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Cerâmicas dentárias
Sidney Kina*
Palavras-chave: Cerâmicas dentárias. Sistemas livres de metal. Procera. In-Ceram. IPS Empress.
* Prof. de Prótese Dental e Odontogeriatria da Universidade Estadual de Maringá – UEM. Prof. de Prótese
Dental Fixa do Centro Universitário de Maringá – CESUMAR
Figura 1 e 2 - A variação na quantidade dos produtos que compõe a matriz básica dos materiais cerâmicos, assim como a agregação de produtos
químicos diversos (principalmente óxidos metálicos), juntos há diferentes tempos e temperaturas de queima, produz uma enorme variedade de pro-
dutos cerâmicos. Ex.: Figura 1 - Cerâmica indiana (barro queimado). Figura 2 - Cerâmica Dental (cerâmica do sistema IPS Empress, Ivocal Vivadent).
nos não incorporados à matriz vítrea formada, ção em regiões de suporte de carga ou stress
que atuam como arcabouço de reforço, torna- mastigatório. Desta forma, diferentes mecanis-
do-as muito mais resistentes que os vidros co- mos foram considerados para melhorar suas ca-
muns. Devido à sua natureza vítrea e cristalina racterísticas, reduzindo seu potencial de falhas
(núcleos cristalinos), elas apresentam uma inte- sobre stress. Tradicionalmente estes mecanis-
ração de reflexão óptica mais elaborada, muito mos envolvem o fortalecimento das estruturas
semelhante às estruturas dentárias, e graças à cerâmicas através de um suporte interno, que
sua inércia química característica, suas proprie- apresente resistência adequada e união efetiva
dades de solubilidade e corrosão são bastante às suas estruturas, de modo a transmitir as ten-
adequadas, possibilitando a construção de res- sões de um substrato a outro. Um dos métodos
taurações com boa aparência e tolerância ao mais efetivos de fortalecimento é a utilização
meio bucal. Outro atributo importante está no de subestruturas metálicas (coping metálico)
fato das cerâmicas constituírem-se em excelen- sobre as quais a cerâmica é aplicada. Efetivo e
tes isolantes, com baixa condutividade e difusi- amplamente utilizado, este sistema metal + ce-
vidade térmica e elétrica . 11
râmica ou metalo-cerâmica, parece ser o sistema
Suas qualidades mecânicas, entretanto, apre- mais bem sucedido na construção de restaura-
sentam comportamento pouco plástico, com ções estéticas e resistentes ao estresse oclusal.
propriedades tensionais precárias, tornando-as O caso clínico número 1 exemplifica a utilização
um material com baixa maleabilidade e sensi- deste sistema metalo-cerâmico (Fig. 3-7).
velmente friável, contra-indicando sua utiliza- Embora comprovado como excelente sistema
Figura 3 - Prótese parcial fixa metalo-cerâmica (Cerâmica IPS d.Sign®, Figura 4 - Preparos dentários nos elementos 11 e 13.
Ivoclar Vivadent): elementos 11 e 13 retentores, 12 e 14 ponticos.
nada acima da margem gengival, ou até mesmo se efetivamente seus problemas mecânicos. O
quando situada no sulco gengival, transparecer caso clínico número 2 exemplifica a utilização
através de tecidos marginais finos sombrean- de cerâmicas feldspáticas na forma de lamina-
do a mucosa. Desta forma, ao longo dos anos, dos cerâmicos (Fig. 8-20).
vêm se estudando alternativas para o fortale-
cimento das estruturas cerâmicas para coroas Modificando a cerâmica:
e pontes com objetivo de minimizar o risco de Resistência e Estética
fraturas e outros insucessos, sem a necessida- Em verdade, as coroas de cerâmica pura, li-
de da utilização de subestruturas metálicas. Um vres de metal, são utilizadas desde o início do
grande avanço foi o surgimento das técnicas século XX, quando Charles Henry Land, em 1903,
de tratamento e adesão de superfícies cerâmi- introduziu uma das formas mais estéticas para
cas, documentado por Horn , que possibilita-
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reconstrução dentária, através das famosas co-
ram que cerâmica vítreas pudessem ser coladas roas de jaqueta cerâmica (Porcelain-jacket cro-
efetivamente a estruturas dentárias através de wn)13. Com qualidades estéticas ótimas, estas
sistemas adesivos, utilizando assim o próprio coroas são fabricadas com porcelanas feldspá-
preparo dentário como reforço de sua estrutu- ticas, que infelizmente, devido à sua baixa re-
ra. Este fato permitiu a otimização na utilização sistência, limitam sua indicação apenas para co-
de técnicas como laminados cerâmicos, inlays, roas unitárias em situações de pequeno stress
onlays e coroas unitárias, embora não resolves- oclusal.
Figura 8 - Caso inicial. Dentes 12, 11, 21 e 22, com intensa descoloração Figura 9 - Preparos dentários para laminados cerâmicos.
e desarmonia anatômica.
