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Sexta-feira
8 Janeiro 2010
www.ipsilon.pt
Um clique
A cultura nos anos 00
na década
Espaço
Flash
Em época Público as minhas referências do “shoegazing” dos
de balanço, vão para dois projectos anos 80, o que, por si só,
não resisti a estreantes: os semi- poderá levar a pensar
escrevinhar obscuros Girls (de que se trata de mais
também as minhas Christopher Owen) e os uns teenagers pseudo-
escolhas. Dos consensuais XX. Ambos deprimidos. Desenganem-
consagrados, haveria criaram obras notáveis, se. Não cabendo em
muito por onde escolher ainda que, bastante nenhuma das categorias
mas limitar-me-ei a distantes musicalmente. anteriores, seria pecado
referir duas hipóteses: Se o primeiro prima pela capital deixar de referir o
os escoceses Camera diferença e intensidade segundo trabalho de Elvis
Obscura e o veterano (elejo o tema “Hellhole Perkins (“Elvis Perkins in
norte-americano Bill Retrace” como épico do Dearland”).
Callahan. No entanto, ano), os segundos movem- António Freitas, radialista,
curiosamente, este ano se num terreno devedor 38 anos
David Maranha
em aventuras
além-fronteiras
no início de 2010
A editora Roaratorio prepara-se
para lançar, no final de Fevereiro,
um novo álbum do português David
Maranha. “Antarctica”, o sucessor
de “Marches of the New World”
(décimo lugar na lista de música
pop do Ípsilon, em 2007), terá o
selo da casa editorial norte-
americana, que já lançou trabalhos
de gente como Chris Corsano, Ben
Chasny (Six Organs of Admittance),
Joe McPhee e Vibracathedral
Orchestra.
Ao Ípsilon, Maranha adiantou que o
som não será muito distante do de
“Marches of the New World”. Ou
Sumário seja, dizemos nós, música contínua,
de desenvolvimento lento, mas
Música 8 vigoroso, algures entre o
Eu sou a minha cena musical minimalismo de Tony Conrad e o
O dia em que Cormac McCarthy lado mais exploratório dos Velvet
Underground. A formação será
Cinema 12
composta pelo próprio Maranha
Cinema anos zero
viu “A Estrada” (órgão e violino), Riccardo Dilon
Wanke (guitarra eléctrica), João
Exposições 16 Foi um momento de agonia Hillcoat, tentando controlar filho que tentam sobreviver Milagre e Stefano Pilia (baixo, no
Os anos da sincronia para o realizador John o nervosismo, perguntou: no pós-apocalípse. lado A e B, respectivamente) e
absoluta Hillcoat e para John “Então?”. Mas McCarthy Quando se despediram, Afonso Simões (bateria). O álbum
Penhall, o argumentista disse apenas que precisava Penhall pediu um será lançado em vinil, com uma
peça de cada lado.
Livros 20 que adaptou para cinema o de ir à casa de banho. autógrafo. McCarthy A confirmar que o início de 2010
Os livros estão livro “A Estrada”, de Demorou o que pareceu assinou um exemplar de será preenchido para David
nas nuvens Cormac McCarthy: o uma eternidade. Mas “Meridiano de Sangue”: Maranha (que pertence aos
próprio autor – quando voltou lançou: “É “Do teu amigo Cormac, históricos Osso Exótico) está a
“frequentemente descrito bastante bom”. Hillcoat mal Albuquerque, Novembro participação no projecto Box, em
Teatro/Dança 24
Bruxelas, entre 30 de Janeiro e 2 de
As artes performativas como ‘o maior autor conseguia acreditar. 2002”. Mas era Novembro Fevereiro. Nesses quatro dias,
à porta dos teatros americano vivo’”, explica “Verdade? Não está só a ser de 2008. O argumentista Maranha e outros músicos (estão já
Penhall – vinha assistir à simpático?”. “Ouçam”, virou-se para o realizador confirmadas as presenças de Ben
apresentação do filme. respondeu, “não fiz estes em pânico: “Meu Deus, Frost e Helge Sten, dos Supersilent)
“Sabíamos que só a quilómetros todos só para John, quanto é que nós vão estar em estúdio, sem
quaisquer planos prévios. O
aprovação de McCarthy nos vos dizer uma mentira”. A bebemos? Ele tem que resultado será editado pela Rune
permitiria lançar o filme adaptação é “muito guiar de volta para Santa Fé Grammofon, importante editora
que realmente queríamos poderosa”, continuou à noite – se acabar numa norueguesa de música
fazer. Sem ele ficávamos à McCarthy. Gostou muito da vala seremos os experimental. Pedro Rios
mercê de investidores cada voz “off” (opção que tinha responsáveis. Teremos
vez mais nervosos e o nosso sido polémica) – o que fez morto o maior escritor
futuro em Hollywood Penhall ter vontade de “o americano vivo.”
estava em risco”, escreve levantar no ar e dar-lhe um Mas no dia seguinte, às oito
Penhall num texto no diário abraço”. Acabaram a comer da manhã, estavam a
“The Guardian” no qual – e a beber – juntos. Falaram receber por fax as páginas
recorda esse momento em de John, o filho de 11 anos de das notas que McCarthy
Ficha Técnica que o escritor chegou a McCarthy (que tem 76 anos), tomara durante a
numa sala de projecção e a inspiração para a projecção. Havia um
Director Bárbara Reis deserta em Albuquerque, personagem da criança de diálogo “importante” que
Editor Vasco Câmara, Inês Nadais vindo de Santa Fé no seu “A Estrada”
A Estrada não estava no filme e,
(adjunta)
Conselho editorial Isabel velho Cadillac prateado. – história segundo o escritor, devia
Coutinho, Óscar Faria, Cristina Assim que a projecção teve sobre a estar: quando o filho diz ao
Fernandes, Vítor Belanciano início, McCarthy “começou ligação pai: “O que farias se eu
Design Mark Porter, Simon a tomar notas no seu entre um morresse?”, e o pai
Esterson, Kuchar Swara bloco”. No final “tinha pai e um responde: “Quereria
Directora de arte Sónia Matos
Designers Ana Carvalho, Carla páginas cheias das malditas morrer também”.
Noronha, Mariana Soares notas”. “A Estrada” está nas salas
Editor de fotografia Miguel A agonia prolongou-se. portuguesas [ver crítica
Madeira Quando o filme terminou, neste suplemento]. A.P.C.
E-mail: ipsilon@publico.pt John Hillcoat
Perdidos. Na imensidão do espaço vas, se alteraram profundamente. estrutura narrativa reproduz estraté- perplexo, num primeiro momento. O
digital. No excesso de informação. Na Foram dez anos esquizofrénicos em gias de propagação viral no imaginá- mesmo apetece dizer em relação ao
proliferação de suportes, de manei- que as actividades culturais se con- rio colectivo, alegando teorias e inter- que se passou na década que finda.
ras de ouvir, ver, ler. Em todo o lado, frontaram com uma espécie de esva- pretações paranóicas, assentes na Quem continuou a usar velhas grelhas
a toda a hora, procurando, com an- ziamento, mas em simultâneo foram procura de um sentido para um pu- de leitura para pensar o que se passou
siedade, a qualidade na quantida- vistas como veículo de desenvolvi- nhado de personagens que se encon- na música, no cinema ou nas artes,
de. mento económico, servindo para ima- tram algures, sem noção de espaço e saiu dessa análise confundido, suge-
Foi assim que vivemos a primeira ginar soluções para o crescimento de tempo, lembrando o dispositivo rindo que nada de expressivo acon-
década do século XXI. Foram dez sustentável. cenográfico criado por Lars Von Trier teceu, não porque nada tivesse suce-
anos em que as condições de produ- “Perdidos” é também nome de uma no filme “Dogville”. dido realmente, mas porque o que se
ção, existência, partilha e distribuição das séries de televisão mais iconográ- Quem tentasse ver “Perdidos” re- passou se manifestou de maneira di-
da música, do cinema, da literatura ficas da década. Uma espécie de mi- correndo aos modelos habituais para versa, a um nível micro, de forma rá-
ou das artes, plásticas e performati- tologia unificadora destes anos. A descodificar as séries de TV, ficaria pida, disseminada, sem que muitas
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Eu sou a minha
Os anos 2000 serão mais recordados pela tecnologia que pela música. Não que a música seja n
mais marcantes. Não por acaso, só nos encontramos todos em volta dos Beatles o
h Ninguém quer líderes ou pregadores. Ainda assim, f Os Animal Collective, tendo em conta as marcas da
continuamos fascinados com figuras dessa dimensão sua música, são o grupo mais influente deste tempo. Mas
icónica. Durante os anos 2000, foram os Rolling Stones, seria igualmente válido afirmar que as bandas mais
não os Coldplay, a banda que mais lucrou em digressão. influentes da década não nasceram nela: não são os
Os Beatles, com a edição da sua discografia Cure e os Joy Division aquilo que ouvimos nesse
remasterizada, escalaram os topes mundiais. Michael saturante revival pós-punk/80s que nos acompanha
Jackson foi chorado e reavaliado e reconquistou o trono desde 2001?
de Rei da Pop
dos álbuns obscuros, propriedade de uns poucos resistentes à dominação do “mainstream”, para aquele “I had
everything before everyone else” que os LCD Soundsystem cantaram em “Losing My Edge”, a canção que melhor
expressou a decisiva ruptura com o passado vivida nos anos 2000
da experiência musical, da audição de um extremo da década para o ou- em casa e disponibilizá-lo a partir de naram a música omnipresente no já não existe, passou dos álbuns obs-
de música à criação de música, que tro, perguntar-se-ia que raio se tinha casa), com as mil possibilidades cria- quotidiano, mas não a tornaram mais curos, propriedade de uns poucos
nos trouxe até aqui: a um ponto em passado entretanto. Nos anos 2000, tivas geradas pela facilidade de aces- importante: “O tempo voa quando resistentes à tenebrosa dominação do
que já não nos reconhecemos naqui- porém, o choque não seria tremendo. so a toda a história que a antecedeu estou a ouvir música. É assim: ‘hmm, “mainstream”, para aquele “I had
lo que éramos quando, na passagem Praticamente nada de 2009 seria ir- (“o câmbio actual do conhecimento o que é que estava a ouvir há dois se- everything before everyone else” que
de ano de 1999 para 2000, festejámos reconhecível em 2000 – esta foi a dé- de álbuns obscuros está abruptamen- gundos?’ Mas como que nos habitua- os LCD Soundsystem cantaram em
a inexistência do apocalíptico “bug” cada em que toda a história pop se te tão desvalorizado quanto o dólar mos a isso”, descrevia um nova-ior- “Losing My Edge”, a canção que me-
do milénio. reencontrou, se misturou e remistu- zimbabueano”, lia-se na última edição quino de 18 anos em artigo publicado lhor expressou a decisiva ruptura com
Recentemente Alexei Petridis, crí- rou nas mesmas ou em novas combi- da Word), esta será uma das décadas no site da NPR. E, finalmente, porque o passado vivida nos anos 2000.
tico do “Guardian”, propôs um exer- nações, em que todos os tempos co- mais ricas da pop – mas paradoxal- a net e as suas redes sociais, a intensa Numa década iniciada com a acla-
cício. Olhando para a música que se existiram num imenso caleidoscópio mente, longe de ser das mais marcan- actividade divulgadora dos blogues e mação geral a “Is This It?” dos Strokes
ouvia no início de uma década, e aqui- de sons. tes. Porquê? Porque o cenário está a capacidade de agregar gente em seu e que teve como último álbum con-
lo em que se transformara no final, Em retrospectiva, esta década será sobrepovoado e o consenso é inexis- redor, geram pequenas comunidades sensual, enquanto marca geracional,
teríamos uma panorâmica da sua di- mais recordada pelas transformações tente (nunca se anunciaram tantos de consensos, tornando profético al- “Funeral”, dos Arcade Fire; numa dé-
nâmica transformadora. Nos anos tecnológicas que pela música ela mes- “álbuns do ano” ou “melhores discos go que Momus escreveu no distante cada em que se assistiu à ascensão de
1960, alega Petridis, passou-se do “ski- ma. Não porque a música seja negli- da década” como hoje, nunca se des- ano de 1991: “no futuro, todos serão M.I.A. como alguém que transportou
ffle” para Jimi Hendrix. Nos 1970, de genciável. Pelo contrário, com a de- confiou tanto dos “álbuns do ano” ou famosos para 15 pessoas”. para o centro da pop expressões mu-
Jethro Tull para Gary Numan – e qual- mocratização dos meios de produção “melhores discos da década” anun- A noção de exclusividade, tão que- sicais até então marginais e em que
quer um que se visse teletransportado (qualquer um pode gravar um disco ciados). Porque o iPod e os MP3 tor- rida da ética indie num passado que Timbaland e os Neptunes transfor-
Álbuns da década
a João Bonifácio a 1. cLOUDDEAD DEAD
Ten; 2. Scott Walker The Drift; 3. Sil-
ver Jews Bright Flight; 4. Kimmo mmo
Pohjonen Kalmuk; 5 Edan Beauty y and
OutKast,
T Beat; 6. Radiohead Kid A; 7. The
The
“Speakerboxxx
N
National Boxer; 8. Camané Sempre pre de
The Love Below”
M
Mim; 9. Zé Mário Branco Resistir É Venc-
er; 10. Danny Cohen We’re All Gunna a Die; 11.
El-P Fantastic Damage; 12. Wilco Yanke nke Hotelk
Foxtr
Foxtrot; 13. Galandum Galundaina Modas I Anzo-
14. M.I.A. Kala; 15. Notwist Neon Golden; 16. Bill
nas; 14
Callaha
Callahan Sometimes I Wish We Were An n Eagle; 17. Jan
Jelinek Kosmicher
K Pitch; 18. Murcof Remembranza;
membranza; 19.
D’Angelo Voodoo;
Vo 20. Boards of Canada Geogaddi
gaddi
a Luís Maio a 1. An
Antony and the Johnsons I am a Bird Now; 2.
