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SANEAMENTO DO PROCESSO
I.
Por requerimento constante de fls. 4515 e seg. vieram os arguidos
Angelita Pires, Gilson José António da Silva e outros arguir a nulidade da
acusação, pelas seguintes razões:
1 - O crime de Detenção e Uso de arma para a perturbação da
ordem pública é inexistente no ordenamento jurídico timorense;
2 - O dolo dos crimes imputados aos arguidos na acusação não
pode ser alegado de forma genérica, encontrando-se descrito de forma
incompleta;
3 - O crime de uso de arma para perturbação da ordem pública
exige um dolo específico que não se mostra alegado;
4 - O crime de atentado contra o Presidente da República, p. e p.
pelo art. 104 do Código Penal Indonésio carece de uma interpretação
correctiva quando transposto para a ordem jurídica de Timor Leste;
5 - Dos factos alegados respeitantes à arguida Angelita Pires não
consta o dolo dos crimes de homicídio tentado, nem dos crimes de dano;
6 - Ainda nos factos alegados respeitantes a esta arguida não
constam factos bastantes para lhe serem imputados os crime de tentativa
de homicídio do Presidente da República e do Primeiro Ministro enquanto
instigadora de tais crimes, faltando ainda a alegação dos respectivos
elementos subjectivos.
E não se tendo feito nem uma coisa nem outra, e tendo o processo
seguido para julgamento, o conhecimento de uma tal nulidade
determinaria apenas que o tribunal aditasse os factos ao julgamentos; ou,
caso tenha aditado tais factos sem previamente conhecer a nulidade,
deveria, no momento em que a conhecesse, julgá-la sanada.
No caso presente, sucedeu esta última situação.
O Tribunal não conheceu da nulidade durante todo o julgamento
mas, por via oficiosa, acrescentou os factos julgados necessários para a
boa decisão da causa (na sessão de audiência do passado dia 11 de
Fevereiro de 2010). Com esse aditamento, supriu as lacunas que
constariam da acusação.
Como tal, por se entender que a acusação não omite factos
essenciais ao preenchimento dos tipos legais imputados aos arguidos, não
se declara a sua invalidade.
Sendo certo que, caso a invalidade viesse a ser declarada, sempre
seria a mesma julgada suprida por via da intervenção oficiosa do tribunal
ao abrigo do art. 273 do CPP.
Razão pela qual se julga improcedente a nulidade arguida.
análise da acusação para efeitos de aferição da sua validade, não deve ser
discutida.
Assim, relega-se o conhecimento da questão para o acordão.
II.
Por requerimento apresentado a 20 de Julho de 2009 veio a Defesa
da arguida Angelita Maria Francisca Pires suscitar ainda várias outras
nulidades processuais, entre outros requerimentos então formulados.
Por despacho proferido em acta a 18 de Fevereiro de 2010, o
conhecimento de tais nulidades foi relegado para o presente despacho.
São as seguintes as nulidades arguidas:
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III.
Para além das nulidades acima conhecidas, não se vislumbram
outras nulidades, excepções ou questões prévias, que cumpra conhecer, e
que obstem à apreciação do objecto do processo.
Não provado
22. No mesmo dia, por volta das 13h, o Alfredo Reinado, através de um
dos números que utilizava, telefonou ao Leopoldino Exposto, que se
encontrava em Díli, pedindo-lhe que fosse a Lauala, com mais um carro?
Provado.
28. Nos dois referidos veículos vinham, pelo menos, os arguidos Amaro da
Costa, Domingos do Amaral, Gilson José António da Silva, Paulo Neno
Leos, Gilberto Suni Mota, Marcelo Caetano, Joanino Maria Guterres, Ismael
Sansão Moniz Soares, Egídio Lay Carvalho e Caetano dos Santos Ximenes,
fardados e armados?
Provado.
35. Na manhã do dia 11 de Fevereiro de 2008, por volta das 6h, o PR saiu
de sua residência para o seu habitual footing matinal em direcção ao
Cristo Rei, na companhia dos seguranças, os militares da F-FDTL Isaac da
Silva e Pedro Joaquim Soares?
Provado.
Provado.
50. Provocando a sua queda numa vala o que veio a importar diversos
estragos, nomeadamente, no motor, capot, quebra de faróis dianteiros,
quebra do vidro frontal, destruição dos pneus dianteiros, e diversos
orifícios de balas por toda a carroçaria, deixando mesmo de funcionar?
Provado.
