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NESTA EDIÇÃO

Cebes 30 anos
Novidades no berço do
movimento sanitário

Bioética
Declaração da Unesco
é guia para legislação
N º 51 • N o v e m b r o d e 2 0 0 6
HIV em bebês Av. Brasil, 4.036/515, Manguinhos
Pesquisa para evitar Rio de Janeiro, RJ • 21040-361
transmissão no parto
w w w. e n s p . f i o c r u z . b r / r a d i s

[ Saúde da Família
Qual o tamanho certo
da equipe mínima? ]
O estranho Semmelweis
e um mistério milenar
1825 e 1834. Austrália e América saíam-se de “envenenamento por cadáveres”. Foram
Marinilda Carvalho um pouco melhor, mas não muito. Havia um necessários 32 anos para que finalmente
sem-número de teorias a respeito, algumas Louis Pasteur interrompesse a lengalenga de
m 1847, um espectro rondava a Euro- absurdas, outras próximas da realidade. um orador num congresso médico na Paris
E pa: o da febre puerperal. Vítimas de
um mal antigo de 2 mil anos, citado em
Hoje, quando se sabe que o agente da
doença é um estreptococo beta-hemolí-
de 1879, desenhasse os estreptococos num
quadro-negro e decretasse: “É o médico e
registros médicos egípcios, parturientes tico do Grupo A, quase exaspera o leitor sua equipe que transportam o micróbio da
morriam como moscas nas enfermarias acompanhar progressos e retrocessos dos mulher doente para a sadia.”
dos grandes hospitais do século 19. Foi um pesquisadores em busca de explicações: a O “estranho” na história de Semme-
obstetra húngaro nascido em 1818 que fez, teoria dos germes de Pasteur, Lister e Kock lweis é que ele curiosamente não seguiu
aos 29 anos, uma descoberta que figura em estava apenas em gestação. os passos lógicos de um epidemiologista.
lugar de honra entre os feitos da saúde Não publicou suas conclusões em revistas
pública: eram as mãos sujas dos médicos científicas, para compartilhar achados,
que contaminavam as mulheres. buscar credibilidade e apoio: deixou
Esta história esse trabalho a cargo de amigos e acabou
está contada em A mal compreendido. Voou alto a partir da
peste dos médicos observação, mas não levou sua teoria a
— Germes, febre ensaios de laboratório para confirmação.
pós-parto e a es- Foi brilhante ao exigir escovação das
tranha história de unhas por concentrarem as “partículas”
Ignác Semmelweis, mortais, mas não recorreu ao microscópio
livro de 164 pági- para “vê-las” — embora um professor de
nas lançado no ano Anatomia amigo seu vivesse debruçado
passado pela Com- sobre esta ferramenta poderosa.
panhia das Letras. E a época não poderia ser melhor
O autor é Sherwin para iniciativas inovadoras: eram tempos
B. Nuland, ex-pro- de revoluções na Europa, de literatura
fessor de Cirurgia da Escola de Medicina transformadora, de pioneiros abrindo
de Yale (EUA), onde hoje ensina Ética portas na medicina. Semmelweis, porém,
Médica e História da Medicina. fechou-se em suas certezas. Tornou-se
O médico e escritor Moacyr Scliar paranóico e irascível a ponto de aban-
diz no prefácio que o autor fala “de uma donar Viena e voltar à Hungria natal.
jovem que vai morrer” com a “paixão Deserção, ressentiram-se os amigos. No
de um ficcionista”. De fato, Nuland ostracismo, mente deteriorada, acabou
apresenta o tema ao leitor pelos medos Semmelweis, obstetra do Allgemeine num “asilo de loucos”, onde morreu aos
da mocinha em trabalho de parto que Krankenhaus, vivia atormentado, como a 47 anos, espancado por funcionários.
caminha quase 800 metros para chegar maioria dos médicos, pelos surtos da febre. Nuland afirma que ele sofria da doença
ao gigantesco Allgemeine Krankenhaus, o E observou: na divisão das parteiras, que de Alzheimer, e não de sífilis, como quer
Hospital Geral de Viena, e implora para não freqüentavam as salas de dissecação, a maioria dos biógrafos.
ter o filho na enfermaria da Segunda Di- as mortes eram mais raras. Quando um Importa pouco a causa da morte de
visão, onde seria atendida por parteiras. professor morreu da mesma febre, após Semmelweis, hoje reconhecido benfeitor
As amigas da fábrica tinham alertado: se cortar com o bisturi numa autópsia, da humanidade — bem, não no Allgemei-
na Primeira Divisão, assistidas por es- ele concluiu que o mal entrava nas ne Krankenhaus. Quando Nuland visitou
tudantes de Medicina, as parturientes enfermarias pelas mãos dos profissio- o hospital pela primeira vez, em 1985,
morriam. A jovem acaba na Primeira. nais. Determinou então que à porta da perdeu-se nos corredores e perguntou a
A descrição da prática médica de enfermaria todos lavassem as mãos em vários estudantes onde era a histórica
professores e alunos é chocante: das salas solução clorada e escovassem as unhas. enfermaria de Semmelweis. “Quem?”
de dissecação de cadáveres putrefatos Os índices de mortalidade caíram dras- Quase como se um aluno do Institu-
saíam todos diretamente para o leito das ticamente. No período 1848-1859, para to Oswaldo Cruz não soubesse quem foi
pacientes, nas quais faziam exame de 35,7 mortes em 1.000 na Primeira Divisão seu patrono. No prefácio, Moacyr Scliar
toque, um após outro, sem lavar as mãos. (eram 90,2 entre 1832-1847). Mesmo na inclusive compara as trajetórias de Sem-
Em poucos dias as mulheres estavam Segunda Divisão baixou para 30,6, frente melweis e Oswaldo Cruz (1872-1917), de
mortas, e muitos bebês também. aos 33,8 anteriores. quem é biógrafo (Coleção Perfis do Rio,
Uma em cada seis parturientes morria Foi dramático para a classe médica Relume-Dumará, 1996). Ambos visionários,
de febre pós-parto no Allgemeine Kranke- admitir que vinha matando pacientes. Um ambos combatidos. Felizmente o brasileiro,
nhaus. Na Maternidade Geral de Londres, obstetra se suicidou ao entender que conta- glorificado em vida, não morreu sozinho
entre 1833 e 1842, morriam 587 em cada minara a sobrinha na sala de parto. Mesmo num asilo, e sim em casa, de longa doença
10 mil; na Maternidade de Paris, entre tendo conquistado aliados importantes, renal, cercado pela família e os amigos. Mas
1830 e 1834, 547, com pico de 880; 304 no a teoria de Semmelweis ganhou inimigos devem conversar muito, o Dr. Ignác e o Dr.
Hospital-Maternidade de Dresden, entre influentes, que a trataram pejorativamente Oswaldo, onde quer que estejam.
editorial
Nº 51 • Novembro de 2006

Inovações
Comunicação e Saúde
ma inovação não se atém à cria- dilemas éticos para os humanos. A so-
U ção de algo novo. Pode ser modo
diferente de fazer melhor o habitual,
ciedade deve discutir essas questões de
maneira inter, multi e transdisciplinar,
• O estranho Semmelweis e um mistério
de 2 mil anos 2

ou mesmo uma mudança para pior. Ino- buscando um conhecimento complexo


vações podem gerar ou incrementar pro- que nos ajude a lidar com as dúvidas, por Editorial
dutos, modificar processos produtivos ou meio da bioética, formula o sanitarista • Inovações 3
estruturas organizacionais. Na saúde, Volnei Garrafa ao defender a Declara-
quando boas, elas são essenciais. ção Universal sobre Bioética e Direitos
Inovou o obstetra húngaro Sem- Humanos, da Unesco, como referencial Cartum 3
melweis, com base empírica (página ao para a reflexão ética (pág. 13).
lado), ao reduzir as mortes pós-parto Há inovação também nas políticas Cartas 4
no Hospital Geral de Viena, em meados e na gestão da saúde. Refundar o Centro
do século 19, determinando que os mé- Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes)
dicos simplesmente lavassem as mãos com pautas que fortaleçam o movimen- Súmula 5
e escovassem as unhas antes de tocar to sanitário é inovar (pág. 7). Proposta
nas pacientes. Três décadas depois, de financiar 100% do curso de graduação Toques da Redação 6
Pasteur mostrou que estreptococos nas pode levar mais profissionais de saúde
mãos daqueles médicos é que davam ao interior e regiões distantes (pág. 5).
origem à letal febre puerperal. No Programa Saúde da Família, perfil Centro Brasileiro de Estudos de Saúde
Em 2006 é notícia uma pesquisa e tamanho das equipes esquentam os • Em defesa do movimento sanitário 7
genômica premiada sobre mioma ute- debates sobre o SUS (pág. 8). Na saúde
rino (pág. 5) e um estudo internacional suplementar, são objeto de discussão
para melhor combinar medicamentos a quem servem as novas tecnologias
anti-retrovirais e evitar a transmissão médicas, de gestão e de marketing, o
do vírus da Aids de mãe para filho (pág. papel da agência reguladora do setor
16). No caso do cinto que avisa ao dia- e o risco de internacionalização desse
bético o nível de insulina no organismo “mercado” no Brasil (pág. 19). Programa Saúde da Família
ou da vacina contra o papilomavírus Quando a proteção ao capital assu- • Equipe mínima, dilemas e respostas 8
humano (HPV), a inovação que falta é me face tão insensível quanto a da recusa • A ameaça da gripe aviária ou...
o barateamento dos produtos para que dos Estados Unidos em acatar o Protocolo Isso é tudo uma grande paranóia? 10
cheguem aos que precisam (pág. 5). de Kioto para a redução do aquecimento • Pelo bem da humanidade ou...
O acesso aos benefícios do conhe- global, até o austríaco Schwarzenegger, Voltemos a lembrar das pessoas! 12
cimento existente pode gerar mais im- dublê de ator e governador conservador,
pacto para a saúde da população do que é capaz de inovar, sancionando lei que
a simples introdução de novos produtos reduz a emissão de dióxido de carbono
e tecnologias, adverte o pesquisador no estado da Califórnia (pág. 5).
Reinaldo Guimarães (pág. 12).
Em muitos casos, o desenvolvimen- Rogério Lannes Rocha
Debates na Ensp/Fiocruz — Ética na ciência
to tecnológico desumaniza ou cria novos Coordenador do Programa RADIS
• Bioética em 2006, balanço e desafios 13

Radis adverte 15
Cartum
Transmissão vertical do HIV
O governador da Califórnia, • Um estudo para salvar bebês da Aids 16
Arnold Schwarzenegger, assinou lei
que limita a emissão de dióxido de
carbono em 25% até 2020. Serviço 18

Hasta
la vista, Pós-Tudo
aquecimento • O caos da saúde complementar 19
global!

Capa e ilustrações Aristides Dutra (A.D.)


