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NESTA EDIÇÃO

Rumo à Treze
Canal Saúde abre
espaço interativo
de preparação para
a 13ª Conferência
Nacional de Saúde

Diabetes Nº 59 • Julho de 2007


Doença é a quarta causa Av. Brasil, 4.036/515, Manguinhos
de morte e está mal Rio de Janeiro, RJ • 21040-361
controlada no Brasil
w w w. e n s p . f i o c r u z . b r / r a d i s

Atenção Básica
A saída é botar abaixo
esse muro de obstáculos
(palavra de sanitarista histórico)
Perfil mais Mas você enfrentou um período
difícil...
Não podemos esquecer a conjun-

jornalístico tura política de 1992, logo que assumi


a coordenação, quando o presidente
da República era ainda Fernando
Collor e o ministro da Saúde, Alcenir
Guerra. Acho que conseguimos, nesse
epórter, redator e editor das publica- ano, editar uma única publicação.
R ções Súmula, Tema, Dados e Proposta
a partir de 1987, Álvaro César Nascimento
Não foi por vontade própria, com
certeza, mas porque, na época, a
assumiu em 1992 a coordenação do Pro- Fiocruz sofreu intervenção do governo
grama RADIS — que só deixou em 2001, e, estando o RADIS ligado à presidên-
para ser assessor da Vice-Presidência de cia, além da Ensp, os investimentos
Desenvolvimento Institucional, Informa- desapareceram, impedindo que pu-
ção e Comunicação da Fiocruz. déssemos trabalhar devidamente.
Nascido em Niterói (RJ), formou-se Para completar, veio uma ordem de Brasília dizendo que
em Jornalismo na Universidade Federal Fluminense em 1979 nossas pautas deveriam ser aprovadas pela comunicação
e concluiu mestrado em Saúde Coletiva em 2003 no Instituto social de lá, já que o programa era da Fiocruz que, por
sua vez, era parte do Ministério da Saúde. Mesmo assim,
de Medicina Social da Uerj. Sua dissertação — Ao persistirem
desconsideramos o recado e fizemos esta única publicação
os sintomas o médico deverá ser consultado. Isto é regula-
com o pouco dinheiro que tínhamos.
ção?” — analisa o frágil modelo regulatório da propaganda
de medicamentos no Brasil. Foi pesquisador e redator do Foi a fase mais difícil?
Projeto Descentralização Online, do Departamento de Ciên- Nossas relações com o governo Collor eram muito compli-
cias Sociais (Ensp/Fiocruz), e coordenador do subprograma cadas, mas não foi tão melhor antes dele. Lembro da época do
de Informação e Comunicação em Vigilância Sanitária do governo José Sarney (1985–1990). Eu ainda não tinha assumido
Convênio de Cooperação Técnica entre a Ensp e o Centro de a coordenação, mas presenciei o que acontecia como editor
Vigilância Sanitária (CVS) da Secretaria de Saúde do Estado das publicações. Em 1988, por exemplo, a nova Constituição
do Rio. Desde 2005 coordena a página na internet do Centro aprovou a descentralização do sistema de saúde. O antigo
Colaborador em Vigilância Sanitária (Cecovisa/Ensp). Inamps perderia sua função e, paulatinamente, hospitais e
postos de saúde passariam aos municípios. José Gomes Tem-
Como foi sua chegada ao RADIS? porão (atual ministro da Saúde), pesquisador da Ensp que
Eu trabalhava no jornal O Globo cobrindo matérias era coordenador do Inamps, escreveu um texto para o RADIS
sobre ciência e tecnologia e passei a freqüentar a Fiocruz, sobre isso, dizendo que o Inamps seria tão mais competente
quando então Ary Carvalho (ex-coordenador do RADIS), em no movimento de descentralização quanto mais rapidamente
nome de Sergio Arouca, me convidou para vir trabalhar na fosse extinto. Na época, recebíamos financiamento do Inamps,
Fundação. Assumi a coordenação da comunicação social da que foi imediatamente cortado. Ficamos a pão e água por um
presidência e, na mesma época, recebi um convite para bom período, até que conseguimos recursos da Secretaria de
estudar em Cuba durante quatro meses. Quando voltei, Saúde de São Paulo e da própria Fiocruz.
já fui direito para o RADIS com o objetivo — proposto por
Arouca — de transformar o programa num meio de comu- E como conseguiam dinheiro antes disso?
nicação que traduzisse a concepção e a lógica do projeto Tentamos até na iniciativa privada. Quando Ary (Car-
da Reforma Sanitária. valho) era o coordenador, fui com ele a algumas empresas
que a priori não tinham conflitos de interesse com a saúde.
Qual era a dificuldade maior? Foi um fracasso. Tudo melhorou em 1993, depois da crise do
Precisávamos atingir cada vez mais amplamente a governo Collor, quando a Ensp inseriu os custos do RADIS em
sociedade civil. Não era fácil, com tão poucos recursos. seu orçamento, dando estabilidade ao programa.
Mas conseguimos aumentar de três mil assinantes para 10
mil, depois 20 mil, até chegarmos a 40 mil assinantes. Acho E o espírito da equipe?
que uma outra dificuldade foi convencer principalmente a A equipe merece um destaque especial nesse processo
comunidade acadêmica de que o RADIS precisava de uma de 25 anos. Existia respeito e cumplicidade. Todos vestiam
cara mais jornalística. Alguns criticavam, dizendo que as a camisa da esfera pública. E foi essa cumplicidade que
matérias não aprofundavam o tema como exigia o conheci- ajudou a nos manter nos momentos de crise.
mento acadêmico. Conseguimos superar as críticas, sempre
como apoio da presidência da Fiocruz e da direção da Ensp. Em sua visão, qual é o papel do RADIS?
O RADIS conquistou seu espaço e passou a ser reconhecido, O RADIS sempre teve quatro papéis estratégicos e impor-
sobretudo, pela aproximação com o movimento sanitário e do tantíssimos: o primeiro é a capacidade de traduzir o linguajar
movimento com a sociedade organizada. e a lógica da saúde pública e o ideário da Reforma Sanitária,
de que saúde é o resultado das condições de vida; o segundo, o
Houve mudanças editoriais na sua coordenação? de aproximar a academia dos serviços e vice-versa; o terceiro
Não houve grandes mudanças. Editorialmente, sem- é afirmar que tem um lado, o da Saúde Pública; e o quarto é
pre deixamos claro que a nossa camisa era a do setor ser provocador, ou seja, questionar e refletir o que a princípio
público, independentemente de governos mais à direita, está estabelecido. Cumprir esses papéis e ser contemporâneo
mais à esquerda ou mais ao centro. Essa sempre foi a cara como sempre foi o RADIS é um grande desafio em um país que
reconhecida e assumida do RADIS. muda lentamente. (K.M.)
editorial
Nº 59 • Julho de 2007

Muralhas de Jericó
rouca trouxe Ary, que convidou Álvaro alemães contra os alemães, dos estaduni-
A — como registra o depoimento ao lado —,
que chamou Marcus Barros Pinto e ambos
denses contra os mexicanos, dos israelenses
contra os palestinos.
me fizeram vir para o RADIS. Éramos colegas Mas uma imagem das histórias bíblicas Comunicação e Saúde
de redação de O Globo e agora tínhamos que minha mãe contava sempre ficou na • Perfil mais jornalístico 2
nova missão: fazer jornalismo pela saúde minha cabeça: o mito, a idéia de que as
pública. Álvaro disparava sua crítica mordaz enormes muralhas que protegiam uma ci-
e Marquinhos — posteriormente editor-chefe dadela, Jericó, pudessem ruir pelo efeito do Editorial
do Jornal do Brasil, antes da decadência (do som das trombetas das tribos unidas, guiando • Muralhas de Jericó 3
JB, é claro!) — tecia seu texto brilhante e o grito forte e aberto dos homens comuns.
bem-humorado, enquanto eu iniciava nossas “Tocando-se longamente a buzina de carnei-
grandes reportagens nos estados e municí- ro, ouvindo vós o sonido da buzina, todo o Cartum 3
pios. Enquanto você lê este editorial, novos povo gritará com grande grita: e o muro da
repórteres da revista Radis preparam “a cidade cairá abaixo, e o povo subirá nele,
volta” ao cenário de duas dessas antológicas cada qual em frente de si”, narra a tradição Cartas 4
matérias. Mas isso é assunto para a edição hebraica. Como poderia um sistema sólido de
comemorativa de agosto. A propósito, quem obstáculos articulados ceder apenas ao som
estiver no Rio na tarde do dia 22 de agosto dos clarins e ao sentido das vozes roucas e
está convidado. Vamos celebrar nossos 25 incansáveis? Que poder é esse, o da vontade
Anos refletindo sobre pensamento e práxis proclamada? Como poderia o sentido das Súmula 7
em duas fundamentais conferências: sobre palavras mover ou fazer mover o estabele-
Comunicação, fala Muniz Sodré, e sobre cido, as barreiras? Nunca entendi, mas não
Saúde, Gastão Wagner. desacreditei. De alguma forma, essa dúvida e
Nesta edição, destacamos debates o desejo me fizeram repórter, jornalista.
entre renomados sanitaristas realizados na Quando vejo o gigantismo do sistema
Ensp/Fiocruz sobre a Estratégia de Saúde da de doença implantado durante séculos no Toques da Redação 9
Família. O que seria um aprofundamento nas Brasil, suas raízes determinantes, suas
características da Atenção Básica em Saúde no velhas barreiras oligárquicas e as novas
Brasil — “há tantas atenções básicas quanto as plutocráticas, a argamassa das resistên- Sala de convidados
realidades regionais e microrregionais, das pe- cias do mercado e das corporações, as • Programa do Canal Saúde tira
riferias urbanas à saúde indígena”, iniciou um muralhas que obstaculizam os avanços dúvidas sobre a conferência 10
palestrante — tornou-se um impressionante desafiadores da Saúde que requerem
exame de todos os problemas, obstáculos e transformações e dos mais sutis, que im-
estratégias desviantes que conformam hoje plicam apenas o trato mais humano, me Radis adverte 10
uma grande e densa muralha, que determi- pergunto o que faz alguém acreditar numa
na os insucessos, salvo raras exceções, da Reforma Sanitária. Penso no que torna Diabetes
Atenção Básica e, para alguns, até do próprio alguém um sanitarista e que som têm seus • Controle ainda é baixo
Sistema Único de Saúde. Surpreendeu (ou clarins e que sentido têm suas palavras no Brasil 11
não) o alto grau de autocrítica e desilusão. para demover as novas muralhas.
Mas, também, de indisfarçável esperança.
A humanidade erigiu muitos muros. Rogério Lannes Rocha Debates na Ensp/Fiocruz
Dos chineses contra os povos do Norte, dos Coordenador do Programa RADIS • A dívida com a Atenção Básica 12

Serviço 18
Cartum
MOÇO,
O QUE O SENHOR
TÁ FAZENDO? EU TÔ
PRENDENDO O
Pós-Tudo
MUNDO DO LADO
DE FORA. • Que vida? 19

Capa e ilustrações Aristides Dutra (A.D.)


Foto da capa www.mayang.com/textures/

A.D. Ilustrações Cassiano Pinheiro (C.P.)


