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Curso: Dietética

Educação e Comunicação em Saúde

Docente: Celeste Duque

Discentes: Ana Brandão - 28480


Denise Bernardo - 29128
Inês Santos – 28734
2º Ano – 1º Semestre Paulo Niza - 28739
2005/2006
Ortorexia

Resumo

A Ortorexia surgiu como uma distorção da ideia de que a comida natural


– muitos vegetais, cereais, nada de carne ou enlatados – é a melhor forma de
alimentar o corpo e a alma. De facto, a ciência já se encarregou de provar
que este tipo de alimentação melhora a saúde. O problema é que os
ortoréxicos exageram na preocupação com o que ingerem, chegando o seu
comportamento, ao cúmulo da paranóia.
Assim, a Ortorexia caracteriza-se por “um problema psicológico, que se
desenvolve com a preocupação descontrolada em manter uma dieta
totalmente saudável, com o objectivo último de atingir uma pureza interior”.
Pertence ao grupo dos transtornos obsessivo-compulsivos, levando muitos a
comprar, confeccionar e comer apenas o que consideram ser alimentos
saudáveis (segundo crenças, ideais ou informação científica). Este tipo de
obsessão, passa a ser o mais importante na vida dos ortoréxicos e ganha,
assim, a dimensão de uma verdadeira perturbação alimentar, tal como a
anorexia ou a bulimia.
Esta patologia ainda não é reconhecida pela OMS, pelo que não consta no
DSM-VI.

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Ortorexia

Introdução

À vinte anos atrás, Steven Bratman era um defensor apaixonado da cura


através da alimentação. Nessa altura, ele era cozinheiro e agricultor
biológico numa comunidade no norte de Nova Iorque, profissões que lhe
davam acesso constante a alimentos frescos e de alta qualidade.
Bratman tornou-se snob e desdenhava de qualquer vegetal que tivesse
sido colhido à mais de 15 minutos. Era completamente vegetariano e
mastigava 50 vezes cada garfada, comia sempre em locais calmos (o que
significa que comia sozinho), e deixava sempre o estômago parcialmente
vazio no final de cada refeição. Aproximadamente 1 ano após este regime
por ele imposto, sentia-se leve, forte e confiante. Via os outros como
animais reduzidos à sua satisfação gustatória, denegrindo continuamente os
alimentos refinados e processados, e alertando para os perigos dos
pesticidas e fertilizantes artificiais. Com estes argumentos tentava alterar
os hábitos alimentares dos que o rodeavam.
Passados alguns anos, ele começou a sentir que alguma coisa estava
errada, a sua alegria de viver estava a desaparecer. Não conseguia manter
uma conversa normal sem se referir a comida. O significado da sua vida era
agora a alimentação. A necessidade de obter refeições sem carne, gorduras
ou químicos tinham-no afastado de todas as formas sociáveis de
alimentação. Bratman estava só e obcecado.
Ele foi salvo da condenação do vício da comida saudável, através de dois
eventos que o beneficiaram. O primeiro foi quando o seu guru, que era vegan
e estava a tornar-se frutariano, de repente abandonou o seu ideal ao ter
uma visão, o que teve um efeito profundo na mente de Bratman. O segundo
evento foi quando um monge Benedito, chamado Irmão David Steindl-Rast,
lhe aplicou algumas técnicas pouco ortodoxas. Ele conheceu este Irmão num
seminário dado pelo próprio sobre gratidão, oferecendo-lhe depois boleia
para o mosteiro. Durante o caminho pararam para almoçar num restaurante
chinês muito bem servido e com legumes frescos, onde, e como sempre,
Bratman deixou o estômago parcialmente vazio. O Irmão David mencionou
que era uma ofensa para com Deus deixar comida no prato, pelo que comeu
imenso, embora fosse magro. Perante esta atitude, Bratman sentiu-se como
que obrigado a seguir o exemplo, sentindo o estômago cheio pela primeira
vez. Seguidamente, e contra a sua vontade, comeram um gelado enquanto
andaram cerca de 3 quilómetros, tendo o Irmão David contado histórias
espirituais, edificando-o, o que ocupou a sua mente fazendo com que
deixasse de pensar no que tinha feito. Ele percebeu a intenção do Irmão,
mas o que realmente o marcou foi o facto de uma autoridade espiritual, por