Ilustrações Cassiano Pinheiro (C.P.)
RADIS 51  NOV/2006
[ 4 ]

cartas

ABRASCÃO E REFORMA PSIQUIÁTRICA ternúcleos da Luta Antimanicomial,


incorremos no erro. ou estudante de Serviço Social. Co-

M uito boa a cobertura de vocês


sobre o Congresso da Abrasco- RADIS 50
S nheci a revista pela professora de
Política Setorial I, que tem assinatura
2006, faz jus à importância de ambos, e me emprestou para pesquisa sobre
ostaria de parabenizar a equipe da
da revista e do evento. Porém, gostaria
de destacar um equívoco. Na página 32
há um quadro que faz referência a um
G revista Radis pelo excelente traba-
lho ao longo desses 50 números, de não só
Reforma Psiquiátrica. Encontrei um ma-
terial muito bom no nº 38. Parabéns!
• Arinda M. Lagares Pinto, Timóteo, MG
abaixo-assinado em apoio à Reforma nos informar sobre saúde, mas também
Psiquiátrica. O texto afirma que este nos conscientizar do nosso papel como NA FILA DA RADIS
movimento foi coordenado pela Rede gestores e profissionais desse setor. Sou
Nacional Internúcleos da Luta Antima- enfermeira do PSF e utilizo a revista iz especialização em Saúde Mental
nicomial. Esta informação não proce-
de, pois, se houve uma coordenação,
como meio de aprender e repassar da
melhor maneira os informes de saúde
F aí no Rio com Paulo Amarante e
gostaria de continuar tendo acesso às
ela foi articulada pelo GT de Saúde a meus usuários, contribuindo para a informações da Radis.
Mental da Abrasco, que promoveu formação de pensadores e formadores • Andréa Loroza, Colombo, PR
vários encontros para discutir este e em Saúde Pública.
outros temas relevantes da Reforma • Alany de Oliveira Sousa, Sousa, PB
Psiquiátrica, o que é omitido no qua- ou professora da disciplina Proces-
dro. Como sócio da Abrasco e membro
do GT gostaria que a revista fizesse em
BISPO DO ROSÁRIO E SAÚDE S sos Psicossociais da Saúde e gostaria
de receber a Radis. Pretendo fazer
á algum tempo chegou às minhas
sua próxima edição esta retificação,
pois considero importante destacar
que foi um segmento da própria Abras-
H mãos uma Radis. Fiquei muito
entusiasmada, porque aborda assuntos
um acervo de atualidades sobre saúde
pública para os alunos.
• Rosangela O. Machado, Ilhéus, BA
co que articulou a manifestação. que me interessam muito. Sou arte-
• Silvio Yasui, professor da Unesp, Assis, SP educadora e a edição 38 trazia a matéria Caras leitoras, pedimos sua paciên-
“Como a arte deu um drible na loucura”, cia: a lista de espera tem 493 nomes,
Caro leitor, agradecemos a corre- falando de Artur Bispo do Rosário. Tra- mesmo após o aumento da tiragem.
ção. Como a lista de signatários do balho este artista com meus alunos na
manifesto, distribuída no Abrascão, Arte do Inconsciente. Parabéns. CONSOLIDAÇÃO DO SUS
era encimada pela Rede Nacional In- • Patrícia Zanella, Arvoredo, SC
eus agradecimentos à revista, um
M meio de comunicação com os tra-
balhadores que desperta assuntos que só
expediente vêm somar na consolidação do SUS. Sou
representante dos trabalhadores da saúde
Edição Marinilda Carvalho
no Conselho Municipal de Saúde de Ame-
Reportagem Katia Machado (subeditora), ricana. Cobrei na Comissão de Ouvidoria a
Wagner Vasconcelos (Brasília), Bruno presença do símbolo do SUS (Radis 35) em
Camarinha Dominguez todos os atendimentos, carros etc. em nos-
Arte Aristides Dutra (subeditor) e Cassia- sa cidade, e hoje já podemos presenciar.
RADIS é uma publicação impressa e on- no Pinheiro (estágio supervisionado)
line da Fundação Oswaldo Cruz, editada
Quero agradecer a cobertura da Con-
Documentação Jorge Ricardo Pereira, ferência de Gestão do Trabalho (nº 46) e,
pelo Programa RADIS (Reunião, Análise e Laïs Tavares e Sandra Suzano
Difusão de In for ma ção so bre Saú de), antes, das diretrizes do PCCS (números 26
Secretaria e Administração Onésimo
da Es co la Na ci o nal de Saú de Pú bli ca e 35): vamos criar um grupo em Americana
Gouvêa, Fábio Renato Lucas, Cícero
Sergio Arouca (Ensp). e teremos ajuda do setor de Gestão do
Carneiro e Mariane Gonzaga Viana
Periodicidade mensal (estágio supervisionado) Trabalho do Ministério da Saúde. Parabe-
Tiragem 50.000 exemplares Informática Osvaldo José Filho e Mario nizo o governo pela criação deste grupo
Assinatura grátis Cesar G. F. Júnior (estágio supervi-
(sujeita à ampliação do cadastro) sionado)
específico para discutir e propor diretrizes
Endereço para melhor atender ao trabalhador da
Presidente da Fiocruz Paulo Buss
Diretor da Ensp Antônio Ivo de Carvalho Av. Brasil, 4.036, sala 515 — Manguinhos saúde, que vinha sendo esquecido.
Rio de Janeiro / RJ — CEP 21040-361 • Rute Alves A. Vieira, Americana, SP
Ouvidoria Fiocruz Tel. (21) 3882-9118
Telefax (21) 3885-1762 Fax (21) 3882-9119
Site www.fiocruz.br/ouvidoria NORMAS PARA CORRESPONDÊNCIA
E-Mail radis@ensp.fiocruz.br
PROGRAMA RADIS Site www.ensp.fiocruz.br/radis A Radis solicita que a correspondência
Coordenação Rogério Lannes Rocha Impressão dos leitores para publicação (carta,
Subcoordenação Justa Helena Franco Ediouro Gráfica e Editora SA e-mail ou fax) contenha identificação
completa do remetente: nome, en-
USO DA INFORMAÇÃO — O conteúdo da revista Radis responsáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos
pode ser livremente utilizado e reproduzido em aos veículos que reproduzirem ou citarem conteúdo dereço e telefone. Por questões de
qualquer meio de comunicação impresso, radiofôni- de nossas publicações que enviem para o Radis um espaço, o texto pode ser resumido.
co, televisivo e eletrônico, desde que acompanhado exemplar da publicação em que a menção ocorre, as
dos créditos gerais e da assinatura dos jornalistas referências da reprodução ou a URL da Web.
RADIS 51  NOV/2006
[ 5 ]

Súmula

tícia: nos Estados Unidos a engenhoca


SERVIDORES DA FIOCRUZ MORTOS EM DESASTRE CALIFÓRNIA CONTRA O AQUECIMENTO GLOBAL custa US$ 7 mil! Outra má notícia
vem do New England Journal of Me-
Fiocruz homenageou no dia 2/10 as dicine: foi temporária a regressão da
A vítimas do acidente com o Boeing
da Gol que em 29/9 caiu numa área
O governo americano se recusa a
assinar o Protocolo de Kyoto, que
prevê medidas de redução de gases
diabete tipo 1 na maioria
dos 36 pacientes sub-
de mata fechada na Serra do Cachimbo do efeito-estufa — mesmo sendo os metidos a transplante
(MT). Entre os passageiros estavam os Estados Unidos o campeão mundial de células produtoras
servidores Nilo Duarte Dória e Maria de poluição da atmosfera. Em 28/9, de insulina. Após dois
Valéria Pires da Cruz, pesquisadores porém, o governador da Califórnia, anos, 86% deles voltaram
do Instituto Nacional de Controle de Arnold Schwarzenegger (o robô de a tomar as injeções. A
Qualidade em Saúde (INCQS): ambos O exterminador do futuro), assi- Anvisa liberou em junho,
prestavam assessoria técnica ao La- nou lei que limita a emissão de e a Pfizer deve lançar no
boratório Central de Saúde Pública dióxido de carbono (CO2) em 25% mercado em 2007, o Exu-
(Lacen) do Amazonas e voltavam ao até 2020 por refinarias e outras bera, insulina em forma de
Rio no vôo 1907. indústrias. A Califórnia é, as- pó para inalação.
Morreram ainda no desastre a sim, o primeiro estado ame-
engenheira-agrônoma Marilene Leão ricano a tomar medidas legais
Alves Bovi, especializada em melhora- de combate ao aquecimento P RÊMIO PARA PESQUISA SOBRE
mento genético vegetal, pesquisadora global. “É uma dívida que MIOMA UTERINO
do Instituto Agronômico de Campinas tínhamos com nossos filhos e
professora Sílvia Regina
(SP); o professor Hugo Otto Beyer,
pesquisador da Faculdade de Educa-
ção da Universidade Federal do Rio
netos”, disse o governador.
“Agora poderemos salvar
nosso planeta e impulsio-
A Rogatto, do Instituto de
Biociências da Universidade
Grande do Sul; o engenheiro-químico nar a economia”. Estadual Paulista (Unesp), de
Francisco Carlos Nart, professor do Botucatu, recebeu o prêmio Cien-
Instituto de Química e chefe do De- tista Eminente de 2006 da América
partamento de Físico-Química da USP VACINA ANTI-HPV do Sul por pesquisa que identificou
em São Carlos; do Inpa, a doutora em CUSTARÁ ATÉ R$ 700 regiões do genoma ligadas ao leio-
Biologia Joana D’Arc Ribeiro e o enge- mioma uterino, tumor comum entre
nheiro florestal Alexandre Barbosa dos iberada pela Anvisa, mulheres em idade reprodutiva. O
Santos, ambos do Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia.
L a vacina contra o
papilomavírus humano
prêmio, concedido pelo Interna-
tional Research Promotion Council
No dia 13 de outubro um avião (HPV), que causa 70% (IRPC), tem como objetivo promover
bimotor caiu no Espírito Santo. Entre dos casos de câncer do a ciência e o desenvolvimento socio-
as vítimas estava Luana Pimentel colo de útero, poderá econômico, em especial nos países
Guimarães Santos, 25 anos, estudante custar entre R$ 500 e em desenvolvimento.
de Ciências Biológicas da UniRio e R$ 700 a dose. Gardasil, O estudo, publicado na revista
bolsista do programa de estágio curri- o nome comercial da Molecular Carcinogenesis em 2005,
cular do Instituto Oswaldo Cruz, onde vacina do Laboratório Merck Sharp & sugeriu a existência de, no mínimo,
estagiava há 12 meses no Laboratório Dohme, custaria portanto de R$ 1.500 três regiões distintas mapeadas nos
de Inflamação. a R$ 2.100, já que o fabricante reco- cromossomos 7 e 15 que poderiam
menda três aplicações em seis meses. conter genes supressores tumorais
O preço inviabiliza a aquisição da envolvidos no desenvolvimento dos
ESTUDO GRATUITO EM TROCA DE SERVIÇO NO SUS vacina pela rede pública, anunciou miomas. Embora benigno, o leio-
o Ministério da Saúde, que por isso mioma (ou mioma) uterino pode
Ministério da Educação estuda ter sintomas clínicos sérios, como
O uma proposta de financiamento
de cursos de graduação na área de
monitora testes do produto em ou-
tros laboratórios. esterilidade, sangramentos inten-
sos, dores abdominais e pélvicas. O
saúde, sobretudo de Medicina, para tratamento mais usado é cirúrgico,
alunos que se dispuserem a prestar PARA DIABÉTICOS (MUITO) RICOS com retirada do útero.
serviços à rede pública. Parte do Fundo Esse tipo de tumor é muito co-
de Financiamento ao Estudante do En- Anvisa está avaliando um apa- mum, mas pouco se sabe sobre ele.
sino Superior (Fies) seria destinada ao
pagamento de 100% da mensalidade.
A relho, para se prender ao cinto,
que avisa ao diabético quando estiver
Apenas que há diversos fatores de
risco a ele associados, como faixa
Atualmente, o Fies financia 50% do anormal o nível de insulina no organis- etária (dos 35 aos 55 anos), obe-
valor da mensalidade — o restante é mo. O fabricante, a Medtronic, garan- sidade, etnia de origem africana,
pago pelo aluno. A proposta tem como te que o equipamento confere o nível gravidez tardia, história familiar e
objetivo a redução da falta de médicos de insulina 288 vezes por dia, ou seja, uso de hormônios exógenos, como
e profissionais de saúde em regiões a cada cinco minutos. Se estiver fora contraceptivos e terapias de repo-
distantes e no interior dos estados. do padrão, um alarme toca. A má no- sição hormonal.
RADIS 51  NOV/2006
[ 6 ]

