0 оценок0% нашли этот документ полезным (0 голосов)
19 просмотров3 страницы
Este trabalho aborda as idéias da historiadora e cientista política Ellen Wood, com ênfase em sua leitura acerca da importância da separação entre o “econômico” e o “político” na sociedade capitalista.
Este trabalho aborda as idéias da historiadora e cientista política Ellen Wood, com ênfase em sua leitura acerca da importância da separação entre o “econômico” e o “político” na sociedade capitalista.
Este trabalho aborda as idéias da historiadora e cientista política Ellen Wood, com ênfase em sua leitura acerca da importância da separação entre o “econômico” e o “político” na sociedade capitalista.
Este trabalho aborda as idias da historiadora e cientista poltica Ellen Wood, com
nfase em sua leitura acerca da importncia da separao entre o econmico e o poltico na
sociedade capitalista. Tomando como ponto de partida esse aspecto de sua reflexo tericopoltica, aborda-se tambm sua anlise acerca das limitaes da democracia moderna, em comparao com a antiga (em dilogo com as reflexes de Moses Finley sobre o tema). O esvaziamento da democracia moderna do contedo classista verificado na antiga teria sido possvel precisamente como decorrncia da separao entre as duas esferas. Sugere-se, com base nessas reflexes, a necessidade da construo de uma crtica democrtica da teoria e das instituies liberal-democrticas dominantes, com base em uma perspectiva eminentemente marxista. Em The Separation of the Economic and the Political in Capitalism (publicado na New Left Review, nmero I127, de maio-junho de 1981), Ellen Wood assenta as bases para uma reflexo acerca da poltica e da democracia contemporneas, referenciada nas leituras de Marx sobre o tema da separao entre as esferas poltica e econmica, a partir, principalmente, de passagens dO Capital e dos Grundrisse. Em termos gerais, o argumento o que se segue: A separao das esferas poltica e econmica configuraria, ao mesmo tempo, uma realidade e uma dissimulao. Uma realidade, uma vez que ela se materializa nas instituies concretas do capitalismo liberal. Uma dissimulao, porque ela camufla a origem poltica dessas instituies, que somente teriam ganhado vida com a tomada do poder de Estado por parte da burguesia. Essa separao, em seu duplo aspecto real e ilusrio, configuraria um mecanismo de defesa da ordem social capitalista, na medida em que impede que se perceba o contedo especificamente poltico da dominao burguesa. A idia de liberdade, estabelecida ao nvel jurdico, sem qualquer correspondncia com a estrutura social e econmica, dificulta a compreenso de que, despojados dos meios necessrios sua sobrevivncia, homens e mulheres no possuem, no que diz respeito necessidade de reproduo de sua prpria existncia, liberdade alguma. Esto forados a buscar, no mercado, quem compre a nica mercadoria de que dispem: sua fora de trabalho. Transferidas as funes relacionadas extrao do excedente para o mbito
privado, torna-se possvel que, ao nvel do Estado, construa-se um arcabouo jurdico
assentado na idia da absoluta igualdade, ao mesmo tempo em que esse mesmo Estado se reveste da condio de guardio da ordem inqua estabelecida no plano econmico. A peculiaridade da leitura de Wood sobre esse tema verifica-se em outro trabalho (The Origins of Capitalism: a longer view), em que a autora afirma existirem duas narrativas na abordagem de Marx sobre a transio para o capitalismo, que podem ser entendidas como duas concepes distintas do devir histrico. A primeira, que estaria presente na Ideologia Alem e no Manifesto Comunista, reproduziria, em termos gerais, a interpretao burguesa, assentada na ideia de que o capitalismo constitui uma realizao inevitvel do
processo de desenvolvimento das foras produtivas (ou, na verso burguesa predominante, da
racionalidade econmica). Uma segunda viso (ou, como afirma a autora, os fundamentos de uma segunda viso) poderia ser encontrada nos Grundrisse e nO Capital. Ao descrever essa segunda viso, Wood atribui um papel interpretativo central ao captulo sobre a Acumulao Primitiva. Em The Separation..., ela afirma que, na estrutura do Livro Um dO Capital, o captulo ocupa um lugar estratgico, na medida em que, aps ser levada a cabo a descrio dos aspectos fundamentais da mercadoria, Marx teria se ocupado de explicar o processo atravs do qual as relaes mercantis se tornaram predominantes na Inglaterra. Para Wood, a nfase na descrio histrico-concreta das lutas de classes entre senhores e camponeses em torno dos cercamentos, decidida no momento especificamente poltico