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Ortorexia
quem ele nutria um grande respeito, estar a dar-lhe permissão para quebrar
os seus votos de comportamentos salutares. Um mês depois, decidiu,
finalmente, terminar com a obsessão, o que lhe despertou o desejo
fervoroso de comer alimentos outrora proibidos. Nesse mesmo dia ele
comeu exageradamente, tendo-se arrependido logo na manhã seguinte.
Foram precisos ainda dois anos até que ele conseguisse atingir o meio-termo
e comer facilmente, sem cálculos rígidos nem recaídas.
Após esta recuperação, Bratman apercebeu-se que tinha padecido de
uma patologia desconhecia, à qual deu o nome de Ortorexia.

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Ortorexia

Enquadramento na Disciplina

O tema deste trabalho enquadra-se no âmbito da disciplina de Educação


e Comunicação em Saúde, uma vez que a Ortorexia se apresenta como um
distúrbio comportamental, tendo uma vertente psicológica e alimentar. Com
base no referido anteriormente, e tendo em conta o conteúdo programático
desta disciplina, considerámos pertinente aprofundar o tema pois, trata-se
à partida de um assunto pouco explorado, consistindo, a sua apresentação,
uma mais valia tanto para nós como para os nossos colegas de curso.
No futuro as noções integradas neste trabalho poderão ser utilizadas
para a realização de projectos no campo da educação para a saúde, com o
propósito de prevenir este distúrbio e promover hábitos saudáveis.

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Ortorexia

Ortorexia

Com os alarmantes índices de obesidade divulgados recentemente pela


OMS, pode soar como disparate o alerta para os possíveis riscos “da
alimentação saudável”. Mas a busca por uma dieta 100% benéfica ao
organismo pode, sim, tornar-se um problema: basta transformar-se numa
obsessão.
Steven Bratman, especializado em medicina alternativa, escreveu o livro
“Health Food Junkies” (Viciados em Comida Saudável), onde aborda esta
patologia. Foi o criador da palavra Ortorexia (em 1997), neologismo baseado
no grego em que orthós significa "correcto" e "verdadeiro", e oréxis quer
dizer “apetite”.
A Ortorexia é um problema psicológico, um transtorno obsessivo-
compulsivo, que se desenvolve com a preocupação descontrolada em manter
uma dieta totalmente saudável, com o objectivo último de atingir uma
pureza interior.
Trata-se de um quadro patológico onde o portador é alguém muito
preocupado com os hábitos alimentares e dedica grande parte do tempo a
planejar, comprar, preparar e fazer refeições. A fixação por comer bem,
não significa necessariamente preocupação com o controle do peso. O
objectivo, neste caso, é a salubridade dos alimentos.
Este distúrbio alimentar começa de forma inocente, como um desejo de
recuperação de uma doença crónica ou para melhorar a saúde geral. Mas
como é necessária uma grande força de vontade para adoptar uma dieta que
difere radicalmente dos hábitos alimentares da infância e da cultura
envolvente, poucos alcançam a mudança de forma equilibrada. Na verdade,
pode-se afirmar que este distúrbio é uma patologia cultural, pois é
relativamente recente e surge como reflexo desta sociedade, que procura
incessantemente a saúde e o bem-estar das mais diversas formas.
A Ortorexia poderá ser considerada como um transtorno alimentar.
Estes podem ser definidos como desvios do comportamento alimentar que
podem levar ao emagrecimento extremo (caquexia) ou à obesidade, entre
outros problemas físicos e incapacidades.

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Ortorexia

Grupos de Risco

A preocupação com a alimentação é muito importante, no entanto, as


pessoas demasiado criteriosas com estas questões, podem prejudicar a sua
saúde, transformando este hábito num transtorno alimentar.
O aumento deste tipo de casos, principalmente nos países ocidentais
desenvolvidos, pode surgir como consequência de fenómenos sociológicos e
culturais, constituindo um verdadeiro problema de saúde pública.