Vampire Weekend Vampire Weekend; 3. M.I.A. Arular; ar; 4. Buena
Vista presents Cachaito
Cacha Lopez; 5. Sonantes Sonantes; s; 6. Tinari-
wen Radio Trisdas Sessions; 7. The Avalanches Since e I Left You;
8. TV On The Radio Return To Cookie Mountain; 9.. Ali Farka
Toure & Toumani Diabate In The Heart Of The Moon; on; 10. LCD
Soundsystem Sound Of Silver; 11. Devendra Banhart hart Rejoic-
g in the
ing t e Hands;
a 12. Benjamin Biolay. negative; 13. Youssou
N’Dour - E Egypt; 14. Grizzly Bear Veckatimest; 15.
5 Salif Keita
Mouffu; 116. Lila Downs La Cantina; 17. Herbert Bodily Functions;
18. Spac
Spacek Curvatia; 19. Rokia Traouré Tchamatche; 20. Orches-
ttra
tr a Baobab
Baob Specialist In All Styles
a Vítor Belanc
Belanciano a 1. The Knife Silent Shout; 2. LCD Soundsystem
LCD Soundsystem;
Soundsy 3. M.I.A. Arular; 4. Burial Untrue; 5. D’ Angelo Voo-
doo; 6. Arcad
Arcade Fire Funeral; 7. Herbert Bodily Functions; 8. TV On LCD Soundsystem,
The Radio R Return To Cookie Mountain; 9. OutKast Speakerboxxx The “Sound Of Silver”
Love Below; 10.1 Dirty Projectors Bitte Orca; 11. Kanye West Late Reg-
istration; 12. Robert Wyatt Cuckooland; 13. Animal Collective Mer-
Po
riweather Postost Pavillion; 14. Spacek Curvatia; 15. Panda Bear
Person Pitch
Pitch;
h; 16. Björk Vespertine; 17. The Strokes
This Is It; 18. Buraka Som Sistema From Buraka To
The World; 119. Vampire Weekend Vampire Week- Weekk-
end; 20. Ricar
Ricardo
rdo Villalobos Alcachofa
Herbert, “Bodily
Functions
D’Angelo,
The Strokes, “Is This It?” Animal Collective, “Feels” e “Merriweather Post Pavillion” “Voodoo”
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A colaboração entre o
pianista João Paulo,
figura fundamental da
música portuguesa, e o
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1. Uma década é uma unidade de capável, para mais numa década em que anuncia o passado e não o con- dor, o que vê filmes mas não paga.
tempo tão arbitrária como outra qual- que nos foi sendo garantido que tudo trário. Faz “downloads”, duplica, copia, vê
quer, um utensílio fornecido pelo – da política, ao jornalismo, ao cine- os filmes mas não paga – é um espec-
calendário para tentar impor uma ma – estava a mudar ou já tinha mu- 2. Houve uma coisa que sempre, ou tador de cinema que deixou de con-
“ordem” ou, como nas narrativas, um dado. desde cedo, tinha sido sólida e ruiu tar, economicamente, como “espec-
“princípio, meio e fim” àquilo que, No princípio da década o 11 de Se- durante os “anos zero”. A boa per- tador de cinema”. Só existe como
na imparável dinâmica das coisas, tembro “mudou” o mundo, e no final gunta do parágrafo anterior: o que é buraco (de milhões) nas contas de
não possui nada disso. Fazer “balan- da década foi a prometer “mudança” um espectador de cinema? Em 2010, Hollywood. O filme de James Came-
ços”, impor um princípio de ordena- que um novo presidente foi eleito nos passar os olhos pelos “anos zero”, e ron, renovando a “experiência da
ção, encontrar uma “narrativa” que EUA. O cinema chegou a 2009, com particularmente pela indústria ame- sala” (para preservar, chamemos-lhe,
se distinga de outras, é um impulso “Avatar”, a anunciar uma “nova era”, ricana durante este período, não po- a “experiência da caixa”) através das
humano antes de ser um impulso cul- um “cinema do futuro”, final perfeito de ignorar isto, tanto mais que alguns 3D, é a solução milagrosa para re-
tural (ou é um impulso cultural por- para uma década obcecada com a dos passos decisivos dessa indústria chamar os tresmalhados e garantir a
que é um impulso humano). Não é mudança. E nós, espectadores (outra (“Avatar”, mais espectacularmente) manutenção da indústria como a co-
mau, não é bom, é o que é. Um tipo boa pergunta posta pela década: o foram uma resposta. Mesmo durante nhecemos ou é um estertor a prenun-
de arbitrariedade para tentar domes- que é um “espectador de cinema”?), a grande crise provocada pela expan- ciar uma transformação ainda inima-
ticar a arbitrariedade “cósmica”. Se o que é que vimos nos “anos zero”, o são da TV, nos anos 50 e 60, as coisas ginável? Pese o optimismo das máqui-
não esquecermos isto, pode-se espe- que foi isto? continuaram relativamente claras: nas de “marketing” (cuja função é
rar do exercício que seja minimamen- Vale a pena ensaiar uns passos por sabia-se o que era um espectador de promover o optimismo) e as certezas
te proveitável. Arbitrário por arbitrá- esse sinuoso caminho, na certeza de cinema e o que era um espectador de dos cretinos das caixas de comentá-
rio, faz tanto sentido falar do decénio que ficaremos longe de o esgotar e, televisão. Qualquer deles pagava, de rios (cuja função é promover o “ma-
1997-2007 como de 2001-2010 (como, outra advertência prévia, que para uma maneira ou de outra, para ver rketing”), “Avatar”, no que toca ao
tecnicamente falando, devia ser). Mas uma visão mais clara e seguramente filmes, para ver televisão, para ver “cinema do futuro”, deixa mais per-
por que não, e viva a força dos núme- mais completa dos “anos zero” do filmes na televisão – desde a primeira guntas do que respostas.
ros redondos, os “poderes do 10” e século XXI o melhor é dar um salto a sessão dos Lumière que o “espectador
o “mistério do zero”, falar de 2000- 2030. O tempo é severo mas é dele de cinema” era aquele que pagava 3. O espectador de cinema dissolveu-
2009? Os segundos “anos 00” da his- que vem a luz e, como sabem todos para ver um filme. Os “anos zero” se como entidade económica estável
tória do cinema: o simbolismo é ines- os que gostam de cinema, é o futuro trouxeram um novo tipo de especta- porque a tecnologia chegou a um pon-
g As propriedades “domésticas” dos aparatos digitais gNo caos de um mundo encharcado de imagens:
propiciaram uma nova voga do registo diarístico, pessoa, “Afterschool”, de Antonio Campos, “Caché” de Michael
de que os exemplos mais conhecidos serão os filmes de Haneke. Mas houve quem continuasse como se nada fosse:
Agnès Varda: “Os Respigadores e a Respigadora”, a abrir Rohmer, James Gray, Wes Anderson, Oliveira, Rivette,
a década, e “As Praias de Agnès”, a fechar Godard, Kaurismaki
“I Don’t Want to Sleep Alone” “Sarabanda”, Ingmar Bergman “Mulholland Drive”, David Lynch “Lost in Translation”, Sofia Coppola
Tsai Ming-liang
Cannes
îscares 2008 Festival Globo de Ouro Globos de Ouro Film Festival
de Cannes 2007 2008 1958
Melhor 2003 Melhor
Vencedor Melhor Actor Palma de Ouro
Argumento Original Filme Estrangeiro
Cmara de Ouro ( Jack Nicholson) Prmio Especial
Melhor Realizao do Jri
Academy Awards
Festival de
Festival de Veneza Cannes Film Sundance 2003 Cannes Festival
2004 Festival 2002 Prmio do Pblico, Film Festival 2005 de Veneza 2003
Prmio UNESCO Prmio do Jri Melhor Argumento, Vencedor da Palma Seleco Oficial
Melhor interpretao de Ouro Leo de Ouro
RUI GAUDÊNCIO
“Le Temps, Vite”,
a exposição que
o Pompidou inaugurou
na vertigem da entrada
no novo milénio, foi um
prognóstico do estado
da arte nos anos 00
Os anos da sincr
Chamava-se “Le Temps, Vite”, ou se- so. Donde o problema da escolha, da vistos de cima, Telheiras e Brooklyn Modernidade, pós-moderni toriador norte-americano Hal Foster.
ja “O Tempo, Rápido”, e inaugurou filtragem. É preciso aprender a ames- são e não são a mesma coisa. Onde Continuando: “Apesar de haver uma
no Centro Pompidou, em Paris, no trar esta memória para que ela não o jardim babilónico que falta plantar dade, altermodernidade longa história de vanguardas moder-
ano 2000, em plena vertigem da en- nos subjugue.” no Dubai é fabuloso no mesmo mo- Foi há dez anos. Entretanto, ao que nas e de a vanguarda se ter definido
trada no novo milénio. Na entrevista A Internet, pois, esse não-tempo mento em que o atentado de agora tudo indica, a maior parte de nós sempre através da ruptura com o pas-
que deu para o catálogo, Umberto Eco contínuo, espécie de super-consci- em Carachi é um horror a cair-nos habituou-se a fazer da ilusão, do caos sado, na verdade, sempre ficou ligada
usava a expressão: contemporanei- ência extática, onde o Big Bang está em cima com todo o pó, os mortos e de todos os nivelamentos, por baixo ao passado. Já a arte contemporânea,
dade absoluta. “Todas as sociedades, constantemente a criar o universo, e o sangue (e, afinal, onde é que fica ou por cima, uma experiência positi- especialmente porque é uma arte glo-
como todos os indivíduos, vivem so- hoje. Onde as Torres Gémeas e os Carachi?, perguntamos ao tipo que, va, e isso foi suficiente para o nasci- bal, perfila-se como uma vasta pre-
bre a memória. Sem memória não há Budas de Bamyian caem e voltam a ao mesmo tempo, temos na outra mento de um novo universo global, sença que vemos mais como um gran-
duração, não há alma”, dizia. Expli- erguer-se todos os dias. Onde os bai- ponta de um chat Lisboa-Bombaim, de uma nova forma de estar e pensar de campo horizontal.” E depois a
cando: “Todas as épocas tentaram larinos de Pina Bausch hão-de dan- um tipo que não conhecemos mas tão antiga quanto a filosofia holística pergunta recorrente: “Terá a tensão
captar toda a memória possível por çar uma e outra vez “A Sagração da que, em segundos – quando esque- dos Veda hindus: uma forma de estar entre o presente e o passado sido es-
todos os meios possíveis, como se a Primavera” ao som de “Thriller”, de cermos Carachi – , nos vai fazer che- e pensar sincrónica, em vez de dia- ticada ao ponto de ruptura?” E a res-
memória dos anciãos não fosse sufi- Michael Jackson, porque estranha- gar o filme que está a montar e es- crónica, viral, não-linear – um univer- posta: “Acho que sim.”
ciente.” mente resulta, como se sempre ti- treia daqui a um mês em Los Ange- so de contemporaneidade absoluta, “Ao longo dos últimos 20 anos, a
O desenho, a escrita e os livros; o vesse sido assim. Onde Leonardo da les). de facto. Tão absoluta que se tornou arte tornou-se internacional e depois
teatro e a dança; a arquitectura e a Vinci e Picasso são contemporâneos “Convém não esquecer que a con- categoria, em si. global. Hoje há todo o tipo de tradi-
estatuária; a pintura, a fotografia e o de Warhol, Bansky, Jagdish Swami- temporaneidade é, por vezes, uma “Nos primeiros anos do século XXI ções e histórias da arte a considerar.
cinema; os museus e as bibliotecas... nathan, Subodh Gupta e todos os ilusão. Assim, no momento em que a arte flutuou livre de qualquer liga- Não há uma, duas ou três linhas que
“Hoje, o que é que acontece? O arqui- artistas conhecidos e desconhecidos dispomos da contemporaneidade ab- ção à História e à teoria. Tornou-se, possamos traçar ao longo do tempo
vo, tanto quanto a memória que con- de antes, agora e por vir. Onde arte soluta, podemos também ser mario- de certa forma, numa categoria artís- e que funcionem e possam conferir
tém, tornou-se enorme. A Internet é arte, mas também tatuagem e por- netas da ilusão da contemporaneida- tica em si. Um campo independente”, um sentido narrativo ao presente. De
encerra a memória de todo o univer- nografia, ao mesmo nível. Onde, de”, dizia Eco. dizia-nos há semanas o crítico e his- uma forma ou outra [até há algum
TIMOTHY A. CLARY/AFP
ao som do “Thriller”, onde da Vinci e Picasso
são contemporâneos de Warhol, Bansky,
Subodh Gupta e todos os artistas conhecidos e
desconhecidos de antes, agora e por vir
JEAN-PIERRE MULLER/AFP
finalmente, pós-modernos, podíamos pôr
esse ponto de interrogação na gaveta,
tornado caduco por um singular evento: a
actual crise económica mundial. Nem
modernos nem pós-modernos. Submersa em
nova crise, a humanidade teria visto nascer
a primeira era cultural do mundo globalizado
cronia absoluta
tempo] éramos todos ‘hegelianos’. gunta, uma reflexão sobre a possibi- aplicação brutalmente parcial das lais de Tokyo, de Paris, lançava o de- tiplas temporalidades simultâneas em
Até o pós-modernismo se definia em lidade da passagem de presente a suas demandas universais (liberdade, bate ao dizer que, depois de várias que a vida e a arte surgem como ex-
relação ao modernismo, até as neo- passado de uma era que podemos igualdade, fraternidade) ou pelo sim- vidas a interrogar gigantes – Heideg- periências positivas de desorientação,
vanguardas se definiam em relação defender como sendo ainda a nossa. ples facto de a modernidade e o co- ger, Wittgenstein, Benjamin, Baude- traçando linhas em todas as direcções
às vanguardas históricas. Os artistas Propunha mais: a transformação da lonialismo terem andado, e provavel- laire, Bataille, Lyotard, Foucault, Bau- de tempo e de espaço e, assim, explo-
pensavam no seu trabalho em relação Modernidade num equivalente da mente ainda andarem, de mãos da- drillard, Derrida, Lipovetsky... – e rando todas as dimensões do presen-
aos precedentes. Os novos artistas já Antiguidade clássica, ali onde se arti- das. Ainda assim, a imaginação das depois de mil discussões sobre se se- te. Por outras palavras: uma era em
não trabalham assim. Tudo parece culou o conceito do que o Ocidente pessoas está cheia das visões e for- ríamos, finalmente, pós-modernos, que se age e cria a partir de uma visão
estar a ser empurrado para um arqui- entenderia como arte. mas da modernidade. Resumindo, podíamos pôr esse ponto de interro- de caos articulado.
