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ABORDAGEM HOMEOPÁTICA DE ESCOLARES COM INADEQUAÇÕES

EMOCIONAIS E COMPORTAMENTAIS

demerval florêncio da rocha *

É consenso entre os educadores que o processo ensino-aprendizagem demanda uma


convergência de fatores para que possa ser produtivo e gratificante para os diversos
protagonistas do mesmo. Esses fatores estão ligados: 1) à escola, enquanto edificação,
condições materiais, competência administrativa, projetos político-pedagógicos,
relacionamento com a comunidade onde está territorialmente inserida; 2) ao professor,
enquanto elemento facilitador do aprendizado, seu interesse, empenho, formação,
vocação, talento, criatividade, espontaneidade, motivação; 3) à família, em seu papel de
base sócio-afetiva e formativa da pessoa e do cidadão; 4) ao aluno, enquanto
personagem central do processo, sua responsabilidade, potencialidade cognitiva, saúde
física e emocional, disciplina e adequação comportamental.
São muitos os dilemas que hodiernamente desafiam a comunidade escolar e se originam
de vários fatores acima alinhavados, os quais podem acarretar múltipla distonia na
dinâmica de interação para a aprendizagem. A escola, enquanto instituição, costuma ser
inflexível em relação ao conteúdo programático a ser cumprido ao longo do ano letivo.
O professor tende a se postar sistematicamente no sentido de cumprir programação
cronometrada pela escola. A família, muitas vezes já se originou ou se tornou
psicossocialmente fragilizada, sem integridade nem consistência bastantes para
transmitir e entronizar em sua prole valores humanos condizentes com o processo de
educação para o trabalho, para as relações humanas e para a cidadania. E o aluno, por
fim, não tendo o aporte familiar indispensável ao desenvolvimento de predicados
apropriados ao processo de aprendizagem, encontra dificuldades em se coadunar ao
sistema escolar e sobre ele recai o estigma do desenquadramento, da incapacidade e do
fracasso. Não estamos nos referindo ao aluno com incontroversa desvantagem cognitiva
patológica de natureza genética, congênita ou adquirida (por infecções, traumatismos
etc), o qual necessita de um modo diferenciado de inclusão escolar. Neste projeto,
estamos tratando apenas do aluno que apresenta condições neuropsicológicas ao menos
medianas de assimilação de conteúdos escolares. Este aluno, que quase sempre se torna
o bode expiatório do fracasso escolar, sobre o qual recaem diagnósticos tais como
transtorno do aprendizado e distúrbios da escolarização, é um produto do contexto
social em que está inserido e pode ter sua condição de baixo rendimento escolar muito
raramente justificada por ser possuidor de uma constituição psíquica
comportamentalmente ou cognitivamente limitante. No mais das vezes suas limitações
não se explicam pela constituição individual e sim pela conjunção de fatores aqui
levantados, sobretudo os sócio-familiares. Por sua vez, a escola, ao buscar para esse
aluno uma classificação no âmbito da biomedicina (principalmente na neuropsicologia),
conduzindo-o para uma abordagem médica reducionista (simplificar sua complexa
condição de ser humano com um diagnóstico e embotar suas manifestações), ela

___________
* Médico pediatra e homeopata com mestrado em Ciências da Saúde Humana (área de
concentração: Ações de Promoção da Saúde). Autor do livro Emoções cancerígenas à
luz da homeopatia..
está contribuindo para fragmentar a solução do problema ensino-aprendizagem,
simplificando-o com a categorização de uma figura: o aluno problemático. Mas não é
justo que este represente a figura inteira do problema - é apenas um dos quatro lados da
figura.
Todos sabemos da quase utopia de atacar o problema por todos os lados: escola,
professor, família e aluno. Mas se o fizermos por um dos lados, o do aluno, ao menos
que o façamos levando em conta a integralidade do mesmo, pois a fatia do aluno para o
bolo não se resume a um conjunto de comportamentos que pode ser enquadrado dentro
de um diagnóstico psiquiátrico. É necessário compreender o sentido dos
comportamentos, a origem e intensidade dos sentimentos e como os contextos os geram
ou neles influenciam. Desse modo o entenderemos como totalidade e não apenas como
um desviante. A homeopatia busca compreender as diversas dimensões do ser humano,
para poder abordá-lo em suas peculiaridades; entender os elementos que o distinguem
dos demais, que o singularizam, que definem sua individualidade, sua idiossincrasia.