A Ortorexia é um dos transtornos alimentares que conduz ao


emagrecimento. Atinge, principalmente:

Pessoas na faixa etária dos 40 anos, com uma situação sócio-


económica alta, pois certos alimentos são muito dispendiosos e
difíceis de encontrar. Além disso, são necessários determinados
tipos de conhecimento específico, para saber quais são os alimentos
permitidos e quais não o são. Estes começam, geralmente, com a
dieta da moda e depois passam a restringir os alimentos;

Os anoréxicos que, ao recuperarem, optam por uma dieta que inclui


apenas alimentos que não lhes possam causar nenhum dano;

Quem já sofreu de um transtorno obsessivo-compulsivo como, por


exemplo, a vigorexia (transtorno no qual as pessoas fazem desporto
de forma contínua, com uma valorização praticamente religiosa ou a
tal ponto de exigir constantemente do seu corpo sem se importarem
com eventuais consequências);

Os macrobióticos (pessoas que se alimentam, exclusivamente, de


frutas, legumes e folhas). Este tipo de alimentação pode causar
algumas deficiências em termos nutricionais;

Os frutarianos, que são um sub-grupo dos vegetarianos (alimentam-


se, somente, das frutas das plantas, ou seja, não só de frutos como
as maçãs e laranjas, mas também, dos frutos de plantas floríferas,
como os grãos, nozes, sementes, feijões, entre outros). Estas
pessoas têm uma grande dificuldade em seguir este tipo de dieta,
pois a maioria das frutas contêm muito açúcar, havendo a
possibilidade de se tornarem diabéticas;

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Ortorexia
As pessoas que sofrem de patologias como a hipocondria;

As crenças religiosas também podem influenciar o tipo de restrições


alimentares. Por exemplo, os Judeus, os Muçulmanos e os
Adventistas do sétimo dia, não podem ingerir determinados
alimentos, devido a determinadas normas e restrições que a sua
religião impõe. Este tipo de comportamento evidencia-se em pessoas
numa faixa etária mais avançada.

Quem sofre de fobias associadas a distúrbios alimentares, como


agrofobia (medo de deixar um lugar seguro), ou fobias sociais (temor
pela humilhação e vergonha na vida social), ou até fobias específicas
(medo de objectos, de situações, de comer).

Comportamentos Tipo

As pessoas que sofrem de Ortorexia mostram uma preocupação


exagerada com a higiene, com as formas de produção, de venda, de
industrialização e todos os conceitos que envolvem o desenvolvimento do
alimento final.
Em regra, passam mais de três horas por dia preocupados em manter
uma dieta saudável, dão apenas atenção à qualidade dos alimentos e não ao
prazer de os saborear, acabando por não aproveitar a saúde que procuram.
Sentem-se culpados quando ignoram as suas convicções dietéticas e
planeiam sempre hoje o que irão comer amanhã.
Os ortoréxicos são capazes de percorrer vários quilómetros em busca
de um alimento específico, pagando por ele muitas vezes mais que o normal.
Alguns examinam durante uma hora o que vão comer, lêem cuidadosamente
os rótulos do que compram, considerando a sua fabricação e composição.
São obcecados pela quantidade de vitaminas, minerais, fibras e nutrientes
dos alimentos, tendo pavor de qualquer tipo de aditivos e, se duvidam da sua
origem ou da veracidade das informações da embalagem, rejeitam-no por
completo.
A preparação dos vegetais é estrita e rigorosa: as verduras são
cortadas sempre da mesma forma e com os mesmos utensílios, num ritual em
que mais ninguém participa senão os próprios, com a finalidade de se
certificarem de que estão dentro dos seus padrões de qualidade. A cenoura,
por exemplo, não pode ser ralada nem cortada em rodelas. Os ortoréxicos
acreditam que, somente em tiras ela mantém suas propriedades.