As regras de concessão das autoriza-


ALERTA CONTRA RUBÉOLA NO RIO ções, fixadas em instruções normativas,
foram revistas para que compusessem o
s postos de saúde do Rio de Janeiro novo Sistema de Autorização e Informa-
O estão vacinando pessoas entre 1 e
49 anos contra rubéola. A vacina é gra-
ção em Biodiversidade (Sisbio), trabalho
de um amplo comitê de assessoramento
tuita e de grande importância, porque o formado por sociedades científicas. No
número de casos da doença aumentou dia 16, véspera do lançamento do Sis-
consideravelmente: em 2005, foram 25 bio — que regularia as concessões —, a
notificações e, nos últimos três meses, “comunidade científica foi surpreendida CONSCIÊNCIA SANITÁRIA — O Prêmio
120. “Somente não precisam se vacinar pelo Ofício Circular 897/06-GP-Ibama”, Sergio Arouca de Saúde e Cidadania,
aqueles que já receberam as duas doses, diz a nota da SBPC. da Associação dos Servidores da
o que começou a acontecer nos últimos O Conselho Gestor do Ibama apro- Fiocruz (Asfoc), foi concedido à So-
anos”, disse a superintendente de Vigi- vou alterações profundas nas instruções bravime, entidade que defende o uso
lância em Saúde, Meri Baran, ao jornal O normativas sem consulta ao comitê que racional de medicamentos à luz das
Dia de 6/10. A rubéola tem afetado mais as elaborou. Para o presidente da SBPC, diretrizes da OMS e da Lei 8.080/90,
os homens entre 20 e 30 anos, e repre- Enio Candotti, as alterações compro- que criou o SUS. Na entrega do prê-
senta alto risco para grávidas, pois pode metem o longo trabalho de entendi- mio, em 30/8, o coordenador-executi-
causar aborto ou má-formação fetal. mento entre a comunidade científica vo da Sociedade Brasileira de Vigilân-
e os técnicos do Ibama. cia de Medicamentos, José Ruben de
A partir das mudanças, os pesquisa- Alcântara Bonfim, disse que recebia
CASAIS ESCOLHEM SEXO DE BEBÊ NOS EUA dores estão novamente obrigados a citar com alegria a homenagem, criada
o número da autorização ou licença de pela Asfoc em 2003, por relacionar
os Estados Unidos, mais de 40% das coleta em suas publicações — “restrições saúde e cidadania a partir do exemplo
N clínicas de reprodução assistida
oferecem a “sexagem”, ou seja, a pos-
burocráticas e desnecessárias à pesquisa
científica”, afirma a SBPC. Outra alte-
de Arouca e pelo “reconhecimento
a instituições e personalidades que
sibilidade de escolha do sexo dos bebês ração, “igualmente grave”, refere-se à contribuem para ampliar o conceito
por reprodução assistida (fertilização in licença permanente de coleta. “As al- de consciência sanitária”.
vitro), constatou pesquisa do Centro de terações aprovadas impedem o trabalho
Genética e Política Pública de Washing- de campo em equipe característico das ALÔ, ACS — O Conasems informou em
ton, divulgada pela revista New Scientist. pesquisas em biodiversidade”. 10/10: o Senado aprovou, no dia 4, a
Segundo o estudo, a opção é oferecida MP 297, que regulamenta a carreira de
aos casais após testes de DNA em embri- agentes comunitários de saúde e agen-
ões para diagnóstico de possíveis doenças MEDICINA E LITERATURA, UM ENCONTRO tes de combate às endemias. Como não
genéticas, como a hemofilia. Nos testes foram apreciadas as muitas propostas
ashington Castilhos, da Agência de emenda, ou a MP cairia por estouro
genéticos, apenas 9% dos casais manifes-
taram vontade de determinar o sexo. No
Brasil, não há lei que impeça a prática,
W Fapesp, resumiu em 16/10 con-
ferência do sanitarista e escritor gaúcho
de prazo, o senador Rodolpho Tourinho
(PFL/BA) apresentou novo projeto, o PLS
mas o Conselho Federal de Medicina Moacyr Scliar, proferida em outubro no 270. Mas este, caros amigos, fica para
condena a sexagem. simpósio Ciência e Arte 2006, no Rio de 2007 (www.conasems.gov.br).
Janeiro. “É preciso eliminar as barreiras
entre ciência e arte e entre saúde e lite- MANUAL 1 — O ministro da Saúde,
SBPC CRITICA IBAMA SOBRE MATERIAL BIOLÓGICO ratura”, disse. “Como médicos e cientis- Agenor Álvares, lançou em 10/11, Dia
tas, podemos aprender tanto nos livros de Mundial da Saúde Mental, o manual
ficção quanto nos manuais de medicina”. Prevenção do Suicídio, dirigido a profis-
Alguns exemplos que citou: A morte de sionais do setor. A publicação faz parte
Ivan Ilitch, de Tolstoi; O alienista, de da Estratégia Nacional de Prevenção do
Machado de Assis — “o melhor romance Suicídio, que pretende reduzir os índi-
escrito sobre o poder médico”; A monta- ces de suicídio, as tentativas de suicídio
nha mágica (1924), de Thomas Mann; O e os danos associados ao comportamen-
doente imaginário, de Molière; to suicida (www.saúde.gov.br).
Scliar é autor de Histórias de um mé-
dico em formação (1962), A guerra do bom MANUAL 2 — A Portaria nº 1.675
fim (1972), O centauro no jardim (1980), (6/10/06), da Secretaria de Recursos
A orelha de Van Gogh (1988), Oswaldo Humanos do Ministério do Planeja-
Cruz: entre micróbios e barricadas (1996), mento, tornou obrigatório o uso do
A mulher que escreveu a Bíblia (1999), Manual Para os Serviços de Saúde dos
m nota divulgada em 16/10, a So- O olhar médico: crônicas de medicina e Servidores Públicos Civis Federais em
E ciedade Brasileira para o Progresso
da Ciência (SBPC) protestou contra a
saúde (2005), para citar alguns dos mais
de 30 que escreveu. Coube a ele o prefácio
procedimentos de perícia, uso clínico e
epidemiológico relacionado à saúde do
decisão do Ibama de recuar do consenso de A peste dos médicos (pág. 2). servidor. A administração pública fede-
— obtido após 140 horas de reuniões ral fica ainda obrigada a seguir normas
com a comunidade científica — quanto à vigentes desde 1978 na iniciativa pri-
concessão de autorizações para coleta e SÚMULA é produzida a partir do acompa- vada, como na qualidade das condições
transporte de material biológico, captu- nhamento crítico do que é divulgado na de trabalho, além da obrigatoriedade
ra, marcação e manutenção temporária mídia impressa e eletrônica. de exames periódicos. Veja no site do
de animais silvestres (Radis 49). servidor (www.servidor.gov.br).
RADIS 51  NOV/2006
[ 7 ]

CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS DE SAÚDE

Em defesa do
movimento sanitário
públicos de saúde, mas defen-
Bruno Dominguez de que é fundamental discu-
tir, por exemplo, quais são
o ano em que as forças sociais que podem

N completa três
décadas de exis-
tência, o Centro
Brasileiro de Estudos de
Saúde (Cebes), um dos berços
assegurar a continuidade da
Reforma Sanitária e levar
adiante a idéia de consciência
sanitária num mundo em que a
lógica coletiva se perdeu, sendo subs-
da Reforma Sanitária, conclamou tituída por um individualismo perverso.
os sócios a elegerem uma nova dire- A intenção da nova diretoria do Cebes
toria, com a missão de “refundar a — cujo mandato termina em 2009 — é
instituição e o movimento sanitário aplicar o projeto da reforma em suas
brasileiro”. Em assembléia com 140 últimas conseqüências e provar que a
participantes, que integrou as ativi- universalização, a eqüidade e a justiça
dades do 8º Congresso Brasileiro de social são viáveis.
Saúde Coletiva, em agosto, a cientista Para isso, a instituição já está
política Sonia Fleury assumiu a presi- promovendo plenárias públicas mensais
dência do Cebes e a tarefa de devolver para análise de conjunturas e estimu-
à associação seu status de espaço a regulamentação da Emenda Constitu- lando a recuperação de seus núcleos
produtor de conhecimento dedicado cional 29, isso é conversa nossa e não regionais. Também há interesse em
às políticas de saúde. conquista ninguém”, criticou, propondo criar uma agência de notícias de saúde
A professora lembra que essa em troca a ampliação da agenda e da pública para tentar furar o bloqueio
reação começou nas gestões dos dois pauta do movimento sanitário. da grande mídia que, segundo Sonia,
presidentes que a antecederam, os A nova diretoria do Cebes sugere privilegia o setor privado. “O Cebes tem
sanitaristas Paulo Amarante e Sarah a incorporação de questões como a que retomar seu papel pró-ativo e ou-
Escorel, que intensificaram o trabalho reforma política, a relação entre o pú- sado”, destaca a nova presidente, que
para manter a revista Saúde em Deba- blico e o privado na saúde, a proprie- compara a instituição ao seu símbolo,
te, uma das publicações editadas pelo dade intelectual, a judicialização do desenhado pelo cartunista Jaguar — um
centro. Sarah ainda conseguiu consolidar setor e as necessidades das mulheres, menino negro, sorridente, com o pé es-
parcerias com entidades da saúde, como dos negros, dos movimentos sociais. querdo levantado e os braços abertos.
o Conasems e a Associação Brasileira de “É preciso revitalizar o debate não “Assim como ele, somos pobres, livres
Economia da Saúde, o que resultou em só entre os sanitaristas, mas também e irreverentes”, brinca.
números especiais da revista Divulgação com a sociedade em geral”, diz Sonia. Criado em 1976, o Cebes é uma
em Saúde para Debate. A instituição, O objetivo: fugir do insulamento da associação civil sem fins lucrativos,
ressalta Sonia, também esteve represen- área da saúde, que se fechou para se que tem como eixo a luta pela demo-
tada em todos os eventos políticos que proteger. “Hoje não falamos para fora, cratização da saúde e da sociedade. O
congregaram as organizações do setor para a população”. centro de estudos e reflexões acadêmi-
— na Plenária das Entidades da Refor- A “reforma da reforma” defendida cas aglutina profissionais e estudantes,
ma Sanitária, no Simpósio de Saúde da por Sonia tem como meta o avanço produzindo e divulgando conhecimen-
Câmara e na elaboração, recentemente, deste projeto de transformação política tos na área. “A história do Cebes se
de textos políticos que serviram de do- e social, e não somente a melhoria do confunde com a da Reforma Sanitá-
cumento-base ao Abrascão. SUS. A professora, aliás, aponta uma ria”, ressalta Sonia. A cientista política
Para Sonia, a Reforma Sanitária confusão no uso da expressão, visto que aponta a organização como uma das
vive um dilema: “Conseguimos nos há quem fale em “reforma de reforma” responsáveis pela institucionalização
instituir como poder, mas estamos para se referir apenas a mudanças no do movimento sanitário, sintetizando
perdendo nossa característica crítica rumo do Sistema Único de Saúde. “O as vertentes que o caracterizaram:
e transformadora”. Professora da Fun- movimento sanitário se restringiu a a construção de um novo saber, a
dação Getúlio Vargas, ela avalia que defender o SUS sob qualquer aspecto e ampliação da consciência sanitária e
a visão política do movimento cedeu reduziu muito suas propostas de trans- a organização do movimento social.
lugar a uma percepção distante, quase formação da sociedade”, frisa. “Agora é o momento de retomar o
burocrática dos reais anseios da socie- Sonia não minimiza a importância fôlego e revitalizar esse movimento
dade. “A demanda da população não é de se avaliar constantemente os serviços crítico e transformador”.
RADIS 51  NOV/2006
[ 8 ]

PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA

Equipe mínima,
dilemas e respostas
Katia Machado

viável aumentar o número de

É profissionais nas equipes do Pro-


grama Saúde da Família (PSF)?
Hoje, a equipe mínima é com-
posta por um médico de família, um en-
fermeiro, um auxiliar de enfermagem e
agentes comunitários de saúde. Quando
ampliada, conta ainda com um dentista,
um auxiliar de consultório dentário e um
técnico em higiene dental.
O tema não é novo, mas vem pre-
ocupando estudiosos e gestores e foi
alvo de debates no 8º Congresso Bra-
sileiro de Saúde Coletiva, em agosto.
O programa, adotado em 1994, é uma
das mais importantes estratégias da
política de Atenção Básica em Saúde
(ABS) do SUS. A proposta é que uma
equipe acompanhe um número definido
de famílias, localizadas em área geo-
gráfica delimitada, prestando serviços
de promoção da saúde, prevenção,
recuperação, reabilitação de doenças e
agravos mais freqüentes, e na manuten-
ção da saúde da comunidade, seja em
unidades básicas de saúde (UBS) ou nas
casas das pessoas.
Na análise do médico-sanitarista
Gastão Wagner de Sousa Campos, pro-
fessor da Faculdade de Medicina da
Unicamp, o Brasil tem a mais sofisticada
e ampla equipe de referência em ABS Gastão defende o desenho bra- tadas Equipes de Apoio Matricial,
do mundo. “Na maioria dos países que sileiro de equipe mínima conforme formadas por profissionais conside-
dispõem de sistemas nacionais de saú- o significado da palavra “mínima”. rados estratégicos para aumentar a
de, a equipe nem poderia rece- Sugere, por exemplo, que se autorizem eficácia da Atenção Básica. “Neste
ber o nome de equipe, pois, em vários outros tipos de equipe, que po- caso, a Equipe de Saúde Mental,
geral, é formada por um médico deriam ser de 8 a 10 profissionais de composta por psiquiatra, psicólogo
generalista e um enfermeiro, a saúde, mais os agentes comunitários, e terapeuta ocupacional, apóia de
exemplo de Cuba, Grã-Bretanha com composições distintas. “Desde 8 a 10 equipes de saúde da famí-
e Canadá”, exemplifica. Em ou- que cumpram as diretrizes e as tarefas lia”, conta. “Há ainda equipes de
tros países, como a Espanha, lembra, a propostas pelo SUS”, ressalta. reabilitação, de saúde coletiva e de
realidade é bem diferente: “Há outros Segundo o professor, em Campi- promoção social”.
atores envolvidos, inclusive pediatra e nas, onde também exerceu o cargo Para Gastão, antes de se pensar
outras profissões de saúde”. de secretário de Saúde, foram ado- em agregar qualquer outro profissio-
RADIS 51  NOV/2006
[ 9 ]

nal, porém, deve-se ter em mente a explica. A proposta prevê ainda incen- na atenção básica, não estejam na
prioridade, que é a equipe mínima para tivos financeiros para que os gestores equipe, mas usem, em conjunto, a
70% a 80% da população brasileira, já municipais possam contratar equipes equipe”, explica. Em sua opinião,
que Atenção Básica é direito universal. ou remanejar profissionais já presentes aumentar simplesmente o número de
“Depois haveria a complementação na rede do município para atuarem nos profissionais, como vêm defendendo
dos apoios matriciais”, acredita. Núcleo de Atenção Integral. entidades de classe, pode ser sinônimo
Esse pensamento é compartilhado O presidente do Conasems, ainda de profissionais ociosos em excesso.
por Edmundo Costa Gomes, presidente que ressalte a importância da presença Para o médico-pediatra e de Saúde
do Conselho Nacional de Secretários de outros profissionais no PSF, destaca a Pública Gilson Carvalho, mínima ou
Municipais de Saúde (Conasems). “O necessidade de se avaliar quais recursos não, o que se quer é que a Saúde da
Conasems entende que essa equipe, financeiros são necessários para isso. “A Família como estratégia da ABS resolva
apesar de pequena, tem dado conta da estratégia do PSF passa por dificuldades os problemas da população. “O PSF é
estratégia e, sobretudo, tem contribuído de expansão já com a equipe mínima, uma das maneiras de se fazer atenção
significativamente para a mudança dos no que diz respeito à fixação dos pro- básica, como podem existir várias ou-
dados epidemiológicos e, conseqüen- fissionais, principalmente o profissional tras, é uma ação com pouca tecnologia
temente, para a qualidade de vida das médico e o enfermeiro”, observa. “Além de materiais e equipamentos e alta tec-
pessoas integradas ao PSF”, esclarece. disso, os municípios têm encontrado di- nologia de conhecimento e relação hu-
ficuldades em relação ao mana”, defende. Independentemente
financiamento adequado do nome que receba, diz, o importante
e à forma de contratação é que o serviço se caracterize como a
de pessoal: os municípios maneira preferencial de primeiro con-
são hoje responsáveis tato do cidadão com o SUS.
por 66% da contratação Ao refletir sobre o tema, Gilson
da força de trabalho em faz algumas perguntas. A primeira é: a
saúde, gerando constran- ABS, sendo a porta de entrada no SUS,
gimento legal em função deve se limitar às ações do generalista
da Lei de Responsabilida- ou a ele se juntariam outros profissio-
de Fiscal”, afirma. nais? Ele tem uma resposta: “Todas
Diretor do Instituto as profissões de saúde, com maior ou
de Medicina Social da menor intensidade, têm contribuições a
Uerj, Ruben Araújo de dar aos cuidados primários de saúde”.
Mattos, em debate na A segunda pergunta: em que
Ensp/Fiocruz em maio, momento, em que intensidade, em
criticou a ênfase do mo- que tempo e em que lugar novos pro-
vimento corporativo no fissionais devem ser inseridos no PSF?
mercado de trabalho da Em relação ao momento, no início, na
equipe de PSF, "dispu- ação intermediária ou na indicação
tando a tapa as compe- final? Quanto à intensidade, a inclusão
tências exclusivas". Ele deve ser feita na mesma proporção dos
exemplificou: para fazer profissionais médicos e enfermeiros ou
exercícios, profissional em alguma razão de proporcionalida-
de educação física; para de entre os integrantes da equipe? O
distribuir medicamentos, tempo: hoje ou amanhã? Sobre o lugar:
o farmacêutico. "Vinte ontem para uns municípios, a médio e
pessoas em cada equipe longo prazo para outros?
do PSF... Inviável, im- A resposta estaria no estabeleci-
possível". mento de todos os critérios do sistema
Ruben elogiou a de forma lógica, científica e ética. “A
“sabedoria” do Minis- questão mais fundamental é saber a
tério da Saúde ao pro- contribuição a ser dada por cada um
por uma equipe mínima dos profissionais à atenção primária ao
segundo a necessidade. cidadão”, entende Gilson.
“À medida que o perfil Em suma, algumas condições são
epidemiológico muda, essenciais quando se pensa em au-
Edmundo reconhece a necessida- ou melhor, que o modo de andar a mentar as equipes de PSF. A primeira
de de outros profissionais e, por isso, vida do brasileiro muda, a gente re- é saber o que fazer em cada nível de
vem propondo ao Ministério da Saúde pensa a capacidade de respostas da cuidado. A segunda é situar este “o que
que retome a idéia de implantação dos atenção básica, enriquecendo-a, o que fazer” na linha do tempo, se no
Núcleos de Atenção Integral, aprovada significa encher aquele conteúdo de princípio, meio ou fim do cuida-
na Comissão Intergestores Tripartite. Ela atenção básica com novos dispositivos do à saúde. A terceira condição
propõe aos municípios a contratação de tecnológicos e, às vezes, com novas é que haja uma relação ideal
equipes multiprofissionais em apoio às habilidades”, defende. de proporcionalidade entre os
equipes de saúde da família (nos moldes Esse enriquecimento, para Ru- vários componentes da equipe.
das equipes matriciais de Campinas). ben, significa que se terá mais gente A quarta é a adequação à realidade de
“Desta forma, os profissionais contem- na equipe de forma coerente — agre- tempo e local. E, por fim, atender à
plados nos núcleos poderiam dar apoio gando, matricialmente, determinados viabilidade econômica e financeira do
e suporte técnico às equipes de PSF”, profissionais “que, embora atuando sistema de saúde.
RADIS 51  NOV/2006
[ 10 ]