A PROPOSTA DA HOMEOPATIA

A Homeopatia é uma prática clínica que já arquiva duzentos anos de experiência mundo
afora. Embora seus postulados sejam alvos de desapreço pelo sistema cartesiano de
investigação científica, seus resultados práticos a cumulam de méritos crescentes por
parte da sociedade em geral. Cada vez mais pacientes se interessam por seus benefícios
e mais profissionais por seu estudo. Eis seu princípio básico: um medicamento é capaz
de curar ou aliviar sintomas de indivíduo doente quando também for capaz de provocar
sintomas semelhantes em voluntário sadio. Mesmo que a biomedicina conteste este
principio da similitude, há milhares de exemplos atestando sua veracidade. Vamos a um
deles, e bastante simples. A maioria dos clínicos e dermatologistas sabem que um dos
tratamentos mais eficientes para escabiose (sarna) é uma preparação à base de enxofre
precipitado. Isto é um fato clínico. Eis então o fato experimental: se aplicarmos enxofre
na pele de pessoa sadia, a mesma irá (com alta freqüência) desenvolver um quadro
muitíssimo parecido com o da escabiose. Um outro exemplo, e que tem a ver com a
clientela deste projeto: o medicamento chamado metilfenidato (Ritalina) é o mais
utilizado por psiquiatras e neurologistas para tratar crianças com transtorno por déficit
de atenção com hiperatividade (TDAH). Como pode dar algum resultado (e dá algum),
se esse fármaco é um psico-estimulante, e a criança com TDAH já é excitada até
demais? É apenas mais uma prova da veracidade do princípio homeopático da
similitude: um medicamento capaz de provocar excitação em indivíduo normal também
é capaz de aliviar a hiperexcitablidade da criança com TDAH. Ainda um terceiro: no
mais conhecido tratado de cancerologia do mundo (DE VITA, 2001, p.243-4) os autores
tabelam as “causas conhecidas de câncer de seres humanos” e as dividem em cinco tipos
de fatores – ambientais, hábitos de vida, ocupacionais, biológicos e farmacológicos.
Nesta última categoria encontram-se 13 medicamentos ou classes inteiras de
medicamentos que são utilizados na própria quimioterapia do câncer, ou seja, atestando
mais uma vez o princípio homeopático da similitude: o que pode causar câncer também
é capaz de remediá-lo. Uma derradeira ilustração: qual o tratamento mais eficaz para
graves acidentes com animais peçonhentos? Exatamente, é o soro produzido com o
próprio veneno do animal. Centenas de outros exemplos que explicam a cura pela
homeopaticidade (similitude de efeitos) podem ser encontrados no abrangente estudo de
medicamentos alopáticos realizados por Marcos Zulian Teixeira, Doutor em Medicina
pela Universidade de São Paulo (TEIXEIRA, 1998).
A experimentação em voluntários sadios (segundo princípio da Homeopatia) é a melhor
maneira de se conhecer o potencial curativo de substâncias que existem em abundância
na natureza, determinando-se o que elas são capazes de provocar em pessoas não
doentes. Nos cursos de formação de homeopatas tem sido exigência curricular participar
de alguma forma em experimentações: ou como experimentador propriamente dito
(cobaia) ou em outras funções (observar e examinar o experimentador, analisar e
agrupar os sintomas surgidos etc.). Atuar como experimentador é uma experiência que
enriquece sobremaneira a visão clínica do homeopata e consolida sua vocação e seu
talento para praticar a medicina homeopática. Particularmente, durante minha formação
tive o privilégio de experimentar durante seis meses o medicamento Bothrops
jararacussu (veneno de jararaca, em preparações bastante diluídas, conforme a
farmacotécnica homeopática). O rigor científico exige experimentações cegas, ou seja, o
voluntário desconhece totalmente o que está experimentando. Os principais sintomas de
minha experiência encontram-se no site www.filosofiabarata.com.br.
Centenas de substâncias naturais (dos reinos animal, mineral e vegetal) já foram
provadas ao longo dos 200 anos de exercício da arte homeopática. Os sintomas
catalogados abrangem todas as dimensões existenciais do ser humano e não apenas o
plano físico, orgânico. Assim, além de dores, calores, rubores e tumores (os quatro
“ores” do processo inflamatório), os medicamentos também alteraram humores e
despertaram rumores – metáfora que estamos aqui deliberadamente utilizando para
designar uma série de sintomas mentais. Todos esses sintomas estão organizados em
livros que denominamos Materia Medica Homeopatica, aos quais costumamos recorrer
para prescrevermos com maior grau de acerto. Dentre os aspectos emocionais e
comportamentais que as experimentações homeopáticas têm provocado ou alterado em
voluntários sadios podemos citar: agressividade, aversão (ou desejo) de companhia,
alheamento social, ansiedade, compulsão alimentar, concentração difícil, confusão
mental, crueldade, desconfiança, desorientação, destrutividade, distração, embotamento
mental, esquecimento, euforia, excitabilidade, gestos estranhos (tiques),
