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Cebes 30 anos
Novidades no berço do
movimento sanitário
Bioética
Declaração da Unesco
é guia para legislação
N º 51 • N o v e m b r o d e 2 0 0 6
HIV em bebês Av. Brasil, 4.036/515, Manguinhos
Pesquisa para evitar Rio de Janeiro, RJ • 21040-361
transmissão no parto
w w w. e n s p . f i o c r u z . b r / r a d i s
[ Saúde da Família
Qual o tamanho certo
da equipe mínima? ]
O estranho Semmelweis
e um mistério milenar
1825 e 1834. Austrália e América saíam-se de “envenenamento por cadáveres”. Foram
Marinilda Carvalho um pouco melhor, mas não muito. Havia um necessários 32 anos para que finalmente
sem-número de teorias a respeito, algumas Louis Pasteur interrompesse a lengalenga de
m 1847, um espectro rondava a Euro- absurdas, outras próximas da realidade. um orador num congresso médico na Paris
E pa: o da febre puerperal. Vítimas de
um mal antigo de 2 mil anos, citado em
Hoje, quando se sabe que o agente da
doença é um estreptococo beta-hemolí-
de 1879, desenhasse os estreptococos num
quadro-negro e decretasse: “É o médico e
registros médicos egípcios, parturientes tico do Grupo A, quase exaspera o leitor sua equipe que transportam o micróbio da
morriam como moscas nas enfermarias acompanhar progressos e retrocessos dos mulher doente para a sadia.”
dos grandes hospitais do século 19. Foi um pesquisadores em busca de explicações: a O “estranho” na história de Semme-
obstetra húngaro nascido em 1818 que fez, teoria dos germes de Pasteur, Lister e Kock lweis é que ele curiosamente não seguiu
aos 29 anos, uma descoberta que figura em estava apenas em gestação. os passos lógicos de um epidemiologista.
lugar de honra entre os feitos da saúde Não publicou suas conclusões em revistas
pública: eram as mãos sujas dos médicos científicas, para compartilhar achados,
que contaminavam as mulheres. buscar credibilidade e apoio: deixou
Esta história esse trabalho a cargo de amigos e acabou
está contada em A mal compreendido. Voou alto a partir da
peste dos médicos observação, mas não levou sua teoria a
— Germes, febre ensaios de laboratório para confirmação.
pós-parto e a es- Foi brilhante ao exigir escovação das
tranha história de unhas por concentrarem as “partículas”
Ignác Semmelweis, mortais, mas não recorreu ao microscópio
livro de 164 pági- para “vê-las” — embora um professor de
nas lançado no ano Anatomia amigo seu vivesse debruçado
passado pela Com- sobre esta ferramenta poderosa.
panhia das Letras. E a época não poderia ser melhor
O autor é Sherwin para iniciativas inovadoras: eram tempos
B. Nuland, ex-pro- de revoluções na Europa, de literatura
fessor de Cirurgia da Escola de Medicina transformadora, de pioneiros abrindo
de Yale (EUA), onde hoje ensina Ética portas na medicina. Semmelweis, porém,
Médica e História da Medicina. fechou-se em suas certezas. Tornou-se
O médico e escritor Moacyr Scliar paranóico e irascível a ponto de aban-
diz no prefácio que o autor fala “de uma donar Viena e voltar à Hungria natal.
jovem que vai morrer” com a “paixão Deserção, ressentiram-se os amigos. No
de um ficcionista”. De fato, Nuland ostracismo, mente deteriorada, acabou
apresenta o tema ao leitor pelos medos Semmelweis, obstetra do Allgemeine num “asilo de loucos”, onde morreu aos
da mocinha em trabalho de parto que Krankenhaus, vivia atormentado, como a 47 anos, espancado por funcionários.
caminha quase 800 metros para chegar maioria dos médicos, pelos surtos da febre. Nuland afirma que ele sofria da doença
ao gigantesco Allgemeine Krankenhaus, o E observou: na divisão das parteiras, que de Alzheimer, e não de sífilis, como quer
Hospital Geral de Viena, e implora para não freqüentavam as salas de dissecação, a maioria dos biógrafos.