Gilson conclama os profissionais da Família nos Moldes da Residência,


a apresentarem propostas de trabalho explica que a RMS tem como princípio
e sua justificativa para se inserirem na
equipe dos cuidados primários de saúde.
“Há alguns anos, em fóruns próprios ou
a interdisciplinaridade, garantindo
a individualidade de cada categoria
profissional. “A proposta é formar para
A
gerais, tenho provocado vários profissio-
nais”, conta. “Não tenho tido retorno,
o que não quer dizer que não estejam
o SUS, especialmente para a estratégia
Saúde da Família, que tem caráter
multidisciplinar”, diz.
Isso
alguns fazendo este trabalho e bem”. A professora integra o grupo de
Falar de PSF conduz sempre ao trabalho que formulou a minuta da
debate sobre a formação profissional portaria interministerial. Criada a co-
Claudia Rabelo Lopes
ideal. Um dos modelos é a Residência missão, o curso da Ensp, por exemplo,
Multiprofissional em Saúde (RMS). Ins- poderá tornar-se residência multipro-
tituída com base na Lei nº 11.129, de fissional de fato — e não mais “nos o debate Da Sars à gripe aviá-
30 de julho de 2005, a RMS passará a
existir, de fato, quando for assinada a
moldes”, como atualmente (ver box).
Na opinião de Gastão Wagner,
N ria: lições aprendidas e novos
desafios, no Abrascão, os especialistas
portaria que cria a Comissão Nacional esta é uma forma de capacitação mui- americanos George C. Benjamin e
de Residência Multiprofissional em to eficaz em saúde. “Mas a prioridade David Heyman, o canadense David Bu-
Saúde. Esta comissão promoverá a in- deverá ser a equipe mínima”, ressalva. tler-Jones e o brasileiro Jarbas Barbosa
tegração de todas as profissões do setor “A incorporação de outras profissões Silva Júnior falaram sobre o impacto
Saúde, exceto medicina (que já tem sua deverá ter escala menor, senão não potencial de uma pandemia de gripe
residência), com a função de avaliar, haverá emprego para essas pessoas”. aviária em humanos e de como seus go-
credenciar e regular os cursos. Para Gilson Carvalho, a RMS é um vernos estão encarando essa ameaça.
A minuta da portaria está sendo dos instrumentos para correção de impro- O público, de diversas nacionalidades,
analisada pelos ministérios da Saúde priedades na formação e aprimoramento lotou o auditório do Pavilhão 4 do
e da Educação. Diz o Art. 1º: “A Resi- da ação de várias profissões da saúde. RioCentro em 25 de agosto.
dência em área Profissional da Saúde e “São dois proveitos numa única ação”, O governo dos Estados Uni-
Residência Multiprofissional em Saúde resume: o específico de cada profissão dos estima que, no caso de uma
constituem modalidade do ensino de de saúde e o geral, que é o trabalho em pandemia de gripe,
pós-graduação latu sensu destinada equipe multiprofissional, estarão inter- aproximadamente
às profissões que se relacionam com a vindo sobre uma mesma realidade. 1,8 milhão de pesso-
Saúde, sob a forma de curso de espe- O mesmo pensa o presidente do as morreriam no país,
cialização, caracterizada por ensino Conasems, para quem a RMS é funda- 10 milhões teriam que
em serviço em regime de dedicação mental para a articulação das profissões ser hospitalizadas e
exclusiva, funcionando em instituições da área de saúde, integrando ensino 30% da população se-
de saúde, universitárias ou não, sob a e serviço. Para tanto, diz Edmundo, riam afetados. Segun-
orientação de profissionais de elevada precisamos pensar em estratégias que do David Heyman, do
qualificação ética e profissional”. garantam a mudança na grade curri- Programa Estratégico
Maria Alice Pessanha de Carva- cular para que tais residências possam de Segurança Nacional
lho, que na Ensp/Fiocruz coordena dar conta das necessidades do SUS e do do Centro de Estudos
o Curso de Especialização em Saúde Saúde da Família. Internacionais e Estra-
tégicos (CSIS, na sigla
em inglês), é preciso
Da especialização à residência multiprofissional planejamento para
uma situação desse
formação em serviço é uma está todo pautado na metodologia da porte, pois, embora a
A prática da residência médica
reproduzida por muitos cursos de
problematização e na utilização de
casos reais”, conta Maria Alice
pandemia não seja re-
alidade neste momen-
especialização em saúde, a exemplo Segundo a coordenadora, são to, estão postos todos
do curso de especialização em Saúde cinco unidades — ou módulos — de os elementos para que
da Família nos Moldes da Residência aprendizagem. A primeira é formada ocorra, com exceção
da Escola Nacional de Saúde Pública por um ciclo de debates sobre a es- da transmissão entre
Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz). tratégia Saúde da Família, aberta à humanos.
Criado em 2003 em parceria com comunidade. A segunda unidade é de Heyman disse achar
a Secretaria Municipal de Saúde, a par- identificação de necessidades e poten- provável que, na primeira onda
tir da demanda de aumento do número cialidades da oferta, “um diagnóstico de uma pandemia de gripe aviária,
de equipes do PSF no Rio de Janeiro, o do território de atuação”. Na terceira não se possa ainda contar com uma
curso tem como elementos funda- unidade, os alunos recebem aulas es- vacina. Nesse caso, os anti-virais
mentais a integração formação- truturadas na escola e aulas práticas podem ajudar a reduzir o número
trabalho, a aprendizagem visando em serviço. Na quarta unidade, os de óbitos, mas seus efeitos sobre
a promoção de competências alunos fazem planejamento de inter- a transmissão da doença seriam
profissionais, a problematização venção no campo. A quinta e última modestos. O melhor caminho para o
da realidade, o processo ensino- unidade é de avaliação da execução controle da infecção seria o que ele
aprendizagem centrado no aluno e a do trabalho. Todas as unidades estão chamou de “medicina antiga”: inter-
avaliação e a certificação baseadas em agregadas a equipes já existentes de venções não-farmacológicas como
desempenhos profissionais. “O curso PSF do Rio de Janeiro. medidas de higiene, isolamento e uso
de equipamentos como máscaras e
RADIS 51  NOV/2006
[ 11 ]

ameaça da gripe aviária ou...


é tudo uma grande paranóia?
umidificadores. “Tudo isso baseado em nidade deve ser chamada a elaborar o medidas que podem ser úteis na resposta
estudos feitos sobre o que funcionou na planejamento com os órgãos públicos, e a qualquer emergência, especialmente
epidemia de 1918”, disse. cada família deve ter seu próprio plano no que se refere a treinamento de equi-
O foco prioritário dessas interven- de resistência”. Além disso, é preciso pes, reforço da estrutura dos laborató-
ções deve ser a interrupção do ciclo dar especial atenção aos grupos mais rios, produção e aplicação de vacinas
de transmissão, reduzindo o contato vulneráveis socialmente. das gripes sazonais, além da avaliação
com pessoas infectadas. Mas, com a O Canadá foi um dos países afeta- de medidas não-farmacológicas para a
síndrome respiratória aguda (Sars) dos pela Sars, computando 24 vítimas produção de evidências sobre eficácia.
aprendeu-se que é preciso repensar fatais. Para David Butler-Jones, da “Medidas que não têm efetivida-
o conceito de quarentena e procurar Agência de Saúde Pública, no atual de dispersam recursos, causam des-
usar as medidas menos restritivas pos- contexto de urbanização, mudanças crédito na população e atrapalham as
síveis. Um novo conceito seria o de dis- climáticas e disparidades econômicas, ações efetivas”, usou Barbosa seu bom
tribuir as pessoas de modo que fiquem é impossível prevenir completamente senso, acrescentando que as autorida-
menos expostas, modificando horários o aparecimento ou o reaparecimento des sanitárias precisam agir com base
de trabalho, por exemplo. Ele considera de epidemias, mas podemos reduzir racional, e não impulsionadas pelo
que, além dos órgãos de saúde, os de seus impactos. Ele disse acreditar que pânico público ou pela mídia.
defesa civil e segurança pública devem a principal arma contra uma possível Um representante da Índia ques-
ser envolvidos no planejamento. pandemia de gripe é a informação de tionou as medidas apresentadas pelos
qualidade e o envolvimento da popu- debatedores, alegando exatamente a
lação na elaboração das estratégias de falta de evidências sobre sua efetivi-
ação. “É preciso sermos honestos dade. Houve uma discussão em torno
sobre o que sabemos, o que não do possível fechamento das escolas,
sabemos e o que as pessoas proposto por Heyman. Para seu colega
podem fazer”, afirmou. canadense, a medida não é boa se não
Sobre medidas for possível garantir que crianças e
drásticas, como fecha- adolescentes não freqüentarão outros
mento de fronteiras, locais públicos fechados, como cine-
estudo feito no Ca- mas e shoppings, além de causar pro-
nadá mostrou que blemas aos pais que trabalham fora.
não se trata de George Benjamin concordou que
uma boa idéia. seria uma estratégia complicada, pois,
Nos aeropor- em alguns locais, a escola é o único
tos, por exem- lugar em que as crianças têm garantida
plo, a medida uma refeição por dia. Heyman repli-
considerada cou: “É preciso ser criativo”. E sugeriu
mais efetiva, que os ônibus escolares sirvam não
no momento, para levar crianças, mas para distribuir
é o controle do comida às residências.
trânsito de aves Muitas são as incertezas em rela-
e a garantia de ção a uma pandemia de gripe aviária.
que os passageiros Alguns especuladores afirmam que a
conheçam os sinto- doença surgiria no Brasil no mês de
mas e saibam o que setembro, época de migração das aves.
fazer se se apresenta- Em debate sobre o assunto no Centro
rem. Ou seja, educação de Estudos do Instituto Oswaldo Cruz
é a chave. Nesse sentido, (IOC/Fiocruz), em 29/9, Fernando
Jones ressaltou o papel da mídia Barros, coordenador do Departamento
para que as pessoas tenham acesso de Vigilância Epidemiológica da
George C. Benjamin, da Asso- fácil e rápido às informações corretas, SVS/MS, afirmou não ter como
ciação Americana de Saúde Pública na medida em que o tempo é um fator saber como, quando e onde a
(APHA), disse que, se a pandemia ocor- crucial no controle da transmissão. gripe surgirá. “O surgimento
rer, o país deve estar preparado para Jarbas Barbosa, da Secretaria de está ligado a fatores ecológicos,
lidar com uma possível irrupção social, Vigilância em Saúde do Ministério da sociais e até econômicos. Nem
garantindo a integridade dos serviços Saúde (SVS/MS), reconheceu que não se mesmo podemos saber qual será a cepa
básicos. Ele defendeu que as estraté- sabe se, quando nem com que gravidade pandêmica. A cepa conhecida pela sigla
gias não venham a ser feitas apenas uma pandemia de gripe aviária poderia H5N1 é a mais provável. Mas pode apa-
pelo pessoal dos gabinetes: “A comu- acontecer. O importante, então, são as recer outra”, reconheceu.
RADIS 51  NOV/2006
[ 12 ]

Pelo bem da humanidade ou...


Voltemos a lembrar das pessoas!

FOTO: ARISTIDES DUTRA


Wagner Vasconcelos

frieza tecnológica está relegando


A as pessoas a segundo plano. Foi
esse, em parte, o tom da fala de
Reinaldo Guimarães, vice-presidente
de Pesquisa e Desenvolvimento Tec-
nológico da Fundação Oswaldo Cruz,
em 24 de agosto, no Abrascão. Em sua
palestra Ciência, tecnologia e saúde
pública: uma longa jornada, ele disse
que “estamos tão prenhes de ciência
e tecnologia que esquecemos o estado
de saúde das populações”. Reinaldo Guimarães no Abrascão:
Para mudar esse quadro, algumas "O movimento sanitário foi político
desde o início, mas está se diluindo
mediações necessárias nos campos de
C&T e saúde. A primeira delas seria
a elaboração de ações cujo foco seja saúde das pessoas, o diagnóstico e as 20, com a formulação do Estado do
sempre o estado de saúde da popu- investigações dos problemas de saúde, Bem-Estar Social. As pesquisas em C&T
lação. As pesquisas geram um novo informação e educação, o desenvolvi- começaram a se aproximar da saúde da
conhecimento, disse, apontando para mento de planos de ação e a pesquisa população a partir de meados do século
outra mediação, a transformação des- para soluções inovadoras. 19, especialmente devido à influência de
se conhecimento em ações de saúde. Das práticas de saúde pública, pesquisadores como o epidemiologista
“Um conhecimento voltado para a destacou a aproximação com a cole- inglês John Snow (1813-1858), o francês
intervenção e para a compreensão”. tividade, a promoção e a prevenção. E Louis Pasteur (1822-1895), o polonês
Reinaldo destacou que vivemos disse não ver diferença entre pesquisa Rudolph Virchow (1821-1902) — o pai da
um momento de “criação” (e fez em saúde pública e pesquisa em saúde. patologia moderna e da medicina social
questão de frisar as aspas para dizer “Não faz mais sentido uma identidade —, o bacteriologista alemão Heinrich
que criação nem sempre representa específica para pesquisa em saúde Hermann Robert Koch (1843-1910) e tan-
algo novo). No momento de transição pública”, afirmou, defendendo uma tos outros. Havia ainda determinantes
que o mundo atravessa, há um terreno visão que abarque esses campos ainda sociais como urbanização, saneamento
específico para a pesquisa em saúde compreendidos como distintos. e vacinação, que influenciaram nas
pública, apesar das falhas observadas Citou o exemplo da gripe aviária, intervenções em saúde.
em relação à transferência das ações de que redundou numa série de ações Lembrou também a importância
pesquisa ao campo da saúde pública. como vigilância, profilaxia, logística, mais recente de pesquisadores como o
Retomando a discussão concei- diagnóstico e tratamento, pelas quais fisiologista neozelandês Maurice Wilkins
tual presente em tantos momentos o mundo se prepara para combater as (1916-2004), o físico britânico Francis
do congresso, Reinaldo lembrou que epidemias. A vigilância e a logística per- Crick (1916-2004) e o biólogo americano
o sanitário foi um movimento polí- tencem a campos específicos da saúde James Watson (1928), vencedores do
tico desde o início — “que vem se pública, mas a profilaxia, o diagnóstico Nobel de Medicina em 1962 pela desco-
diluindo”. Há sinais de esperança: a e as demais envolvem investimentos que berta da estrutura da molécula do DNA.
criação da Comissão Nacional sobre não têm a ver com os aspectos da saúde Para ele, se aplicássemos o conheci-
Determinantes Sociais da Saúde seria pública tradicionalmente conhecida. As mento que já detemos haveria impacto
um exemplo de que o movimento pode ações de saúde requerem o novo conhe- maior na saúde e na doença do que
se fortalecer novamente. cimento a que ele se referiu no início de qualquer nova produção ou tecnologia a
Ao mostrar uma ilustração do início sua fala, com base em determinantes ser introduzida na próxima década.
do século passado, de crítica às (como epidemiologia, ciências sociais Os desafios que se colocam para
campanhas de vacinação, consi- e demografia), em ferramentas (como o futuro, portanto, recaem sobre as
deradas inúteis num determinado desenvolvimento biomédico e pesquisa intervenções para o bem do homem,
período da história, contou: clínica) e em procedimentos. seja para seus anos finais de vida, seja
“Diziam até que as crianças esta- Reinaldo lembrou que os cuidados para sua esfera reprodutiva, seja para
vam sendo maltratadas”. Saúde com a saúde da população se tornaram as necessidades individuais e coletivas
pública, por conceito, é um conjunto de preocupação do Estado a partir do sé- de saúde. E também devemos nos
medidas para garantir população saudá- culo 18, e, depois, já no século 19, com preparar para todos os desafios éticos
vel, com um conjunto de missões, entre movimentos como a Revolução Indus- que nos impõe o desenvolvimento
as quais o monitoramento do estado de trial. Mais tarde, voltou à tona no século científico e tecnológico.
RADIS 51  NOV/2006
[ 13 ]