hiperemotividade, impressionabilidade, impulsividade, indecisão, indiferença afetiva,
indignação, indiscrição, indolência, insolência, inquietude, insegurança, introspecção,
ira, irritabilidade, lentidão, loquacidade, medos, nostalgia, obscenidade, obscessão,
obstinação, pesadelos, pessimismo, pressa, ressentimento, rudeza, selvageria,
sonambulismo, temeridade, terror noturno, timidez etc. Coincidentemente, esses e
muitos outros estados e modos de ser, sentir, pensar e agir, nas mais diversas
combinações, são os ingredientes típicos das inadequações emocionais e
comportamentais de milhares de escolares nos mais diversos ambientes onde se
desenrolam suas rotinas e conflitos de vida, mormente na escola.
O DSM-IV (Diagnostic and Statistic Manual of Mental Disorders) classifica mais de
250 condições que podem cursar com alterações de comportamento. Todavia, para que
educadores e profissionais de saúde possam distinguir entre o que faz parte de uma
estrutura normal de personalidade e o que adentra o campo do psico-sócio-patológico é
necessário que se observe os critérios de inclusão nesse campo (GRILO e SILVA,
2004):
- quando houver problemas no rendimento escolar não explicados por fatores
intelectuais, sensoriais ou outras incapacidades físicas;
- quando percebe-se problemas em estabelecer e manter relações sociais adequadas com
outros colegas, professores ou familiares;
- quando percebe-se reações comportamentais ou sentimentos inapropriados diante de
situações corriqueiras não prejudiciais, ou tristeza e depressão contínuas;
- quando há tendência a desenvolver sintomas físicos ou medos associados a situações
comuns.
Para a homeopatia, quaisquer características humanas, desproporcionais em sua
expressão natural e promotora de distúrbios de qualquer natureza (espiritual, social,
familiar, psíquica, escolar, física, climática, alimentar etc.), são consideradas sintomas
homeopáticos, que integram a susceptibilidade mórbida individual, e devem estar
incorporadas à totalidade sintomática do indivíduo.
O tratamento homeopático adequado deve priorizar a individualização do medicamento,
valorizar aspectos mais característicos do paciente, permitindo que para uma mesma
doença ou perturbação cada indivíduo possa receber medicamento distinto do de outro
indivíduo, conforme suas susceptibilidades físicas, psíquicas, emocionais, alimentares,
climáticas etc. Isso é o que se chama homeopatia unicista, pois o indivíduo é um ser
único, singular, incomparável, e deve receber um único medicamento em cada
avaliação, a qual deve levar em conta essa unicidade, esse conjunto de dimensões
(físicas e imateriais) que constituem o ser humano Ensaios clínicos controlados que
respeitaram essas premissas demonstraram maior eficácia do tratamento homeopático
perante o placebo, ao contrário daqueles que estipularam uma mesma prescrição para
todos os portadores de uma mesmo problema de saúde ou de expressão afetivo-
comportamental, desprezando a totalidade sintomática característica individual
(TEIXEIRA, 2008).
Esse processo de individualização medicamentosa necessita de um período de
acompanhamento regular e variável em que a efetividade das diversas hipóteses
medicamentosas é testada sucessivamente, ajustando-se os medicamentos, as doses e as
potências homeopáticas aos diversos aspectos do paciente. Isso até que se atinja o status
medicamentoso ideal, reduzindo-se ou suspendendo eventuais outros medicamentos em
uso, desde que os mesmos não sejam imprescindíveis ao equilíbrio das funções vitais
orgânicas, segundo critérios éticos e seguros, tentando salvaguardar o relacionamento
do paciente e do médico homeopata com outros médicos não homeopatas porventura
envolvidos no tratamento do paciente.
Portanto, não podemos reduzir um indivíduo que tem distúrbios emocionais apenas
conforme o entendimento da psiquiatria, que baseia o tratamento somente nas
manifestações psíquicas e que busca medicamento psicotrópico com objetivo de
suprimir (embotar, enuviar) as expressões mentais. Ao contrário, devemos evitar essa
dicotomia mente-corpo, essa fragmentação, e juntar as manifestações de todas as
vertentes funcionais da pessoa em uma abordagem totalizadora, integralizadora, a mais
sistêmica e holística possíveis. Eis a grande diferença da episteme homeopática para a
medicina de especialidades ou mesmo para a dita medicina psicossomática. A
abordagem da homeopatia (homeoterapia = tratar pela similitude) talvez seja a que
melhor representa o que se entende por “tratar como um todo”, e não a velha estratégia
de dividir o indivíduo em pedaços, encaminhar a mente para psiquiatras ou psicólogos e
distribuir o “resto” nos diversos consultórios de especialistas. Essa estratégia chama-se
tratamento multiprofissional e muitas vezes é necessária para obtenção de pareceres e
procedimentos especializados, porém está longe do significado de “tratar o indivíduo
como um todo”.