Figura 10 - Laminados cerâmicos produzidos sobre técnica de refratário Figura 11 - Laminados cerâmicos sob luz negra (luz de Wood). Observe a
(Cerâmica IPS d.Sign®, Ivoclar Vivadent). excelente fluorescência da cerâmica.
Certos da eficácia estética da cerâmica pura, resistência à flexão contendo 50% de óxido de
o desafio de encontrar soluções que atendes- alumina, proporcionando duas vezes mais re-
sem às correspondentes exigências funcionais, sistência à fratura quando comparadas às cerâ-
levou a pesquisas buscando alterar a estrutura micas feldspáticas convencionais. Entretanto,
das cerâmicas convencionais, através da incor- apesar da melhora, observou-se uma perda na
poração de substâncias, principalmente óxidos, translucidez, devido à transmissão de luz ser li-
no intuito de seu fortalecimento. mitada pelos cristais de alumina, além de uma
resistência ainda insuficiente para uso na região
Cerâmicas Aluminizadas posterior e construção de próteses parciais fi-
Em uma primeira tentativa, McLean e Hu- xas4,10.
ghs11 desenvolveram uma cerâmica com melhor Considerado um caminho promissor, a incor-
Figura 12 - Laminado cerâmico do elemento 12. Observe no detalhe sua Figura 13 - Preparo dentário do elemento 12. Observe o término cervical
fina espessura e translucidez. supra gengival.
Figura 14 - Laminado seco sobre o preparo dentário. Observe a diferença Figura 15 - Prova do laminado através de pasta matizada (Variolink II Try
de cor entre dente e laminado. In, Ivoclar Vivadent), para correção da cor através da cimentação adesiva.
poração de óxido de alumínio evidenciava me- flexão quatro vezes mais alta que uma cerâmica
lhora significativa nas propriedades mecânicas aluminizada a 50%, muito embora, a alta con-
da cerâmica. Sadoun começou a trabalhar com
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centração de alumina acarrete em diminuição
munhões aluminizados infiltrados por vidro, à significativa da translucidez com conseqüente
base de óxido de lantânio (La2O3), com cerca de empobrecimento das qualidades ópticas da ce-
97% de agregação de óxidos de alumínio, crian- râmica. Desta forma, este material não deve ser
do um sistema cerâmico de alta resistência. usado como uma cerâmica de cobertura, mas,
Este sistema, apresentado pela companhia Vita devido à sua alta resistência, ser aplicado como
(Zahnfabrik, Bad Sackingen, Alemanha) recebe substituto das subestruturas metálicas. Esta si-
o nome comercial de In-Ceram® Alumina. O In- tuação, permite a construção de coroas totais e
Ceram® Alumina apresenta uma resistência à próteses fixas de três elementos (até 2o pré-molar)
Figura 21 - Caso inicial. Coroas protéticas defeituosas nos elementos, Figura 22 - Preparos dentários. Observe a reconstrução com núcleos me-
12, 11, 21, 22. tálicos e a ausência do elemento 22.
Figura 23 - Prova dos copings cerâmicos (Copings de In-Ceram® Alumi- Figura 24 - Resultado final (Cerâmica de cobertura: Vitadur Alpha, Vita).
na, Vita). Observe a infra-estrutura do elemento 22 em cantilever. Com características de baixa translucidez, observe que o emprego de
cerâmicas com alta concentração de alumina sobre núcleos metálicos
não altera o resultado final da coloração das restaurações protéticas.
(TPD. João Salvador, Arapongas, Pr.).
Figura 25 - Preparo dentário sobre núcleo metálico no elemento 12. Figura 26 - Coroa Procera® (Nobel Biocare) cimentada. Observe que a
exemplo das estruturas de alta concentração de alumina o preparo es-
curecido não altera o resultado final de cor. (TPD. Marcos Celestrino, São
Paulo, SP.).
Figura 27 - Caso clínico inicial. Observe a estética desfavorável, com os Figura 28 - Preparo dentário no elemento 11 para laminado cerâmico e no
incisivos centrais descolorados e anatomia desproporcional. 21 para coroa total.
Figura 29 - Prova de infra-estruturas de IPS Empress II (Ivoclar Vivadent). Figura 30 - Infra-estruturas de IPS Empress II sobre modelo rígido.
Figura 31 - Coroas finalizadas cobertas de purpurina dourada para checar Figura 32 - Coroas finalizadas. Cerâmica de cobertura IPS Eris for E2, Ivo-
a textura final. clar Vivadent.
Figura 33 - Condicionamento ácido: ácido fluorídrico 10% por 20 segundos. Figura 34 - Silanização: 60 segundos.
Figura 36 - Condicionamento ácido: ácido fosfórico 37% por 15 segundos. Figura 37 - Aplicação do sistema adesivo.
Figura 38 - Fotopolimerização.
regiões posteriores, tanto para coroas unitárias anterior, na confecção de coroas unitárias,
como para próteses fixas de três elementos .
