrerned vistoso, © inios ou sentenciasos, corte, marchas sob f 5s € pendes, cayadas, bailados ¢ apoteoses fi Nasa fase final, do tempo de D, Jodo V, a corcografix ex eenorafiajesuita at rio 0 apogeus, com profusio de astidores movids 2: maquina, dispostos em profundi plicados eonjuntos de fuller, Mas nunca se igualou x ujo guarda-roupa, ith -stendal espalhafatoso, Deve tengo edificante era condi tad com cenas truculentas, duclos on fa dade, coros vista OU OeUltOS,€ & agnificencia da tragicomédia A Conguista do Oriemte, representata 16) Co ‘Santo Antio por ensejo da visita de Filipe I (le Portugal) emt 1619, runic por empréstime de conventos, grejas € riguissimas, nu \evico ideokigico, psicoldigice ou postica deste teatro no tem ins fidalgas, contava alguns res de pedras preciosa, tecidos e baixels Mle. A Ratio Studiorum, admitindo-o como exercicio escolar, recomendava a original seu respeite a mixin cautela, exelindo ai ns Femininas, 0 US0 de outra lingua que no fosse o lam e preceituand o eonfinamento a assumes pion Entre os dramawegos jevullas neolatinos eujas peyas se representavam em Portugal arente anticastelhanisimo), 0 PL Ls da Cruz, ou Ladovieus Cricius, cujas Tragicae Comicaegue Actiones foram impressas em Lito, 1605, MaCria o da escola teatral espanhola fan escola ea spn do scl XVI. Pla port Tope de Rue (a Cote tatlan. Fp de Esa, en T3384 pocos mess ct dda obra vicentina © daquelas que neta convergiram que se eria a notivel assume entre ns até resumir a sua evolucio, do em 1565) percor e dante anos as regides do Sul da Espa relha as da commedia sca sobre nuito tempo mas acontece, rempo, que’ loos As gn ivi n 05 espoctsculos come a de Corpo de Deus ou as dos sa des, ou delas rndimentos para hospitas ¢ outas insitigaes beneticentes. E mem Espana, no século XVI, una floragio de am, enriquecendo-a, a tradigio de teatro medievo. No ji conhiece uma revivescéncia fulgurante,o teatro Titirgie ' gos seiscentistas espanhdis sio por nos padrociros das que em que agoniza em Fr ‘onde acaba por ser proibido. Os principais dran igos, por vezes «familiares do Santo Ofieios, o que condic {éeniea da escola, assinatando-the toda a ileolag Contra Refor que 0 teatro consezue manter, € que & mestno indie «lo absolutism espanbol, No entanto, o contacto popular 220 HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA «4 que entio obedlece, faz que nee ressoem certos anseios, preocupagdes ¢ temdencias ~zadas do povo espanhol. Nos tikimos anes dle Filipe H, que reinou de 1556 a 13 derrora da Invenevel Armad (1588), cal tico edo drama de costume’, tingidlos de natural ‘e Cervantes, Lope de Vega (1562-1635) finalente, esse eaonst da nat ‘yeu mais de duas mil pecas teatrais, alo apenas desenvolve o auto sacra ceria de ver a comeédia espanbiols de capa e espada, com acco rpida © emaraniada, ta assente nos coniitos ¢ equivoees le nal dos hersis, © pom de honra deste género dramético retintame por vezes 1 um prurido formalist, que leva ducistas e 18, anos jd ensombrados pela a ascensso da trae tema pati o renascentista, com Juan de ka Cueva eantodos por pontos de hon I lores a baterem-se no paleo (como na vida teal) por preconceitos de classe proprios da velha aristocracia; interven, 0 lado, nestas pegas, figuras régias, quer para dirimir os conflitos mai ‘se venceren a si prdprias nos seus err0s, exprimindo uns iealizagio do abso. fs do também a ua igsio de lutismo, Mas Lope faz entrar nos quadros destas ideal -nhola em que magistrados concelhios ou figuras popul hhonra, sob final sangao do rei, a aristoeratas degenerados € até a reis que sio levados a reconsiderar, Na medida em que consegue identificar a Nagio com uty absolutsmmo ilealmente justo, Lope ergue uma critica ao ferlatismoy ¢ a sas quialdades de concep: «0 podticn, de v das forgas eriadoras da natureza humans 05 da Fenda esp intemronte Htiea, nntéin o cultorenascen licagio pene A escola de Lope conserva de de termas nacionais (Guill iio © tratamento optimista, épico e pundonorose de Casivo, 1569-1631, Luis Vé 1, 1579-1648, Tirso de Molina, 1571-1648), repuaiando os prec sieos que ness pox tanto preoeupaviam criticnse de is ranceses, Neles fora de estritay uniades de tempo ¢ de lug nas sob a pressio de arroubos liricos, Enratza-se proiss 5 das hospedaias (conrales) Jone, desde ros funeionavam quase dia ws de aetores em concorréacia, 1 de Ge ‘0 4 vista do espectador predomina sobre as falas que define 88; 0 desenvolvimento da int sismo interrompendo-se ap te tral por conta das confrarias reli ‘Sevilha, o grande eu nicios do tine quartel do século XVI, 0s prin hravia eerea de uma dezena de compat ido de Filipe 1V (1621-1665) coincide camo apogen da vou do eat, leance ideoldgico altera-se profind © tipo depois u monte 1 em Tirso de Molina, que con agrou lizado de D. Juan Tenorio, a natureea humana parece irresistivel- lnsessionada pelo pecado, a alma do drutna tende a cifrar-se na busca por parte através do mal e do logeo, Em gens esvariam-se de psicolog os em que a infu: amaturgos simbolistas, por exem «dos protagonists, de ums felicidade quase metatis Calderén de la Bares (1600-1681) as persor 6 convertem-se em aleorias, salvo dentro dos lini 1." FPOCA ~ RENASCIMENTO F MANEIRISMO 221 plo Mactertinck —, Caldorsn, nas suas peyas signifieativas, realidad objectiva da vida terrens, que se mantéi apenss como verifieagio ou les e sobretudo dos pecatos por que cada um & responsive (Lat Vi Sucfo), Neste idealism que parece preferie a morte ao pecado, neste avesso do natura lenais, pulsiva sinda em Camdes, Lope la 6 que se fas toligicas, O tema da dang datismo (a fase pre taria das vty Tismo que, embora por entre eontradigOes f (9 deixa de ser uit representaao plistica da vi Cet Hes, 0 te rede, na concepgao ealderoniana, a um paleo de alepo lente do fe 1 fase deci da morte, que obsessionata ja prime’ rara a Barea d Gloria e 0 Brove Sumécio da Hist6ria de Deus de C un Teauro del Mundo, peca que, como nenhuma outra, asi ‘a derrocaa filipina MU BIBLIOGRAFIA SOBRE GIL. VICENTE 1. Toxtos, A1.* ed. de conjunto das obras de Gil Viconte foi pubicada em 1562, Lisboa, com ‘0 titulo Copitacama de todales obras do Gi Viconte, pte fila do autor, Luis Vicente, Declara {este no prdlogo que o pai comecara e deixara incompleta a compilagio dos seus autos, ‘que ole, Luls Vicente, acrescentara as obras de que pudera haver noticia, De ham que se dera ao trabalho de sapurar» as obras paternas. Nela se 16 ainda uma dedica téria do préprio Gil Vieonte a O, Jodo Il, para a ed. impressa, que chegara a conciar 1A Gopilacam serviu do base @ todas a8 ed, postoriores. Destas, s6 uma, a de 1586, & ‘anterior a0 séc, KIX, ¢ foi catastroficamente mutitada pela Censura; contém um auto ~ 9D. Duardos ~ em que o vdlitor no seguiu a ad. princeps, mas sim ume folha volante ‘Censura, antes de 1551. Passaram perto de 250 anos antes que a Com Voltoase a-aer improssa, om Hamburgo, 1834, por Barreto Feio © J. Monteiro, ‘que marca o incio dos estudos vicentinas @ a restadracd de tal obra nos palcos por: uqueses, Das ed. modernas so mais acessiveis, embora muito imperfeitas, as de Mendes dos Romidios, em 0s tomas, Coimbra, 1907, 19126 1914, com pref. eglossério; ade Mar ‘ques Braga, na-col. «Clasicos 4 da Costa», 6 yos,, com pref., notas e glossério: a do Porto, 1965, 1 vol. em papel biblia, som indicagao de organizador nem cntétio expresso Jio dos textos, Reprod, fac: similada, mas inabilmente retocada, da Complagao, i emendada pe (0s autos da Mofina Mendes da Alma, segundo a Compitagio, estao fac-sitilados em Silveira, Sousa da: Dois Autos do Gil Vicento, 3.* ed, Fund. da Casa do Rui Barbosa, Rio, 1973. 246 LISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA ‘Na «Revista da Faculdade de Letras do Lisboa», Il série, n.° 1, 1987, énehvem-se dois estudos com interesse: Batailln, M.: Alonso Nuior de Reinoso ot les marranes por fugas on Hal, que estuda um imitador judew da Menina e Moca anterior & 8 Carvalho, J. G. Herculano de: A tnfiudncia Italiana em Bernardi Ribeiro. © texto de 1545 da Meninae Moca foi revelado pelo seu adquitente, Eugenio Asen: sio, em: Bernardiny Ribeiro a fa luz de un manuscaito novo, in «Rovista Brasilvra de Flo Jogia», Rio de Janeto, Il, 1967, 1. 1.°, pp. 89-81; este autor tem um importante artigo sobte ET romance de Bernardin Fira «Ao fongo dariboita» «Revista de Ftlogia Espo fola», 41, 1957. Este 0 outtos estudos do Asensio sobre Bernardim esto reunidos no seu Volume Estudios Portuquesos, Pati, 1974 Casteleiro, Joao Malaca: A influéncia da «Flanwnetav de Boccaccio na «Monin 0 Moga» do 8. Ribovo, in «Ocidente», 74, n.° 360, Abril 1968. (Atribui d possive intial cia da «Fiammota» a narragio subjectiva feminina, o femninismo sentimental, um fata lismo mitigado por vavisos», © pessimisme, etc, indicand todavia diferengas.) Rossi, Giuseppe Carlo: t Boccaccio note fettorature in portoghese, Boccaccio», n.° 8B, Florenga 1974. Frechos, Cl iboiro, in «inn op, 1udo-Hont: Tradition ot nouveauté dans los «8 Napoles, 17 (1975), Deyermond, A. 0.: The Female Narrator in Sentimental Fiction: «Menina & Moca © aCleniseo y Florisoay, in «Portugueses Studies», Londres, |, 1985, Ver ainda estudos contidos em Estrada Largo, |, Porto, sid (Porto Edit mudados» do Bornardim a Hélder Macedo estuda possivotsinfludnelas judaieas em Bernardin, nomeadamente ‘de Sefer-ha-Zohar, ou Livro do Espiondor, obra cabalistica pon do séc, Xillo de ‘um conjunto de wadigbes esotdrieas, sobrotudo gndsticas, que se entreerszam no judalsmo, ’ eristianismo ¢ no islamismo: Do Signficado Oculto de Monina e Maca, Lisboa, Mor 1977, trad. da sua importante tose, orginalmente em inglds, de 1971, que eetom: sua ed, airs moncionada da Monina ¢ Moca, Quanto 8 bernardiniana rligido do amor, 6 dtl acompanhar sua tad ‘gemont, Denis de: L'Amour et FOceidont, 1939 thé trad, portugues) ‘Margato, Isabel: As Soudades da «Menina o Moga», IN-CM, 1988 (ocapitula as por ploxidades bioardticas, toxtuais @ intorpretativas. e, em opesicta & tese do farinisma somimentol, salionta 6 esforco gorado do redactor no sentido de apreender a sensibil dade forininay om Rou Capitulo IV SA DE MIRANDA entre as tradicdes medievais ¢ as inovacoes italianas composigées do Cancioneiro Geral esti, como a cm redondilhas, portanto em versos curtos (sete ou cineo ro de certos moldes peninsulares quatrocentistas (vilancete, nte & a de serem constituidos por chamar- he depois da introdugio do novo estilo) ainda trovou Bernardim Ribeiro, nesmo numa sextina © as & vado, de tradigio cl Entretanto, ja no verso ¢ de composigaio postica, © chamado «dolce stil nuovo». A partir de is, 0 decassilabo, por fim acentuado obri 6. (verso herdico) — A grande maioria da mos, versific siflabas) © de ceantiga, ete.), caja ea tum mote ¢ respectiva glosa, Nesta sanedida velhia» (como passou ea domi Gelogas, que pertencem ji a um género ino- tum novo tipo de tentao impds-se 0 verso dle dez aloriamente ow na4.* €8.