DEBATES NA ENSP/FIOCRUZ — ética na ciência

Bioética em 2006,
balanço e desafios

A.D.

de roteiro para a legislação sobre o em Pesquisa (CEP) de suas instituições,


bioética atravessa um mo- tema em todos os países. o curso é resultado de parceria com o

A mento histórico de amadure-


cimento, testada por grandes
questões como a pesquisa
com seres humanos. A Declaração
Universal sobre Bioética e Direitos
Esta é a síntese da palestra do
sanitarista Volnei Garrafa, professor
da Cátedra Unesco de Bioética da
Universidade de Brasília, proferida na
aula inaugural do corrente Curso de
Decit/Ministério da Saúde. Participaram
ainda o vice-presidente de Pesquisa e
Desenvolvimento Tecnológico da Fio-
cruz, Reinaldo Guimarães, que falou so-
bre “Divisões internacionais do trabalho
Humanos, da Unesco, agência da ONU Atualização em Ética Aplicada à Pesquisa em ciência e tecnologia e a pesquisa em
para educação, ciência e cultura, que Científica na Ensp/Fiocruz. Organizado saúde no Brasil”, e o coordenador do Nú-
foi homologada em outubro de 2005, pelos pesquisadores Sérgio Rego (Ensp/ cleo de Bioética da Ensp, Fermin Roland
é agora um referencial concreto de Fiocruz) e Marisa Palácios (Nesc/UFRJ), Schramm, que preside a Sociedade de
poder moral muito forte que servirá coordenadores dos Comitês de Ética Bioética do Rio de Janeiro.
RADIS 51  NOV/2006
[ 14 ]

Volnei recuou à segunda metade Unido e Holanda. “Estávamos perdidos;

DIVULGAÇÃO
do século passado, de acelerado desen- então pedi ao embaixador do Brasil
volvimento científico e tecnológico nos na Unesco, que hoje é cônsul-geral
Estados Unidos, especialmente na pes- em Milão, Antônio Augusto Dayrell de
quisa com seres humanos, para citar a Lima, para articularmos com a América
Comissão Americana para a Proteção da Latina”, lembrou Volnei. “E fechamos
Pessoa na Pesquisa Biomédica e Compor- posição contrária ao que estava sendo
tamental, que, convocada pelo governo, encaminhado”.
debateu o tema ao longo de quatro anos Na abertura da reunião seguinte, o
e divulgou, em 1978, o Relatório Bel- embaixador disse: “Se vocês quiserem
mont, que levanta os princípios básicos continuar com esse encaminhamento,
da bioética principialista.O palestrante não vamos assinar.” Argentina, Costa
fez parêntese no histórico para condenar Rica e México apoiaram “e fomos
o chamado “duplo standard” ou duplo tomando conta da reunião”. Mudou o
padrão ético de pesquisa com seres direcionamento das coisas. “O artigo
humanos, que os países industrializados “Temos que avançar de uma 14, por exemplo, falava em saúde pú-
“querem enfiar goela abaixo dos países bioética contemplativa e blica, mas como nos EUA saúde não é
pobres”. Se a ética sucumbir a dois pa- direito de todos e dever do Estado, eles
drões de pesquisa, precisaremos fazer
descritiva para uma bioética não queriam a universalidade”, disse
outra bioética, disse. “É muito impor- interventiva e socialmente Volnei. “É questão ideológica; acabou
tante abrirmos bem os olhos porque em comprometida” entrando, mas foi muito difícil”.
órgãos governamentais há formas de ver Nada de imperialismo moral,
essa questão que não são as que o Estado sustentou o professor. E o que é o
brasileiro defende internacionalmente, A Declaração Universal sobre Bioética imperialismo moral traduzido na bio-
ou seja, o padrão único e o controle das e Direitos Humanos tomou dois anos e ética? “Os quatro pontos da bioética
pesquisas”, alertou. meio de debates. “É um documento principialista — autonomia, benefi-
O Ministério da Saúde convocou humanista e democrático, com base cência, não-maleficência e justiça
comissão para rever a Resolução em relatório do italiano Giovanni —, que os países mais experientes
196/96, da Comissão Nacional de Éti- Berlinguer e do filipino Leonardo de teriam o direito moral de exportar”.
ca em Pesquisa (Conep), uma das 15 Castro, mas durante a preparação foi Volnei ressalvou: “Não quero que esse
comissões intersetoriais do Conselho ficando tecnicista... quando nos demos discurso pareça antiprincipialista — os
Nacional de Saúde. A resolução con- conta estava nos moldes dos interesses princípios são bons, mas sabidamente
tém diretrizes e normas de pesquisas do Hemisfério Norte”: medicamentos, insuficientes”, afirmou. “A bioética
envolvendo seres humanos — “ela é patentes, lucro, mercado. Surgiu principialista é anglo-americana, e
boa, mas envelheceu, ficou acanhada então um movimento de resistência. tem que ser vista com cuidado”.
para o tamanho do desafio”, disse “Que, digo com orgulho, foi iniciado Assim, é preciso contextualizar
Volnei. E não pode ser uma comissão aqui na América Latina”. O ministério esse relativismo ético e moral em cada
de técnicos iluminados, mas gente com argentino de Justiça e Direitos Huma- região, em cada cultura. “Temos que
experiência na área: “A resolução tem nos reuniu em novembro de 2004 11 avançar de uma bioética inicialmente
que ser melhor, não pior”. países latino-americanos. Saíram dois neutra, mas contemplativa e descriti-
O professor reclamou da demora documentos, um formal, a Carta de va, para uma bioética crítica, inter-
na votação do anteprojeto de lei ordi- Buenos Aires, e um político, cobrando ventiva e socialmente comprometida”,
nária de criação do Conselho Nacional a pauta social, ambiental e sanitária defendeu. “Isso é a bioética aplicada,
de Bioética, há um ano no Congresso, no debate da bioética. “Em janeiro de no sentido de transformar a realidade
“um entre tantos vazios no Brasil”: a 2005, a reunião de Paris acatou algu- para melhor”. Volnei aproveitou para
França tem o seu desde 1982, a Itália, mas sugestões de Buenos Aires”. anunciar o livro Bases conceituais da
desde 1989, Portugal, desde 1990. Para Depois, em abril, tomou três dias o bioética: enfoque latino-americano
ele, a Lei de Biossegurança (Radis 32) debate sobre o ponto 1 da declaração, (Editora Gaia), que reúne oito con-
é “um monstrengo” que juntou três que definia o conceito de bioética. ferências do seminário Estatuto Epis-
coisas completamente diferentes: o Ficou claro que há não uma bioética, temológico da Bioética, de novembro
funcionamento da Comissão Técnica mas bioéticas, e cada cultura deve de 2004, em Montevidéu (pág. 18). “É
Nacional de Biossegurança (Ctnbio), procurar seus valores. “Não podemos uma tentativa de pensar com nossas
o uso das células-tronco e os transgê- ficar importando acriticamente os dos próprias cabeças, e não com a dos
nicos. “O Executivo não encaminhou outros”. Ficou decidido que não have- outros”, disse. Inclusive a da igreja.
um projeto tão mal trabalhado”, ria definição, “o que para nós foi uma “A bioética não é mais canônica, a
afirmou. “É que o relator era Ney primeira vitória”. Mas os países ricos igreja fazer bioética é complicadíssimo
Suassuna, hoje entre os parlamenta- davam as cartas: os EUA falavam, Japão porque as visões religiosas partem de
res-sanguessugas, que na época até apoiava, Alemanha e China “eram paus- absolutos morais e exigem fé — quando
gaguejava ao falar do tema”, criticou. mandados”, e também Austrália, Reino a bioética é basicamente diálogo”.
RADIS 51  NOV/2006
[ 15 ]