2, 6, 7
facetas laminadas e próteses parciais fixas,
Outro material baseado em alta concentra- e como diferencial importante: na confecção
ção de óxido de alumínio é o Procera® (Nobel de abutmants personalizados para implan-
Biocare), desenvolvido por Matts Andersson . 7
tes4,7. O caso clínico número 4 exemplifica a
Este sistema, que tem como um dos seus di- utilização deste sistema (Fig. 25 e 26).
ferenciais o processo industrial computa- Na corrida para reforço da resistência das
dorizado, utilizando tecnologia CAD/CAM cerâmicas, outras idéias e materiais foram
(Computer-Aided Design/ Computer-Assisted desenvolvidos e introduzidos no mercado
Machining), foi desenvolvido para criação de odontológico. A Ivoclar Vivadent apresenta
subestruturas de próteses cerâmicas utilizan- uma cerâmica feldspática reforçada por cris-
do óxido de alumínio altamente purificado e tais de leucita (SiO2-Al2O3-K2O), que previ-
densamente sinterizado formado por mais ne a propagação de microfraturas internas à
de 99,5% de alumina (Al2O3). Este material matriz vítrea. Com o nome comercial de IPS
é compreendido como a cerâmica de maior Empress®, este sistema emprega a técnica
resistência entre as cerâmicas dentárias. Este tradicional da cera perdida, onde pastilhas ce-
sistema, a exemplo do sistema In-Ceram® Alu- râmicas do produto são injetadas sobre pres-
mina, apresenta certo grau de opacificação e são e calor em fornos especiais de injeção. Em
tem como recomendação do fabricante a ce- geral, este sistema não trabalha na confecção
râmica Dulcera All-Ceram (Dulcera Rosbach de infra-estruturas (embora um coping do
– Alemanha) para cobertura das infra-estru- produto possa ser realizado para posterior
turas, muito embora, cerâmicas como a Vita- estratificação cerâmica), mas na obtenção do
dur Alfa (Vita, Alemanha), Cerabien (Noritake, contorno final da restauração e, subseqüen-
Japão) e Creation-AV (Klema, Áustria) possam temente, através de pintura ou maquiagem
ser utilizadas. Este sistema está indicado para proporcionar suas características de cor e
utilização tanto nas regiões posterior como estética final. Com resultados estéticos inte-
ressantes devido à sua boa translucidez, sua Empress® 2. Nesta cerâmica, os cristais de dis-
limitação em relação à resistência à flexão o silicato de lítio ficam dispersos em uma matriz
restringe a trabalhos unitários, coroas, face- vítrea de forma interlaçada impedindo a pro-
tas, inlays e onlays7, 8, 9. pagação de trincas em seu interior. Com uma
Considerando as limitações de utilização melhor resistência à flexão quando comparado
devido à baixa resistência à flexão de seu sis- ao sistema IPS Empress®, este sistema permi-
tema IPS Empress®, a Ivoclar Vivadent não te a confecção de coroas unitárias, facetas la-
demorou em buscar novas alternativas para minadas, inlays, onlays e próteses fixas de três
fabricação de próteses totalmente cerâmicas elementos, que permitem repor dentes até o 2o
com melhores requisitos mecânicos. Assim, pré-molar. Há de se ressaltar, aqui, dois pontos
um novo ingrediente: cristais de dissilicato de importantes do sistema: primeiro o alto pa-
lítio (SiO2-LiO2) foram empregados, formatan- drão estético possível, devido à matriz vítrea
do uma nova linha do sistema denominado IPS e os cristais de dissilicato de lítio com índice
Porcelana feldspática Cerâmica única, não requer Coroas unitárias, facetas, inlays e
IPS Empress® Ivoclar Vivadent
reforçada por leucita estrutura de reforço onlays
Quadro 1 - Alguns exemplos de sistemas cerâmicos disponíveis no mercado para restaurações livres de metal e suas características.
Claro Translucidez
Escuro Opaco
Espaço
Quadro 2 - A relação entre a cor do substrato, espaço conseguido no preparo dentário e o grau de translucidez do sistema restaurador, deve ser
considerada para o adequado planejamento estético.
Dental ceramics
The continuous development of dental ceramics presenting excellent mechanical properties.
have provided the clinicians and the technicians Under this perspective, the odontological market
in dental prosthesis (TDP) with a large amount has been currently offering a large amount of
of options for manufacturing functional and new metal-free materials and systems in order
highly aesthetic prostheses. Basically, it can be to manufacture prostheses, what provides the
observed that a great evolution of such materials, clinician and the TDP with new options, but new
whose use was historically associated to a metal doubts as well concerning the decision between
reinforcement due to both their low strength to one or other alternative. Therefore, the present
tension and high friability, occurred in the sense article describes these materials and their use
of associating them with aesthetic materials indications, as well as their clinical limitations.
KEY WORDS: Dental ceramics. Metal-free systems. Procera. In-Ceram. IPS Empress.
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Avenida Paraná, 242 - Sala 1406 - 14o andar
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p. 137-139, 1991. e-mail: kina@wnet.com.br - site: www.kinascopinhirata.com.br