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SAÚDE
DIREITO DE TODOS
DEVER DO ESTADO
Manchetes
comercialização
Página 7 da Súmula nº 22 (maio-junho/1988) de sangue e deri-
vados. “É melhor
• PRIVATIZAR OU ESTATIZAR A ÁREA DE SAÚDE criarmos a Sangue-
É DILEMA QUE CONSTITUINTE VAI DEBATER brás do que aidé-
Os limites de atuação do em- ticos, sifilíticos e
presariado na área do atendimento chagásicos”, retru-
médico estão em jogo. Nesta semana, cou o líder do PCB,
o Congresso Constituinte deve votar o deputado Roberto
capítulo da Seguridade Social, que inclui Freire (PE). (Jornal
as seções de saúde, previdência do Brasil, 18/5)
e assistência social. Dois projetos
se contrapõem: o da Comissão de • NOVO MODELO
Sistematização e o do Centrão. DE SAÚDE É
(Folha de S.Paulo, 3/5) APROVADO
Ao confirmar
• LOBISTAS DA SAÚDE APELAM PARA ontem em plená-
IMPACTO rio que a saúde é direito de todos e • BENEFÍCIOS SUBIRÃO ATÉ 200%, AVALIA
Quando amanhã o líder do PTB, dever do Estado, a Constituinte, além A PREVIDÊNCIA
deputado Gastone Righi, estiver a de acatar a decisão máxima da 8ª Con- Os benefícios terão aumento de
caminho do plenário para defender a ferência Nacional de Saúde, acertou até 200% com a decisão da Constituin-
livre iniciativa no setor saúde, enfren- o passo rumo à completa modificação te de redefinir a fórmula de cálculo
tará um lobby inédito na Constituinte. do atual sistema em que opera o setor. das aposentadorias e pensões. A esti-
Em vez dos conhecidos lobistas de (Correio Braziliense, 18/5) mativa preliminar é do Ministério da
terno e gravata, ele ouvirá pessoas Previdência. (Globo, 19/5)
conhecidas, como Fernanda Monte- • PAPEL DA INICIATIVA PRIVADA É
negro e Herbert de Souza, o Betinho, PRESERVADO • PARA DIRETOR DA HOECHST, SANGUE
que apresentarão suas mensagens num “Está preservado o relevante FOI “ESTATIZADO”
telão instalado no corredor de acesso papel da livre iniciativa da área de Entidades médicas e a indústria
ao plenário. (Jornal do Brasil, 4/5) saúde. Ela poderá atuar de forma farmacêutica interpretam de forma
complementar, nas ações básicas de diferente o trecho relativo à comercia-
• PLENÁRIO APROVA UNIFICAÇÃO DA SAÚDE saúde, colaborando decisivamente lização do sangue no texto aprovado
Num clima de euforia, o plenário para o bem-estar de nossa gente”. na terça-feira pelo Congresso Cons-
aprovou ontem por acordo de lideran- São palavras do deputado federal tituinte. O diretor do departamento
ças todo o capítulo que trata da saúde, Antônio Carlos de Mendes Thame de marketing da Hoechst do Brasil,
criando o Sistema Único de Saúde na (PFL-SP), que julga certo o Estado médico Eldo Amilcar Franchin, afirma
esfera pública. Ele prioriza as ações assumir não apenas a normatizacão que ela é estatizante. Já para Celso
preventivas, sem prejuízo das assisten- mas também a execução de todas as Guerra, diretor da Associação Paulista
ciais. As instituições privadas participa- atividades produtivas e de prestação de Medicina, vale o espírito da lei,
rão de forma complementar, através de de serviços à população, ressalvan- que seria o de reforçar o sentimento
contrato ou convênio. (Globo, 18/5) do os direitos da iniciativa privada. nacional contra a doação remunerada.
(Correio Braziliense, 18/5) (Folha de S. Paulo, 19/5)
• CONSTITUINTE PROÍBE TODA
COMERCIALIZAÇÃO DO SANGUE • CONSTITUINTE BENEFICIA APOSENTADOS • MINISTRO QUER DISCIPLINAR A
Gritando o slogan “Salve o Sangue A Constituinte definiu ontem a PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE
do Povo Brasileiro”, cerca de 70 médicos seção da Previdência Social, assegu- O ministro da Saúde, Borges da
e sanitaristas comemoraram nas galerias rando aos aposentados e pensionistas Silveira, elogiou ontem o texto da
a decisão da Constituinte de proibir importantes conquistas, como a apo- seção Saúde, aprovado pelo Congresso
definitivamente a comercialização de sentadoria proporcional aos 30 anos Constituinte na última terça-feira, mas
sangue por 313 votos contra 127 e 37 para homens e 25 anos para mulhe- criticou a forma de implantação do
abstenções. (Jornal do Brasil, 18/5) res, o 13° salário igual ao provento Sistema Unificado e Descentralizado de
de dezembro e a garantia de que os Saúde (Suds) nos estados e municípios.
• “SANGUEBRÁS” TEM IRONIA E APLAUSO benefícios nunca serão menores que o Segundo ele, não há um comando único
“Criaram hoje a Sanguebrás”, salário mínimo. Os deficientes físicos e a nível federal porque “ninguém quer
comentou o deputado Bonifácio de An- os idosos que não tiverem meios para perder poder. Precisamos disciplinar
drada (PFL-MG), após a aprovação pela se manter receberão mensalmente um isso e implantar o sistema”, afirmou o
Constituinte da emenda que proíbe a salário mínimo. (Globo, 19/5) ministro. (Folha de S. Paulo, 19/5)
®
editorial
Nº 72 • Agosto de 2008
Editorial
três partes, para contar com pungente de aluguel. Baniram da Constituição
saudade a bela luta de duas décadas até a Reforma Agrária, colocando o Bra- • Nascimento e crítica de um sonho 3
inscrever-se o ideário da Reforma Sanitá- sil centenas de anos atrás de outras
ria na Constituição, analisar criticamente nações, aumentando a injustiça e a Cartum 3
o nivelamento por baixo que tomou violência no campo.
conta do Sistema Único de Saúde real e O jornal Proposta, do RADIS, co- Cartas 4
avaliar os desafios do projeto a concluir briu de perto e influenciou os debates
para que o sonho civilizatório e solidário de então. Registrou, por exemplo,
da saúde para todos se realize. o lobby voluntário de figuras como
A Constituição foi construída no Fernanda Montenegro e Herbert de
contexto de uma sociedade com sede Souza, o Betinho, nos corredores da Súmula 6
de participação ao emergir da ditadura Constituinte, em prol do SUS e de
militar. Avançou nos direitos sociais e “salvar o sangue do povo brasileiro”.
na proteção ambiental, mas manteve Apresentada em 1991, a lei que ratifica Radis adverte 8
inalteradas as bases econômicas da a proibição do comércio do sangue
desigualdade. Saudada por belos dis- só foi aprovada em 2001. Hoje, dá Toques da Redação 9
cursos como o de Ulysses Guimarães, desgosto ver a corrida de atores e des-
foi atacada desde o início — a começar portistas empurrando medicamentos Direito de todos, dever do Estado
pelo então presidente, José Sarney — e em anúncios de TV.