* silabas (verso saifico) ou 9 denominado shendecassil labor (isto é, verso de onze sflabas), visto que, 1 quando a altima longo, admitindo maior variedade de acentos ais flexivel, presta-se a maior nagoes que a redondilha, ¢ consente portanto maior liber- {uma maior Jo © sistema italiano, se contava a siaba post Sendo ma seg palavra facultativos ¢ de pausas, 0 decassilabo niimero de comb dade 10 poeta. Adapt vuriedade de tom de temas. ‘Quanto as combinagdes de versos, as construgdes estréficas, Petrarea jonou algumas js cultivadas pelos Provengais: — 0 soneto, com dois tctos de rima geralmente abba e dois tereetos sujeitos a combinagdes es de duias ou trés rimass a cangio, com ntimero varidvel de estrofes se a uma poesia mais individualizada, a8 HISTORIA Da LITERATURA PORTO m9 1+ EPOCA — RENASCIMENTO & MANEIRISMO iguais © um remate, mas sendo o tipo de estrofe (que & um agrupa nanifesta-se ja na primeira metade decassilabos e quebrados) da escolha do poeta; a sextina (seis sextilhas € tere Ainfluén na lirica pet do século XV; 0 petrarquismo, como nova expres (0 final, com as mesmas seis palavras em diferentes finais de verso not caiclonciros castelhanos W6'aéculo'XV'e 1 poetas qu «la estrofe); as composigies em te ital rocentistas do antillana tivesse isco Imperial 1 ‘los (de rima aba, bab, cdc, € rematando por um quarteto em xyxy), e em oitavas (abababec), composi {g0es que se podem prolongar indefinidamente; ¢ outras. A cangio, a com. posigi proporcionan largos desen: jiamento do contetido discursive ou emocional, em contraste com 0 molde rigid das formas estréfieas quatrocentistas penin. io, um pelo esquema estrdfico & MESA DI its OU remates dos versos, mantém- € obrigam a un sompardvel Aquela que era Cancioneiro Geral. Mas, embora jé muito antes 0 marques de S csetito sonetos «il itilico modor, € 0 italiano castelhanizado Fr s¢ 8 metros do novo estilo, 86 no século XVI, com Juan Bosesin definitivamente na Peninsula. prat € Garcilaso de In Vega, ¢ o em (ercetos, at composi¢ao em oitav izou ele volvimentos, un longo esp sulares. O soneto ¢ a sexti mbos por um sistema obri pelo contr 558) MIRANDA (1481. N6rio de ri jeurse em grande parte a 1a pltiade de disefputos, do do novo estilo d Em Portugal a consi nciseo de Sd de Mira -se mais préximos do formalismo da poesia mediev densagio conceituosa do pensamento ain: pelas co Fr alo por nposigdes com mote e glosa. Franeiso de $4 de Miranda estas ahalo fungdes docentes, Fitho de un e6nego de Coimbra de cepa fi im destas formas € géneros, os Ialianos assimitaram séneros Kricos due doutoron se na Universal, one parece ter desemp quiadro, gota frequent Pago a sa javentide,partiipando nos tonnes podticos € mos sere storis (tendo por moles pulaclanos,euja melhor fase mas tarde evocard com sale: rega e latina, como . sobretudo p sgitt, poema de tonalidade melaneélica ibulo © Propércio) ou seatenciosa (conforme os modelos helénicos), a que os poetas re ws adapta cetos; a ode, quer laud nea (modelos: Salo, Aleeu, Anacreonte, Catulo e principal @ epistola, ou carta em verso (que tem igualmente o modelo em Hor © epigrama, composicio curta ¢ conceituosa, de contetido geralmente sati- 0.4 a co (modelos: Juvenal, Marcial); 0 epitakimio, composigao con dirigida @ nubentes, A forma nova, © novo esti ifs a um nove cone: poes iguir-se do strovador», pretende ser mais que tum simples artifice do verso. Arroga-se a vocag: Tederito © sobretudo Virgtlio); a ef Os momos, os sexes dle Portugal (a imitagao de kas do seu sal? es graqas t is heterogé- vente Hordicio); Dos motes 0 primor ¢ a 0} 06 dilos deieados eortesios i . quem Thes di somente ouvidos? anlaté ia, one se demorow alguns anos, 0 wns dos grandes eseritoresitalianos vivos 0 Vite Em 1521 emprecndeu wna vi ‘lou 0 ensejo de conhoeer mais de pesto a Gembo, Sannazzaro, Sadoleto, Ariosto) e outras pers slonnay a amiga de Miguel Angelo, sua suposta parenta, No regresso, de passagent em 1526, tulvez tenhst eorlhecide Bosedn © «poota» quer dist 0 © 0 destino de revelar por Esp. {que eno se estavam a interessar pela pos cana compo: to numa 6p do Mondego, a de Miranda obteve duas comendas si Cereade 140, por ares scons, ti oh de Du pw lo Min, neyo se uv dia de que noutro lugar trataremos, nem no teatro, a poesia lirica s6 por si comporta os assuntos mais di :m do amor: elogios de hersis, consethos epistolares sobre 0 bem publico, ensinarn politicos, rel relacionado junto do rei, i das do novo estilo, Be «dy Orde de C tos moras, o808 € filoséficos, ado cor 250 LNSTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA res, entre eles Péro de Andrade Caminha, D. F de Portugal, ¢ mais tarde Diogo Bernardes, Jorge de Montemor e Anwnio Ferreira, gu 4 seu sespeito escreve, resumnindo una opiniio corrente: Novo mundo, bom nos foste abrindo co's tua vida € eo teu doce Ent © principe o prdprio re tinea das suas poesias, ¢ novagibes teve de vencer fra D. Joie I Waneias, de que se que npanha pelos joven le, pelo conheciment da ob omo Herculano, séculos mais tarde, a, dle protest eu de Garcilaso. de Miranda dum sentido exemp ir um estado de coisas social com que ni se confor inte contra a moxifieagio de costumes ¢ valores resultantes da expan ‘oposigio sos contemporineos, especial Corroborando este o-Fetrato, lm contemporineo charm homem de alto e herdieo Sai de Miranda, colaborador do Cancioneiro Geral, cultivou em lit portuguesa as nessa colectinea, antes e depois lids, repudion verscjar: na écloga Alexo, que & uma das primeiras expres- ses da nova escola em Portugal, aceita a coexisténcia dos dois estitos; numa clegia dedicada a Ant6nio Ferseira das antigas fo -astelhana as formas con da sua conversio ao novo estilo, Nunca, em que aprendeu emedida velha» is carde, reconhece o imeresse 1 obrigada, nas de trove numa carta a Ant6nio de Meneses, em versos atris citados, manifesta-se preso ainda 20 ambiente dos extintos momos e serdes de Portt- IL, onde se fizera poeta, icetes, glosas esparsas, poe ira, anteriormente & sua eampanha pelo novo estilo, Side Miranda cultiva exclusivamente a poesia amorosa dentro dos; temas petrarquianos cntéo em yoga. A nota que mais frequentemente fere Gada co ea «vontade» 5." EPOCA ~ RENASCIMENTO B MANEIRISMO 251 melancolia inconfundlivel, que se acentuaré posteriormente; ¢ i por vezes un se nota a expresstio condensa des, mas também um dos it para cing’ nos poem mas itali eliptica, que é uma das grandes dificulda- esses do seu estilo conciso, em que as pale 2 intensidade ou a largueza do pensamento, xarcam a sua eampanha pela introdu vras parecem fa iB io em Portugal das fo s que n consideravelmente i, enrique (6 seu material literirio, Nas éelogas, em que segue 0 modelo de Garcilaso, exibe um estendal de erudigao histérica ¢ mitolégica, reconta histo bres da Antiguidade e alude constantemente a lugares-comuns chissicos. Mas romana, mesmo os de expressiio mitica, Tanto na angdes — toca certos t6picos os melhores valores da cultura grec is éclogas como noutras, parecian-Ihe provir dos «Livros Divi de inspiragao ch s, carneteristicos satura renascentista: o desiéi pela vulgaridade, a supe rioridade do culto das letras sobre 0 das armas, a necessidade de r pelo estuxlo dos modelos estrangeitas, e exorta a composigio de po cos de assunto portugues. al, ¢ porventura mais interessante, da obra pos éeloga Basto © as Cartas, iano, O autor expde af, de formt ceditadas em 1626 como sitras de tipo ho ilo do sew tenga ina. O elogio desen reliro nistico, com uma rude; entre a vida rural e a vida urbana e pa aro © mais repousado que a naula ¢ livre, que pensa do mundo que o rodeia. Fa privilegia 0 contraste da simplicidade nistica, como estado mais se vida artificial na cidade ou na corte, € um tema caracteristico da An dade el jo, Mas Sa de Miranda dt tragos ‘0 com uma eritica social que lembra utopistas do séeulo XVI, num f ade estica ou senequista. Esti talver na origem desta critica nto cioso da liber dade pessoal, A personalidade tem o direito de com as fengdes correntes. «Eu aos meus palmos me mego» é un Ihe novos alguns dos certo sentim Jo se confor nuts signifi seta atitude, bém muito ajustada ao odi profinum vulgus, horaciano, O homem da corte, ede modo geral todo o que vive no seio da civiliza ado Si dle Miranda parece considlerar essa alienagio, por um lado, sob 2 forma da pressio social que se ma as convengies ¢ intrigas alisis muito generalizada no Renaseimento e t urbana, teria ali 252 LWISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA corte; por outro lado, sob a forma de sujeigdes resultantes cestrutura produtiva, O homem aper seria livre conformando-se com a «boa am, que bastaria As: necessidades; segundo o dito evangélico, as aves do céu ni fiam nem tecem Sé de Miranda des- ie natureza», «madre anti 0» © « o das nossas, © andam, todavia, mais ricamente vestidas que § den «que he parce conde de ouro debaixo do solo, que os obriga, mbigiJo do ouro origina, a destruigio 0 fogo, antes dado seravatura, que levam a por aos langos na praga sespiritas vindos do céu, A invengaio, entio recente, da artitharia & para Side Miranda mi resultantes do afastamento da 1 doutra actividade além da i 0 trafego maritimo, a bust de costas para o dia, « entrar pela noite dentro. A a segundo ele, as guerras, que desviam pa para proveito dos homens, e formas re is ou metafSricas de um exemplo dos Dentro desta ligiea, até mesmo a propriedade indi I da terra apa a sangue e Fogo foi mente repartida; 0 meu © teu esti na origem das guertas. le de Ouro, usa da violén« rece ao mesmo tempo como efeito ¢ a terra desi sles (6picos sao frequentes na poesi nqu tida como anterior & propriedade agréria individual, & moeda, ao Estado, a guerra, constituia a idealizagio postica do comunitarismo primitive ou do cl patriareal. E bem possive . que Si de Miranda tenha em vista qual Vedagies (acercass) ¢ se entre nds, no género das ipropriagoes, pela aristocracia inglesa, dle tern is dos aldedios, que inspirou uma eritica semelhante do humanista Tom: Morus. A. sua indig 0 Se passa neste sentido © que ele testemunha como fid a, patriarcalmente préximo do trabalhador nos conus » pelo que ent go avant 4o ainda hoje bem comuni exemplo, que certos «saltendores cor tes, «for por me ¢ roste de honra adores», A idealizagao los» andam quen: sica do comunit dos de peles de © a propria pastoricia eram ainda sentidas como suerilegas ¢ ant transfere-se assim pat as da Por outro lado, aur ntadas com \coes agrarias entdo existentes, p urea mediania» rural de He Si de Mi as cores idl nda percebe claramente a ligagio existente centre este exacerbamento e crise da exploragiio feudal, 0 absen 10 ultramarina, que despovoa o Rei smo da nov: nobreza cortesa 10 «ao cheiro 4." EPOCA — RENASCIMENTO E MANEIRISMO 283 desta canela», Nao esconde a sua antipatia pelo modo de vida que entio con- alteragao da estrutura medieva do Pats: Os marinlieios vadios que vilmente volteiam come bugios, Jind que vos al pareya. Outro tema grato a $4 de Miranda ¢ a critica da corte como ce wento a governo: a asticia dos privados, 0 seu engrandeci usta dos pequi » devoto; todo um nos; istema de explo: corrupgiio