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- novas direcSes poder politico e classes sociais “A caracteristica, propria do Estado capitalista, de representar o interesse geral de um conjunto nacional-popular néo constitui uma simples mistificagao enganadora, no sentido de que esse Estado pode efetivamente satisfazer, abaixo desses limites, certos interesses econdmicos de certas classes dominadas; ainda mais: pode fazé-lo, sem que, no entanto, 0 poder politico seja atingido. E de resto evidente que néo é posstvel tracar, de uma vez por todas, esse limite de dominagdo hegemonica: ele depende tanto da relagdo das forcas de uta como das formas de Estado, da articulagdo das suas fungdes, das relagSes entre © poder econdmico e o poder politico, do funcionamento do aparelho de Estado.” Nicos Poulantzas Martins Fontes SOBRE 0 CONCEITO DE POLITICO 1. Politica e Historia — O Politico ¢ a Politica 14 dispomos de um mimero suficiente de elementos para tentar deserever 0 conceito de politico em Mars, Engels e Lenin, ¢ as suas relagdes com a problemética do Estado, B, contudo, necessério fazer duas observacées prévias: 1) Tentaremos, neste capitulo, enunciar os problemas da teoria marxista geral acerca do Estado ¢ da luta politica de classes. Este capitulo, que diz sobretudo respeito a0 problema geral do Es- tado, precede na ordem da exposi¢éo o capitulo sobre as classes sociais © a Iuta de classes, E mio fazemos isto por acaso: néo porque, evidentemente, se possa compreender, na ordem logica, um ‘exame do Estado sem referéncia direta e conjunta A luta de classes, ‘ou que esta ordem de apresentacio corresponda a uma ordem hist6- rica de existéncia do Estado antes da divisio da sociedade em clas- ses, mas porque as classes sociais constituem 0 efeito, veremos em que sentido, exatamente, de certos niveis de estruturas, das quais 0 Estado faz. parte. 2) 34 introduzimos a distingto entre superestrutura juridico- -politica do Estado, aquilo que podemos designar como 0 politico, © as praticas politicas de classe — luta politica de classe — aquilo que podemos designar como a politica. Devemos contudo ter em vista que esta distingio serd esclarecida no capitulo seguinte acerca das classes sociais, onde serd possivel fundamentar a distinggo ¢ a relagio entre as estruturas, por um lado, e as priticas de classe, ou seja, o campo da luta de classe, por outro. © problema do politico ¢ da politica esti ligado, em Marx, Engels ¢ Lenin, a0 problema da hisiéria. Com efeito, a posicéo marxista a este respeito decorre das duas proposicées fandamentais de Marx e Engels no Manifesto Comunista, segundo as quais: a) “Toda a luta de classes é wma luta politica” © b) “A luta de classes é 0 motor da historia”. Torna-se nitido que podemos fazer uma primeira leitura, de tipo historicista, da relagao entre estas duas pro- posigdes. Esta leitura pressupGe, no fim de contas, 0 tipo hegeliano de “totalidade” ¢ de “hist6ria”: trata-se, em primeiro lugar, de um tipo de totalidade simples e circular, composta de elementos equi- valentes, que se distingue radicalmente da estrutura complexa com 35 valor de dominante que especifica 0 tipo marxista de unidade; tra- ta-se, em segundo lugar, de um tipo linear de historicidade, cuja evolugo esta desde logo contida na origem do conceito, sendo 0 processo histérico identificado como 0 devir do autodesenvolvimento da Idéia, Nesta “totalidade”, a especificidade dos diversos elemen- os em questio é reduzida a’ este principio de unidade simples que 6 0 Conceito, de que eles constituem a objetivacio; a historia € re~ duzida a um devir simples, cujo principio de desenvolvimento € a passagem “dialética” da esséncia a existéncia do conceito. Portanto, pode efetivamente fazer-se uma leitura historicista das proposigées marxistas que acabamos de citar Qual seria o resul- tado? Ficariam entio compreendidos no dominio do politico nao um nivel estrutural particular e uma pritica especifica, mas em geral (© aspecto “‘dinimico”-"diacronico” de todo o elemento pertencente fa qualquer nivel de estruturas ou préticas de uma formagao social. Sendo 0 marxismo, para o historicismo, uma ciéncia “genética” do devir em geral, sendo a politica 0 motor da hist6ria, aquele ficaria sendo em tltima andlise uma ciéncia da politica — ou seja, uma “ciéncia da revolugio” — identificada com ese devit unilinear sim- ples, do que decorrem vérias conseqiiéncias: a) uma identificacéo da politica e da hist6ria; b) 0 que se pode designar como a sobre- politizagao dos diversos niveis das estruturas 2 das praticas soci ‘caja especificidade, autonomia relativa e eficdcia propria seriam re- duzidas ao seu aspecto dinimico-hist6rico-polt.ico. O politico cons- tituiria aqui 0 centro, ou o denominador comem ¢ simples, tanto da sua _unidade (totalidade) como do seu desenvolvimento: exemplo particularmente manifesto deste resultado, « famosa sobrepolitizagio do nivel tedrico que conduz ao esquema “ciéncia burguesa — ciéncia proletéria"; c) uma aboligdo da propria especificidade do politico, fa sua decomposigo em todo o elemento indistinto que viesse rom- per 0 equilibrio da relagao de forgas de uma formacao. Estas con- seqiiéncias tém como resultado tomar supérflu o estudo teérico das estruturas do politico e da prética politica, 0 que conduz a inva- riante ideol6gica voluntarismo-economicismo, 3s diversas formas de revisionismo, de reformismo, de espontanefsmo, ete. Resumindo, o politico, em uma concepcio historicista do mar- xismo, desempenha o papel que, afinal de contas, assume 0 Con- ceito em Hegel. Nao me ocuparei aqui das formas concretas que esta problematica reveste, Apresentarei apenas duas citagdes, a fim de situar 0 problema. Uma € extraida de Gramsci, cujas anilises politicas, ainda va- Tiosas, so inuitas vezes afetadas pelo historicismo de Croce ¢ La- briola. Esta ilustra as conseqiiéncias assinaladas: “A primeira ques- 36 Go a colocar ¢ a resolver em uma exposigéo sobre Maquiavel 6 a questo do politico como ciéncia autnoma, quer dizer, do lugar que a ciéncia politica ocupa ou deve ocupar em uma coneepgio do mun- do sistemética..., em uma filosofia da prixis. © progresso, a que, a este respeito, Croce obrigou aos estudos sobre Maquiavel 'e sobre a ciéncia politica, consiste sobretudo... no fato de ter dissipado ‘uma série de falsos problemas, inexistentes ou mal formulados. Croce baseou-se na distingao entre os momentos do espirito ¢ na afirma- do de um momento da pritica, de um espirito prético, auténomo independente, embora ligado circularmente a toda a realidade pela dialética dos distintos. Em uma filosofia da praxis, a distingo nio ser certamente entre os momentos do Espirito absoluto, mas antes entre os graus da superestrutura e tratar-se-4 assim de’estabelecer a posigio dialética da atividade politica (e da ciéncia corresponden- te) como grau determinado da superestrutura: podemos dizer, 2 tulo de primeira indicagdo ¢ de aproximagao, que a atividade politica € precisamente 0 primeito momento ou primeiro grau, 0 momento fem que @ superestrutura est ainda