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Ortorexia
Por causa das restrições que colocam à refeição, estas pessoas acabam
por conviver apenas com aqueles que dividem o mesmo cardápio. No entanto,
existe a possibilidade de frequentarem grupos que não descriminem a sua
opção alimentar. Geralmente, isolam-se e fogem de qualquer contacto social
que implique sentarem-se à mesa: as idas a restaurantes ou as jantaradas
em casa de amigos fazem parte do passado. Não confiam nas refeições
confeccionadas por outros, e quando recorrem a estas, dificilmente
conseguem comer algo além de salada, abordando o “cozinheiro” com
perguntas como: “é orgânico?”, “Como é que o molho foi preparado?”,
“Quando é que o peixe foi entregue?”. Entre um chá orgânico e outro, há
quem nem beba água mineral, pois esta pode conter produtos químicos como
o cloro e arsénico, que contaminam o organismo.
Com o tempo, acabam por adoptar comportamentos nutricionais cada vez
mais restritivos e passam a ter a desagradável iniciativa de convencer todos
os que os rodeiam a seguirem o mesmo caminho. Isso gera conflitos e
dificuldades de relacionamento, prejudicando a sua sociabilidade. No que diz
respeito à actividade sexual, sucede o mesmo, à medida que a maior parte
da energia e dos sentimentos não são canalizados para a aproximação,
convivência e conquista amorosa, mas sim para a preocupação em cultivar e
preparar alimentos saudáveis.
Os ortoréxicos dispõem de um auto-controle rigoroso para não se
renderem às tentações da mesa, sentindo-se superiores aos que se deleitam
com estes prazeres. A sua alimentação é regida por um ritual compulsivo,
onde não há margem para erros ou desvios, sob pena de carregarem consigo
pesados sentimentos de culpa que os fazem sentir ainda pior.

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Ortorexia

Perfil Psicológico

É comum encontrar nas pessoas com distúrbios alimentares outros


distúrbios do tipo psicológico coexistindo com estes. Assim, em alguns
casos, o distúrbio alimentar é um sintoma secundário proveniente do
psicológico (personalidade múltipla, por exemplo). Muitas pessoas sofrem de
dois ou mais distúrbios simultaneamente, mesmo quando os sintomas de um
ou de outro não se percebem.
Associado à Ortorexia está a perturbação obsessivo-compulsiva que
consiste numa desordem de ansiedade, em que a mente é inundada por
pensamentos persistentes e incontroláveis (obsessão), ou em que a pessoa é
compelida a repetir certos actos que originam um significativo desconforto,
bem como uma influência perturbadora na sua vida (compulsão). As
compulsões podem definir-se como comportamentos ou actos mentais
repetitivos que se destinam a evitar ou reduzir a ansiedade, mal-estar
(sensação de impureza) ou a prevenir um acontecimento indesejado. São
muitas vezes resultado de obsessões – pensamentos, ideias ou impulsos com
carácter persistente que se impõem à vontade da pessoa (neste caso a
obsessão é pela plena saúde e pureza). As compulsões podem-se manifestar
através de diversos rituais, no caso da Ortorexia, estes são a longa e
complicada cerimónia de selecção, compra, preparação e confecção da
comida; outro tipo de manifestações da perturbação são o facto de se
evitar determinados alimentos, mastigar um número certo de vezes cada
garfada, entre outros.
O resultado dos comportamentos compulsivos face à ansiedade não é
realista, em vez de a minimizar, alimenta-a. Este tipo de perturbação é
muito complicada pois é das mais destrutivas, absorve cada vez mais e não
passa com o tempo.
Alguns ortoréxicos podem apresentar comportamentos auto-
destrutivos, pois um distúrbio alimentar é uma reacção a uma baixa auto-
estima, podendo produzir formas negativas de enfrentar a realidade. Isto
ocorre, para fazerem frente à tensão, à vergonha, à culpa, à tristeza, (…),
recorrem a diversos meios negativos, podendo usar desde auto-mutilação,
regurgitação, dietas ainda mais restritas ou jejuns.
A obsessão e preocupação com a qualidade da comida e com a pureza
interior vêm acompanhadas por uma auto-imagem pobre e distorcida das
pessoas sobre si e sobre a realidade. Estas consideram que através de
determinados alimentos e comportamentos poderão, realmente, atingir um
corpo e uma mente completamente puros, quando na realidade podem apenas

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Ortorexia
atingir um melhor estado de saúde (algo que a ciência e a experiência já
comprovaram). Na verdade, o acto de comer alimentos saudáveis acaba por
acarretar uma conotação pseudoespiritual e a dominar a vida dos
ortoréxicos.
Estas pessoas sofrem, muitas vezes, de depressões, decepções e
sentimentos de culpa, existindo uma auto-condenação e auto-punição quando
não conseguem concretizar os seus objectivos de comer apenas alimentos
saudáveis. Quando conseguem atingir os seus objectivos, auto-congratulam-
se, sentindo-se orgulhosos e detentores de poder, tendo a sensação de que
conseguem dominar a sua vida, pois conseguiram-no com a sua alimentação.
Apresentam também sentimentos de superioridade face aos que não têm
esse objectivo ou comportamentos.
Poucas pessoas conseguem perceber que estão a exagerar na vigilância
alimentar e isto acontece porque existe um estímulo para a adopção de uma
vida saudável. Muitas vezes, quem convive com alguém que tem esse
distúrbio acaba por achar que ele próprio que não come correctamente,
acabando por ver o compulsivo como o correcto.

