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A entrevista resume a carreira do crítico literário Wilson Martins, conhecido por suas críticas contundentes que criaram muitos desafetos. Martins exerceu a crítica literária por 50 anos de forma independente, sem se alinhar a grupos ou ideologias. Ele é descrito como o último representante da crítica literária tradicional no Brasil.
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Entrevista Do Crítico de Literatura Wilson Martins Por Observatório Da Crítica
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Entrevista Do Crítico de Literatura Wilson Martins Por Observatório Da Crítica
A entrevista resume a carreira do crítico literário Wilson Martins, conhecido por suas críticas contundentes que criaram muitos desafetos. Martins exerceu a crítica literária por 50 anos de forma independente, sem se alinhar a grupos ou ideologias. Ele é descrito como o último representante da crítica literária tradicional no Brasil.
A entrevista resume a carreira do crítico literário Wilson Martins, conhecido por suas críticas contundentes que criaram muitos desafetos. Martins exerceu a crítica literária por 50 anos de forma independente, sem se alinhar a grupos ou ideologias. Ele é descrito como o último representante da crítica literária tradicional no Brasil.
Estado de So Paulo Disponvel em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/ncouri01c.html acesso em: 16 dez. 2010 Norma Couri entrevista Wilson Martins Diz o poeta e crtico Haroldo de Campos. "Wilson afirmou tambm que Guimares Rosa, mal orientado pelos crticos, se estava perdendo em invenes filolgicas, fez cruzada contra Paulo Leminski." E completa: "O Brasil o nico pas do mundo que tem uma histria da inteligncia escrita por uma pessoa que no prima pela inteligncia." Ele viveu 50 de seus 76 anos no harm da literatura brasileira exercendo seu ofcio sagrado, o de separar livros bons dos ruins, criando amigos e muitos desafetos e provocando muita polmica. Crticos so como eunucos num harm: eles sabem como a coisa feita, mas eles mesmos so incapazes de fazer. Vinganas como esta do dramaturgo ingls Brendan Behan poderiam ser colecionadas por Wilson Martins, o ltimo moicano da crtica brasileira no entender do ensasta Jos Paulo Paes. Os ltimos 50 dos seus 76 anos, Wilson passou no harm literrio brasileiro exercendo o ofcio sagrado e execrado de criticar. Meteu o dedo na mquina de escrever eltrica - ele detesta computador - e criticou de Graciliano Ramos - por ter seus textos segundo ele adulterados pelo Partido - a Chico Buarque, pelo que chamou de recozimento de A Revoluo dos Bichos, de George Orwell, e Zero, de Igncio de Loyola Brando, para fabricar Fazenda Modelo e Estorvo. Wilson Martins atacou o poeta Paulo Leminski, cidado de Curitiba como ele, mexeu com a esquerda e a direita, futucou feministas e homosexuais, balanou monstros sagrados, tocou nos intocveis, passou meio sculo dizendo o que pensava. "Soma-se 52 crticas por ano, uma por semana, h 50 anos e o resultado so 2,6 mil inimigos, quase o total de escritores do Pas", diz o poeta Affonso Romano de Sant'Anna, ex-diretor da Biblioteca
Nacional do Rio, que v muitos acertos e poucos erros no crtico
"que nunca compactuou com grupos, ideologias, autores". At o fim do ano o Brasil poder conferir se esse crtico fez bem ou mal s letras do Pas. At l sai o 14 e ltimo volume dos seus Pontos de Vista, uma coletnea das crticas publicadas em quase todos os grandes jornais do Pas desde 1954. "Tive o bom senso de sacrificar as anteriores", diz. Os sete volumes da sua Histria da Inteligncia no Brasil, escrita h 20 anos sobre tudo o que foi publicado no Brasil desde 1500, foram relanados pela Secretaria de Cultura do Paran numa caixa especial ao preo de R$ 130,00. E a terceira edio de A Palavra Escrita, uma histria do livro, da imprensa e da biblioteca, tambm surgir atualizada. Neurtico por ordem, pontualidade e rotina, Wilson Martins vai deixar a editora T.A. Queiroz aguardando mais um volume dos Pontos de