RADIS 59 • JUL/2007
[ 4 ]

cartas

PÓS-TUDO SIM beleza e a qualidade do conteúdo, Saúde, pode dizer (com base no
principalmente nas notas Toques da título e na conclusão) que é a favor
Redação “Propaganda 1, 2 e 3” e do da descriminalização do aborto para
artigo de Sonia Fleury, com o título prevenir. O profissional de saúde
“Aborto: descriminalizar para pre- vende serviços para a saúde, para a
venir”, em que a autora consegue vida, para uma melhor qualidade de
provocar profunda reflexão sobre o vida. Saúde, vida e qualidade de vida
tema. Como militante de movimento são antônimos de aborto. Somente
religioso afro-brasileiro e diretor de discutir razões ou rever decisões
um periódico, sempre fiz campanha não isenta do ato que possivelmente
com os seguintes dizeres: “Mãe, diga será gerado depois (o aborto). Que
sim à vida e não ao aborto!”, e vi no tal, pegando um gancho da fala da
artigo uma forma eficaz de encami- ministra do Meio Ambiente, Marina
nhar a discussão do tema. Silva, pensarmos: “Nós nos centra-
• Paulo Mendonça, Rio de Janeiro, mos em nossos direitos, e não nos
diretor-geral do Real Notícias e idea- das futuras gerações”.
lizador da Mídia Comunitária • Vilton Cordeiro de Souza

PÓS-TUDO NÃO AINDA A TRANSIÇÃO NUTRICIONAL


A.D.

reio que tudo na imprensa tem lá, colegas! Sou (primeiro e

ive acesso à Radis na 8ª Con-


C um propósito. Quase não con-
segui terminar de ler o Pós-Tudo da
O único) nutricionista da Secre-
taria de Saúde de Araraquara/SP,
T ferência Distrital de Saúde da
AP3 (Paciência, Santa Cruz e Se-
Radis nº 58. Não acreditava no que
estava lendo. Sei que o texto foi ali
município com quase 200 mil habi-
tantes. Como assinante, fi co exul-
petiba/Rio de Janeiro), da qual colocado para a reflexão de cada tante quando recebo meu exemplar
fui o mestre de cerimônia, e fiquei profissional e não posso entender e nele encontro informações sobre
muito satisfeito com a dinâmica e como um profissional de saúde, ou o escopo de minha profissão. Qual
o conteúdo expostos nas edições mesmo a autora do texto, presidente não foi minha surpresa, entretanto,
56 e 58. Felicito toda a equipe pela do Centro Brasileiro de Estudos de ao me deparar, na seção Cartas da
edição nº 58 (junho/07), com o texto
de Cláudia Kamel, mestre em Ensino
em Biociências e Saúde.
expediente Ao comentar o lançamento, pela
CGPAN/Ministério da Saúde, do Guia
Alimentar para a População Brasilei-
Edição Marinilda Carvalho ra, ela se diz “(...) perplexa em cons-
Reportagem Katia Machado (subeditora), tatar que as ações para a população
Adriano De Lavor e Bruno Camarinha
Dominguez ainda estejam totalmente voltadas
Arte Aristides Dutra (subeditor) e Cassia- para o cidadão de classe média,
RADIS é uma publicação impressa e on-
line da Fundação Oswaldo Cruz, editada no Pinheiro (estágio supervisionado) pois os das classes mais populares
pelo Programa RADIS (Reunião, Análise e Documentação Jorge Ricardo Pereira, ou aqueles situados abaixo da renda
Difusão de In for ma ção so bre Saú de), Laïs Tavares e Sandra Suzano mínima mensal não podem (apesar
da Es co la Na ci o nal de Saú de Pú bli ca Secretaria e Administração Onésimo de muito desejarem) sequer pensar
Sergio Arouca (Ensp). Gouvêa e Fábio Renato Lucas em adotar nenhuma das propostas
Periodicidade mensal Informática Osvaldo José Filho e Gabriel sugeridas por tal guia”.
Tiragem 56.000 exemplares Bittencour Cardoso (estágio supervi-
sionado) Não posso concordar com ela — e
Assinatura grátis
(sujeita à ampliação do cadastro)
devo extravasar minha indignação com
Endereço esse, ao meu ver, ponto de vista equi-
Presidente da Fiocruz Paulo Buss Av. Brasil, 4.036, sala 515 — Manguinhos
Diretor da Ensp Antônio Ivo de Carvalho vocado da referida missivista (que,
Rio de Janeiro / RJ — CEP 21040-361
Tel. (21) 3882-9118
parece, quer comida de pobre para
Ouvidoria Fiocruz pobre). Tenho como premissa profissio-
Telefax (21) 3885-1762 Fax (21) 3882-9119
Site www.fiocruz.br/ouvidoria E-Mail radis@ensp.fiocruz.br nal (explicitada no Código de Ética dos
Site www.ensp.fiocruz.br/radis Nutricionistas) o compromisso de “(...)
PROGRAMA RADIS
reorganizar as propostas nutricionais
Coordenação Rogério Lannes Rocha Impressão
que tivessem em mente o brasileiro
Subcoordenação Justa Helena Franco Ediouro Gráfica e Editora SA
comum, de baixa renda” (nos termos
em que Cláudia Kamel se expressou).
USO DA INFORMAÇÃO — O conteúdo da revista Radis responsáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos
pode ser livremente utilizado e reproduzido em aos veículos que reproduzirem ou citarem conteúdo Por isso, quando ela pergunta se “(...)
qualquer meio de comunicação impresso, radiofôni- de nossas publicações que enviem para o Radis um estaria de fato o governo federal ge-
co, televisivo e eletrônico, desde que acompanhado exemplar da publicação em que a menção ocorre, as
dos créditos gerais e da assinatura dos jornalistas referências da reprodução ou a URL da Web. nuinamente interessado na melhoria
RADIS 59 • JUL/2007
[ 5 ]

da qualidade de vida de todos os Saúde da Família (PSF), já que é o DENGUE EM MS


brasileiros de forma equânime, geral único profissional habilitado para
e irrestrita?”, ouso dizer, com base nos prescrever a dietoterapia qualita- ou estudante do quarto ano de En-
esforços da CGPAN/MS (entre os quais,
a elaboração do Guia), que, sim — o
tiva e quantitativamente adequada
e individualizada no tratamento
S fermagem da Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul e assinante da
governo busca melhorar a qualidade de de várias patologias, entre elas, as Radis. Quero levá-los a refletir sobre
vida dos brasileiros, de forma equâni- “campeãs de audiência”: dislipide- o comentário do ex-ministro Agenor
me, geral e irrestrita. mias, obesidade, diabetes, hiper- Álvares (Radis 55, Súmula), de que os
Toda reflexão é bem-vinda, por tensão, cardiopatias e distúrbios municípios afrouxam na fiscalização.
isso a manifestação me instigou a es- carenciais. O governo, levando em Moro em Três Lagoas por causa da
crever este texto. Aqui, preciso me conta a redução dos gastos em me- faculdade e atuo como voluntário no
socorrer da carta vizinha à da Cláu- dicamentos e serviços de saúde com PSF da Vila Paranapungá, e acompa-
dia, escrita por Wanessa Françoise uma população devidamente orienta- nho de perto a situação da doença em
da Silva Aquino, nutricionista de Juiz da nutricionalmente, já deveria ter nosso município.
de Fora/MG. Como bem salientou posto o nutricionista como integrante Não sou simpatizante de política
Wanessa, “Há de se sensibilizar nos- obrigatório das equipes. nem filiado a partido, mas sou obri-
sos gestores para que percebam que Espero que esse despertar seja gado a reconhecer que a prefeita de
a transição nutricional é problema gradual e envolva toda a sociedade, nossa cidade faz um bom trabalho no
de saúde pública que precisa de os profissionais de saúde e as autori- combate à dengue. Ela pediu ajuda
investimentos em recursos humanos dades competentes. Parabéns à Radis a moradores, agentes comunitários,
e financeiros”. E aproveito para lhes e espero que outras matérias relevan- auxiliares e técnicos de enfermagem,
falar um pouco do meu cotidiano tes sobre alimentação e saúde sejam enfermeiros, médicos e uniu-os em
profissional. abordadas posteriormente. mutirão para limpeza de terrenos
Atuo no âmbito das Unidades • Raquel Bezerra Barbosa, nutricionis- baldios e quintais; chegou até a
Básicas de Saúde desenvolvendo pro- ta em Serra Branca, Brejo do Cruz e ameaçar com multa quem não man-
cessos de educação nutricional e orien- São José do Brejo do Cruz, PB tivesse a limpeza. Ficou mesmo na
tação alimentar. A clientela — usuários ameaça, pois como penalizar finan-
do SUS — se compõe de diabéticos, PAC SEM SAÚDE ceiramente moradores que recebem
hipertensos, gestantes, obesos e be- salário mínimo? A prefeitura borrifa
neficiários do Programa Bolsa-Família. inseticida em dias pré-determinados
O Guia e todas as demais publicações e não deixa faltar nas unidades de
da CGPAN são muito pertinentes para saúde os medicamentos para o tra-
o meu trabalho — e cabe a mim tornar tamento paliativo.
suas recomendações compreensíveis O problema é que solo e clima
para essa clientela atendida. Portanto, de nossa região são propícios à proli-
amiga Cláudia, não gastemos munição feração do vetor, o que se reflete no
em alvo errado — e treinemos nossa aumento de casos. Quando há um de-
pontaria. Saudações! clínio no número dos casos, podemos
A.D.

• Gilmar de Souza Pinto, Araraquara, SP associar ao ciclo de vida do mosquito,


que é relativamente curto; mas, basta
termos chuva que subirá o número de
uero parabenizar a Radis nº
Q 56 pela brilhante matéria “Um
padrão bem pouco saudável”, que
vetores e novos casos surgirão.
• Ademir Santana, Três Lagoas, MS

abordou de forma clara diversas NO RADIO


questões importantes, como distúrbios
alimentares e transição nutricional. enho o privilégio de receber a
Felizmente, já existe um despertar
para a fundamental relevância da ali-
T Radis, que tanto me auxilia na
profissão. A revista vira notícia nas
mentação e da educação nutricional na m tour pelo Brasil, assim defino
infância, pela atual obrigatoriedade de
contratação do profissional nutricionis-
U minha leitura da Súmula desta
revista. Vocês sempre me impressio-
rádios locais, pois transmito as infor-
mações em entrevistas. É desta forma
que devemos trabalhar educação em
ta nos municípios, como responsável nam com a densidade e a qualidade saúde no Brasil.
técnico do Programa Nacional de Me- do conteúdo. Não é de se espantar • Joânio Lopes Martins, enfermeiro,
renda Escolar. Acredito que, seguindo que matérias como “Previdência: a Serra Branca, PB
essa tendência, a implementação da falsa crise?”, publicada na Radis nº 43,
Educação Nutricional como disciplina apresentada na Súmula da revista, PSF E MUITO AMOR
básica do Ensino Fundamental seria seja reportagem de capa em edições
ferramenta poderosa na prevenção posteriores, como acontece na Radis ou assinante do RADIS há muitos
de distúrbios alimentares e doenças
crônicas de grande prevalência na
nº 48, intitulada “Que crise é essa?”
Gostaria de ver reportagem sobre a
S anos e adoro a revista. Sou enfer-
meira de PSF no município de Monte
atualidade, como diabetes, hiperten- não-inclusão dos profissionais de saúde Carmelo. Comecei um trabalho de
são e obesidade, pois alimentação se no Programa de Aceleração do Cres- alongamento, em princípio com pes-
aprende, e os hábitos alimentares são cimento. Seria possível crescer sem soas da 3ª idade. Começamos com 15
formados na infância. investimento no setor Saúde? pessoas da área do PSF, duas vezes
Outro ponto importante é a pre- • Matheus Vieira Alves, estudante de En- por semana. Os resultados da terapia
sença do nutricionista no Programa fermagem, Visconde do Rio Branco, MG começaram a surtir efeitos benéficos
RADIS 59 • JUL/2007
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e a novidade a se espalhar. Hoje temos AGENTE DE ENDEMIAS “Aqui nós somos seres humanos”
três sessões por semana, com média de (Radis nº 57), assunto que sempre
freqüência de 150 pessoas da cidade enhores, não sou funcionário públi- merece debate para que a população
inteira, de todas as idades, com os
mais diversos problemas.
S co municipal, mas foi o que indiquei
no cadastro do RADIS por falta de
conheça a aplicação dos Direitos da
Criança e do Adolescente.
Da depressão a limitações de opção no quadro de profissão — o mais • José Luiz Gripp, Nova Friburgo, RJ
movimentos, as pessoas relatam o próximo do meu trabalho que encon-
quanto conseguiram melhorar. Nas au- trei. Sou agente de endemias, só que
las há um pouco de tudo: relaxamento o serviço é terceirizado. Reconheçam SENSIBILIDADE NO SUS
com música, terapia da convivência essa categoria, por favor. Obrigado.
em sociedade e melhora da auto-es- adastrei-me no sistema para rece-
tima, tendo como único objetivo o de
sermos felizes com os problemas que
• José Evilardo Carneiro, Amontada, CE

