Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Fonte: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/leitura.htm
Era comum entre os homens de letras da Frana do sculo XVIII, para esquivarem da censura e do
olho inquisidor do clero, fazerem-se passar por viajantes orientais, ou situarem suas histrias em meio
a sultes, cdis, odaliscas e dervixes em algum canto qualquer da sia Menor para assim melhor
criticarem as opresses a que estavam submetidos. Montesquieu atingiu a celebridade imediata com
suas Lettres persanes (Cartas persas, 1721), uma corrosiva exposio dos costumes franceses.
Voltaire seguiu-o mais tarde, entre outros, com um pequeno artigo intitulado De lhorrible danger de
la lecture (Do horrvel perigo da leitura) para satirizar os que perseguiam a Encyclopdie e o partido
dos filsofos. Para tanto, explorou os arraigados preconceitos que os europeus tinham em relao ao
Imprio Turco-Otomano, velho inimigo dos cristos e smbolo, segundo eles, da aliana do despotismo
com o obscurantismo.
Tudo comea, na historieta de Voltaire, quando Joussouf Cherbi, mufti do santo Imprio Otomano, d
a resposta, numa data imprecisa, a uma solicitao interrogante feita por um ex-embaixador da
Sublime Porta na Frana. O dignatrio viera do Ocidente, maravilhado pela presena da imprensa, e
queria saber dos grandes sbios do reino turco a opinio deles sobre aquele invento. Consultaram-se
ento os irmos cdis e os ims da cidade imperial de Istambul, sobretudo os faquires ("conhecidos
por seu zelo contra o esprito", disse Voltaire), que no demoraram em propor a condenao,
proscrio e anatematizao do infernal engenho.
Em vista do exposto, o mufti ento prope que, para edificar as fidelidades e pelo bem geral das
almas, jamais algum leia um livro, sob pena da danao eterna. Que evite-se por todos os meios a
tentao diablica dos pais desejarem ensinar seus filhos a ler e a escrever, pois ns os defendemos
deles tentarem pensar. Alm disso, sugere que os crentes sejam mobilizados a denunciar oficialidade
qualquer vizinho que consiga falar quatro frases seguidas que tenham algum sentido, que sejam
claras e inteligveis. Ordenemos, encerra o mufti, que toda a conversao deve servir-se de
expresses e termos que nada signifiquem, tal como o antigo uso na Sublime Porta.