Vista at o ano 2000 mas ele no sabe se continua. "Vo dizer, `esse chato ainda continua escrevendo?' A partir de 98 no sei onde eu estarei, nem onde estaro meus livros". Tambm a editora da Universidade do Paran acaba de lanar o nmero 8 da srie Paranaenses, dedicada a Wilson Martins. Trs anos em Paris como bolsista, 30 nos Estados Unidos onde lecionou na New York University, Wilson Martins curte a aposentadoria americana e a brasileira escrevendo mais crtica. O desafeto de Martins, o escritor Silviano Santiago retratou o crtico em Stella Manhattan (Rocco) como um professor dedo-duro que lecionava numa universidade americana. "No um crtico, um homem equivocado, um erudito que carrega uma carga enorme de livros nas costas, mas, quando tem de avaliar, define rico Verssimo como escritor de vanguarda, e no Oswald de Andrade", diz o poeta e crtico Haroldo de Campos. "Wilson afirmou tambm que Guimares Rosa, mal orientado pelos crticos, se estava perdendo em invenes filolgicas, fez cruzada contra Paulo Leminski." E completa: "O Brasil o nico pas do mundo que tem uma histria da inteligncia escrita por uma pessoa que no prima pela inteligncia." "A Histria da Inteligncia no Brasil o livro mais burro que j li, escrito por um reacionrio", disse na poca o antroplogo Darcy Ribeiro. Nem s de bordoadas viveu o crtico neste meio sculo. No artigo que intitulou Um Intelectual Brasileiro Srio, Paulo Francis contestou o crtico: " fato que Guimares Rosa superestimado, mas um gnio". Francis afirmou: "Nossa histria da inteligncia feita a srio caberia em 50 laudas de jornal". Mas disse ser admirador de Martins, com crticas "muito diferentes da bobajada metalingstica dos acadmicos ou do `voc esfrega minhas costas que eu esfrego as tuas'". "Ningum mais no Brasil faz crtica como ele", diz o fundandor da Casa Ruy Barbosa e dos melhores saraus literrios cariocas, Plnio Doyle.
"O acentuado comercialismo da imprensa, que a torna quase
indistinguvel do marketing, no oferece sobrevivncia ao crtico literrio - Wilson Martins o ltimo", diz sempre que pode o ensasta, poeta e tradutor Jos Paulo Paes. Firme na opinio de que no tm surgido grandes livros no Brasil depois do modernismo, ltimo momento de criao literria, e batendo forte em autores como Joo Ubaldo, que segundo ele perdeu muito ao se deixar "medusar" por Jorge Amado, por sua vez tambm "medusado" pela esquerda, Wilson segue imbatvel na demolio de resenhistas bajuladores ou acadmicos estreis que no criam leitor. ltimo crtico da escola francesa do Brasil a exercer o que se convencionou chamar crtica de rodap, porque corria embaixo das pginas literrias sem deixar faltar ingrediente ao leitor, Wilson Martins autodefine-se como"o ltimo dinossauro solto pelas ruas". Estado - O senhor foi o crtico que mais tempo resistiu ao combate, mais que Tristo de Athayde, Srgio Buarque, lvaro Lins, Srgio Milliet. Wilson Martins - Tenho mais tempo do que qualquer um. Alis, substitu o Srgio Milliet porque ele andava enfadado de fazer crtica. Sou o mais antigo, que uma maneira delicada de dizer "o mais velho". Estado - O senhor sentiu-se respeitado por outros crticos? Wilson Martins - Depende. O Jos Ramos Tinhoro de vez em quando me dava uma alfinetada, levei vrias no penltimo livro dele sobre a msica no romance brasileiro. Duas pginas em seguida ele concordava comigo, ficou empatado. De outros crticos, como Srgio Milliet e Antonio Cndido, fui amigo pessoal. Foi lvaro Lins quem recomendou meu primeiro livro de crtica para a editora Jos Olympio. Srgio Buarque eu s conhecia de vista. Estado - O senhor no se dava com a esquerda brasileira? Wilson Martins - Por temperamento, sempre me considerei eqidistante tanto da esquerda como da direita. Mas quela altura no ser de esquerda significava ser de direita, ningum falava mais nele. No era integralista, escapei por milagre de ser comunista, mas nenhum membro do Partido Comunista falava comigo. Como morava em Curitiba, consegui no me agregar a um grupo. Mas uma pessoa independente acaba malvista pelos dois lados.