na fase de simples afirmacao voluntéria, indistinta e elementar. Em que sentido se poderd esta- belecer uma identidade entre a politica € a historia, e, por conse- Buinte, entre o conjunto da vida e a politica? Como’ se poderd con- ceber, neste caso, todo o sistema de superestruturas como distin- ‘Ges da politica, © como se justificara entdo a introdugio do conceito em uma filosofia da préxis?... Conceito de “bloco histbrico”, isto € unidade entre estrutura © superestrutura, unidade dos contrérios € dos distintos. ...1 Vemos desde ja manifestarem-se, nesta citagio de Gramsci, as conseqiiéncias assinaladas do historicismo, que aqui conduzem — como foi, de resto, 0 caso do esquerdismo tedrico dos anos vinte (Lakécs, Korsch, ete.) — a uma sobrepoliticagdo de carder volun- tarista, que corresponde simetricamente 20 economismo na mesma problematica.? A minha segunda citagio é extraida de T. Parsons, mestre da tendéncia “funcionalista” da sociologia atual, tendéncia a que volta- remos demoradamente, na medida em que, influenciada pelo histo- ricismo de Max Weber, ela orienta as anilises da ciéncia politica moderna, e acerca da qual interessante constatar que, devido 1. Este texto 6 citado eonforme as Ocuores choisica, das Ed. Sociales (p. 1067 @ segs.). Acerea da identifieagio, em Gramsci, da “‘cigncia” e de “filosofie da praxis” com a politica, ver IU materialiamo storico ¢ la Filosofia ai B. Croce, Einaudi, p. 117 © ogs, © Note eul Mackiavelli,eul- la politica ¢ suilo Stato moderno, Einaudi, p. 19 e segs., 142 0 segs. 2, "Sobre este assunto, remeto para as anélises de Althusser em Lire le Capital, 1965, t, 11. 3." The Scoial Sysiem, Glencoe, 1951, p. 126 © segs. 37 precisamente aos seus principios te6ricos comuns com o historicismo marxista, conduz a resultados andlogos a respeito do politico e da politica: “...nfo poderiamos abordar o estudo da politica apoian- do-nos numa concepeao tedrica restrita a este problema, pela sim- ples razio de que a politica constitui um centro de integragéo de todos 0s elementos analiticos do sistema social, e porque ela propria io poderia ser reconhecida como um desses elementos parti- culares”, # Veremos seguidamente que o funcionalismo constitui, de fato, no plano epistemolégico, a continuidade direta da concepgio histo- ricista geral; 6 evidente a reducio do politico que dai decorre, tor- nando-se este, alids, enquanto principio simples da totalidade social, © principio do seu desenvolvimento, na perspectiva sincronia-diacro- rnia que caracteriza o funcionalismo. Em uma concepcdo anti-historicista da problematica original do marxismo, devemos situar 0 politic na estrutura de uma formagio social, pot um lado, enquanto nivel especifico, por outro, contudo, enquanto nivel crucial em que se refletem e se condensam as con- tradigSes de uma formacao, a fim de compreender exatamente 0 cardter anti-historicista da proposicio segundo a qual € a Iuta po- Iitica de classes que constitui 0 motor da histéria, Comecemos por este iiltimo ponto, posto em evidéncia por Al- thusser. Althusser demonstrou — como nos lembramos — que, para © marxismo, nao € um tipo universal © ontol6gico de histdria, principio de génese, referido e a um sujeito, que constitui o prt de intcligibilidade do processo de transformacao das sociedades, mas, antes 0 conceito teoticamente construido de um dado modo de pro- dugio enquanto todo-complexo-com-dominante. E a partir deste conceito, que nos é determinado pelo materialismo histérico, que se pode construir 0 conceito de hist6ria, em nada se referindo a um devir lincar simples. Os niveis de estruturas ¢ de priticas, exat mente do mesmo modo que apreseatam, no interior da unidade de um modo de produgo ¢ de uma formagio social historicamente de- m 4. Com efeito, esta corrente nio 36 diretamente se filia no historicismo, como também 'se apresenta — através da importancia que assume — como a “alternativa” ao marzismo, tal como W, Runciman o assinala no ‘seu excelente livro Social Science and Political Theory, 1985, (p. 109) “..Em eiéncia politica 6 existe, de fato & excego do marxismo, um dni co candidsto sério a uma teoria geral da sociedade... Os seus partid ios declaram que existe uma alternativa de” proposigses gerais ‘que fornecem uma melhor explicacio do comportamento polities que 0 maraismo... Trata-se do fancionalismo”: ou ainda (p. 122): “Subsiste 0 fato de que eorta espéeie de funcionalismo é a unica alternativa corren- te ao marxismo como base do uma teoria geral em cigncia politica” 38, terminada, uma especificidade propria, uma autonomia relativa ¢ uma eficdcia particular, apresentam também temporalidades com ritmos e escansdes diferenciais.® Os diversos niveis de uma forma- ‘edo social sao caracterizados por um desenvolvimento desigual, trago essencial da relacdo destas temporalidades diferenciais na estrutura, por defasagens que so o fundamento da inteligibilidade de uma for- magio ¢ do seu desenvolvimento, Nesta medida, as transformagées de uma formagio e a transi¢io sio apreendidas pelo conceito de uma histéria com temporalidades diferenciais. Tentemos determinar o lugar que cabe, neste contexto, a0 po- litico, € particularmente @ prdtica politica. O conceito de’ prética assume aqui o sentido de um trabalho de transformagdo sobre um objeto (matéria-prima) determinado, cujo resultado & a produgéo de algo de novo (0 produto) que constitui freqiientemente, ou pelo ‘menos pode constituir, uma cesura com os elementos jé determinados do objeto. Ora, qual’ é a este respeito, a especificidade da prética politica? Esta "prética’ tem por objeto especifico o “momento atual”®, como dizia Lenin, isto 6 0 ponto nodal onde se condensam as contradicdes dos diversos niveis de uma formagio nas relagbes complexas regidas pela sobredeterminacao, pelas sas defasagens € desenvolvimento desigual. Este momento’ atual € assim uma con- juntura, 0 ponto estratégico onde se fundem as diversas contradigoes enguanto reflexos da articula¢o que especifica uma estrutura com valor de dominante. O objeto da pritica politica, tal como aparece no desenvolvimento do marxismo por Lenin — € 0 lugar onde, em iiltima andlise, se fundem as relagGes entre as diversas contradigées, relagdes que especificam a unidade da estrutura; o lugar a partir do qual se pode, em uma situacdo concreta, decifrar a unidade da estrutura e agir sobre ela com vista 4 sua transformacao. Queremos dizer com isto que o objeto a que se refere a pritica politica esta dependendo dos diversos niveis sociais — a prética politica tem como objeto simultaneamente 0 econdmico, 0 ideoldgico, 0 tedrico “o" politico em sentido estrito — na sua relagio, a qual consttui uma conjuntura. Decotre disto uma segunda conseqiigncia no que diz respeito politica nas suas relagdes com a histOria, A pritica politica & 0 ‘motor da historia” na medida em que o seu produto constitui afinal a transformacdo da unidade de uma formacio social, nos seus di- versos estigios ¢ fases. Isto, porém, ndo em um sentido historicista: 5, Para a distingio entre mado de produgdo e formagtio social — essen- cist para 0 problema do conceito de historia — ver « Introducio, 6 “La dialectique matérialiste”, in Pour Mars, £ conveniente.assina- no entanto, que este concvito’de pritica ndo é ainds, no estado atual das pesquisas, endo um conceite prdvico (téenieo). 