ter o filho na enfermaria da Segunda Di- as mortes eram mais raras. Quando um Importa pouco a causa da morte de
visão, onde seria atendida por parteiras. professor morreu da mesma febre, após Semmelweis, hoje reconhecido benfeitor
As amigas da fábrica tinham alertado: se cortar com o bisturi numa autópsia, da humanidade — bem, não no Allgemei-
na Primeira Divisão, assistidas por es- ele concluiu que o mal entrava nas ne Krankenhaus. Quando Nuland visitou
tudantes de Medicina, as parturientes enfermarias pelas mãos dos profissio- o hospital pela primeira vez, em 1985,
morriam. A jovem acaba na Primeira. nais. Determinou então que à porta da perdeu-se nos corredores e perguntou a
A descrição da prática médica de enfermaria todos lavassem as mãos em vários estudantes onde era a histórica
professores e alunos é chocante: das salas solução clorada e escovassem as unhas. enfermaria de Semmelweis. “Quem?”
de dissecação de cadáveres putrefatos Os índices de mortalidade caíram dras- Quase como se um aluno do Institu-
saíam todos diretamente para o leito das ticamente. No período 1848-1859, para to Oswaldo Cruz não soubesse quem foi
pacientes, nas quais faziam exame de 35,7 mortes em 1.000 na Primeira Divisão seu patrono. No prefácio, Moacyr Scliar
toque, um após outro, sem lavar as mãos. (eram 90,2 entre 1832-1847). Mesmo na inclusive compara as trajetórias de Sem-
Em poucos dias as mulheres estavam Segunda Divisão baixou para 30,6, frente melweis e Oswaldo Cruz (1872-1917), de
mortas, e muitos bebês também. aos 33,8 anteriores. quem é biógrafo (Coleção Perfis do Rio,
Uma em cada seis parturientes morria Foi dramático para a classe médica Relume-Dumará, 1996). Ambos visionários,
de febre pós-parto no Allgemeine Kranke- admitir que vinha matando pacientes. Um ambos combatidos. Felizmente o brasileiro,
nhaus. Na Maternidade Geral de Londres, obstetra se suicidou ao entender que conta- glorificado em vida, não morreu sozinho
entre 1833 e 1842, morriam 587 em cada minara a sobrinha na sala de parto. Mesmo num asilo, e sim em casa, de longa doença
10 mil; na Maternidade de Paris, entre tendo conquistado aliados importantes, renal, cercado pela família e os amigos. Mas
1830 e 1834, 547, com pico de 880; 304 no a teoria de Semmelweis ganhou inimigos devem conversar muito, o Dr. Ignác e o Dr.
Hospital-Maternidade de Dresden, entre influentes, que a trataram pejorativamente Oswaldo, onde quer que estejam.
editorial
Nº 51 • Novembro de 2006
Inovações
Comunicação e Saúde
ma inovação não se atém à cria- dilemas éticos para os humanos. A so-
U ção de algo novo. Pode ser modo
diferente de fazer melhor o habitual,
ciedade deve discutir essas questões de
maneira inter, multi e transdisciplinar,
• O estranho Semmelweis e um mistério
de 2 mil anos 2
Radis adverte 15
Cartum
Transmissão vertical do HIV
O governador da Califórnia, • Um estudo para salvar bebês da Aids 16
Arnold Schwarzenegger, assinou lei
que limita a emissão de dióxido de
carbono em 25% até 2020. Serviço 18
Hasta
la vista, Pós-Tudo
aquecimento • O caos da saúde complementar 19
global!
cartas
Súmula
Em defesa do
movimento sanitário
públicos de saúde, mas defen-
Bruno Dominguez de que é fundamental discu-
tir, por exemplo, quais são
o ano em que as forças sociais que podem
N completa três
décadas de exis-
tência, o Centro
Brasileiro de Estudos de
Saúde (Cebes), um dos berços
assegurar a continuidade da
Reforma Sanitária e levar
adiante a idéia de consciência
sanitária num mundo em que a
lógica coletiva se perdeu, sendo subs-
da Reforma Sanitária, conclamou tituída por um individualismo perverso.
os sócios a elegerem uma nova dire- A intenção da nova diretoria do Cebes
toria, com a missão de “refundar a — cujo mandato termina em 2009 — é
instituição e o movimento sanitário aplicar o projeto da reforma em suas
brasileiro”. Em assembléia com 140 últimas conseqüências e provar que a
participantes, que integrou as ativi- universalização, a eqüidade e a justiça
dades do 8º Congresso Brasileiro de social são viáveis.