Na opinião de Volnei, o desen-


volvimento científico e tecnológico
atropelou os parâmetros morais. Um
exemplo: uma repórter procurou-o para
que comentasse um episódio ocorrido
em Los Angeles. (“Quando jornalista me
liga penso logo: lá vem...”, brincou.)
Um casal de mulheres teve um filho.
“Isso é velho, respondi; já aconteceu na
França, em 1991: compram esperma,
o médico tira o óvulo de uma delas,
procede à fecundação in vitro, bota
no útero da outra e nasce o filho — eti-
camente discutível, mas tecnicamente
possível”. A repórter interrompeu: as
duas mulheres eram surdas congênitas, manos: alguns pensadores de países Volnei contou que começou na
conseguiram um doador de esperma ricos têm dito que “dignidade” é um Inglaterra e na Austrália o primeiro
surdo congênito e hoje de manhã nas- conceito subjetivo, que deveria ser estudo acompanhando pessoas nasci-
ceu a criança, surda congênita. “O que substituído por autonomia. “Mas quem das de reprodução assistida. E surgem
o senhor acha disso? Estou preparando é autônomo nos países pobres?” Foi algumas inquietações, como o câncer
matéria para domingo”. Risos na pla- uma briga para incluir a palavra dig- de mama precoce. Um aprendiz de
téia. Volnei disse que ligaria para alguns nidade, contou. Benefício e dano, ou feiticeiro, que faz isso como rotina
colegas e em um ano daria a resposta. beneficência e conseqüência, mais au- aqui, ao ser perguntado se seleciona a
Gargalhadas na platéia. tonomia e responsabilidade individual. doadora de óvulos, respondeu, diante
Como avaliar isso? “Até o início O sexto artigo trata do consentimento. de 300 pessoas: “Mas é claro, minha
do século 20, tínhamos um tempo O sétimo, do indivíduo sem capacidade filha, você acha que eu vou pegar o
natural de reflexão ética, mas a ci- de consentir, e o oitavo, do respeito óvulo de um tribufu qualquer?” Exa-
ência nos roubou esse tempo de ama- à vulnerabilidade humana e à integri- tamente nessas palavras, disse Volnei.
durecimento moral”, disse. “Se não dade individual. Depois, privacidade “O mundo é bom porque tem feio,
resolvemos nem a questão do aborto, e confidencialidade, mais igualdade, bonito, baixinho, alto, preto, branco,
da eutanásia, quanto mais essas novas justiça e eqüidade. O 11º: não-dis- amarelo, homossexual, bissexual, tris-
questões”. Então, a bioética ajuda criminação e não-estigmatização, o sexual... É o pluralismo”, resumiu.
nessas reflexões. “Às vezes nem dá 12º: respeito à diversidade cultural São essas pesquisas “infantis,
a melhor resposta, dá uma resposta e ao pluralismo; 13º: solidariedade até”, que estão fragilizando a espécie
minimalista, mas pelo menos baseada — “um valor latino, que não queriam humana, afirmou. E não há controle
em referências”. Volnei respondeu à re- incluir”. Responsabilidade social em sobre isso: a única legislação é uma
pórter que as mulheres estavam usando saúde, eliminação da marginalização e resolução do Conselho Federal de
uma eugenia ao contrário. Os nazistas da exclusão de indivíduos, redução da Medicina de 1991, para os médicos,
queriam um “ser superior”, enquanto pobreza e do analfabetismo, comparti- que só podem implantar no útero da
elas programaram um ser com deficiên- lhamento dos benefícios, proteção do mulher no máximo quatro embriões.
cia. “Imagine se quisessem uma criança ambiente e da biodiversidade — “que “Levamos 6 bilhões de anos para che-
sem braço? Seria absurdo”. os EUA também rejeitavam”. gar até aqui, na espécie humana, a que
Resumindo, a bioética de hoje é A declaração não tem caráter melhor se desenvolveu; dominamos
pluralista, e essas questões devem ser legal, mas é um documento com poder tudo, mas pela primeira vez na história
discutidas pela sociedade de maneira moral muito grande, homologado por estamos mexendo na intimidade da
inter, multi e transdisciplinar. As dis- unanimidade, afirmou. Um roteiro para vida humana”, disse. “Esperamos que
ciplinas devem conversar umas com as construções legislativas futuras nos paí- seja para melhor, para nos dar mais
outras — ciências sociais, biológicas e ses da ONU. No Brasil, por exemplo, en- longevidade, e temos que avançar com
da saúde —, ser transdisciplinar, para tre os vazios legislativos inexplicáveis, precaução porque determinadas coisas
dar um salto e gerar conhecimento “é um absurdo a ausência criminosa não têm volta, mas a precaução não
novo que traga mais luzes a determina- de regulação na reprodução assistida”, é um princípio de que as pessoas que
dos conflitos. A Declaração da Unesco disse. “Temos bebês de proveta com 22 defendem o desenvolvimento científi-
agrega um conhecimento complexo, anos e não há legislação: clínicas fazem co e tecnológico gostem muito”.
vai além da soma de partes. “Não se o que querem, sem controle”. Normal-
pode trabalhar de forma cartesiana, mente, uma fecundação assistida tem Mais informações
olhando as coisas em linha: precisamos de 8% a 12% de possibilidade de sucesso, Íntegra da Declaração Universal sobre
trabalhar em rede”. observou. Se conseguir 50% de sucesso, Bioética e Direitos Humanos: www.
A declaração acrescenta prin- “a mercadoria é mais rentável, a clínica bioetica.catedraunesco.unb.br/htm/
cípios como dignidade e direitos hu- vai ganhar mais”. declaracao/declaracaojulho2006.pdf
RADIS 51  NOV/2006
[ 16 ]

Transmissão vertical do hiv

Um estudo para
salvar bebês da Aids
não-medicamentosas como a cesa- De fato, segundo a Agência Fio-
studo internacional que abran- riana eletiva e a substituição do alei- cruz de Notícias, dados do MonitorAids

E ge Brasil, Estados Unidos e,


mais recentemente, Argentina
e África do Sul busca descobrir,
entre três coquetéis de medicamentos
anti-retrovirais, o mais eficaz contra a
tamento materno contribuem para a
redução da transmissão”, informa a
pesquisadora. O uso conjunto dessas
intervenções pode reduzir a transmis-
são para menos de 2% dos casos.
(http://157.86.8.37/frames.htm)
apontam: em 2004, 96% das gestan-
tes brasileiras tiveram ao menos uma
consulta pré-natal; o teste de HIV foi
pedido para 75% delas; o resultado não
transmissão vertical do HIV, ou seja, de O desenho original do estudo pre- saiu antes do parto para 35%. Assim,
mãe para filho. O Brasil participa com via a participação apenas de Brasil e o diagnóstico na hora do parto, com
oito centros — dois no Estado do Rio, Estados Unidos, países em que a maior testes rápidos, é a única opção. Nesse
dois em São Paulo, um em Minas Gerais parte das mulheres tem diagnóstico de momento, o uso de anti-retrovirais e
e três no Rio Grande do Sul. Aids no pré-natal — o que é o ideal. a substituição da amamentação ainda
Patrocinado pela Sessão de Aids Mas para que seja atingida a previsão podem impedir a transmissão, mas em
em Crianças, Adolescentes e Mães do de cerca de 1.700 crianças nascidas de nível bem inferior ao obtido no início
Instituto Nacional de Saúde e Desenvol- mulheres infectadas pelo HIV foram da gestação. Para mulheres nessa
vimento Humano da Criança (NICHD), convidados a participar um centro situação, o Ministério da Saúde reco-
em colaboração com o Instituto Nacio- em Joanesburgo, na África do Sul, e menda a administração de zidovudina
nal de Alergias e Doenças Infecciosas outro em Buenos Aires, na Argentina. (AZT) durante o parto, a substituição
(NIAID), ambos da rede de Institutos Até outubro estavam cadastradas 600 do aleitamento materno e a admi-
Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados crianças, a maior parte recrutada pe- nistração de AZT também ao recém-
Unidos, o estudo teve início em março las equipes do Rio de Janeiro. nato, informa a pesquisadora.
de 2004 e é coordenado pela infec- O diagnóstico oportuno, abrindo Quanto à melhor estratégia,
tologista Valdiléa Gonçalves Veloso, caminho para as intervenções necessá- ainda não há uma conclusão. “Nosso
diretora do Instituto de Pesquisas Clí- rias — como os anti-retrovirais, a cesa- estudo vai avaliar que esquema de
nicas Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz). riana ou a substituição da amamenta- profilaxia com anti-retrovirais é mais
O nome comprido (“NICHD/HPTN 040 ção —, ainda é um grande desafio para eficaz na redução da transmissão no
— Fase III do estudo clínico randômico os países em desenvolvimento, observa momento do parto: AZT sozinho (re-
sobre a segurança e a eficácia de três Valdiléa. No Brasil, cerca de 30% das comendado pelo Ministério da Saúde),
esquemas terapêuticos anti-retrovirais mulheres grávidas com HIV chegam AZT+nevirapina ou AZT+nevirapina+
neonatais para a prevenção da trans- ao trabalho de parto sem saberem nelfinavir”, informa. Os laboratórios
missão do HIV-1 no parto”) não esconde que estão infectadas ou sem qualquer Boehringer Ingelheim Pharmaceuticals,
a relevância da iniciativa. prevenção da transmissão, embora a Inc. e GlaxoSmithKline Company doa-
A transmissão vertical do HIV rede pública ofereça diagnóstico e tra- ram os medicamentos — zidovudina,
pode ocorrer em qualquer período: tamento. “Isso acontece por uma com- lamivudina e nevirapina — como contri-
na gestação, no trabalho de parto, binação de barreiras enfrentadas pelas buição ao financiamento do estudo.
no próprio parto e também durante mulheres mais vulneráveis no acesso Todos os exames são feitos no
a amamentação. Sem qualquer in- ao sistema de saúde, que ficam sem Brasil, onde ficam armazenadas tam-
tervenção, a transmissão ocorre em os cuidados do pré-natal ou recebem bém todas as amostras biológicas.
cerca de 30% dos casos. De acordo com cuidados de baixa qualidade”, aponta O Laboratório de Aids e Imunologia
a coordenadora, desde a publicação a infectologista. Por exemplo, o mé- Molecular, do Instituto Oswaldo Cruz
dos resultados do estudo PACTG 076, dico não oferece o teste; ou, se ofe- (IOC/Fiocruz), sob a responsabilidade
em 1994, sabe-se que a transmissão rece, o resultado demora tanto que de sua chefe, a bióloga Mariza Gon-
vertical pode ser reduzida com os o bebê nasce antes que a mãe inicie çalves Morgado, é o repositório de
anti-retrovirais, e estudos posteriores o tratamento, e a criança acaba por espécimes biológicos do estudo para
demonstraram que a transmissão pode não se beneficiar dos recursos. “No os centros do Brasil. No Ipec/Fiocruz
cair até mesmo quando a administra- Brasil, o pré-natal de baixa qualidade é feita a gerência dos dados do estudo
ção das drogas é tardia, já no curso é um problema muito maior do que provenientes dos centros.
da gestação ou mesmo no parto, ou a falta do pré-natal”, avalia, “uma Participam do estudo, no Brasil, o
ainda administradas apenas ao re- vez que a maior parte das brasileiras Hospital dos Servidores do Estado (Rio
cém-nascido, afirma. “Intervenções freqüenta o pré-natal”. de Janeiro) e o Hospital Geral de Nova
RADIS 51  NOV/2006
[ 17 ]

Iguaçu (Baixada Fluminense); o Grupo ra, o país tornou a notificação e os prazos de encaminhamento das
Hospitalar Conceição — hospitais Con- obrigatória pela Portaria nº 5 de informações devem coincidir com os
ceição e Femina — e o Complexo Hospitalar 21/2/2006, publicada no Diário Ofi- das notificações de Aids.
da Irmandade Santa Casa da Misericórdia cial de 22/2/2006, Seção 1 página Na tabela, o baixo número de no-
(Porto Alegre); a Universidade Federal de 34), conforme a Lei 6.259/75. Para tificações de gestantes soropositivas
Minas Gerais (Belo Horizonte); Universida- que seja efetiva a vigilância epide- no Rio de Janeiro (88 entre janeiro
de Federal de São Paulo e Universidade de miológica, as unidades de saúde de- e junho de 2005, contra 764 em São
Ribeirão Preto (São Paulo). vem notificar mensalmente os casos Paulo, 158 em Minas Gerais e 56 no
O médico José Henrique Pilotto, de infecção de gestantes pelo HIV Espírito Santo) possivelmente confirma
pesquisador do estudo no Hospital à instância municipal responsável, a observação dos pesquisadores de
Geral de Nova Iguaçu, observou que o de onde as informações saem para que no Rio as mulheres vulneráveis
número de gestantes com o vírus HIV as secretarias estaduais e, destas, têm acesso limitado aos serviços de
sem tratamento durante a gestação é para o Ministério da Saúde. Os fluxos prevenção do SUS.
65% mais alto no Rio do que no restante
do país. As cariocas não fazem pré-na-
tal? “É possível que o maior recruta- Gestantes soropositivas (por ano de notificação)*
mento no Rio de Janeiro indique que Região/UF 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Total
um número significativo de mulheres
continue com acesso limitado aos Brasil 734 2.270 4.616 6.895 6.625 2.322 23.462
recursos de prevenção da transmissão
vertical do HIV no sistema de saúde”, Norte 9 18 43 114 215 82 481
observa Valdiléa Gonçalves Veloso. Rondônia 0 0 3 7 10 4 24