TRABALHOS BEM SUCEDIDOS

Quando propõe-se um projeto de atuação profissional, o mesmo pode ser uma inovação
no mundo da ciência ou das atividades humanas ou pode ser uma extensão ou
reprodução de trabalhos já implantados em outros locais. Aqui trata-se desta segunda
situação: é algo que já foi experimentado em várias outras cidades brasileiras, sendo
algumas experiências não formalmente documentadas nem divulgadas na imprensa
leiga ou especializada, mas que conhecemos por diversos testemunhos de profissionais
da saúde ou da educação. Nossa própria labuta atesta os benefícios de abordagens
freqüentes que temos empreendido no Ambulatório de Homeopatia Dom José Gomes
(trabalho voluntário ligado à Pastoral da Criança da Diocese de Chapecó/SC, desde
novembro de 2004), em clinica privada desde 1998 e na Unidade de Saúde da Família
(USF) da Escola Parque Cidadão Leonel de Moura Brizola (EPCLMB, antigo CAIC –
Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente), desde 1998, situada na
periferia de Chapecó. Foi observando esses resultados que a direção da EPCLMB
solicitou-nos a formalização desde projeto, visando persuadir a Secretaria Municipal de
Saúde a ceder um médico homeopata para a Secretaria Municipal de Educação.
Dentre os trabalhos bem sucedidos na área, vamos citar, à guisa de ilustração, o que foi
realizado no Jardim Horizonte Azul (JHA), periferia de São Paulo, pela Associação
Comunitária Monte Azul (BAROLLO & cols, 2006). Trata-se de atendimento da
comunidade por um médico homeopata, com carga de 7 horas por semana, durante 18
meses (agosto/2004 até março/2006), com abordagem exclusivamente unicista,
antecedida por uma triagem que estabeleceu as prioridades clínicas e psico-
comportamentais (definir que pessoas necessitavam do atendimento dentro dos alcances
e limites da homeopatia). Foi aplicado o Teste de Qualidade de Vida CHQ-PF50
(Versão original - Landgraf, J.M. and Ware, J.E., 1999, com validação cultural cruzada
e adaptada por Machado, C., Ferriani, V., Silva, C.H., Melo-Gomes, J.A.), específico
para a faixa etária de 0 a 18 anos, na triagem inicial e após 1 ano de acompanhamento.
Os testes foram respondidos pelos pais em casa ou com orientação e supervisão da
atendente do ambulatório do JHA. Foi aplicado também o Teste de Desempenho
Escolar (TDE), de Stein (1994) às crianças de 7 a 14 anos em duas oportunidades, com
intervalo de 6 meses entre cada aplicação. Foram atendidos e tratados 141 crianças e
adolescentes (56,4% da população alvo), que demandaram 749 consultas (média de 5,3
consultas/paciente); além destas, foram atendidas também 13 crianças menores de 6
anos em situações de urgência (atendidas normalmente por médico pediatra). As
crianças e adolescentes apresentavam inicialmente até 19 diagnósticos diferentes, de
acordo com o CID-10 (Classificação Internacional de Doenças – décima revisão),
acrescidos de algumas dezenas de sintomas homeopáticos, caracterizando uma
população muito doente física, emocional, mental e socialmente. Meio aos problemas
mais comuns dessa clientela destacavam-se: inquietude e comportamento agressivo em
30%; distúrbios do sono (incluindo insônia, terror noturno, sono agitado) em 25%;