• A saúde em construção 10
prejudicada pela não-regulamentação Para o presidente do Conselho
• Constituinte 1987/1988 — Pungente
de numerosos dispositivos, numa negli- Nacional de Saúde, o controle social saudade 12
gência consciente do parlamento. ainda é um “faz de conta” na maioria
• O capítulo da saúde na Constituição
Com o SUS, instituído pela Cons- dos municípios e estados. Francisco de 1988 25
tituinte, não foi diferente. Festejado Júnior propõe defesa radical desse • O sistema de saúde real — Nivelamento
em sua origem e aperfeiçoado em sua princípio: acionar na Justiça o gestor por baixo 26
descentralização país afora, foi sabota- que não cumpre as leis que garantem • O sistema de saúde ideal — Projeto
do de diversas formas durante 20 anos. a participação popular. a concluir 30
Financiamento indefinido, força de Na avaliação de outra fonte fre-
trabalho precarizada, crescente repasse qüente em nossas páginas há um direi- Serviço Especial 34
de recursos à rede privada e insuficiente to que não está inscrito entre tantos
investimento na rede pública. Nenhum na Constituição. Quando compara o
governo teve vontade ou sucesso em SUS incompleto de hoje à precarieda-
substituir o modelo da doença centrado de da Saúde de antigamente, o super
em hospitais, médicos e medicina cura- crítico mas esperançoso sanitarista Pós-Tudo Especial
tiva. A sociedade desconhece o SUS e não Gilson Carvalho lembra: só não temos • Ulysses 35
sabe que deve exercer seu controle. “o direito de desanimar”.
Na Constituinte, o sonho da
Reforma Sanitária contagiou até de- Rogério Lannes Rocha
putados e senadores conservadores Coordenador do Programa RADIS Capa e lustrações Aristides Dutra (A.D.)
Cartum
A.D.
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cartas
Súmula
Essa taxa só foi menor que a da Índia cativas de hidratação oral e higiene,
(alta de 22,7%) e da China (+20,3%). contribuiu para a queda de 44% na “NEM PARA BICHO”
Por sinal, o relatório destaca que a mortalidade infantil. As boas notícias
maior parte dos novos milionários vem vieram da Pesquisa Nacional de Demo- relatório final da CPI do Sistema
das economias emergentes. A maior
concentração de fortunas continua
grafia e Saúde da Criança e da Mulher
(PNDS), financiada pelo Ministério da
O Carcerário, da Câmara dos Deputa-
dos, denuncia 14 estados pela precarie-
nos países ricos (Estados Unidos, 3,3 Saúde e divulgada no dia 3/7. Entre os dade das penitenciárias. Os integrantes
milhões de milionários; Europa, 3,1 avanços, estão o aumento do uso de da comissão visitaram 60 presídios em
milhões; Ásia/Pacífico, 2,8 milhões). métodos anticoncepcionais por homens oito meses e encontraram esgoto a céu
e mulheres, a melhoria da qualidade da aberto, ratos em celas, refeições servi-
gestação e do parto — com destaque das em sacos plásticos. “Grande parte
“SITUAÇÃO EXPLOSIVA” NA FRANÇA para o maior acesso de mulheres do deles não serve nem para bicho”, resu-
meio rural ao pré-natal e ao acompa- miu o relator, Domingo Dutra (PT-MA).
m ano depois da abertura do pri- nhamento na gestação —, assistência Os trabalhos da comissão devem resultar
U meiro estabelecimento penitenci-
ário exclusivamente para jovens (EPM)
médico-hospitalar mais eficiente e o
maior acesso de mulheres férteis (15
na criação de um Estatuto Penitenciário,
com regras e punições para agentes,
na França, sindicatos de juízes e advo- a 49 anos) a medicamentos — princi- estado, juízes e promotores. Segundo
gados, a Liga dos Direitos do Homem e palmente pelo SUS. A PNDS avaliou o o Ministério da Justiça, havia 422.590
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presos em 2007 nas 1.100 prisões brasi- todos os institutos especializados, tratado para as obras, e a diferença
leiras. Há carência de 185 mil vagas. entre eles o de infectologia. A unidade era rateada pela quadrilha. O ministro
tinha sete pacientes internados, que das Cidades, Márcio Fortes, atribuiu à
seriam transferidos para o Hospital Caixa a responsabilidade pela fiscali-
BAIXAS DA GUERRA do Fundão, e 356 funcionários, que zação dos contratos firmados.
integrarão outras unidades. Para a No Rio, sete pessoas foram pre-
ebês nascidos em Faluja, no Iraque, diretora do Sindsprev, Silene Souza, é sas por fraudar carteiras do SUS para
B têm apresentado deformidades em
escala nunca vista (Agência IPS, 12/6),
“absurda” essa transferência: o Fun-
dão enfrenta crise notória.
receber remédios de tratamento de
câncer num posto do Iaserj e revendê-
denunciam profissionais de saúde. Embora los ilegalmente. Policiais da Delegacia
sem confirmação de estudos científicos, de Repressão aos Crimes Contra a
o número de mortes de recém-nascidos DE SANGUESSUGA A JOÃO-DE-BARRO Saúde Pública apreenderam kits de
aumentou desde os dois bombardeios ma- remédios, avaliados em R$ 60 mil
ciços sobre a cidade em 2004. As forças cada um, e carimbos de médicos para
de ocupação, lideradas por americanos e receitas falsificadas. O bando agia há
ingleses, admitiram em 2005 que usaram 10 meses, retirava seis kits por mês e
nas bombas fósforo branco, substância causou prejuízo de R$ 3,5 milhões.
proibida pela Convenção de Genebra,
além de 1.200 toneladas de urânio
empobrecido nos mísseis. “A exposição SINDICATOS PRÓ-AMIANTO: NA OIT
materna a toxinas e material radioati-
vo causa abortos freqüentes e graves Folha (23/6) informou que foi en-
malformações congênitas”, disse um
médico. Segundo o Ministério da Saúde,
A caminhada ao Comitê de Liberdade
Sindical da Organização Internacional
o setor está sob “grande pressão”, com do Trabalho (OIT) queixa contra acordo
mortes de médicos, êxodo de pessoal, do Instituto Brasileiro do Crisotila,
infra-estrutura assistencial precária e patrocinado por 11 indústrias de
crise de medicamentos. amianto — fibra comprovadamente
uadrilha formada por deputados, cancerígena —, com sete sindica-
BAIXAS DO DESCASO
Q empresários e servidores fraudava
recursos do Programa de Aceleração do
tos de trabalhadores do setor, para
que propaguem o “uso controlado e
Crescimento (PAC) via Caixa Econômica, responsável do amianto no país”. A
m Belém do Pará, 32 bebês morreram BNDES e emendas parlamentares. A Ope- Associação Brasileira dos Expostos ao
E nos 15 dias entre 22 de junho e 6 de
julho na maternidade da Santa Casa. Fo-
ração João-de-Barro, da Polícia Federal,
desmontou o esquema, que desviou R$
Amianto (Abrea) considera essa prática
anti-sindical e decidiu recorrer à OIT,
ram 60 óbitos em um mês e meio e mais 700 milhões em sete estados e Distrito cuja convenção, assinada pelo Brasil,
de 300 em um ano. Para a Secretaria Es- Federal, envolvendo 60 empresas e 119 veda a interferência de patrões em
tadual de Saúde, as 12 primeiras mortes prefeituras. Os números da operação: entidades de empregados.
foram “uma fatalidade”. Para a direção 38 ordens de prisão, 230 mandados de Grupos defensores da proibição
da Santa Casa, o número de óbitos “está busca e apreensão — para 114 prefeitu- do amianto, advogados e procuradores
de acordo com a taxa aceita pela OMS: ras de Minas Gerais, três do Rio, uma de do Trabalho apóiam a Abrea, que relata
os recém-nascidos eram prematuros Tocantins e uma do Espírito Santo, além no documento “a omissão do Brasil no
e apresentavam má formação”. Mas de dois gabinetes de deputados federais combate às condutas anti-sindicais que
parentes dos bebês denunciaram que as de Minas, Ademir Camilo (PDT) e João vêm sendo sucessiva e reiteradamente
mortes foram provocadas pela demora no Magalhães (PMDB), e duas repartições praticadas pelas empresas ligadas à
atendimento: não havia médico nem para do Ministério das Cidades. exploração e à industrialização do
fazer os partos. O sindicato dos médicos Segundo o projeto Excelências amianto contra a organização livre e
denuncia há um ano a morte de bebês por (www.excelencias.org.br), da Transpa- espontânea de trabalhadores”.