Caro José Evilardo, o RADIS reconhe-


C ber a Radis devido ao meu grande
interesse pelos assuntos publicados.
temos. A cada testemunho me emo- ce, é claro. O programa de computa- Sou instrutora de ioga e estudante do
ciono por pensar que com um ato tão dor que usamos no cadastro é que não 6º período do curso de Educação Física
pequeno podemos fazer muito pelas detalha cada categoria, mas vamos e acredito no processo de humaniza-
pessoas. São testemunhos verdadeiros tentar adaptá-lo. ção do atendimento. Meu trabalho de
de cura de depressão, melhora na conclusão de curso será relacionado à
qualidade de vida, elogios dos médi- EXTRACURRICULAR Saúde Pública: pretendo desenvolver
cos etc. Mas o que mais me emocionou um tema relacionado à sensibilidade.
foi o caso de um senhor de 80 anos, ou formado em Biologia, pós- • Valéria Werneck, instrutora de ioga,
que disse que não conseguia calçar
a meia sozinho, dependia sempre de
S graduado no ensino de Ciências
Biológicas e atualmente estou
Juiz de Fora, MG

alguém que o fizesse. Hoje, graças ao cursando o quarto período de Far- RECICLAGEM
alongamento, faz isso sozinho. mácia, onde tive a oportunidade de
Gostaria de convidá-los a co- omo sempre, a cada edição esta
nhecer nosso trabalho e se possível
divulgar entre as outras equipes de PSF
conhecer, por meio de uma profes-
sora, a revista Radis. Gostaria de
agradecer, já que acabei de receber
C revista fica melhor. Parabéns! For-
midável a iniciativa da química Janete
que se pode fazer muito, com pouca meu primeiro exemplar. Essa revista Duarte no gerenciamento do lixo (Radis
atitude, sem custo, sem exageros, tem grande importância para os lei- nº 56). Isto é reciclar idéias. Se o homem
somente doando muito amor. tores da área de saúde. Mostra-nos soubesse que poluiria o planeta, recicla-
• Mirian Bovi Borba, UBS/PSF-4, Bairro conhecimentos que não são passa- ria as idéias! Vale a pena este trabalho,
do Carmo, Monte Carmelo, MG dos aos alunos na graduação, por com todo o processo de pré-reciclagem
não estar incluída no currículo. (esterilização, banhos, esterilização).
EDUCAÇÃO E TORMENTOS • Flaviano F. de Lima Silva, João Al- Vale a pena apenas para o INCQS, por
fredo, PE ser um laboratório, ou para qualquer
stou cursando Pedagogia e con- instituição de saúde? Artigos sobre a
E sidero Psicologia uma disciplina
polêmica. Lendo a coluna “Transtorno
DIREITOS DA CRIANÇA inter-relação saúde e meio ambiente de-
veriam existir com maior freqüência.
obsessivo compulsivo cresce no mun- • Vilton Cordeiro de Souza, Itape-
do” (Radis n° 55), observei que alguns runa, RJ
fatores podem contribuir para o TOC,
como educação baseada em padrões Prezado Vilton, a iniciativa vale para
rígidos, carências afetivas, ausência todos, basta adaptar-se o material.
de limites. É uma reflexão para todos
que, de certa forma, contribuem para ALÔ, BRASILIENSES
a educação do ser humano, pois temos
o “poder” de fazê-la ser um momento ostaria de saber se existe alguma
inesquecível ou torná-la um contínuo
tormento na vida. Parabéns à equipe,
G instituição que trabalhe com re-
aproveitamento de garrafas de vidro
sucesso para vocês! aqui em Brasília/DF. Estou precisando
• Mariza Rückert, Joinville, SC de garrafas para levar adiante um pro-
jeto elaborado com os alunos e sem as
CAMPEÃO OLÍMPICO garrafas não será possível. Conto com
a ajuda de vocês.
ostaria de agradecer a divulga- • Cristiane Prados, professora primá-
G ção da 3ª Olimpíada Brasileira
da Saúde e Meio Ambiente (Radis nº
ria, Brasília

51), quando tomei conhecimento do


NORMAS PARA CORRESPONDÊNCIA
evento e pude participar. Fui vencedor onheci a Radis por um amigo
da Regional Minas/Sul na modalidade
Produção Literária, e agora estou
C assinante, pela matéria sobre o
Conselho Tutelar (Radis nº 44). Na
A Radis solicita que a correspondência
dos leitores para publicação (carta,
embarcando para o Rio representando época terminava meu segundo man- e-mail ou fax) contenha identificação
minha regional na final olímpica. Espe- dato como conselheiro tutelar e co- completa do remetente: nome, en-
ro vocês na cobertura deste fantástico ordenador dos Conselhos Tutelares da dereço e telefone. Por questões de
evento. Até breve! Região Serrana Fluminense, encerra- espaço, o texto pode ser resumido.
• Luiz Gabriel Barboza, Nova Olímpia, PR do em março/2004. Ressalto também
RADIS 59 • JUL/2007
[ 7 ]

Súmula

senvolvimento Tecnológico da EPSJV, medicamentos, como o licenciamento


MALÁRIA EM SÃO PAULO as principais tendências identificadas compulsório. Rejeitada pelos Estados
nessa pesquisa foram: uma signifi- Unidos, que abandonaram a votação, a
estado de São Paulo registrou 57 cativa ampliação da capacidade de proposta acabou aprovada pela maio-
O casos autóctones da forma mais
branda da malária (provocada pelo
descentralização de cursos das ETSUS;
e um aumento do número de cursos
ria dos integrantes da OMS, especial-
mente dos países em desenvolvimento.
Plasmodium vivax) desde o último técnicos acompanhado pela diminui- Segundo o texto, os direitos de patente
trimestre de 2006, na capital e ção dos cursos de formação inicial. não podem se sobrepor aos interesses
em outras cinco cidades (Bertioga, da saúde pública.
Juquitiba, Pedro de Toledo, São A resolução também abre espa-
Sebastião e Ubatuba). O número é O BRASIL NA 60ª ASSEMBLÉIA MUNDIAL ço para a criação de um sistema de
quase sete vezes maior do que o de pesquisa e desenvolvimento na saúde
2004 (8), e duas vezes maior do que que diferencie o preço das invenções
o de 2005 (24). Desde 1993, o esta- do preço dos produtos. “Pede-se à
do não ultrapassava os 30 casos. O comunidade internacional que asse-
Centro de Vigilância Epidemiológica gure disponibilidade e acessibilidade,
da Secretaria da Saúde afirmou que a preços razoáveis, de remédios,
não há motivo para alarme. vacinas e kits-diagnóstico de boa
Segundo Maria de Fátima Ferrei- qualidade”, diz o texto.
ra da Cruz, chefe do Laboratório de Foi ainda acordada resolução
Pesquisas em Malária da Fiocruz, o preparando todos os países para uma
problema é que muitos profissionais de ameaça de pandemia de gripe, com
saúde confundem os sintomas da ma- solicitação à OMS de uma reserva in-
lária com os da dengue, o que atrasa o ternacional de vacinas contra o vírus
início do tratamento. “É fundamental H5N1 e outros vírus de gripe poten-
que perguntem ao paciente por quais cialmente pandêmicos; também se
estados passou nos 15 dias anteriores”, pede aumento do acesso a tratamentos
diz. Caso o indivíduo tenha estado em contra a malária, que mata 1 milhão
área endêmica, recomenda-se que de pessoas a cada ano — mortes que
faça exame parasitológico. Maria de poderiam ser evitadas —, além de re-
Fátima também sugere que seja evi- forço das ações de erradicação do vírus
C.H.

tado o contato com o vetor, usando re- da poliomielite no mundo e redução do


pelente e roupas compridas ao entrar risco de propagação internacional.
60ª Assembléia Mundial da Saúde
em matas fechadas, principalmente na
Amazônia Legal. A (AMS), ocorrida entre 14 e 23 de
maio em Genebra, na Suíça, reunindo REDUÇÃO DE DANOS NA BERLINDA
representantes dos 193 países-mem-
REUNIÃO ESCOLAS TÉCNICAS SUS bros da Organização Mundial da Saúde diretora do Programa Nacional de
DAS

Rede de Escolas Técnicas do SUS


DO
(OMS), entre eles o Brasil, tratou de
temas como gripe aviária, combate à
A DST e Aids, Mariângela Simão, e a
coordenadora de DST e Aids do Esta-
A (RET-SUS) pela primeira vez depois
das eleições estaduais do ano passado,
malária, controle da tuberculose e da
leishmaniose, destruição dos estoques
do de São Paulo, Maria Clara Gianna,
divulgaram nota de esclarecimento à
quando algumas ganharam novos ges- do vírus da varíola, erradicação da imprensa sobre a polêmica causada pelo
tores, se reuniu para a sua 6ª reunião poliomielite, uso racional de medica- panfleto “Tenho orgulho e me cuido”,
geral, entre 25 e 27 de abril em Vila mentos, redução de danos provocados produzido pela Associação da Parada do
Velha no Espírito Santo. O encontro pelo uso do álcool e desafios da saúde Orgulho GLBT de São Paulo. O material,
tratou das diretrizes da educação pro- em um mundo globalizado. Outro tema baseado na estratégia de redução de
fissional em Saúde, do Pacto de Gestão tratado foi a construção de um plano de danos, foi considerado “incentivo ao
do SUS e do Programa de Integração da ação global contra o câncer. Afinal, de crime”, na opinião do delegado Wupps-
Educação Profissional ao Ensino Médio acordo com dados da OMS, dos 58 mi- lander Ferreira Neto, do Denarc de São
na Modalidade de Educação de Jovens lhões de mortes em 2005, 7,6 milhões Paulo, como noticiou O Globo em 8/6.
e Adultos (Proeja). — ou seja, cerca de 13% — foram causa- O policial se referia a frases do tipo
Foram também apresentados os dos por câncer. E mais de 70% de todos “Compartilhe a droga, nunca o material
resultados da pesquisa “Diagnóstico os casos fatais ocorreram nos países a ser usado” ou “Para cheirar [cocaína],
das Escolas Técnicas do SUS (ETSUS)”, pobres ou em desenvolvimento. prefira um canudo a notas de dinheiro”.
encomendada à Escola Politécnica de Na área de inovação e proprie- No mesmo dia, a organização da parada
Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fio- dade, o Brasil conquistou importante suspendeu a distribuição dos panfletos,
cruz) pela Secretaria de Gestão do vitória. O país propôs que a OMS enfatizando que não apóia nem estimula
Trabalho e da Educação na Saúde do preste assistência técnica e norma- o uso de entorpecentes.
Ministério da Saúde. Segundo Isabel tiva às nações que desejem recorrer Na nota oficial, Mariângela e Ma-
Brasil, vice-diretora de Pesquisa e De- a medidas que ampliem o acesso a ria Clara reiteram que “a estratégia de
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[ 8 ]