Sintomas de Ortorexia

Alguns dos sintomas que podem indicar que uma pessoa padece deste
distúrbio alimentar são:

Gastar mais de três horas por dia a pensar em comida saudável;

Preocupar-se muito mais com as propriedades dos alimentos do que


com o sabor;

Planear detalhadamente as refeições do dia seguinte;

Abrir mão dos eventos sociais que não o permitirão seguir a sua dieta;

Sentir-se superior por se alimentar de modo saudável e criticar os


que não têm os mesmos hábitos;

Sensação de total controle ao comer.

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Ortorexia

Consequências Patológicas e Sociais

Tal como nos outros distúrbios alimentares, as consequências desta


dieta têm efeitos graves na saúde, pois quando a dieta se torna mais severa,
exclui alimentos fundamentais para que o organismo funcione. A eliminação
de todas as gorduras da alimentação pode comprometer a ingestão de
vitaminas lipossolúveis e ácidos gordos, imprescindíveis ao organismo. O
aparelho digestivo está preparado para comer de tudo, mas ao tentar que
trabalhe somente com certos alimentos vai perdendo a capacidade de se
defender e aumenta o risco de sofrer intoxicações.
Além das situações de desnutrição, deficiências ou excessos de
vitaminas, minerais e outros nutrientes, este tipo de alimentação aumenta o
risco de infecções e pode desencadear desde intolerância ou alergia a
alguns alimentos, predisposição a osteoporoses por falta de cálcio, ou até
problemas renais, depressão, ansiedade, hipocondria, dores musculares e
apatia crónica.
Por tudo o referido anteriormente, os ortoréxicos têm uma maior
propensão para desenvolver anemias, o que os deixa cansados e sem energia,
e em casos extremos a doença pode mesmo conduzir à morte.
Também há que ter em conta o sofrimento psicológico dos doentes que
vivem obcecados com a alimentação, desenvolvendo por isso um
comportamento obsessivo-compulsivo.
Os ortoréxicos não empobrecem apenas a sua saúde, mas também a sua
vida social, porque se tornam reticentes a comer fora, distanciam-se dos
seus familiares e amigos, adquirem uma personalidade irritadiça e amarga,
devido ao seu isolamento social,
e entram num círculo vicioso
devido à insatisfação afectiva e
emocional, o que os leva a
preocuparem-se cada vez mais
com a sua alimentação.

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Ortorexia

Diagnóstico

Identificar a Ortorexia não é tarefa fácil. Como os que padecem deste


distúrbio são adeptos de uma dieta saudável, só é possível detectar a
obsessão, por detrás da atitude de pessoas bem comportadas, pela
observação dos seus hábitos ou pela total sinceridade a questões como as
apresentadas por Steven Bratman num auto-teste, que este disponibiliza no
seu site www.orthorexia.com:

Auto-Teste:

Pensa durante mais de três horas por dia sobre comida saudável?
(Para mais de quatro horas esta pergunta vale o dobro)
Planeja hoje o que vai comer amanhã?
Importa-se mais com a qualidade dos alimentos que come do que com
o prazer obtido ao ingeri-los?
Acha que, à medida que a qualidade da sua dieta tem aumentado, a da
sua vida tem diminuído?
Continua a ser cada vez mais rigoroso consigo mesmo?
Sacrifica experiências que antes apreciava para comer o que acredita
ser correcto?
Sente que aumenta a sua auto-estima quando se alimenta de forma
saudável? Olha com superioridade para os outros que não comem
dessa forma?
Sente-se culpado quando se desvia da sua dieta?
A sua dieta isola-o socialmente?
Quando come da forma que deveria, sente uma calmante sensação de
controle total?

Avaliação: Todas as perguntas são de resposta curta e directa, Sim ou Não.