54. Na altura em que foi atingido, o lesado Celestino Filipe Gama passava
ocasionalmente na estrada em frente à casa do PR, vindo de Metinaro, a
caminho de Dili, conduzindo um Jeep2 das F-FDTL?
Provado.
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58. Por volta das 06h45m, o PR, de regresso à sua residência, vindo do
footing e na companhia dos militares Isaac da Silva e Pedro Joaquim
Soares, já próximo do restaurante “Kas Bar”, ouviu barulho de tiros que
vinham na direcção da sua residência?
Provado.
Provado.
69. O arguido Marcelo Caetano tinha na sua posse uma arma HK 33 – ATM
– n. 019366?
Provado que no dia 29 de Março de 2008 o arguido Marcelo
Caetano tinha na sua posse uma arma HK 33 – ATM – n. 019366.
76. Acto contínuo saiu da sua residência, escoltado por uma coluna
composta por 4 veículos, com a sua segurança pessoal, elementos da
PNTL e da Unpol em direcção a Dili?
Provado.
77. O primeiro veículo da coluna, identificado nos autos como Sec. 1, era
conduzido por Joni Barbosa, transportando o colega José Maria Barreto
Soares?
Provado.
78. O segundo veículo da coluna, identificado nos autos como PM1, era
conduzido por Adolfo Soares, transportando o colega Boby Agapito
Gonçalves e o Primeiro Ministro Xanana Gusmão, que vinha sentado no
banco de trás?
Provado.
79. O terceiro veículo da coluna, identificado nos autos como UN 0617, era
conduzido por Komsan Tookokgruado, acompanhado pelo colega
Alongkorn Kalayanasoontor?
Provado.
80. O quarto veículo da coluna, identificado nos autos como 01-55G, era
conduzido por Abílio Santos?
Provado.
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Provado.
95. Outros arguidos, entre os quais, Egidio Lay de Carvalho, José Agapito
Madeira e Ismael Sansão Muniz Soares, fugiram para a Indonésia?
Provado.
99. Alguns dos arguidos procederam à entrega das armas e/ou uniformes
às autoridades, nos seguintes termos:
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100. Os arguidos sabiam que não estavam ao serviço das F-FDTL nem da
PNTL, e que, nessa condição, não podiam estar armados com armas
dessas instituições?
Provado.
102. Fizeram uso de tais armas para, entre outros fins, criarem medo e
receio na comunidade?
Provado.
103. E sabiam que tais condutas eram proibidas e punidas por lei?
Provado.
105. E que por via disso o PR poderia deixar de exercer as suas funções?
Provado.
107. Para esse fim, consideraram necessária a morte das pessoas que
efectuavam a segurança à casa e à pessoa do PR?
Provado.
114. Para esse fim, consideraram necessária a morte das pessoas que
efectuavam a segurança à pessoa do Primeiro Ministro?
Provado que, para esse fim, consideraram necessária a
morte das pessoas que viajavam no carro onde seguia o Primeiro
Ministro.
118. Os arguidos sabiam que tais condutas eram proibidas e punidas por
lei?
Provado.
121. Sabia a arguida Angelita Pires que, as conversas que tinha com o ex-
major Alfredo Reinado, pelo menos as que eram presenciadas por alguns
dos arguidos, eram de molde a provocar nele e, consequentemente, nos
demais elementos do seu grupo, ódio e raiva contra o Presidente da
República e Primeiro-ministro?
Não Provado.
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126. Resultados estes que a arguida admitiu como sendo necessários para
a prossecução do objectivo pretendido de matar o Presidente da República
e o Primeiro-Ministro?
Não Provado.
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133. Bem sabendo que, tais condutas eram proibidas e punidas por lei?
Provado.
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Provado.
145. O arguido Gilson José António da Silva é casado, vive com a mulher e
um filho com 2 anos de idade?
Provado.
150. O arguido Paulo Neno Leos é casado, vive com a mulher e dois filhos,
tendo o mais velho 5 anos de idade?
Provado.
169. O arguido Ismael Sansão Moniz Soares é casado, vive com a mulher e
dois filhos, tendo o mais velho 6 anos de idade, e o mais novo 3 anos de
idade?
Provado.
Provado.
Provado.
Provado.
196. O arguido Avelino da Costa é casado, vive com a mulher e três filhos,
tendo o mais velho 8 anos de idade, e o mais novo 1 ano de idade?
Provado.
215. O arguido Julio Soares Guterres é casado, vive com a mulher e dois
filhos, tendo o mais velho 4 anos de idade, e o mais novo 2 anos de idade?
Provado.