pesadelos e ilusões (incluindo visões) em 50% dos pacientes. O número de
medicamentos prescritos por aluno, seqüencialmente, para obter a melhora total dos
sintomas, variou de 1 a 4. Houve melhora total da sintomatologia com apenas um
medicamento em 59% dos pacientes. Os autores não falam em cura dos pacientes e sim
de melhora da Totalidade Sintomática (TS), porque, devido às condições sócio-
econômicas e sanitárias em que vivem as crianças e adolescentes, julgam necessário um
tempo considerável de tratamento até a estabilização dos quadros clínicos. A equipe que
acompanhou os pacientes e analisou os resultados (que incluiu uma psicopedagoga)
aponta que o tratamento homeopático conferiu condições de saúde mais adequadas e
melhor disposição para o aprendizado escolar.
Os autores ressaltam que 46% dos pacientes apresentavam, inicialmente, dor de cabeça
crônica (variando de 2 a 7 vezes/semana, associadas a rinite ou sinusite, ou mesmo
enxaqueca clássica) e durante o tratamento 95% melhoraram do sintoma. E supõem que
esse resultado pode ser o responsável pela melhora do interesse e desempenho escolar,
uma vez que o aprendizado fica muito comprometido na vigência desse tipo de sintoma.
Além disso, a melhora na qualidade do sono também pode ter contribuído para os
resultados obtidos nesse aspecto.
Outro fator relevante era a alta incidência de pesadelos e ilusões/visões entre os
pacientes de 7 a 14 anos, com remissão desses sintomas na totalidade deles. É
interessante ressaltar que, apesar de continuarem no mesmo contexto sócio-familiar,
esses sintomas melhoraram. Os pesadelos mais comuns eram com perseguições, mortos,
assassinatos, cobras, fantasmas, demônios, monstros, todos elementos que fazem parte
do cotidiano dessas crianças e adolescentes, que residiam em uma das áreas mais
violentas da cidade de São Paulo e onde existem várias correntes religiosas que
desenvolvem trabalho junto a essa comunidade.
Houve melhora da hiperatividade, transtornos de déficit de atenção e do comportamento
agressivo e anti-social em 80% das crianças na faixa etária de 7 a 14 anos.
Analisando o orçamento utilizado, a equipe conclui que a economia de recursos foi
considerável e o custo do tratamento homeopático é muito inferior ao custo do
tratamento convencional. Considerando-se também a economia em gastos com exames
complementares e medicamentos convencionais, a equipe afirma que a Homeopatia se
impõe como uma alternativa terapêutica para uma medicina sustentável.
Os resultados desse estudo demonstram a necessidade de um trabalho de cooperação e
integração entre as áreas programáticas da Saúde e Educação, uma vez que a saúde é
condição necessária para o aprendizado, especialmente no ensino fundamental, e a
educação, por sua vez, contribui de forma decisiva para a melhoria das condições de
saúde das populações. A presença de um médico homeopata nas escolas poderá
contribuir para a melhora do desempenho escolar dos alunos do ensino fundamental e
médio, para o tratamento de Transtornos de Déficit de Atenção (TDA) com ou sem
Hiperatividade (TDAH), dos Transtornos de Comportamento com ou sem
agressividade, bem como contribuir para a diminuição do estresse docente, portanto,
para a melhora da qualidade do ensino.