Estado - O senhor acha que s manteve essa Independncia por
ser do Paran? Wilson Martins - Eu a teria mantido em qualquer lugar, no sou de me apaixonar nem por partidos nem por dolos de futebol. Um amigo dizia que eu era frio, seco. Estado - O senhor concorda? Wilson Martins - Ao contrrio. Sou emotivo e sorridente, mas essa condio de lobo da estepe me convm. Estado - a nica maneira de ser um crtico independente? Wilson Martins - . A crtica uma arte difcil, so poucos os que ficam na histria literria. Fora disso, o crtico estar sempre agregado ou a uma corrente de pensamento ou a um grupo, o que vicia o julgamento. No h nada mais fcil do que a crtica para aqueles que se acreditam crticos. Estado - A escritora francesa Marguerite Duras nunca reconheceu na crtica um livro que havia lido, e s se guiava pela opinio de amigos em quem confiava. Wilson Martins - No um crtico que forma opinio. um conjunto de pontos de vista. Um crtico usado por certa camada da populao que tem os mesmos gostos, identidade e ideologia. Os que pertencem a um campo diferente no se reconhecem nele. Pessoas que se dizem guiar pela crtica oral esto cometendo um erro de perspectiva: porque os amigos leram as crticas. A crtica oral poderosa e o que se acaba formando a mdia de opinio. Estado - Qual o crtico, entre os mais novos, que o senhor respeita? Wilson Martins - Lastimo, e feio o que vou dizer. Mas ela no existe. A crtica propriamente dita desapareceu, aqueles longos estudos de rodap esto sepultados, suplementos culturais de hoje publicam resenhas, elegem milhares de gnios, um ou outro artigo mais srio a respeito de um autor, mas dentro da perspectiva do novo jornalismo, fundado nas imagens, nas fotos, nos desenhos e nos ttulos. Quanto menos texto, melhor. Estado - Uma espcie de jornalismo videoclipe? Wilson Martins - Exatamente. Tanto que substituram o ttulo
Suplemento Literrio por Suplemento de Cultura. Querem tratar
de tudo, da msica popular, do teatro, das viagens.
Estado - Quem o senhor considera um bom jornalista de opinio?
Wilson Martins - Paulo Francis era. Certo, errado, mas com coragem, o que uma grande qualidade, e um apaixonado por seus pontos de vista. Um pouco impulsivo, afirmava coisas que no tinha visto direito, mas assim mesmo incluo o Paulo Francis na galeria dos grandes jornalistas deste sculo. Fiz muitas crticas desfavorveis sobre os romances dele e ele dizia que o nico crtico que ele respeitava no Brasil era eu. Estado - O que o senhor considera um bom crtico? Wilson Martins - T.S. Elliot dizia que para ser crtico s h um mtodo, ser muito inteligente. E quando diziam que os crticos erravam muito ele respondia: "Os escritores tambm." Crtico no se faz por formao, ser crtico uma vocao. Espontnea, instintiva. Aposto no Miguel Sanches Neto. A formao hoje tambm se faz assim mas h uma grande diferena de qualidade. O ensino em geral decaiu muito e os professores universitrios se encaminharam para as teorias literrias, no para a literatura. Em vez de explicar os livros, explicam teorias. Esses professores universitrios escrevem longos ensaios achando que escrevem uma crtica. Estado - O que diferencia um ensaio de uma crtica? Wilson Martins - Voc faz o ensaio depois que a crtica foi feita, crtico aquele homem que l o que acaba de sair e estica o pescoo para a guilhotina num primeiro julgamento. Reafirma verdades impopulares. Penso numa velha frase do Victor Hugo: "O crtico deve mostrar se o livro bom ou ruim." S o tempo vai mostrar se ele tem ou no razo. Jorge Luis Borges declarou que daqui a 50 anos, ao se falar nos escritores do sculo 20, sero mencionados nomes que ningum ouviu falar. Enquanto a posteridade no vem, o crtico visto com reserva. Estado - Haroldo de Campos diz que o senhor, em geral, um homem equivocado. Wilson Martins Leminski, e eu s Leminski um poeta discordncia com os
Ele diz que fiz cruzada contra o Paulo
escrevi de passagem sobre ele. Considero lido erradamente e supervalorizado. Mas a irmos Campos vem de longe.