220. O arguido Gaspar Lopes é casado, vive com a mulher e seis filhos,
tendo o mais velho 15 anos de idade, e o mais novo 1 ano de idade?
Provado.
Provado.
246. O arguido Tito Tilman é casado, vive com a mulher e um filho, com
um ano de idade?
Provado.
I.
Valor Probatório das Declarações dos Arguidos
declarações, deve o arguido ser advertido de que, optando por não falar,
não pode o seu silêncio prejudicá-lo; sempre que opte por falar, perante a
autoridade judiciária competente, podem as suas declarações ser
livremente valoradas como meio de prova. Logo, quando o arguido opte,
em audiência de julgamento, pelo direito ao silêncio, as declarações por si
prestadas em inquérito perante a autoridade judiciária competente (como
é o caso do juiz em sede de primeiro interrogatório de arguido detido –
art. 63, n.2 do CPP - ; ou do Ministério Público nos demais interrogatórios
realizados na fase de inquérito – art. 64, n.1 conjugado com o art. 48, n.2,
alínea b), ambos do CPP), podem servir para fundamentar a convicção do
tribunal, estando sujeitas à sua livre apreciação, não sendo necessário,
sequer, que as mesmas sejam examinadas em audiência. Ou seja, o
exercício do direito ao silêncio em audiência não impede o tribunal de
fundamentar a sua convicção a partir da valoração de declarações do
arguido anteriormente prestadas, desde que, aquando da prestação
dessas declarações tenha sido advertido de que poderia exercer o seu
direito ao silêncio sem que tal o desfavorecesse.
Assim, entendeu o Tribunal que as declarações prestadas pelos
arguidos em sede de primeiro interrogatório, bem como nos demais
interrogatórios realizados pelo Ministério Público na fase de inquérito,
podem ser objecto de valoração enquanto meio de prova – art. 266, n.2 e
117, n.1, ambos do Código de Processo Penal.
Ultrapassada essa primeira questão, importa agora resolver outra, e
que se reporta ao valor probatório das declarações do arguido na parte
em que aquele incrime outros arguidos.
Noutros ordenamentos jurídicos semelhantes ao timorense, quer
por via legislativa, quer por via jurisprudencial, tem-se limitado o valor das
declarações incriminatórias de um arguido face aos demais co-arguidos,
exigindo-se que tais declarações, para que possam servir de base à
convicção do Tribunal, sejam corroboradas por outros elementos
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II.
Metodologia empregue na motivação da decisão de facto
III.
Motivação das respostas
considerações:
Por outro lado, tal telefone (7372773) não regista qualquer fluxo de
chamadas entre os dias 27 de Janeiro de 2008 e 5 de Fevereiro de 2008 –
período durante o qual, segundo a arguida afirmou e provou, estaria na
Austrália. Também não há registo de qualquer chamada efectuada por
Alfredo Reinado para esse número no dia 8 de Fevereiro de 2008, sendo
que nesse dia, segundo afirmou a arguida, estaria em Lauala, juntamente
com o Alfredo Reinado. No dia 10 de Fevereiro de 2008, só foram
registadas duas chamadas de Alfredo Reinado para esse número: uma às
7h50 da manhã, e outra às 21:00 horas da noite. O que coincide com as
declarações da arguida ao afirmar que falou com o Alfredo Reinado antes
de sair de Dili a caminho de Lauala; e que já depois do regresso a Dili,
nesse mesmo dia, ele lhe voltou a ligar para saber se tinha regressado
bem.
testemunha José Fernando Real, pelo que não se mostra abalada a sua
credibilidade.
A arguida Angelita Pires referiu nas suas declarações que no
dia 9 de Fevereiro de 2008, esteve a jantar no Beach Café com um amigo,
não tendo falado com outras pessoas sobre o Reinado. Nesta parte, as
suas declarações não se mostram credíveis face ao valor do depoimento
prestado por aquelas testemunhas.
21. A testemunha José Mendonça, que foi visitar o Alfredo Reinado no dia
4 a Lauala, tendo ali ficado até ao dia 11 de Fevereiro, afirmou que, a
seguir ao jantar do dia 10, todos os que estavam na casa do Alfredo
Reinado, alguns fardados e armados, dirigiram-se de carro para casa onde
se encontrava o arguido Gastão Salsinha. Segundo afirmou, o Alfredo
Reinado saiu na mesma altura para o mesmo local, acompanhado dos
arguidos Mota (Gilberto Suni Mota), Paulo Neno, Adolfo da Silva e de
Leopoldino Exposto. A testemunha permaneceu sozinho na casa onde se
alojava o Alfredo Reinado.