Caso o indivíduo tenha respondido que sim a pelo menos quatro questões,
pode significar que sofre de Ortorexia Nervosa.

Na verdade, a Ortorexia é muitas vezes considerada como um sintoma,


indício ou variante de distúrbios alimentares conhecidos, sobretudo a
anorexia. Há mesmo quem diga que a Ortorexia seria um pré-estágio da
anorexia, sendo que, para não comer, o paciente usa subterfúgios, tais como
a alimentação saudável.

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Ortorexia
Sem dúvida, as semelhanças entre a Ortorexia e a anorexia e bulimia são
muitas: são comportamentos obsessivos, demonstram isolamento social e
apresentam comportamentos cíclicos extremos. Esta é razão pela qual
muitos profissionais de saúde encaram os ortoréxicos como anoréxicos,
desconsiderando o facto de estes pacientes procurarem sentir-se puros e
não terem medo de engordar.
Muitos médicos advertem para que não se superdimensione este
comportamento, outros admitindo a sua existência consideram a Ortorexia
como um distúrbio ou síndrome.
Realmente a Psiquiatria não reconhece a Ortorexia como uma doença,
embora apresente traços de obsessão. Segundo alguns médicos, trata-se
apenas de uma questão de tempo para que os ortoréxicos passem a ser
descritos como portadores de uma doença.
Segundo os órgãos oficiais de saúde, neste momento não há pesquisa
suficiente para poder ser diagnosticada a Ortorexia, não é ainda um
diagnóstico comprovado pela OMS [Organização Mundial da Saúde] e
também por isso não consta no último manual psiquiátrico DSM (VI).
De um modo geral, acha-se cedo classificar este tipo de casos como uma
doença autónoma, preferindo considerá-los como variantes sintomáticos dos
Transtornos Alimentares, da Anorexia ou da Vigorexia (Transtorno
Dismórfico Corporal), ambos situados dentro do Espectro Obsessivo-
Compulsivo.

Tratamento

Os especialistas concordam que a solução do problema passa por um


tratamento psicológico e por uma reeducação nutricional, para reequilibrar a
pessoa e prevenir as recaídas nessa conduta, tentando desta forma
controlar o problema por completo.
Para o psicólogo clínico Andrés Gento Rubio, "primeiro é preciso cobrir
as necessidades nutricionais mínimas da pessoa, garantindo uma maior
quantidade de alimentos básicos até chegar ao nível adequado à sua idade,
sexo, tamanho, peso e actividade física. As comidas rejeitadas devem ser
introduzidas pouco a pouco".
(http://saude.terra.com.br/interna/0,,OI673072-EI1501,00.html)
Os novos alimentos da dieta devem ser adequados à pessoa, para que ela
os coma espontaneamente, aumentando a sua variedade e quantidade de
acordo com a sua tolerância e evolução. Por isso, a sua motivação para
aceitar as novas orientações dietéticas é fundamental.

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Ortorexia
No entanto, este tratamento é complicado, pois muitos recusam-se a
consumir certos alimentos, alegando que não são saudáveis e consideram a
medicação (habitualmente são prescritos anti-depressivos) como algo
impuro e artificial.
O médico deve negociar a entrada gradual de novos alimentos no
cardápio, o dietista deve informar que todos os alimentos têm importância
para o organismo e tem que ser persuasivo, como exemplifica a nutricionista
Valéria Rangel "Digo, por exemplo, que o abacate é, sim, gorduroso, mas que
a sua gordura tem boa qualidade, é anti-oxidante.”
(http://www.solnet.com/23set05/saude/saude2.htm)

Como já foi referido, o tratamento exige o acompanhamento de uma


equipa multidisciplinar. Esta juntamente com a família e amigos devem
conduzir o doente nos seguintes passos básicos:

Reconhecer a existência do problema em si mesmo, parar de pensar


constantemente em alimentos saudáveis e encarar a Ortorexia como
um mal e não uma virtude;
Identificar as razões que o levaram a tornar-se obsessivo, como a
ilusão de que tinha segurança total, inclusive alimentar, ou de que
usava o pequeno mundo da comida para se convencer de que a sua
vida inteira estava sob controlo;
Ir devagar na tentativa de voltar a comer de forma moderada. As
refeições devem ser razoavelmente saudáveis, pois, ao tentar comer
“fast food”, o indivíduo pode-se sentir excessivamente culpado. Ou
seja, deve procurar o meio-termo;
A ajuda de um psicoterapeuta pode ser necessária se aqueles
pensamentos de superioridade em relação aos que não se alimentam
como um ortoréxico persistirem.