falta de estrutura no hospital. rência Brasil, que investiga a corrup- Essa indústria, cujo representan-
ção no país, Ademir, médico e advoga- te maior é a Eternit, fabrica produtos
do, ex-secretário de Saúde de Teófilo condenados de amianto, como telhas e
ADEUS A UMA UNIDADE DE REFERÊNCIA Otoni pelo PPS, integra a Comissão de caixas d’água (Radis 29, 48, 69). José
Desenvolvimento Urbano e é suplente Roberto Santos, presidente do Sindi-
Instituto Estadual de Infecto- da de Segurança Pública e Combate ao cato dos Trabalhadores na Construção
O logia São Sebastião, no Rio de
Janeiro, antiga referência nacional
Crime Organizado. É réu na Ação Penal
nº 404/2006, do STF, por falsidade
Civil de Osasco e região, informou que,
na cidade, há 750 trabalhadores conta-
para doenças infecciosas, estava em de documento público. Magalhães, minados por amianto. “Fazer um acor-
junho à espera do fim. O Sindicato pecuarista, titular da Comissão de Fi- do para defender o uso controlado do
dos Trabalhadores em Saúde distribuiu nanças e suplente da de Constituição e amianto é imoral e ilegal”, asseverou.
nota (24/6) de protesto porque o se- Justiça, também aparece no STF como “Imoral porque não reflete a vontade
cretário Sérgio Côrtes decidiu fechar indiciado no Inquérito nº 2.427/2006, dos trabalhadores, e sim de meia dúzia
a unidade em 1º de julho, sem aviso por crime contra a lei de licitações. de sindicalistas, e ilegal porque como
a funcionários e pacientes. Segundo a Ambos negam tudo, ambos figuraram pode um acordo trabalhista valer mais
secretaria, o São Sebastião seria de- na lista dos sanguessugas (Radis 46), do que a lei estadual que proíbe o uso
sativado gradativamente por absoluta mas nada foi provado. do amianto?” O STF manteve, no início
falta de condições de funcionamento A polícia apurou que se usava de junho, a lei paulista (nº 12.684),
— está nos planos um centro reunindo material de qualidade inferior ao con- que fora contestada pela indústria.
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O amianto é proibido na maioria dos de R$ 60 milhões do Plano Plurianual do. “Se trouxer vantagens econômicas,
países industrializados. (2008-2011), do total de R$ 1 bilhão para ótimo”. O cartão francês, contudo, vem
investimentos nas ações de combate à esbarrando principalmente no temor
violência contra a mulher. geral de uma vigilância excessiva sobre
MAIS RIGOR CONTRA O ÁLCOOL Antes da lei, crimes contra mulheres os usuários. “O DMP não é um recurso de
eram julgados por tribunais especiais de controle de segurados e doentes”, reba-
Prefeitura de São Paulo baixou pequenas causas e tratados como delito teu ela ao Le Monde. “Por exemplo, os
A nova lei em junho: mercados,
bares, restaurantes e até ambulantes
de menor potencial ofensivo, como os de
trânsito. Muitas vítimas, contudo, prefe-
diabéticos, que são dois milhões em nosso
país: eles são monitorados por vários
que venderem álcool a adolescentes rem os maridos recuperados a presos. Por profissionais de diferentes disciplinas,
abaixo de 18 anos receberão multa de isso, a Secretaria Especial de Política para e o dossiê será um elemento de ligação
R$ 4.500. Na reincidência, o valor é Mulheres, da Presidência da República, para todas essas intervenções”.
dobrado; na terceira infração, o alvará decidiu acelerar a criação dos centros, Mas as objeções dos usuários têm
é cassado e o lugar, fechado. Antes, a com 13 ministérios, Poder Judiciário, Mi- sido tão fortes que o governo cedeu — o
punição era apenas multa de R$ 500. nistério Público, estados e municípios. dossiê informatizado será facultativo.
Pesquisa OMS/Unifesp revelou: 90,4% Segundo dados do Disque 180 — A ministra disse que tentará suprimir
dos bares não verificam a idade dos acionado por mulheres de todo o país da lei o artigo que prevê sanções fi-
clientes. “O alcoolismo é o terceiro —, em 2007 foram registrados 204.978 nanceiras, pela seguridade social, aos
maior problema de saúde pública no atendimentos, um aumento de 306% em usuários recalcitrantes. Criado em 2004
Brasil, perdendo apenas para os males relação a 2006. São Paulo foi o estado para lançamento em 2007 e adiado
do coração e tumores”, argumentou o com maior procura pelos serviços da para 2009, a ministra acredita agora
vereador Carlos Bezerra Jr. (PSDB), au- central, seguido pelo Rio. Em termos que o cartão em sua versão completa
tor do projeto. “É imprescindível que a proporcionais, o Distrito Federal liderou não sairá antes de 2012. Uma comissão
maior cidade do país se mobilize para a procura, seguido por São Paulo. Com o especial criada para avaliar a questão,
combater esse mal, a começar pelos auxílio desse serviço e com base na lei, já porém, é pessimista: a aceitação de-
jovens”. Serviço gratuito (0800-510- foram presos mais de 3 mil agressores. mandará pelo menos uma década.
0015) dá informações sobre alcoolismo
e indica organizações de assistência a
dependentes. BIOMAS DESTRUÍDOS MÁQUINA DE CAMISINHA NA ESCOLA
20 anos
Aconstrução
saúde
em
T
ra: temos ódio à ditadura. Ódio e nojo”, pronunciou
iros de canhão, repicar de sinos, papel picado. ele a frase lendária.
Povo na praça e em frente à TV acompanhan- Momentos inesquecíveis, relembrados nestas páginas — e
do as imagens do plenário lotado da Câmara também as decepções: após 25 anos de ditadura, o presiden-
dos Deputados. Às 15h40 do dia 5 de outubro te era José Sarney, herdeiro indesejado da derrota popular
de 1988, Ulysses Guimarães, presidente da As- das Diretas Já, em 1984, e da morte de Tancredo Neves, em
sembléia Nacional Constituinte, promulgava a 1985; se o capítulo da Ordem Social reunia conquistas, o da
quinta Constituição da República, a única que não acabou Ordem Econômica acumulava frustrações, a maior delas na
em trauma institucional. “O documento da dignidade, da reforma agrária. A Saúde estava entre as vitórias, aprovada
liberdade, da democracia, da justiça social do Brasil!”, por ampla maioria, como se vê na foto histórica.
exclamou, sob o mar de aplausos que interromperiam Vinte anos e algumas afrontas à Constituição depois,
59 vezes sua fala de 33 minutos. o Movimento Sanitário, mais maduro e preparado, reco-
“Quando, após tantos anos de lutas e sacrifícios, nhece os avanços no processo de construção do Sistema
promulgamos o Estatuto do Homem, da Liberdade e Único de Saúde, que conduziu, e identifica as novas lutas
da Democracia, bradamos por imposição de sua hon- necessárias para que sobreviva e prospere.
Participaram: Adriano De Lavor, Aristides Dutra, Bruno Dominguez, Dayane Pereira Martins, Jorge Ricardo Pereira, Katia Machado,
Laïs Tavares, Marinilda Carvalho, Roberta Pio, Sandra Suzano Benigno, Tiago Souza de Oliveira.