O arguido Gilson José da Silva afirmou que no dia 10 de Fevereiro
de 2008 chegou a Lauala pelas 14h00. Por volta das 18h00 foi chamado
pelo arguido Mota (Gilberto Suni Mota) para ir encontrar-se com o Alfredo
Reinado. Tendo ido à casa onde este se encontrava, viu lá vários
individuos, entre os quais os arguidos Mota, Paulo Neno, Apai (Avelino da
Costa), Adolfo da Silva, Susar (Amaro da Costa). Também se encontrava
presente a arguida Angelita Pires, que conversava com o Alfredo Reinado,
ora em português, ora em inglês, pelo que o arguido não percebeu o que
ambos diziam. Também estava presente o Leopoldino. Ao anoitecer a
arguida Angelita deixou a casa.
Já depois da saída da arguida Angelita Pires, o Alfredo Reinado disse
para se prepararem uma vez que iriam sair para Dili, mas não disse para
quê. O arguido Adolfo entregou uma farda ao arguido para ele vestir.
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22. e 23. O arguido Paulo Neno afirmou que, por volta do meio dia do
dia 10 de Fevereiro, o arguido viu e ouviu o Alfredo Reinado a telefonar ao
Leopoldino dizendo-lhe para ir a Lauala com o carro. Esta chamada
encontra-se registada nas conversações tidas através do telefone n.
7368917 (de Alfredo Reinado) para o n. 7348756 (de Leopoldino Exposto),
conforme CD junto pela Timor Telecom. O Leopoldino chegou, conduzindo
o veículo fotografado a fls. 312, na companhia do Caetano e do Asanko
(Ismael Sansão).
A testemunha Natália Lidia Guterres, mulher de Leopoldino Exposto,
afirmou que o seu marido, nesse dia, chegou a casa dizendo que
precisava de ir a Ermera, para onde saiu por volta das 16h00, conduzindo
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28. O arguido Amaro da Costa afirmou que com o Alfredo estavam o Paulo
Neno, o Mota (Gilberto Suni Mota) e o Amaral (Domingos do Amaral),
tendo o arguido seguido nesse carro conduzido pelo Alfredo Reinado.Atrás
estava um jipe Pajero, conduzido pelo Leopoldino, onde seguiam o Asanco
(Ismael Sansão), Lay (Egídio Lay) e outros que não se recorda o nome,
num total de dez pessoas. Vieram armados.
Para além dos acima identificados estavam ainda no grupo que se
deslocou a casa do Presidente da República o arguido Akay (Marcelo
Caetano).
O arguido Júlio Soares Guterres, apesar de ter seguido para Balibar,
afirmou ter visto que, com o Alfredo Reinado estavam o Leopoldino
Exposto e os arguidos Paulo Neno, Susar (Amaro da Costa), Lay (Egídio
Lay), Gilberto Suni Mota, Marcelo Caetano, Domingos Amaral, e outros,
todos armados e fardados.
O arguido Domingos Amaral afirmou que no carro do Leopoldino
seguiam o Valente (Caetano Ximenes), Asanko (Ismael Sansão), Joanino
Guterres e Paulo Neno. O arguido entrou para este carro, sendo que num
carro mais adiante, seguiam o Alfredo Reinado e mais quatro pessoas. Nos
dois carros, apenas o arguido Domingos e o Valente (Caetano Ximenes)
seguiam desarmados.
O arguido Paulo Neno Leos afirmou que seguiram para Dili, no
primeiro carro, o Alfredo Reinado, e os arguidos Paulo Neno, Gilberto Suni
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33. O arguido Júlio Soares Guterres disse que os arguidos que seguiam no
carro conduzido pelo arguido Gastão Salsinha colocaram-se na mata
situada por trás dessa casa, e os que seguiam no outro carro ficaram junto
à estrada, de acordo com ordens dadas pelo arguido Gastão Salsinha.
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34. Júlio Soares Guterres disse que, após os carros saírem a caminho de
Dili, o arguido Gastão Salsinha disse que íam a uma festa, para depois
dizer que vinham sequestrar o Primeiro Ministro.
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39. Segundo afirmou o lesado Domingos Simões Pereira, quem lhe retirou
a arma foi o arguido Ismael Sansão (Asanko).
Já o arguido Amaro da Costa afirma que quem desarmou o
segurança foi o arguido Domingos do Amaral.
Por seu turno, o arguido Domingos Amaral afirmou que o arguido
Susar (Amaro da Costa) retirou a arma M16 ao segurança do portão,
tendo-lha entregue.