da Revoluo Burguesa, evidenciaria a preocupao do Marx maduro com o carter aberto do devir histrico, submetido s injunes das lutas sociais e polticas entre as classes. Assim, a separao entre o econmico e o poltico teria sido, ela mesma, o resultado de um longo conflito travado ao mesmo tempo nas duas esferas e decidido na segunda. No que diz respeito ao tema da democracia, a evoluo histrica das instituies e da teoria liberais parece corroborar o argumento da autora. A afirmao do carter oligrquico das instituies polticas contemporneas configurou-se precisamente na criao e na busca da preservao da separao entre as duas esferas. Tratou-se de impedir que o poltico alcanasse o econmico. O processo parece ter se desenrolado com base em duas configuraes distintas, ambas operando com base nas mesmas preocupaes, mas com diferentes nfases. De Locke (e da Revoluo Gloriosa) a Benjamin Constant (e ao perodo que se segue Revoluo Francesa), a nfase recaiu sobre a restrio dos direitos de cidadania. Tratava-se, ento, de manter a cidadania restrita ao segmento dos proprietrios, preservando aspectos importantes do ethos senhorial dos tempos medievais (ethos esse que, ao fim e ao cabo, estivera na origem das prprias instituies liberais-representativas, desde a Magna Carta). A partir de Tocqueville (e do processo de formao das modernas instituies liberal-democrticas, na segunda metade do sculo XIX), a nfase oligrquica foi transferida para a restrio dos direitos da cidadania. Ou seja, tratava-se, agora, uma vez que a ampliao dos direitos de cidadania se configurava como inevitvel, reduzir o alcance dessa cidadania sobre os aspectos centrais do ordenamento social e econmico capitalista. No outro o alvo das preocupaes de A Democracia na Amrica: preservar a liberdade contra os avanos da igualdade. Ou, posto de outro modo, preservar a separao entre as esferas econmica e poltica. O tema da democracia desenvolvido por Wood com base em uma reflexo acerca das diferenas entre as democracias antiga e moderna que devedora das anlises acerca desse tema empreendidas por um autor no-marxista, Moses Finley, e que denunciam o carter classista das restries participao popular, tpicas das democracias modernas. Para demonstr-lo, Finley afirma, com base no Aristteles dA Poltica, o carter tambm classista,
embora no sentido inverso, das democracias antigas: democracia, na Atenas clssica, o
governo dos pobres, em favor dos interesses dos pobres. Restringir, portanto, o acesso das camadas populares ao poder poltico efetivo esvaziar a democracia de seu contedo efetivamente democrtico (o tema desenvolvido por Finley em uma coletnea de artigos cujo ttulo, Democracy, Ancient and Modern, parafraseia o clssico panfleto oligrquico de Benjamin Constant). Em trabalhos como Class Ideology and Ancient Political Theory (Oxford, 1978), escrito em parceria com Neal Wood, e Citizens to Lords (Verso, 2008), Ellen Wood desenvolve o argumento de Finley, enfatizando o elemento ideolgico-classista da oposio dos filsofos atenienses democracia antiga e o componente especificamente aristocrtico e restritivo das democracias liberais contemporneas. Nas democracias antigas, o poltico interferia diretamente no econmico. Nas democracias modernas, o econmico est protegido do poltico. No casual, portanto que, ao longo do sculo XX, grande parte dos esforos da esquerda de massas dos pases ocidentais tenham se concentrado em presses por reformas do Estado que ampliassem a capacidade de interferncia do poder pblico na esfera das relaes econmicas privadas. A construo das instituies do Estado de bem-estar implicou num avano, de fato, da poltica, submetida a uma crescente presso popular, sobre a economia, independente de outras consideraes que se possam fazer a respeito dessas instituies. Tampouco mera coincidncia que, nas ltimas dcadas do sculo, a avassaladora reao burguesa a esse avano tenha se dado, seja do ponto de vista terico-ideolgico, seja no que concerne s aes efetivas, atravs de uma reafirmao agressiva da separao absoluta entre as esferas da economia e da poltica como pr-condio ao pleno exerccio da liberdade individual. Ellen Wood torna evidente que uma teoria democrtica crtica das instituies liberais deve ter como ponto de partida precisamente o tema aparentemente paradoxal da centralidade da poltica no processo de construo do poder do demos. No longo prazo, trata-se, independente das necessrias consideraes de ordem estratgica, de submeter o ordenamento econmico ao poder poltico. E, no menos importante, de submeter este ltimo vontade popular.