39 1 prética politica € quem transforma a unidade, na medida em que 0 seu objeto constitii 0 ponto nodal de condensagiio das contradi- Bes entre os diversos nfveis, com historicidades préprias © desen- volvimento desigual. Estas andlises so importantes para situar 0 conceit do_polt- tico, e, em particular, da prética politica, na problemética original do marxismo. E preciso contudo completé-las em um ponto. Com efeito, estas anilises respeitantes a0 objeto © a0 produto da pritica politica, nao bastam para situar exatamente a especificidade do po- litico: devem ser completadas por uma concep¢ao adequada da su- Perestrutura politica.” Pois que, de fato, se nos contentarmos em definir 0 politico apenas como prética com objeto e produto defini- dos, corremos sempte-o risco de diluir a sua especiticidade, de iden- tificar afinal como politico tudo o que “transforma” uma unidade determinada. Se negligenciarmos 0 exame te6rico das estruturas po- liticas, arriscamo-nos também a ndo acertar com 0 momento atual da conjuntura ¢ a fracassar nesse “momento” de que Gramsci fala- va, enunciando o problema com nitide, Em suma, se quisermos superar definitivamente um certo historicismo na concepgio do poli- tico, néo basta limitarmo-nos & andlise tedrica do objeto da pritica politica; € preciso também situar, no interior de uma formagZo so- ial, o lugar e a funcdo especfficos do nivel das estruturas politicas que constituem o seu objetivo: somente nesta medida a sobredeter- minagdo pelo politico poderé aparecer nas suas relagdes com uma historia diferencial. Entremos no émago da questo. As estruturas politicas — 0 que se designa como superestrutura politica — de um modo de Producio © de uma formacéo social consistem no poder institucio- nalizado do Estado. Com efeito, sempre que Marx, Engels, Lenin ‘ou Gramsci falam de luta (prética) politica distinguindo-a da Tuta econémica, consideram expressamente a sua especificidade relativa a0 seu objetivo particular, que & 0 Estado enquanto nivel especifico de uma formacao social.’ Neste sentido encontramos de fato, nos eléssicos do marxismo, uma defini¢do geral -da politica, ‘Trata-se, 7, Trata-se daquilo que podemos designar como “mperestrutura juré dico-politica do Estado", na condigéo de astinalarmos que este termo en- eloba, muito esquematicamente, duas realidades distintas, dois nivels Felativamente autOnomos, a sebor: as estruturas juridicas— 0 direito —e as estruturas politicas — 0 Estado. seu emprogo é logitimo na medida em que os clissicos do marxismo estabeleceram efetivemente relagdo estreite entre estes dole nivels: exte emprego nio nos deve fazer esquecer entretanto que este termo recobre dois niveis relativamente dis- tintos euja combinacdo conereta depende do modo de produsso © da for~ ‘magio soc:al considerados. _Devemes ter em conta esta observagdo sem- re que empregarmos este termo, 40 de um modo preciso, da concepcio indicada da pritica politica: esta tem por objelo © momento atual, produz as transformacées — ou, por outro lado, a manutengéo — da unidade de uma formacao, na ‘inica medida, contudo exata, em que tem como ponto de impacto, como “objetivo” estratégico especifico, as estruturas politicas do Estado. # Neste sentido Marx diz: “O political movement da classe ope- rdria tem... como objetivo final — Endzweck — a tomada do po- litical power”.* E também precisamente neste sentido que devemos entender a frase de Lenin: “Nao basta dizer que a luta de classes 86 se toma uma [uta verdadeira, conseqiiente, aberta, no dia em que abrange 0 dominio da politica... Para o marxismo, a luta de clas- ses 56 se torna uma luta inteiramente aberta ao conjunto da nacio no dia em que, ndo apenas abrange a politica mas também se prende ao essencial neste dominio: a estrutura do poder de Estado”. ‘9 O desta citagdo 6 que este objetivo do poder de Estado € a condi¢do da especificidade da pritica politica. A este respeito, assinalemos ainda a posicao de Lenin nos seus textos de 1917 relativos ao problema da “dualidade do poder”, do Estado ¢ dos Sovietes. De fato, a palavra de ordem “todo 0 poder aos So- Vietes” esté ligada, no pensamento de Lenin ao fato de considerar 08 Sovietes como um “segundo Estado”. Veremos a distingSo entre poder de Estado e aparelho de Fstado; 0 que aqui nos interessa € que esta palavra de ordem nao decorre do fato de os Sovietes esta- rem sob 0 controle dos bolcheviques — na ocorcéncia, os sovietes, no momento desta palavra de ordem, estavam sob o controle dos mencheviques —, mas do fato de os Sovietes constituirem um apa- relho de Estado assumindo fungbes do Estado oficial, do fato de cons- tituirem 0 Estado real. Donde, a conclusio: & necessério fortalecer este segundo Estado ¢ ter como objetivo conquisti-lo enquanto Esta- do: ".. .A esséncia verdadeira da Comuna nao est’ onde em geral a procuram os burgueses, mas na criagdo de um tipo particular de Es- tado. Ora, um Estado deste género j nasceu na Riissia: slo os So- vietes...”. 1" Estas andlises de Lenin decorrem da sua posigéo teérica a respeito da distingio — e da relacdo — entre a luta econémica ¢ a Iuta politica, tal como o havia essencialmente definido no Que Fazer?: 8. Podemos assim subserever perfeitamente a definigo que M. Verret 4 da politica: “Pratica politica € a pratiea de diregio da Iuta de clas- ses no Estado e por ele” (Théorie. et politique, Ed. Sociales, 1967, P. 1944). Abordaremos a seguir a questo da relagdo entre a politica ¢ © Estado, tal como 6 formalada pela antropologia politica atusl. 9. Carta a Bolte, de 29 de novembro de 1871. 10. Lenin, Oeuvres complates, Bd. Sociales, t. 19. 11, Theses Avril, “Lettre sur In tactique”. 4 “A social-democracia dirige a luta da classe operéria... nas suas rela~ ‘gBes nao apenas com um grupo de patrGes, mas também com... @ Estado como forca politica organizada. Donde se segue que 0s 4A. sociais-democratas néo podem limitar-se & Iuta econdmica...”, ou ainda “as dentiacias politicas sio uma declaragdo de guerra ao’ go- Yerno da mesma maneira que as denincias econdmicas sfo uma de- claragio de guerra aos industriais”. IL, A Fungio Geral do Estado Esta tese coloca, contudo, tantos problemas quantos os que resolve. Com efeito,” por que razo uma pritica que tem como objeto 0 “momento atual” e produz. transformagées da unidade apre~ senta de especifico 0 fato do seu resultado ndo poder ser produzido ssendio quando tem como objetivo o poder do Estado? Esta questéo de maneira alguma parece evidente, como 0 mostra por um lado a tendéncia economicista — trade-unionista — (esse objetivo seria 0 econdmico), por outro lado a tendéncia ut6pica — idealista (esse —objetivo seria 0 ideol6gico). Formulando problema em termos diferentes, por que raz40 a concepcio fundamental de Marx, Engels, Lenin e Gramsci