Por fim, o arguido Paulo Neno Leos afirma que a arma foi retirada
pelo Alfredo Reinado, o qual a entregou ao arguido Amaral.
Face às patentes contradições quanto à identidade da pessoa que
retirou a arma ao segurança Domingos Pereira, entendeu o Tribunal dar
como não provado que a subtracção da arma foi realizada pelo arguido
Amaro da Costa.
Contudo, quanto à subtracção própriamente dita, todos os
depoimentos e declarações concorrem no sentido de dizer que a mesma
ocorreu, admitindo o arguido Domingos Amaral ter ficado na posse dessa
arma, a qual veio posteriormente a entregar, conforme afirmou e é
confirmado pelo auto de apreensão constante de fls. 3419.
sabendo quem eram, a dizerem “não se mexem”. Tendo ido ver quem era,
reconheceu o Alfredo reinado. Como lhe pareceu estranho, foi chamar o
Albino Assis e o Chico (Francisco Lino Marçal), que ainda se encontravam
a dormir, dizendo-lhes que o Major entrou (“major tama”). Viu então o
Francisco Lino a levantar-se e a pegar na sua arma. A testemunha
Francisco Lino, afirmou então que, depois de ter sido acordado pelo
Tadeu, pegou na arma e saiu da casa, dirigindo-se para a casa de banho
situada ao fundo do compound, com a intenção de se abrigar nesse local.
da vedação. Por essa razão, não viu o local onde aqueles dois caíram
atingidos pelos tiros.
O depoimento da testemunha Francisco Lino não se conforma com
outras provas que cumpre analisar:
Por um lado, no local onde este afirma ter disparado, foram
encontradas 22 cápsulas de munições 5.56mm (conforme mapa de fls.
372, o qual, como se referiu já, não foi elaborado em escala);
Entre esse local e aquele onde o Leopoldino e o Alfredo Reinado se
encontravam existem várias árvores e arbustos que impediam a precisão
de tiro;
Em algumas dessas árvores, bem como nas tendas situadas atrás
do local onde se encontravam o Leopoldino e o Alfredo foram encontradas
várias marcas de tiros, compatíveis com disparos disparados do local onde
se encontrava a testemunha, conforme se constata de fls. 272 a 279;
A autópsia efectuada ao Leopoldino Exposto e ao Alfredo Reinado
anotam a presença de queimaduras (ou tatuagens) na pele junto às
feridas das balas, sugerindo a utilização de uma arma de alta velocidade,
e que os disparos foram efectuados a curta distância.
Comecemos pela análise dos relatórios das autópsias (3885 a
3900):
No cadáver de Alfredo Reinado foram observadas quatro feridas,
uma no pescoço, outra no peito, outra na parte esquerda da face junto ao
olho, e por fim, uma na mão esquerda. Nas três primeiras foram
encontrados os mencionados sinais de queimaduras que sugerem que os
disparos foram efectuados a curta distância.
A ferida do pescoço apresenta um diametro de 05X05 mm, e
determinou uma hemorragia local, após causar lesões nos tecidos
subcutâneos, músculos, vasos, nervos, e laceração do esófago e da
traqueia. No interior do corpo ocorreu a fragmentação do projéctil. A
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54. Das declarações do lesado Celestino Gama resulta que este fazia
aquele caminho diariamente a caminho de casa, uma vez que, por causa
da crise, não podia utilizar outro trajecto por a estrada estar bloqueada
em Fatu Ahi. Tinha regressado a Dili por se ter lembrado que tinha
deixado em casa a chave do armário onde guardava a farda.
56. Não foi produzida qualquer prova sobre a existência de tais danos,
sendo que as únicas árvores e tendas atingidas por tiros, conforme resulta
das fotografias de fls. 272 a 279 situam-se nas traseiras do compound, e
reportam-se aos disparos efectuados pela arma de Francisco Marçal.
Contudo, não se pode dar por provado que tenha sido este arguido a
subtraí-la do interior do compound.
72. a 74. Dos relatórios médicos constantes de fls. 3171 a 3196 e 3781 a
3785, resulta que o Presidente da República, na sequência das lesões
sofridas foi evacuado nesse mesmo dia para Darwin, tendo aí sido sujeito
a diversas intervenções cirúrgicas.
A acompanhá-lo seguiu Rosa Maria Carrascalão, irmã do Presidente,
que afirmou ter seguido com ele para a Austrália, tendo aí ficado duas
semanas. Na primeira semana o Presidente esteve de coma. A
testemunha veio a Dili por uma semana, após o que regressou à Austrália.