MEDICALIZAÇÃO DA AGRESSIVIDADE – A COISA NÃO É BEM ASSIM

Abrimos aqui um parêntese, destoando do roteiro tradicional de um projeto, para


enfatizar que temos clareza das limitações do trabalho que estamos propondo. Não se
trata de objetivar a homeopatia como panacéia, nem de subestimar a importância da
abordagem de nossos sujeitos concomitantemente por equipes interdisciplinares de
atuação psicossocial. Uma das queixas mais freqüentes de professores e gestores
educacionais diz respeito ao alto nível de agressividade de muitos alunos. Esteja claro
que a intenção do médico homeopata não é a medicalização do perfil agressivo nem da
materialização da agressividade. Não se trata de administrar um “calmante
homeopático”, como temos ouvido na linguagem leiga da comunidade escolar ou
familiar, já que a prescrição unicista não leva em conta apenas sintomas mentais, mas
também os gerais (reações ao clima, desejos e aversões alimentares...) e locais
peculiares (modalidade de dor, características de secreções etc). Para se entender a
função integralizadora e não supressora da hemeoterapia unicista, recomendamos a
leitura de nosso livro (ROCHA, 2006, p.100-109).
Na grande maioria dos casos a agressividade reiterada não é um traço de caráter, ou
seja, não é um componente inato da constituição psíquica de escolares. Infelizmente,
dada a freqüente utilização desse modo de agir, acaba integrando a personalidade de
diversos indivíduos. O componente agressivo vai se consolidando como modo de agir
por defesa ou até mesmo imitação de asperezas do ambiente familiar. O modo como as
crianças são tratadas em casa, como vêem os pais e outros membros da família se
tratarem e, antes disso, a agressividade com que a gestante trata ou é tratada por outrem
devem ser considerados na etiologia da disforia gestual e verbal das crianças.
O modelo de bom aluno, almejado pela escola, é o indivíduo aplicado, obediente,
respeitoso, cumpridor, agradável, limpo, estudioso, trabalhador, que tem bons modos.
Para os educadores estas características definem o aluno que aprende. Todavia, o
modelo de bom aluno não coincide com o modelo de ser homem exigido por
comunidades moralmente ou socioeconomicamente degradadas. Então, muitos meninos
constroem problemas de aprendizagem e de comportamento escolar que a
psicopedagoga Alicia Fernandez (1993) chama de reativos, porque não são
verdadeiramente problemas de aprendizagem nem de agressividade inata; são antes
defesas reativas a essa situação sócio-familiar que podemos dizer, no mínimo, confusa.
Alicia pondera ainda que a agressão pode estar a serviço da destruição do pensamento e
que, por isso, alguns setores do poder promovem a agressão, já que para esses interessa
a subordinação e não a libertação das massas. Certamente, sendo portenha e de
formação dialético-marxista, a autora estava se reportando aos idos da ditadura militar,
o que cada vez menos se coaduna com a orientação socialista ou social-democrata da
maioria dos governos atuais da América Latina. A psicopedagoga diz ainda que a
agressividade faz parte da criatividade e cita Winnicott, renomado psicólogo infantil: “É
necessário que o adulto entenda, aceite e valorize que a criança necessita derrubar a
torre de blocos de montar para que ela possa valorizar a sua própria capacidade de
construir torre de blocos.” Ele diz com esta frase que para poder tomar contato com a
pulsão saudável de domínio, com a capacidade de transformar o mundo (que seria a
capacidade de aprendizagem), é necessário tomar contato com a possibilidade de que
também se pode destruí-lo. Se um adulto ou professor impedisse uma criança de 3 ou 4
anos, dizendo-lhe que é muito agressiva e não deve derrubar a torre de blocos de
montar, então esta criança terá sérias dificuldades para poder construir esta torre.
Quantos alunos são proibidos de derrubar os conhecimentos dos outros, usando sua
agressividade, que é a única forma que eles dispõem no início para tomar contato com
sua capacidade de construir conhecimentos (FERNANDES, 1993, p. 168-180)?
A criança que comete atos agressivos cruéis, de forma constante, está mostrando um
déficit na experiência lúdica, na experiência do jogo. Está mostrando um déficit no
espaço que lhe foi dado para mostrar que ela pode. É uma criança a quem não é
permitido mostrar que pode ter dificuldades de fazer coisas e produzir.
Para uma abordagem mais pedagógica de “crianças-problema” é aconselhável entender
que não existem crianças agressivas, assim como não existem crianças disléxicas ou
hipercinéticas. Se eu digo que uma criança é agressiva, essa agressividade se transforma
em parte de sua identidade, pois eu a estigmatizei, a rotulei. O que existe, de fato, é o
fenômeno do comportamento agressivo, que pode ser mesmo pontual ou interpretado
exageradamente pela idiossincrasia ou susceptibilidade do professor. Este precisa estar
sempre autoavaliando e ampliando seu nível pessoal de tolerância, obviamente sem
descurar da segurança dos que estão sob seus cuidados.
Por fim, Alicia recomenda que frente a um ato agressivo dos alunos o professor deve se
perguntar: “este ato agressivo interrompe ou anula o processo de aprendizagem dessa
criança?” É importante esta pergunta porque se o professor já parte do princípio que
todo ato agressivo interrompe o processo de aprendizagem ou que nenhum ato agressivo
o interrompe, então o professor já está se desautorizando como pensante. Eu posso me
autorizar como sujeito pensante quando, a cada situação, eu posso recorrer à minha
capacidade de análise desta situação.
Como autor de projeto responsável e não simplificador de uma problemática complexa,
meu papel de médico homeopata, de formação humanista e antropológica é o de induzir
e ampliar a reflexão sobre o problema em foco e não simplesmente medicalizar. Da
parte da homeopatia, é sempre possível tocar energeticamente (através do medicamento
dinamizado) a idiossincrasia, ou seja, essa propensão inata maior ou menor do
psiquismo da criança se deixar influenciar pelas forças gregárias ou desagregadoras do
meio. Eis nosso propósito maior.

ASPECTOS OPERACIONAIS

1) Demanda e Fluxo - a clientela alvo do atendimento homeopático é o conjunto dos