NOTIFICAÇÃO É CRUCIAL Acre 8 6 9 2 5 8 38


PARA A VIGILÂNCIA Amazonas 0 0 0 6 79 16 101
No texto de apresentação do Bo- Roraima 0 0 0 0 0 1 1
letim Epidemiológico Aids/DST 2005,
divulgado em dezembro passado, o Pará 0 2 16 69 93 38 218
então diretor do Programa Nacional de Amapá 1 0 1 17 1 3 23
DST/Aids, Pedro Chequer, observava
Tocantins 0 10 14 13 27 12 76
que as notificações sobre gestantes
soropositivas para o HIV, de natureza Nordeste 71 211 398 780 739 313 2.512
compulsória desde o ano de 2000,
vêm aumentando ao longo do período Maranhão 5 11 39 61 54 3 173
analisado, mas continuam aquém do Piauí 0 1 10 30 55 18 114
número estimado nos estudos de pre-
Ceará 0 66 60 113 147 59 445
valência nacional. Em 2004, segundo
ele, das 12.644 gestantes soropositi- Rio Grande do Norte 8 6 12 40 34 13 113
vas para o HIV estimadas, houve cerca Paraíba 6 25 17 59 59 34 200
de 52% notificações.
Pernambuco 43 82 164 236 185 91 801
Para Pedro Chequer, a notificação
de gestantes soropositivas ajuda não Alagoas 2 7 13 30 35 10 97
somente a identificar os fatores que Sergipe 2 0 10 28 8 28 76
contribuem para a transmissão vertical
do HIV, mas também é instrumento Bahia 5 13 73 183 162 57 493
importante de monitoramento das
Sudeste 392 1.175 2.002 3.416 3.448 1.066 11.499
tendências do HIV na população de 15
a 49 anos de idade, representante da Minas Gerais 45 117 302 403 555 158 1.580
população sexualmente ativa do país Espírito Santo 7 79 104 199 115 56 560
(Íntegra da apresentação: www.aids.
Rio de Janeiro 77 234 260 633 618 88 1.910
gov.br/main.asp?View={C0A0AADB-
861D-4F1D-B7EC-A15D14B530DB}). São Paulo 263 745 1.336 2.181 2.160 764 7.449
A estimativa de 12.644 gestantes
soropositivas para o HIV a que se refe- Sul 144 661 1.862 2.173 1.905 748 7.493
riu o ex-diretor do PNDST/Aids foi feita Paraná 9 71 104 357 357 155 1.053
por um estudo de 2004, numa amostra
Santa Catarina 97 323 464 467 401 136 1.888
representativa de parturientes de 15
a 49 anos de todas as regiões do país. Rio Grande do Sul 38 267 1.294 1.349 1.147 457 4.552
Segundo o estudo, 3 milhões de mu-
lheres dão à luz no Brasil anualmente, Centro-Oeste 118 205 311 412 318 113 1.477
e a taxa de prevalência de portadoras Mato Grosso do Sul 46 21 46 95 68 20 296
do HIV no momento do parto é de Mato Grosso 16 29 44 59 93 42 283
0,42%, o que corresponde a 12.644 mil
parturientes infectadas. Goiás 50 96 170 160 73 20 569
Para conhecer o mais precoce- Distrito Federal 6 59 51 98 84 31 329
mente possível o estado sorológico
da gestante/parturiente/puérpe- * Casos notificados no Sinan até 30/6/2005 Fonte: MS/SVS/PN DST-Aids
RADIS 51  NOV/2006
[ 18 ]

serviço

LANÇAMENTOS pretende contribuir para o aumento


da qualidade nos procedimentos ra- SOCIOLOGIA DA SAÚDE
PRÁTICAS EM SAÚDE PÚBLICA diológicos infantis e, ao mesmo tempo,
para a racionalização e a economia de O aprendizado da
Atenção integrada recursos na área. sexualidade — re-
às doenças preva- produção e traje-
lentes na infância tórias sociais de
— Implantação e ANTROPOLOGIA E SAÚDE jovens brasileiros,
avaliação no Bra- organizado por Maria
sil, organizado por Tabu do cor- Luiza Heilborn, Estela
Antônio José Ledo p o e Ta b u M. L. Aquino, Michel
Alves da Cunha, da morte, Bozon e Daniela Riva
Yehuda Benguigui ambos de Knauth, publicado pela Editora Fiocruz,
e Maria Anice Sabóia Fontenele e José Carlos explora os resultados de pesquisa sobre
Silva, faz parte da coleção Criança, Ro d r i g u e s , sexualidade e reprodução de mulheres
Mulher e Saúde da Editora Fiocruz. O fazem parte e homens em plena juventude. O livro
livro apresenta uma série de textos da coleção apresenta amplo repertório de situações
de profissionais da área da saúde Antropologia que marcam a vida juvenil no Brasil.
materno-infantil que oferecem um e Saúde da
panorama da atenção integrada às Editora Fio-
doenças prevalentes na infância, cruz. Editado BIOÉTICA LATINO-AMERICANA
estratégia reconhecida pelo Minis- pela primeira
tério da Saúde. vez em 1979, Bases conceituais da
Tabu do corpo bioética — enfoque
Humanização dos foi a primeira publicação brasileira a latino-americano,
cuidados em saú- analisar o corpo como sistema sim- organizado por Volnei
de — Conceito, bólico. O livro, reconhecido até hoje Garrafa, Miguel Kot-
dilemas e práti- por seu valor acadêmico, apresenta tow e Alaya Saada,
cas, organizado uma análise de como certos princípios apresenta os resulta-
por Suely Ferreira estruturais atribuem ao corpo humano dos de um simpósio
Deslandes, é outro um sentido particular e peculiar em promovido pela Rede
livro da coleção diferentes sociedades. O segundo Latino-Americana e do Caribe de Bioética
Criança, Mulher e livro da coleção, Tabu da morte, pu- da Unesco. No livro, um grupo de bioeti-
Saúde da Editora Fiocruz. São arti- blicado pela primeira vez em 1983, cistas analisa o estatuto epistemológico da
gos de vários especialistas que apro- é um estudo antropológico da morte bioética à luz do contexto sociocultural e
fundam a noção de humanização no como um meio para aprofundar a político da região. Publicado pela Cátedra
campo da assistência à saúde, pre- compreensão da própria vida. Unesco de Bioética, da Universidade de
ocupação que tem norteado inicia- Brasília, e pela Global Editora/Gaia.
tivas, discursos e até mesmo ações
públicas como a Política Nacional de VIGILÂNCIA SANITÁRIA
Humanização — o HumanizaSUS do ENDEREÇOS
Ministério da Saúde. Gestão e Vigi-
lância Sanitá- Editora Fiocruz
Melhor prática ria: modos atu- Av. Brasil, 4.036, sala 112
em radiologia ais do pensar e Manguinhos
pediátrica, um fazer, organiza- Cep 21040-361 • Rio de Janeiro, RJ
manual para to- do por Marismary Tel. (21) 3882-9039 e 3882-9006
dos os serviços Horsth De Seta, E-mail editora@fiocruz.br
de radiologia, de Vera Lúcia Edais Site www.fiocruz.br/editora
Jane Valmai Cook, Pe p e e G i s e l e
Ângela Pettett, O´Dwyer de Oliveira, publicado tam- Global Editora/Gaia
Kaye Shah, Susan bém pela Editora Fiocruz, articula Rua Pirapitingui, 111, Liberdade
Pablot, John Kyriou e Mike Fitzge- saberes e prática entre academia CEP 01508-020
rald, foi traduzido do original inglês e serviço. Trata tanto dos determi- São Paulo
Guidelines on Best Practice in the nantes dos objetos de intervenção Tel. (11) 3277-7999
X-Ray Imaging of Children. O livro, da vigilância sanitária quanto de Fax (11) 3277-8141
publicado pela Editora Fiocruz, é fruto seus métodos e instrumentos de E-mail global@globaleditora.com.br
de cooperação técnico-científica entre intervenção em relação à política e gaia@editoragaia.com.br
instituições brasileiras e inglesas e gestão da saúde no Brasil.
RADIS 51  NOV/2006
[ 19 ]

PÓS-T UDO

abolindo qualquer análise atuarial.


Simplesmente constituem uma car- ou exames, pagando por
Luis Nassif* teira de empresas. Se a empresa for (pelo universo da pop
capitação
superavitária para o plano (o que ela dida) tornando quem atu
ulação aten-
a
paga é inferior ao que o plano gast (hospitais, médicos ou
a na ponta

u
m dos setores mais mal rios) é man tida ; se laboratórios)
resolvi- com seus funcioná co- res po nsá vel pe la adm
dos do país é o de saúde nenhuma
suple- deficitária, é afastada sem de custos. E administra
ini str açã o
mentar. É um caos adm prática da
inistra- contemplação, como é a significa meramente red
r custos não
do por uma porta, a uzir exames,
Nacional de Saúde [Ag Agência Amil, a líder do setor. mas conseguir a melho
ência Nacional Operadoras e seguradoras mais custo-resolutibilidade. O
r combinação
de Saúde Suplementar
] (ANS). organizadas ao menos tentam manter não é curado no primeiro
paciente que
A cadeia produtiva do set admi-
ba planos de saúde, coo or englo- pequenas empresas em grupo, volta pior e mais caro.
atendimento,
perativas mé- nistrando a carteira e não individual- O grande órgão articulad
dicas, hospitais, médic
os, laboratórios mente. Mas nenhuma investe em pro- ria ser a ANS. Caberia a
or deve-
clínicos e laboratórios
farmacêuticos. gramas abrangentes de prevenção, por ciar a unificação dos ban
ele providen-
O setor não se fala, não lé
é solidário na algumas razões, das quais a principa das estatísticas, criar
cos de dados,
administração de custos depo is de inve stir, perd er ratings para
, não compar- o temor de, premiar as boas operad
tilha bancos de dados nem
estatísticas, o cliente para concorrentes. A segunda as más. Mas é um órgão
oras e punir
não valoriza a gestão.
razão é que não adianta uma empresa droso, incapaz de fiscaliza
apático, me-
O resultado é um caos. o
Os médicos atuar em cima da sua clientela, mas de bloquear as dezenas
r e incapaz
prescrevem livremente,
como se fôsse- setor entender o universo de clientes aventureiras que entram
de operadoras
mos um país europeu. Há e saem do
uma lambança como um todo único. mercado a todo momento
em pedidos de exame
, sem avaliação Se o setor fosse minimamente Agora, como passo final
.
adequada da relação cus o
to/eficácia. organizado, a questão da prevençã de sco ord en aç ão , op dessa
Sem estatísticas e sem alhada por todo s os plan os era do ras de
metodo- seria trab planos de saúde começa
logia, os planos se de
fendem da pior de saúde atuando de maneira coorde- verticalizar, a montar
m de novo a
maneira. Na ponta do
cliente pessoa nada. Haveria investimento em uma boratórios, na contramã
hospitais, la-
física, se especializan
do em arrumar infra-estrutura comum, deixando para e do bom senso.
o da história
argumentos para não a
prestar o aten- a competição o que faz a diferenç A única saída, em determ
dimento. Na ponta da final. inado
pessoa jurídica, para o cliente momento, será permitir
Na relação planos-hospitais, ou capital externo, que tra
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; publicado em 19/9/2006 nline. mento para a montagem
* Jornalista ria a com pra ante cipa da de leitos de parcerias
Luis Nassif Onlin e (www.luisnassifo e articulação dos divers
os atores da
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