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81. O arguido Júlio Soares Guterres disse que os que seguiam no carro
conduzido pelo arguido Gastão Salsinha colocaram-se na mata situada por
trás dessa casa, e os que seguiam no outro carro ficaram junto à estrada,
de acordo com ordens dadas pelo arguido Gastão Salsinha. Ouviu este
arguido a falar ao telefone com o Alfredo Reinado sobre a distribuição dos
homens no terreno.
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82. O arguido Júlio Soares Guterres disse que pelas 7h00 ouviram tiros de
rajada, provenientes do local onde os outros colegas se encontravam, na
parte de baixo da estrada.
O arguido Alexandre Araújo afirmou que por volta das 7h00, não
sabendo precisar a hora, viu os carros do Primeiro Ministro a passarem em
direcção a Dili, dois carros brancos, não sabendo dizer se eram seguidos
por outros carros. Do local onde o arguido se encontrava, viu o arguido
Adolfo a disparar três tiros para o ar. Depois ouviu muitos tiros, dados
pelos elementos do grupo, mas não viu quem foi, para além do Adolfo.
Depois subiu para um sítio por trás da casa do Primeiro Ministro, onde se
encontrou com os arguidos Cris (Bernardo da Costa) e Mane Forte
(Raimundo Maia Barreto), que lhe disseram que dispararam contra o carro
do Primeiro Ministro..
O Primeiro Ministro, no seu depoimento, afirmou que “Após uma
curva fechada e à saída de uma pequena ponte, sentiu-se a intensidade
de um fogo cerrado a alvejar o carro da frente e o nosso.(...) O vidro
lateral da porta do condutor foi atingido e ele disse-me “já partiram o meu
vidro” ao que respondi “continua a andar”. (...) No fim do último troço
mais comprido e recto da estrada, ainda conseguiram furar mais pneus.
(...) Pelos tiros apenas pude localizar que alguns estavam postados na
contracosta superior da estrada e outros na berma oposta. O início do
ataque foi a fogo cerrado”.
O arguido Avelino da Costa disse que, quando estavam espalhados
num ponto superior à casa do Primeiro Ministro, ouviu tiros. Nem ele, nem
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91. a 93. O arguido Júlio Soares Guterres disse que, já depois de terem
ouvido os tiros, os arguidos Apai (Avelino da Costa) e Joni (Julião António
Soares) dirigiram-se ao portão da casa do Primeiro Ministro, onde
estiveram a falar com os colegas da PNTL que faziam a segurança da
casa.
O arguido Avelino da Costa disse que quando estavam espalhados
num ponto superior à casa do Primeiro Ministro, ouviu tiros, após o que
desceram para junto da casa do Primeiro Ministro. Uma vez aí, o arguido
Avelino foi falar com os seguranças António e Aroke, mas não lhes pediu
armas.
A testemunha António Caldeira Delgado Duarte disse que ouviu
gritos exigindo que saíssem da casa com as mãos no ar. Perguntou ao
Roque Exposto se os conhecia, tendo este dito que sim. Então, o Roque
chamou pelo arguido Avelino da Costa, e foi encontrar-se com os arguidos
Avelino e Gastão Salsinha na parte traseira da residência. Após a
conversa, o Roque voltou dizendo que eles queriam as armas que
existissem na casa, mas o Roque disse-lhes que não as entregava.
Passado cinco minutos, o arguido Avelino da Costa desceu do lugar onde
se encontrava, e chamou pelos quatro (a testemunha António Delgado,
Roque Exposto, Antero da Costa e João Barreto). Foram ter com o arguido
ao campo de basquete, e ele voltou a exigir as armas. As testemunhas
disseram que estariam já a chegar as forças australianas, pelo que o
arguido saiu do local, foi falar com o arguido Salsinha, e dali saíram para a
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o qual não adiantou qualquer razão para o facto de ter falado com os
seguranças.
102. Tendo os arguidos feito uso das armas para com elas realizarem dois
atentados, um contra o Presidente da República, outro contra o Primeiro
Ministro, não podiam deixar de ter previsto as consequências resultantes
desses seus actos, nomeadamente, a instabilidade política que gerariam
caso os atentados viessem a consumar-se, numa situação de insegurança
já existente desde 2006, a qual justificou o reforço da presença militar
internacional. Aliás, mesmo sem a consumação dos atentados, foi
evidente a instabilidade decorrente dos factos, a qual, como resultou
provado, determinou a declaração do estado de sítio por um período de
três meses, o que, por força da Constituição, só pode ser declarado em
caso de grave perturbação ou ameaça de perturbação séria da ordem
constitucional democrática ou de calamidade pública – art. 25, n.2 da
CRDTL.
