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relevncia e uma intensidade que o tornem digno de ser vivido. No fica claro? Faa a
experincia: passe trs horas de seu dia acompanhando suas aes de sempre, seus
pensamentos, seus encontros e suas rotinas com uma narrao mental detalhada, como se
voc fosse o protagonista de um romance que est sendo escrito enquanto voc age. Que o
resultado seja um atormentado monlogo interior ou uma seca descrio, de qualquer
forma, seu mundo (externo e interno) ser transformado.
Se voc prolongar a experincia (redigindo um dirio, em forma de blog ou num
caderno, pouco importa), a narrao passar a comandar sua vida: aos poucos, suas
escolhas sero decididas em funo do texto que voc est escrevendo. Critrios estticos
("como fica isso na histria?") acabaro se misturando com os critrios ticos pelos quais,
at ento, voc se norteava.
"Viva sua vida como se ela fosse o objeto de um romance" um imperativo moral
estranho e eficiente, embora nem sempre seguro (e s vezes, alis, francamente perigoso).
Num momento do filme de Marc Forster, o protagonista aceita que a narradora escreva sua
morte (e o condene, portanto, a morrer), pois esse parece ser, naquela altura, o desfecho
adequado da histria. Essa atitude do protagonista leva a escritora a observar que, na
verdade, a gente deveria preservar a vida de um homem que capaz de aceitar a morte para
que sua histria possa ser contada da melhor maneira possvel. um pequeno paradoxo
(tico ou esttico, difcil dizer) que merece reflexo.
Enfim, se perpetuei e transmiti o respeito de meus pais pelas fices porque elas
me parecem ser a maior e melhor fonte no de nossas normas morais, mas de nosso
pensamento moral.
ccalligari@uol.com.br