Estado - Est na raiz da discordncia sobre a poesia concreta?
Wilson Martins - Nunca fui entusiasta do concretismo, que transformou tanto a manso da crtica brasileira a ponto de torn-la inabitvel - no existe inventrio puramente cientfico, como o do Joo Cabral de Mello Neto, sem lirismo e retrica no h poesia. Mas a partir dos meus comentrio os irmos Campos tornaram-se adversrios de opinio, dizendo que escrevi uma histria da inteligncia sem ser muito inteligente. Minha modstia me obriga a concordar. Darcy Ribeiro no dizia que A Histria da Inteligncia o livro mais burro que j se escreveu no Brasil? So insultos. Raciocinar por meio de insultos faz efeito mas no significa nada. Estado - Darcy tinha uma presena, os irmos Campos so meio gurus, isso no lhe incomoda? Wilson Martins - A partir de certo momento o crtico passa a encarar tudo como jogo normal da vida literria. Os irmos Campos dizem que eu ataquei Guimares Rosa, mas o prprio Rosa declarou nos escritrios da Jos Olympio que eu e Antonio Cndido eramos os nicos crticos que aceitaria nos prefcios de seus livros. Estado - O senhor continua achando que foi rico Verssimo e no o Oswald de Andrade o grande escritor de vanguarda do Brasil? Wilson Martins - O rico o grande injustiado desse perodo todo. J naquela altura ele era considerado um burgus, um homem que no era de esquerda - ele, alis, passou o resto da vida tentando mostrar que era de esquerda, o mais esquerdista de todos, ningum aceitava. um escritor esquecido. Agora, essas reaes e fantasias so de pessoas com raiva da histria, que querem varrer o rico da histria da literatura brasileira. Estado - H figuras como Jorge Amado, dos escritores que mais vendem fora do Pas, e suas crticas no tm sido favorveis. Wilson Martins - As pessoas emburram como se eu escrevesse ofensas pessoais e dizem que me contradigo quando gosto de um livro de um autor, e do seguinte, no. No escrevo sobre autores, escrevo sobre livros. Na crtica sria no h autor, h somente o texto. Jorge Amado escreve h 60 anos, ao longo da vida publicou livros bons e livros menos bons. Elogiei os bons, mas no recuei quando o livro era ruim. Alm disso, esteve durante
uma grande parte da sua carreira "medusado" pelo realismo
socialista que estragou boa parte do trabalho. Estado - O senhor disse o mesmo do Joo Ubaldo, "medusado por Amado". um ataque ao populismo literrio? Wilson Martins - No, um artigo isento que estuda o carter das obras dele. Sempre me considerei um admirador da obra do Joo Ubaldo e o Jorge Amado, apesar de tudo, sempre conservou comigo uma espcie de camaradagem literria. No meu amigo, mas no passou para o insulto, salvo indiretamente, pequenas coisas que a gente ouve aqui e ali. Se ele escrever outro livro, vou julgar como se estivesse comeando a carreira. Estado - Alis, do Antnio Callado o senhor sempre preferiu os livros do comeo de carreira. Wilson Martins - Quem descobriu o Antnio Callado fui eu. Fiz o primeiro artigo elogioso sobre o livro de estria dele, Assuno de Salviano. Mas escrevi sobre todos, e considerei Quarup dos grandes romances do nosso tempo, mas no posso negar que Reflexos do Baile uma obra inferior. Estado - Como o senhor se defende dos autores brasileiros depois de afirmar que o maior escritor vivo de lngua portuguesa Jos Saramago? Wilson Martins - No me defendo. Para mim, ele e continua sendo. Quando declarei isso, sabia que estava mexendo num vespeiro. Estado - Esse vespeiro est bem vivo. O senhor no devolve as ferroadas? Wilson Martins - Nunca devolvi. Quando acontece ser uma inverdade, esclareo, mas no posso esperar que todo mundo goste de mim. Todo mundo gosta dos crticos bonzinhos porque so andinos. Estado - J Soares reclamou quando o senhor disse que, ao pretender fazer um romance policial, ele caiu no histrico em O Xang de Baker Street. Wilson Martins - Ele no, mas criei um caso com essa histria e outra com o romancinho daquele menino, filho do Srgio Buarque. Estado - Chico Buarque.