vo histórico que nem sequer parece A Modernidade como ciclo (re)fun- parece que estamos tanto dentro co- gação na gaveta, tornado caduco por “Ainda que, à época, países como
ser já muito consultado. De certa for- dador que se abriu e fechou no tem- mo fora da modernidade, tão repeli- um singular evento: a actual crise eco- o Brasil e a Índia se tenham juntado
ma, o período pré-guerra parece o po, matéria passível já de revisitação dos pela sua violência mortal como nómica mundial. à discussão, a modernidade foi um
século XIX de hoje e o século XIX pa- arqueológica? Buergel explicou num seduzidos pelas suas mais imodestas Nem modernos nem pós-moder- conceito ocidental. Hoje vivemos
rece a Renascença.” breve texto o que o levou à questão: aspirações ou potenciais: que possa, nos. Submersa em nova crise, no final num labirinto mais complexo e temos
Posto de outra forma: será que a “A modernidade, ou o seu destino, apesar de tudo, haver um horizonte da primeira década do século XXI a que extrair dele significados especí-
modernidade se transformou na nos- exercem uma influência profunda planetário para todos os vivos e os humanidade teria visto nascer a pri- ficos para o século XXI. A moderni-
sa antiguidade? Foi uma das pergun- nos artistas contemporâneos. Parte mortos.” meira era cultural do mundo globali- dade de hoje não é nem pode ser to-
tas lançadas pela mais recente edição da atracção pode derivar de ninguém Foi um salto até, já este ano, nos zado. talizadora nem continental”, disse-
da mítica Documenta de Kassel. Há saber realmente se está viva ou mor- ser proposto o passo seguinte: a aber- Nem uma visão linear da História, nos a dada altura Bourriaud,
dois anos, sob o tema geral “Migração ta. Parece estar em ruínas depois das tura de uma nova era cultural, uma como a do modernismo, nem uma enumerando os “depois” em que te-
da forma”, Roger M. Buergel, director catástrofes totalitaristas do século XX outra modernidade – uma Altermo- imagem desta a avançar em espirais mos estado mergulhados nos últimos
artístico da mais importante mostra (exactamente as mesmas catástrofes dernidade. de eternos retornos, como defendido 35 anos: pós-modernismo, pós-femi-
de arte contemporânea do mundo, que de alguma forma instigou). Pa- Na IV edição da trienal da Tate, Ni- pelo pós-modernismo; agora, uma nismo, pós-colonialismo, pós-político,
propunha, também ele, com esta per- rece totalmente comprometida pela colas Bourriaud, co-fundador do Pa- visão da História constituída por múl- pós-histórico... “Acabamos com a
A década de Serralves
Serralves, o acontecimento da década Há um antes e um depois da tem lugar a Documenta, exposição que procura definir um corpus
inauguração do Museu de Arte Contem- porânea de Serralves. A ab- para a arte produzida nas últimas décadas. A revisão organizada, em
ertura do edifício projectado por Siza Vieira, a programação desen- 2002, sob o comissariado do nigeriano Okwui Enwezor foi a primeira
hada por Vicente Todolí, João Fernandes e Ulrich Loock, a colecção e com carácter global, acentuando a dimensão política da edição ante-
a parceria entre o Estado e os privados, fazem da instituição um ex- rior, com curadoria da francesa Catherine David. O.F.
emplo ainda único em Portugal. É o acontecimento da década. Óscar
Faria Escultura no espaço público, modo de usar A ideia tem início em
1977. De dez em dez anos, durante cem dias, decorre a iniciativa “Es- Jorge Queiroz,
CCB: a melhor opção? Depois de várias indecisões, divergências e de- cultura. Projectos em Münster”. A última edição, 2007, comissariada Carlos Roque,
missões, a deriva do Centro Cultural de Belém parou. O Estado entre- por Brigitte Franzen, Kasper König e Carina Plath, sublinhou a ne- Bruno
gou o seu Centro de Exposições ao Museu Berardo de Arte Moderna cessidade de um debate alargado sobre questões relacionadas com a Pacheco
e Contemporânea e o CCB ficou “refém” de uma colecção. Hoje ainda escultura no espaço público. O.F. e Leonor
há quem se questione: foi a melhor opção? José Marmeleira Antunes
Uma história da arte realmente contemporânea Há muito que se (da esquerda
Portugueses em trânsito Com as bolsas e as residências, a circulação esperava uma história que tivesse em conta os desenvolvimentos para
dos artistas portugueses no estrangeiro tornou-se um facto. Concor- artísticos do século XX sob um ponto de vista teórico esclarecido. a direita):
O Centro de rem e vão, naturalmente. Uns voltam, outros permanecem em trânsi- Em 2004, quatro dos mais singulares historiadores da arte actuais alguns
Exposições to e há quem vá ficando, depois de fazer do exterior o lugar central da – Hal Foster, Rosalind Krauss, Yve-Alain Bois e Benjamin Buchloh – dos artistas
do CCB ficou sua actividade. Como Leonor Antunes, Bruno Pacheco, Carlos Roque publicaram “Art Since 1900”. Uma obra polémica, ainda à espera de portugueses
“refém” ou Jorge Queiroz. J.M. resposta. O.F. que fizeram
da colecção do estrangeiro
Berardo Culturgest e Project Room, trabalho de prospecção O ciclo Project Cinema vs. arte contemporânea O fenómeno de fluxos e interpenetra- casa e local
Room no CCB (2000-2002),
(200 ürg
comissariado por Jürgen gen ç
ções entre
ções e t e o cinema
c e a e as artes
a o; e
plásticas não é novo; ste pratica-
existe p at ca de trabalho
Bock, e a Culturgest
Culturg com a programação de Miguel uel
el m
me nte desde o nascime
mente mento. Mas,,
nascimento da imagem em movimento.
Wandschneider trouxeram à realidade local call a longo da última dé
ao década, assistimos a uma quase in-
exposições mem
memoráveis, afirmando uma sin- n-- v rsão de papéis, com os cineastas a tomarem
ve
versão m os mu-
outro contextos e um raro trabalho
tonia com outros ho
o s us de assalto e os artistas
se
seus a em cada
plásticos a usarem
de “prospecção”
“prospecção”. O público, esse, pôde conhecerer p
vez mais estratégias próximas do cinema. V.R..
as obras de artis
artistas como Renné Green ou Allan an
Sekula, Angela dde La Cruz ou Atlas Group. J.M.
Porto “do-it-your
“do-it-yourself” Perante a ausência de espa-
spa-
ços no Po
Porto, os artistas mobilizaram-seee
cria
criaram os seus próprios espaços,s,
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alternativos aos contextos insti--
tu
tucional e galerístico da cidade,
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onde durante uma década foi
po
possível fazer, organizar e ex--
pe
perimentar. Eis uma da história a
da arte portuguesa criada pelo lo
so
solidário o-it-
e prático espírito “do-it-
y
yourself”. J.M.
Os livros estão na
Começamos a década com Stephen King a lançar e-books por sua conta e risco. E terminamo-la c
os seus clientes descarregaram mais e-books do que compraram livros i
KAI PFAFFENBACH/REUTERS
Lembram-se do ano em que Stephen pio: “If you pay, the story rolls. If you recer? Para onde vai evoluir o livro em nossa posse em versão e-book.
King fez a experiência de vender don’t, the story folds” (Se pagares, a electrónico?” E foi isto que fez com que o merca-
“The Plant”, romance por capítulos, história continua. Se não pagares, a Não temos ainda respostas para to- do acelerasse. Por estes dias o acesso
em formato electrónico, no seu site, história fica encerrada). King explica- das as perguntas. Mas o que parecia imediato é decisivo. Embora nem to-
marimbando-se para a sua editora? va que só continuaria a escrever “The uma maluquice de uns passou a fazer dos os editores concordem: algumas
Foi em 2000. O escritor escrevia na Plant” se 75 por cento das pessoas que parte do nosso quotidiano. das editoras americanas estão a tentar
época no seu website: “Meus amigos, estavam a descarregar os capítulos Se em 2000 alguém dissesse a Ste- lançar as suas novidades primeiro em
temos a chance de nos tornarmos o pagassem. Mas só 46 por cento dos phen King que em 2009 ele iria voltar papel e só meses mais tarde em digi-
pior pesadelo das grandes edito- “downloads” feitos pelos internautas a ser pioneiro ao escrever a novela tal. Arriscam-se a que a pirataria os
ras”. é que foram pagos naquele que ficaria “Ur” para o lançamento do Kindle 2, ultrapasse. Ou que lhes aconteça na
Uns meses antes, em Março de a ser o último capítulo disponibiliza- a segunda versão do aparelho para vida um Paulo Coelho.
2000, a sua editora Simon & Schuster do. Até hoje o romance permanece ler e-books imaginado por Jeff Bezos É que se os editores portugueses
lançara o primeiro e-book para as inacabado. e que revolucionou a maneira de ace- ainda andam a ver se apanham o com-
massas. “Riding the Bullet” era uma der aos livros quando foi lançado no boio da digitalização, no Brasil o autor
novela escrita por King, um e-book Os escritores e a sociabilidade final de 2007, talvez se risse. É como de “O Alquimista” é o primeiro escri-
que começou a ser disponibilizado de Estávamos no início da década mas se, por desígnios insondáveis, tudo tor em língua portuguesa, vivo, a ter
graça em livrarias online, como a nos anos seguintes não se falou de fizesse finalmente sentido. todas as suas obras disponíveis no Kin-
Amazon e a Barnes & Noble, e mais outra coisa nas feiras de Frankfurt, Aconteceu tudo tão depressa que dle. Coelho, que em 2008 colocou
tarde passou a ser vendido a 2,50 dó- Londres ou na Book Expo America. agora bastam 60 segundos e um car- online à socapa vários dos seus livros
lares. Só nas primeiras 24 horas foram Ano após ano, os editores e agentes tão de crédito para termos “o prazer para serem descarregados gratuita-
descarregadas 400 mil cópias. Foi um interrogavam-se: “Os livreiros vão ser de receber imediatamente um livro mente (acredita que isso aumenta a
sucesso. King passou a ser o “príncipe ultrapassados pelos editores que vão que se quer ler, sem ter de dar um venda dos livros em papel), foi o pri-
do ‘e-publishing’”. passar a vender os seus livros nos seus passo”, como escrevia Miguel Esteves meiro a negociar directamente com a
Não resistiu a dar o passo seguinte: ‘sites’ directamente aos consumido- Cardoso na crónica, no PÚBLICO, do Amazon e “receberá 37,5% do preço
colocar no seu “site” “The Plant”, de res? Será que os autores vão seguir a último dia de 2009. final de venda, quase quatro vezes
que se podiam descarregar novos ca- mesma via? Como é que vão funcio- Em qualquer lugar do mundo, on- mais do que um autor costuma rece-
pítulos por semana, e que ele iria con- nar as bibliotecas no futuro? Vamos de funcione a rede 3G ou uma ligação ber quando um livro é vendido numa
tinuar a escrever se os leitores fossem emprestar livros online? As livrarias, à Internet, podemos, no momento em livraria convencional”, escrevia a re-
pagando. Era uma questão de princí- tal como as conhecemos, vão desapa- que um livro vai para as lojas, tê-lo vista “Veja”.
as nuvens
a Eduardo Pitta a 1. A Torre do Desassossego Lawrence Wright (2006);
2. Hitler Ian Kershaw (2008); 3. Lisboa. História Física e Moral José-
Augusto França (2008); 4. Jóia de Família Agustina Bessa Luís (Trilogia
2001-03); 5. As Benevolentes Jonathan Littell (2006); 6. Amigos até
ao Fim John Le Carré (2003); 7. Carnaval no Fogo Ruy Castro (2003); 8.
A Grande Guerra Pela Civilização Robert Fisk (2005); 9. Pós-Guerra
Tony Judt (2005); 10. Shalimar o Palhaço Salman Rushdie (2005); 11.
Todo-o-Mundo Philip Roth (2006); 12. A Paciente Misteriosa P. D. James
(2008); 13. Estado de Negação Bob Woodward (2006); 14. A Breve e
a com a Amazon a dizer que no dia de Natal Assombrosa Vida de Oscar Wao Junot Díaz (2007); 15. Hooking Up.
Um Mundo Americano Tom Wolfe (2000); 16. Tempos Interessantes
s impressos. Isabel Coutinho Eric Hobsbawm (2002); 17. Onde Está a Sabedoria? Harold Bloom (2004);
18. Shakespeare. A Biografia Peter Ackroyd (2005); 19. Uma Vida
Inacabada John F. Kennedy Robert Dallek (2003); 20. Brando Mas
Pouco Darwin Porter (2006)
e Lembram-se do ano em que Stephen King
EMMANUEL DUNAND/AFP
fez a experiência de vender “The Plant” em a Gustavo Rubim a 1. Fernanda Ernesto Sampaio (2000); 2. Ou o Poema
formato electrónico, no seu “site”, Contínuo: Súmula Herberto Helder (2001); 3. Da Democracia na
marimbando-se para a sua editora? Foi em América Alexis de Tocqueville tradução de Carlos Correia Monteiro
2000. O escritor escrevia na época no seu de Oliveira e Lívia Franco (2001); 4. Antropologia e Império: Fonseca
website: “Meus amigos, temos a chance de Cardoso e a Expedição à Índia em 1895 Ricardo Roque (2001); 5. Nove
nos tornarmos o pior pesadelo das grandes Noites Bernardo Carvalho (2002); 6. Século de Ouro: Antologia Crítica
editoras” da Poesia Portuguesa do Século XX Osvaldo M. Silvestre e Pedro Serra
(2002); 7. Odisseia Homero tradução de Frederico Lourenço (2003); 8.