A recuperação é possível, apesar de longa e dolorosa, e deve ser sempre


acompanhada por especialistas. É necessário começar por eliminar todos os
comportamentos que geraram esta conduta de actuação, com uma força de
vontade férrea.
Os doentes precisam do apoio de todos para se aceitarem a si mesmos
como são: humanos, mas não perfeitos, e igualmente belos.

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Ortorexia

Caso Clínico

Na sua página na Internet, o médico Steven Bratman, descreve o caso de


Kate Finn, uma paciente ortoréxica que morreu após uma paragem cardíaca
depois de vários regimes de fome: “Ela não tinha medo de ficar gorda nem
queria ficar magra. Só queria comida saudável”.
Trata-se portanto de um caso de Ortorexia levado ao extremo, causando
a morte da paciente, por este facto e por todo o mediatismo que este caso
concreto acarreta, pareceu-nos pertinente a sua referência neste trabalho.

Kate vivia em Santa Mónica, Califórnia e trabalhava como massagista e


instrutora de Yoga, quando, durante o Inverno de 1991, começou a
experimentar problemas crónicos digestivos (como sintomas, ela sentia um
inchaço na barriga após as refeições, juntamente com a sensação de ter uma
pedra no estômago). Ela sentia-se também apática, com poucas forças e
deprimida.
Segundo Kate Finn as duas principais causas do seu problema seriam a
dieta que ela tinha seguido durante os anos antecedentes e o stress (devido
ao regresso à faculdade para terminar o seu bacharelato, tendo colocado
demasiada pressão sobre si mesma para o conseguir).
Antes do início dos seus problemas intestinais e de falta de energia Kate
vinha cumprindo uma dieta extremamente rica em hidratos de carbono e
com um baixo teor de gorduras e proteínas. “Eu era uma vegetariana
“vegan”, o que significa que eu não comia nenhum tipo de derivado animal,
como leite e ovos”.
Tal como Kate Finn vem mais tarde a perceber, é possível seguir uma
dieta saudável sem desenvolver a Ortorexia, isto porque o problema não
está no grau restritivo da dieta, mas no quanto essas limitações alimentares
podem afectar a vida da pessoa. “Não creio que tenha sido a dieta “vegan” a
causadora dos meus problemas, mas antes a forma como eu a segui”.
Por esta altura Kate, encontrava-se bastante contente com a sua
aparência e não tinha intenção ou desejo de perder mais peso.
Com o stress provocado pelo regresso à faculdade, Kate acaba mesmo
por abandonar o Yoga, o que veio mais tarde a revelar-se para a mesma como
um grande erro.
Com o início dos seus problemas intestinais e de falta de energia, Kate
perdeu a vontade de comer, não tinha apetite e pelo facto de se sentir mal
após as refeições, preferia não comer. Consequentemente começou a perder
peso.

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Ortorexia
Até encontrar o seu equilíbrio em 1997, Kate Finn vai adoptando várias
dietas, sempre marcadas por atitudes extremas nos hábitos alimentares.
Durante este período, Kate adopta, entre outras, dietas baseadas
somente na ingestão de alimentos crus e cereais germinados (com o
objectivo de limpar o corpo de impurezas e toxinas, assumindo o jejum um
papel preponderante na libertação e purificação do corpo das toxinas
indesejadas), dietas estas que nunca se viriam a revelar satisfatórias, pois,
apesar de esta se sentir menos obstruída e apática continuava a sentir-se
muscularmente fraca.
Este tipo de dietas bem como as consequências que acarretavam, eram
sempre seguidas de dietas do extremo oposto, motivadas acima de tudo pelo
facto de que Kate estava farta de ser magra e de toda a gente pensar que
ela sofria de Anorexia Nervosa.
Com o objectivo de recuperar o peso perdido, passava então a comer
tudo aquilo que lhe apetecia (rendendo-se ao prazer dos gelados e comida
rápida com baixo valor nutritivo). Através deste tipo de alimentação, não só
ganhava peso como o seu aspecto melhorava, mas os seus problemas
digestivos e falta de força permaneciam.