da justiga, 0 exibi ragio em proveito de um grupo dirigente, que consegue perverter fio vitimas as mulher boas: leis tor 8 Grfiios, a «pobreza dos mesteres». Eles n dos poderes, esses podleres que deviam ser res «buscaram para sis. Contra estes males, ando-as «fracas (eias de aranha», de que io se atrevem sequer a fa nossos» mas que os envolvedo 4 Miranda vé o ren 10 do Povo, idealizagio ty poder régio justamente exereido, a0 servi Renascimento. Tais ideais exprimem-se num tom nostilgico. Si de Miranda volve os. patra a scat antiga ea torres, evoca os reis antigos, que se colhos para os costumes dos antigos portuguese simbolo de um mundo em desapareciment prezavami do nome de slavradoress, ¢ também D. Joao I com a su divisa Hencia, A utoy madre antiga, em que nao existia 0 teu © 0 «Pela lei ¢ pela ele o mundo esta em dec ade a vida natural no scio di gue! por acaso que nestas eartas (em que predominam as quintithas mativos de rim) $4 de Miranda con: eaicos, como que acentuando 0 cardeter meu, 1 us |. casa-se com aquek melancolia que ensombra os versos. Nao de redondilhas com dois esquemas all servou construgdes € voesbulos 0. ‘al arcafsmo ostensivo — prprio sobretudo das composigdes na medida centuada origi areaizante do seu pensame velha — combina-s 10 muito acusado, Si de M ‘um pessoalist centao letrada, quase nio estabelecendo transi © 08 co1 ios incisos, ou os exemplos, com lig: este efeito, a stia expressdo é fortemente condensate mu 284 HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA sett éxico prefere os termos concret as generatidades © aos cufemismos, sacrificando para isso a dignidade classicizante tio grata a Joao de Barros ou a Ant6nio Ferre do mundo familiar, € ne mesmo quando a este recorre, 8: sul: ié quase nistica. ricter discursivo, expositivo € oF nda veste-o de uma aparé © a tendéncia foge as convengdes do estilo novo, e sobre: cia do. a sudeza conceptual, combinando um artificio extremo com um certo fol (rio que est na es classicismo, Pelo contririo, orien hos de clorismo importa e avultari, como veremos, no estilo de Géngora, qu E directamente avesso A expresso discursiva, Desta forma, Side Miranda est na corrente que conduz ao Barroco peninsul se um dos pr cursores do coneeptismo seiscentista, J4 se para uma expresso et paixon tos de oralidade. Ora Jo por apdlogos, provérbios e ef F, © torn Ferreira de Vasconcelos clogia a fide Miranda icin cita-o pelas frases sentenciosas, .co Manuel de Melo considera S como um dos seus mestres, Baltasar Gr No entanto Francisco Manuel de Melo engana-se talvez a0 atribuir a 8; de Miranda © propésito de «esconder altos conceitos € misteriosos, como Acl (6 de certa argamassst l6gi novidide» do seu estilo, ¢ F jo das redundincias correntes 1 08 Egipcios, em estilo tose ‘des, perguntas, a multiplicagtio de exemplos, de apélogos, as comezinhas, em obras doutrinais como as Cai Gcloga Basto, resultam de uma tensiio d dianas, dla 20 jogo conceptista, Nos sentimos 0 estilo mirandino romper de un minho, e nao do conv prazimento numa dada ret6rica; ¢ € por isso qu de amor ou de angiistia incompreendida nos dei custo 0 seu c% «9 seus mais belos sonetos na profunda impres como pelo estorgo patente (et os € hipérbato, nos verbos elipticamente intransitivos 0 antes, nas bruse ag de tom monologal ou di slo de autenticidade, no tanto pelo tem 9 de encavallzam micos, nos contrastes de orem plurissi n (saltos de tempo, de lugar, de re mudangas de fo fe exterior ou fntim: logal, de interlocutor vago jos r ou directamente apostrofado) e, finalmente, limiar do inefavel, (Ver os sonetos: Em tormemtos erucis, tal softimento: Nilo sei que em vos vejo, nio sei que; O Sol & grande, ca nates erispados no em co's ana a aves; Quando eu, Senhora, em vss os olhos ponho.) 3." EPOCA ~ RENASCIMENTO E MANEIRISMO ass ‘alvez exista uma relagdo profunda entre aquele arcafsmo, aquele des: conten nento, uele protesto que 86 pode ser verbal, e por outro lado este estilo que se desenvolve no sentido do requinte sem se afast st mundo circundante rsos na medida nova, deve-se a S4 de Mirand: bém que escreveu um: redon: ‘e que tende sobretudo a cortar as pontes com Além dos primeiros neira comédia em estilo ckissico, Sabe-se t Jia com o titulo Cledpatra, de que nos Estrangeiros, sua ph Os tipos e si meira comédia em prosa, localiza-se na I ides evidenciam ico de Plauto e Ter dia renascentista ana em fala vulgar portuguesa, Hi a competigao de um pariga post as do classicismo renascentista so acatadas: acco concentra jovem, um fanfarrdo e um doutor & volt de um Ase, num lam os nds dos interesses em conilito, trogo de rua, onde se atam e de Posterior a esta, ¢ com caracteristicas muito semell comédia Vithalpandos, que tem por personagens uma cortes: a, dois fanfarrdes € um escrivao hipéerita, esti animada de um anticlericalismo imeenso, que tira ps ‘Ambas as comé- dis snascenista: ridicule de resto, dio expres ndicdncia beata, da remissiio pecuni humanas elssieas e da paz. Embora com éxito contestivel, Si de Miranda luta no teatro contra 0 (e dos autos: 0 prélogo da sua primeira com 9 publico surpreendido por nao estar @ assistir a um auto em verso e rima MUBIBLIOG APTA 1, Toxtos A.1.* od. das Obras, feitas por um autégrafo, 6 a de Manuel de Lyra, Lisboa, 1695, A.2.*, que utiliza outros manuscritos, & de 1614 ¢ vem acompanhada de uma biogratia Houve impress 1 que Carolina Michal de Vasconce ido as das ed, mencionadas, mais einco manuserites inéditos, publicow uma ‘ad cea, com diversas (o pumerosos) variantes, em Halle, 1885, reed. facsinilada pela IN.-CM, 1989, 0 grande nimero de variantes resulta de que o autor, de manuserito para ‘manusctito, corrigiae alterava, por vezos profundamonte, 0 oFigiaa Capitulo VIL LITERATURA DE VIAGENS ULTRAMARINAS Wl Cardcter geral da literatura de viagen A revelagio de novos espagos, paisagens, floras, faunas, costumes e reli- sides, as aventuras ¢ peripécias de viagens mais fabulosas que as dos romances: de eavalaria € as dos po is da Antiguidade, inspiraram, como vimo ae narrativa, que assumitl varias formas desde os grandes tratados hist6ricos ou geogréficos em grossos volun reportagens em folhetos de cordel, estes dirigidos a um piblico numeroso, anista ou cosmégrafo como o simples curioso Vem jit Ue livros, como se vé pelo sucesso do Livro de Marco Palo, euja tradi portuguesa foi impressa em Lisboa, 1502, Os precursores portugueses dest literatura, hoje perddos, devem ter servido de fonte & Gomes Eanes de Zurara prime i finicas. Dur XVL-e ainda no XVI multiplicam-se as eréni Uma parte desta produgao nio tem valor propriamente lit io s6 da literatura propriamente néutica, como os «livros de marinhar uma as curtas ‘em que tanto entrava oh a aventuras e de maravill Idade Média 0 gosto por este género o cronista conhecido ds te todo 0 séeulo, Ho caso, eseritos para pilot Merecem, no entanto, especial mengio 0 Diirio da Viagem de Vasco da Gama, por Alvaro Vellio, que nela participou, ¢ sobretudo a carta en Péro Vaz de Caminha di a terra do Brasil, eu ‘mas também o de muitos relatos das primeiras viagens, que qualidades de pr de contacto com os Amerindios, sto sem diivida not , que, reunidas mais tarde igios, edi xploraram exten regides do Brasil eda Asia em busca de povos para catequiar: as Cartas do Jao, que despertaram grande interesse va epistolar de ura viqgem e nisi jest pela Ba, Mh Pernambuco, Espirito Samo, que 6 veio a ser publica |» Porto Seg no séeulo XIX; 6 Novo descobrimento do Grao Cataio, pelo P.. Anténio de Andrade, em ‘que se desereve uma viagem Santiago, por Melchior 9 Tibete por um missiondrio que tentou cate quizar o rei € a corte deste pais (1626); Etiépia x Alta, do P.* Mt Almeida, refundida por Bs ‘eles (1660). Anténio Galvao, herdico gov nador das Molueas, fez no seu Tratado dos Descobrimemtos, 1563, um outras, neia de vida do autor co, condensa de forma mundo oriental: as Lendas da India, de Gaspar Correia, son HISTORIA D4 LITERATURA PORTUGUESA Ama oF parte dest hoje de leitura interessante, pelo os descritas, pelo imprevisto ¢ arriseado dk + pel i \etiforas e expressdes préprias da mari wees em, ‘que vieram a encontra (8 protagonist directa, n especif por vezes colorida, enriquecida de ia. Os seu factos que forn Iguns casos, tinham mais e4 © servem-se por isso de un nao alatinado, Outros, como os via tas, dei am transparecer uma, formagio litersria humanistica, Nos relatos que vieram a integrar-se na colecgiio setecentista da Histéria Trigico-Maritima encontran-se até piiginas impressionantes, eco das horas aflitivas por que tinham passado os sobreviventes no decorrer dos naufré gios ou ai ‘epuilvedas, qui Corte Real: atirados contra a costa aft as longas viagens a pé por Hes indspi ias, Sobressai entre elas a narrativa do. nifrigio dos \spirou um poema épico de perto do Cabo, os inhada para. Norte, Jersni sobreviventes e1 \deram uma longa m direc 's Lourengo Marques comerciava com 0s n ir; eorpos prostrados pela fore, pela fai ana assinalar a passagem da eoluna por inante quando o eapitio, Manuel de a como umn songimbulo pela forest at6nito a mulher falecida, que se enterrara na areia, para eneo. brir a nudez, quando os Cafres the arranearam os vestidos. Os narrado as 0 rio onde © portu do int + pela pithagem dos Cafres S, Mortos ou vives, tuguesa; a tragédia atinge o ponto feptilveda, ja louco, se inter de contempl Historia Traigico-Maritima sublinham intencioi nente 0s episGaios paté ticos e dolorosos, de n fazem-no em linguagem correntia, No entanto, a excepgao, como veremos, dit Peregrina des Pinto, ira a impressionat sensibilidade do publico, mas deF c seiscentista no niio Men. a literatura de viagens portuguesa quinhentista passou de um nivel de reportagem; raro se elevou aque simbolismo que intensa em ltipla, mas nao foi suficientemente et ma uma visio n0) laborada para do mundo, Os Portugueses e Espanhéis le ‘20 conhecimento da Europa novas regides e novas eivilizagdes, aboraram as primeiras construgd fiteratu 16, como a Utopia que Toms Morus, sob influéncia talvez das viagens de Colo mas foi fora da Peninsula que se e s morais ¢ filo- séficas estimuladas por est de via nbo e de Vespiicio, sit 5." EPOCA — RENASCIMENTO E MANEIRISMO 303 ieanoy a Nova Adantila que Pran- China ‘numa ilha desconhecida do continente a ia por sugestio de Mendes Pinto, imagin entre cisco Bacon, dir © 0 Japio; as Viagens de Gulliver, de Swift; € finalmente o mito do «bom selvagem, inspirado pelos incolas do Brasil, © que & precursor de cert concepedes de J, J. Rousseau (a bondade natural do homem), como jit de certs paginas de Montaigne sobre a relatividade dos costumes. Mi se procurard nas fontes portuguesas desses e outros autores eoisa que se parega com uma reflexdo erftiea, a nao ser num nos jf referir-nos. em vi $0, a que MEIFERNAO ME) ES PINTO. ns do século XVI portugués, ¢ um dos inagao, de Fernao Men- ‘O mais interessante livro de vi mais interessantes da literatura mundial, 6 a Per des Pinto (¢, 1509/14-1583). © autor conta a sua vida prodigiosa de