Vozes da Poesia Europeia (I e II) traduções de David Mourão-Ferreira
revista Colóquio-Letras nº 163-164 (2003); 9. Respiração Assistida
Fernando Assis Pacheco (2003); 10. A Universidade sem Condição
Jacques Derrida tradução de Américo Lindeza Diogo (2003); 11. Poesia
Daniel Faria (2003); 12. Poética Aristóteles nova tradução de Ana Maria
Valente (2004); 13. Peças Escolhidas I Henrik Ibsen traduzidas do
norueguês por Pedro Fernandes Karl Eric Schollhammer e Fátima Saadi
(2006); 14. Antropologia em Portugal: Mestres Percursos Transições
João Leal (2006); 15. Desmedida Luanda – São Paulo – São Francisco
e Volta Ruy Duarte de Carvalho (2006); 16. Uma Grande Razão: os
Poemas Maiores Mário Cesariny de Vasconcelos (2007); 17. A Faca Não
Corta o Fogo - Súmula & Inédita Herberto Helder (2008); 18. Dicionário
de Fernando Pessoa e do Modernismo Português org. Fernando
Cabral Martins (2008); 19. O Homem Livre: Mito Moral e Carácter numa
Sociedade Ameríndia Filipe Verde (2009); 20. Caderno de Memórias
Coloniais Isabela Figueiredo (2009)
5. Impasses - seguido de (2004); 2. Alta noite em alta fraga Joaquim Manuel Magalhães (2001); 3.
coi
coisas vistas e coisas ouvidas A Faca Não Corta o Fogo - Súmula & Inédita Herberto Helder (2008);
Fern
Fernando Gil e Paulo Tunhas 4. O Livro do Meio Maria Velho da Costa e Armando Silva Carvalho
(2004
(2004); 6. Colapso Jared Diamond (2006); 5. Caderno de Memórias Coloniais Isabel de Figueiredo (2009);
(2005); 7. Álvaro Cunhal Uma 6. Jerusalém Gonçalo M. Tavares (2004); 7. Amigo e Amiga - Curso de
Biografia Política vol. II – Duarte o Silêncio de 2004 Maria Gabriela Llansol (2006) 8. O Apocalipse dos
Dirigente Clandestino
C José Pacheco Trabalhadores valter hugo mãe (2008); 9. Campo de Sangue Dulce
Pereira (2001); 8. A Conspiração contra a Maria Cardoso (2002); 10. O homem Lento J. M. Coetzee (2005); 11. O
América Philip Ro Roth (2004); 9. O Ocidentalismo: Homem em Queda Don DeLillo (2007); 12. As Benevolentes Jonathan
Uma Breve História de d Aversão ao Ocidente Ian Littell (2006); 13. A Estrada Cormac McCarthy (2006); 14. 2666 Roberto
Buruma e Avishai Margalit (2004); 10. A Queda de Berlim Bolaño (2004); 15. Terraço em Roma Pascal Quignard (2000); 16. Luiz
Antony Beevor (2002); 11. Suite Francesa Irène Némirovsky (2004); 12. A Pacheco: 1 Homem Dividido Vale Por 2 concepção e org. Luís Gomes
Queda de Roma e o Fim da Civilização Bryan Ward-Perkins (2005); 13. (2009); 17. Literatura defesa do atrito Silvina Rodrigues Lopes (2003); 18.
Pós-Guerra Tony Judt (2005); 14. O Jovem Estaline Simon Sebag (2008); Amor Líquido Zygmunt Bauman (2003); 19. L’Animal Que Donc Je Suis
15. Finest Years: Churchill as Warlord Max Hastings (2009); 16. César: Jacques Derrida (2006) 20. A Audácia da Esperança Barack Obama
A Vida de um Colosso Adrian Golsworthy (2006); 17. O Sentimento de Si (2006)
António Damásio (2001); 18. A Vingança de Gaia: Porque está a Terra a
Retaliar James Lovelock (2006); 19. 1948: A History of the First Arab- aPedro Mexia (por ordem cronológica estrangeiros e portugueses) a 1.
Israeli Ben Morris (2008); 20. O Código Da Vinci Dan Brown (2003) Ravelstein Saul Bellow (2000); 2. A Mancha Humana Philip Roth (2000);
3. Austerlitz WG Sebald (2001); 4. Expiação Ian McEwan (2001); 5. The
a José Riço Direitinho a 1. 2666 Roberto Bolaño (2004); 2. Austerlitz Coast of Utopia Tom Stoppard (2002); 6. Istambul – Memórias de uma
W. G. Sebald (2001); 3. A Estrada Cormac McCarthy (2006); 4. As Cidade Orhan Pamuk (2003); 7. 2666 Roberto Bolaño (2004); 8. A Estrada
Espantosas Aventuras de Kavalier & Clay Michael Chabon (2000); Cormac McCarthy (2006); 9. District and Circle Seamus Heaney (2006);
5. Está Tudo Iluminado Jonathan Safran Foer (2002); 6. Atlas das 10. As Benevolentes Jonathan Littell (2006); 11. Lillias Fraser Hélia
Nuvens David Mitchell (2004); 7. Correcções Jonathan Franzen (2001); Correia (2001); 12. Poesia Daniel Faria (2003); 13. Jerusalém Gonçalo M.
8. As Benevolentes Jonathan Littell (2006); 9. A Heartbreaking Work Tavares (2004); 14. A Ronda da Noite Agustina Bessa-Luís (2006); 15.
of Staggering Genius Dave Eggers (2000); 10. Ruhm. Ein Roman in Ofício Cantante - Poesia Completa Herberto Helder (2009)
Ian McEwan,
Herberto Helder,
“Expiação”
“Ofício Cantante
- Poesia Completa”;
“Ou o Poema Contínuo:
Súmula” e “A Faca Não
Corta o Fogo - Súmula
& Inédita”
Yann Martel,
Jonathan Littell, “A Vida de Pi”
“As Benevolentes”
Irène Némirovsky,
“Suite Francesa”
êVEL
ÒA O N H O R
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enigmticas ligaes mfia e forma como sempre conseguiu sair intocvel das suas batalhas polticas e dos
mltiplos processos judiciais. Uma viso satrica mas comprometida, surrealista mas, ao mesmo tempo,
profunda. Um filme sobre poder. A no perder.
Quinta-feira dia 14 de Janeiro, o DVD indito e exclusivo ÒIl DivoÓ por mais Û12,50, com o Pblico.
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g Ao mesmo “Não há distinções rígidas entre o que nard Shaw, em 1925). O discurso de ra final de 2011, pela Orfeu Negro), os Romeo Castelluci, Rodrigo García,
tempo que se é real e o que não o é, nem entre o Pinter versou, depois, sobre a invasão anos 00 começaram como reacção a Pippo Delbono, Árpád Schilling, Alvis
construíam que é verdadeiro e falso. Uma coisa do Iraque, numa violenta resposta à uma tentativa de integração dos dis- Hermanis, Emma Dante, René Polles-
dezenas de novas não é necessariamente verdadeira ou Administração Bush. Mas as suas pa- cursos “in-yer-face” preconizados ch, entre outros), rompiam com a
salas e o falsa; pode ser, ao mesmo tempo, ver- lavras, em 2005 como 44 anos antes pela geração inglesa do “Young British fronteira utópica do teatro militante
objectivo-lua de dadeira e falsa”. A frase, escrita em e mesmo agora, no fim da década, Drama” (Mark Ravenhill, Sarah Kane, e documental para ir ao encontro do
uma rede 1958 por Harold Pinter, serviu de epí- servem bem de mote para uma aná- entre outros) e da vaga alemã “esper- que, e de quem, ficava às portas dos
nacional de grafe ao discurso que o dramaturgo lise sobre as fronteiras que limitaram, ma e sangue”, associada a nomes co- teatros engalanados.
cineteatros se britânico fez perante a Academia Sue- bem para lá dos palcos, as artes per- mo Marius von Mayerburg ou Dea Na viragem do milénio, as artes de
mostrava cada ca quando, em 2005, recebeu o Pré- formativas. Loher. Era, para uns, a chegada ao palco resolviam expor as feridas acu-
vez mais mio Nobel da Literatura, tornando-se, Abertos pela incisiva análise de poder e, para outros, uma marcação muladas por anos de reorganização
realizável, em 106 anos, o quinto dramaturgo a Hans-Thies Lehmann no ensaio “Te- de território a partir de discursos que social, agora pela mão de uma gera-
desapareciam merecê-lo (depois de Dario Fo, em atro Pós-Dramático”, editado em 1999 revolviam os cânones dramatúrgicos ção com a responsabilidade de per-
projectos 1997, Samuel Beckett, em 1969, Luigi na Alemanha e cinco anos depois em e que, aliando às palavras um dispo- petuar um legado que só era artístico
pensados e Pirandello, em 1934, e George Ber- Inglaterra (em Portugal aponta-se pa- sitivo cénico (Thomas Ostermeier, porque era político. Enquanto edifício
criados por
artistas, como
A Capital, dos
Artistas
As artes perfor
Unidos, fechada
em 2002 por
ordem da
Câmara
Municipal de
Lisboa
à porta dos t
Em dez anos, as artes performativas tiveram, a seu favor e contra elas, o que se passou f
construiu numa década em que, apesar de tudo, o sector se organizou - pelo m
rmativas
teatros
u fora dos palcos. Destruiu-se tanto ou mais do que se
o menos em Portugal. Tiago Bartolomeu Costa
MANUEL ROBERTO
2006, o auto-
sequestro de
alguns criadores
no Rivoli, em
protesto contra
a sua anunciada
a concessão a La
Féria, foi o
último acto de
verdadeira
afirmação do
lugar que um
teatro pode ter
na memória
colectiva de uma
cidade
“Otelas”, do lituano Eimuntas Nekrosius, A extinção do Ballet Gulbenkian, um choque ao fim Comédias do Minho, um caso exemplar de trabalho
RUI GAUDÊNCIO
26 • Ípsilon
on
n•S
Se
Sexta-feira
ex
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xta a--f
-fe
fe
feirrra
a 8 JJan
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Janeiro
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an eiir
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iro 2
2010
010
01
010
10
ralmente, terá consequências a nível tos criados e pensados por artistas. e viram as verbas congeladas por de-
FRANCOIS MORI
artístico. Muitas delas beneficiarão A Capital, o Espaço Ginjal, o CENTA cisão de José Sasportes, um dos sete
da criação de uma outra frente de e o Teatro Camões, entre outros, co- ministros da Cultura que tivemos em
apoio, para os projectos Trans e Plu- meçaram e deixaram de existir no dez anos), e uma providência cautelar
ridisciplinares. O Ministério da Cul- espaço de uma década; criadores da Panmixia, em 2005, que paralisou
tura reconhecia então a existência houve (como Vera Mantero) que co- toda o tecido teatral da região Norte,
de projectos híbridos ou complemen- meçaram a ter mais financiamento por não existirem mecanismos de sal-
tares, para lá das fronteiras clássicas, no exterior, outros ainda (como João vaguarda dos apoios atribuídos aos
acompanhando uma alteração de Fiadeiro) deixaram de dançar para projectos concorrentes.
valores artísticos a nível europeu. se dedicarem à investigação sem que Foi para esta ideia de contamina-
Foi, por isso, e ao longo de dez alguma vez os programas de apoios ção, de acção com consequência, e
anos, um sector em aprendizagem e previssem, convenientemente, essa da necessária avaliação (e validação)
teste, optando o poder central por área. do impacto que isso produz no futu-
políticas de “hardware”, nomeada- Se em França o regime de intermi- ro que Harold Pinter chamou a aten-
mente a errática e ambiciosa rede de tência levou à paralisação do sector ção no discurso de aceitação do No-
cineteatros, iniciada no fim da déca- cultural, em Portugal um projecto-lei bel da Literatura. “Acredito”, conti-
da anterior, e entretanto contrariada sobre a intermitência, ainda que pe- nuava ele, “que estas asserções ainda
pelo processo Rivoli, ou pelos mega- cando por falta de coragem política, fazem sentido e devem ser aplicadas
eventos centralizadores (Faro 2005 foi aprovado a 30 de Novembro de na exploração da realidade através
- Capital Nacional da Cultura fica 2007 pelo Partido Socialista, não me- da arte”. Então como agora, no ba-
marcado por um protesto de diversos recendo mais do que protestos for- lanço de uma década que assistiu ao
coreógrafos contra uma Plataforma mais da parte dos profissionais, com g A greve dos intermitentes do espectáculo em França, no Verão de 2003, desenvolvimento de um sector que
de Dança Internacional sem condi- uma discussão tépida, em tudo con- obrigou à suspensão dos principais festivais do país; as ondas de choque da continua a precisar de entender que
ções logísticas). A ideia de geração trastante com as manifestações por crise afectaram a circulação de artistas internacionais dependentes do a defesa da arte pela arte só existe
que podia tomar o pulso da socieda- causa de atribuição de verbas, recor- circuito francês porque existem, à volta, atrás e ao
de através da criação teve contra si, rentes nos vários concursos de apoio. lado, políticas claras para a sua pro-
pelo menos em Portugal, a efectiva- Ficam para a memória, e para refle- tecção, o que ficar não pode ser ape-
ção de políticas complementares. xão, a discussão entre “o grupo dos nas arquivo. Deve ser o alerta mais
Ao mesmo tempo que se constru- 31 e os outros” (formado pelas estru- vivo para o futuro que se prepara a
íam os teatros, desapareciam projec- turas que em 2001 receberam apoio cada representação.
com destaque para o Teatro Meridional, que criou “Por Detrás dos
Montes” com o Teatro Municipal de Bragança, e para a residência do
Teatro da Garagem no mesmo interior profundo.
