Prof Reinaldo Rossano Alves tipicidade, restará também Aulas nº 7 e 8 – Roteiro da aula presente a antijuricidade. O delito é conceituado como ação tipicamente 1- Tipicidade Penal antijurídica e culpável. Há um tipo total de injusto. a. O Injusto Penal. Tipo 1. Teoria dos penal de injusto. Conduta elementos negativos do típica e antijurídica. Concepção tipo: as causas de Tripartida. Presença da justificação excluem culpabilidade. Reprovabilidade inclusive a tipicidade, do injusto. Surgimento do funcionando como delito. Tipo de delito. Tipo total elementos negativos do de injusto. tipo. As dirimentes, b. A tipicidade e a deste modo, integram o antijuricidade. Teorias (Fases). próprio tipo penal. A antijuricidade está (1) Tipo avalorado contida dentro da (independente, neutro ou tipicidade. acromático): não há 2. Teoria do tipo qualquer correlação entre de injusto: a tipicidade tipicidade e antijuridicidade. está contida dentro da A tipicidade não é fator antijuricidade (ilicitude). indiciário da antijuricidade, Confere uma maior tendo função meramente importância a ilicitude. descritiva, absolutamente separada da ilicitude. Há, no c. Tipo penal. Elementos tipo, apenas uma constitutivos. delimitação descritiva de fatos relevantes. (1) Elementos objetivos (têm por objetivo descrever (2) Teoria da ratio a ação, o objeto da ação, o cognoscendi (tipo resultado, se for o caso, as indiciário): a tipicidade circunstâncias externas do constitui indício da fato e a pessoa do autor. antijuricidade, a qual só é Referem-se a tudo o que afastada na ocorrência de não diz respeito à finalidade causa justificante. É a teoria do agente). Subdividem-se dominante no finalismo. em: (3) Teoria da ratio (1) essendi. A tipicidade é a ratio essendi da descritivos, ou objetivos
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Delegado propriamente ditos (*) Valoração paralela na (ausência de qualquer esfera do leigo (do profano). valoração; a Critério utilizado para aferir o identificação sobressai potencial conhecimento da da simples verificação ilicitude do fato, no momento sensorial); e da análise da culpabilidade. (2) Significa que a análise deve ser feita de acordo com o normativos (necessitam próprio convívio social e ser valorados, a fim de universo comunicativo que que seja extraído o seu circunda o agente, impondo ao significado). juiz que, quando da análise do erro de proibição, verifique em (2) Elementos Subjetivos: que condições sócio-culturais o dizem respeito à vontade do agente realizou a valoração. agente. Exemplo: “com o Ou seja, é necessário que o intuito de obter para si ou agente tenha base suficiente para outrem indevida para saber que o fato vantagem econômica” – art. praticado está juridicamente 158. proibido e que é contrário às normas mais elementares que (*) Elementos regem a convivência. normativos. Valoração ética ou Zafaroni entende que este jurídica. mesmo critério (valoração o Normativos paralela na esfera do profano) jurídicos: conceitos deve ser utilizado na análise jurídicos, exigindo um dos chamados elementos juízo de valor de cunho normativos do tipo. O erro, jurídico. Exemplos: neste caso, diferentemente do “funcionário público – art. que ocorre no exame do 312; “cheque” – art. 171, potencial conhecimento da §2º, VI). ilicitude, excluíra o elemento o Normativos cognoscitivo do dolo (inclusive este), sendo tratado como erro extrajurídicos ou de tipo. empíricos-culturais: juízo de valor fundado na d. Tipos normais e experiência, na sociedade anormais. Causalismo. Dolo e ou na cultura. Exemplos: culpa na culpabilidade. “ato obsceno” – art. 233; Finalidade do agente ou “mulher honesta” – art. elementos valorativos sendo 219; “dignidade, decoro” transportados ao tipo penal: – art. 140. tipos anormais.