relativa & passagem ao socialismo se distingue de uma concepeao reformista na medida em que exige que o Estado seja radicalmente transformado ¢ o antigo aparelho de Estado des- truido, isto 6 pela teoria da ditadura do proletariado? Em suma, por que raziio, segundo os termos exatos de Lenin, 0 problema fur _ flamental de wma revolucio € 0 poder do Estado? Para resolver 0 problema, & necessério regressar A concep¢do marxista cientifica da superestrutura do Estado e mostrar como, 0 interior da estrutura de virios niveis defasados por desenvolvimento desigual, 0 Estado possui a fungio particular de constituir 0 fator de coesio dos nive's de wma formacdo social. & precisamente o que ‘© marxismo exprimiu, concebendo o Estado como fator da “ordem”, como “principio de organizagao”, de uma formacao, nao no sentido corrente dos nfveis de uma unidade complexa, € como fator regul dor do seu equilibrio global enquanto sistema, Pode ver-se_ 2: Por que razdo a prética politica, que tem como objetivo o Estado, produz as transformagées da unidade ¢ & assim o “motor da histé- tia": 6 precisamente por intermédio da andlise deste papel do Es- tado que se pode estabelecer 0 sentido antithistoricista dessa pro- _Posigo, De fato, ow a pritica politica tem como resultado a ma- 12, Bm particular sobre a relagho Inte econdncatuta polities, ver adiante pigs. 86 ¢ 92. ss a a nutencéo da unidade de uma formagdo, de um dos seus estégios ow fases, isto é a sua no-transformacao visto que, no equilibrio ins- tavell de correspondéncia / néo-correspondéncia de niveis defasados por temporalidades préprias, este equilibrio jamais & realizado en- quanto tal pelo econdmico, antes € mantido pelo Estado (neste caso, 2 pritica politica tem como objetivo o Estado enquanto fator de ma- nutengio da coesdo desta unidade); ow entdo a prética politica pro- duz transformagées tendo como objetivo 0 Estado como estrutura nodal de ruptura desta unidade, na medida em que ele € 0 seu fator de coesfio: neste contexto, o Estado poderé além disso ser encarado ‘como fator de produgo de uma nova unidade, de novas relacdes de producto. Com efeito, j& podemos descobrir um indice desta funcio do Estado no fato de que, para além de fator de coesio da unidade de uma formacao, é também a estrutura na qual se condensam as con- tradigSes entre os diversos niveis de uma formacdo. O Estado é assim 0 lugar no qual se reflete 0 indice de. dominancia e de sobre determinagéo que caracteriza uma formacdo, um dos seus estagios ‘ou fases. Por isso o Estado aparece como o lugar que permite a decifracao da unidade e da articulagio das estruturas de uma forma- ‘do. Isto nio seré esclarecido no momento em que analisarmos. 2 Telagio entre as estruturas e 0 campo das priticas de classe, e six tuarmos a relaglo particular entre 0 Estado e a conjuntura que cons- fitui o lugar de decifragdo da relagdo entre as estruturas © 0 campo ‘das préticas. E a partir da relacio entre o Estado, fator de coesio da unidade de uma formacdo, ¢ 0 Estado, luger de’ condensagao das diversas contradigées entre as instincias, que podemos assim decifrar ‘© problema politica — histéria, Esta relagéo designa a estrutura do politico, simultaneamente como nivel especifico de uma formagéo ¢ como lugar das suas transformacdes, ¢ a luta politica como 0 “motor da hist6ria” tendo como objetivo 0 Estado, lugar de condensagao das contradigées entre instincias defasadas por temporalidades pr6- prias. E contudo necessério precisar alguns pontos. Esta enunciagio do problema do Estado permite resolver um problema capital ‘da teoria marxista do politico. De acordo com toda uma tradigéo mar- xxista, tal fundamentacdo, em teoria, da telagio entre a luta politica ¢ 0 Estado seria cair em uma concepsio “maquiavélica” do politico. Nao condenou Marx, nas suas obras de juventude, a concepgio do “exclusivamente politico”, a concepcao que reduz a politica & sua re- io com o Estado? Nao deveria a prética politica ter como ob- jetivo, nfo o Estado, mas a transformacéo da “sociedade civil”, as 43 relagdes, digamos, de produgdo? A. resposta errada a este pro- ‘blema mal enunciado chama-se economicismo, o qual atribui a Iuta politica as relagbes sociais econdmicas como objetivo especifico, & no interior deste esquema que precisamente se situa a concepgio re~ formista.. Ora, dirigindo-nos & problemética original do Estado de Marx da mataridade, apreendemos a relagdo entre a luta politica ¢ o Estado, por um lado, e a relagdo entre estes € 0 conjunto dos niveis da formagio social, por outro. ‘Vamos um pouco mais longe: esta definigdo do politico como relagdo entre a pritica politica ¢ 0 Estado € ainda demasiado ge~ nérica, Se, em geral, € vilida para as formagies sociais divididas em classes, € evidente em contrapartida que esta relagao 36 poderd set especificada no quadro de um dado modo de producao ¢ de uma formacao social historicamente determinada. Em particular no que diz respeito A fungdo do Estado, como fator de coesio da unidade de uma formecdo, é nitido que assume formas diferentes conforme ‘© modo de producdo e a formagio social considerados. O lugar do Estado na unidade, na medida em que atribui A sua estrutura regio- rnal 0s limites que a especiticam ao mesmo tempo que a constituem, depende precisamente das formas que reveste esta fungio do Estado. A natureza precisa destes limites — 0 que € 0 Estado? —, assim como de resto a sua extenséo ou retragdo — quais as estruturas € instituigGes que fazem parte do Estado? —, esto em estreita relagio com as formas diferenciais desta funcao, de acordo com 0 modo de producéo ¢ a formacéo social considerados. Esta funcdo do Estado torna-se uma Cuneo especifica, e que o especifica enquanto tal, nas formagées dominadas pelo M.P.C., caracterizado pela aufonomia es. ecifica das irstincias ¢ pelo lugar particular que nele cabe @ regio do Estado. Esta autonomia caracteristica inaugura precisamente a especificidade do politico, determinando a fungao particular do Es- tado como fator de coesdo dos niveis automatizados. ‘A fungio do Estado, fator de coesio da unidade de uma forma- “do, que dele faz, o lugar onde-se condensam as contradigbes entre as instincias, € alids ainda mais nitida se repararmos que uma for- magao social historicamente determinada € caracterizada por uma ~superposigio de varios modos de produgdo. O que vamos aqui reter 18, Assim, por exemplo, Marx Adler, Die Stoateauffassung des Mar- iemus, Darmstadt, 1964, p. 49 ¢ segs. E contado lamentavel que a obre de “Adler tenhs permanecido tio pouco conhecida dado. que & indiscu! ‘velmente um dos espirites mais vivos e agugados da historia do pent mento marxists, 14, | Delxo, no momento, de lado os problemas da relagio entre o Estado (objetivo da pratica politica) 9 Fmomento atual” (objeto da prétice politica). 