1936) mas, enquanto Gorki situou a contradições, com construções Mascarenhas, entre outros. Espanha. Até 31/12. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h.
Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei Tel.: 213880089. 7,5€ a 15€.
história em 1905, focando a ambivalentes. Por isso, “a tradução Miguel Contreiras, 52. De 12/01 a 20/01. 2ª a Sáb. às
Revolução Russa desse ano, Brecht deve ser muito cuidadosa”. 21h30. Tel.: 218438801. 5€ a 12€. D. Quixote (de Coimbra)
acrescentou cenas novas e estendeu Há quem diga que em Portugal A partir de Miguel Cervantes. Pelo
No Rasto de Miguel Torga Teatrão. Encenação de Isabel
a trama até 1917, criando uma tem havido um regresso subtil aos A partir de Miguel Torga. Pelo Urze Craveiro. Com Inês Mourão, João
alegoria à sociedade alemã, textos de Brecht. É um fenómeno Teatro. Encenação de Pompeu José. Castro Gomes, Luís Carlos Eiras e
massacrada por uma crise europeu, contrapõe Benite. “A Mãe” Com Fábio Timor, Glória de Sousa, Margarida Sousa.
económica. O contexto é de redução mantém “uma grande actualidade, Isabel Feliciano, Rui Félix. Coimbra. Oficina Municipal do Teatro. Rua Pedro
Vila Real. Teatro de Vila Real. Alameda de Grasse. Nunes. Até 16/01. Sáb. e Dom. às 21h30. Tel.:
salarial, greves e luta de classes. Mas mas há muita gente que a considera
De 13/01 a 14/01. 5ª às 10h30 e 15h. 6ª às 22h. Tel.: 239714013. 4€ a 10€.
a peça só foi estreada no inicio da propaganda comunista”. 259320000.
década de 30, período que dividiu as Evidentemente, continua, “traduz o
águas entre a quebra da Bolsa de pensamento marxista e fala do Continuam Dança
Nova Iorque, em 1929, e a comunismo como um ideal”. Mas o
Tragédia
recuperação económica mundial. que está em causa é o processo de
A partir de Eurípides e Jean-Paul Estreiam
Entretanto, vemo-nos em 2010, aprendizagem que resulta da prática
Sartre. Pela Casa Conveniente. Veralipsi
no inicio de uma nova década social. A mãe, viúva e mãe de um Encenação de Ana Ribeiro. Com
economicamente ressacada, muito operário, aprende a ler depois de De Sofia Silva. Com Joana Ratão,
Maria do Carmo, Mónica Calle, Rita Patrícia Cabral.
Três horas, 18 actores, próxima do espaço-tempo de “A distribuir panfletos da greve para Só, Teresa Sobral, Vítor D’Andrade. Lisboa. Instituto Franco-Português. Av. Luís Bívar,
uma orquestra ao vivo: é esta Mãe”. Por isso é tão significativo ver ajudar o filho. É na mudança de Lisboa. Teatro da Trindade. Largo da Trindade, 7a. 91. De 14/01 a 16/01. 5ª a Sáb. às 21h30. Tel.:
a escala de “A Mãe”, a nova esta encenação de Joaquim Benite consciência que reside o acto Até 31/01. 4ª a Sáb. às 21h45. Dom. às 17h30. Tel.: 213111400. 5€.
produção da Companhia 213420000. 5€ a 8€.
abrir a programação de 2010 do revolucionário, como diz Vlassova:
de Teatro de Almada Teatro Municipal de Almada, desde “Ler é luta de classes”. O Ano do Pensamento Mágico Continuam
De Joan Didion. Pelo Teatro Nacional
Dona Maria II. Encenação de Diogo Inferno
Infante. Com Eunice Muñoz.
Porto. Teatro Nacional S. João. Praça da Batalha.
Até 31/01. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.:
223401900. 3,5€ a 15€.
Dois Homens
De José Maria Vieira Mendes. Pelo
Teatro Municipal de Almada.
Encenação de Carlos Pimenta. Com
Ivo Alexandre.
Porto. Teatro Carlos Alberto. Rua das Oliveiras, 43.
De 8/01 a 10/01. 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. às 16h.
Tel.: 223401900. 5€ a 15€.
De Olga Roriz. Com Catarina
A Febre Câmara, Adriana Queiróz, Rafaela
De Wallace Shawn. Pelo Teatro Salvador, Bruno Alexandre, Pedro
Oficina. Encenação de Marcos Santiago Cal.
Barbosa. Com João Reis. Faro. Teatro Municipal de Faro. Horta das Figuras
Porto. Teatro Carlos Alberto. Rua das Oliveiras, 43. - EN125. 09/01. Sáb. às 21h30. Tel.: 289888100. 10€
De 14/01 a 17/01. 5ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. a 12€
Tel.: 223401900. 5€ a 15€.
Talvez Ela Pudesse Dançar
João Sem Medo Primeiro e Pensar Depois +
A partir de José Gomes Ferreira. Olympia
Encenação de Ricardo Alves. Com De e com Vera Mantero.
Sara Costa, Sara Pereira, Teresa Portimão. Teatro Municipal de Portimão.
Alpendurada. Largo 1.º de Dezembro. 09/01. Sáb. às 21h30.
Porto. Teatro Sá da Bandeira. R. Sá da Bandeira, Tel.: 282402475.
Espaço
Tenho muito Público instrumental “Songs “Torches”, “The Ward
gosto em by the tumbled sea” Colorado demos” e
partilhar as dos norte-americanos “Coyotes”. Na música
minhas escolhas The tumbled sea; “Soil a, a
portuguesa,
pessoais, em termos creatures”, o quinto olha
minha escolha
musicais, do ano de 2009. trabalho de Paddy mente
recai novamente
Nos álbuns internacionais Mann que assina como rto
em Norberto
os meus destaques vão Grand Salvo; e, acima de a feita
Lobo, desta
para: “Sometimes I wish tudo, Brian Borcherdt, um “Pata
com o álbum
we were an eagle”, de músico canadiano com as lenta”.
Bill Callahan, o Sr. Smog; excelentes colecções de g,
João Semog,
“Collected recordings” do canções de 2004 a 2008 40 anos,
escocês Gareth Dickson; o incluídas nos álbuns artista
Amanda Blank: quase sempre divertido, quase sempre dançável
Jazz
Alemão
suave
O lirismo, levemente
abstracto, de um jovem
O lirismo de Jurgen Friedrich
pianista europeu.
seus conceitos harmónicos. John belos momentos nas árias mais
Rodrigo Amado Hebert, particularmente, revela aqui meditativas que apostam na
Jurgen Friedrich enorme talento lírico, dimensão “cantabile” das melodias,
desenvolvendo imaginativas mas é menos convincente nas peças
Pollock
Pirouet, dist. Mbari variações em torno das linhas do “di bravura”. Não se trata de uma
piano. Apesar de tocar questão técnica, pois Piau é bastante
mmmmn frequentemente a solo, o pianista precisa na “coloratura”, mas sim
esquecendo, por exemplo, que evidente honestidade estética e alemão revela-se um mestre na arte retórica (no sentido em que a
existe algo como a editora Stones demonstra uma compreensão Jackson Pollock, do trio, sabendo dar o espaço dimensão virtuosística tem de
Throw, poderá ter alguma mútua que nos satisfaz. artista famoso pela necessário para que as notas de sublinhar o conteúdo semântico e
sustentabilidade. Recordemos que Basicamente, os “niggas” rockam sua “action Hebert e Moreno possam respirar. dramático do texto) e de colorido
os NERD se lembraram de gravar e os “whiteys” groovam e o pessoal painting”, pintava Ouça-se a suspensão dos tempos em vocal. Os seus agudos são acutilantes
com os insignificantes Good aprecia acompanhar a empatia que a ouvir jazz. Para “I am missing her”, original de mas carecem de brilho e maior
Charlotte ou que Jay-Z “brincou” ao daí nasce. M.L. além dessa ligação Hebert, ou a introspecção lírica que densidade. Assim, a sua versão da
rock atirando-se de cabeça no lagar directa, poucos são os pontos em transforma “Round midnight”, única ária que abre a gravação
de azeite que é o agrupamento Amanda Blank comum entre este “Pollock” e a obra versão do álbum, numa delicada (“Disserrativi, o porte d’Averno”, da
musical Linkin Park. Portanto, nem do pintor norte-americano, um dos canção repleta de dramatismo e oratória “A Ressurreição”) deixa
I Love You
que seja para apagar tais atrocidades Downtown, distri. Popstock expoentes do expressionismo nostalgia. bastante a desejar, sobretudo se a
da memória, BlakRoc é bem-vindo. abstracto, possuidor de um estilo compararmos com a interpretação
Colaboração dos Black Keys com mmmnn baseado na fisicalidade crua do
Clássica
de Cecília Bartoli no disco “Opera
nomes como Mos Def, RAZ, movimento. Neste registo, todo o Proibita”. Mas nos excertos da “Ode
Raekwon, Q-Tip, um Ol’ Dirty “I Love You” é movimento é ponderado, para o Dia de Santa Cecília” e das
Bastard vindo do além e um Noe sobre as elegantemente executado e Handel entre o céu e a terra oratórias “Theodora”, “Alexander
anunciando-se desde Baltimore, vicissitudes da calmamente reflectido. E é aí que Balus” ou “Il Trionfo del tempo e del
Handel
nada tem de atroz. Estreita a relação maquilhagem e da está a grande beleza de “Pollock”, disingano”, Sandrine Piau mostra
Between heaven and earth
óbvia que existe entre o hip hop e toilette certa para oitavo álbum do pianista e porque razão é uma conceituada
Sandrine Piau (soprano)
blues, com os Keys a criarem as dar nas vistas, compositor alemão Jurgen Friedrich. intérprete de música barroca.
Accademia Bizantina
bases bluesy-fumarentas, blues- sobre quem são as “gatas” que Tendo conquistado inúmeros Destaca-se ainda a participação do
Stefano Montanari (violino e
psicadélicas, de batida mastodôntica abanam melhor as ancas e o traseiro, prémios, entre os quais os Gil Evans excelente tenor Topi Lehtipuu no
direcção)
à Led Zeppelin ou sinistras à filme de sobre quem paga as bebidas mais o Award e Julius Hemphill Naïve OP 30484 dueto “As steals the morn upon the
zombies, e os convidados a falar táxi para casa, mesmo que ela e o Composition Award, Friedrich night” (extraído de “L’Allegro, il
daquilo que interessa: de dores do parceiro da noite saiam separados colaborou com nomes como Kenny mmmnn penseroso e il moderato”). Sob a
coração, do dinheiro que chega ou para não dar muita bandeira. Mas é Wheeler, David Liebman, Maria direcção do violinista Stefano
não chega, de vidas difíceis tornadas sobretudo um disco de paleio de Schneider Jazz Orchestra ou NDR Sob a designação Montanari, a Accademia Bizzantina
mais fáceis porque, afinal, “The engate twentysomething, repleto de Bigband, conquistando reputação “Céu e Terra”, o toca com brio e expressividade
Black Keys got so much soul”. rimas hardcore e de diálogos de como um dos mais brilhantes jovens último CD da peças a solo como a sinfonia “The
Perspectivando 40 anos de telenovela, conjugados com o único pianistas europeus. Neste segundo soprano Sandrine Arrival of the Queen of Sheba” ou o
história, encontramos paralelismos intuito de manter a pista de dança CD para a Pirouet, Friedrich faz-se Piau reúne uma Largo do Concerto Grosso op. 2 nº3
entre este “BlakRoc” e o “Electric ao rubro. Seria vulgar, ou rasteiro, se acompanhar novamente pelo série de árias de (com óptimas intervenções dos
Mud” de 1970, álbum maldito de Amanda não tivesse ao seu serviço contrabaixista John Hebert e pelo oratórias e óperas de Handel, oboés) e fornece uma base
Muddy Waters, onde as canções do produtores do quilate de Diplo, baterista Tony Moreno, secção intercaladas por breves páginas consistente para as peças cantadas.
mítico bluesman foram banhadas Switch e XXXChange (Spank Rock) e rítmica que revela a mais profunda instrumentais. A selecção é Todavia, podia explorar mais a
em acidez psicadélica. Muddy ela própria uma voz versátil que empatia com o pianista, explorando criteriosa, mas o resultado é dimensão teatral deste repertório.
Waters renegou o álbum, os puristas conjuga na perfeição o artifício pop e ampliando da melhor forma os desigual. A cantora oferece-nos Cristina Fernandes
detestaram-no. Sobreviveu e crueza rap. Todas as batidas em
subterraneamente e, vinte anos voga, dos revivalismos disco sound e
depois, alguém como Chuck D, o electro ao tecno e aos ritmos
imenso MC dos imensos Public marciais ao estilo M.I.A., são
Enemy, reabilitou-o orgulhosamente convocados, em receitas elásticas e
enquanto obra-prima. “BlakRoc” aparatosas, que pelo meio vão
está longe de o ser - apesar dos introduzindo uma pilha de
falsetes de Dan Auerbach, o samplers, incluindo recitações de LL
guitarrista dos Black Keys, ser Cool J, Romeo Void e Santigold. É
contraponto perfeito ao imponente quase sempre divertido, quase
Noé de “Hard times”, apesar de sempre dançável e pelo menos um
Raekwon espalhar magia negra par de vezes a miúda de Filadélfia
sobre o rock’n’roll tétrico de “Stay rebenta com a escala, produzindo
off the fuckin’ flowers”, apesar da hinos de discoteca estonteantes com
soul-woman Nicole Wray, longínqua “Something bigger, something
“protegida” de Missy Elliot. Mas, não better” e “Might like you better”.
sendo uma obra-prima, tem uma Para rematar, quase em jeito de
A indepen- hoje
Ap
Apropriação,
dência marcada por esta
característica: campos coloridos da pintura
ilu
ilusão
do desenho rigorosamente delimitados pelo
desenho, e uma radicação figurativa
desenho
japonesa em rolo,
convoca efectivamente o sentido e ccrítica
constante. Mesmo quando parecem narrativo: percebemos que há um
abstractas, as pinturas de Nikias início e um provável fim, e que o
50 anos de trabalhos sobre possuem sempre essa longínqua desenho se desenvolve sobre este “Pintura Para Uma Nova
papel de Nikias Skapinakis filiação na realidade visível – ou, suporte como um automatismo, um Sociedade” é o momento
estão em Cascais. Luísa como sucede em certas séries, na “doodle”, uma emergência de mais relevante na obra
realidade tal como foi imaginada formas apenas regulada pelo ritmo
Soares de Oliveira pela história. da mão que desenha. Já os desenhos
de um artista que tem
Contudo, paralelamente a este sobre papel kraft instituem quase permanecido indiferente
Desenho a preto e branco e a cores.