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Delegado fomentadas). Deste modo, e. Adequação típica. como o ordenamento jurídico é Conceito. Espécies. único, as normas nele Subordinação imediata existentes devem (tipicidade direta). compatibilizar-se. Subordinação mediata - A tipicidade penal é (tipicidade indireta). Norma de formada pela tipicidade extensão (tipicidade indireta). legal (ou formal, que é adequação de um fato a f. Tipicidade formal (mera uma norma penal adequação do fato a norma) e incriminadora) e pela material (exige-se uma lesão tipicidade conglobante que significativa ao bem jurídico é composta pela tipicidade tutelado). Princípio da material (ofensa insignificância e da Adequação significativa ao bem jurídico Social. tutelado pela norma) e pela antinormatividade g. Tipicidade conglobante: conglobada. Há um formada pela conduta esvaziamento do estrito antinormativa conglobada cumprimento do dever legal (proibida pelo Direito ou não como causa excludente da fomentada pelo Estado) e pela ilicitude. tipicidade material. A conduta (*) Importância prática da é típica quando ofende a uma tipicidade conglobante. norma penal incriminadora. Instauração da persecução Nesse contexto, não se pode penal. entender como típica uma (*) Diferença da Tipicidade conduta que, embora Conglobante para a Teoria dos formalmente se encaixe em Elementos Negativos do Tipo um tipo penal incriminador, (tipicidade como ratio essendi esteja permitida por outra da antijuricidade): a teoria da norma ou fomentada pelo tipicidade conglobante Estado. De fato, há condutas mantém em estruturas formalmente típicas que se separadas a tipicidade e a encontram permitidas por antijuricidade, diferentemente outros ramos do Direito ou do que ocorre na Teoria dos fomentadas pelo Estado. Elementos Negativos do Tipo. Exemplos: carrasco na A tipicidade conglobante é execução e oficial de justiça na composta pela penhora e seqüestro (condutas antinormatividade, mas não permitidas); médico nas pela antijuricidade que intervenções cirúrgicas com fins terapêuticos (condutas
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Delegado continua separada do tipo pela norma penal (à qual se penal. adequou o fato), pela ausência (*) Antijuricidade e de outras normas que antinormatividade: são permitam a conduta institutos que não se (antinormatividade confundem, a despeito da conglobante) e também por antinormatividade ser normas permissivas pressuposto da antijuricidade. (descriminantes ou Atualmente, a justificantes). antinormatividade vem sendo definida em dois aspectos: i. A Teoria da Congruência nos isolado (específico) e crimes dolosos. Tipo congruente conglobante. A (congruente simétrico) e antinormatividade, no seu incongruente (congruente aspecto isolado, constitui a assimétrico). contradição de um fato a uma - Teoria da Congruência: norma específica (isolada). Por estrutura do tipo penal: tipo sua vez, a antinormatividade objetivo (aspecto externo – conglobada (conglobante) é a causação de um resultado) e contradição de um fato não só tipo subjetivo (aspecto interno com uma norma específica, – dolo, em regra). como também em relação a o Congruente todo o ordenamento jurídico. simétrico: a parte Ou seja, na antinormatividade subjetiva (o dolo) conglobante a conduta do corresponde à parte agente encontra-se proibida na objetiva (núcleo do tipo). norma penal, não sendo Exemplo: tráfico de autorizada ou permitida por drogas (art. 12 da Lei nº outra. No entanto, excluem-se 6.368/76). Pune-se o da análise da “transporte”, a “venda”, antinormatividade conglobante etc., sendo esta a as normas permissivas finalidade (o dolo) do (justificantes ou agente. Ou seja, o tipo descriminantes). Com efeito, a subjetivo (formado ausência destas últimas apenas pelo dolo) é normas (permissivas) faz com simetricamente que um fato antinormativo (já correspondente ao tipo valorado no seu duplo objetivo (ação típica). aspecto) seja considerado o Incongruente também como antijurídico. A (congruente assimétrico): antijuricidade, portanto, é a a parte subjetiva da ação contradição do fato com todo o não corresponde ordenamento jurídico, formado