Kate “corria” nesta altura atrás de tudo aquilo que ela visse que poderia
solucionar os seus problemas, tendo mesmo recorrido a um
gastrenterologista que pensou que esta fosse anoréxica. “Eu penso que ele
achou que eu sofro de anorexia, e a partir desse momento não me levou a
sério”.
Kate chegou mesmo a estar internada numa unidade hospitalar de
desordens alimentares durante cinco dias, devido à forte persistência por
parte da família. “Eu resisti totalmente à ideia pois sabia que não era esse o
local onde eu precisava estar”.
Por esta altura sentia-se muito incompreendida, pois ao contrário do que
todos pensavam, ela não tinha medo de ficar gorda nem queria ser magra,
ela apenas queria comer de forma saudável.

No Verão de 1997, Kate encontra o seu equilíbrio interior, terminando


com a sua obsessão por alimentação saudável, bem como, qualquer dieta
planeada, passando a ouvir e a dar ao seu corpo o que ele precisava, quando
precisava.
Esta mudança de atitude por parte de Kate, bem como, o seu contacto
com o livro “Health Food Junkies” de Steven Bratman ajudaram-na a
encontrar o seu equilíbrio e a libertar-se dos seus pensamentos obsessivos
de como comer.

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Ortorexia
O encontro do seu equilíbrio interior, fez com que esta pensasse que
estava curada, tendo mesmo dado várias entrevistas acerca de todo o seu
processo de recuperação.
Infelizmente, ela não se encontrava tão recuperada como pensava,
apesar de se ter libertado da obsessão por comida saudável, o seu corpo
encontrava-se ainda demasiado debilitado, vindo a mesma a falecer.

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Ortorexia

Conclusão

Após a realização deste trabalho de pesquisa, podemos concluir que a


Ortorexia é um distúrbio alimentar relativamente recente, onde o paciente
apresenta uma preocupação exagerada em ter uma alimentação
completamente saudável, a qual, se transforma em obsessão. Os portadores
desta doença convertem essa preocupação no seu principal objectivo de
vida, rejeitando qualquer alimento que não seja natural, puro, saudável ou
controlado. Verificámos também que, a maior parte dos ortoréxicos não se
apercebem do seu exagero no controlo alimentar, pois o desejo de manter
uma dieta saudável ultrapassa tudo e também porque hoje em dia existe um
estímulo para adoptar esse tipo de dieta.
Concluímos também que, os mais prováveis portadores de Ortorexia
são indivíduos que seguem um regime alimentar vegetariano, frutariano,
macrobiota, indivíduos que sofreram de anorexia, vigorexia ou outro
transtorno obsessivo-compulsivo e, principalmente, indivíduos na faixa
etária dos 40 e com uma situação sócio-económica alta. Estas pessoas são
bastante exigentes consigo próprias e adoptam comportamentos tipo, o que
pode levar ao isolamento social, pois apenas convivem com aqueles que
seguem a sua dieta alimentar.
As consequências destas restrições podem ter efeitos bastante
graves para a saúde, pois “o aparelho digestivo está preparado para comer
de tudo, mas ao tentar que trabalhe somente com certos alimentos vai
perdendo a capacidade de se defender e aumenta o risco de intoxicações”.
Num estado mais avançado da doença as restrições começam a ser tantas
que ocorre uma desnutrição que pode levar à morte.
Actualmente ainda não existe um diagnóstico específico para
detectar a Ortorexia, pelo que é necessário observar atentamente o estado
psicológico por detrás da dieta saudável ou recorrer a questões como as
apresentadas por Steven Bratman. O tratamento da Ortorexia exige o
acompanhamento de uma equipa multidisciplinar e deve ser feito a nível
psicológico, bem como a nível nutricional.
Constatamos assim, que é necessário aprender a comer bem, mas de
vez em quando permitir algum deslize, porque a repressão só aumenta o
desejo e atormenta. É sempre bom lembrar que a alimentação saudável deve
fazer parte da vida de toda a pessoa, mas jamais esquecer da importância
da amizade, da realização profissional, da prática de exercícios físicos, do
lazer e da sexualidade como fonte de energia e prazer.

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Ortorexia

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