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Resumo
A comunicação baseia-se em conclusões de um Estudo de Impacto Ambiental associado ao Projecto de infra-
estruturas primárias e de emparcelamento no Baixo Vouga Lagunar, situado na Ria de Aveiro, na zona centro do
litoral português. Destaca-se a importância de dois factores estratégicos para a conservação e reabilitação da
paisagem - a água e o solo - e defende-se um modelo de gestão do agroecossistema baseado numa estratégia
integrada que assegure a sustentabilidade do Baixo Vouga Lagunar.
O Baixo Vouga Lagunar é uma paisagem cultural com um elevado interesse conservacionista, que está integrado
na Zona de Protecção Especial da Ria de Aveiro. Porém, o agroecossistema encontra-se em regressão e os
proprietários reclamam as terras entretanto salinizadas, mediante a gestão da entrada da água salgada. Apresenta-
se o plano de monitorização e gestão da água e do solo que, por sua vez, sustenta o plano de monitorização e
gestão da diversidade biológica e da paisagem, a serem implementados com o início da execução dos projectos.
1. Introdução
Água, solo e Homem são o trinómio referencial da vitalidade do Baixo Vouga Lagunar,
responsável por uma paisagem com um carácter singular e de uma excepcional valia sob o
ponto de vista de produção de biomassa e da diversidade biológica.
No campo aberto obtém-se as mais elevadas produções agrícolas o que confere a esta unidade
de paisagem uma grande importância socio-económica. As culturas predominantes são o
milho, o azevém e as pastagens.
O Baixo Vouga Lagunar é constituído por terrenos muito planos sendo uma zona de
confluência e descarga de várias linhas de água onde o escoamento para a ria é dificultado
pelo efeito das marés. Estas condições naturais explicam, por si só, os problemas de drenagem
que sempre ocorreram nesta área. A necessidade de controlar a adversidade do regime
torrencial nas linhas de água em períodos de cheia e a defesa do solo contra a água salgada
levou à aplicação de técnicas hidráulicas específicas, como o desassoreamento e a limpeza da
vegetação das linhas primárias, a manutenção e conservação de diques para prevenir
inundações e a operação de estruturas tipo comporta para impedir a entrada de água salgada
nas redes secundária de rega e drenagem. O sistema de defesa das marés inclui uma rede de
diques, motas e açudes de verão destinados a impedir a entrada de água salgada e poluída da
ria para montante e a conservação da água doce para rega. Actualmente, os sistemas de
drenagem deparam-se com diversos problemas, nomeadamente as inundações muito
frequentes e descontroladas - criando muitos danos no solo, na rede de drenagem e na rede
viária - dificuldades na efluência para a ria por ineficácia do sistema de drena gem primário e
secundário, e a entrada de água salgada nas redes de valas por deficiência de diques e
comportas.
Os solos do Baixo Vouga Lagunar são predominantemente aluviossolos modernos, por vezes
sujeitos a hidromorfismo e a halomorfismo. Em geral são não calcários húmicos de textura
mediana e ligeira ou não calcários de textura mediana. A matéria orgânica é normalmente
elevada ou média na camada superficial. São regra geral solos ácidos com baixo teor em
fósforo assimilável, de grande espessura efectiva, excelente textura e uma estrutura que lhe
confere uma boa drenagem interna. Estas características permitem uma capacidade de uso
elevada. Dentro dos solos halomórficos os mais representados são os de textura mediana com
salinidade moderada ou elevada, sem calcário. O grau de hidromorfismo é muito variável
sendo mais marcado nas zonas onde a toalha freática está mais próxima da superfície do
terreno durante a maior parte do ano.
A manutenção e conservação desta rede colectiva, que se mantém até à actualidade, foi obra
das comunidades de agricultores que estabeleceram regras e práticas cooperativas de
sustentação deste sistema. Mas a evolução económico-social das últimas décadas tornou a sua
conservação incompatível com os recursos humanos agrícolas, nomeadamente devido à
incapacidade de manutenção das estruturas. O aumento da subida do nível da água salgada na
ria em maré cheia acelerou a degradação das obras tradicionais de defesa das marés, o que
vem gravando esse problema. São também condicionantes actuais do sistema de drenagem a
deficiência da ligação hidráulica entre valas e da dimensão da respectiva secção transversal,
limitando a capacidade de escoamento da água para a rede primária, agravada pela dificuldade
de descarga devido ao nível da água muito elevado por influência das marés.
O fornecimento de água ao Baixo Vouga Lagunar visa a gestão criteriosa da água doce
durante o estio, para permitir o humedecimento adequado do solo - através da rega das
culturas agrícolas e do abastecimento às zonas húmidas - e o controlo da salinização do solo.
A água é proveniente das linhas de água primárias (rio Antuã, algumas pequenas ribeiras e rio
Vouga), através de açudes, temporários e artesanais, bastante ineficientes. O sistema de
transporte e distribuição de água para rega e conservação da natureza utiliza a rede de valas
comum à drenagem. No começo do período estival fecham-se os sistemas de drenagem
secundária para conservação da água doce e impedimento da entrada e avanço da água
salgada. Resulta, assim, uma extensa rede de valas, com função de transporte e reservatório de
água doce, a qual fará a sua distribuição às parcelas. Na parte Norte existe ainda um modelo
tradicional para distribuição colectiva da água gerido integralmente pelos agricultores. O
arroz é cultivado nos terrenos mais baixos onde a água pode escoar por gravidade, regado por
canteiros em submersão permanente, cultivando-se o milho-azevém nos terrenos mais altos,
recorrendo à bombagem a partir das valas, regando-se por aspersão ou por sulcos. Na parte
restante, em particular no bocage, pratica-se a rega subterrânea, usando o sistema de
drenagem para dis tribuir água aos terrenos através do controlo do nível da toalha freática em
posição elevada para humedecimento do solo por ascensão capilar.