aventuras: naseido em Montemor-0-Velha, Lisboa, logo na infncia € protagonista fg e vitima de um assalto “ses, Servitl na casa do dugue D, Jorge, filho de D. Jodo TL. Ew Couren os mares e as costas deste a Arabia diz, store veres eativo ¢ dezassete vendo nas travido pa dos corsirios fra brusca de fortun cont pura © Oriente et 0 Jap sda frdia, Esiipia, Arabia Feliz, China, Tartiria, Maciss quel ts suas geo} o, serulo, ao que ele prip matra e outras mui- p tas provincias daquele oriental » dos confins da Asia, aque os eseritores chins, por Pestana de Mundo». Conhe tre Malaca ¢ 6 Japio, como agente ign participando em exped siameses, guéus €Kéquios nom ws do Extremo Oriente do capitio de Makaca ¢ como mereadar — por veze ‘goes de pirataia, Umi sopro de vento langavaro na miséri, umn acto de audicia fazia-0 pumas vezes salvou a vida oferecenilo-se como eserave. iy até & Mongélia, ¢ & certo que foi um dos p ‘das sas viagens & este pals conhoeen ahulosos tesouros; senhor de tere ter percorrida o império ch Ss. Francisco Xavier. Impressionado pela personalidade do eslebre missions, decid sa no apogeu da riqueza, entrar na {que participow. Mas, iu depois da Ordem, deixando nla a maior parte dos seus -o depois da morte dele, © quando se enconte ‘de Jesus, ¢ promover um » Japa, & ids, Joa Postugal em 1588, abteve uma ten bens. Reg we relato das suas viagens, que sé veio ser publicado em 1614, vinte © wm anos u sei aor depois da morte doautor, E duvidoso que a forma em que ofivro nos ch i que sofresse cowtes ¢ talver altragdes, a que ral, antes € verost ‘05 Jesuftas, bastando dizer que niio se encontta na Peregrina passa n do seu autor pels Comy 0 MISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA A fiegio © a realidade entrelagam-se adm Porque o autor soube imprimir a tudo qu: verosimil de coisa vivida, g avelmente na Peregrinagito, 0 quis contar-nos uma aparéne iene convincente, mesmo quando desereve jtuagdes e personagens. Quer as deseri- ‘goes de cidades e eivilizagbes, quer a das suas va regides que n 0 visitou, ou inven is narrative pelo Oriente tém wi extraordinaria forga prese com frequéncia frases inteiras de linguas que desconhecemos (e des Pinto provavelmente também), Noutros casos encontramos et ver saborosa io portuguesa Formulas c sauclagdes de paises mal conheeidos dos Euro- peus. No entanto, podem distinguir-se na Peregrinag n claramente na experid partir de Fontes liters » capitulos que se inspi- pitulos que sio reconstruc 8 © outras mente in las. Esti no primeiro Hes, dos meios aristoct poneses, de Mendes Pinto apreendeu co ga adores exotistas do que rito guerr Se 108 Obst tig cle procura explicar pel afi no segundo caso a des- © cuja superioridade a hist6ria, leis, normas morais ¢ preceitos teligio- da Chin 0 da China, prodigiosa civiliz, 6 na realidade o esbogo de uma wopia, ja pre- os de J, Mandeville (século XIV), mediante contrastes de civilizagdes, tio prati- € antecipa-se ‘no séeulo XVIIL © exotismo de Fernto Mendes Pinto resulta do seu interes formas das civii + 0 contrairio dos autores de literatura exdtica do século XIX, no se trata de um simples desfrutador de curiosidades. Nao tem 0 preconeceito da rioridade da sua civilizag pe. 0 ou da sua raga, © por isso icilmente assume perante os orientais uma atitude a iva © alenta que 0 leva, por exem- Portugal. Poe na boca is depreciativos acer 1s brancos ¢ barbudos, bundos miserdveis ou de salteadores biirbaros, sem edu dade, sem verdadeira religido, No entanto no deixa para as terras ¢ riquezas abertas a uma exploragi que as leis da China sejarn imitad clas suas personagens orientais os coment uropeus. Para cles, estes hom wm de vaga- agao, sem human de cham; av atengao » potencial, Quer 0 con 1 EPOCA ~ RENASCIMENTO E MANEIRISMO 305 obra quer -religiosa e um sinal da dependéneia dos homens ei Os comentitios que atribui a o cita no relato das aegoes dos pi nosso aventureiro anda assoc barcos indefesos, incendeiam povoacdes despreve e is, Saqueiamn ti d se apoderarem dos tesouros com eles sepultados, Nao nem os mortos, valer nas afligoes, queer para os ajud aria, Este con raste entre a erenga num Deus supremamente justo € universal, € um co portamento bérburo — que parece passar despercebido aos Europeus da época — 6 sublinhado por vérias persons ents da Per jana chinesa raptada pelo pirata Antonio de Faria, que fala nos ies termos eloquentes de Jo aventuroso surgem como uma provagao ético- relagao ao divino, tas limitam-se a tirar a conclusao impli- ores ou guerreiros com que © do: levados unicamente pela cobiga, afundam las, roubam mulheres an yenterrando esqueletos para aplos ¢ sarcdfags 1m os vivos is invocam a cada passo Deus ¢ a Virgem, quer para Ihes faganhas de p sgrinagao, entre clas uma seg Sabeis porque vo-lo digo? Porque vos vi louvar a Deus depois de fartos, eom ens que lites parece que basta ‘0 Senhor a ris alevantadas e ci es ao cei, sem satisfazer o que tm roukad. Poise dda Mio Poxlerosa no nos obri ‘allicio — quanto mais roubar tanto a bulir com os beigos quanto nos det de mortos conhecereis no rigoros0 ca COutra forma que assume em Fernao Mendes Pinto esta eritica implicita jotas reside no tom pi dos seus compa ane parte da su f ibundagem do conhecendo e deserevendo pelo pio, des pie: criado de meios sucessivos; o mobil que o guia pei jemente, 0 da lu €, se possivel, pela riqueza; e, sobretudo, 0 €: cho Panga das eavalarias do Oriente, pobre !aF por suas maos, sem sombra de preconceito ou de amor movido unicamente pela necessidade for ante a perspet prio como o «pobre de mim», Picaresco m que se marr npressionantes atrocidades. O herdi da Pere : picaro, isto &, aun icas © dos outros livros de viagens. ricter desta espéci tem de seu sentio jiabo que ni ‘que espera ga préprio, despido de ial, tremendo de iva da morte, falando de si pro: «ambém o tom de ing 10 cinismo le pois au os herdis das eré iti-herdi — € 306 HISTORIA DA LITERATURA PoRTUGUESA Esta atitude to desempoeirada que permite 20 nosso autor coloca ao rés das gentes exsticas que conhecen, 20 mesmo tempo que satirizar de forma burlesea © quase feror as supostas cavalarias dos seus compatriotas, iciona-se talver, com a sta condigao de mercador viajante, ¢ porventura oriundo de cristaios-novos, gente de algum modo estrangeira na sua prépria patria, A cada passo Mendes Pinto fala de negéeio, indica pregos, avalia rendimentos e tesouros, cifra perdas, como se tudo em zisse a mimero, mercadoria — até ele proprio quando, A sua utopia chinesa podteria caracterizar-se como um para onde todos os comé! forma perfeita. Mas este m tigdvel, infinitam Ihe surge rico, rel 10 de mereado- dos de ‘mesmo tempo um aventureite in! coisas e das gentes. possiveis esto organizados ¢ pro te sen dimento daqueles que nto derem erédito as indo pelo pouco que viram e sabem. se, com efeito, perante um cesses, diz ele, av: O leitor enconte: verso caudaloso e sub- jugante: as maiores cidades do mundo, os templos mais ricos; os mereados, ais infindaveis; cana que a Europa; pro~ cissGes alucinantes; exéreitos de mithdes de homens com mithares de ele- fames, chocando-se em bi 8 nem sonhavamy nawfid- de uma ferocidade sem tas infestadas de feras; as multiddes sa em tumultos que niio deixau giios em que se perdei limite b uel diveis € As Vezes Se massac pedra sobre pede espécies, desde os homens lou- ros © barbudos dar Mosesvia até aos japoneses ndrios, criangas formosas, pit is, purricidas, pederastas; onde as paixdes assoladoras destroem cidades npétios. torrente destoca-se a um ritmo ao mesmo tempo pod ante de contar quase miraculosa que nunc e que sabe reter a do leitor, em longas sequéncias de episé- dios onde nao nento, por entre contrastes de fortuna e des fechos inesperados que geralmente festangas mon ros inu- conde encontramos gente de to rescas, velhos cente ws fora da lei, princesas, santos, escravos 0 maior tesouro imaginério da literatura portuguesa, E esta 80 € leve, sobre uma se embaraga na e ormidade da maté {um desfale 10 0 infeio de uma avi nova e no a Peregei- menos extraordindria que a antecedente, Algumas das histsri 1." EPOCA ~ RENASCIMENTO F MANEIRISMO 07 las, ou short stories, dignas de hago equiparan-se a pequenas novel numa antologia universal. Toda esta diversidade inesgotivel se expoe numa prosa oral, como a de Fernio Lopes, com pas também por certa falta de rigor n agdes sindéticas ou adjecti cito ressaibo medievo, no s6 por isso, ctica, e pelt monotonia ce tant [por outro lado, « prosa seis hierarquia sin se bem que iar certas circunstincias por meio bito dk centista se reconhega no I de oragées participiais (2 maneira do «ablative absolutor Latino), O sentido do movimento € talvez.0 atributo mais notivel desta prosa, em que mest as piiginas descritivas acumulam sucessivamente os objectos cada vex mais, ‘ou muito raramente, se che} Mendes Pinto, , ou entre a ternura cestupendos, num ritmo de crescendo, N ‘a.um ponto morto, F também earaeteristico di ido dos contrastes entre @ pequenez. ¢ idacle dos sup prosa de Fe grande: jos. Considerem-se tip das coisas tenras € feminis e at fero dirigida por uma mulher a um tirano: cas frases como es x grandes na fama da twa pessoa, que usando comigo piedade seré uma tam e darem louvores ‘0s meninos deixario de manvar a alvura dos peitos de suas mies, pi ‘com os beigos limpos de sua inocéneia s particutares da adjec como grande, prosa. As tal © S0 Ho ti tivagio, Repetem-se os adjectivos emocionais ¢ ampl ente emocionado Normalmente, Fernio Mendes Pinto ferrivel, etc., 0 que dé um tom frequet metiloras e comparagdes parecem querer evocar um mundo 01 por vezes magnificas hipérboles, Os efeitos resultam sobretudo da acummula- iio de objectos ou acgoes, da construgio ritmica ja apontada, da articulag: consecutivat («mato tio vasto, que nenhum passaro, por muito pequeno que Fosse. podia passar por entre os espinhos+). Destacam-se al os de eloquéncia, esmaltados de formulas, imagens ou evocagdes ori aque {jd nos referimos, e em que o sentimento da divindade esso em termos comovidos, de uma grandeza biblica rags a eseur fe de pox GASPAR CORREIA a India, de Gaspar Aparentam-se com a Histéria de Castanheda as Lendas’ ‘um cunho acentuadamente memorialista Correia, que tém adema Chegou 208 HISTORIA DA LITERATURA roRTUGLIESA 2 India em 1512 ¢ viveu mais de 50 anos no Oriente, desempent sais fungdes (entre elas a de everivao de Afonso de Albuquerque) que Ihe Permitiriam ser testemunha pessoal de muitos dos acontecimentos € privar com os scus protagonistas. Por isso foi encarregado de o pintura dos retratos dos vice-reis dos. As Lendas da india, livro que no destinava bin da morte, constituem um docun tos se ordenam ano por an personaigens se er ditos, clegancia ret \lo diver io Ser depois ento prodigiosamente minucioso em que os . més por més, as vezes dia por dia, ¢ em que as jem Pouco a pouico da acumulagao de actos, de estos, de Se nos tornarem familiares como vizinhos, O autor niio cura de ica, nem de correegio gramatical; a construgio da frase & dese dada, os