44 € que, mesmo quando um destes modos de produgio consegue esta- belecer a sua domindncia, marcando assim o inicio da fase de repro- dugdo alargada de uma formacio e o fim da fase propriamente tran- sitdria, assiste-se a uma verdadeira relagio de forgas entre os diver- 303 modos de producdo presentes, a permanentes defasagens entre as instincias de uma formacio. O papel do Estado, como fator de ‘coesio desta superposigao complexa nos diversos modos de produ Teconhece-se aqui como decisivo; € particularmente nitido, na ver~ dade, durante 0 periodo de transicao, caracterizado por uma nio- -correspondéncia particular entre propriedade e apropriacéo real dos meios de produgio. Como com exatidio 0 diz, neste caso Bette- Theim: “Tal defasagem acarreta importantes conseqiigncias do pon- to de vista da articulacdo entre os diferentes niveis da estrutura social, Esta ndo-correspondéncia implica, com efeito, em uma eficé- cia especifica do nivel politico”. Entretanto, esta’eficacia especi- fica do Estado, se 0 entendermos precisamente como funcio geral de coesio da unidade de uma formacao, existe permanentemente em toda a formacdo onde se superponham diversos modos de producio. Ela é particularmente importante na formacio capitalista, em que 0 MPC. dominante imprime aos diversos modos de produgio a do- minagio da sua estrutura ©, em particular, a autonomia relativa das, instancias, dadas as defasagens que dela /resultam, '© 16, Bottelhoim: “Problématique de Ia période de transition”, in Ztudee de’ planification socialiete n. 3, py 141- 16. Antes de entrar nos textos dos clissicos do marxisme concernentes 4 este problema, quero referir que certas obras importantes da_ciéncia politica atusl comegam pondo a tOniea no papel do politico como fator de manutengdo da unidade de uma formagio; ¢ isto, em um eneaio de “defi- nigdo” do politico, de algum modo, em reagio contra Weber que define o Estado exclusivamente pelo fato de possuir o “monopélio da forga legi- tima”. Assim, por exemplo, Apter define o politico como uma estrutura que “tom responsabilidades determinadas da manutengao do sistema de que fez parte” (“A comparative method for the study of polities", in Political Behaviour, ed. por Eulay, p. 82 e segs.); Almond insiste’ no fato de quo as estruturas rogionais'de um sistema sto eonstituidas pelos seus limites, tendo o politico precisamente a “funcio erucial de manu- tango dos Iimites no interior do sistema” (Almond e Coleman, The poli- ict of developing areas, 1960, p. 12 ¢ segs.; ver igualmente G. ‘Balandier, Anthropologie politique, 1987, 'p. 48); € alids também 0 caso de varios investigadores que seguem, has suas anilises, um modelo cibernéticn, tals como, por exomplo, D. "Easton (A Framework for political analysis, 1985) © K. Deutsch (Fhe Nerves of government, 1966), ete. Nao posso ui na discussao deste modelo eibernético, que alls de modo al~ gum devia ser confundido com o modelo funcionalista. Contento-me em Indiear que este critério de estrutura que tem o papel de fator de co sho do sistema, combinado,— como veremos —~ como do monopélio da forca legitima, ‘parece de fato pertinente para delimitar a estrutura do Estado, mas no modo de produgao eapitalista, quer dizer no caso do H>- 4s .l Sobre estas questOts, encontramos numerosas indicagdes nas obras dos clissicos do marxismo. Sabemos que a teoria marxista estabeleceu a relacdo entre 0 Estado e a luta de classes, ¢ até mesmo a dominacéo politica de classe. O que & necessério assinalar, antes de tentarmos localizar a relagio entre 0 campo da luta de classes e, em particular, da luta pelitica de classe, ¢ as estruturas de uma for: magao, 6 que, para a teoria marxista, esta relagao entre o Estado ea luta politica de classe implica a’ relagio entre o Estado e 0 cconjunto dos niveis de estruturas: de um modo mais preciso, a re- ago entre o Estado e 2 articulagao das instincias que caracteriza uma formagio. Isto ressalta das andlises de Engels, que estabeleceu — em ter- mos por vezes bastante paradoxais — as relacdes entre o Estado € 0 “conjunto da sociedade”. Engels diz-nos qué: “(O Estado) € antes de tudo um produto da sociedade em um estégio determinado do seu desenvolvimento: é 0 testemunho de que esta sociedade esté envolvida em uma insolivel contradicéo consigo mesma, encontran- do-se cindida em oposigies inconcilidveis que € impotente para con- jurar. Mas, para que os antagonistas, as classes com interesses eco- némicos opostes, nao se aniquilem, a si ¢ d sociedade, impée-se a necessidade de um poder que, aparentemente colocado acima da sociedade, ird dissimular 0 conflito, manté-lo nos limites da “or- dem”; este poder, saldo da sociedade, mas que se coloca acima dela e se Ihe torna cada vez mais estranho, é 0 Estado”. Vamos contentar-nos com este texto, a fim de nfo multiplicar as citagoes. O que “diz” Engels €, por um lado, a relaggo entre 0 Estado e a dominacio politica de classe, a luta politica de_ classes. Por outro lado, entretanto, poe em evidéncia que a relacdo entre © Estado e a dominagao politica de classe reflete — e até mesmo condensa, no sentido que demos a este termo — 0 conjunto das contradigées da sociedade. O que significa aqui este termo socie- dade? Pois que, se os termos no sio colocados no contexto da problemética original do marxismo, corremos 0 risco de nos atolar- ‘mos em uma perspectiva humanista que ponha em relagio a insti- tuiggo do Estado com a “totalidade” das “necessidades vitais” de uma sociedade, De fato, este termo parece aqui reportar-se — pois, em outros lugares, pode revestir sentidos diferentes — ao conceito rigoroso de formagao social, enquanto unidade complexa das ins- ‘t€ncias. O Estado esté em relacdo com as contradicdes préprias dos diversos niveis de uma formacio mas, na medida em que representa tado capitalista. Por outro Indo, « propésite do problema das rela estes autores entre o politico ¢ 0 Hatado, ver adiante p. 50, nota 21 17. Origine de ta famille... Ed. Sociales, p. 156 ¢ segs. 46 © lugar onde se reflete a articulagio destes niveis ¢ 0 ponto de con- densagio das suas contradigdes, cle € 0 testemunho da “contradigéo da sociedade consigo propria”. © Estado — diz-nos ainda Engels — & 0 “resumo oficial” da sociedade. Esta concepcio do Estado-“resumo” das. contradi ‘ges no sentido de condensacéo ou de fusdo, fora expressa por Marx, ‘em uma perspectiva hegeliana, bem entendido, em uma carta a Ruge, de setembro de 1843. Se me refiro aqui a este texto, é porque Lenin © cita integralmente em O que sdo os amigos do povo. E conve- niente tet em conta a atengio que Lenin presta a esta concepeio do Estado como condensacio das contradigdes. Marx nos diz. (citado por Lenin): “O Estado &... 