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Delegado exatamente à objetiva. elementos subjetivos do tipo). Na verdade, o tipo Elemento Subjetivo Especial do subjetivo é maior que o Tipo. Podem ser de natureza: objetivo, pois além do dolo (voltado à realização (1)Ultraintencionais: a da ação típica), contém vontade do agente vai além outros elementos da realização do tipo distintos do dolo (os objetivo. Subdividem-se em: chamados elementos o Tipos com subjetivos do tipo ou do tendência interna injusto). Exemplo: art.16 transcendente (ou delitos da Lei nº 6.368/76. Pune- de intenção se o “porte” a “guarda” transcendental). São (dolo de portar ou de assim chamados, pois a guardar), exigindo, ainda, vontade do agente que a finalidade do transcende o querer agente seja o uso objetivo. Subdividem-se (elemento subjetivo em: distinto do dolo). - Delitos de resultado (*) Parte da doutrina entende separado (cortado ou não ser correta a antecipado): equivalente denominação tipo ao crime formal. O incongruente, sustentando sujeito realiza a conduta que todos os tipos dolosos para que se produza um devem ser congruentes. De resultado ulterior, já fato, incongruente significa sem sua intervenção. incompatível, não sendo Exige do autor uma razoável pensar que pode intencionalidade haver uma incompatibilidade especial além do dolo, entre o tipo objetivo e o tipo ou seja, um resultado subjetivo. Neste caso, esta não necessário para a corrente doutrinária sustenta consumação formal do que há, na verdade, uma delito. Pela razão de o assimetria, ou seja, uma resultado pretendido ausência de correspondência pelo agente não ser entre o tipo objetivo e o tipo exigido para a subjetivo. consumação do delito, fala-se em delito de j. Elementos subjetivos do tipo resultado cortado. distintos do dolo (elementos Exemplos: extorsão (art. subjetivos do injusto ou 158); homicídio
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Delegado qualificado pela conexão de assenhoreamento definitivo (art. 121, §2°, V, CP). do agente). - Delitos incompletos de dois atos (crime k. Funções do tipo penal. mutilado de dois atos): o Indiciária: é indício exige uma intenção da antijuricidade. transcendental do o Garantia agente dirigida à (garantidora): devida ao realização de uma cidadão. Oportunidade de atividade posterior do conhecimento prévio se a próprio agente (e não à conduta é punível ou não. produção de um o Fundamentadora: resultado). Ou seja, o abre a possibilidade ao agente realiza uma Estado de exercer o seu conduta como passo direito de punir. prévio para outro. o Selecionadora de Exemplo: quadrilha (art. condutas: dirigida ao 288). legislador, orientado pelo princípio da intervenção o Disposições mínima. Internas do Sujeito Ativo: são os chamados tipos de l. Tipo fechado (descrevem tendência peculiar. Estão por completo a conduta proibida) inseridos dentro do e tipo aberto (devem ser chamado “direito penal completados por uma valoração de ânimo” ou “direito judicial. Exemplo: crimes penal de disposição culposos). Importância: concurso interna”. Ex: no homicídio de pessoas nos crimes culposos qualificado pela traição, só admite a modalidade co- para que incida a autoria (condutas principais), não qualificadora, o agente admitindo a participação precisa conhecer e se (condutas acessórias). aproveitar da situação indefesa da vítima. m. Imputação Objetiva. (2) Delitos de intenção a) Considerações iniciais. Sistema especial (ou de tendência): funcionalista. possuem um requisito subjetivo b) Dimensões do tipo penal: tipo que ilumina o dolo e que é objetivo e subjetivo. exigido para a consumação c) A causalidade numa visão formal do delito. Exemplo: furto e ontológica de causa e efeito. animus rem sibi habendi (ânimo
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Delegado Teoria da equivalência dos i.1) Risco permitido: o agir antecedentes causais. está dentro dos parâmetros de d) A imputação objetiva. atuação social, gerando um Dimensão normativa do tipo benefício para a sociedade. A penal. Critério axiológico- conduta dentro da margem de normativo. risco permitido que cause um e) Análise prévia ao tipo resultado lesivo. subjetivo. i.2) Princípio da confiança: as f) Teoria da não imputação. pessoas que convivem em uma Conseqüência: exclusão do mesma sociedade devem confiar tipo penal (fato atípico). que cada uma delas cumpra seu g) Critérios norteadores que papel, observe