Sendo feita essa avaliação política da situação do país, não pode
deixar de se concluir que uma tal situação importa sempre o medo e
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República, não pretende apenas comparecer a uma reunião para a qual foi
convocado para resolver um problema que é seu, mas sim para atentar
contra a vida do Presidente. E para que essa lógica e essas regras sejam
contrariadas, é necessária muita prova que aponte em sentido diverso. E
essa prova não foi feita, nem a argumentação apresentada, construída a
partir de extrapolações sobre extrapolações, é forte o bastante para
suscitar, sequer, uma dúvida razoável, muito menos uma dúvida forte e
insanável que permitisse afastar a convicção do Tribunal baseada nas
provas produzidas.
Em face de quanto fica dito, é o tribunal levado a concluir, a partir
dos factos provados, que a intenção de Alfredo Reinado, quando se
desloca a Dili, é a de atentar contra a vida do Presidente da República.
Importa agora saber se essa intenção era do conhecimento dos
arguidos, e se estes aceitaram participar nos actos destinados a
concretizar essa intenção, partilhando dela.
Como se viu já, os arguidos que prestaram declarações negam ter
conhecimento dessa intenção, referindo que lhes foi dito que viriam a Dili
para uma reunião.
Admitindo essa possibilidade, colocam-se ao portão da residência
presidencial, com a mera intenção de efectuarem segurança a Alfredo
Reinado que, supostamente, entrou para comparecer a uma reunião. A
dada altura, depois de ouvirem tiros no interior do compound, são
surpreendidos pela notícia de que Alfredo Reinado foi morto. Quase em
simultâneo, surgem tiros do interior do compound, e surge um carro das
F-FDTL que é atingido no meio dos tiros. Ou seja, o plano que lhes foi
comunicado é totalmente alterado, e a liderança do grupo desaparece
subitamente.
Perante este quadro factual, diz a lógica, e a boa fé, que a atitude
mais consentânea com factos tão surpreendentes será a de procurar fugir.
Mas não é isso que acontece. Perante algo totalmente inesperado para
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quem iria apenas a uma reunião, um ou vários dos arguidos deixa-se ficar
no local, de tocaia, e espera que o Presidente da República regresse do
seu passeio matinal. E espera ainda durante largos minutos, considerando
a distância a que o Presidente da República se encontrava no moemnto
em que ocorre o tiroteio em sua casa. E ao vê-lo aproximar-se da casa,
surge na estrada e dispara três tiros dirigidos à figura.
Não se trata de uma reacção lógica para quem vem a uma reunião
e é surpreendido por um ataque a quem lidera o movimento a que
pertence.
Mas já é compreensível e lógico se, quem assim agiu, o fez no
quadro de um plano destinado a matar o Presidente. Frustrada a primeira
parte do plano, uma vez que o Presidente não se encontra em casa,
permanece ou permanecem no local para executarem os objectivos do
plano, porque sabe que dentro em breve o Presidente virá do seu passeio
(conforme os arguidos sabiam).
E caso pensassem que tinha sido montada uma cilada, ainda menos
compreensível e lógico seria que permanecessem à espera do regresso do
Presidente. Num quadro de conspiração seria muito pouco provável que o
Presidente da República aguardasse pelo desenrolar dos acontecimentos
planeados na praia mais próxima, e regressasse a casa sem antes ter a
confirmação de que tudo estaria consumado. Numa tal hipótese, dizem
também as regras da lógica, o Presidente da República nunca estaria
naquele local nem em local próximo, e nunca regressaria a casa pelo seu
pé sem se certificar do que havia sucedido. Assim, se um ou mais
arguidos aguardam no local o regresso do Presidente, é porque não estão
a pensar que foram atraídos para uma cilada.
Ao esperarem pelo Presidente, é porque sabem que ele, com toda a
probabilidade virá, seja porque não se apercebeu de nada, seja porque
pretende saber o que se passou na sua ausência.
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nas traseiras da casa deste, local por onde este nunca passaria, como não
passou. A menos que pretendessem efectuar o rapto quando este se
encontrava ainda na sua residência. Mas a ser assim, fica por explicar
porque motivo se colocou um grupo de atiradores na estrada, 500 metros
abaixo da residência. E porque motivo foi dito a estes atiradores que a sua
presença naquele local tinha por fim fazer um ataque ao Primeiro Ministro.