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CO N S T I T U I N T E 19 87/19 8 8
Pungente saudade
o país e esbarrassem, no caminho, de Brasília e assessor legislativo nos 20
ONLINE
IMAGEM: JB
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“O movimento lutava para a cons- do os determinantes sociais da saúde, era a criação de “um Sistema Único
trução de uma sociedade de direitos, e abria horizontes Brasil afora — logo de Saúde”; a quarta, a atribuição ao
não de favores”, define para a Radis a sa- seria apenas ações interiorizadas de Estado da “responsabilidade total
nitarista Lucia Souto, hoje representante saúde (AIS), trabalho de formiguinha pela administração desse sistema”; a
do Ministério da Saúde na Comissão Me- tão familiar à militância da época. quinta, a delegação ao SUS da tarefa
tropolitana Tripartite de Saúde do Rio de de planificar e executar uma política
Janeiro. “Essa ainda é nossa luta, dado DOCUMENTO HISTÓRICO nacional de saúde”, e a sexta, “me-
o clientelismo que temos”. Para ela, “a Ainda em 1979, o 1º Simpósio Na- canismos eficazes de financiamento do
liga” desse movimento, a academia, cional de Política de Saúde, promovido sistema que não sejam baseados em
os movimentos sociais, foi de grande pela Comissão de Saúde da Câmara dos novos gravames fiscais sobre a popu-
envergadura porque era pluralista, com Deputados, gerara documento histórico lação nem em novos impostos especí-
leque amplíssimo de partidos”. do Cebes — “A questão democrática na ficos para a saúde” — o financiamento
Os textos da revista Saúde em De- área da Saúde”, publicado em 1980 na deveria se basear “na maior participação
bate, do Cebes, refletiam convicções, Saúde em Debate. Para Eleutério, uma proporcional da saúde nos orçamentos
anseios e propostas dos sanitaristas, “cartilha”: “Face a esta política de ca- federal, estaduais e municipais”. Eram
fortalecidos ideologicamente em fó- ráter essencialmente antidemocrático, lá previstas a descentralização, “uma au-
runs e seminários, enquanto testavam a grande maioria dos profissionais de têntica participação popular” em “todos
sistemas democráticos de saúde nos saúde encontra-se hoje colocada na trin- os níveis e etapas da política de saúde”,
espaços institucionais disponíveis. cheira de uma batalha inglória, a tentar “com voz e voto em todas as instâncias”
Pequenas reformas surgiam aqui e ali, remediar os males de um planejamento e “uma estratégia específica de controle
como em Campinas, Niterói, Londrina, ineficaz para uma população carente e sobre produção e distribuição de
em escolas de saúde pública e até em subnutrida, com técnicas às vezes tão medicamentos”. Estava pronto o
nível federal, com o advento em 1976 ou mais perigosas do que as doenças desenho do SUS — o ideal.
do Programa de Interiorização das que deseja eliminar”, dizia o texto. A unificação Saúde-Pre-
Ações de Saúde e Saneamento (Piass), Entre as 10 medidas recomen- vidência não saiu, como se
conjunto de princípios que, enfatizan- dadas pelo documento, a terceira reivindicava após o simpósio.
Evaporavam em meio às vaidades da Es-
planada dos Ministérios conselhos com
1 2
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FOTO: AGÊNCIA F4
FOTO: CID FAIÃO
FOTO: ADIRP
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FOTO: PAULO MAC DOWELL
FOTO: ADIRP
FOTO: ADIRP
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o Conasp e planos como o PrevSaúde. cubano, mas a discussão foi amadu- tuinte — isso, oito anos antes de sua
“Era uma proposta dos ministérios da recendo e ficou claro o conceito de instalação. “O SUS foi escrito a cente-
Saúde e da Previdência para criação de suplementar do setor privado”. nas de mãos, e quem disser que escre-
uma rede de serviços básicos”, lembra veu o texto está fazendo apropriação
o antigo militante da saúde coletiva Al- SANITARISTAS NO COMANDO indébita”, ressalta o sanitarista Gilson
berto Pellegrini Filho, hoje secretário- Em 1985, sanitaristas assumiam Carvalho. Propostas consolidadas em
executivo da Comissão Nacional sobre o comando de várias entidades: Sergio 1986 na determinante 8ª Conferência
Determinantes Sociais da Saúde, que Arouca na Fiocruz, Hésio Cordeiro Nacional de Saúde, faltaria apenas
na época assessorava a Comissão de e depois José Gomes Temporão no dominar o constitucionalês: “O Eleu-
Saúde da Câmara como representante Inamps, Nina Pereira Nunes fundava o tério sentou, teve que escrever como
do Cebes. “Era bastante ambiciosa e Instituto de Medicina Social da Uerj, um constituinte, § 1º, caput isso, um
teve apoio da Opas, que participou da relata Lucia. “Era preciso superar a bando de coisas de que a gente não
elaboração desse projeto, mas acabou dicotomia — de um lado, as grandes sabia nem o nome e começamos a ter
não sendo implantado com a dimensão endemias, no Ministério da Saúde; de que lidar, transformar as nossas ban-
que deveria, embora servisse depois outro, a assistência individual, que deiras do movimento sanitário numa
como referência para a atenção pri- estava num componente do Ministério formulação legal”, resumia a cientista
mária e tenha inspirado a Estratégia da Previdência, o Inamps, que prestava política Sonia Fleury, atual presidente
Saúde da Família”. assistência aos brasileiros com carteira do Cebes, em sua fala no seminário
A discussão central era a questão assinada”, demarca. “Todos concor- “Reforma Sanitária: estratégias e po-
pública versus privada, o papel de davam que daquela maneira não dava líticas para a Constituinte”, promovido
cada um. “Nesses seminários, para continuar, que era preciso criar em setembro de 1987 pela Abrasco.
convidávamos representantes um sistema capaz de dar conta dos A Associação Brasileira de Pós-
da medicina de grupo, como a problemas sanitários brasileiros, uni- Graduação em Saúde Coletiva fora
Abramge, e o pessoal do setor versal, direito de todo brasileiro, que criada em 1979 — um mês após a assi-
público”, conta Pellegrini. Ha- trabalhasse com assistência integral, natura da Lei da Anistia e dois meses
via por parte do setor privado promoção, reabilitação...” antes da extinção do bipartidarismo,
receio do que denunciavam como De qualquer modo, o setor já o Arena x MDB imposto pela ditadura
socialização, estatização, modelo tinha seu projeto para levar à Consti- — um período fértil de transformações
FOTO: JOSÉ RENATO
outra proposta. “Quem se opunha era “gerencista”, retirando o caráter “Todos achavam que era um suicídio”,
o setor privado, que achava a proposta transformador da reforma. A manobra narrou ele, pouco antes de morrer, em
estatizante, socializante, e fazia muita foi denunciada em célebre boletim agosto de 2003. “Eu estava propondo a
pressão”, relata ele à Radis em sua da Abrasco, que provocou grande po- extinção de uma instituição com mais
sala da Assembléia, em Belo Horizonte. lêmica e dividiu o movimento, mas a de 100 mil funcionários e que mobi-
“Mas tínhamos o apoio de entidades maioria reconhecia que as propostas lizaria tanto trabalhadores quanto
muito ativas e fomos ganhando posições da Previdência contradiziam as reco- aposentados”. Após muita pressão, a
até amadurecer o texto para votá-lo”. mendações da Oitava. surpresa, segundo o próprio Arouca:
Na votação, o grupo contrário já se na hora da decisão final, as lideranças
articulava melhor, mas os sanitaristas NO APAGAR DAS LUZES do Movimento dos Trabalhadores do
conseguiram “dobrá-lo politicamente”. “Foi pesado o trabalho para Inamps eram favoráveis à extinção,
A primeira versão do texto foi definido- passar o Inamps à estrutura da Saúde, em nome de um novo projeto que
ra: “Já estava lá o conceito do SUS, de e isso não constou da Constituição”, municipalizou os serviços públicos de
direito de todos e dever do Estado, os observa Mosconi. “O Sarney mudou saúde. A descentralização já havia se
princípios de universalidade, gratuida- ao apagar das luzes, no finzinho do processado em todo o país, à exceção
de, e isso não se tirou mais”. mandato, porque senão haveria reação do Rio de Janeiro e da Bahia.