redução de danos é comprovadamente ajuda a produzir alimentos e bebidas mento de interesse público, conforme
eficaz, do ponto de vista de saúde consumidos no mundo, como cereais, Portaria 886/2007, publicada no Diário
pública”. Desde que passou a ser cacau, café, frutas, cana-de-açúcar, Oficial do dia seguinte. Ao laboratório
adotada pelo Ministério da Saúde, em arroz, tabaco e vegetais, além de foi dado ainda um prazo de sete dias
1994, ressaltam, observa-se uma forte gado e algodão. para que apresentasse nova proposta.
mudança no perfil da epidemia da Aids Dados da OIT, com base na Pesqui- Em 27/4, a empresa propôs, em fax,
no Brasil. Em 1994, 21,4% dos casos de sa Nacional por Amostra de Domicílios redução de 30% no preço do Efavirenz.
aids notificados no país tinham relação (Pnad/IBGE), mostram ainda que em A proposta foi recusada pelo Ministério
direta ou indireta com o uso de drogas nosso país, depois de 14 anos conse- da Saúde por ser insuficiente e não-
injetáveis. Em 2006, essa relação foi de cutivos de queda, o trabalho entre 5 e adequada ao mercado internacional.
9,8%. O documento informa ainda que 15 anos voltou a subir. Em 2004, eram O presidente do laboratório no Brasil
no período o número de casos da do- 2,77 milhões de crianças trabalhadoras omitiu ainda que no dia 3/5 (véspera
ença em usuários de drogas injetáveis nessa faixa etária, contra 2,93 milhões do licenciamento compulsório) fez
caiu em 70% e que a política brasileira em 2005. Ou seja, o percentual subiu nova proposta em que reduziria em
está de acordo com a Sessão Especial de 7,33% para 7,80%. A situação é ainda 5% o preço do Efavirenz a cada grupo
das Nações Unidas sobre HIV e Aids, pior no Piauí, onde trabalham 116.600 de 5 mil pacientes. O governo brasi-
que definiu a estratégia de redução de crianças, ou 17,11% da população en- leiro mais uma vez repudiou a idéia
danos como prioritária no enfrenta- tre 5 e 15 anos. e afirmou na data que não poderia
mento da epidemia. A nota esclarece Em relatório, a OIT lembra que tratar do assunto com a mesma lógica
que alguns termos utilizados no folheto essas crianças estão mais expostas a de um artigo comercial ou um pro-
são adaptações dos manuais de redução riscos e que isso limita as possibilidades grama de milhagem para fidelização
de danos e que, “em hipótese alguma, de acesso a uma educação adequada de clientes.
podem ser considerados como incentivo e, conseqüentemente, as esperanças A decisão do presidente da Re-
ao uso de drogas”, confirmando, no en- de um futuro melhor. “O problema se pública em declarar o licenciamento
tanto, o apoio à decisão “de suspender agrava porque muitos trabalhadores compulsório só ocorreu depois que
a distribuição do material, até que seja infantis agrícolas pertencem a famílias foram esgotadas as possibilidades de
avaliado tecnicamente”. rurais que constituem os dois terços negociação. A nota ressalta que esta
mais pobres do mundo”. é uma medida legal prevista tanto na
legislação internacional quanto na
OIT DENUNCIA TRABALHO INFANTIL nacional, com pagamento de royalties
A POLÊMICA EM TORNO DO EFAVIRENZ ao detentor da patente. No caso em
questão, o governo federal chegou
Foto: OIT/Divulgação

m 4/5, o presidente Luiz Inácio Lula ao valor de 1,5% para pagamento ao


E da Silva assinou decreto oficiali-
zando o licenciamento compulsório
titular da patente.

do anti-retroviral Efavirenz, produzido


pelo Laboratório Merck Sharp & Dohme REGRAS PARA ANTICONCEPCIONAL GENÉRICO
(Radis 58). Em entrevista à revista
Veja de 12/5, o presidente da divisão ntrou em vigor, em 6 de junho,
latino-americana da empresa, Tadeu
Alves, alegou falta de negociação en-
E a resolução da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa)
tre o governo brasileiro e o laboratório que regulamenta a fabricação de
quanto ao preço do medicamento. Em anticoncepcional oral genérico e
repúdio às declarações, no mesmo dia, permite que os laboratórios solici-
o Programa Nacional de DST e Aids e tem o registro do medicamento. A
a Secretaria de Vigilância em Saúde versão genérica do anticoncepcional
publicaram nota explicando como se oral foi liberada em março deste
deu esse processo. ano pela RDC nº 16. A medida pode
Resumidamente, informaram o representar para as consumidoras
programa e a secretaria, as negocia- uma economia de pelo menos 35%,
ções com o laboratório começaram informou a Anvisa. É possível tam-
em novembro de 2006 e continuaram bém fazer pedidos de registro para a
m dia antes do Dia Mundial contra por mais de cinco meses. Foram várias produção de genéricos de hormônios
U o Trabalho Infantil (12 de junho),
a Organização Internacional do Tra-
reuniões em que a Merck Sharp & Do-
hme afirmava conceder apenas 2% de
endógenos de uso oral, utilizados em
terapias de reposição hormonal.
balho (OIT) denunciou números alar- desconto sobre o último preço pago Segundo dados da Pesquisa Nacio-
mantes de meninos e meninas que pelo Ministério da Saúde (US$ 1,54 por nal sobre Demografia e Saúde (PNDS),
realizam tarefas agrícolas em campos comprimido de 600mg), sem nenhuma realizada em 1996, a pílula é o segundo
e plantações de todo o mundo: mais contraproposta que pelo menos se método anticoncepcional mais utiliza-
de 130 milhões, ou seja, 70% das aproximasse do valor reivindicado pelo do pelas brasileiras. Em primeiro lugar
crianças trabalhadoras. No Brasil, Ministério, que era o de US$ 0,65 — o está a laqueadura das trompas.
são 1,2 milhão de crianças — o maior valor cobrado à Tailândia.
número da América do Sul. Os dados, Em 24/4, na última reunião entre
apresentados pelo jornal O Globo em os interessados, quando o laboratório SÚMULA é produzida a partir do acompa-
12/6, revelam que a maioria dessas continuou insistindo na oferta de redu- nhamento crítico do que é divulgado na
crianças que estão na agricultura ção de 2%, o ministro da Saúde, José mídia impressa e eletrônica.
tem entre 5 e 14 anos e seu trabalho Gomes Temporão, declarou o medica-
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[ 9 ]

veterano repórter Fontes Fidedignas, pode chegar ao país todo, é que os jo-
que foi apurar e constatou que vários vens repassem as informações à família
países proíbem este tipo de propa- e à comunidade, diz Chao Lung Wen,
ganda — França, Dinamarca, Suíça, coordenador de telemedicina da Facul-
PROPAGANDA E DESINFORMAÇÃO Suécia, Noruega, Índia —, enquanto dade de Medicina da USP e do Projeto
— Tarefa hercúlea o combate à pro- outros a restringem: Itália, Portugal, Jovem Doutor (www.saudetotal.com/
paganda de bebidas alcoólicas. Que o Espanha, Argentina, Chile, México. jovemdoutor/projeto.aspx). “Acima
diga o ministro da Saúde, que “ousou” “Países sérios”, resume Fontes. de tudo é um trabalho de melhoria das
criticar artistas que participam desses condições de vida”.
anúncios — “uma coisa dramática”, ALÔ, UNIVERSITÁRIOS — Um grupo de
disse. A cantora Alcione chamou o 37 alunos de Tatuí (SP) está recebendo QUANTIDADE & QUALIDADE — Há
ministro de “patético” e afirmou que treinamento de estudantes das áreas mais de 70 instituições testando vaci-
“a cerveja é dos males o menor”. Zeca de saúde da USP em hábitos saudáveis nas contra o HIV nos Estados Unidos.
Pagodinho mandou o ministro cuidar e noções de prevenção de doenças fa- Ciência é como futebol: quanto maior
dos postos de saúde. “Impressionante cilmente evitáveis, informou O Estado a oferta de jogadores melhor o resul-
a desinformação”, espantou-se nosso de S.Paulo de 14/5. A (boa) idéia, que tado para o país.

MORRINHO EXPORTAÇÃO — Causou impacto na 52ª Bienal de Ve-


neza, uma das mais famosas mostras de arte do mundo, a réplica
miniaturizada da favela carioca do Pereirão (Radis 13). O projeto
“Morrinho” original começou em 1998, quando os irmãos Oliveira
— Nelcilan, hoje com 24 anos, e Maycon, hoje com 17 — e vizinhos da
comunidade Vila Pereira da Silva, no bairro carioca de Laranjeiras,
ergueram uma favelinha para brincar. A coisa cresceu. Em 2001, o
projeto se transformou na TV Morrinho. Impressionado ao ver fotos
da maquete, o curador da Bienal, o americano Robert Storr, apareceu
de surpresa na favela. E o Morrinho acabou em Veneza. Está “em
local privilegiado, no meio do jardim e em frente ao pavilhão dos
Estados Unidos”, informa matéria da BBC Brasil (11/6).

FOTOS: TV MORRINHO
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[ 10 ]

SALA DE CONVIDADOS

Programa do Canal Saúde tira


dúvidas sobre a conferência
nicipais de Saúde (Conasems), Antônio dendo que os conselhos de
Adriano De Lavor

C.H.
Carlos de Oliveira Junior, com media- saúde são aliados”, disse.
ção do chefe de gabinete da Fiocruz, Quanto ao engajamento
Canal Saúde, da Fiocruz, Arlindo Fábio Gómez de Sousa. de usuários e profissionais de saúde, os

O inaugurou um espaço inte-


rativo de preparação para
a 13a Conferência Nacional
de Saúde, que ocorrerá entre 14 e 18
de novembro, em Brasília. Trata-se do
Antes do pronunciamento dos
convidados ao vivo, Sala de Convidados
exibiu depoimento gravado do ministro
da Saúde, José Gomes Temporão, que
destacou a “relevância da 13a Confe-
participantes foram unânimes: é preciso
que os gestores se empenhem para que
sejam garantidas as participações no
evento, proposta que recebeu apoio do
representante do Ministério da Saúde,
programa Sala de Convidados, que será rência na repolitização do Movimento Antônio Alves de Souza.
transmitido ao vivo toda da Reforma Sanitária bra- O programa, que abriu espaço
última segunda-feira do sileira”. Temporão enu- ao público por e-mail, telefone e chat
mês até novembro, com merou os grandes desafios online (conversa em tempo real pela
o objetivo de escla- que se impõem como dis- internet), exibiu vídeos sobre o assunto,
recer, didaticamente, cussões obrigatórias para entre eles um que contava a trajetória
dúvidas sobre o evento, o evento de novembro: a histórica das conferências e outro que
que nesta edição terá saúde como eixo de desen- explicava como se estrutura um evento
como tema “Saúde e volvimento institucional; a deste porte — além de informar que o
qualidade de vida: Po- mobilização da sociedade site do Conasems (www.conasems.org.
líticas de Estado e desenvolvimento”. em torno dos determinantes sociais da br) orienta os interessados em partici-
A transmissão é simultânea por TV e saúde; o aperfeiçoamento do Sistema par da 13a CNS.
internet, diretamente do estúdio do de Atenção Básica. Temporão insistiu O público respondeu bem à es-
Canal Saúde, no Rio de Janeiro. na defesa da idéia de que a saúde deve tréia, questionando os convidados e
O programa de estréia, exibido ser encarada “como investimento, e enviando sugestões. Cleberton Henri-
no dia 28 de maio, reuniu no estúdio não como gasto”. que Andrade, da Secretaria Estadual
o presidente do Conselho Nacional de O debate que se seguiu foi aberto de Saúde de Tocantins, sugeriu que a
Saúde (CNS), Francisco Batista Júnior, por Francisco Batista Júnior, que ex- próxima edição do programa aborde a
o secretário de Gestão Estratégica plicou por que a conferência metodologia adotada pelas
e Participativa (SGEP), Antônio terá eixos básicos de discussão conferências na prepara-
Alves de Souza, o secretário de no lugar de um texto-base: ção das etapas municipal e
Saúde do Estado do Rio, Sérgio “Havia a reclamação de que estadual. De acordo com a
Côrtes — representando o Con- os textos-base eram feitos produção do Canal Saúde,
selho Nacional de Secretários de por uma elite pensante”, parte das perguntas não-
Saúde (Conass) — e o diretor adjunto do destacou, observando que respondidas na estréia será
Conselho Nacional de Secretários Mu- esta nova modalidade de organização encaminhada às áreas que possam res-
explora melhor as realidades locais. pondê-las. O restante será respondido
“Estamos afinados”, concordou Sérgio nas próximas edições do programa.
Côrtes. “A discussão com a sociedade Sala de Convidados será exibido no
Radis adverte civil organizada será mais eficiente”.
Para o secretário, alguns municípios
Canal Saúde todas as últimas segundas-
feiras do mês, das 12h às 14h, veiculado
No mês dos Jogos Pan-Ameri- se sentiam à margem da discussão. na freqüência do canal executivo da Em-
canos Rio 2007, é bom lembrar “Vamos agora poder discutir de ma- bratel (polarização horizontal 3.930 Ghz
que exercícios físicos regulares, neira mais ampla as complexidades”. ou 1.220 Mhz). Quem não tem antena
com orientação de especialista, Segundo Antônio Carlos de Oliveira, o parabólica pode sintonizar o programa
evitam males como diabetes e novo formato dará maior espaço aos pela internet, no site do Canal Saúde
doenças cardiovasculares. municípios de pequeno porte, que re- (www.canalsaude.fiocruz.br) e interagir
presentam 80% do país. “Eles precisam a partir do chat online. Perguntas e co-
ter voz”, salientou. mentários podem ser enviados ao e-mail
Francisco Júnior defendeu a renova- canal@fiocruz.br ou pelo telefone (0800)
ção de delegados eleitos para o evento. 701-8122 (ligação gratuita). Para quem
Entre 1998 e 2002, lembrou, os conselhos não tem antena parabólica nem acesso
passaram por um apagão e a partir de à internet, a opção é procurar uma das
2003 começaram a se recuperar. “Os ges- 120 telessalas do Banco do Brasil espa-
tores ainda estão apren- lhadas pelo país.
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[ 11 ]