Saúde Coletiva, em agosto, a cientista Para isso, a instituição já está
política Sonia Fleury assumiu a presi- promovendo plenárias públicas mensais
dência do Cebes e a tarefa de devolver para análise de conjunturas e estimu-
à associação seu status de espaço a regulamentação da Emenda Constitu- lando a recuperação de seus núcleos
produtor de conhecimento dedicado cional 29, isso é conversa nossa e não regionais. Também há interesse em
às políticas de saúde. conquista ninguém”, criticou, propondo criar uma agência de notícias de saúde
A professora lembra que essa em troca a ampliação da agenda e da pública para tentar furar o bloqueio
reação começou nas gestões dos dois pauta do movimento sanitário. da grande mídia que, segundo Sonia,
presidentes que a antecederam, os A nova diretoria do Cebes sugere privilegia o setor privado. “O Cebes tem
sanitaristas Paulo Amarante e Sarah a incorporação de questões como a que retomar seu papel pró-ativo e ou-
Escorel, que intensificaram o trabalho reforma política, a relação entre o pú- sado”, destaca a nova presidente, que
para manter a revista Saúde em Deba- blico e o privado na saúde, a proprie- compara a instituição ao seu símbolo,
te, uma das publicações editadas pelo dade intelectual, a judicialização do desenhado pelo cartunista Jaguar — um
centro. Sarah ainda conseguiu consolidar setor e as necessidades das mulheres, menino negro, sorridente, com o pé es-
parcerias com entidades da saúde, como dos negros, dos movimentos sociais. querdo levantado e os braços abertos.
o Conasems e a Associação Brasileira de “É preciso revitalizar o debate não “Assim como ele, somos pobres, livres
Economia da Saúde, o que resultou em só entre os sanitaristas, mas também e irreverentes”, brinca.
números especiais da revista Divulgação com a sociedade em geral”, diz Sonia. Criado em 1976, o Cebes é uma
em Saúde para Debate. A instituição, O objetivo: fugir do insulamento da associação civil sem fins lucrativos,
ressalta Sonia, também esteve represen- área da saúde, que se fechou para se que tem como eixo a luta pela demo-
tada em todos os eventos políticos que proteger. “Hoje não falamos para fora, cratização da saúde e da sociedade. O
congregaram as organizações do setor para a população”. centro de estudos e reflexões acadêmi-
— na Plenária das Entidades da Refor- A “reforma da reforma” defendida cas aglutina profissionais e estudantes,
ma Sanitária, no Simpósio de Saúde da por Sonia tem como meta o avanço produzindo e divulgando conhecimen-
Câmara e na elaboração, recentemente, deste projeto de transformação política tos na área. “A história do Cebes se
de textos políticos que serviram de do- e social, e não somente a melhoria do confunde com a da Reforma Sanitá-
cumento-base ao Abrascão. SUS. A professora, aliás, aponta uma ria”, ressalta Sonia. A cientista política
Para Sonia, a Reforma Sanitária confusão no uso da expressão, visto que aponta a organização como uma das
vive um dilema: “Conseguimos nos há quem fale em “reforma de reforma” responsáveis pela institucionalização
instituir como poder, mas estamos para se referir apenas a mudanças no do movimento sanitário, sintetizando
perdendo nossa característica crítica rumo do Sistema Único de Saúde. “O as vertentes que o caracterizaram:
e transformadora”. Professora da Fun- movimento sanitário se restringiu a a construção de um novo saber, a
dação Getúlio Vargas, ela avalia que defender o SUS sob qualquer aspecto e ampliação da consciência sanitária e
a visão política do movimento cedeu reduziu muito suas propostas de trans- a organização do movimento social.
lugar a uma percepção distante, quase formação da sociedade”, frisa. “Agora é o momento de retomar o
burocrática dos reais anseios da socie- Sonia não minimiza a importância fôlego e revitalizar esse movimento
dade. “A demanda da população não é de se avaliar constantemente os serviços crítico e transformador”.