seus capitulos sdo informes; a ideia de composigao e inteiramente fora do seu espirito. O estilo é 0 da 08, che; amorfo rativa oral, com dilo- ressumante de vida, em contraste com a secura tabelid- nica de Castanheda — resulta para o leitor da sua enorme narrativa uma forte auesio aos factos e figuras. Quanto ae proprio narrador, esquecemos a presenga 6 ser como personagem do mesmo mundo que impassivelmer desenrola diante de nés, O seu peciiio de ideias € muito reduzido, ¢ identifica: se, no fundo, com um certo sector da populace portuguesa no Oriente: {gente pobre oprimida pelos eapitie: Wl, talvee mais certo, 0 «soldado pri de canhio, que ajudaya a ganhar os louros par gos. Cremos descobrir Gaspar Correia entre a gente que nas ruas de Goa rita contra © governador, sobretudo quando nos diz qu ‘68 desmandos da india, o rei de Portugal de vice-rei, F para endireitar ia mansdar degolar em ple com efeito, uma minuciosa dentincia dos vicios ¢ desmandos que Diogo do Couto res (0 Soldudo Pratic Mas, por outro lado, Gaspar Correia exprin o gente portugue: ‘erniio Lopes, que teste: munbat flagrantemente um mundo com os seus valores em crise, Gaspar Cor- reia atesta a estabil Jo seu tempo, Ao contririo de dade dos valores hereditirios, E é com os dados deste Hc cultural que ele constr6i, ou melhor, porque as suas Lendas niv tém arquitectura, que ele deixa corre obra, baseando- Se, quer em recordagies, quer Imentos escritos, quer em testemunhas. obra como doctmento da vida quotidiana, testemunho das personalidades e seus méveis inconfessados ¢ até automatismo soc a suit ime O interesse dest omo esbogo 4.4 EPOCA ~ RENASCIMENTO E MANEIRISMO 0 xa a perder de vista qualquer dos. ceronistas do Orient Gaspar Corteia deixon ainda um 1: k Portugal ¢ sumirios das suas vidus € diversas outtas obras. Entre as ern > com a Crénica dos Reis de el e D. Joao TIL, assim como uma tenda do se as de D. M apéstolo $. Tomé. Reservando para outro capitulo a abra de Diogo do Couto, que 86 tem par Correia o tr feito da fia Port in biogrtico ov memoralstico da autoria de protagonists de gue de comum com esata sua patria ir breves apontamentos de ter adoptiva, damos a s as © acgdes no Oriente, ou baseaidas no testemunho destes. Geralmente tais obras escudam: esta fam 1 dos Gamas, eve tanhoso na Histéria dos Feitos de ‘com os Mugu mente Bras de Albuquerque, utilizando as cartas do pai, 1557, os Comentirios de Afonso de Albuquerque; ¢ Lopo de Coutinho, nobre de alta linhagem, 0 Livro do Primeiro Cereo de Dio 4 Anténio de Castilho, Torre do Tombo, 0 Comentirio do Cerco de Goa e Chal no ano de 1570 (1572); 1 Jorge de Lemos uma Historia dos Cercos dle Mataca (1585); 2 Gabriel Rabelo uma Informagao das cousas de Maluco (1569) sobre cidlentadla e escandatosa hist6ria portuguesa nas Malucas. Este tipo de his porialista e de inspiragiio senhorial prolongou-se nt6 tarde, como o mostra a ed n 1607, da Historia do Cerco de Mazar fo, de Agostinho Gavy de Mendonga jo para Luis Fréis (n, 1932), autor de uma Histéria do Japdo e aind um Tratado em que se contém muito sucinta e abreviadamente algumas con: tradigdes dos costumes entre a geme da parcelarmente editados no original, em tradugdes japonesa, ale proprio tomara parte, Deve- a toriogratia m Foi recentemente chamada 3 Europa ¢ esta provincia do Japa, i ¢ fran cesit, Foi publicado um conju Cousas da China, introdu 10 de textos quinhemtistas de Enformagao da ¢ leitura de Raffaela d'Intino, IN-CM, 1989, i””OUD 0.\v )} EEE 36 LISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA damente, 0 titulo, 0 texto ¥ 0 autor, eaponta a vero fom Os Lusiadas.) imithana do uma infludncia directa Sancoau, Eline: D. Jodo de Castro, wad, por A. Alvaro Déria, Potto, 1946, rood. 1986, Asensio, Eugenio: Un Retato Araby Recojido por 0. Jotlo de Casteo, in Estudios Por tugueses, F.C. Gulbenkian, Paris, 1974 ‘Acerca de Luis Fréis, nomveadamente da sua bidlografiaem portaguds, japonds, ale: Imo ¢ ranets, vor 0 artigo Um Ciissico Portugusts por Descobrir: urs Fros, por Armando Martins Janeito, in «Coldquio/Letease, 36, Marco 1977 Aquarone, J. B.: D. Jodo de Castro, gouverneur et vice roi des Indes Orientates, 2 tomos, P.U.F., Paris, 1968. (Essencialmente biogrtico.t ‘Matos, Luis de: A «Utopian de Toms Moro 2 a expansio portuguesa, in «Estudos Politicos w Socisis», IV, 0." 3, 1966, On." 4 do Quadern Portoghosi, Giardini editor, Pisa, Outono de 1978, 6 dedicado ‘8 histéria literatura da expansdo quinhentista portuguese, contendo, entre outros ost dos, 08 seguintes: Pizzorusso, Valeria Bertolucci: Uno sptettacuto per i Re: 'infanza di ‘Adamo netio »Certa di Peso Vaz de Caminha», pp. 49-82: Reale, Erde Melila: Una «Pere: ‘rinagdo» inconclusa, pp. 101-134; Cillo, Teresa: Francisco de Horora Maldonado apo logeta ai Ferndo Mendes Pimo, pp. 183-198, LLanciani, Giulia: Os Relatos de navfcigios na theratura portuguesa dos séculos XVI © XVII, «biblioteca Brave», Instituto de Cultura Portuguesa, 1979. (Faz um ba 19 relatos do sc. XVI e evidencia, nomeadamente, fontes, motivos ¢ variantes da sva festrutura narrativa, Extensa bibliogratia,) Graga, Luls:A Visio do Orionte na Literatura de Viegons: Os Viajant © 08 tineririos Terrostres (1560-1670), IN-CM, 198: Portuguesos aroto, Luis Filipe: Descobrimentos » Renascimento, IN-CM, 1983 (analisa obras {de Zurara, Alvaro Velho, Duarte Barbosa, Tomé Pires, Ouarte Pacheco Pereira o Garcia ‘de Orta), € Caminhos do Sabor no Renascimento Portuguds, IN-CM, 1985 analise, nomen damente, obras de D. Jodo de Castro © Garcia de Orta) Godinho, Vitorino Magalhios: Entre Mito e Utopia: os Descobrinentos, a conste lio do Espace e invencio da Humanidado nos séeutos XV ¢ XVI, in wRovista de Historia Economica e Social», n.° 12, Julho-Dez. 1983, pp, 1-44, (Sintess excelonte.) Margarido, Alfredo: Une incursion sociologique dans te domaine de ta critique tex: tuele. A propos de I «Historia Trigico:Maima», in Critique Textuelle Portagaise, Con ‘we Culture! Portugais, F.C. Gulbenkian, Paris, 1986, pp. 243-257. Sociologia da produ ‘cio e recopgio dos relatos de nautragios desde 1555, e sobretudo desde 1564, 0 da rocolha solectiva por Gomes de Brito.) Capitulo VII LUIS DE CAMOES Vida e obras A bingrafia © bibliografia de Luts Vaz de Canes levantam numerosos problemas insohiveis por falta de dados. Alguns factos apuradas como cettos, ou (os oficiais (registos das armadas, carta de pero, carta através de doo ‘on pagamento), de memérias eonservadas pelos primeiros bid spr de Cambes. e de alusses autobiont © poeta ou con obra, permitem formar uma ideia geral do que foi a vida Nascido em 1524 ou 1525 ', de uma fant provavelmente oriunda da vando novo, rodou na drbita de centros aristoeriticos (alver mesmo a corte), € fre ntow ao mesmo tempo a boda de Lishoa, As suas eartas particulares mostram-no cenvolvido em brigas nacturnas entre bandos, com outros fidalgos arruaceiros e com mille res fceis do Bairro Alto, Fosse pelo que fosse, esteve fora do eftento dos fetrados, espe ls, Talver uma vida desas istelavany em torno de Sa de Mir cialmemte daqueles que ursa 0 desclissificasse perante os graves desembargaklores © hot sossepada © av rs, ef tipo mas representative foi @ sew contemporineo Dr, AntGni Fe del : ; no re ‘Acabou esta fase da sua vide na prisio do Tronco, por causa de una rixa em que feria icionsrio de, Pago, Obieve a liberdsele com a promess como simples homem de guerra jlpe de espada un wr para India, para onde seguit em 1 ‘de embat uu alamo-lo no $6 em Goa, ms ainda 10 ‘A estadin no Oriente foi acidentads. Avs golly Pérsico, em Ternate, no desempenho de um cargo de proved de defuitos © wusentes * Sceundo o registo da Armada de 1580, que Ihe avibui 25 anos, pablicao por Faria sno deve presumir-se verde iy Fara ¢ Sousa (1517). Sousa, Este docun anieriormente adoptada pelo p as ISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA na costa da Cochinchina, onde naufragou, perdendo os haveres, e salvar se a nado com o manusctito d'Os Lun Em Goa Ihe faltaram, todavia, relagdes ¢talver proteegdes, que a inador Francisco Barreto representou 0 Auto do Filodemo; sobre 0 vive-tei D. Consta tino de Braganga compos cra objecto e the promo fades, episdidio que assinalow no proprio poc nplicagies que 0 Hevaram de novo a lia, por dividas, Naw is procutou: por ortalidade nos seus ve " “ sos; com 0 vice-rei Prancineo de Sousa Coutinho teve relagbes amistosas, De um deles obteve & nomeagio para a fei de Chaul, mas nio ehegow a ocupar 0 cargo. Manteve ainda relagdes de camaradapem 10, © comtinuador das Décadas, ¢ com o Dr. Gate jo Ditlogo dos Simples e Drogas esereveu una ole de recomenayio Em 1567, quando, apis tantos anos de estadia no Oriente, as dificuldades, ‘econsimicas 0 alfigiam mais do que nunca, um amigo nomeado com capitio para Mogan rego © na serviusthe de eset para mocambi strupo de outros amigos, le repressa 4 Lisboa, pois ee tednsito pa to contraldas¢ para st Vi a Metropole, que se eatiza entre i para té Lishoa, Aqui chogon 1.na bagagem Os Lusiadis, que logo tratou de editar; enteetanto foraThe roubds uma colectanea de poemas lirions, o Parnas Lusitano, seg nbeiro Diogo do Couto, Apss & publi Urienal, aliés modesta, © nem sempre pi corer; composigies Iitieas suas, ¢ até carts, foram recol dio. seu compa 10 d’Os Lusiadas (1572) aleangou una tenga a om rep 0 seu nome e puna os tes temuntios mais proximos. O sew enterro (1579 on 1SK0) teve de ser feito a expensas le uma insttuigio de henefiesneis, a Companhia dos Cortesos. passos dt obra bu Cambes a responsabilidade dos se Aesastres i passa de romance biogriico sem fundamen tuxo.o que dese ose XVIT a a > do clo KX ete ain acre de deseo aplicar a si proprio o verso de Bernardim: «Fui ¢ sow grande = Jumas caracteristicas gerais da poesia Escreveu August-Wilhel ratura inteira, Esta Schlegel que Camoes, s6 por si, vale una lite observagao fundament Ise decerto no facto de a obra mul iversas correntes artisticas e ideoldgi tifacetada de bes abranger sas do 1" FROCA ~ RENASCIMENTO & MANEIRISMO 319 século XVI em Portugal, ser elaborada sobre uma experiéncia pessoal iniiltipla que nenhum outro eseritor contemporiineo realizou, e de, enfim, teste poeta ter sido capaz de dar forma lapidar e definitiva a um conjunto de ideias, valores e t6picos caracteristicos da suua época. Quase tudo 0 que ara de Quinhentos, através de autores tio diferentes rreira, Fernio Mendes Pinto, Joao de se manifestou na lite como Bernardim Ribeiro, Anténio F Barros, ¢ até Garei 1a de Orta ou Duarte Pacheco Pereira, encontra eco na lirica ow na épica de Camées. Comparado com ele, qualquer dos mais notiveis eseritores quinkentis 1 por vezes mais profundo neste ou naguele ncompleto, embo Se o compararmos com os poctas humanistas, torna-s cexperiéneia vivida na guerra e tas nos ap aspecto particular evidente que nenhum deles pode exprimir ede fome: da vida oriental, da cadcia [Agora peregrino, vago, errant vendo nagies,lingung ‘céus varios, qualidade di emles. Agora com pobreza aborrecida por hospicios albeios degradado; agora