Para Mosconi, não foi tão difícil muito forte”, acrescenta Mosconi. “Foi Na Subcomissão de Saúde da
conseguir os votos porque a saúde era uma grande vitória, e quanto mais Constituinte, sem acordo apenas quan-
um “monstro esquartejado” exigindo tempo passar, mais vamos perceber to ao financiamento, o relatório de
unificação. Grande parte de ações e que a data a ser comemorada é a de Mosconi continha os pontos defendidos
recursos não estava sob con- extinção do Inamps”. Ele conta que no pelo movimento, inclusive, no art. 1º,
trole do Ministério da Saúde, governo Itamar Franco foi convidado o lema “Saúde é um dever do Estado e
mas da Previdência, que tinha para presidir o Inamps. “Recusei por- um direito de todos”, que vinha da Oi-
três vezes mais verbas, para que considerava o Inamps anti-SUS e tava — é interessante acompanhar, nos
saúde curativa; as secretarias só poderia ser presidente se fosse para anexos do livro de Eleutério, as várias
eram desarticuladas, com extingui-lo, então o Itamar pediu que formulações para a frase em cada ver-
serviços sem expressão. “Não havia eu o convencesse e ele acabou mesmo são do texto. O relatório, aprovado por
uma cabeça pensante, o ministério convencido”. O Inamps era uma polí- ampla maioria, foi dos mais progres-
tinha alguns bons projetos, mas tica antagônica ao SUS, no entender sistas em comparação, por exemplo,
sem dinheiro; só tinham acesso aos do deputado: visão hospitalocêntrica ao da Subcomissão de Política Agrícola
serviços os previdenciários em seus superada, muito corrompido, custo e Fundiária e da Reforma Agrária, na
institutos, e nos postos de saúde, alto, muito poderoso, o que o SUS não Ordem Econômica, que trabalhou em
somente quem tinha carteira de tra- era. “Na minha opinião, o SUS pra valer clima de grande tumulto. “Na reforma
balho fazia jus ao atendimento”. começou após a extinção do Inamps”. agrária, como na questão mineral e
Eleutério menciona a forte pres- Sergio Arouca, já então deputado na área econômica em geral, tivemos
são do ministro da Previdência, Rapha- federal pelo PCB, foi relator da Lei nº retrocessos significativos com relação
el de Almeida Magalhães, que cooptava 8.689, de 27 de julho de 1993, que às expectativas do povo brasileiro”,
governadores e constituintes para sua extinguiu o Instituto Nacional de As- lamentou na época o constituinte
idéia de descentralização meramente sistência Médica e Previdência Social. Octávio Elísio (PMDB-MG).
das 122 apresentadas, assinadas por Ânimo confirmado por Mosconi coordenadora da Plenária Nacional de
12,2 milhões de eleitores brasileiros, 83 na entrevista à Radis. “A derrota que Entidades de Saúde, instância criada
atendiam às exigências do Regimento. tivemos foi no financiamento”, con- pelos sanitaristas para angariar assi-
Mas o relator-geral, Bernardo Cabral ta. “Eram várias propostas relativas naturas à emenda popular que acabou
(PMDB-AM), fugia às pressões trancando- ao tema, mas não havia clima para virando protagonista nos trabalhos
se com assessores no prédio do Banco do aprová-las porque os economistas não finais da Constituinte.
Brasil em Brasília — um bunker, como permitiam: o Serra [José Serra, futuro Também ficaram de fora a ques-
chamou a imprensa. Seu primeiro rela- ministro da Saúde, hoje governador tão da saúde ocupacional, por empe-
tório recebeu o apelido de Frankenstein, de São Paulo], por exemplo, se opôs nho de forte lobby corporativista e ins-
tamanho o monstrengo: a saúde ficou à vinculação”. Mosconi compara a saú- titucional — “o Ministério do Trabalho
reduzida a curto item da Seguridade de à educação, que afinal conseguiu não queria que entrasse de maneira
Social. “Chegaram à Comissão de Sis- vincular verbas (18% da União, 25% de nenhuma e pressionava pela retirada”,
tematização mais de 2.800 artigos”, estados e municípios): “O Cristovam relata Sonia Fleury na entrevista à
contou ele em 2005 numa palestra na Buarque uma vez me disse que a saúde Radis — e a do monopólio estatal para
Fecomércio-SP. “E emendas deste tipo: avançou porque conseguiu definir uma a compra de matérias-primas, equi-
‘Todas as viaturas federais serão pinta- política, mesmo sem dinheiro, en- pamentos e medicamentos, rejeitada
das de uma só cor; lei complementar quanto a educação tem dinheiro, mas em troca da aprovação da “saúde do
decidirá qual a cor’. Outra: ‘Homens não conseguiu definir uma política”. trabalhador” como atribuição do SUS
e mulheres são iguais em direitos etc., O grupo da saúde queria estabelecer após muita negociação.
exceto nos dias da menstruação’”. Ca- fontes de financiamento, os papéis das Mas antes, em 12 de agosto
bral chorou: “Não queiram saber esferas e não conseguiu, lembra. “Foi de 87, a entrega das emendas po-
o sofrimento para chegar a 245 uma falha e atrasou demais a criação pulares deu-se em clima de festa,
artigos”. Eduardo Jorge sinteti- do SUS, que só não morreu porque com ato público, discurso inflamado
zou: “O maior número de cortes extinguimos o Inamps”. de Ulysses apesar das vaias e gale-
coube à área social”. rias lotadas de representantes dos
Os substitutivos de Cabral AS RESSALVAS movimentos sociais — que alguns
se sucediam: Cabral I, Cabral II — Pressionada pelos progressistas, constituintes, inacreditavelmente,
“entre o I e o II houve sete Cabrais”, a Comissão de Sistematização, por vaiaram. A emenda da saúde estava
informava o deputado Euclides Scalco fim, acabou abrindo seção específica entre as que chegaram em 13 de
(PMDB-PR) no seminário da Abrasco —, no Capítulo da Seguridade Social para agosto, o prazo final. No dia 14,
cada um com redação diferente. De a Saúde. Não sem ressalvas. “Lembro Eduardo Jorge discursou da tribuna:
fora vinham novos projetos de substi- que Eduardo Jorge saiu dizendo: ‘Não “Registro minha satisfação por estar
tutivo, e de alguns deles a saúde era passou nem participação popular entre as várias emendas populares
simplesmente eliminada. Internamen- nem social, mas sim participação da que entreguei ontem à Assembléia
te, o estado de ânimo dos constituintes comunidade’”, conta Jacinta Senna, Nacional Constituinte a referente à
era contrário à fixação de percentuais enfermeira-sanitarista hoje na Secre- Reforma Sanitária”, anunciou. Edu-
para determinado setor porque isso taria de Gestão Estratégica e Partici- ardo foi destemido ao descrevê-la:
comprometeria o orçamento. pativa do Ministério da Saúde, então “O eixo da proposta é a estatização
pela Plenária em decisão unânime. em sessão permanente. Jacinta conta do Centrão, era forte defensor da saúde
Após cinco adiamentos e cinco meses como se davam os embates: “Eram pública”. Eduardo Jorge, outra referên-
e três dias de atraso, a Comissão de gritos e palavrões”, resume. “Surgiu cia nomeada por Jacinta, também cita
Sistematização encerrou sua votação a expressão relevância pública, mas os que mais colaboraram com a saúde:
final em 18 de novembro: os trabalhos conseguimos conquistar no texto um Mosconi, Gabriel, Bezerra, Sant’Anna —
seriam transferidos ao Plenário. sistema público graças à grande for- “prefiro falar dos que mais ajudaram do
Diante do que considerou mani- ça do movimento social, e o mesmo que dos que mais prejudicaram”.