RADIS 51 NOV/2006
[ 8 ]
Equipe mínima,
dilemas e respostas
Katia Machado
nal, porém, deve-se ter em mente a explica. A proposta prevê ainda incen- na atenção básica, não estejam na
prioridade, que é a equipe mínima para tivos financeiros para que os gestores equipe, mas usem, em conjunto, a
70% a 80% da população brasileira, já municipais possam contratar equipes equipe”, explica. Em sua opinião,
que Atenção Básica é direito universal. ou remanejar profissionais já presentes aumentar simplesmente o número de
“Depois haveria a complementação na rede do município para atuarem nos profissionais, como vêm defendendo
dos apoios matriciais”, acredita. Núcleo de Atenção Integral. entidades de classe, pode ser sinônimo
Esse pensamento é compartilhado O presidente do Conasems, ainda de profissionais ociosos em excesso.
por Edmundo Costa Gomes, presidente que ressalte a importância da presença Para o médico-pediatra e de Saúde
do Conselho Nacional de Secretários de outros profissionais no PSF, destaca a Pública Gilson Carvalho, mínima ou
Municipais de Saúde (Conasems). “O necessidade de se avaliar quais recursos não, o que se quer é que a Saúde da
Conasems entende que essa equipe, financeiros são necessários para isso. “A Família como estratégia da ABS resolva
apesar de pequena, tem dado conta da estratégia do PSF passa por dificuldades os problemas da população. “O PSF é
estratégia e, sobretudo, tem contribuído de expansão já com a equipe mínima, uma das maneiras de se fazer atenção
significativamente para a mudança dos no que diz respeito à fixação dos pro- básica, como podem existir várias ou-
dados epidemiológicos e, conseqüen- fissionais, principalmente o profissional tras, é uma ação com pouca tecnologia
temente, para a qualidade de vida das médico e o enfermeiro”, observa. “Além de materiais e equipamentos e alta tec-
pessoas integradas ao PSF”, esclarece. disso, os municípios têm encontrado di- nologia de conhecimento e relação hu-
ficuldades em relação ao mana”, defende. Independentemente
financiamento adequado do nome que receba, diz, o importante
e à forma de contratação é que o serviço se caracterize como a
de pessoal: os municípios maneira preferencial de primeiro con-
são hoje responsáveis tato do cidadão com o SUS.
por 66% da contratação Ao refletir sobre o tema, Gilson
da força de trabalho em faz algumas perguntas. A primeira é: a
saúde, gerando constran- ABS, sendo a porta de entrada no SUS,
gimento legal em função deve se limitar às ações do generalista
da Lei de Responsabilida- ou a ele se juntariam outros profissio-
de Fiscal”, afirma. nais? Ele tem uma resposta: “Todas
Diretor do Instituto as profissões de saúde, com maior ou
de Medicina Social da menor intensidade, têm contribuições a
Uerj, Ruben Araújo de dar aos cuidados primários de saúde”.
Mattos, em debate na A segunda pergunta: em que
Ensp/Fiocruz em maio, momento, em que intensidade, em
criticou a ênfase do mo- que tempo e em que lugar novos pro-
vimento corporativo no fissionais devem ser inseridos no PSF?
mercado de trabalho da Em relação ao momento, no início, na
equipe de PSF, "dispu- ação intermediária ou na indicação
tando a tapa as compe- final? Quanto à intensidade, a inclusão
tências exclusivas". Ele deve ser feita na mesma proporção dos
exemplificou: para fazer profissionais médicos e enfermeiros ou
exercícios, profissional em alguma razão de proporcionalida-
de educação física; para de entre os integrantes da equipe? O
distribuir medicamentos, tempo: hoje ou amanhã? Sobre o lugar:
o farmacêutico. "Vinte ontem para uns municípios, a médio e
pessoas em cada equipe longo prazo para outros?
do PSF... Inviável, im- A resposta estaria no estabeleci-
possível". mento de todos os critérios do sistema
Ruben elogiou a de forma lógica, científica e ética. “A
“sabedoria” do Minis- questão mais fundamental é saber a
tério da Saúde ao pro- contribuição a ser dada por cada um
por uma equipe mínima dos profissionais à atenção primária ao
segundo a necessidade. cidadão”, entende Gilson.