da esperanga jd aquirida {de nove mais que nunca derribades agora is costas escapando a vida que de win fio pendia tio delgado. usa, referir-se as Poucos pocleriam também, com tanto conheeimento de Injustgas daqueles que 0 confaso ropimento do muiKls, antigo abuso, fez sobre 0s euttas homens poder0s0s, Se, por um lado, compararmos Camges com 0s experimentados viajan~ tes e aventureiros portugueses do século XVI, sentimos imediatamente a dife renga entre o humanista que medita a sua experi luz de uma cultura claborada, e os simples anotadores emptticos de casos curiosos ou espantosos: vida honesto estudo, sturado, Nem me fal long cn 320 HISTORIA D& LITERATURA PORTUGUESA Por outro lado, tese entre wa, como nenhum outro, Cami a tradigao litersiria portuguesa (ou antes peninsular) e as inova- des introduzidas pelos italianizantes. Foi o melhor poeta portugues de escola Petrarquista, e, ao mesmo tempo, o mais acabado artifice da escola do Cancioneiro Geral, na redondilhia ¢ no mote glosado. Foi o poeta que, fin mente, produziu uma epopeia, aspiragao literdria do Renascimento ports gues, refundindo t6picos que Anténio Ferreira ¢ outros apenas fi mente formu ementa m. De entre os prineipais géneros el os, $6 mio eultivou a uagédia, Viajante, letrado, humanista, trovador am lo, numa mio a pena e nowt gio, manuscrita, «grande obra di experiéneia de toda uma ci curou superar pela e1 \icional, f espadk, salvando a sua vid esfo- Jo num nautrs sumiu e meditou a ilizagio cujos conflitos viveu 1 “Jo artistica Camoes a sua carne e pro. BB Alguns aspectos fori is da Lirie: Como jai notdmos, s ‘guindo Si de Miranda e afastando-se de Anténio Ferreira, Canes cultivou igualmente a escola tradicional em redondilhia maior © menor (vilaneetes, cantiga tilhas, et mn port ‘cdo peninsul mposicdes obrigadas a mote, quin- ) € 08 géneros em hendeeassilabo. Num € noutro metro escreveu 16s € castelhai 0. Por af ele constitui uma ponte entre certa tradi F representada pelo Cuncioneiro Geral © 0s seiscentistas. Cambes atingiu uma mestria do verso que deixa para tras os seus ante cessores em redondilha ou em decassflabo. A arte com que histéria (como em Sete anos de pi interior (como na cangio Vinde ea ou nas redondilhas Sobre os rios), ow desenvolve musicalmente, como que sem diseurso, um tema tradicional (voltas 440 mote Saudade minha), ou discorre de modo reflexive (Mudam-se os tem- ‘mudan-se as vontades), fazem de C ra uma cu tor Jacob servia), ou estiliza 0 discurso os Wes, pela diversidacde do registo, uéncia, pela adequagio exacta a um sentir que MAF que se esti sentindo — 0 maior poeta por- Jo Pessoa pelo poder de intese, py pensando ou a um pe antes de Fer riedacle do ritmo camoniano evidencia-se nas cangdes € nas ode 5.4 EPOCA ~ RENASCIMENTO B MANEIRISMO x na con labos e hexassflabos, com predominio nente mais leves, Note-se que algunas as ou justapos- binacao estrfica entre decas: estes tiltimos nas odes, por isso rita Gologas niio passam de cangdes ou odes dialogalmente a {Gria, Mas as redondithas estao ne deixam-nos ¥ las sob uma convengiio pastoril ou pis ‘mente no pélo oposto: enquanto as 's parecem! tender par redondilh ulor lapidando os seus estados e divert lavores de joalhar verbal com que ele mesmo pare humor as vezes -se, Muitas destas composigdes sio caracterizadas por a nternecido, com que o poeta se di 0 especticulo dos seus propt miclerem-se dele € a moverem-se na sua semt- imentos, yentos € se esp azo € nas suas contradigdes, caso de Perdis: déncia faz de Camdes um dos precursores do conceptist s cif tendia, como vimos, a insistir no for » perdew pena. od poesia do Cancioneiro G ‘0 que sabia a escolasticismo no Cancioneiro Geral ganhi livre, onde 0 mito consciente © a hipérbole formular se confundk das redondilhas em que atribui aos olhos de Helena a verdura dos c coma luz dos olhos, faz parar a corrente as, onde abundam exem, plos de «discurso. ico do Quinhent para a poesia seiscentista, a qual em Espanha preferiu os géneros em redon- dilha aos géneros dev ‘ow exalta 0 encanto, de sigua. E sobretudo nestas co posigdes e hoso>, que enicontramios a tran redonditha camon No seu conjunto, a estéti: ut parar a das fases fi pela desenvoltura form moldes, pelo caricter prefixado ¢ impessoal dos trocadilhos, das imagens (jG reduzidas a emblemas usuais), pelo seu jogo consumado de ambiguida des que $6 a entoagio viva desfaz. Nesta arte de por fazendo glosas, Cambes lan: ponte que, em préprio estilo ckissico renascentista (muito mais discursive © ge “2 se possa com do estilo g6tico, como a fla nuelina, ejante ow a ma sta mais offeinal do que individualizada dos seus ‘como quem est a, por assim dizer, un arco sobre racional), parece unir © g6tico de Quatrocentos ao barroco de mes encontra usos superiores para recursos tradicionais: por exem- psicoldgica para 0 duplo significado da palayra pena. plo, toda uma teor a2 LMISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA 1 EPOCA — RENASCIMENTO B MANEIRISMO 323 Com imagens-simbolos formulares, conse} tos a expr: npor por mom tas vezes 0 magistério de Horicio e, de acordo alids com isso, assentam rito do leitor um senso do real bem diferente do senso comum: certas quali geralmente em alusdes mitolé ntre elas contam-se duas obras- ivas, se nao mesmo elementos ou esséneins, -primas, Nunca manha su: ,, encantadora sintese entre a eloqui tais 0 verde, a luz dos olhos amados; ou, pelo contririo, como que deseobre (8s, iron mais larga partitura fraseolégiea do petrar as qualidades neve, fogo, porque quismo renascemtista, e Pode um desejo imenso, uma das mais convincentes tais palavras trazem apenas & poes fectivo despertado por certas eitagdes sobre © amor que o neoplatonismo inspira, bes de ileias ou impressdes. No entanto, 0 terreno eleito da medit ¥e passarmos as formas de origem i os outras ten ode largo folego é em C mdes, a cangao, forma a que deu uma cerrada contextura reflexiva muito sua, sem figura que deixar de aprove! conseq déneias dos tormentos do amor, desde 0 &x: na alma do poeta se pina, desde 0 doce das mudaagas, externas e internas, ver ver ar nisso todos os m teriais de escola petrarquist sngaano inicial, até lesabato es romuanas (tempos, cas cespanhola e portuguesa. A cangiio eamor is metamorfoses em que se oper pdstrofes nem, por vezes, sos, que ne as conver ‘des epistola umm seu absoluto trausformar-se na vontade amada, Sem nunca deixar de ser verbais ow advérbios de lugar determinados sob 0 ponto de vista do destin chomem formado 96 de carne € osso», © Poeta impie-se todavia um verti tirio € nao do redactor: estive em ver de estou, ali em ver de aqui) conse- deiro martirio-testemunho de fé amorosa: «sofra seus males, pera que os disfargar, pois o remate, ou commiato, once o poeta acaba por se diti prdpria cangdo, se encarrega de sublinhar 0 seu isolamento, e até a As Gelogas, onde Cam@es reconhece explicitamente o seu débito a Vie- ailio © a Sannazz, extensa ci 0 noniana, embora a de Almeno papal onde « Agrsirio conten interessantes confissdes sobre o amor (que niio se verifi- use catia sento onde € iicito e perigoso), ¢ a chamada dos Faunos seja a melhor deur se jdtadle de um ta io admira, pois, qu meu tio certo secretirio, fale ao préprio ago . Vinde ‘0, constituem, pelas convengdes prdprias do género, nos interessante secgio da «medida nova ¢ ‘expresso de uma filosofia pan-erdtica als antiga: o amor estar 10 mar Vermetho, aprofunde a inguirigao bernardiniana acerea das ra radicais, do seu sentir-se as aproxinva- versoes, mais complementares do que jerarqui: de aperteigoamento, de Manda-me Amor que came docemente (ow Manda presente a tudo quanto aumenta ou simplesmente se m nuito infeliz, Pela extrao e das odes. Mas & na cis segundo uma ordem sucessivamente n sendo por seu inter Ritnicamente ma elegias, como entre os se reforma a matéria monstonas, na sua rigida cadéneia decassilibic ‘egos acontecia, nao apresentam q 4 de temas ou de tom, destacando-se entre elis poeta Siménides, faltndo, As oitavas, sempre enderesad nagens, 's moral ou politico provengal, res-comiuns, motivos ¢ figuras retéricas de tradigdo petrarquista concerto do Mundo, ou em que inter ce neoplaténica; a mater que, na auséncia do ma e que por isso ine Amor que came 0 que a aia sente) —~ € af que © poeta melhor apt idade ¢ os resultados da sua reflexao sobre o amor, Camdes nao eli ‘orrespondem um pouco ao rv merecendo relevo as que dedica ao Di mas tem a co m de perseguir até as mais ousadas conse- 1s resultados eptismo ido no Ultramar e aper- quéncias os paradoxos, analogias ¢ hipérboles da escola — ipocrisia da tei condenara dessa aparente aposta num jogo de conceitos, precursora do cot 1 pela miséria, se prost 0 degredo para a fndi a todas ay violéncias da marinhagem nse por vezes extraordinsrios: Camées descobre af o movi € da soldadesea, to mais fntimo, onde 0 eu € 0 nao-cu, desejo e A razZélo se converte ‘As odes, metricamente, so as mais gracioss composigies da «medida reciprocamente;'6\ist0 n (o poeta 0 proclan ntentada correspondéncia a estrofe aleaica ou siifi & mais © que canto que o que ent 324 ISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA POCA ~ RENASCIMENTO B MANEIRISMO. vs Assim, a sua tio insistente hipérbole segundo a qual a beleza amada Jia espiritos que sensibilizam os seres brutos, insensibili aparentem je dedutivo, como simples qua se usarmos terminologit da I6giea ckissica, diremos que o silogismo s dro de referéneia para variagdes; du, particla © poeta, converte-se em express cia aos dois termos do en com frequ ‘ou se amplia num eneadea- josamente directo, outros seus pasos), que a canglo nos dex les a tragar entre 0 eu € 0 nio-eu: Porque haveria de ser mais verdadeira a paisagem que imental mantém- 08 pret preparatérios: & o caso da série de paradoxos de Amor & um fogo que arde , ou de Un mover de othios, brando ¢ piedoso, em que 0 Pocta i mento polissilogistico; outras vezes, o quadro Iigico fund mitico (neste, como ali nas todo o calor emotivo se conee nos mome! nsamente perplexos acerea dos li no incendiada pelo seu desejo a banal? Mas t metamorfose do apet sem se v6 extético, a paisagem vista por um estado de al dade radical legtima, por sew twrno, carnal, em razdo («que era razao ser ar em que alinal 0 idealismo neoplaténico e, com ele, negam. E assim se evidene 4 proprias cate i qu fando 0 mesmo tempo para tal evidén perplex contradigdes seriadas, no p my sentimento dadlo por intos ou desejor peegi 0, mas para deserever um temperamento feminino, © em que eacla Ho ver cida»), momento decisive, sicamente muito concentrado, dilui os seus n belo Iga { mento métrico, Sob 0 ponto de vista estritamente ritmico, nao é menos admi- » de repouso fatigado e de imensidade espacial produzida pela ‘ohitica do soneto O eeu, a terra, oximéron, ou paradoxo f a ética cristd medieval contornes coneeptistas nu do amor, se existir um movimento imanente ana; evidl assustadora orias logicas ¢ morais hu ravel a sugest © poe! por isso logo a consagra como manitestagiio divi postu: cchumeragao suspensa, reticente ¢ quaise ani supra m 0 vento sossegado, } tom confitente eo individualismo ex: 6 inconformismo que luta pela sobrevivéne’ im encias do pensamento vulgar, uma nova adequaga0 mental ao ser-e- cerbuado pe icais, que «sai pela boca eon- vertido | expressos cont un No soneto atinge 0 poeta {que no tem paralelo em qu tor chissico, conferem ao Cambes er outro ese ia variedade, Deve advertir-se aque se ‘que, pela sua brevidade e pela sua estrutura, o soneto se presta a exereicios dle alyumas cangdes € sonetos um cardeter congénere daquel de engenho, como o vilancete e outras formas tradicionais; embora, por outro ; vencionow chat ico», Mas, no meio deste desabafo, 0 Pocta lado, a sua disposigdo em duas quadras e dots tercetos favorega um discurso cconserva-se Sempre atento ao desenrolar dos seus estados de espiito, & suces- cm tese eantiese, seguids de conclusiio e desfecho sentencioso; e, por outto } si das emogies, tecordagdes, descjos, pensamentos, as respectivas contra- ainda, essa mesma brevidade seja apropriada a uma grande concentrago : Uigies ¢ aparente irracionalidade, E uma inguirigio que procura sa emocional. Por isso o soneto foi preferide por poetas tio diferentes como as aspirages mais intimas, através das mudangas de um mundo hostil e ‘éror Violante do Céu, Bocage, Antero de Quental € Florbela Espane nivel de ignorar nt su objectividude, A realidude desse Cam@es usa largamente esta disponibiliade, variando imensamente 0 resto : survel com os ides cavaleirescos ow letrados, com a tia religiosa medieval, frascoldgico, numa gama que, por exemplo, se estende desde a aparente com a razio clasif escolistica, com o estilo literirio tradicional narrativa unilinear de Sete anos de pastor Jacob servia até i plangéncia A sua apreensao ¢ ainda a da sua relagao dialéctica com o espirito exigem magoda dos tercetos de Alma minha gentil, & rellexio como que pré-hegeliana | tum esforco inovador para romper o verbalismo que a maior de Mudam-se os tempos, mudan-se as vontudes e ao remate subilmente pparte das composigées em redondilhas. Obrigam a retoques deseritivos, a intrigante de Busque Amor novas artes, novo engenho, As vezes, como nas tiny nove uso dos recursos aptendidos nos ekissicos antigos € madernos, 80 eangdes, vem um golpe de génio animar um mero jogo de anlogias sevimulo de compuragies aproximativas, ¢ a verdauciras inovagdes metati conceptuais, © que acontece no primeiro tereeto de Quando 2 suprema dor rieas, em vez de (como nas redondilhas) simples glosas sobre frases ¢ meras muito: me aperta, Camdes ut iza, porém, muitas vezes o esquema ger ibinagdes de simbolos ou emblemas bem conhecides, Rr 326 [HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA nsdes fund: mentais da 1 ica de Cam Seria inexacto afirmar que a obra de Camdes nao pi ade uma «conge minagdo», um mondlogo filoséfico, Se assim fosse, terfamos um doutrins rio wa longa niio um poeta. No entanto, ¢ evidente que 6 poeta articul € varinda experineia em termos filosdficos e religiosos correntes na época, e que sentiu, a fundo, o desajustamento entre os ideais da sua forn escolar, liters quent 1s composigdes liricas, ¢ serve de ponto de partida a uma tut desajuste fundamental € fre: nent . © por veres com veeméncia drama |. eXPFESSO EM NUMETO- imtima em sconstituir nu i to que © Poeta tenta ficativa a confusio fragmentada e ¢% “des, muitos sonetos, certas redondilhs loga As doc vados, por vezes antité lidade harmoniosa, coerente e signi ‘ven, As. das situagoes como Sobre os rios que va cantifenas que cantavant so momentos sucessives, F cos, deste esforgo existéncia, Examinemos algumas tensdes dos rasta com a ficil r eos ¢ compatriot a esséncia nat nantes desse esforgo, que con- ndigdo devota ¢ © formularismo dos seus co maneciristas, aos quais nos a) O Amor. — Camdes i aligy todo 0 cristo culto da sua época e todo o poeta petrarquista, Os primeitos teblogos 6 jessara-se muito pelo neoplatonismo, como ios foram platonizantes, e 0 mesmo sucede com Santo Agostinho, a que de Aquino, Quando 6 Hum © platonismo a doutrina filosdtica pela qual se tentou a concil onsiste a voga de Pl nor provengal est informada de p sta: a Mulher apareei ‘como um ser angélico que sul a exerceu anteriormente a suscitou a Antiguid: Toms de, foi também nismo inas. Fis em que concepgao do » durante 0 Re i, no como uma companheira humans, ia dos amantes. Beatriz, as alturas, depois de so part ais importante da lirica an de Petrarca, Campes herdou esta concepedio da Muther edo Amor. Nos odes, cangdes ¢ redondilhas, a mulher amada ap luz sob ur seus sone: que Ihe transfi los de oiro, € 0 olh feniar © vento; i 1.4 FROCA ~ RENASCIMENTO MANEIRISMO ar sua presenga fiz nascer as flore: Toda a sus fi serenidade, © padrio de Laura, experiéneia vivida e eultu tais convengdes. E, assim, regista 0 conflito (¢ unido) e 0 ideal do amor desinteressado que consiste s6 no «fino pen Se como perceber que © amante deseje ver cor- ra 0 revestim de C ndes mal poderia cingir-se a Fe 0 desejo earn ‘o-amor & um «efeito da al — pergunta num soneto, Um no, aponta ironicamente esta contra poralmente a a de Filodemo, Dur pela activa (corpo vando que nenhum dos amador mente) ¢ 0 de estilo petrarquiano deixar seu apregoado ideal, quando Ihe aparega um ensejo. Ea .or foi deslumbradamente eantada por Camdes milla dos ‘em que Vénus desempenka um papel mp camtavam..., verdadei de proceder em contriio carnal Amores, central, como si loga As doces cantilenas que ro hino & sexuatlidade, encarada como principal forga eriadora da Natureza. Camaes tenta resolver esta tensiio pelos proprios meios do platonismo, jo de Santo Agostinho. ly ato que as qualidades pisdiio ds Lusfudas, poe ‘bolo e im: mento erético portu m do pretenso t a ver manitestagdes limi por nés experimen alas. no mundo em que vivemos 83 tadas © contraditérias de Ideias absolutas, isto 6, de atributos da divindade ago da Beleza plena, apenas serve de sombra. A belezat das coisas terrenas no passa de uma imi que existe substancialmente num mundo a que est al & a toria perfilhada por Camoes: aquela humana figura niio 6 quem se hile buscar 6 raio da Formosura aque, 96, se deve de amar, lL 1 € sombra daquels ideia ‘que em Deus est mais perteita E 9s que ed me eatv so poslerosos afeitos sujeitos: ‘que 08 coragdes te 38 HISTORIA DS LITERATURA PORTUGUESA Se confindssemos a nossa atengdo is estrofes fina 08 rios que vo, donde se extractam estes versos ¢ que constituen so nuclear da conceps: recer noniana do amor, poderia ps que © poeta lamenta 0 seu desatino juvenil de cant fano/ por versos de testa, ci F scuntares de amor pro: mor divino», Mas em e: ieriores Cumdes pro: \do Bosedn, que em todas as vicissitudes «teré presente a los ojos/por n muero tan contentor. F ea © to brusea tram a propria enigmy ica ¢ Sido, como simbolo da mera saudade do seu amor na mocidade terrena, para a Jerusalém Celeste, como simbolo da eternida mais ainda, 0 contraste entre 0 calor imediato de ja pre das saudades tern niciais ¢ 0 tom abstractamente parenético do deste cho (talvez escrito na velhice) sugerem bem qui pretende nada tem que ver com a extirpac: mas a sua transposigio a um plano, in © que, no fundo, Camoes 20, no espirito, do amor humano, navel mas a seu crer real, en se realize, embora no se saiba como, assumir uma configur Em varios outros 10 gndstica, esotérica, sobretudo na flha dos Amores. Issas, ¢ dos mais posticos obra, 0 objective ‘ nscende a razio. amente posto consiste numa realizagaio do desejo que E certo que © simples querer ver a amada pode, num excesso de requinte, ser qualificado como uma buixez («que amor nunca se afina nem se pura /enquanto esti presente a causa dele>); 0 poeta pode mesmo proclamar ‘com insisiéneia que «de meu no quero mais que o meu desejo~ munca recusit o que ele em desvaloriza. (nem mesmo em Sobre os rios) & esse mesmo desejo. Como jf vimos, a triplice cangao Manda Amor que cante mais no fivz do que reabititar tal desejo contra qualque se the oponha; & bela ode Pode um desejo imenso também exalt a superagio, i cago do desejo. Mais abstracto, o conhecido soneto Transforma-se 0 zuma raviio qu dor na cousa amada recorre me! «a para explicar que ad platéniea da Beleza e do Bem, desperta pelt amuida no seu espirito, nao passat afinal de uma como que matéria indefinida, que s6 objectivando-se numa form: se consuma, O pro: plena (e femininamente) humana, corpo e alny ai ble al de Camies - portanto, 0 de rea rada, por vezes entrevista, mas j infinito e de finito na sua ¢ um ansiado absoluto ¢ as su de tal sintes; mais consumada, entre aquilo que Ind de asia mais consciente, a do amor; € 0 da sintese possibilidudes vivemtes. E ma realizagao muito con inal, a propria expressio pottica, isto é, 0 facto 1 POCA — RENASCIMENTO B MANEIRISMO a9 de a tensio «sair pela boca convertida em canto», 6 facto de, por tal expres: io, se comunicar a outrem, se seternizar» enn tradi entre a espiritualidade e a earnatidade, entre Laura a tensio humana existente entre os objec literdria, social. A tensiio camonis Venus, sit tos imediatos, finitos e definidos a qui ‘© 0s objectos do comportamento consciente, estes escalonados de um modo tende 0 ria omportamento instintivo, i recuando infinita ¢ indefinidamente todos os que, tanto quanto possivel, obsticulos ¢ limites is aspiragdes humanas em progress, Dentro da con- cepgdio do mundo em que © nosso poeta se formou, a muther ora apare em estilo cortés medieval ¢ neoplaténico, como suserana distante ou mensa de um modo mais naturalista, como presa de caga nos Jardins de Venus. Em vez de uma sintese propriamente doutrinéria, Camoes ransmite-nos, entre os dois pélos da contradigio, uma tensiio postica bem, sta de Petrarea, seu modelo; di geira dos Céus, or Wo ma wnclio Manda-me Amor que conversio reeiproca realidade ide: ce até por vezes, cor inte docemente, certos relances fundos de w a propria marc ‘08 dois opostos, um esbago de dois pés, 0 pé do real © © pé do ideal, o de final, constantemente reerianco como coisa humana. Na Iha dos Amores niefinido, das Ansias em que 0 desejo se vai ido eo ‘6 descjo erdtico acaba por transfigurar-se no gozo do saber profiético © da contemplagao (esotérica’?) da prépr rqustipo. méquina do mundo ou de um transunto nte na lirica eamonia Um tema frequ incomensurabilidade ou desajuste entre as exigéncias intimas da vida pessoal e os meios que Ihe sio dados pi salistazer: Que sepredo tio drduo © tio profundo nascer para viver, © para av faltar-me quanto © mundo tempo tem para ela Ou entre o mérito individual ¢ a sorte do individuo Verdade, Amor, Razio, Merecim qualquer alma fario segura e Forte Posém Fortuna, Caso, Tempo ¢ S ko confuse mundo Regimento. LWISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA parece, pois, como um desconcerto, produto di confuso ¢ irracional, Mais fa nas oitavas Ao descon certo do mundo, ser louco, co ateniense que vivia feliz, stituiu, com a satide ment ‘até que um irmao, fazendo-o eu Este desajuste entre os valores & razio © 0 facto, catre as necessidades vivas © a sua satisfagdo poderia est i de Miranda ou de Fer a Os Disparates d wes, onde se podem reconhe: nes quase se redw ‘808 prprios ou lhe cer a troga a bazé a celesdstica (ems netido em pele de ovejam), & cobiga corruptora da jus- , remattando por esta exortagi Porque no pondes wi Wdicas ou guerreiras, que lobo esti em ti! 10 aos «secretitios» das conseiénc freio/a0 roubar que vai “mt meio/ debaixo Wes o problema central nao & 0 de injustigus sociais (que cle |. como veremos, em Os Lusfadas), mas 0 da niio correspon- ascios, os valores, as razdes ¢ a realidade da Vick lo mais sirduo quanto ce delas fa tudo deriva 0 poeta, esta no ii ‘© mundo sobre as Idei Este problema sente-0 com- igo de seu proprio exist ples congeminagées sobre matéria abjectiva, como sio os t6picos ualizadamente, torna-se ednscio ia vivida, O desconcerto do mundo reside ‘© um destino com que ele se 10 mesmo tempo, Ihe é opaco. ‘cdo entre ele, como pessoa paradigm aideia do progresso sobr rascentistas © até mes mos, n’Os Lusfadas, esti de todo do imediato desconcerto do mundo, exemplificado por anedotas historic usdes autobiogrificas, deste mundo onde conhece sem satisfaga0 nen mesmo abjecto de as veres, os mau. +, © poeta apenas concede vagas entidades que, temerosamente, Mudanga, sempre para Fortuna, @ Caso, ou Acaso, atbitririo), ¢ sob cujo signe EPOCA ~ RENASCIMENTO & MANETRISO a cos homens se arrastam de esperanga em esperanga, de desejo em desejo. Que grande alma gozou alguma vez uma felici cidade que se ni reduza a mera lembranga de outro ¢ anteri ¢ logro que & ? Solu aa vida bucélica epieuristicamente saboreada entre a pais ade presente? Onde uma felis sstadlo menos © cepticismo e 0 retire es wer idflica leituras predilectas, sob os auspicios de um mecenas (a aurea medioerites a hor audade, io viva do desconcerto, o didlogo ainda entéio mal nergulho na Fé herdada, portadora de uma Salvagdo inerente & observaincia do seu decéilogo — tal tos (hoje 6 Sbvio o egoismo ria» terrena, uma dew», resolvendo-se cencetado entre 0 imediato ¢ © infinite, por um ¢ ;prelar sem sobress ‘como 0 jul desta aurea mediocritas) esse pobre escudeiro portug ser um dos melhores poetas de Quinhentos. ial, O adesconcerto do mundo» inspira- ua portuguesa, podler int cera um letrado € se sal Este palative no 0 sosseta, a Ihe expressdes de O din em que nasci morra e pereea, © Poota, envellecendo, parece evoluir da teo we the 3 esgate do absurdo do ngxistia incompardveis na ling rafraseado do «Livro de Job». M platGniea, em que a aspira cia de um mundo inteligivel, co & fei rece como FeIni para o mundo pela graga do Deus pés-platénico de Sto. Agosti (amas so exper Mas @ melhor de tudo & erer em Cristo, A plenitude amorosa parece-the tao inatin ordem racional, Renuncia, aparentemente, réneias ¢ depoe « lira prot ivel como a apreensiio de uma mundo «desconcertado» das cantar a Divindade. No entanto este momento aseético & 86 um dos péilos da sua poesia, sendo > estética desse mesmo mundo das aparéncias, tio magni ficamente cantado ¢ fruido n’Os Luséudas, bem como em algun cem parte (no & de mais por cles eviada, na tenta interesse da poesia camoniana reside. repeti-lo), alterniincia dos dois polos, a STORIA DA LITERATURA PORTUGUESA tiva sempre inacabada e sempre recomegaida de os abranger numa totalidade cede Ihe dar um significado global, O mundo aparece em Camoes fragmentado, contradito peta dnsia e dor de neyar-se e fazer-se, tule (evolu tipiea do man no esti mais perto da inquiet cl com qualquer concepgao estitica do mundo, do que do equili é plole ‘o cosmos de esteras concéntrieas,limitado no espago € no tempo, constituindo um sister erdade que oo ¢ renascentista © mundo que 0 Poeta supde vive ico, em que a Terra, e portanto o homem (senhor, entdio recente, dos oc librado e cont os), ocupavato centro, mun +r humano, nessa concepcai, er: microcosmos, participante de todos os elementos edsmicos, e devolve fim ea loequi- 1ado em si mesmo, Os lemento que o compunha ao respecti desceria 2 Te alma irromperia sozinha para além da tiltima das esferas stes. May evidente que a problematic: sanquilizadora que co 10 cabe 1.0 stmaneirismo» se destari is conhecido depois 0 prdprio planeta se p ndo cad vez mais vast, Terra e do Céu deixa a causalidade que as vibragdes da angi nesta bela arquitect quando o continente num rderem, tro, quando a meci- nica d se, € 0 espago, © tempo, rens visuais simples. meditativa de Camoes exeedem esses qua- dros cosmolégicos e sociais onde © Poeta ainda se situa, Como ver Os Lusfadas exaltam uma divindade ainda esse almente concebid & luz avaleirosa, mas também exaltam, nos «términos vedudos» do espago divino. Na sti nos palpitante porque as vi | steaba por pasar & de uma ética de eruzada rica, 0 V indo as quis uma finsia, ou u na raze fs i780 contrivia, nem sempre sav do formulirio de tradigao petrarqu ta; hi um senso agudissimo, e sem pr cedentes, de como todo 9 mundo & composto de mudanga», composto de sim ¢ no, até a0 ponto de que nem sequer «muda como soia», infringindo as prprias leis ow ritmos j as quis «nto pode bi ou subconseiéneia dle um sno sei qué, qu no sei como, € dé conhecidos de mud: gas, sem. ver desgosto» auténtico, sao detectadas até & inefabili dade nasce nao sei onde/vem NeBO petrarquiano © bernardiniano nao sei porqué: it imagem, que net 1° EPOCA — RENASCIMENTO & MANEIRISMO 333 mente/me representa 0 bem de que carego/ mo faz de um certo modo ser ricamente fixo da perspectiva linear renascen: esto ambos, nesta lirica, jd despercebia: presente», © mundo geor tista e 0 da do, mente abalados por um violento sis seu epicentro ape do amor e seus objectos distantes. . embora a localizagao aparente do preenda uma dialéetica que quase se restringe &s énsias BIO ideal renasce ista da Epopeia rSico sobre a expansio portuguesa Ohum verso latino A ideia de realizar um poem manifesta-se ji desde o século XV, dentro e fora de Portug: iano Angelo Polic 8 seus feitos, € Luis Vives exaltow os Descobrimen D, Joiio III, No prélogo do Cancioneiro Geral, Garcia de Res mente cantados, Ant6- o ofereceu-se a D. Joao HI para ean os numa dedieat6ria Je Lament ‘que 0s feitos dos Portugueses nio estejam condig vezes manifesta — pela vide de um contrade a eserever a epopeia, nos Epititios de varios personagens hist6ricos, como D. Afonso Henriques, D. Dinis, D. Joao I, regente D, Pedro. Este projecto dos Humanistas relaciona-se com, o-romanos. AS 4 comparagaio emulador com o Ferreira apesar da sua versio ima, encorajou mai cele mesmo ensaiou o estilo herdico em mais de u reira e ma ode cio de ressuscitar um dos mais nobres géneros gi ueses prestavamese a un ‘ede Encias, assim como os seus feitos guer- as de Ulisses, dos Argor reiros com os dos Gregos e Troianos. Ivo, tinha para o classicismo do Renasei- Mada e ricas, a Argondutica de Apoldnio de Rodes ¢ a Eneida de . dividi- © género épico, isto & mento certas regras cram sobretudo, 1 Odisseia ho Virgilio, Assim se impusera o esquema de uma intriga dos deust na (uma g Jo muito de entre os ibstraidas de modelos, qu «los em partidos, numa determinada acgaio h neida, embora se tenha destac poemas herdieos em latim, deve considerar-se uma fo las regras, porque surgiu como repto imitative aos poem: ¢ civilizacional de que Virg! nuito afastados. Para Homero, os dew superiormente vivas, e por isso volun- (Ora estes correspondem a uma fa poetas do Renascimento ja esta ses constitufam entidades reais, for Lirias e antropomértic nda que irromp 4 HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA tas dos bandos dos guerreiros ou piratas dos arqui terrineo oriental, 9 soalmente os e costas do Medi uilos séculos antes de Cristo, Cada qual deles esti pes- mpenhado em aleangar a vit6ria para o seu bando de Fes, € portanto o seu ver, pondo \lorado Os homens, por sua prova os seus misculos em combates singulares, ou a sua ast sar 0 adversirio, ¢ inhaum. proporgdes sobre-humanas, eandidatam-se & imortalidade. Por isso os poem cos earacterizam-se pelo relevo impressionante ¢ inesqueeivel dos seus herbis. Se quisermos um paralelo, devemos procuri-lo lizagies até certo ponto comparév des prezas: 0s Niebeluns aay Sagas istandes rio do justo é 0 de um cl cia.em 3s deuse adversos, ss homéri- 18 epopeias barbaras de eivi- a que precedeu e originou das cida. Chanson de Roland, © Cantar de Mio Cid, IS, COM OS qua ida. Aquiles 0 iracundo, Ulisses das 1 Roldi 10 0 prudente, ¢ ainda Cid o campeador, embe complexo porque mais hist6rico, constite pela imag mv unma galeria de herdis criada nagio epopeica na sua fase propria, Notemos que nestas epopeins medievais © maravilhoso mitoldgico desempenha umn papel muito menos importante do que nos poems homéricos e, em geral mundo eta mais racionalmente unitiria (monote(sta. Deve acrescentar-se que estes poemas, surgiddos na fase da literatura oral tos de acontecimentos veridiens, que as sucessivas ver ando na que aeabou por ganar a f ais inverosimeis. Mas jé a Eneida & segundo um modelo literdrio, e deve o interesse sein repetigdes e unilinearidades «pri Eneias, 2 oposigdo oratéria entre person tidos como re ses, cu wt escrita, foram torr cada vez n poem de escola, feito dada factura, jd tivas», a0 trigico amor de Dido a 8, € a oUtras qualidades do mesmo teor. As personalidades dos herdis vao-se apagando, destitufdas de mola inte: jor, como € flagrante no caso do «pio» Eneias, joguete nas miios dos dew ses, que de resto jd na época de Virgilio tendiam a converter-se em alego: rias filos6ficas ¢ politicas. O Estado juridicamente definido absorvera o destino doy antigos hersis gemtiticos, mais individu: Ressuseitar a epopeia homérica 6 espirito abstr quando 0 se prestava & ssica, earacteris tor de um mundo 4 admiragao de herdis s tica do género, era un alismo de insin nho dos poetas. idivinos, 1 expres um certo n 0 estética ~ 3. BPOCA — RENASCIMENTO B MANEIRISMO as Os poemas épicos do Renaseimento ow sio romances cavaleirescos ver: 10 @ Orlando Enamorado de Boiardo ¢ 0 Orlando Furioso de orias jd sem a Ariosto, ow procuram reflorir, com grande margem de Jerusa- como lo XII formas. idacde, desde 0 sé 16m Libertada de Torquato Tasso. narrativas modernas (0 conto, a novel arragao oral ‘¢ sobretudo o romance) sobrepunham- de pragas ou iga (para -se ao género épico. A {estins) de um mundo animado e maravithoso, onde cada herdi 4 sua propria lei, por entre as intrigas de uma outra humanidade superior, talhanclo dos deuses, hi agar, em geral, 2 leitura (muda, out em pequenos grupos) de enredos em cendrios bem mais limitados, num mundo de coisas inertes, as aspiragdes de desprovido de qualquer maravithoso capaz, de enquadr 10 individualismo (que afinal se reajusta transferindo-se «le condigies Ia vex mais burguesas). Criagdes eruditas ¢ arti- mas renascentistas em que Se procurou res suseitar a epopeia chissica dentro dos eanones homéricos ¢ virgilianos como a Franciade de Ronsard, cujo eanto Le tice sait no (Os Lusfidas nente 0 desider

Вам также может понравиться