0 sumdrio dos combates priticos da humanidade, Assim, 0 Estado politico exprime nos limites da sua forma sub specie rei publicae (sob 0 Angulo politico) todos os com- bates, necessidades ¢ interesses sociais”. Lenin dird, de uma forma lapidar, que 0 politico — compreendendo aqui o Estado e a luta politica de classe — 6 0 “econdmico condensado”. ® Neste sentido, o Estado surge, para Lenin, tanto como lugar de decifracdo da unidade das estruturas, quanto como lugar onde se pode extrait 0 conhecimento da unidade: “O nico dominio onde se poderia extrair este conhecimento € 0 da relagao de todas as classes e camadas da populagdo com 0 Estado e 0 Governo, 0 do- minio da telagio de todas as classes entre si”. Isto tinha alids sido assinalado por Engels na sua expresso do Estado como “re- presentante oficial” da sociedade, representante tomado aqui no sen- tido de lugar onde se decifra a unidade de uma formacio. Enfim, ¢ sempre neste sentido, 0 Estado é igualmente 0 lugar onde se de- ifra a situagdo de ruptura desta unidade: trata-se da caracteristica de duplo poder das estruturas estatais, a qual constitui, como Lenin ‘mostrou, um dos elementos essenciais da situarao revolucionéria. Ora, esta relacdo entre o Estado a articulagdo que especifica mma formacio decore precisamente do fato do Estado nela possuir uma fungéo de “ordem”, de ordem politica, é claro, nos conflitos politicos de classe, mas também de ordem global — de organizacdo em sentido lato — enquanto fator de coesio da unidade. O Estado impede, digamos, a explosio do conffito politico, de classe na medida 18, Anti-Dithring, Ed, Sociales, p. 187 © segs. 19 Oeuvres, t. I, ». 178. 20, A nouveau lee ayndicate: la situation actuel et los erreurs de Trote hy et de Boukharin. 21 Que faire? 41 a .—l te conflito reflere — ¢ no em uma relagdo entre fendmeno “= a unidade de uma formacio. O Estado impede que se aniquilem as classes e a “sociedade”, 0 que nao € sendo uma for- ma de dizer que impede a destruigfo de uma formagdo social. Se 6 verdade que 0s clissicos do marxismo néo elaboram teoricamente esta concepeio do Estado, néo é menos verdade que encontramos fnas suas obras numerosas indicagSes a este respeito, Neste sentido, Engels precisa esta fungio de “ordem” do Estado como “organizacio de que se dota a sociedade burguesa para manter as condigdes exte- riores da produgio...".% Nao devemos aqui perder tempo com 0 termo “exteriores", o qual parece implicar em uma concepgio meca- nicista das relagées entre a “base” ea “superestrutura”, mas retet antes 0 interesse da formulagdo do Estado como organizacio para ‘8, manutengio das condigées da producdo e, assim, das condigées de existéncia ¢ do funcionamento da unidade de um modo de pro- dugdo ¢ de uma formacao. Iguelmente encontramos uma formulacao admirével nesse espantoso teérico marxista que € Boukharim: na sua Teoria do materialismo histdrico, formula a concepgio de uma formagio social como sistema em equiltbrio instével no interior do qual o Estado desempenha um papel de “regulador’.® Por fim, esta concepgao esti na base da nogdo de organizago sob a qual Gramsci apreende a funcao do Estado. IML. Modalidades da Fungdo do Estado Fsta fungio de ordem, ou de organizagao do Estado apresenta diversas modalidades, que Se referem aos niveis sobre os quais ela se exerce em particular: fungio téenico-econdmica — nivel econd- mico; fungao propriamente politica — nivel da luta politica de clas- ses; funco ideologica — nivel ideolégico. A funcio téenico-econd- mica e 2 fungio ideolégica do Estado sio, entretanto, sobredetermi- rnadas pela sua fungio propriamente politica — a que diz respeito & uta politica de classes —, na medida em que constituem modalida- des do papel global do Estado, fator de coesio da unidade de uma formagao: este papel global do Estado é um papel politico. O Es- tado esté em relagio com uma “sociedade' dividida em classes”, ¢ com a dominacao politica de classe, na medida precisamente em que focupa tal lugar — e desempenha tal papel — em um conjunto de estruturas que tém como efeito, na sua unidade, a divisio de uma formacao em classes ¢ a dominagio politica de classe. Rigorosa- mente falando, nfo existe uma funcdo técnico-econémica, uma fun- 22. AntiDahring, pp. 318-519, B8._theorie der “irbtorischen, Materialiomus, Hambargo, 1022, t 1, peed e segs. 48 io ideol6gica e uma funedo “politica” do Estado: existe antes ums fungio global de coesio, que Ihe ¢ atribuida pelo seu lugar, e moda. lidades desta fungdo sobredeterminadas pela modalidade especifica- mente politica. Neste sentido diz Engels: “O que aqui importa € ‘apenas constatar que uma func social esta sempre na base da do- minagio politica; e que a dominagio politica s6 tem subsistido no ‘tempo enquanto preenche esta fungio social que Ihe foi confiada”. Esta tese foi igualmente desenvolvida pelos clfssicos do mar- xismo em numerosos textos. Nao obstante, sempre que eles fatam de uma modalidade particular que no se refere diretamente & luta politica de classe, com freqiifncia apareceram tebricos interpretando esta tese, como uma por assim dizer relagdo do Estado com a “so- ciedade”, independente da luta de classes. ‘Trata-se de uma tese antiga, cara & social-democracia ¢ presente j4 em H. Cunow® e K. Renner, ¢ que opde as “funcées sociais” do Estado & sua fungio politica, que seria a dnica ligada & luta e A opressio de classe, ‘Tese que, aliés, se encontra na maior parte das anélises da corrente so- Gial-democrata atual acerca do Welfare State *, e esté igualmente de- senhada em filigrana em certas anilises sobre 0 Estado despético do modo asistico de produgéo. Estado cuja existéncia estaria relacio- nada com diversas fungSes téenico-econdmicas — hidréulicas © ou- tras — em um modo de produgio de que as classes sociais, no sea- tido marxista, estariam ausentes. Vejamos, mais de perto, o problema destas diversas fungdes do Estado. Nao’ procederei ainda 20 seu exame sistemético, antes me ‘contentarci em indicar simplesmente a sua relagio com a fun¢ao po- Iitica a fim de elucidar o problema que nos ocupa. ‘A descrigio das formas que reveste este papel global do Es- tado nos € apresentada por vezes, é verdade, pelos cléssicos do marxismo, de um modo histdrico-genético, através do qual as rola- (qSes entre 0 Estado e os diversos niveis sio expostas como outros tantos fatores de engendramento e de nascimento histérico do Es- tado — e, além disso, das classes sociais. Ora, € conveniente notar que este problema do nascimento hist6rico do Estado, importante, € um problema 2 parte. Dispomos, na verdade, de esbocos de res- postas em Marx ¢ Engels, mas devemos ter em consideragdo 0 ca~ Kéter necessariamente limitado das informacdes hist6ricas de que 24, Anti-Dihring, p. 212. 25. Cunow, Die Marziste Geschichte, Gesselochafts, und Steatatheorie, 920-21, tif, p. 809 e segs. 26. K. Renner, Marziomus, Krieg und Internationale, 1917, p. 28 € segs. * Bstado do Bem-Estar social (N. T.). 