todos os deveres afastam a imputação objetiva. e obrigações que lhe são h) Claus Roxin (imputação inerentes a fim de que sejam objetivo do resultado): evitados os danos. Não se h.1) Quando há diminuição do imputarão objetivamente o risco. Exemplo: empurrão e resultado produzido por quem pedra; obrou confiando que os outros se h.2) Quando não há criação de manteriam dentro dos limites do um risco juridicamente relevante. perigo permitido. Ex: - médico e Exemplo: compra de passagem equipe; - tráfego de automóveis. de avião; parque e estuprador. i.3) Proibição de regresso: h.3) Quando não há aumento atuação de acordo com o seu do risco permitido ou incremento papel social. Exemplo: padeiro e do risco permitido. Exemplo: pão que será envenenado; - pêlos de cabras – infecção de comerciante de canetas e operários - bacilos. falsificação. h.4) Quando a conduta esteja i.4) Autocolocação fora do âmbito da esfera de (heterocolocação) da vítima em proteção da norma: risco (perigo). STJ: HC 46525/MT conseqüências secundárias que PROCESSUAL PENAL. HABEAS não se encontram na extensão CORPUS. HOMICÍDIO CULPOSO. da incriminação da figura típica. MORTE POR AFOGAMENTO NA Exemplos: (1) mãe e filho - PISCINA. COMISSÃO DE latrocínio – ataque cardíaco; (2) FORMATURA. INÉPCIA DA perna amputada – incêndio – DENÚNCIA. morte; (3) salva-vidas – ACUSAÇÃO GENÉRICA. AUSÊNCIA negligência – terceiro – morte. DE PREVISIBILIDADE, DE NEXO DE CAUSALIDADE E DA CRIAÇÃO i) Günther Jakobs (imputação DE UM RISCO NÃO PERMITIDO. objetiva do comportamento e do PRINCÍPIO DA CONFIANÇA. resultado): TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
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Delegado ATIPICIDADE DA CONDUTA. 4. Ainda que se admita a ORDEM CONCEDIDA. existência de relação de 1. Afirmar na denúncia que "a causalidade entre a conduta dos vítima foi jogada dentro da acusados e a morte da vítima, à piscina por seus colegas, assim luz da teoria da imputação como tantos outros que estavam objetiva, necessária é a presentes, ocasionando seu demonstração da criação pelos óbito" não atende agentes de uma situação de risco satisfatoriamente aos requisitos não permitido, não-ocorrente, na do art. 41 do Código de Processo hipótese, porquanto é inviável Penal, uma vez que, segundo o exigir de uma Comissão de referido dispositivo legal, "A Formatura um rigor na denúncia ou queixa conterá a fiscalização das substâncias exposição do fato criminoso, com ingeridas por todos os todas as suas circunstâncias, a participantes de uma festa. qualificação do acusado ou 5. Associada à teoria da esclarecimentos pelos quais se imputação objetiva, sustenta a possa identificá-lo, a classificação doutrina que vigora o princípio da do crime e, quando necessário, o confiança, as pessoas se rol das testemunhas". comportarão em conformidade 2. Mesmo que se admita certo com o direito, o que não ocorreu abrandamento no tocante ao in casu, pois a vítima veio a rigor da individualização das afogar-se, segundo a denúncia, condutas, quando se trata de em virtude de ter ingerido delito de autoria coletiva, não substâncias psicotrópicas, existe respaldo jurisprudencial comportando-se, portanto, de para uma acusação genérica, que forma contrária aos padrões impeça o exercício da ampla esperados, afastando, assim, a defesa, por não demonstrar qual responsabilidade dos pacientes, a conduta tida por delituosa, diante da inexistência de considerando que nenhum dos previsibilidade do resultado, membros da referida comissão acarretando a atipicidade da foi apontado na peça acusatória conduta. como sendo pessoa que jogou a 6. Ordem concedida para trancar vítima na piscina. a ação penal, por atipicidade da 3. Por outro lado, narrando a conduta, em razão da ausência denúncia que a vítima afogou-se de previsibilidade, de nexo de em virtude da ingestão de causalidade e de criação de um substâncias psicotrópicas, o que risco não permitido, em relação a caracteriza uma autocolocação todos os denunciados, por força em risco, excludente da do disposto no art. 580 do Código responsabilidade criminal, de Processo Penal. ausente o nexo causal.
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Delegado (HC 46525/MT, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 21.03.2006, DJ 10.04.2006 p. 245).