pulação da Constituinte “por setores aconteceu quando da discussão em O confronto era permanente.
minoritários”, e arvorando-se em torno do conceito de saúde”. Somente Stélio Dias (PFL-ES), da tribuna, citava
porta-voz da “vontade média” dos a expressão “saúde de todos e dever Nélson Proença, presidente da Associa-
brasileiros, como conta Eleutério em do Estado” tomou duas semanas de ção Médica Brasileira: “Ele advertiu que
seu livro, o Centrão conseguiu virar a discussão. “A direita, que era maioria, as conclusões da 8ª Conferência haviam
mesa e mudar o Regimento. Aprovou, tinha visão conservadora, assisten- resultado de um ‘foro político, não um
por 290 votos a 16, o DVS (Destaque cialista, mas vencemos: mudamos a foro técnico’, e alertou para o fato de
de Votação em Separado). Os antes função do Estado”. que aquela conferência ‘teve acentu-
exigidos 280 votos para mudar o que ada predominância das participações
viesse da Sistematização passaram a O DIA-A-DIA DA PLENÁRIA ligadas à CUT-PT e ao Conclat-PCs’. Em
ser necessários para incluir, modificar A sede da Plenária funcionava seu entendimento, a estatização não
ou manter qualquer parte do projeto, no Conselho Federal de Medicina, em haveria de prosperar porque a confe-
ou seja, todo e qualquer dispositivo Brasília — de ativa militância na época, rência agiu com base em ‘concepção
demandava maioria absoluta. tendo à frente Francisco Barbosa Costa maniqueísta em que o Estado repre-
Isso criou os chamados “buracos —, de onde saíam os comunicados sobre senta o bem e a verdade e a iniciativa
negros”. (Muita gente afirma que os dias de votação aos participantes: privada, o mal e a corrupção’”.
alguns artigos estão na Constitui- por telefone ou fax, todos eram in- Entretanto, nem o Centrão era
ção sem terem sido aprovados.) formados diariamente. “O problema é monolítico. O constituinte Alceni Guer-
A solução foi negociar tudo que às vezes uma votação e outra eram ra, que viria a ser ministro de Fernando
previamente. Ocorriam infindáveis transferidas para a semana seguinte e Collor, era “acusado” de ser a esquerda
reuniões entre lideranças, novidade as pessoas tinham que reformular suas do PFL por suas posições avançadas na
que resultou no hoje recorrente Colégio agendas o tempo todo”, conta Jacinta. saúde e nos direitos sociais. “Acabei
de Líderes — então, contestado pelo PT, Também havia reuniões no Auditório não fazendo parte do Centrão, mas do
defensor do debate exaustivo. Nereu Ramos, no anexo 2 da Câmara. Centrinho, que tinha figuras ilustres
O Centrão apresentou projeto “Éramos assessores, representantes dos que depois fundariam o PSDB, como
alternativo para a saúde, um texto que movimentos, das plenárias nos estados, Fernando Henrique, Mário Covas”, conta
atendia basicamente ao setor privado. parlamentares, e nossas referências da ele à Radis em entrevista pelo telefone.
Foram duas semanas de embates no época eram Arouca, Raimundo Bezer- “Defendemos a criação do SUS com o
chamado Plenarinho, a sala da lideran- ra, Abigail Feitosa e Carlos Sant’Anna movimento da esquerda sanitária e,
ça do PMDB, com a Plenária da Saúde [todos já mortos] — este, apesar de ser mais tarde, tive a belíssima oportuni-
(RJ), Eduardo Bonfim (AL), Haroldo caram em pronunciamento, no dia 22 os avanços principalmente nos direitos
Lima (BA) e Lídice da Mata (BA) — por de setembro, por que estavam votando dos trabalhadores (...)”.
pouco não foi a única a conseguir nota contra o texto global e por que assina- A fala do então deputado Luiz Iná-
10 do Diap, que avaliava o desempenho riam a Carta Constitucional. Paulo Paim cio Lula da Silva (SP): “(...) Importante
dos constituintes, por conta de um 9,5 (RS) discursou: “(...) O PT vota contra o na política é que tenhamos espaço de
para Lídice. O documento da Câmara “A texto global porque não pode votar a fa- liberdade para ser contra ou a favor. E o
construção da democracia”, de Casimiro vor de um texto que é contra a reforma Partido dos Trabalhadores, por entender
Neto, por sinal derruba um mito sempre agrária, não assegura a estabilidade, dá que a democracia é algo importante
brandido pela oposição: o de que o PT 5 anos para o presidente Sarney, como — ela foi conquistada na rua, ela foi
não assinou a Constituição. Diz o texto mantém na íntegra a estrutura militar. conquistada nas lutas travadas pela so-
que nove deputados do partido justifi- O PT assina a Carta porque reconhece ciedade brasileira —, vem aqui dizer que
FOTOS: ABIA
Henfil (com a mãe) e Betinho: nas lutas sob
o lema “Salve o sangue do povo brasileiro”
teve ampla cobertura. Para ela, o as- civil. Uma delas tomou corpo na Abia,
vai votar contra esse texto exatamente do capital continua intacta. Patrão, ção nesta Constituinte. Muito obrigado,
porque entende que, mesmo havendo neste país, vai continuar ganhando companheiros. (Muito bem! Palmas)”.
avanços na Constituinte, a essência do tanto dinheiro quanto ganhava antes, Outro trecho de discurso digno
poder, a essência da propriedade priva- e vai continuar distribuindo tão pouco de lembrança é o de Bernardo Cabral:
da, a essência do poder dos militares quanto distribui hoje. É por isto que o “Insultado, ofendido, injuriado, difa-
continua intacta nesta Constituinte. (...) Partido dos Trabalhadores vota contra o mado, caluniado, não me omiti, não
Ainda não foi desta vez que a sociedade texto e, amanhã, por decisão do nosso desertei, já que, de forma obstinada,
brasileira, a maioria dos marginalizados, diretório — decisão majoritária — o sabia que o objetivo maior era dar a
vai ter uma Constituição em seu be- Partido dos Trabalhadores assinará a minha contribuição para que o país
nefício. (...) Era preciso democratizar Constituição, porque entende que é o possa sair da excepcionalidade insti-
na questão do capital. E a questão cumprimento formal da sua participa- tucional — que o marcou no passado —
A prática de compra e venda gene- interação com a sociedade, incluin- Também contrário à medida, o
ralizada, “quase um tráfico”, somente do-se aí os meios de comunicação. constituinte Fernando Gomes (PMDB-
foi impactada graças à articulação BA) criticou: “Como pode o governo
conjunta entre diversos setores da so- VITÓRIA NAS GALERIAS assumir a comercialização do sangue
ciedade: “a luta contra o comércio do A Assembléia Nacional Constituinte se falta medicamento e muitas ve-
sangue foi a primeira política pública aprovou em primeiro turno a estatização zes se espera 24 horas, uma semana
de saúde impactada pelo HIV”, define da rede de coleta, pesquisa, tratamento para esse atendimento, quando o
Sílvia. Pela primeira vez, sociedade civil e transfusão de sangue e seus derivados, sangue tem que ser fornecido na
e autoridades governamentais de saúde mas a vitória não foi fácil. No dia da vo- hora?”, questionou. Francisco Dias
definiram uma aliança em condições de tação, as galerias do Congresso Nacional (PMDB-SP) atestava sua confiança:
igualdade, modelo que foi copiado em ficaram lotadas de representantes de “Estarei do lado daqueles que
outras ações de enfrentamento à aids. sindicatos de trabalhadores da área defendem o controle absoluto do
Ela conta que esta parceria não da saúde, de entidades médicas e sangue por parte do governo”.