Já uma tal colocação sobre a casa do Primeiro Ministro se mostra
adequada a uma intenção de homicídio, na medida em que, conforme se
constatou na inspecção ao local, todo o exterior da residência ficaria
facilmente sob a mira de atiradores colocados na posição em que os
arguidos afirmaram que se colocaram e em que, mais tarde, foram vistos
pelas testemunhas, caso o Primeiro Ministro saísse para o exterior da
residência. Daí a razão de ser da existência de um grupo nesse local, e de
um outro colocado na estrada de descida para Dili, caso o primeiro grupo
não tivesse a oportunidade de efectuar os disparos.
Entende-se pois que, todos os elementos dos dois grupos foram, em
algum momento informados que o motivo da sua deslocação àquele local
seria a de matarem o Primeiro Ministro, motivo esse que aceitaram, com o
qual concordaram, e passaram a pretender também.
Que a intenção dos arguidos estava para além de um rapto resulta
patente da forma como foram desferidos os tiros contra a viatura em que
seguia o Primeiro Ministro. Conforme se viu já, tais tiros não se dirigiram
exclusivamente aos pneus. Pelo contrário, atingiram portas, quebraram
vidros, e penetraram no interior do habitáculo, perfurando os bancos dos
passageiros. Os tiros, conforme resulta da fundamentação dada aos factos
respectivos, foram provenientes de várias armas, situadas em locais
diversos. Foram também desferidos de acordo com as instruções
recebidas.
Pelo que, é por demais evidente a intenção de matar o Primeiro
Ministro, intenção esta partilhada por todos os elementos do grupo que se
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114., 115., 116. e 128. Conforme resulta dos factos dados por provados
a propósito desta ocorrência, apesar do veículo do Primeiro Ministro ser o
segundo de um convoy composto por três ou quatro veículos, só esse
veículo foi atingido pelos tiros disparados da estrada.
Quisessem os arguidos matar os ocupantes dos demais veículos
para evitar que estes agissem em defesa do Primeiro Ministro, poderiam
atingir esses veículos da mesma forma que atingiram o do Primeiro
Ministro, pois esses veículos estavam tão acessíveis aos arguidos como
aquele.
Contudo, os arguidos, mesmo com os veículos em movimento,
atingiram apenas um só veículo, o que revela que não teriam a intenção
de atingir os demais, nem julgavam necessário fazê-lo para que a sua
intenção se concretizasse.
Assim, impõe-se dar como provado que os arguidos apenas
consideraram necessária a morte dos ocupantes que seguiam no veículo
do Primeiro Ministro.
Pela mesma ordem de razões, entendeu o Tribunal que apenas se
pode dar como provado que os arguidos pretenderam danificar aquela
viatura e não qualquer outra onde os demais segurança seguiam. Aliás, os
danos verificados na viatura Sec1, que seguia à frente, não resultaram de
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121. a 126. Conforme se viu já, a conduta assumida pela arguida junto de
Alfredo Reinado não contribuiu para a pacificação das relações entre este
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132. Alguns dos arguidos, entre os quais, Julião António Soares, único a
ter apresentado contestação, afirmam que agiram no cumprimento de
ordens, uma vez que eram militares.
No entanto, conforme se viu já, no momento em que os factos
ocorreram, nenhum dos arguidos se mostrava integrado em qualquer
estrutura militar ou de segurança hierarquizadas. No momento dos factos,
os arguidos faziam parte de um grupo. Grupo este que não era das F-FDTL
ou da PNTL, mas sim um grupo espontaneamente formado e ao qual os
arguidos voluntariamente aderiram (pelo menos, nenhum deles afirmou
ter sido forçado a acompanhar Alfredo reinado ou o arguido Gastão
Salsinha para Lauala).
Dessa forma, quando os arguidos afirmam que cumpriram ordens,
convém enquadrar tais afirmações no seu contexto, e considerar que as
cumpriram não porque a tanto estivessem obrigados por um qualquer
dever funcional, mas porque entenderam, conscientemente, que deviam
aceitar cumprí-las. Na circunstância em que todos se encontravam,
nenhuma outra pessoa tinha sobre os arguidos qualquer poder hierárquico
que os impedisse de não aceitarem as ordens que lhes eram dadas.
Razão pela qual se entende que, todos os arguidos, agiram de
forma voluntária, livre e consciente.
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(Constâncio Basmery)
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(Antonino Gonçalves)
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(Deolindo dos Santos)