49 dispunham. ” Podemos contudo ter em conta estas andlises, na me- dida em que poem em evidéncia as fungies do Estedo que acom- panham 0 lugar deste no todo complexo de uma dada formagio Gividida em dasses. A fungio do Estado diz respeito, em primeiro Tugar, a0 nivel econémico, e, em particular, ao processo de trabalho, a produtividade do trabalho. Podemos reporiar-nos, a este respeito, as andlises de Marx acerca do Esiado despotico do modo de pro- dugdo asidtico, & necessidade de um poder centralizado para os fins de execugio de trabalhos hidréulicos necessérios ao aumento da pro- dutividade do trabalho, Neste contexto, Engels fala-nos a propdsito da relagio entre a classe dominante © a divisio social do trabalho: *O problema é simples: enquanto o trabalho humano era ainda tio pouco produtivo que pouco excedente fornecia para além dos meios de subsisténcia necessérios, 0 crescimento das forcas produtivas, a extenséio do coméreio, 0 desenvolvimento do Estado e do dircito, 27. Nio deixa de ser stil mencionar aqui alguns problemas de definiedo formulados pels ntropolopie polities, a qual se eneontra ainda 10s seus Iniclon Gertos autores -~ ene on quais Apter, Easton, Nadel, G,Ba- landier CAnthropotagie politique, 2967), J. Bouillon, wie, — questions am as relagbetstabelechdas pelo marxlimo entre 0 poliicn ¢ © Hetado, Critor quer quostionando uma distinglo radical entre "gocledades segmen {asias "stm Estado’ “sociedades com Estado”, quer insistindo ha pousbildade de exsléncia do politico independentomenta, da existen- Shao’ Estado em sentido estrito” Contade, trata-se aqui do, esclarecer Ss definiges. As eritieas destes autores aio’ juntas so admitindo — como Sle fazer — uma concepgae enrcita = juriaiigta —, durante muito fempo preponderante, do Evtado, Com efeita,« mator parte destes auto- Yeo ome aasnelel ackna, p. 48, nota 18 — admitem ume detinicao {BS poltien andlope a gue. acaQe_de’expor, max precisam que o politica ode exists Independentemente. do Bslado, para o coal Yeservam uma definigdo juridetta-formal (admitindo, por exemplo, o eriterio weberiano do “monopolio da forga logit” ou 0'do “contralismo”): © Estado iden- ffhica-se assir, de aigum modo, com o° Estado moderno (vide aston: The politica spatem ¢ ainda, Balgndler). Contado, 0 problems desspa- Fee este gue’ co subianey’na linha do Marx e Pgels, que 0 otition Coincide com 1 emergéncia da um grupo especializade e puivilegiado que Stonepolian "a gortio eatatal. Neste sentido, podemes.estabeleeer qu {a distingdo radical “sociedades segmentirias™ — vsociedades com ‘2age* fandaca'em una concepyto jarchoate de Hestado, torna-se efetiv mente cuca By petite, como “rapido” particular, egincie com a emengéncia st- nae eerlas formas estatais, mesmo vombriontrias — Engsls: € 0 favo, por exenplo, dor “Estados sexmentérios™; 5 33°G Buttes 6 ‘Estado cosrespondom & formarto, das clastes socaie 2G aPque ests ond da qunstiol y revestindo allés 0 processo hist- Fico formas ‘atraontinariamente complexes, que es andlises de. Marx Seren do melo asigtce de progugio no bastam para inventariar. Em Jorticalsr, "a opon'gda_ manta’ tradicional. slagos_de parenteaco” — Pedlgues de clatoc's ue do testo decalcnra dev cooviednde. segment He" wocledado com stad", deve abr evinta (For R Bastige, Por hres climentares dela stratification vocile, 1968). 50 a fundagio da arte da ciéncia no eram possiveis seniio gracas a uma diviséo reforgada do trabalho, que forgosamente tinha que ter como fuadamento a grande diviséo do trabalho entre as massas, que se encarregam do trabalho manual simples, ¢ alguns privilegiados que se dedicam a diregao do trabalho, a0 comércio, aos negécios do. Estado, e mais tarde as ocupagies artisticas ¢ cientificas”.® Rete- nhamos, quanto a este ponto, @ relagdo entre o Estado, enquanto intérprete dos interesses da classe dominante, e a direcio geral do processo de trabalho, particularmente no que diz. respeito & produ- tividade do trabalho. Encontramos este problema a propésito da ivisdo do trabalho nas formagSes capitalistas, em que este papel do Estado corresponde aliés ao duplo papel do capitalista: papel de exploragdo ¢ papel de organizacdo-vigilincia do processo de traba- tho. Conhecemos, de resto, a importincia atribuida por Lenin & sua fungdo técnico-econémica do Estado — incluindo 2 sua funcao de contabilidade — nos seus textos de 1917-20, Esta fungdo do Estado, como organizador do processo de tra- balho, nao € aligs sendo um aspecto da sua fungdo relativo a0 eco- némico. Mencionemos aqui, também de passagem, a fungio do sis- tema juridico, do conjunto ‘das regras organizadoras das trocas ca- pitalistas, verdadeiro quadro de coesio das relagSes de troca. A fun- ‘gdo do Estado relativamente a0 ideol6gico consiste, digamo-lo de uma forma ainda s6 indicativa, no seu papel na educa¢ao, no ensino, etc. ‘Ao nivel propriamente politico, 0 da luta politica de classe, esta fungio do Estado consiste na manutengio da ordem politica no con- {ito politico de classe. Estas observagdes conduzem-nos, por conseguinte, a dois re- sultados: 1) © papel global do Estado como fator de coesio de uma formagao social pode, enquanto tal, diferenciar-se em modalidades particulares com respeito aos diverso’ nfveis de formagdo, quer dizer ‘em fungées econémica, ideol6gica, politica no sentido estrito do ter mo — papel no conflito politico de classe. 2) Estas diversas fungSes particulares do Estado, mesmo as que no concernem diretamente a0 nivel politico em sentido estrito — 0 conflito de classes —, néo podem ser teoricamente apreendidas sendo na sua relagio, quer dizer, inseridas no papel politico global do Estado. Com efeito, este papel reveste um caréter politico, no sentido de que mantém a unidade de uma formacao no interior da qual as contredigées entre os diversos niveis se condensam em uma dominagao politica de classe. Nao podemos, de fato, estabelecer com nitidez 0 carter politico da funcdo técnico-econdmica do Estado, 28, Anti-Dihring, p. 213. st 4 ‘ou da sua funcio de atribuigdo da justica, referindo-as diretamente 8 sua fungéo politica em sentido estrito, a saber, & stra funcdo parti- cular no conflito politico de classe. Essas fungdes constituem fun- ges politicas na medida em que visa, em primeiro lugar, a ma- mutengio da unidade de uma formagao social, bascada em iltima anélise na dominacao politica de classe. E neste contexto preciso que se pode estabelecer a sobredeter~ minagdo das funcdes econémicas ¢ ideolégicas pela funcdo politica, em sentido estrito, do Estado no conflito politico de classe. Por exemplo, as fungdes econdmica ou ideolégica do Estado correspon- dem aos interesses politicos da classe dominante, constituem fungdes politicas, nao simplesmente nos casos em que a relacdo entre a or- ganiza¢lo do trabalho e o ensino, por um lado, ¢ a dominagao poli- tica de uma classe, por ontro, é direta e evidente, mas pelo fato de que estas funcées tém como objetivo a manutencdo da unidade de uma formacio, no interior da qual esta classe € a classe politica- ‘mente dominante. Melhor ainda: é na medida em que essas fungdes tém como objetivo primordial a manutencZo desta unidade que elas correspondem 20s interesses politicos da classe dominante, e é este, precisamente, o sentido da passagem citada de Engels, para quem luma “Fungo social” esté sempre na base de uma “funci0 politica’. Este conceito de sobredeterminagéo, aplicado aqui as fungSes do Es- tado, indica portanto duas coisas: que as diversas fungdes do Es- tado’constituem fungées politices pelo papel global do Estado como fator de coesfio de uma formagao dividida em classes; e que estas fungées correspondem assim aos interesses politicos da classe do- minante. Ora, 0 deslocamento do indice de dominéncia nas estruturas > uma formagio, das quais o Estado, lugar de condensagio das contradigées, constitui o lugar de decifragio, reflete-se, regra geral, na articulagéo concreta das diversas funcdes do Estado no interior do seu papel politico global. Modelo de anilise cujos principios, Lenin nos da nos seus textos de 1917 acerca do aparelho de Estado, eles distinguindo a funcéo politica em sentido estrito ¢ a fungéo “técnica” da administracao estatal — de que faz parte a fungao de contabilidade —, mostrando a subordinacdo, referida a articulacéo especifica dos diversos niveis da formacdo social russa, desta fungdo, ‘técaico-econémica a fungao politica em sentido estrito. # 29. Em particular, Une des questions fondamentales de la Révolution, fx" Ocvares, &. 