Antologia gráfica (1958-2009) trabalho de pintura, e em sistematicamente a proeminência de ao reconhecimento e à
De Nikias Skapinakis. consonância ou não com ele, Nikias uma figura sobre o fundo pardo. consagração institucionais.
sempre praticou o desenho. Esta Esta figura, que apenas se identifica
Cascais. CC de Cascais. Av. R. Humberto II de Itália.
exposição, como outras demasiado como tal não pelas suas José Marmeleira
Até 28/02. 3ª a Dom., das 10h às 18h.
raras que a precederam (uma na características miméticas mas por o
Desenho. galeria 111, ainda na década de 90, e seu traço se fechar e encerrar um The Return of The Real IX - João
outra no Palácio Galveias, além da interior em oposição a um exterior, Fonte Santa
mmmmm retrospectiva em Serralves, em nunca é identificável. E inclusive
Vila Franca de Xira. Museu do Neo-Realismo. R. Alves
2000), dá apenas conta dos seus Nikias, numa série conhecida, presta
Redol, 45. Tel.: 263285626. Até 31/01. 3ª a 6ª das 10h
Nikias Skapinakis, ou Nikias, é um trabalhos sobre papel, apresentando homenagem aos “tags” grafitados às 19h. Sáb. das 15h às 22h. Dom. das 11h às 18h.
pintor que não deveria necessitar de duas selecções distintas que a utilizando este tipo de signos Ilustração.
apresentação. Embora tenha própria montagem ajuda a abstractos como inspiração.
começado a expor em 1948, aos 17 diferenciar: uma, centrada nos Outras obras na exposição mmmnn
anos, foi um dos protagonistas, cartazes e nas serigrafias, onde a cor merecem atenção: as ilustrações
durante a década de 60 (juntamente intervém de forma explícita; e outra, feitas para “Quando os Lobos Vinte anos depois, João Fonte Santa
com Lourdes Castro, René Bertholo nos desenhos a carvão e nas Uivam”, de Aquilino Ribeiro (1958), e (Évora, 1965) realiza finalmente a
e Costa Pinheiro, por exemplo), da litografias, evidenciando uma as peças da série de “desenhos do sua primeira exposição individual
primeira conjunção entre arte autonomia desta disciplina em Aljube”, entre as quais uma no espaço de uma instituição. Foi
portuguesa e arte internacional: ao relação à pintura que o próprio “Pomba” de 63 que recorda a uma delonga solitária, quase
mesmo tempo que, em Londres, artista situa como tendo começado mesma ave desenhada por Picasso; esquecida, mas também a verdade é
Paris ou Nova Iorque, os artistas em 1985. cenas populares dos anos 60, em que este artista sempre se furtou,
desenvolviam a Pop ou a figuração E são estas últimas obras, que se litografia, também integráveis na com maior ou menor
do “Nouveau Réalisme”, Nikias afastam daquilo que conhecemos da produção modernista da época; e responsabilidade, às instâncias
trabalhava contrastes de figuras pintura de Nikias de uma forma finalmente as serigrafias dos anos 70 dominantes da consagração do
planas e esquematicamente marcante, que importa aqui e 80, muito próximas daquilo que a meio. Com uma produção afirmada,
coloridas sobre fundos lisos. Para destacar logo à partida. O artista sua pintura era na altura, e em que a no passado, noutras artes visuais
além da evolução própria da sua elege dois tipos distintos de suporte: própria técnica utilizada favorecia a (banda desenhada e ilustração), um
obra, que desenvolveu numa o rolo de papel higiénico e o papel aplicação de manchas saturadas desenho e pintura figurativos e
entrevista recente publicada no de embrulho. O primeiro, que lhe de cor pura, tal como expressionistas (e
último Ípsilon, a sua pintura é até terá sido sugerido pela descoberta acontecia nas telas. devedores dessas
“Estúdio”, de Nuno
Ramalho e Renato Ferrão,
na Fundação Carmona
e Costa
João Fonte Santa opera sobre as imagens e os imaginários da ficção científica oitocentista
mesmas artes) e uma inclinação para obra de João Fonte Santa, ganha século XIX, Júlio Verne) uma da pintura,
pintu travestida e
o apropriacionismo, João Fonte agora uma outra coerência. fluência conceptual mais revelada aqui sob a
revelad
Santa foi sempre “marginal” ao Movemo-nos e focos de luz apagam assertiva e um uso ágil dos forma dde grandes e
acertar dos relógios; como aliás pormenores das pinturas. Criam signos e significantes fantásticas ilustrações.
fantástic
Alice Geirinhas, Pedro Amaral ou buracos, vazios. escolhidos. E são estes Imagens que do passado
Pedro Pousada (este aparentemente Outros paradoxos, porque aspectos que permitem às simples,
vêm simp
afastado do circuito artístico), todos reconhecíveis, não são tão pinturas libertar sentidos despretensiosas, mas
despreten
artistas com quem vai partilhando surpreendentes, mas “Pintura Para acerca da representação do outro
utro acordadas, como a voz de
acordadas
referências e preocupações. Uma Nova Sociedade” consegue ser (os índios em “Ces indigènes (“Und wer´s nie Noam Cho Chomsky que se
Pese embora o contexto a melhor exposição individual deste rôdèrent prés du Nautilus”, o gekonnt, der stehle weinend sich escuta em “Selling the
institucional de “Pintura Para Uma artista. Há na operação sobre as monstro em “Un de ces longs bras se aus dem bund”,
bund” título retirado do story”, no ecrã escuro do
capitalist story”
Nova Sociedade”, João Fonte Santa imagens e os imaginários evocados glissa par l´ouverture”), da condição verso do libreto do “Hino à Alegria”, vídeo colocado no centro da sala por
não abandonou essa condição, a de (a ficção científica, as utopias do existencial e da história do homem de Beethoven) ou da própria história João Fonte Santa.
um artista periférico. Dito de outro
modo, a sua exposição no Museu do
Neo-Realismo, em Vila Franca de
Xira, no âmbito do ciclo
comissariado por David Santos,
reafirma um trabalho (pictórico) que
torna imagens preexistentes (vinda
dos media ou das outras artes
visuais) em imagens com uma
premência crítica. Como uma arte
pop mais “comprometida” com as
suas próprias fontes, menos
impessoal, mais “politicamente”
debruçada sobre o real.
Oito telas de grandes dimensões
reproduzem um desenho de Jack
Kirby (autor de banda desenhada
clássica dos EUA) e ilustrações de
Alphonse de Neuville e Edouard
Riou para “Vinte Mil Léguas
Submarinas”, de Júlio Verne (1870) e
de Léon Benett para “Dois anos de
Férias”, do mesmo escritor.
Contrastam com o laranja saturado
das paredes e, prateadas pela
técnica do acrílico, brilham a
espaços sob a luz artificial em pleno
ambiente de salão oitocentista.
Evidencia-se mesmo, perante o
espectador, um jogo teatral, ilusório,
com as superfícies das telas –
situação que, se não é inédita na
na Cordoaria Nacional
Obras de Referência
dos Museus da Madeira:
500 Anos De História De Um
Arquipélago
Lisboa. Galeria de Pintura do Rei D. Luís I. Calçada
da Ajuda - Palácio Nacional da Ajuda.
Tel.: 213633917. Até 28/02. Sáb. das 11h às 20h. 2ª a
6ª e Dom. das 11h às 18h.
Pintura, Escultura, Objectos,
Fotografia, Outros.
Ínsulas
De João Margalha.
Porto. Centro Português de Fotografia - Cadeia da
Relação do Porto. Campo Mártires da Pátria. Tel.:
222076310. Até 16/02. 3ª a 6ª das 10h às 18h. Sáb.
das 15h às 18h.
Fotografia.
Korda - Conhecido
Desconhecido
De Alberto Korda.
Lisboa. Galeria Torreão Nascente da Cordoaria
Nacional. Avenida da Índia - Edifício da Cordoaria
Nacional. Tel.: 213642909. Até 31/01. 3ª a 6ª das
10h às 19h. Sáb. e Dom. das 14h às 19h.
Fotografia.
Estúdio
De Nuno Ramalho, Renato Ferrão.
Lisboa. Fundação Carmona e Costa. Ed de Espanha
- R. Soeiro Pereira Gomes L1 - 6º A/C/D. Tel.:
217803003. Até 22/01. 4ª a Sáb. das 15h às 20h.
Instalação, Desenho,
Outros.
Livros
espécie de tribo assentada do
outro lado das muralhas, vagamente
ameaçadora, que era necessária
acalmar de Natal em Natal com
roupas usadas, latas de conservas e
brinquedos com os quais já ninguém O conto mais interessante
se divertia”. deste volume
Também no pátio vive Gavrila, o é o de Dulce Maria Cardoso
filho de uma bailarina ausente. É com
ele que Adriana vai aprender a voar e
a perceber o que é e quais são os
limites desse mesmo amor. É como se
Alice se cruzasse com Peter Pan.
“Paraíso Inabitado” é, pois, um
bosque de cimento onde a recriação
mágica que se pode fazer da infância
não tem limites, mas de onde se
tiram lições: “Podemos passar dias,
mesmo anos, movendo-nos numa
neblina onde quase não tomamos
conhecimento do que se passa à
nossa volta. Algo semelhante penso
agora me aconteceu”.
Um livro que se constrói com uma de Noé chamada 40 – Quarenta, que mulheres dos homens que queria
prosa transparente semelhante ao ia ao fundo porque entre os autores matar. e elas, burras, caíam por ele
cristal com que se armaram os seleccionados não havia, nem de e faziam por ele o que lhes pedisse.
lustres que caem do tecto em forma longe, quarenta escritores Uma velha de coração perdido é
de aranha. Mas depois não sabemos propriamente ditos. Esta nova uma suicida” (pág. 134). Uma
nunca se a mesma aranha, o próprio antologia, “Em Busca da Felicidade”, espécie de maldição sexual, amores
bicho, não se cruzará connosco reduz o número a dez, com desenfreados que levam à perdição
vinte páginas mais tarde. Se o fizer resultados um nadinha mais dos “corações estragados” (o conto
entra e sai fugaz como o unicórnio, apresentáveis. de Maria do Rosário Pedreira é
sem deixar qualquer marca de A “felicidade” é um tema literário muito semelhante, enquanto Maria
sadismo no território que difícil, muito mais difícil do que a Antonieta Preto opta por um quase
atravessou. Ou pelo menos disso não infelicidade. Se a felicidade é, para realismo mágico bastante frouxo).
há recordação. Nem trauma. Apenas citar um poeta italiano, o José Luís Peixoto (1974) antecipa a
constatação de um facto. “inexprimível nada”, então o conto felicidade sexual de um casal, ainda
Apostamos que Ana Maria Matute mais interessante deste volume é o antes de ter acontecido alguma
dificilmente aceitaria que um livro de Dulce Maria Cardoso, pequena coisa, e o conto oscila entre o
seu fosse um dia ilustrado por Paula vinheta de um casal em férias que sentimentalismo e o engenho de um
Rego. talvez lembre Hills Like White texto que é um programa que pode
Aqui, a magia é mesmo branca. Elephants, de Hemingway, em ou não ser cumprido. Quanto a João
registo mais leve. Não se passa Tordo (1975), continua fiel à sua
nada, quase nada, lazer e bom concepção da narrativa como
O inexprimí- tempo, copos de vinho e discussões
amáveis. A felicidade aparece como
jornalismo, com um português em
Londres que investiga um caso de
vel nada sinónimo de beleza, de beleza como
estado de espírito, como plenitude,
violência racista. O conto não tem
nada de errado, mas lê-se e
os sentidos todos lassos mas esquece-se.
Dez autores de língua atentos. E, no entanto, surgem A presença africana vai do trivial
indícios de infelicidade, da vida dos (o primeiro dia de aulas narrado por
portuguesa escrevem contos insectos às crianças com Ondjaki) ao desagradável (um conto
sobre a felicidade. problemas, rumores ou incidentes revanchista de Pepetela sobre os
Pedro Mexia mínimos que turvam a felicidade ou autores angolanos exilados). Pelo
mostram que a felicidade tem um que o outro ponto alto é o conto de
Em Busca da Felicidade - Dez contexto, é um parêntesis sempre Lídia Jorge, uma tocante descoberta
histórias ameaçado. do cristianismo por duas crianças.