“À medida que o perfil Em suma, algumas condições são
epidemiológico muda, essenciais quando se pensa em au-
Edmundo reconhece a necessida- ou melhor, que o modo de andar a mentar as equipes de PSF. A primeira
de de outros profissionais e, por isso, vida do brasileiro muda, a gente re- é saber o que fazer em cada nível de
vem propondo ao Ministério da Saúde pensa a capacidade de respostas da cuidado. A segunda é situar este “o que
que retome a idéia de implantação dos atenção básica, enriquecendo-a, o que fazer” na linha do tempo, se no
Núcleos de Atenção Integral, aprovada significa encher aquele conteúdo de princípio, meio ou fim do cuida-
na Comissão Intergestores Tripartite. Ela atenção básica com novos dispositivos do à saúde. A terceira condição
propõe aos municípios a contratação de tecnológicos e, às vezes, com novas é que haja uma relação ideal
equipes multiprofissionais em apoio às habilidades”, defende. de proporcionalidade entre os
equipes de saúde da família (nos moldes Esse enriquecimento, para Ru- vários componentes da equipe.
das equipes matriciais de Campinas). ben, significa que se terá mais gente A quarta é a adequação à realidade de
“Desta forma, os profissionais contem- na equipe de forma coerente — agre- tempo e local. E, por fim, atender à
plados nos núcleos poderiam dar apoio gando, matricialmente, determinados viabilidade econômica e financeira do
e suporte técnico às equipes de PSF”, profissionais “que, embora atuando sistema de saúde.
RADIS 51 NOV/2006
[ 10 ]
Bioética em 2006,
balanço e desafios
A.D.
DIVULGAÇÃO
do século passado, de acelerado desen- então pedi ao embaixador do Brasil
volvimento científico e tecnológico nos na Unesco, que hoje é cônsul-geral
Estados Unidos, especialmente na pes- em Milão, Antônio Augusto Dayrell de
quisa com seres humanos, para citar a Lima, para articularmos com a América
Comissão Americana para a Proteção da Latina”, lembrou Volnei. “E fechamos
Pessoa na Pesquisa Biomédica e Compor- posição contrária ao que estava sendo
tamental, que, convocada pelo governo, encaminhado”.
debateu o tema ao longo de quatro anos Na abertura da reunião seguinte, o
e divulgou, em 1978, o Relatório Bel- embaixador disse: “Se vocês quiserem
mont, que levanta os princípios básicos continuar com esse encaminhamento,
da bioética principialista.O palestrante não vamos assinar.” Argentina, Costa
fez parêntese no histórico para condenar Rica e México apoiaram “e fomos
o chamado “duplo standard” ou duplo tomando conta da reunião”. Mudou o
padrão ético de pesquisa com seres direcionamento das coisas. “O artigo
humanos, que os países industrializados “Temos que avançar de uma 14, por exemplo, falava em saúde pú-
“querem enfiar goela abaixo dos países bioética contemplativa e blica, mas como nos EUA saúde não é
pobres”. Se a ética sucumbir a dois pa- direito de todos e dever do Estado, eles
drões de pesquisa, precisaremos fazer
descritiva para uma bioética não queriam a universalidade”, disse
outra bioética, disse. “É muito impor- interventiva e socialmente Volnei. “É questão ideológica; acabou
tante abrirmos bem os olhos porque em comprometida” entrando, mas foi muito difícil”.
órgãos governamentais há formas de ver Nada de imperialismo moral,
essa questão que não são as que o Estado sustentou o professor. E o que é o
brasileiro defende internacionalmente, A Declaração Universal sobre Bioética imperialismo moral traduzido na bio-
ou seja, o padrão único e o controle das e Direitos Humanos tomou dois anos e ética? “Os quatro pontos da bioética
pesquisas”, alertou. meio de debates. “É um documento principialista — autonomia, benefi-
O Ministério da Saúde convocou humanista e democrático, com base cência, não-maleficência e justiça
comissão para rever a Resolução em relatório do italiano Giovanni —, que os países mais experientes
196/96, da Comissão Nacional de Éti- Berlinguer e do filipino Leonardo de teriam o direito moral de exportar”.
ca em Pesquisa (Conep), uma das 15 Castro, mas durante a preparação foi Volnei ressalvou: “Não quero que esse
comissões intersetoriais do Conselho ficando tecnicista... quando nos demos discurso pareça antiprincipialista — os
Nacional de Saúde. A resolução con- conta estava nos moldes dos interesses princípios são bons, mas sabidamente
tém diretrizes e normas de pesquisas do Hemisfério Norte”: medicamentos, insuficientes”, afirmou. “A bioética
envolvendo seres humanos — “ela é patentes, lucro, mercado. Surgiu principialista é anglo-americana, e
boa, mas envelheceu, ficou acanhada então um movimento de resistência. tem que ser vista com cuidado”.