alunos do ensino fundamental matriculados na rede municipal de Chapecó/SC. Os
alunos serão indicados por qualquer professor da rede e também por profissionais de
saúde das unidades básicas ou especializadas do sistema público de saúde. A triagem e
o agendamento ficam a encargo de um profissional designado pela direção de cada
instituição municipal de ensino. É importante que o aluno seja triado através de
informações de diversos profissionais que porventura o conheçam, tendo em vista que a
inadequação do comportamento do mesmo pode não ser reiterativa ou se dever a
alguma circunstância apenas pontual, facilmente superada por intervenção da própria
escola, sem necessidade de abordagem homeopática. Por nossa própria experiência e de
outros autores (BAROLLO & cols, 2006; MOREIRA NETO, 2001), a primeira consulta
de cada cliente dura entre 45 e 60 minutos, enquanto as reconsultas (geralmente
agendadas para 3 ou 4 semanas depois da anterior) ocupa em torno de 10 a 20 minutos.
Portanto, em um turno de 4 horas de trabalho prevê-se a viabilidade de no máximo 4 ou
5 consultas novas ou 10 retornos, já computanto algum tempo para repertorizar os
sintomas e selecionar o medicamento.
2) Recursos humanos - propõe-se que o trabalho inicie com apenas um médico
homeopata, com disponibilidade de 4 (quatro) horas por dia, durante 5 (cinco) dia por
semana, conforme o cronograma do ano letivo. De acordo com a extensão da rede de
ensino do município e peculiaridades psicossociais de seu corpo discente, pode haver
necessidade de mais de um homeopata ou sua carga horária ser maior ou menor que a
inicialmente recomendada para a realidade de Chapecó/SC.
3) Recursos materiais – para um atendimento de qualidade faz-se necessário um
consultório com isolamento acústico satisfatório e mobiliado de modo a proporcionar
aconchego tanto para o médico quanto para a clientela. Sugerimos mesa redonda e três
cadeiras de mesmo modelo e mesma altura para facilitar proximidade e relação
horizontal entre profissional e cliente/acompanhantes. Sanitário interno e lavatório não
podem ser esquecidos, bem como lençóis e toalha de papel. Maca e recursos para exame
físico são indispensáveis, uma vez que o homeopata tem uma atuação clínica geral (que
examina os pacientes) e não psiquiátrica. Deve dispor de estetoscópio, oto-
oftalmoscópio com espéculos, esfigmomanômetro digital, fita métrica, espátulas
(abaixadores de língua) e balança antropométrica. Caso o homeopata não disponha de
equipamento particular e portátil de informática, então será necessário providenciar
microcomputador e dotá-lo de um soft de repertorização homeopática, para agilizar a
escolha do medicamento a ser prescrito (em caso de dúvida), sem dispender tempo com
repertórios manuais.
4) Medicamentos – nos trabalhos de autores citados no item 1 desta seção o número de
medicamentos mais comumente prescritos gira em torno de vinte. Todavia, experiências
de consultórios particulares e comunitários com atendimentos mais abrangentes
(CESAR, 2001), que não apenas por motivo comportamental (inclusive o nosso
ambulatório Dom José Gomes), apontam para a utilização de uma botica homeopática
bem mais extensa, pois não é raro que a repertorização indique medicamento que
extrapola a lista dos policrestos (aqueles que lideram a maioria das prescrições e que
têm maior espectro de ação, ou seja, que despertaram maior número de sintomas
mentais durante a experimentação em voluntários sadios são chamados policrestos).
Desse modo, para ampliar a oferta e não deixar de prescrever um medicamento “menos
comum”, quando este se mostrar mais adequado que os policrestos, sugerimos uma
botica mínima com 60 medicamentos diferentes (listados a seguir, em negrito, entre as
centenas que compõem a farmacopéia homeopática e entre os oitenta mais comumente
prescritos pelos homeopatas unicistas). Nossa estratégia é medicar o aluno ali mesmo no
consultório, imediatamente após a consulta, para termos certeza que o tratamento foi
iniciado ou está sendo continuado. Por facilitar tal estratégia, vamos optar por dose
única de medicamento em cada consulta ou reconsulta (quando houver necessidade de
repetir ou reconsiderar o medicamento). Esta é a maneira mais econômica e confiável de
viabilizar este projeto. É imprescindível que cada um dos medicamentos seguintes em
negrito esteja disponível em pelo menos três potências centesimais: 200, 1000 e 10 000
(duzentos, mil e dez mil).