Diabetes

Controle ainda é baixo no Brasil


nada à obesidade e ao sedentarismo. Mas o glicosímetro (aparelho que
Bruno Camarinha Dominguez
A pesquisa do CPqGM e da Unifesp mede o nível de glicose no sangue) e as
apontou ainda que o baixo controle tiras usadas com o aparelho não são for-
pesar de ser a quarta causa de no país está diretamente relacionado necidos. O glicosímetro custa cerca de R$

A morte no Brasil, o diabetes


— doença crônica, incurável,
caracterizada pelo aumento
dos níveis de glicose no sangue — está
mal controlado no país. Foi o que
a medidas adicionais, como dieta e
exercícios físicos, e à pouca aderência
à medicação. Segundo Edson Duarte
Moreira Júnior, chefe do Laboratório
de Epidemiologia Molecular e Bioes-
110. Uma caixa com 50 fitas, suficientes
para um mês, em torno de R$ 100. “Na
verdade, a lei vem reforçar os princípios
do SUS, que garante atenção integral
a todos os doentes”, diz Rosa. Como o
constatou estudo do Centro de Pesqui- tatística do CPqGM, outro dado que tratamento do diabetes deve ser diário,
sa Gonçalo Moniz (CPqGM), unidade preocupa é o mau uso da insulina. os cuidados recaem mais sobre os pa-
da Fiocruz na Bahia, e da Universi- Nos casos do tipo 1, a aplicação cientes do que sobre os profissionais de
dade Federal de São Paulo (Unifesp). de doses diárias é fundamental, mas saúde, a quem cabe acompanhar a dieta
Dos 6.701 diabéticos avaliados em 10 é comum os pacientes diminuírem a e os exercícios físicos do paciente, assim
municípios, 75% apresentaram taxa de quantidade prescrita. Nos do tipo 2, como monitorar os níveis de glicose, a
hemoglobina glicada acima do limite embora as medidas ligadas ao estilo pressão arterial e os lipídios.
de 7% estipulado pela Associação de vida sejam suficientes para con- Edson conta que o objetivo da
Americana de Diabetes. Nos pacientes trolar a doença, em alguns casos são pesquisa não era avaliar a qualidade
com o tipo 1, o percentual de inade- necessários os medicamentos orais e a do tratamento dos diabéticos pelo
quação chegou a 90%. A Organização insulina. Mas, no Brasil, o percentual SUS, mas o resultado acabou apon-
Mundial da Saúde alerta que, caso não de insulinização nesse segundo grupo é tando que os pacientes atendidos em
sejam tomadas medidas urgentes para baixo: enquanto nos EUA e na Europa centros especializados — públicos,
melhor controle da doença no mundo, gira em torno dos 40%, aqui está em na maioria — têm maior controle da
o número de diabéticos vai aumentar 10%. “Os pacientes resistem a ado- doença do que os tratados em centros
de 171 milhões (em 2000) para 366 tar o método e os médicos acabam de referência. “Isso se deve às equipes
milhões (em 2030). Hoje, o diabetes atrasando a prescrição, por conta multidisciplinares”, afirma. “Além
já responde por 5% das mortes, o do incômodo gerado pelas injeções dos especialistas, havia nutricionistas
equivalente a 3,2 milhões. São 8.700 diárias”, analisa Edson. Para ele, a recomendando dietas e enfermeiras
por dia e seis por minuto. hesitação em adicionar insulina ao explicando como usar corretamente a
No Brasil, há 5,8 milhões de tratamento tem alto custo: compli- medicação”, exemplifica. Rosa lembra
doentes — 11% da população acima cações como cegueira, amputação, que o diabetes é uma prioridade da Es-
dos 40 anos. Até 2030, esse número doenças cardíacas e insuficiência tratégia Saúde da Família, que atinge
deve subir para 11,3 milhões, princi- renal. “Injetar a insulina é ruim, mas 50% da população. “O mais importante
palmente por conta de hábitos pouco deixar de injetá-la quando necessário é que eles fazem busca ativa”, frisa.
saudáveis. A imensa maioria dos casos é pior”, garante. Em alguns casos, especialmente
do tipo 2 (de 60% a 90%) está relacio- em diabéticos do tipo 2, não há sinais
SAÍDA LEGAL claros, o que atrasa a descoberta da
Uma novidade pode ajudar no doença. Quase metade não sabe de
O tipo 1 do diabetes, mais comum nas controle da doença no país. Em 28 de sua condição, daí a necessidade de
crianças, ocorre quando o pâncreas setembro deste ano entra em vigor a se investigar o diabetes em pessoas
não produz quantidade suficiente Lei nº 11.347, que obriga o SUS a forne- com mais de 40 anos. Os sintomas
de insulina (hormônio responsável cer gratuitamente os medicamentos e mais comuns são excesso de fome e
pela redução da glicemia). O tipo 2, os materiais necessários à medição da de sede, perda de peso, visão emba-
quando o corpo não metaboliza com glicemia. Os beneficiados, por sua vez, çada, infecções freqüentes, demora na
eficiência a glicose da corrente san- deverão participar de programas de cicatrização de feridas, fadiga e dores
güínea. O tipo 2 é de 8 a 10 vezes educação. A diretora da Coordenação nas pernas. O diagnóstico precoce é
mais comum e tem um fator heredi- Nacional de Hipertensão e Diabetes fundamental para a redução dos gastos
tário maior do que o tipo 1. Hábitos do Ministério da Saúde, Rosa Sampaio, com as complicações. A doença é a
saudáveis — como dieta equilibrada esclarece que os remédios já são principal causa de cegueira adquiri-
e atividade física — podem reduzir o distribuídos de graça: o ministério da, responsável por 70% das diálises
risco de uma pessoa desenvolver o repassa aos municípios recursos para renais (junto com a hipertensão), por
diabetes tipo 2, mais do que o uso de a compra das drogas metiformina e 60% das amputações por razões não-
remédios, afirmam estudos. Há ainda glibeclamida, usadas no tratamento traumáticas e por grande parte das
a diabetes gestacional, desenvolvida do diabetes tipo 2, e ainda envia às internações decorrentes de acidente
durante a gravidez, que tende a secretarias a insulina mph. No ano vascular cerebral e infarto agudo do
desaparecer após o parto. passado, foram distribuídos 11 milhões miocárdio. Prejuízos que podem ser
de frascos-ampola, informa. contidos com ações simples.
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[ 12 ]

DEBATES NA ENSP/FIOCRUZ

A dívida com a
Atenção Básica

A.D.
para Alimentação e Agricultura (FAO/ pelo menos incluir no currículo um dos
Adriano De Lavor, Bruno Camarinha
ONU); o odontólogo Antônio Dercy Sil- mais instigantes balanços do Sistema
Domingues, Katia Machado e Marinilda
veira Filho, coordenador da Estratégia Único de Saúde dos últimos tempos.
Carvalho
Saúde da Família do Departamento de A palestra de Nelsão tinha o título
Atenção Básica da Secretaria de Aten- de “Retomada do Movimento Sanitário:
pesar de algumas ilhas de ex- ção à Saúde (SAS/Ministério da Saúde); Novos atores sociais com a Estratégia

A celência, a Atenção Básica no


Brasil enfrenta altos muros.
Essa foi a tônica, um tanto pes-
simista, da abertura do 3º Ciclo de De-
bates “Conversando sobre a Estratégia
e Marco Akerman, consultor regional
em Desenvolvimento Local e Partici-
pação Social da Opas/OMS, também
presidente da Associação Paulista de
Saúde Pública. A segunda semana trou-
de Saúde da Família”. Mas ele não se
ateve muito a esse tema não. Preferiu
apontar aos estudantes as distorções do
sistema. Antes, porém, estabeleceu o
amplo e complexo campo da Atenção
de Saúde da Família”, que se estendeu xe à Ensp o sanitarista Gastão Wagner, Básica — “há tantas atenções básicas
por duas semanas, de 7 a 18 de maio, o secretário de Saúde de Fortaleza, quanto as realidades regionais e até mi-
no auditório da Ensp/Fiocruz. O ciclo Odorico Andrade, o geógrafo Jorge crorregionais”, das periferias urbanas à
faz parte do currículo da especialização Luiz Barbosa e a pesquisadora da Uerj saúde indígena —, que só é íntegra se
(residência) em Saúde da Família da Helena Maria Leal David. funcionam seus dois braços: os grandes
Ensp, que neste 2007 convidou Se a platéia do dia 7, formada por valores da solidariedade e a alta resolu-
para a palestra inaugural, no dia alunos de vários cursos da Ensp, não tividade. “Esta é a síntese do desafio da
7, o sanitarista e professor da ficou muito animada depois que Nelsão Atenção Básica e da militância”.
Unicamp Nelson Rodrigues dos apresentou as “estratégias desviantes” Antigo militante da Reforma Sa-
Santos, nosso conhecido Nelsão. que determinam hoje os insucessos nitária, Nelsão descreveu em seguida
Na primeira semana, os debates da Atenção Básica e do próprio SUS, os avanços da saúde pública no Brasil.
receberam, entre outros nomes, a gerando “grandes desilusões” entre Primeiro, a produção e a produtividade
socióloga Ana Fonseca, da Organização sanitaristas históricos e recentes, pôde do SUS, “inacreditavelmente grandes,
RADIS 59 • JUL/2007
[ 13 ]