teria sido efetiva se não tivesse conta- conselhos profissionais, além de se- Em entrevista à edição nº 10 da
do com a participação de dois outros cretários municipais e estaduais de Tema/RADIS, publicada em junho de
importantes atores: o Poder Legislativo Saúde. Foram 313 votos a favor, 127 1988, logo após a aprovação da emenda
e a mídia. A articulação direta com os contrários e 37 abstenções. do sangue, Betinho resumiu a motivação
profissionais de imprensa, avalia, foi da luta: “Acho que a aids criminalizou o
responsável pela grande repercussão em sangue, porque é mortal. Não entendo
torno da adoção de medidas regulatórias
em relação ao sangue. Sem falar no
A aids como o sangue possa ser objeto de tran-
sação comercial, pois foi exatamente
caráter “midiático” da epidemia: “A
aids era sinônimo de manchete de jor-
legitimou essa natureza da transfusão que nos
levou a viver essa desgraça”.
nal mesmo antes de fazer as primeiras A luta dos ativistas seria longa.
vítimas no Brasil”. A morte do cartunista o poder público Apesar da aprovação da emenda na
Henfil, em 4 de janeiro de 1988, em Constituinte, o efetivo controle sobre
plena Constituinte, provocou comoção
no plenário: da tribuna, vários parla-
a fechar bancos o comércio do sangue só ocorreu com
a aprovação do projeto de lei nº 1064,
mentares exigiam o controle do sangue.
Sílvia também destaca como
de sangue de 1991, inicialmente apresentado pelo
deputado Raimundo Bezerra (PMDB-CE).
estratégia decisiva a postura corajosa Sua aprovação, entretanto, viria apenas
de Betinho, ao assumir publicamente Única emenda votada em sepa- em 2001, constituindo a Lei 10.205,
sua condição de soropositivo. “Os he- rado — os constituintes não chegaram conhecida como “Lei Betinho”.
mofílicos poderiam ter se escondido: a acordo em torno do tema nos dias A lei ratifica a proibição do co-
considerados vítimas ‘inocentes’ do em que foi debatido em plenário —, o mércio de sangue e derivados e esta-
HIV, eles também sofriam precon- texto foi aprovado sob gritos de “salve belece a criação do Sistema Nacional
ceito”. Ela lembra que, a partir do o sangue do povo brasileiro”, na mes- de Sangue (Sinasan), voltado para a
momento em que o HIV entrou em ma sessão que aprovou por acordo o fiscalização de atividades e a vigilância
questão, mortes e problemas sanitá- novo texto sobre saúde, seguridade, sanitária de produtos. Também propõe
rios ocasionados pelo sangue conta- previdência e assistência social. a Política Nacional de Sangue, que
minado foram considerados crime, Alguns constituintes criticaram a objetiva garantir a auto-suficiência
e seus responsáveis, “criminosos”. decisão, como o deputado Pedro Canedo do país no setor. É também a Lei Beti-
Matida lembra que a aids deu (PFL-SP), para quem a aprovação tinha nho que determina o uso de material
visibilidade a outras epidemias “silen- se dado “emocionalmente” graças à descartável, a triagem de doadores e
ciosas” relacionadas à falta de controle morte de Henfil, manifestando preocu- testagem do sangue coletado, além
do sangue, como as contaminações por pação quanto à responsabilidade confe- de proibir a remuneração da doação,
citomegalovírus, malária e hepatites. “A rida ao Estado, segundo ele incapaz de que deve ser voluntária. Estabelece,
aids legitimou o poder público a tomar gerenciar a situação: “É exatamente a ainda, que o paciente tem o direito
atitudes drásticas, como fechar bancos esse Estado que esses segmentos da es- de conhecer a procedência do sangue
de sangue”, ressalta. O episódio deixou querda de nosso país querem entregar a a ser recebido por transfusão e institui,
como lição a idéia de que os profissionais coleta, o processamento e a transfusão como diretriz básica, o acesso universal
de saúde precisam estar em constante do sangue e seus derivados”. da população ao sangue. (A.D.L)
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REFERÊNCIAS
O S I ST EM A DE SAÚ DE RE A L
profunda e desastrosa” precarização para usuários e trabalhadores nem Para ele, “as diretrizes da in-
das relações de trabalho nos órgãos também se está contra a inovação tegralidade e da eqüidade pouco ou
federais de saúde: suspensão dos para manter o pior. nada avançam, a judicialização do
concursos públicos, aviltamento de O sanitarista afirma que as ne- acesso a procedimentos assistenciais
carreiras e salários e a “onda” de ter- cessidades e os direitos da população de médio e alto custo às camadas
ceirizações aleatórias, que acabou “ainda são secundários na lógica do média-média e média-alta aprofun-
por influir em estados e municípios modelo de gestão vigente”, no qual dam a iniqüidade e a fragmentação
pela Lei de Responsabilidade Fiscal. predominam os interesses da oferta: do sistema, e o modo de produzir ser-
Nelsão cita ainda o “retardamento dos trabalhadores de saúde, dos pres- viços e práticas de saúde permanece
ou o impedimento” da reforma do tadores de serviço, da indústria de centrado nos procedimentos médicos
Estado, que poderia garantir au- medicamentos e do modelo econômico de diagnose e terapia”.
tonomia gerencial a prestadores financeirizado. Outro problema, cita, Nelsão festeja o fato de que os
públicos a fim de melhorar resulta- é a fragmentação setorial — em detri- valores éticos incluídos na Constitui-
dos, desempenho e eficiência. Esse mento de políticas intersetoriais — “e ção tenham contagiado parte impor-
atraso, avalia, abriu brechas para a respectivos corporativismos, cliente- tante dos trabalhadores de saúde e
delegação de responsabilidades do lismos e desperdícios”. Nelsão mencio- dos gestores públicos, principalmente
Estado a entes privados em situações na também a desregulamentação tanto os municipais. Como conseqüência
casuísticas, como fundações privadas da demanda ao SUS pelos afiliados dos houve explosiva inclusão de metade
de apoio, organizações sociais (OSs) planos privados, quanto da produção da população, antes excluída. Mas, nos
e organizações da sociedade civil de de bens de saúde (medicamentos, anos 90, ficou clara uma distorção: a
interesse público (Oscips). equipamentos, imunobiológicos). inclusão pautou-se na universalidade
Nelsão defende que a bus- e na descentralização com ênfase na
ca de soluções não deve estar PORTA FECHADA municipalização, mantendo atrofiadas
circunscrita ao PLP nº 92/2007, Esses problemas se refletem di- e muitas vezes nulas a integralidade,
que trata das fundações esta- retamente nos serviços, opina Nelsão. a igualdade, a regionalização e a par-
tais de direito privado — “vago A atenção básica, que se expande às ticipação dos conselhos de saúde na
e vulnerável a distorções” —, nem maiorias pobres da população, na formulação de estratégias.
à emenda substitutiva do deputado média nacional tem baixa qualidade “Mesmo atrofiados, esses princí-
Pepe Vargas (PT-RS) — “que deve e resolutividade: “Não consegue pios continuam encampados por milha-
abranger mais alternativas”. Para constituir-se na porta de entrada res de atores locais que se esforçam
ele, houve um equívoco no debate, preferencial do sistema, nem reunir permanentemente em efetivá-los,
com posições polares cristalizadas, potência transformadora na estru- mesmo que nos limites de experiências
seja entre os gestores, os conselhei- turação do novo modelo de atenção localizadas, quase sempre frágeis e
ros de saúde, os delegados das confe- preconizado pelos princípios constitu- reversíveis”, observa. Provas desse
rências. Para Nelsão, temos o dever cionais”. Os serviços de média e alta esforço quase anônimo, diz, tornam-
cívico de superar esses equívocos, complexidade, cada vez mais conges- se visíveis nas mostras regionais e
começando pelo crédito de que nem tionados, reprimem oferta e demanda nacionais de experiências exitosas
se está querendo inovações no mo- — “repressão em regra iatrogênica e — “verdadeiras pontas de icebergs
delo de gestão para piorar a situação freqüentemente letal”. reveladoras de incomensurável poten-
O S I ST EM A DE SAÚ DE I DE A L
Projeto a concluir
política de pessoal é outro problema “Estamos numa encruzilhada,
A.D.