25, be 288. Convéen contudo assinalar que Lenin dist gue etapas’ e viragons da transigiéo, marcadas precisamente por, permu- ftagoes de dominineia das fungSes politica © econbmica do Estado. 52 Entretanto, a possibilidade de ler corretamente a articulagdo de uma formagio na articulagio das fungbes do Estado supde previ ‘mente um principio de leitura: este consiste precisamente no. papel do Estado, fator de coesto de unidade de uma formagio. Neste sentido, a dominancia, no papel global do Estado, da sua fungio econémica indica, regra geral, que o papel dominante na articulagao das instancias de’ uma formacao cabe ao politico; ¢ isto nio apenas no sentido estrito da fungio direta do Estado na luta de classe. pro= priamente politica, mas no sentido indicado. Neste caso, a domi- nancia da fungdo econdmica do Estado sobre as outras fungdes. € ‘conjugada com 0 papel dominante do Estado, na medida em que a fungio de fator de coesto exige a sua intervencao especifica na ins- tancia que precisamente assume 0 papel determinante de uma for- magio — 0 econémico, Este caso é nitido, por exemplo, no Estado despético do modo asidtico de producéo — dominincia'do politico refletida em uma domindncia da funcao econémica do Estado —; ou ainda, nas formagées capitalistas, no caso do capitalismo mono- polista de Estado e da forma intervencionista” do Estado capit ta, Em contrapartida, no caso de Estado capitalista que é o “Estado liberal” do capitalismo privado, o papel dominante assumido pelo econdmico reflete-se pela dominancia da fungdo propriamente poli- tica do Estado — “Estado policia” —, e por uma ndo-intervencdo especifica do Estado no econdmico. Isto de modo algum quer dizer, no c8s0 concreto, que o Estado nao tenha uma fungao econémica — que o proprio Marx nos indica em O Capital a propésito da legis- Jago sobre as manufaturas —, mas simplesmente que ela no as- sume © papel dominante, Com efeito, veremos seguidamente que € falso considerar, como por vezes se faz, que a forma do Estado libe- ral no tenha revestido fungGes econdmicas importantes. De fato, 0 que permite considerar estas fungdes do Estado liberal como nio- intervengo especitica no econémico & presisamente, por um Iado, ndo-domindzcia da fungio econdmica do Estado liberal sobre as outras fung®es, em relagdo as outras formas de Estado, em part cular a que corresponde 20 capitalismo monopolista de Estado; por outro lado, que aqui € correlativo, a ndo-dominancia da instincia do Estado, fator de coesio, no conjunto das instancias de uma for- magio social de capitalismo privado, Assim € preciso fazer aqui dues observagées suplementares. Em primeiro lugar, 0 papel do Estado, como fator de coesio, néo se reduz a uma “intervencdo”, rigorosamente falando, do Estado nos diversos niveis, particularmente no nivel econ6mico. Por exemplo, & nio-intervenefo do Estado no caso do capitalismo privado nao significa de modo algum que o Estado ndo assuma essa fungdo de 33 toesio: ela manifesta-se, neste caso, por uma ndo-intervencio espe- Cifica no econdmico. Mais, néo temos que mencionar aqui sendo o caso do sistema do direito que é — Marx e Engels mostraram-no — uma condigéo de funcionamento econdmico, simultancamente na medida em que fixa as relagdes de producdo como relagées de pro- ‘priedade formal, na medida em que constitui um quadro de coesio ‘das relagdes de troca, inclusive da compra ¢ da venda da forca de trabalho, Em segundo lugar, convém atentar em que a fungio global do Estado, fator de coesio da unidade, nao significa de modo algum que por isso conserve sempre 0 papel dominante em uma formacéo rem, alids, que, quando este papel dominante cabe 20 econdmico, © Estado j4 tenha funcdo de fator de coeséo. 54 2. POLITICA E CLASSES SOCIAIS Estamos agora de posse de suficientes elementos que permitem examinar 0 conceito marxista de classe social e de luta de classe e a suas incidéncias no dominio do politico: ter-se-4 sobretudo em consideragéo as obras politicas de Marx, Engels e Lenin. A refe- réncia especifica a estas obras, a prop6sito deste problema, decorce simultaneamente de um principio de leitura relativamente & sua or- ganizagio te6rica, e da posicdo que adoto relativamente a0 conceito de classe social. — Com efeito, tomna-se necessério lembrar que o modo capitalista de producto “puro”, que, aliés, j& foi discriminado de uma forma- ‘80 social capitalista, © que 6 composto, na sua pureza, por diversas instincias — econémico, politico, ideolégico —, & caracterizado, se- gundo Marx, por uma ‘2utonomia especifica das suas instincias ¢ |_pelo papel dominante que nele assume 0 econdmico. Daqui resul- ‘tam incidéncias importantes do ponto de vista te6rico. Estas diver- sas instincias, como objetos de pesquisa tedrica, sto passiveis de ‘um tratamento cientifico especifico, Essas incidéncias so claras no que diz respeito ao estatuto tebrico de O Capital. O Capital com- porta um tratamento do M.P.C.; no entanto, dada a emancipagio das instincias que o caracteriza ¢ dado o lugar dominante que nele gcupa o econdmico, este tratamento centraliza-se na instancia regio- [fial do econdmico deste modo. O que de maneira nenhuma quer di- zet que as outras instancias estejam ausentes: elas estio presentes mas, de algum modo, indiretamente, pelos seus efeitos na regifo do econémico. Por sua'vez, este elemento tem a sua importancia no que se refere ao problema das classes sociais: se so encontrados, em O Capital, elementos necessérios & construgdo do conceito de classe, & necessirio nfo perder de vista que este problema esté cen- tralizado na determinagio econémica das classes sociais. Nao se \Ledeverd, de maneira nenhuma, concluir que esta determinacio eco- némica € suficiente para a construcio do conceito marxista de classe social, exatamente do mesmo modo que o tratamento espectico do econémico do M-P.C. em O Capital no minimiza a importincia das coutras instancias para o exame cientifico deste modo. Dai, a importincia que, sob este ponto de vista, revestem as obras politicas de Marx e Engels. Uma observagao a propésito da sua organizagio teérica: a maior parte destas obras tem por objeto © estudo de transformacSes sociais capitalistas historicamente deter- minadas, em particular, da sua conjuntura politica. A problemética 55

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