Aconitum napellus *Alumina*Ambra grisea*Ammonium carbonicum*Ammonium


muriaticum*Anacardium orientalis*Antimonium crudum*Antimonium
tartaricum*Apis mellifica*Argentum nitricum*Arnica Montana*Arsenicum
álbum*Atropa belladonna*Aurum metallicum*Baptisia tinctoria*Baryta
carbonica*Borax veneta*Bryonia Alba*Calcarea carbonica*Calcarea
phosphorica*Calcarea silicata*Calcarea sulphurica*Cantharis vesicatoria*Carbo
vegetalis*Causticum hahnemanni*Cimicifuga racemosa*Cina artemisia*Cinchona
officinalis*Cocculus indicus*Coccus cacti*Colchicum autumnale*Conium
maculatum*Cuprum metallicum*Cyclamen europoeum*Datura
stramonium*Delphininum staphisagria*Ferrum metallicum*Fluoric
acidum*Graphites*Helleborus niger*Hepar sulphuris calcareum*Hyosciamus
niger*Ignatia amara*Iodum*Kali bromatum*Kali carbonicum*Kali
phosphoricum*Kali sulphuricum*Lachesis trigonocephalus***
Lilium tigrinum*Luesinum*Lycopodium clavatum*Magnesia carbonica*Magnésia
muriatica*Matricaria chamomilla*Medorrhinum*Mercurius solubilis*Natrum
carbonicum*Natrum muriaticum*Natrum sulphuricum*Nitric acidum*Nux
vomica*Palladium metallicum*Phosphoric acidum*Phosphorus*Platinum
metallicum*Plumbum metallicum*Psorinum*Pulsatilla nigricans*Rhus
toxicodendron*Scorpio europoeum*Silicea terra*Sepia
officinalis*Sulphur*Sulphuric acidum*Tarentula hispanica*Thuya
occidentalis*Tuberculinum koch*Veratrum album*Zincum metallicum***

5) Recursos financeiros - o custo da execução desde projeto é considerado baixo em


relação a outros tipos de abordagem dessa clientela específica, tais como alopatia e
atendimento psico-social especialidado, pois em ambos costuma haver gastos
excessivos com exames laboratoriais, eletrofisiológicos e de imagem e prescrição
psicotrópica de indicação e utilidade duvidosas e bem mais onerosa que a homeopática.
A remuneração do homeopata é a mesma de qualquer outro médico e ele pode ser
apenas remanejado quando atua em outro setor. Além disso, sendo
abrangente/integralizadora, a abordagem homeoterápica diminui sobremaneira o
número de intercorrências clínicas que levariam os alunos a ocupar a agenda de
pediatras e aumentar o índice de absenteísmo escolar. O espaço e os equipamentos para
exame físico são como os de qualquer ambulatório, já disponíveis nas unidades de
saúde que podem dar suporte material a este trabalho. Os medicamentos devem ser
adquiridos em farmácia ou fornecedor especializados; sabemos, de outras boticas já
montadas por autores aqui citados, que cada frasco de 30ml pode ser adquirido a um
custo médio de R$ 5,00 (cinco reais); como são 60 medicamentos e 3 potências por
medicamento, o total investido na montagem inicial da botica resulta em torno de R$
900,00 (novecentos reais). A reposição de estoque de medicamentos ocorre apenas
esporadicamente, pois, utilizando apenas 1ml por consulta ou reconsulta, cada frasco
pode ser utilizado até 30 vezes. Alguns medicamentos terão que ser repostos com
freqüência um pouco maior, pois são prescritos mais comumente. Todavia, as
experiências revelam que o custo mensal de reposição não ultrapassa 10% do custo de
compra do estoque inicial.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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do adoecer crônico, em uma comunidade carente, alvo de programa social, na periferia
da cidade de São Paulo, no período de ago/2004 a mar/2006.
http://sites.mpc.com.br/bvshomeopatia/texto/expMonteAzul_CeliaBarollo.htm.

CESAR, Amarilys T. – O medicamento homeopático nos serviços de saúde, Rev. Hom.,


2001, vol 66, nº 1: 33-50.

DE VITA et al. Principles and practice of oncology. 6ed. Philadelpria: Lippincott


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FERNANDEZ, Alicia. Agressividade: qual teu papel na aprendizagem? IN GROSSI,


Esther P. & BORDIN. Paixão de aprender. 3ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1993.

GRILO, E. & SIVA, R.J.M. Manifestações precoces dos transtornos do comportamento


na criança e no adolescente. J Pediatria (Rio J) 2004; 80 (2 suppl.): S21-S27.

MOREIRA NETO, G. – Homeopatia em unidade básica de saúde (UBS): um espaço


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ROCHA, Demerval F. Emoções cancerígenas à luz da Homeopatia. Chapecó: Arcus,


2006.

STEIN, LM -Teste de desempenho escolar: manual para aplicação e interpretação. São


Paulo: Casa do Psicólogo Livraria e Editora, 1994;

TEIXEIRA, Marcus Z. Semelhante cura semelhante: o princípio de cura homeopático


fundamentado pela racionalidade médica e científica. São Paulo: Petrus, 1998.

TEIXEIRA, Marcus Z. Tratamento homeopático dos distúrbios emocionais e


comportamentais da infância e da adolescência. Pediatria (São Paulo), 2008; 29(4); 298-
96.

28.07.09
Fonte:
http://www.filosofiabarata.com.br/blog/homeopatia.php?p=112&more=1&c=1&tb
=1&pb=1

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