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na ponta do sistema, os milhares de modelos de gestão, ao longo dos úl- saúde do SUS para que o cidadão possa
conselheiros, trabalhadores de saúde, timos 18 anos, conselhos de saúde, de antemão conhecê-los? Qual é o pa-
usuários já mobilizados, gestores des- representações nacionais e entidades drão de integralidade e de assistência
centralizados, pesquisadores sociais e do movimento da Reforma Sanitária farmacêutica? Ele tem direito de obter
outros”, sustenta Nelsão. já perderam anéis para manter de- medicamento, mesmo que prescrito por
Para encontrar as saídas, diz dos e dedos para não perder braços, médico que não é da rede SUS? E mesmo
Nelsão, é preciso responder a algu- onde a eqüidade, a integralidade, a que não esteja na Relação Nacional de
mas questões: como superar o agudo regionalização e a alta resolutividade Medicamentos? Na terceira parte da pu-
subfinanciamento do SUS e o co- da atenção básica (e sua ampliação blicação, intitulada O vácuo normativo
financiamento público (indireto) do à classe média) vão parar? e o desafio de sua regulamentação, os
faturamento das empresas de planos autores indicam os pontos que exigem
privados de saúde? Como impedir a VÁCUOS NO ORDENAMENTO demarcação para que se consolide a
desastrosa precarização da gestão A advogada Lenir Santos, especia- estrutura organizativa e operativa do
pública do trabalho em saúde? Como lista em direito sanitário, e o professor SUS (ver box abaixo).
efetivar o planejamento e a orça- Luiz Odorico, da Universidade Federal Nos anos de implementação do SUS,
mentação ascendentes, com metas do Ceará, dedicam toda a última parte apontam, o Ministério da Saúde editou
e prioridades na oferta de serviços de seu livro SUS: o espaço da gestão “excessiva e exaustiva legislação infrale-
de saúde integrais? Quando haverá inovada e dos consensos interfederati- gal, com intuito de dar conformação ad-
compromisso, diretrizes e condições vos — Aspectos jurídicos, administrati- ministrativa a partir do financiamento da
reais para que a atenção básica deixe vos e financeiros aos “vácuos no orde- saúde”. Toda essa regulação visava impor
de ser focalizada somente nos namento jurídico e administrativo do projetos e programas federais a municí-
pobres, com baixa resolutivi- SUS” que “estão a demandar regulação pios e estados, em lugar de configurar
dade, baixo custo e sem con- urgente, principalmente no tocante à o sistema de saúde para a sociedade.
dições de ser porta de entrada integralidade da assistência”. Essa “hipertrofia da regulamentação”
preferencial aos serviços de E acrescentam nova lista de parece ter tido “efeito paralisante nos
maior densidade tecnológica? perguntas ainda sem resposta: o que estados e municípios”, que passaram
Se nas pressões e negociações por o SUS oferece? Quais os serviços? Onde a ter “papel passivo de cumpridor de
financiamento suficiente e por novos está definida a carteira de serviços de normas infralegais”, afirmam.
FOTO: A.D.
incisos V e XVI, estabelece que é
de competência das três esferas de As prisões de gestores que
governo a elaboração de normas téc- vêm acontecendo pelo país
nicas e o estabelecimento de padrões não seriam necessárias se
de qualidade e parâmetros de custos
que caracterizam a assistência à
eles tivessem considerado os
saúde. Mas, “essas regulamentações questionamentos feitos pelos
ainda são tímidas, por isso insufi - conselhos de saúde.
cientes para conformar um sistema
igualitário e eqüitativo”. FRANCISCO BATISTA JÚNIOR, presidente do CNS
Para os autores, é necessário es-
clarecer quais são as portas de entrada
do SUS, os protocolos de conduta, as
responsabilidades dos usuários com temas relevantes na sociedade e na de atenção centrado nos hospitais,
sua própria saúde — como o respeito economia da saúde. no profissional médico e na medicina
às prescrições —, o cartão de saúde, Novos temas exigirão novos re- curativa. Depois, redefinir o modelo de
os protocolos integrados, o padrão gramentos, como descriminalização gestão, com apoio e verbas do Ministé-
de integralidade, o acesso a medica- da eutanásia e do aborto, clona- rio da Saúde para o fortalecimento da
mentos padronizados e a incorporação gem, reprodução assistida, direito atenção primária nos municípios — a
tecnológica. Essa regulação é urgente, a intimidade e confidencialidade, fim de melhorar a rede física,
sustentam Lenir e Odorico, principal- consentimento, direitos e deveres a contratação de pessoal e a
mente porque a cada dia há um arsenal de pacientes, intervenções de risco compra de equipamentos.
de novidades que exigirão novas nor- elevado, distribuição de recursos Ele também pede que as
matizações em ambiente de segurança escassos, esterilização, bancos de carreiras do SUS sejam prioriza-
jurídica coletiva e individual. “Quanto DNA, terapias genéticas e outras das, para dar fim à precarização
antes cuidarmos de temas que já estão questões que demandam estudos na do trabalho, e logo opina que o projeto
batendo à porta, melhor”, alertam. bioética e do biodireito. das fundações estatais acentuará o
Para eles, é preciso evitar a Para a superação dos problemas do problema. “Precisamos de um modelo
falência do sistema, o que deixaria controle social, Francisco Batista Júnior, que reverta o processo de privatiza-
140 milhões de brasileiros que uti- do CNS, passou a defender uma proposta ção da saúde em todos os aspectos:
lizam o SUS desassistidos. Para isso, radical: sugere que os conselhos acio- na média e alta complexidade, pela
o poder público tem que consolidar nem a Justiça para que as leis relativas contratação de empresas; na atenção
as experiências acumuladas e or- à participação sejam integralmente primária, inclusive terceirizando a
ganizar um sistema que responda cumpridas. “As prisões de gestores que gestão com Oscips e OSs”.
“às imensas demandas que estão vêm acontecendo pelo país não seriam Apesar de todas as limitações, o
batendo ou já arrombando a porta”. necessárias se eles tivessem considerado SUS conseguiu avançar nesses 20 anos,
Entre elas, o enfrentamento de situ- os questionamentos feitos pelos con- afirma Gilson Carvalho. “Temos agora
ações como a inovação tecnológica selhos de saúde”, afirma. “Temo que, que expandir e consolidar seus princí-
e farmacológica, o envelhecimento a partir de agora, passem a prender pios em todos os rincões brasileiros”.
da população brasileira, o impacto conselheiros por não terem fiscalizado Ao comparar o passado e o presente,
da violência na saúde pública, a até onde deveriam”. Gilson mantém a esperança: “Só de
judicialização e a politização da Para o farmacêutico, o sistema ter visto a precariedade da saúde 40,
assistência sanitária, os direitos do precisa de uma correção de rumos que 30, 20 anos atrás, não tenho o direito
cidadão na saúde, com definição de traga de volta alguns eixos do projeto de desanimar”, resiste o sanitarista.
padrão de integralidade da assistên- original da reforma sanitária. Primei- “Preciso ter entusiasmo com o que já
cia e acesso regulado, entre outros ro, diz, é preciso superar o modelo se conseguiu”. (K.M.)
RADIS 72 • AGO/2008
[ 34 ]
serviço especial
pós-tudo especial
Ulysses
ois de fevereiro de 1987:
de fábrica. O inimigo mortal do homem é
a miséria. Não há pior discriminação do
do Universo. O Estado, encarnado na
metrópole, resignara-se ante a invasão