Wilson Martins - um cantor popularssimo, mas faz literatura
de amador. Estado - O Chico reagiu? Wilson Martins - Ele no, mas o Caetano Veloso foi ao Fantstico na Globo dizer que meu artigo era uma porcaria. No reconheo no Caetano autoridade nenhuma para julgar literatura, nem mesmo os meus artigos. Estado - O senhor v a literatura do Paulo Coelho como amador? Wilson Martins - Paulo Coelho no fenmeno literrio. Do ponto de vista literrio ele no nada. Como fenmeno, ele sociolgico. Responde a um estado de esprito generalizado e faz sucesso no mundo inteiro. Pega parbolas bblicas e reescreve seculares lendas rabes, cola aquilo tudo e faz o livro. Uma espcie de vidente. A injustia julgar isso como literatura. Estado - Paulo Coelho diz que os crticos s gostam do que no vende. Wilson Martins - Falsa impresso. Os crticos de certa categoria julgam os livros por meio de um escalo. Entendo que alguns desses livros se tornem complexos para quem s assiste novela. A diferena o nvel intelectual. Quantos mais rdios e geladeiras temos, menos nmero de palavras empregamos. Caminhamos assim de volta para a floresta natal, carregados de apetrechos que nos facilitam pular de um galho a outro. Estado - Mas o senhor tambm criticou o Nlson Rodrigues, que era popular. Wilson Martins - Popularssimo, ficou mais ainda depois da biografia do Ruy Castro que, na verdade, reinventou o Nlson, conferiu a ele uma estatura que ele no tinha e que sua obra, marcada pela psicanlise amadora, no justifica. preciso esclarecer um dos grandes mal-entendidos deste sculo. O sucesso de Vestido de Noiva deve-se montagem do Ziembinski. As peas do Nlson so provocativas, famlias com 15 adultrios, um caso a estudar acrescido da reconstruo que o livro do Ruy Castro executou. Estado - O senhor contra biografias? Wilson Martins - Biografias so um fenmeno, mas por enquanto esto muito enevoadas, engolidas com muita facilidade pelos
leitores brasileiros. Passamos a encarar o Nlson pelo olhar do
Ruy Castro. como o Sbato Magaldi, que est fazendo uma obra importante sobre o Nlson mas naquela base, tirando o que no presta. A, o que sobra muito bom. O tipo do julgamento que eu no consigo compreender. Estado - Quais os bons livros do momento? Wilson Martins - O Brasil est sempre espera de gnios e se esquece de que a literatura mdia de boa qualidade que cria a atmosfera intelectual, o caldo de cultura de onde surgir o grande crtico, o grande escritor. O Brasil louva em excesso, superestima autores. Estado - O senhor falou muito de escritores homens. A produo feminina no anda grande coisa? Wilson Martins - Tem Rachel de Queiroz, Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector e a Maria Cristina Albuquerque. Em geral, no h uma grande produo feminina ou feminista, o que tem aparecido no Brasil muito reivindicativo do tipo "faz anos que somos reprimidas". O que no deixa de ser verdade, mas o problema no reclamar, aparecer uma boa obra literria. Se isso acontecer, tanto faz que o autor seja homem, mulher, homossexual. Estado - Autor ou o personagem? Wilson Martins - Esto aparecendo livros e livros sobre personagens homossexuais, que assumiram coletivamente na vida e na obra uma atitude polmica. Como se quisessem tornar o homossexualismo obrigatrio. A verdade que tambm nesse caso no apareceu a grande obra. O amor homossexual parece um mimetismo dos amores da literatura clssica.