FOTOS: LUIS SEITO/ENSP


apesar do baixíssimo financiamento
— que persistiu”, disse. “Números
quase impensáveis, de dar inveja”.
Em 2006, tivemos 1,3 bilhão (isso
mesmo, bilhão) de procedimentos em
Atenção Básica, além de 600 milhões
de consultas multiprofissionais. “Um
compromisso que o trabalhador da
saúde encarou e assumiu”, elogiou.
“Tivemos um exército de profis-
sionais da saúde totalmente engajado
não apenas na inclusão da população
brasileira no Sistema Único de Saúde,
mas lutando também pela eqüidade e
pela integralidade”, continuou, como-
vendo a platéia. O debatedor da mesa,
José da Rocha Carvalheiro, presidente
da Abrasco e também sanitarista his-
tórico (aliás, colega de Nelsão na Fa-
culdade de Medicina da USP na turma
de 1961), lembrou mais tarde que, de Nelsão: “Um exército em luta não apenas pelo SUS, mas por eqüidade e integralidade”
um pequeno grupo de sanitaristas nos
anos 60 e 70, o “exército de atores da Nelsão detalhou os embaraços da o concurso público e o próprio controle
saúde” supera atualmente 1 milhão de financeirização do orçamento da saúde: social foi quebrado ao meio. “Os con-
trabalhadores (o Ministério da Saúde elevação dos impostos acompanhada de selhos não formulam políticas, quem
estima que sejam 2,5 milhões). “Um queda dos orçamentos sociais; contra- formula é a equipe econômica”. E que
dos nossos grandes êxitos é o recru- partida federal em retração, enquanto universalidade é essa?, perguntou. A
tamento de centenas de milhares de ascende a de estados e municípios (“A resposta: “Se 25% dos brasileiros têm
pessoas”, disse Carvalheiro. União entrava com 75% do orçamento plano de saúde, dos planinhos baratos
Nosso “exército” promoveu ações da saúde, em 2004 tivemos empate aos planões de 3 mil reais por mês
locais, levou à frente programas públi- em 50%, e agora estados e municípios, — com links visíveis para o SUS no que
cos paralelos (como DST/Aids, imuni- sufocados, pagam mais”). Além disso, diz respeito aos procedimentos de alta
zação, transplantes, desospitalização hoje há tríplice contingenciamento: do complexidade —, fica claro que nosso
dos pacientes mentais, entre outros), empenho, da liberação do recurso em- Titanic não vai bater no iceberg, ele
a descentralização dos serviços, a penhado e do próprio pagamento. “Pela vai direto a outro porto, o da lógica
construção dos conselhos, enumerou Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), do mercado”. A conclusão pessimista:
Nelsão. “Alguns secretários de Saúde vínculo pétreo é só o do pagamento de “É este o nível de angústia a que che-
podem ser ruins, mas os coletivos do juros”, lamentou. gamos: batemos num teto em que não
Conasems e do Conass só fazem avan- O palestrante informou à platéia temos mais ilusão”, afligiu-se Nelsão.
çar o SUS”, lembrou, em outra frase que a remuneração dos procedimentos “Estamos devendo a nós mesmos”.
que comoveu os mais velhos. de saúde no mundo inteiro é por metas.
Esta é a política de saúde “explí- “Aqui, é por produção, e com defasa- EQUÍVOCOS DA SEGMENTAÇÃO
cita”, na definição do palestrante. O gem das tabelas”, condenou. “Uma Críticas também marcaram o
problema “está nas entrelinhas, nas maneira perversa de estruturação do debate do dia seguinte — desta vez
tais estratégias desviantes, na política atendimento”. Com tudo isso, foram à segmentação das ações do governo
implícita”, como a “financeirização do “para as favas” as carreiras públicas, brasileiro —, quando se discutiu o tema
orçamento público da saúde”, as muitas os salários públicos, a educação perma- “Convergência de políticas sociais:
e complicadas modalidades de repasses nente em saúde. As ações locais, por articulação possível entre Bolsa-Fa-
federais, a remuneração insuficiente exemplo, são apenas isso, locais, não mília e Estratégia Saúde da Família”.
dos serviços, as contratações feitas sob regionais. E efêmeras. Ele citou as mos- Coordenadora da mesa, a pesquisadora
“normas escritas invisivelmente”, fora tras das “maravilhosas” experiências da Ensp Rosana Magalhães abriu a
da Constituição e da Lei Orgânica: “No exitosas do SUS: “A gente vai lá no ano discussão ressaltando que há consen-
prédio de nove andares do Ministério da seguinte e a maioria não existe mais”. so quanto à ineficácia de programas
Saúde, por exemplo, 25% são servidores Essa política de saúde implícita resulta setoriais. “Eles não são capazes
e 75%, terceirizados, e assim é em mui- no seguinte: princípios e diretrizes do de dar respostas efetivas às
tas instituições”. No fim dos anos 90, SUS em desequilíbrio e desarticulação demandas da sociedade, daí
para Nelsão, ficou clara a armadilha em — universalidade fragmentada, iníqua, a importância de políticas pú-
que o SUS estava sendo enfiado. A partir sem eqüidade e integralidade”. blicas transversais que visam a
de 2004, veio a negativa de regulamen- Há então duas muralhas intrans- eqüidade e o bem-estar”, disse.
tação da Emenda Constitucional 29 (o poníveis para o gestor, o subfinancia- Conferencista convidada, a soci-
PLP 1/03), “outra grande decepção”. mento e a precarização. A LFR impede óloga Ana Fonseca, da FAO, concordou
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e apontou que os programas brasileiros setor privado”, garantiu. O caso mais a formação e a visão do profissional
já nascem restritos a ministérios: o Bol- claro é o de São Paulo, onde o programa de saúde ainda pautado na lógica da
sa-Escola, ao da Educação; o Bolsa-Ali- é totalmente operado por entidades biomedicina”. Outro princípio é a co-
mentação, ao da Saúde; o Auxílio-Gás, privadas. “Não tenho medo de falar a ordenação da rede de saúde: cabe à
ao de Minas e Energia. “Embora todos palavra privatização, mesmo que vocês atenção básica referenciar para a média
classifiquem a pobreza como fenômeno fiquem com esses olhos arregalados”, e alta complexidade. Por fim, os quatros
multidimensional, as políticas acabam ironizou. “A verdade é que, hoje, o social últimos: continuidade do cuidado; ter-
desenhadas de maneira setorial”. virou um grande negócio”. ritorialização e adscrição da clientela;
Equívocos decorrentes da seg- responsabilização; humanização.
mentação: antes do Bolsa-Família — do DESCASO DO GESTOR? Suas provocações continuaram:
qual foi coordenadora —, famílias com No dia 9, sob o título “Estratégia “O que a diferencia da Atenção Básica
crianças de até 6 anos eram atendidas Saúde da Família como política social: tradicional?”. A primeira diferença, ci-
pelo Bolsa-Alimentação, enquanto as no Brasil e no Rio de Janeiro”, Antônio tou, é ser pró-ativa perante indivíduos,
com crianças acima de 7 anos rece- Dercy Silveira Filho tratou dos concei- famílias e comunidade. “Ou seja, cabe
biam benefícios do Bolsa-Escola. “Uma tos básicos e das principais mudanças à equipe de ESF procurar sua clientela
mesma família, com um menino de 3 na Atenção Básica em Saúde. e manter atualizado o cadastro das
e outro de 8, precisava se cadastrar Em vários momentos, provocou a famílias”. A segunda diferença diz
em ambos”, exemplificou. “Era uma platéia: “Quando um posto de saúde respeito ao foco na família. “O desafio
insanidade — e um desperdício de não faz atenção básica é descaso do do profissional da ESF é construir uma
dinheiro — pensar o núcleo familiar gestor?”. Sua resposta negativa teve prática de promoção e clínica que en-
de modo tão fatiado”. explicação: “Se algo vai mal é porque volva a dimensão do cuidado familiar”,
A integração de várias iniciativas a rede de saúde está sem estrutura, salientou. Outras diferenças: humani-
em uma — o Bolsa-Família — não pôs é porque faz parte de um projeto zação, acolhimento, vínculo e cuidado
fim a um grave problema: o programa político contrário ao SUS”. A Atenção ao longo do tempo; integralidade, pla-
por si só não gera um direito. “Ele não Básica, lembrou, caracteriza-se por nejamento e coordenação do cuidado;
funciona como porta de entrada para um conjunto de ações de promoção foco no território e na comunidade
outros serviços”, resumiu. Por isso, de- e proteção da saúde, prevenção de adscrita; trabalho em equipe; co-res-
fendeu, a convergência da política de agravos, diagnóstico, tratamento, ponsabilidade entre profissionais e
transferência de renda com o PSF seria reabilitação e manutenção da saúde, famílias; estímulo à participação social;
oportuna. Ana ainda sugeriu a “desfa- desenvolvida no individual e nos cole- intersetorialidade das ações.
miliarização” do Bolsa-Família. “Vocês tivos, com práticas gerenciais e sanitá- Antônio ainda detalhou as princi-
nunca se encontraram com um grupo rias democráticas e participativas. pais mudanças na política nacional da
de pessoas que dissesse: ‘muito prazer, No SUS, prosseguiu, é “um nível Atenção Básica e a evolução das equi-
nós somos uma família’”, brincou. No hierárquico da atenção, que deve estar pes Saúde da Família no Brasil e no Rio:
Uruguai, programas desse tipo benefi- organizado em todos os municípios”. revisão da regulamentação e revogação
ciam o cidadão, independentemente de Segundo o especialista, está baseada de 27 portarias; definição de carga ho-
ascendência ou descendência, citou. na realidade local e deve entender os rária de 40 horas semanais; integração
Nesse sentido, a socióloga indicou sujeitos em suas singularidades, ou da Saúde Bucal; co-responsabilidade
o modelo do PSF como exemplo a ser seja, segundo estilo de vida, emprego, das secretarias estadual e municipal de
seguido, já que trabalha com uma alimentação, interação sociocultural, saúde na educação permanente, com
lógica diferente, a do domicílio. Ana entre outros determinantes. “Se tudo recursos das três esferas de governo;
Luiza d’Ávila Viana, professora da Uni- isso for feito de maneira coerente, e a não-exigência de um mínimo de
versidade de São Paulo, apoiou a idéia resultará numa prática mais humana pessoas por equipe de Saúde da Famí-
de “desfamiliarização”. O ideal, disse, em comparação ao que vem sendo lia. “Recomenda-se apenas até 4 mil
seria o Bolsa-Família ter se articulado feito nos serviços de saúde”. pessoas por equipe”, ressaltou. Sobre
desde o início com o PSF: a ação dos Para Antônio, não apenas orienta- o número de equipes, informou: “Até
agentes comunitários começou justa- da pelos princípios do SUS, a Atenção fevereiro de 2007, havia 27.035 equipes
mente nas áreas mais pobres. Básica precisa seguir rigorosamente em 5.110 municípios, acrescentadas de
O Brasil está atrasado no processo princípios próprios. A acessibilidade é 219.636 agentes comunitários em 5.301
de convergência: nem sequer há estu- o primeiro. E perguntou: “Acessibilida- municípios e 15.339 equipes de saúde
dos que mostrem a influência de um de e acesso têm o mesmo significado?” bucal em 4.324 municípios”.
programa no outro. “E olha que hoje é Para Antônio, oferecer uma vacina BCG Debatedora da mesa, a médica
impossível pensar na saúde sem pensar na às sextas-feiras das 14h às 18h, por Márcia Mochel Dias, coordenadora da
assistência social, que virou a me- exemplo, significa dar acesso, e não Atenção Básica da Secretaria Municipal
nina-dos-olhos dos governos por acessibilidade. “Neste caso, planejam- de Saúde do Rio, traçou o perfil da
agir sobre os riscos”, afirmou. Ana se as ações conforme os interesses da rede carioca de atenção básica, sa-
Luiza aproveitou a oportunidade equipe e não da população”. lientando que a cidade requer análise
para pedir que a platéia fique Segundo princípio, o vínculo. De diferenciada. Primeiro pela densidade
atenta à privatização da assistência. “O acordo com Antônio, os vínculos com demográfica — em torno de 6 milhões
PSF hoje é financiado pelo setor público, um sujeito são construídos pela afetivi- de habitantes; segundo porque a cida-
mas tem parcerias fortíssimas com o dade. “Para tanto, precisamos repensar de já foi capital federal, com grande
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rede de hospitais públicos. “É uma