Vários autores Um dos motivos de interesse Duas crianças que não acreditam
Dom Quixote deste “Em Busca da Felicidade” é a que o menino deitado nas palhinhas
presença de três vencedores do e o homem pregado numa cruz
mmnnn Prémio Saramago, geralmente sejam a mesma pessoa, que não
apontados como três dos mais aceitam aquela cruel repetição anual
Além de algumas interessantes autores novos. Nesta de nascimento e morte, e que por
panorâmicas colectânea, valter hugo mãe (1971) é isso, na sua ingenuidade, dão
substanciais do de longe o mais forte. Trata-se, sumiço a uma imagem religiosa
conto português, como de costume, de uma história valiosa. Ao contrário do conto de
como as de João de rural e visceral, neste caso sobre Patrícia Reis, que figura
Melo e Vasco Graça um homem que se envolve com directamente Deus como
Moura, saíram nos mulheres casadas até as fazer personagem, uma tentativa sempre
últimos anos uma viúvas, e que depois se condenada a um retumbante
quantas antologias desinteressa: “(…) passava-me pela fracasso, Lídia pega numa hipotética
que geralmente reúnem autores de cabeça que o mal que este queria às memória infantil e, por assim dizer,
determinada editora. A Campo das mulheres casadas seria mais salva o cristianismo de si mesmo, ou
Letras e a Quasi, por exemplo, ou a exactamente um mal que queria aos seja, destaca aquilo que nele é
Cotovia, que publicou um volume de maridos, se era destas que se ia bondade daquilo que é sofrimento.
qualidade. Quanto à Dom Quixote, livrando. não o comentei senão com Claro que se trata de uma ilusão
casa de muitos ficcionistas a minha avó, que o zequelino infantil, mas é uma bela ideia de
portugueses, fez em 2005 uma arca haveria de escolher a dedo as felicidade.
Cinema
“Where The Wild honestidade desarmante mas incisivo sobre os
Things Are” é um filme no que diz respeito à fantasmas que percorrem
Espaço para crianças pouco infância e ao que julgamos a infância. 8 monstros
convencional e bastante poder vir a ser o mundo, em 10.
Público deslocado. Esqueçam reis e senhores de um iguel Silva, 36
Pedro Miguel
a varinha do Harry universo que é perfeito cnico de
anos, Técnico
Potter ou as crónicas até medirmos forças cação
Comunicação
semanais da Narnia, com a realidade. Está Blogue: http:
aqui navegamos por tudo lá: a irreverência, usco
co
o.
/fusco-lusco.
territórios estranhos ao o medo, a descoberta, a t.
blogspot.
cinema infanto-juvenil desilusão, num retrato com
do costume numa descomprometido
“Estrela Cintilante” fala: do poder quase sagrado da palavra (escrita ou falada) para nos abrir portas, câmara que a saúde frágil de Keats
caminhos, janelas que nos mostram quem somos, quem podemos ser, quem queremos ser confina a salas, salões, quartos. A
natureza, em “Estrela Cintilante” é
uma Natureza idealizada, que Keats
regista na sua memória num dos
espaçados planos de exteriores do
filme e depois reconstitui na sua
poesia ornamentada à qual a voz de
Ben Whishaw dá uma vida
extraordinária (à atenção da
distribuidora: é inexplicável e
lamentável que o poema lido por
Whishaw ao longo do genérico final
não esteja legendado).
Retrato assombroso de um
romance moderno antes do seu
tempo, “Estrela Cintilante” é um
poema em cinema. E o primeiro
grande filme de 2010.
O dia do
desespero
O filme que John Hillcoat
tirou do romance de Cormac
Estreiam responsabilidade dela mas sim das
expectativas que o triunfo
do seu tempo, moderna,
determinada. A Fanny de Abbie McCarthy é uma viagem
improvável de “O Piano” (1993) Cornish é uma jovem que pode não sem regresso a um mundo
A defesa colocaram nos ombros de uma
cineasta que segue uma musa muito
ter verdadeiramente experiência de
vida, mas entrevê nas palavras que
pós-apocalíptico onde a
do poeta pessoal e ainda mais peculiar. De tal
modo que os olhares mais
Keats escreve a possibilidade de uma
emoção de tal modo transcendente
humanidade enfrenta o
fim da esperança. Jorge
mercantilistas olharam para que raia o sagrado.
“Retrato de uma Senhora” (1996), E é disso que “Estrela Cintilante”
Mourinha
O novo filme de Jane
“Fumo Sagrado” (1999) e “Atracção fala: do poder quase sagrado da
Campion finta todas as Perigosa” (2003) como “suicídio palavra (escrita ou falada) para nos
A Estrada
The Road
expectativas do filme de comercial” a longo prazo – abrir portas, caminhos, janelas que De John Hillcoat,
época para contar uma esquecendo o modo como cada um nos mostram quem somos, quem com Viggo Mortensen, Kodi Smit-
desses três filmes se inscrevia com podemos ser, quem queremos ser;
arrebatada paixão moderna naturalidade no percurso de uma da palavra poética como ponte
McPhee, Robert Duvall. M/16
despoletada pelo poder da realizadora mais atenta às correntes espiritual entre as pessoas; do amor MMMMn
palavra. Jorge Mourinha subterrâneas das suas personagens como experiência sensorial de uma
do que à recepção comercial de transcendência inexplicável mas Lisboa: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 1: 5ª 2ª
3ª 4ª 16h20, 18h50, 21h50 6ª 16h20, 18h50, 21h50,
Estrela Cintilante filmes que não foram pensados para que, em condições ideias de
00h10 Sábado 13h30, 16h20, 18h50, 21h50, 00h10
Bright Star serem “blockbusters”. temperatura e pressão, consegue ser Domingo 13h30, 16h20, 18h50, 21h50; Castello Lopes
De Jane Campion, Isto tudo para dizer que, como é traduzida em palavras. E, para - Loures Shopping: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo
2ª 3ª 4ª 12h55, 15h20, 18h10, 21h40,
com Paul Schneider, Thomas Sangster, habitual em Campion, “Estrela melhor o traduzir para os seus 00h10; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 5: 5ª 6ª
Abbie Cornish, Kerry Fox. M/12 Cintilante”, primeiro grande (que espectadores, Campion filma tudo 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h, 18h30, 21h40, 24h Sábado
dizemos? Grandíssimo, isto no âmbito de um peculiar Domingo 11h30, 13h45, 16h, 18h30, 21h40,
24h; CinemaCity Campo Pequeno Praça de
MMMMn extraordinário) filme que estreia em triângulo amoroso (o terceiro vértice Touros: Sala 7: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 14h05, 16h30,
2010, vai começar por ser visto é Charles Brown, amigo, anfitrião e 18h55, 21h45, 00h05 Sábado Domingo 11h45,
Lisboa: Castello Lopes - Londres: Sala 1: 5ª como uma daquelas biografias auto-nomeado protector de Keats 14h05, 16h30, 18h55, 21h45, 00h05; Medeia
Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h, 21h30 6ª Saldanha Residence: Sala 8: 5ª 6ª Sábado
históricas muito britânicas de com quem Fanny se pega desde o
Sábado 14h, 16h30, 19h, 21h30, 24h; CinemaCity Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h, 19h30, 22h,
Campo Pequeno Praça de Touros: Sala 6: 5ª 6ª irrepreensível reconstituição de primeiro encontro), como se fosse 00h30; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 5: 5ª 6ª
Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h20, 19h, época. Ou não contasse a história um idílio pastoral literalmente de Sábado 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h40, 19h05, 21h55,
21h25, 23h50; Medeia Monumental: Sala 4 - Cine
Teatro: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30,
verídica (mas livremente
17h, 19h30, 22h, 00h30; UCI Cinemas - El Corte romanceada por Campion a partir
Inglés: Sala 14: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h05, da pesquisa realizada por Andrew
16h40, 19h15, 21h45, 00h15 Domingo 11h30, 14h05,
16h40, 19h15, 21h45, 00h15; ZON Lusomundo
Motion, biógrafo do poeta) do
Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, romance entre John Keats, um dos
15h40, 18h20, 21h20, 24h; ZON Lusomundo Oeiras grandes poetas românticos do
Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h,
princípio do século XIX, e Fanny
série ípsilon II 15h50, 18h40, 21h35, 00h20; ZON Lusomundo
Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
13h40, 16h30, 20h55, 23h45;
Brawne, a sua jovem e arrebatada
vizinha. Romântico é a palavra certa
Porto: Arrábida 20: Sala 14: 5ª 6ª Sábado para descrever o amor de Keats e
Domingo 2ª 14h05, 16h45, 19h25, 22h10, 00h55 3ª Fanny, noivado que a morte
Sexta-feira, 4ª 16h45, 19h25, 22h10, 00h55; Medeia Cidade do
prematura do poeta impediu de
Porto: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
dia 15 de Janeiro, 14h10, 16h40, 19h10, 21h40; ZON Lusomundo consumar, mas se à superfície o
o DVD “Juno”, NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª filme cumpre muitas das figuras
14h30, 18h, 21h10, 00h10;
de Jason Reitman. obrigatórias do género, um simples
Um filme de sucesso pode fazer olhar por baixo do tapete descobre
Todas as sextas, muito mal a um realizador que não mais um daqueles “retratos de
lhe está habituado – no caso da neo- senhora” em que a realizadora é O apocalipse tem sido recorrente no cinema recente, mas o que
por €1,95. 20 zelandesa Jane Campion, o perita – uma mulher imperiosa e Hillcoat faz ultrapassa a fancaria digital de Emmerich ou até a visão
anos
problema não é tanto insegura ao mesmo tempo, à frente da metrópole abandonada do “Ensaio Sobre a Cegueira” de Meirelles
Cinema
00h25 Domingo 11h30, 14h10, 16h40, 19h05, McPhee no papel do pai e do filho Porto: Arrábida 20: Sala 13: 5ª 6ª Sábado
21h55, 00h25; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Domingo 2ª 14h20, 16h35, 18h55, 21h30, 00h10 3ª
que percorrem uma América pós-
Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h25, 19h, 4ª 16h35, 18h55, 21h30, 00h10; ZON Lusomundo
21h50, 00h25; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª apocalíptica em busca de uma Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h20, quimera que talvez já não exista. 13h40, 16h20, 19h, 21h50, 00h25;
18h50, 21h40, 00h15; ZON Lusomundo Colombo: 5ª
Mas o verdadeiro triunfo de “A
6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h25, 18h,
21h15, 23h50; Castello Lopes - Rio Sul Shopping: Sala Estrada” é no modo como Hillcoat Spike Jonze, até nos telediscos
3: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 15h20, 18h50, 22h, 00h40 articula todos esses elementos (alguns nada maus), tem um
Sábado Domingo 12h40, 15h20, 18h50, 22h,
numa visão angustiante, aterradora, interesse particular por neuroses e
00h40; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª
Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h15, 18h, incomodativa, de um mundo morto outros macaquinhos no sótão
21h45, 00h25; e sem esperança, onde a (“Being John Malkovich”,
Porto: Arrábida 20: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo humanidade está reduzida a uma “Adaptation”). Não é, portanto,
2ª 14h05, 16h45, 19h25, 22h10, 00h45 3ª 4ª 16h45, selvajaria animal e impiedosa, a razão para grande surpresa que
19h25, 22h10, 00h45; ZON Lusomundo Dolce Vita
Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, uma sobrevivência primal. Onde um agora apareça com esta fábula
15h50, 18h40, 21h30, 00h10 ; ZON Lusomundo homem e um menino procuram, levemente freudiana, feita de
GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª quase como D. Quixote investindo tristeza, raiva, uns pozinhos de
13h50, 16h30, 19h10, 21h40, 00h20 ; ZON
Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª Sábado contra os moinhos, manter viva a Édipo e toda aquela “quirkiness”
Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 16h20, 19h10, 22h, chama de uma civilização, por mais (falta-nos melhor palavra em
00h40; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª
trémula que ela seja, no mais português), aliás já a caminho de se
Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h10, 18h50,
21h40, 00h25; ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª absoluto negrume. tornar um bocado irritante,
Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h15, 19h, 21h45 6ª Hillcoat faz deste mundo perdido característica dos filmes dele, dos
Sábado 13h30, 16h15, 19h, 21h45, 00h30;
em que nos mergulha de Charlie Kaufman, e doutros que
Enquanto víamos “A Estrada”, impiedosamente o palco improvável andam por essa órbita. “O Sítio das
demos por nós a pensar que o filme de uma meditação sobre a herança, Coisas Selvagens” diz que está tudo
de John Hillcoat apenas vai ter uma a transmissão, a esperança. Inverte na mente; e se na mente está tudo o
fracção infinitesimal dos de modo hábil as coordenadas que entristece e enfurece, que se
espectadores que assistiram à habituais do cinema de género e da encontre na mente o remédio. É a
super-produção de Roland ficção apocalíptica para as reduzir a moral da história, aparentemente
Emmerich “2012”. Vai de si: as um mero esqueleto, amputado de fiel à do livro adaptado pelo
pessoas hão-de sempre preferir um heroísmos e fantasias, do qual argumento, espécie de “clássico
apocalipse que “encha o olho”, apenas resta um instinto tribal de moderno” da literatura infantil
cheio de milagres tecnológicos que sobrevivência confrontado com um americana, da autoria de Maurice
salvam o futuro da humanidade à mundo onde todas as referências e Sendak, e publicado nos anos 60
última hora, do que um que nos padrões desapareceram para talvez (um bocadinho de investigação
recorde como a nossa existência na nunca mais regressarem e onde o rapidamente nos deixa mais
Terra é frágil, à mercê dos desespero e a morte são curiosos com o livro do que
elementos e, apesar de toda a perseguidores incansáveis. Talvez interessados no filme de Jonze).
esperança, sem salvação garantida. haja mais de super-herói neste pai Reduzida ao esqueleto, a intriga
O apocalipse tem sido assunto que teima em sobreviver no que em tem a limpidez de qualquer fábula.
recorrente no cinema recente, mas o todas as fitas de super-heróis jamais Um miudo zanga-se com a irmã,
que Hillcoat faz a partir do romance feitas (e não é inteiramente casual com a mãe, com o namorado da
de Cormac McCarthy ultrapassa a que seja Viggo Mortensen, mãe, e no cúmulo da raiva abre-se-
fancaria digital de Emmerich ou até consagrado pelo heróico Aragorn do lhe uma porta mental qualquer que
a perturbante visão da metrópole “Senhor dos Anéis”, a entregar-se- o conduz a um mundo imaginário,
abandonada do “Ensaio Sobre a lhe com esta paixão). O que reside povoado por criaturas vagamente
Cegueira” de Fernando Meirelles. O no fim da estrada que Hillcoat parecidas com bois, cães e outros
mundo destruído, moribundo, desenha não sabemos, tal como não animais, e mais ainda com os
angustiantemente plausível de “A sabemos o que causou o apocalipse Marretas (o que não é de estranhar,
Estrada” é um daqueles “milagres” que destruiu a civilização; o que porque as criaturas foram feitas
que ainda só o cinema consegue sabemos é que a viagem em que ele pela Jim Henson Creature Shop).