para o tamanho do desafio”, disse “Que, digo com orgulho, foi iniciado Assim, é preciso contextualizar
Volnei. E não pode ser uma comissão aqui na América Latina”. O ministério esse relativismo ético e moral em cada
de técnicos iluminados, mas gente com argentino de Justiça e Direitos Huma- região, em cada cultura. “Temos que
experiência na área: “A resolução tem nos reuniu em novembro de 2004 11 avançar de uma bioética inicialmente
que ser melhor, não pior”. países latino-americanos. Saíram dois neutra, mas contemplativa e descriti-
O professor reclamou da demora documentos, um formal, a Carta de va, para uma bioética crítica, inter-
na votação do anteprojeto de lei ordi- Buenos Aires, e um político, cobrando ventiva e socialmente comprometida”,
nária de criação do Conselho Nacional a pauta social, ambiental e sanitária defendeu. “Isso é a bioética aplicada,
de Bioética, há um ano no Congresso, no debate da bioética. “Em janeiro de no sentido de transformar a realidade
“um entre tantos vazios no Brasil”: a 2005, a reunião de Paris acatou algu- para melhor”. Volnei aproveitou para
França tem o seu desde 1982, a Itália, mas sugestões de Buenos Aires”. anunciar o livro Bases conceituais da
desde 1989, Portugal, desde 1990. Para Depois, em abril, tomou três dias o bioética: enfoque latino-americano
ele, a Lei de Biossegurança (Radis 32) debate sobre o ponto 1 da declaração, (Editora Gaia), que reúne oito con-
é “um monstrengo” que juntou três que definia o conceito de bioética. ferências do seminário Estatuto Epis-
coisas completamente diferentes: o Ficou claro que há não uma bioética, temológico da Bioética, de novembro
funcionamento da Comissão Técnica mas bioéticas, e cada cultura deve de 2004, em Montevidéu (pág. 18). “É
Nacional de Biossegurança (Ctnbio), procurar seus valores. “Não podemos uma tentativa de pensar com nossas
o uso das células-tronco e os transgê- ficar importando acriticamente os dos próprias cabeças, e não com a dos
nicos. “O Executivo não encaminhou outros”. Ficou decidido que não have- outros”, disse. Inclusive a da igreja.
um projeto tão mal trabalhado”, ria definição, “o que para nós foi uma “A bioética não é mais canônica, a
afirmou. “É que o relator era Ney primeira vitória”. Mas os países ricos igreja fazer bioética é complicadíssimo
Suassuna, hoje entre os parlamenta- davam as cartas: os EUA falavam, Japão porque as visões religiosas partem de
res-sanguessugas, que na época até apoiava, Alemanha e China “eram paus- absolutos morais e exigem fé — quando
gaguejava ao falar do tema”, criticou. mandados”, e também Austrália, Reino a bioética é basicamente diálogo”.
RADIS 51 NOV/2006
[ 15 ]
Um estudo para
salvar bebês da Aids
não-medicamentosas como a cesa- De fato, segundo a Agência Fio-
studo internacional que abran- riana eletiva e a substituição do alei- cruz de Notícias, dados do MonitorAids
Iguaçu (Baixada Fluminense); o Grupo ra, o país tornou a notificação e os prazos de encaminhamento das
Hospitalar Conceição — hospitais Con- obrigatória pela Portaria nº 5 de informações devem coincidir com os
ceição e Femina — e o Complexo Hospitalar 21/2/2006, publicada no Diário Ofi- das notificações de Aids.
da Irmandade Santa Casa da Misericórdia cial de 22/2/2006, Seção 1 página Na tabela, o baixo número de no-
(Porto Alegre); a Universidade Federal de 34), conforme a Lei 6.259/75. Para tificações de gestantes soropositivas
Minas Gerais (Belo Horizonte); Universida- que seja efetiva a vigilância epide- no Rio de Janeiro (88 entre janeiro
de Federal de São Paulo e Universidade de miológica, as unidades de saúde de- e junho de 2005, contra 764 em São
Ribeirão Preto (São Paulo). vem notificar mensalmente os casos Paulo, 158 em Minas Gerais e 56 no
O médico José Henrique Pilotto, de infecção de gestantes pelo HIV Espírito Santo) possivelmente confirma
pesquisador do estudo no Hospital à instância municipal responsável, a observação dos pesquisadores de
Geral de Nova Iguaçu, observou que o de onde as informações saem para que no Rio as mulheres vulneráveis
número de gestantes com o vírus HIV as secretarias estaduais e, destas, têm acesso limitado aos serviços de
sem tratamento durante a gestação é para o Ministério da Saúde. Os fluxos prevenção do SUS.