dificuldade alguém que não seja hiper-
tenso ou diabético ser atendido pelas
redes tradicionais”, disse. “Acabam
indo para a emergência”.
Para sanar os problemas, a secre-
taria estabeleceu as seguintes metas:
ampliação para 260 equipes de ESF, 45%
delas na Zona Oeste; transformação de
15 postos de saúde no modelo do Saúde
da Família; revisão do perfil das unidades;
e expansão do horário de atendimento.
A coordenadora acredita que os maiores
desafios são a formação profissional, ain-
da voltada para o trabalho em hospitais,
as desigualdades sociais, financiamento
insuficiente e dificuldades em locais de
violência e conflito.
A relação entre saúde e desenvol-
vimento foi discutida no dia 10, com
o tema “A saúde promotora do desen- Gastão: “Arrastamos nosso modelo de ABS desde 1994, com problemas de recursos e pessoal”
volvimento ou o desenvolvimento pro-
motor da saúde?”. Coordenadora da segundo ele, têm o mesmo significado. sob a perspectiva da Paidéia, idéia
mesa, a pesquisadora da Ensp Regina Mas, acima de tudo, deu uma aula defendida quando era secretário de
Bodstein lembrou que o assunto sem- teórica sobre o tema. Saúde de Campinas, em 2001. “En-
pre esteve na agenda do país, mas de Em rápida análise de dois modelos quanto não se cria uma política de
modos diferentes. Enquanto há quase de atenção básica em saúde vigentes no Atenção Básica mais abrangente e
40 anos dizia-se que era necessário mundo, Gastão disse que o primeiro — que compreensiva, vamos apresentando
esperar o bolo crescer para só depois toma como base em sua atuação — é o essa proposta”. O conceito clássico de
reparti-lo, hoje é consenso que o de- europeu. “Pensa a Atenção Básica como Paidéia vem do filósofo alemão Werner
senvolvimento econômico depende do parte integrante dos sistemas públicos e Jaeger (1888-1961). “Está centrado na
desenvolvimento social. resolve 80% dos problemas de saúde e 95% formação do ser humano como produto
Para Regina, essa nova visão se dos que atende”. Ou seja, sob a perspec- da vida política e social na Polis, da
assemelha ao conceito de promoção tiva da clínica ampliada como também da cultura e da educação”, resumiu.
da saúde, que integra o lado biomé- promoção e prevenção da saúde. Analisar o trabalho em saúde
dico ao dos determinantes sociais. “A O segundo é o americano — que sob tal perspectiva significa consi-
ESF já trabalha nessa perspectiva, na vem orientando a Atenção Básica em derar três itens, disse: os campos de
tentativa de equacionar os problemas Saúde no Brasil. Neste caso, a atenção co-produção (particular, singular e
decorrentes da desigualdade”, apon- básica é uma área de ação da saúde pú- universal); os modos de intervenção
tou. Marco Akerman (Opas/OMS) foi blica e está orientada por programas de (ou seja, as práticas cotidianas, o
além: “A saúde talvez esteja no centro saúde. “A unidade básica fica voltada trabalho, a política e a gestão do
do desenvolvimento sustentável”. para alguns problemas de saúde rele- trabalho e da vida); e os fatores de
Ele afirmou que o desenvolvimento vantes, como imunização e vacinação, co-produção — biológicos (genética,
não pode ser um fim em sim mesmo, pré-natal, doenças como tuberculose e idade e gênero), subjetivos (desejos
deve objetivar a eqüidade e a inclu- hanseníase”, disse — um modelo insufi- por intensidade de vida e interesse
são social, a partir do investimento ciente, ainda que necessário. por anos de vida) e as determina-
em saúde, educação, nutrição. “Não Gastão deu destaque à baixíssima ções sociais (contexto econômico,
podemos reduzi-lo à discussão sobre cobertura do Saúde da Família no país cultural e social).
crescimento econômico”. — 40% — e lembrou estudos da OMS e da O uso do conceito tem por objetivo,
Opas, informando que a implantação de disse Gastão, a harmonia de trabalhar
CLÍNICA AMPLIADA sistemas públicos baseados na Atenção para outros (produção de valor de uso,
Gastão Wagner de Sousa Campos, Básica em Saúde, capazes de atender a mirando necessidades sociais), para si
outro sanitarista histórico, iniciou 80% dos problemas da população, levou mesmo e para algum coletivo (organiza-
a segunda semana do debate com quatro ou cinco anos nos países europeus. ção pública, capital, sociedade).
críticas ao modelo biomédico. Sob o “Nós, aqui, estamos desde 1994, quando “Para os outros, a partir de uma
título “Desafios para a reorientação o Saúde da Família foi criado, arrastando relação de trabalho e de gestão,
da Atenção em Saúde”, o professor da nosso modelo de Atenção Básica com uma da diferença de poder, de papéis
Unicamp apontou problemas e sugeriu série de dificuldades de financiamento, e de responsabilidade”, salien-
caminhos para a Atenlção Básica em de política de pessoal e de modelo”. tou; para si mesmo, “por imposição,
Saúde — ou Atenção Primária em Saú- Gastão prosseguiu explicando disciplina, renúncia e, sobretudo, por
de, tanto faz: ambas as expressões, como organizar o trabalho em saúde prazer”, continuou.
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Para o sanitarista, usar a pers-


pectiva Paidéia é trabalhar na saúde
pela democratização e pela co-gestão
organizacional. É ainda “uma forma
de estabelecer contrato e definir
responsabilidades entre gestores,
trabalhadores e usuários”. Significa,
segundo ele, a construção de um “neo-
artesanato” da Atenção Básica.
Ao lembrar que a área carece de
definição de papel e de metas e res-
ponsabilidades, defendeu a prática de
trabalho interprofissional através da
transdisciplinaridade e de um método
que combine dialogicamente ofertas
clínico-sanitárias e demandas do usuá-
rio (desejo, interesse e valores), assim
como propõe a perspectiva Paidéia.
Gastão traduziu tudo isso no con-
ceito de clínica ampliada. Neste caso,
o objeto de trabalho em saúde indica Odorico: “Não existe nada mais privado no Brasil do que a residência médica”
a responsabilidade sanitária e, além
da doença, incorpora o conceito de tologia da doença e da terapêutica) que incorpora um “conceito positivo
problema de saúde ou risco e de vul- com singularidade do caso; além de de saúde”. Segundo ele, o modelo in-
nerabilidade encarnados em sujeitos, um esforço sistemático do lugar téc- dustrial, “de coisificação do homem”,
indivíduo, família e coletivos. A clínica nico/profissional para inclinar-se sobre não trabalha a saúde como direito do
ampliada, explicou, referindo-se ao o lugar do sujeito/enfermo. cidadão e dever de Estado e ainda
filósofo francês Michel Foucault (1926- Gastão ainda apresentou o de- encara a doença como mercadoria. É
1984), visa o controle social e constrói senho da clínica ampliada, em que a um modelo que valoriza o profissional
ao mesmo tempo um certo grau de unidade de produção (que seria a uni- médico e o hospital, além de encora-
autonomia, ou seja, a capacidade de dade básica) recebe apoio de equipes jar o nível terciário de atenção, onde
pessoas e coletividades lidarem com matriciais, formadas por especialistas atua o grande complexo médico-hos-
suas dependências. Gastão ressalvou conforme as necessidades locais, pitalar internacional.
que todo trabalho clínico, apesar de — equipe de referência composta por Odorico defendeu que o Saúde da
seu valor de uso, causa danos. “O ob- profissionais considerados essenciais Família é a opção que melhor se adapta
jetivo é produzir saúde com eficácia na condução de problemas de saúde à era da informação, marcada pelo “au-
com menor custo possível”. dentro de um certo campo, responsá- tocuidado” e pelas redes sociais. “Hoje
Na prática, o apoio da Paidéia ao veis por acionar a rede complementar é tão importante o endocrinologista
trabalho em saúde exige uma mudan- necessária a cada caso. quanto a loja que vende produtos para
ça epistemológica na formação e na diabetes”, brincou, advertindo os estu-
capacitação do profissional. Ou seja, EM DEFESA DO PSF dantes de que o profissional de saúde,
“na forma de fazer diagnóstico e de Segundo convidado da semana, neste modelo, é visto como facilitador,
intervir terapêutica e preventivamen- o secretário de Saúde de Fortaleza, não como autoridade, o que possibilita
te”. Os meios de diagnóstico, neste Odorico Andrade, iniciou sua fala, uma maior participação de categorias
caso, são a objetividade da clínica e da na manhã do dia 15, destacando um não- médicas no sistema. “O modelo
epidemiologia com base em evidências dilema ético ainda presente na implan- que a gente tenta superar é o centrado
combinadas com a singularidade da tação do SUS: “Nós operamos com uma na saúde como ausência de doença”,
história dos sujeitos, grupos e coleti- contradição profunda, que é defender sustentou, defendendo a inclusão dos
vidades, como também da semiologia e um sistema que não usamos”. Ele acre- conceitos de qualidade de vida e de
os indicadores de risco, de morbidade dita que o alto padrão de consumo fez território, segundo ele fundamentais
e mortalidade combinados com a es- com que a classe média migrasse para para o combate às práticas clientelistas
cuta à demanda dos sujeitos. Já a in- a medicina suplementar, solidificando e para a garantia de uma assistência
tervenção terapêutica se dá tanto nas a visão de que o SUS é um sistema para centrada na atenção coletiva.
práticas tradicionais — fármacos pobres. “Isso não foi produzido pelo O ex-presidente do Conasems
e cirurgia —, como na palavra Banco Mundial, mas sim pela nossa também salientou a importância da
e em situações de risco ou de moral, que aceita a desigualdade e a articulação entre saúde pública e
vulnerabilidade do sujeito, do injustiça como normais”. clínica, “buscando a integralidade,
contexto ou da coletividade. Dentro deste contexto, Odorico a promoção à saúde e trabalhando
Ele acredita, por isso, num esfor- disse considerar que o Saúde da Famí- com as condições determinantes da
ço humano sistemático para mediação lia instaura uma “tensão paradigmá- saúde”. Para Odorico, esse debate é
do saber estruturado (a chamada on- tica” ao modelo liberal privatista, já fundamental, já que está centrado na
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pessoa saudável e na universalização