3 . A intervenção preconizada
O Projecto tem como principal objectivo a defesa dos campos contra o efeito destrutivo das
cheias e contra a salinização dos solos, devido ao progressivo avanço das marés. Nas áreas de
uso agrícola visa-se a implementação dum conjunto de melhorias nas infra-estruturas de rega,
drenagem e viárias e a realização da restruturação fundiária. O Projecto compreende as
componentes de defesa contra as marés, de drenagem primária, de estrutura verde principal,
de infra-estruturas rurais secundárias (drenagem, rega e viária) e de restruturação fundiária
(Fig. 3).
O sistema primário de drenagem tem por objectivo diminuir a frequência das cheias e
minimizar os efeitos nefastos que estas provocam, enquanto no Verão, há que garantir a
recarga de água doce subterrânea. Preconiza-se a manutenção do leito actual das linhas de
água sem rebaixamento e o alargamento apenas nos troços de linhas de água com capacidade
de vazão muito reduzida. Assim, o aumento da capacidade é, em regra, obtido com o
alteamento das margens através do reforço dos diques actuais. No sistema do Vouga procede-
se ao reforço e alteamento do dique da margem direita deste rio, à reabertura de um
descarregador e à instalação de uma estrutura de derivação do Vouga para o rio Velho.
Enquanto no sistema do Barbosa se prevê a derivação de caudais excedentes do rio Fontão,
em período de cheia, para o sistema de drenagem de Canelas, através do esteiro da Linha,
paralelo ao caminho de ferro, e a limpeza do esteiro do Barbosa. Por outro lado, no sistema de
Canelas proceder-se-á ao reforço da capacidade de vazão do esteiro da Linha, limpeza e
regularização das várias linhas de água primárias e também ao reforço do esteiro de Canelas,
para além da remodelação das estruturas de descarga das redes secundárias de drenagem do
esteiro. No sistema de drenagem do Antuã o projecto visa o melhoramento da rede viária e a
implantação de estruturas hidráulicas de dissipação de energia das águas de cheia que irão
inundar os campos com muita frequência, permitindo o seu controlo por forma a minimizar os
danos resultantes.
O PGAS tem por objectivo principal regular a distribuição da água doce, tendo em conta, por
um lado, a natureza estocástica das afluências nas linhas de água e, por outro, a procura
concorrencial nos períodos de escassez de abastecimento entre áreas de produção vegetal de
produção pecuária e de conservação da natureza e ainda monitorizar a intrusão salina, por
forma a garantir o controlo da qualidade da água e da conservação do solo, minimizando os
riscos de salinização e acidificação. O PGAS compreende três componentes:
1) Rede de Monitorização - consiste na recolha de informação de campo através de uma rede
de postos de observação da quantidade e qualidade das águas e de alguns parâmetros do
solo; no processamento de dados, gestão e integração de informação; e, também, o
desenvolvimento de experimentação sobre aspectos específicos dos ecossistemas.
2) Plano de Operação - consiste num plano de operação da distribuição de água, traduzindo-
se na prática num calendário de abertura e regulação das comportas de controlo de
caudais, em resposta ao valor das variáveis de estado do sistema (afluências, procura de
água agrícola e de conservação da natureza); este plano integra a informação sobre a
qualidade da água, pelo que as soluções são concebidas segundo critérios de
sustentabilidade do sistema; inclui também o controlo da entrada de água salgada no
Bloco de acordo com as necessidades das zonas húmidas.
3) Avaliação - consiste em acções de fiscalização, controlo e avaliação de desempenho do
sistema e do próprio plano; a dinâmica do sistema e o aprofundamento do seu
conhecimento requerem a re-alimentação do modelo de gestão, de modo a ajustar as
regras aplicadas no plano operatório; nesta componente deverão participar continuamente
os diferentes intervenientes do sistema (agricultores, ambientalistas, Estado), para ajustar
o PGAS à evolução do agroecossistema, ao longo do tempo de exploração do Projecto.
A limitação no abastecimento obriga a que a exploração do Projecto seja feita com muito
rigor, cabendo ao PGAS o estabelecimento do modo operativo que optimize o uso da água
nos períodos de escassez. As medidas a aplicar consistem na optimização da eficácia da rede
de distribuição de água, de modo a que, em período crítico, todos os utilizadores da rede
sejam obrigados ao cumprimento escrupuloso e integral das regras de utilização,
nomeadamente tempos e caudais de abastecimento previamente estabelecidos para cada um, e
na redução ao fornecimento de água às culturas, sendo ainda necessário estabelecer quais as
culturas que ficarão sujeitas a esta redução e a respectiva prioridade. Prevê-se que a regra a
adoptar inclua a seguinte prioridade: - corte ao abastecimento das áreas florestadas; redução
do fornecimento às áreas com prados naturais; - redução do fornecimento às áreas de incultos
até um limite que não ponha em risco a vitalidade do caniçal e sapal e o correspondente
desempenho na conservação ambiental; - e, finalmente, nos casos mais críticos, redução do
fornecimento às áreas de produção agrícola mais intensiva, nomeadamente das culturas de
milho e arroz. Esta decisão também terá em conta critérios de gestão da empresa agrícola,
pelo que é crucial a participação dos agricultores na definição do Plano.
Agradecimentos
Bibliografia
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Oster, J. D., I. Shainberg & I.P.Abrol (1996): “Reclamation of salt affected soils”, em M.
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