65% mais alto no Rio do que no restante
do país. As cariocas não fazem pré-na-
tal? “É possível que o maior recruta- Gestantes soropositivas (por ano de notificação)*
mento no Rio de Janeiro indique que Região/UF 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Total
um número significativo de mulheres
continue com acesso limitado aos Brasil 734 2.270 4.616 6.895 6.625 2.322 23.462
recursos de prevenção da transmissão
vertical do HIV no sistema de saúde”, Norte 9 18 43 114 215 82 481
observa Valdiléa Gonçalves Veloso. Rondônia 0 0 3 7 10 4 24
serviço
PÓS-T UDO
u
m dos setores mais mal rios) é man tida ; se laboratórios)
resolvi- com seus funcioná co- res po nsá vel pe la adm
dos do país é o de saúde nenhuma
suple- deficitária, é afastada sem de custos. E administra
ini str açã o
mentar. É um caos adm prática da
inistra- contemplação, como é a significa meramente red
r custos não
do por uma porta, a uzir exames,
Nacional de Saúde [Ag Agência Amil, a líder do setor. mas conseguir a melho
ência Nacional Operadoras e seguradoras mais custo-resolutibilidade. O
r combinação
de Saúde Suplementar
] (ANS). organizadas ao menos tentam manter não é curado no primeiro
paciente que
A cadeia produtiva do set admi-
ba planos de saúde, coo or englo- pequenas empresas em grupo, volta pior e mais caro.
atendimento,
perativas mé- nistrando a carteira e não individual- O grande órgão articulad
dicas, hospitais, médic
os, laboratórios mente. Mas nenhuma investe em pro- ria ser a ANS. Caberia a
or deve-
clínicos e laboratórios
farmacêuticos. gramas abrangentes de prevenção, por ciar a unificação dos ban
ele providen-
O setor não se fala, não lé
é solidário na algumas razões, das quais a principa das estatísticas, criar
cos de dados,
administração de custos depo is de inve stir, perd er ratings para
, não compar- o temor de, premiar as boas operad
tilha bancos de dados nem
estatísticas, o cliente para concorrentes. A segunda as más. Mas é um órgão
oras e punir
não valoriza a gestão.
razão é que não adianta uma empresa droso, incapaz de fiscaliza
apático, me-
O resultado é um caos. o
Os médicos atuar em cima da sua clientela, mas de bloquear as dezenas
r e incapaz
prescrevem livremente,
como se fôsse- setor entender o universo de clientes aventureiras que entram
de operadoras
mos um país europeu. Há e saem do
uma lambança como um todo único. mercado a todo momento
em pedidos de exame
, sem avaliação Se o setor fosse minimamente Agora, como passo final
.
adequada da relação cus o
to/eficácia. organizado, a questão da prevençã de sco ord en aç ão , op dessa
Sem estatísticas e sem alhada por todo s os plan os era do ras de
metodo- seria trab planos de saúde começa
logia, os planos se de
fendem da pior de saúde atuando de maneira coorde- verticalizar, a montar
m de novo a
maneira. Na ponta do
cliente pessoa nada. Haveria investimento em uma boratórios, na contramã
hospitais, la-
física, se especializan
do em arrumar infra-estrutura comum, deixando para e do bom senso.
o da história
argumentos para não a
prestar o aten- a competição o que faz a diferenç A única saída, em determ
dimento. Na ponta da final. inado
pessoa jurídica, para o cliente momento, será permitir
Na relação planos-hospitais, ou capital externo, que tra
a entrada de
na página plan os-la bora tóri
os clín icos , have - ga conheci-
; publicado em 19/9/2006 nline. mento para a montagem
* Jornalista ria a com pra ante cipa da de leitos de parcerias
Luis Nassif Onlin e (www.luisnassifo e articulação dos divers
os atores da
blog.uol.com.br/) cadeia produtiva.