do atendimento, embora reconheça di-
ficuldades na implementação do Saúde
da Família em grandes cidades: “Tem
que ter capacidade política de operar
a transição de um modelo dentro do
outro. É um processo de superação”.
Por isso, segundo ele, foi mais fácil
implantar o programa onde não havia
um sistema de saúde estruturado.
Odorico ainda apostou na inter-
disciplinaridade, criticando o modelo
multiprofissional clássico no qual, “na
melhor das hipóteses, os profissionais
se comunicam no espaço do prontuário
ou no corredor”. Para ele, o desafio é
a construção do campo comum, com
“um sistema nacional de saúde-escola”
— um sistema de educação permanen-
te, em parceria com as instituições de
ensino, que abrangeria a rede municipal Jorge Luiz: “Nos territórios de ausências e carências, o Estado só aparece como polícia”
de saúde e transformaria os centros de
saúde e hospitais em espaços de ensino, na avaliação de políticas públicas”, opinião, quando os moradores destas
pesquisa e assistência. Sua proposta visando a superar o que ele considera áreas também forem vistos como “for-
traduz uma crítica à formação acadê- “cidade partida”. muladores de políticas públicas”.
mica: “Não existe nada mais privado Estas ações, assegurou Jorge, são O último dia de debates trouxe
no Brasil do que a residência médica”, implementadas graças ao eixo trans- à Ensp a pesquisadora da Uerj Helena
afirmou. “É a privatização do público: versal dos projetos do Observatório, Maria Leal David, que falou sobre “O
as bolsas são públicas, mas a maneira que criam redes sociopedagógicas com papel do agente comunitário na Estra-
de formar e quem forma estão muito universidades, ministérios, instituições tégia de Saúde da Família: contradições
mais ligados aos interesses privados das como a Fiocruz e outras entidades da de uma prática”. , na qual destacou os
corporações do que às necessidades de sociedade civil — como Afroreggae, conflitos na formação destes profissio-
saúde da população”. Central Única das Favelas ou Nós do nais. De um lado, a formação política,
Morro —, permitindo a “construção de outro, a formação técnica.
TERRITÓRIO E VISIBILIDADE política pública da saúde”. Ela lembrou que não há circulação
Jorge Luiz Barbosa, do Observató- Jorge, que também é professor de informações sobre o papel dos agentes
rio de Favelas do Rio de Janeiro, foi o da Universidade Federal Fluminense, nos serviços de saúde, o que causa con-
conferencista convidado para o debate creditou ao território “a dimensão fusão na prática. E questiona: “Afinal,
do dia 16, que tratou do “Território corpórea da existência”, onde a so- o que o agente de saúde faz que outros
como lugar de potencialidades”. Ele ciedade pode revelar sua natureza em profissionais deveriam fazer?” Helena
iniciou sua apresentação destacando o materiais simbólicos e históricos. Ele acredita que, pelo fato de a profissiona-
caráter político da discussão sobre saú- lembrou que o geógrafo Milton Santos lização ainda estar em curso, não está
de — dada a sua transdisciplinaridade e (1926-2001) já defendia o território bem resolvido se agentes devem ou não
a sua ligação com o território em que como o “lugar de exercício da vida”, executar tarefas que são dos auxiliares
se inscreve —, traçando um resumo destacando a consolidação de favelas de enfermagem, por exemplo.
histórico da ONG em que participa. Ele e periferias como efeitos perversos da A pesquisadora defendeu a capa-
contou aos alunos que o Observatório, urbanização, formando “coletivos invi- cidade de “mediação” dos agentes, já
situado no Complexo da Maré, no Rio síveis em relação aos direitos sociais”, que estes residem na comunidade, e
de Janeiro, foi criado em 2001, por incluindo-se aí a saúde. na sua contribuição como “transfor-
pesquisadores e docentes “nascidos e Em seu entendimento, esses madores de sujeitos e no seu poten-
criados” em favelas, com o objetivo de “aglomerados subnormais” — segun- cial de saúde”. Reconheceu que, para
“entender a cidade a partir da favela, do ele, denominação conferida às eles, é difícil trabalhar entre a lógica
a partir dos sujeitos invisíveis”. favelas pelo IBGE — são territórios de da comunidade e o controle sanitário,
Segundo ele, o trabalho segue carências e ausências, onde o Estado o que poderia ser traduzido
três linhas: desenvolvimento sustentá- só aparece na forma de polícia. Jorge “no conflito entre educação
vel, comunicação e cultura e direitos sustentou que é preciso que o Estado popular e repasse de informa-
humanos. Cada uma destas vertentes recupere sua soberania nestas áreas, ções”. Para ela, o desafi o é
do movimento permite que se promo- “promovendo direitos e deveres e que os agentes trabalhem sob
va um debate mais amplo para que instaurando uma agenda política que a perspectiva da integralidade, o que
“ações exemplares contribuam na entenda a cidade como bem público definiria sua real função numa equipe
formulação, no acompanhamento e de todos”. Isso só se dará, em sua multidisciplinar.
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serviço

EVENTOS de pós-graduação em Ciências Sociais, Organizado pela Associação Brasileira


assim como os espaços de reflexão de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
SIMPÓSIO TRABALHO EM EQUIPE SOB crítica entre os cientistas sociais das (Abrasco), espera-se para esta edição
O EIXO DA INTEGRALIDADE: VALORES, regiões Norte e Nordeste e de outras cerca de 4 mil participantes brasileiros
SABERES E PRÁTICAS regiões do Brasil e promover as redes e mais de 1.000 epidemiologistas de
de pesquisa que tratam de problemas todas as partes do mundo.
relacionados às regiões Norte e Nor-
deste. Sob o tema Cultura, Identidade Data 20 a 24 de setembro de 2008
e Diferença, o evento está dividido em Local Porto Alegre (RS)
grupos de trabalho, mesas-redondas, Mais informações
minicursos e trabalhos de graduação. Site www.epi2008.com.br
Ocorre paralelamente ao 2º Encontro
Internacional de Antropologia Visual, INTERNET
que fará apresentação de filmes e
fotografias. MESTRADO E DOUTORADO EM SAÚDE
PÚBLICA E MEIO AMBIENTE
Data 3 a 6 de Setembro
Local Centro Cultural e de Exposições
de Maceió (AL)
Mais informações
Tel. (82) 3337-0065 / 3337-2066
Site www.13ciso.kit.net

rganizado pelo Laboratório de Pes-


O quisas sobre Práticas de Integralidade
em Saúde (Lappis/IMS/Uerj) em parceria
10º CONGRESSO PAULISTA DE SAÚDE PÚBLICA

com a Universidade Federal do Espírito ob o tema SUS: diversidade, ten- Escola Nacional de Saúde Públi-
Santo, o evento abordará o tema Trabalho
em equipe. O simpósio, que inaugura as
S sões e convergências, a 10ª edição
do Congresso pretende promover um
A ca Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz)
lançou editais de seleção para 2008
atividades do Projeto Integralidade: sabe- debate acerca do sistema de saúde dos cursos de mestrado e doutorado
res e práticas no cotidiano das instituições brasileiro, que completa 20 anos, em em Saúde Pública e Meio Ambiente.
de saúde, do Lappis, visa levantar ques- 2008. O objetivo do encontro, que é As inscrições, feitas exclusivamente
tões a serem discutidas no 7º Seminário promovido e organizado pela Asso- pela internet, se encerram em 31 de
Nacional do Projeto Integralidade, a ser ciação Paulista de Saúde Pública e agosto. O Programa de Pós-Graduação
realizado em novembro de 2007 no Rio de pela Faculdade de Medicina Unesp em Saúde Pública e Meio Ambiente,
Janeiro. Propõe ainda apresentar os resul- de Botucatu, é explicitar as múlti- credenciado pelo Conselho Federal de
tados finais da segunda fase do projeto, plas e necessárias diferenças que Educação, tem como objetivo a capa-
aprofundando temas desenvolvidos no 5º existem nas agendas políticas e in- citação de docentes, pesquisadores e
Seminário Nacional, em 2005, sob o título telectuais do sistema de saúde bra- gestores em saúde e ambiente, sob
Construção social da demanda: direito à sileiro (a chamada SUSdiversidade), uma perspectiva interdisciplinar, mul-
saúde, trabalho em equipe e participação indicar e aprofundar os pontos de tiprofissional e interinstitucional, para
e espaços públicos. tensão entre elas e apontar possíveis análise e proposição de soluções sobre
caminhos de convergência. os efeitos decorrentes das exposições
Data 9 e 10 de agosto ambientais na saúde humana. Está vol-
Local Auditório do Centro de Ciências Data 27 a 31 de outubro tado para profissionais e pesquisadores
Jurídicas e Econômicas da UFES, Vi- Local Estância Turística de São Pedro (SP) das áreas de saúde e meio ambiente,
tória (ES) Mais informações com formação, em nível de graduação,
Mais informações Tel. (14) 3815-3133 em diferentes campos do conhecimen-
Tel. (27) 3335-2885 E-mail xcpsp@fmb.unesp.br to, e interessados na análise de proble-
Site www.prppg.ufes.br/ppgpsi/ Site www.xcpsp.fmb.unesp.br mas de saúde e ambiente. Está dividido
eventos.html ou www.lappis.org. em três subáreas de concentração:
br/trabalhoemequipe.htm Epidemiologia Ambiental; Gestão de
7º CONGRESSO BRASILEIRO DE Problemas Ambientais e Promoção de
EPIDEMIOLOGIA E 18º CONGRESSO Saúde; e Toxicologia Ambiental.
13º ENCONTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS MUNDIAL DE EPIDEMIOLOGIA Informações e inscrição pelo
NORTE E NORDESTE (CISO) site da Pós-Graduação em Saúde
ob o título Epidemiologia na cons- Pública e Meio Ambiente da Ensp

P romovida pelo Instituto de Ciências


Sociais da Universidade Federal
S trução da saúde para todos: ferra-
mentas para a mudança global, o Epi
(www.ensp.fiocruz.br/posgraduacao/
meioambiente) ou pela Plataforma
de Alagoas, a 13ª edição do Ciso tem 2008 abre inscrições para envio de Siga (www.sigass.fiocruz.br/pub/
como objetivo fortalecer os programas trabalhos científicos em 15 de outubro. inscricao.do?codP=62).
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Pós-tudo

Que vida?
temos uma vida potencial e muito
Oscar Vilhena Vieira menos um ser humano formado, com
toda a sua complexidade orgânica,
Supremo Tribunal Federal re- psíquica e moral.

O alizou a primeira audiência


pública de sua história para
compreender os diversos
aspectos que envolvem a pesquisa com
células-tronco no Brasil. O interesse
É como comparar uma semente
de jacarandá danificada encontrada
no chão da floresta com uma árvore
centenária que protegemos com nos-
sa legislação ambiental. A dor de ver
dos ministros do Supremo, no entanto, uma semente sendo comida por um
não é propriamente científico, mas passarinho não é equiparável àquela
jurídico e moral. Pouco tempo antes de ver uma árvore derrubada por um
de deixar o comando do Ministério raio, como nos lembra o filósofo Mi-
Publico Federal, o procurador Cláudio chael Sandel. Todos que já perderam
Fonteles propôs uma ação direta de in- uma pessoa querida sabem o que
constitucionalidade contra dispositivos significa a morte de um ser humano
da Lei de Biossegurança, que autoriza e esta não pode ser comparada com
a pesquisa com células embrionárias o não-desenvolvimento de um em-
apenas para fim terapêutico. brião, ainda mais quando falamos de
Argumenta o ex-procurador- um embrião que se encontra fora do
geral da República que a lei é in- útero e é inviável para fertilização.
constitucional, pois violaria o direto Esta equiparação mecânica feita pelo
à vida, bem como o princípio da ex-procurador-geral da República é
dignidade humana. Ambos entrin- simplesmente equivocada.
cheirados em nossa Constituição. O Isto não quer dizer que o embrião
raciocínio é cartesiano. Os embriões não tenha valor e que não deva ser
têm vida. A vida é protegida pela protegido. Antes, o contrário. Ele
Constituição. Logo fazer pesquisas tem valor e devemos protegê-lo,
com células embrionárias é atentar ainda que de forma distinta da que
contra a vida e sua dignidade huma- protegemos os seres humanos. E é
na. O raciocínio é lógico e louvável, isto que faz a Lei de Biossegurança.
porém padece de alguns equívocos. Ela proíbe a pesquisa com qualquer
E isto por diversos motivos. embrião que seja viável. Mais do que
Em primeiro lugar, a pesquisa isso, proíbe qualquer pesquisa que
autorizada pela Lei de Biossegurança não tenha fins terapêuticos, ou seja,
se resume àqueles embriões que foram fins humanitários.
produzidos para fins de fertilização, O terceiro aspecto preocupante
D.

mas que não se demonstram mais do argumento levado a cabo pela Pro-
A.

viáveis para este mesmo fim, seja por curadoria Geral da República é o des-
um problema orgânico, seja porque, têm qualquer perspectiva de evoluir prezo relativo à dignidade e à própria
depois de três anos congelados, não para a condição humana. vida de milhões de pessoas humanas
mais podem ser implantados com se- O segundo equívoco é de natureza que sofrem doenças graves e letais,
gurança em um útero materno. Logo, moral. Reconhecer que um embrião como o Parkinson, a diabetes, as do-
são embriões que, infelizmente, não tem vida não pode significar que este enças coronárias ou lesões de medula,
deva ser equiparado a um ser huma- que poderiam ser beneficiadas com o
no. O que temos aqui são embriões progresso nas pesquisas com células-
* Professor de Direito Constitucional da produzidos extra-uterinamente, que tronco. Ao elevar o embrião inviável à
Escola de Direito da Fundação Getúlio também se encontram fora do útero, condição de ser humano, o sofrimento
Vargas e diretor jurídico da Conectas em estágio absolutamente inicial de de milhares de seres humanos reais
Direitos Humanos; autor de diversos desenvolvimento. Ou seja, temos algo está sendo relegado à mais absoluta
livros, entre os quais, Direitos funda- que poderia ter tido a potencialidade irrelevância. E esta não parece ser
mentais (Malheiros Editores, 2006) de se transformar numa vida, mas não uma decisão a favor da vida.

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