criar – um equivalente invertido, nos leva exige um estômago forte Depois dos quipróquós iniciais os
cinzento e “flat”, da demiurgia (espíritos frágeis, abstenham-se) e bois e os cães (que têm vozes
Cameroniana de “Avatar”. nos devolve à realidade famosas: James Gandolfini, Forest
Não é, no entanto, nessa oposição singularmente impressionados.
fácil e gratuita do filme inane de
grande espectáculo ao filme
intimista de prestígio que reside o Marretas no sótão
discreto triunfo de “A Estrada”. Nem
no facto do australiano Hillcoat (que O Sítio das Coisas Selvagens
apenas conhecemos entre nós do Where the Wild Things Are
western dos Antípodas “Escolha De Spike Jonze,
Mortal”, 2005) e do argumentista com Catherine Keener, Max Records,
inglês Joe Penhall terem conseguido Mark Ruffalo. M/12
adaptar o supostamente inadaptável
romance de McCarthy, MMnnn
transcendendo uma pós-produção
complicada que viu a estreia do Lisboa: CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 6: 5ª 6ª
2ª 3ª 4ª 13h30, 15h30, 17h30, 19h30, 21h30, 23h30
filme, rodado em 2008, atrasada de Sábado Domingo 11h35, 13h30, 15h30, 17h30, 19h30,
quase um ano. 21h30, 23h30; Medeia Monumental: Sala 1: 5ª 6ª
Esses factores ajudam, claro, e Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 15h40, 17h40,
19h40, 21h40, 00h15; UCI Cinemas - El Corte
não é pouco – a par de uma Inglés: Sala 13: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h30,
impecável produção artística e 16h45, 19h15, 21h30, 23h50 Domingo 11h30, 14h30,
técnica (a fotografia cinzenta, 16h45, 19h15, 21h30, 23h50; ZON Lusomundo
Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
dessaturada de Javier 13h30, 16h10, 19h, 21h50, 00h10; ZON Lusomundo
Aguirresarobe, o design de CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
produção meticuloso de Chris 13h10, 16h10, 18h40, 21h25, 23h50; ZON Lusomundo
Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
Kennedy), a par das interpretações 13h15, 16h, 18h35, 21h15, 23h50; ZON Lusomundo
assombrosas de Viggo Mortensen e Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
do estreante australiano Kodi Smit- 13h, 15h25, 17h50, 21h50, 00h20; Sorry, Spike, das outras vezes funcionou um
Whitaker, Chris Cooper) tratam o esse projecto está condenado ao mas não supera os “vícios” de uma graças ao atmosférico trabalho tom impiedoso dos “Short Cuts” de
miudo nas palminhas, aclamam-no semi-fracasso (sejamos positivos: ao primeira obra – o querer falar de fotográfico de Gerard De Battista, Altman a partir de Carver e os
como o “Rei” (o “rei” que ele sucesso relativo!), à míngua de um tudo, uma ambição desmedida de toda a guerra de clãs soa a falso. Os momentos mais fantasiosos da
gostava de ser em casa, talento que dê para mais do que ritualizar gestos e relações, sem actores desconhecidos bem se velhinha “Quinta Dimensão” a meio
naturalmente). Finalmente, o diálogos estrambólicos e uma meia- domínio da linguagem, que esforçam por “fazer das tripas termo entre o trivial e o
miudo farta-se de tanto mimo, ou dúzia de, chamemos-lhes assim, corresponde à intensidade anímica coração”, mas aparecem perdidos desconcertante, pacientemente
lembra-se que não há amor como o “ideias de visual”. Sorry, Spike, das do projecto, nem da montagem, numa ficção de que não entendem filmado em “stop-motion” (a
amor de mãe. outras vezes funcionou um confusa e aleatória. bem as implicações, como estátuas técnica de animação usada pela
Causa um certo efeito, durante bocadinho melhor. E as canções de Até existe, por vezes, nesta hirtas e impotentes ou, no caso da Aardman na série “Wallace e
algum tempo. A aposta é confrontar Karen O (dos Yeah Yeah Yeahs), em história de vingança e morte uma protagonista, a israelita, Ronit Gromit”). O melhor elogio que se
uma psique infantil, no que ela tem modo gata a miar (é a “melancolia”, interessante vontade de construir Elkabetz, a adoptar um “overacting” pode fazer ao filme da israelita
de mais definido, com a estranheza a “tristeza”), que encharcam a radicada em Nova Iorque Tatia
desconexa do universo das banda sonora, não ajudam muito. Rosenthal, meditação triste mas
criaturas, que é uma representação Luís Miguel Oliveira Seja responsável. Beba com moderação. esperançosa sobre a solidão e o
enviesada de uma mistura de isolamento pontuada por um
sentimentos (a tristeza, a raiva, o humor escuro de tão seco, é que ao
amor, o despeito) e de uma teia de Cinzentas bodas fim de pouco tempo nos
relações, complicadas e
incompletamente explicadas, que
de sangue esquecemos de que estamos a ver
uma animação para nos deixarmos
por sua vez está no lugar do Cinzas e Sangue embalar pela inteligência do guião e
“mundo dos adultos”. Cendres et sang pela elegância com que Rosenthal
A cena da chegada à ilha (é duma De Fanny Ardant, transforma estes bonecos mal
ilha que se trata) é francamente com Ronit Elkabetz, Abraham acabados em gente de carne e osso.
boa: há ali uma violência vinda do Belaga, Marc Ruchmann. M/12 E, no entanto, é-nos difícil acreditar
nada (as criaturas andam a destruir que este filme pudesse existir em
casas, ou lá o que é), uma Mnnnn imagem real. Na sua recusa
reformulação dos clássicos “ogres” terminante das gavetas, “$9.99” é
ou clássicas “fadas” (todos têm um Lisboa: Medeia King: Sala 1: 5ª Domingo 3ª 4ª uma pequena surpresa que merecia
14h, 16h, 18h, 20h, 22h 6ª Sábado 2ª 14h, 16h, 18h,
pouco das duas coisas), que figura 20h, 22h, 00h30;
outra atenção. J. M.
bem o choque, o “choque mental”.
Porto: Medeia Cine Estúdio do Teatro Campo
A gravidade e a dicção perfeita com
que a bicharada diz os seus diálogos
Alegre: Cine-Estúdio: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª
3ª 4ª 18h30, 22h; Continuam
- absurdos, neuróticos, angustiados
- cria uma sensação de estranheza A passagem de um actor para o Um Profeta
que tanto atrai como repele (certas outro lado das câmaras é uma Un prophète
Para quem leva o riso bem a sério e se aplica na boa disposição,
cenas são um bocado “Beckett com tentação cujos resultados nem De Jacques Audiard,
a Jameson preparou um conjunto de festas verdadeiramente divertidas.
peluches”). Depois começa a sempre correspondem ao carisma com Tahar Rahim, Niels Arestrup,
Entre num caso sério de gosto pela vida. Há poucas oportunidades assim.
cansar, a tornar-se demasiado óbvio evidenciado em filmes de outrem. O Adel Bencherif.
(as rimas, as frases que aludem à caso de Fanny Ardant, com carreira
“vida real” do miudo) como prestigiosa desde os tempos em que
www.jameson.pt MMMMn
alegoria terapêutica, e ao mesmo funcionou como musa das últimas
tempo demasiado aleatório obras de François Truffaut até à Lisboa: Medeia King: Sala 3: 5ª Domingo 3ª 4ª
14h45, 18h15, 21h30 6ª Sábado 2ª 14h45, 18h15,
(caminhada para aqui, caminhada participação bastante criteriosa em 21h30, 00h20; Medeia Saldanha Residence: Sala 5:
para ali, mas progressivamente películas internacionais, não 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h45, 15h40,
mais mole e mais esgotado). constitui excepção: “Cinzas e 18h35, 21h30, 00h20; UCI Cinemas - El Corte
Inglés: Sala 7: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 15h, 18h05,
O miudo é bom (chama-se Max Sangue” parece revestir-se de uma uma dimensão operática, que insuportável. O facto de Ardant ter 21h20, 00h20 Domingo 11h30, 15h, 18h05, 21h20,
Records), as vozes são boas (Cooper certa força trágica, revelando confere relativa força a um optado por um não-tempo e não- 00h20; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado
e Gandolfini, sobretudo), mas cicatrizes abertas na memória argumento recheado de boas espaço também ajuda pouco: nem Domingo 2ª 3ª 4ª 20h50, 23h50;
rapidamente se percebe que se colectiva de uma sociedade intenções, embora mal construído e realista, nem mítico, o filme arrasta- Porto: Arrábida 20: Sala 17: 5ª 6ª Sábado
Jonze tem um “projecto ancestral, dá boas indicações com diálogos inacreditáveis: uma se numa lentidão sem sentido, entre Domingo 2ª 14h15, 17h40, 21h15, 00h35 3ª 4ª
17h40, 21h15, 00h35; Medeia Cidade do Porto: Sala
melancólico” não desprovido de quanto à construção de viúva que escapara à terra dos seus olhares vazios e figuras de negro 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h45, 18h15,
originalidade e poder de sedução, personagens, sobretudo no início, antepassados, algures nos Balcãs (o vestidas, a fingir um “Lorca 21h30;
filme foi rodado na Transilvânia, balcânico” (tragédia grega nem
mas parte de um romance de Ismael sonhar) com mais sinais exteriores Moldado no filme de gangsters e no
Kadaré, ambientado na sua Albânia do que nervo. clássico filme de prisão, “Um
natal), na companhia dos três filhos, Preferimos a Fanny Ardant, Profeta” faz implodir todas as regras
regressa dez anos depois para um ardente actriz de outras “aventuras” e códigos, mais interessado numa
casamento de família e vê-se mais afortunadas. Mário Jorge espécie de realismo ontológico que
confrontada com todo o tipo de Torres questiona as próprias formas
animosidades, acabando por fílmicas. O que a câmara de Jacques
sossobrar a um ambiente hostil que $9.99 Audiard faz é percorrer os corpos e
desencadeia a “tragédia” no meio de De Tatia Rosenthal, os espaços, procurando a
um conflito pela terra e pelo direito com Joel Edgerton (Voz), Geoffrey iconografia do mundo moderno e
à “vendetta”. Rush (Voz), Anthony Lapaglia (Voz). desmitificando as razões da
No entanto, com orçamento violência que estala em cada plano.
reduzido, numa produção de Paulo MMMnn Por isso, se permanece atento ao
Branco, a actriz-realizadora debate- mundo mafioso que retrata, não tem
se com inúmeros problemas Lisboa: CinemaCity Classic Alvalade: Sala 4: 5ª 2ª contemplações ao focar um
3ª 4ª 13h45, 15h30, 17h10, 19h, 21h35 6ª 13h45,
resultantes da inexperiência, mas 15h30, 17h10, 19h, 21h35, 23h30 Sábado 11h30,
ambiente claustrofóbico, sem
também do facto de contar com 13h45, 15h30, 17h10, 19h, 21h35, 23h30 Domingo embelezamentos, mas de um modo
elevado número de personagens, 11h30, 13h45, 15h30, 17h10, 19h, 21h35; poético. Desde os tempos de Gabin
cenas de acção com lobos e cavalos, com Carné e os irmãos Prévert que o
tudo a escapar-lhe por entre os 2010 começa com um daqueles cinema francês não evidenciava esta
dedos, sem conseguir soluções OVNIs de que o espectador incauto força, esta pujança maléfica, embora
satisfatórias para evitar uma não se recompõe facilmente: uma vulnerável e comovente, dando ao
sensação de involuntário improviso animação para adultos baseada nos protagonista um misto de
e de desconchavo narrativo. Se a contos surreais do escritor israelita representação crística e de anjo
ou um bocadinho melhor paisagem desolada ainda funciona, Etgar Keret, cruzamento entre o exterminador. M.J.T.
DVD
intérprete de Doinel ter sido sempre qualidades diferentes, no limite o
esse “ex-libris” de Truffaut em próprio cinema de Truffaut vai
particular e da “nouvelle vague” em mudando. “As aventuras de Antoine
geral, Jean-Pierre Léaud: Truffaut Doinel” também são vinte anos
nunca disse “Doinel, c’est moi”, mas revistos elipticamente, numa
esteve quase a dizer “Doinel, c’est crónica pontual que funciona a
Léaud”, e entre o que é “moi” e o vários níveis – e onde o mais
que é “Léaud”, como se imiscuem e impressionante e o mais comovente
como se cindem, se joga muita da é mesmo o crescimento e
singularidade da série centrada na amadurecimento de Léaud entre a
personagem de Antoine Doinel. adolescência dos “Quatrocentos
Quatro longas-metragens e uma Golpes” e a idade de homem feito
curta (“Antoine e Colette”), por altura do “Amor em Fuga”. A
realizadas num período de vinte maneira como Léaud habita estes
anos (entre 1959 e 1979), retratando filmes ajuda a perceber a que se
diferentes etapas da vida referia Truffaut quando dizia que
(sentimental, sobretudo) da Doinel foi ficando “cada vez mais
personagem de Doinel. A Léaud e cada vez menos Truffaut” –
De François Truffaut adolescência (“Os Quatrocentos a um nível não especialmente
Cinema Edição: Valentim de Carvalho / MK2 Golpes”, 1959); as paixonetas ainda rebuscado, é quase uma “co-
adolescentes (“Antoine et Colette”, autoria” (e isto sem falar da
Juno
1.º DVD
Juno
Sexta-feira, 15 de Janeiro
Por apenas + 1,95 euros
na compra do PÚBLICO