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Textos sobre o

RECIFE

Leonardo Dantas Silva Ponte de Passagem na Madalena


Acervo FJN

Velhos Sítios, Novos Bairros:
GRAÇAS E CAPUNGA
Ao contrário de outros bairros recifenses, em grande parte originários de primitivos
engenhos de açúcar, a Capunga e as Graças têm origem em loteamentos desenvolvidos no
século XIX, na área do primitivo sítio que começava na Camboa do Manguinho (Parque do
Amorim) e se estendia até à margem do Capibaribe, em área limitada pela Estrada do
Manguinho (Avenida Rui Barbosa), Rua da Baixa Verde e Rua da Ventura (Rua Joaquim
Nabuco). O sítio veio a ser dividido em dois, denominados de “Capunga Velha” (que tinha
por eixo a atual Rua Joaquim Nabuco) e “Capunga Nova”, com início nos Quatro Cantos e
tendo por eixo a atual Rua das Pernambucanas.

Em 1759, trecho da Capunga pertencia ao sargento-mor Luís Ferreira Feio e sua mulher D.
Maria Correia Monteiro, que, em 28 de março, o venderam ao comerciante açoriano
Guilherme Fischer. Por morte deste, em 18 de setembro do mesmo ano, os bens foram
transferidos por força de testamento para a Irmandade de São Pedro dos Clérigos do Recife,
área hoje compreendida entre a Rua das Pernambucanas e a Avenida Rui Barbosa, incluindo-
se os dois lados da Rua das Graças.
O primeiro loteamento nesta área foi promovido pelo cidadão francês Nicolau Gadault,
compreendendo a parte depois denominada de “Capunga Velha”, conforme anúncio
publicado no Diario de Pernambuco de 17 de novembro de 1835. O primeiro a construir
naquela área foi o também francês Bernard Lasserre, casado com a brasileira Cândida
Senhorinha Vieira, que ergueu o seu sobrado à margem do Capibaribe, no local hoje ocupado
pela Fundição Capunga, no qual construiu um porto destinado às canoas de carreira que logo
ficou conhecido como Porto Lasserre. Neste trecho do Capibaribe, vem a ser construída, pela
Companhia de Trilhos Urbanos, em 1884, uma ponte de ferro destinada à passagem dos
trilhos da maxambomba, unindo os bairros da Capunga e da Madalena. Como não poderia
deixar de ser, a via veio a ser chamada de Ponte Lasserre, que antecedeu a atual Ponte da
Capunga.
O segundo loteamento, depois chamado de Capunga Nova, tinha como proprietário o
bacharel Antônio de Araújo Ferreira Jacobina, natural da Bahia, que, em 23 de janeiro de
1845, requereu à Câmara Municipal do Recife “licença para abrir ruas e travessas em sua
propriedade na Capunga”. O “dr. Jacobina”, como ficou conhecido, residia, segundo anúncio
do Diario de Pernambuco, de 25 de fevereiro de 1835, “numa boa casa de vivenda, à margem
do Capibaribe”, de “quatro salas, nove quartos, cozinha, estribaria e cocheira”, localizada no
final da Rua das Pernambucanas, em local conhecido como Porto Jacobina. Formado pela
Universidade de Coimbra (1821), veio a falecer no Recife em 5 de outubro de 1870, sendo o
seu nome lembrado por uma das ruas do bairro.
A partir de 1845 os dois loteamentos passaram a ser conhecidos como “Capunga Velha” e
“Capunga Nova”, cujas ruas ainda conservam alguns dos seus nomes primitivos, conforme se
depreende do noticiário da imprensa daquela época: Jacobina (1845), Quatro Cantos (1857),
Baixa Verde (1844), Creoulas (1854), do Jacinto (1857), das Pernambucanas (1870), da
Amizade (1855), das Graças (1872), não mais existindo a Rua da Ventura (ou do Ventura)
que, em 1885, passou a ser chamada de Rua Joaquim Nabuco e onde, no ano seguinte, nasceu
o futuro poeta Manuel Bandeira em casa de esquina no Pátio da Fundição Capunga.
Muito embora grande parte da Capunga seja de propriedade da Irmandade de São Pedro dos
Clérigos do Recife, faltava à nova povoação uma igreja na qual a população pudesse assistir
às missas dominicais e outras cerimônias religiosas. Tal necessidade foi sentida pelo tenente-
coronel Francisco Carneiro Machado Rios e por sua mulher, Cândida Tereza Vilela Rios,
que, em 16 de abril de 1857, fizeram doação de um trecho do sítio, “entre a Estrada do
Manguinho e a Capunga”, para construção de “uma capela consagrada ao culto de Nossa
Senhora da Graça”, cuja pedra fundamental foi lançada em 3 de maio de 1857.[1] A
construção do templo, porém, prolongou-se até fins de 1878, ocorrendo sua sagração em 3 de
outubro daquele ano, graças aos esforços do seu doador, “empregando para isso não só os
seus serviços materiais e dos seus escravos como o valimento e a amizade”.
A descrição do templo aparece no Diario de Pernambuco de 5 de outubro de 1884, não
revelando o colaborador o nome do arquiteto de tão importante obra. Pela lei provincial n.º
939, de 22 de julho de 1870, foi criada a freguesia de “Nossa Senhora da Graça da Capunga”,
ficando como sede a Igreja de São José do Manguinho até que as obras do templo estivessem
definitivamente concluídas. Em 1872, veio a ser concluída a Rua das Graças, unindo a Rua
das Pernambucanas com a atual Avenida Rui Barbosa, sendo dominada pelo novo templo,
concluído em 1878 - um dos mais belos e harmoniosos dos construídos no final da segunda
metade do século XIX. A matriz, que ostenta no seu frontispício a frase Ave Gratia Plena,
vem a sofrer reformas, na primeira metade do século XX, tendo nela trabalhado o renomado
artista Heinrich Moser, responsável pelas preciosas pinturas e notáveis vitrais que a
ornamentam, algumas delas datadas de 1931 e 1932.
A Capunga veio a ser uma das mais aprazíveis povoações do Recife, sendo bastante festejada
pelo seu clima ameno e pelos banhos de rio, tendo para aqui se transferido algumas das mais
seletas famílias de então. Em face do tão considerável progresso – registrando a freguesia das
Graças, em 1872, uma população de 4.511 pessoas livres e 922 escravos, para lá afluíam as
novidades, segundo o noticiário da imprensa de então: sorveteria (1849); ônibus de Tomás
Sayle (1854), diligência puxada por cavalos (retratada em litografia de Louis Schlappriz);
Hotel da Capunga, situado na pracinha da Fundição (1854); Novo Hotel Pernambucano, na
Rua das Pernambucanas (1858); Sociedade Recreio Capunga (1857); Sociedade Dramática
Tália Pernambucana, proprietária do Teatro Santo Antônio da Capunga (1865); Sociedade
Filarmônica da Capunga (1865); primeira ligação ferroviária (1867), através da linha
principal da maxambomba (paradas no Manguinho e Entroncamento); a partir de 1885
passou a receber as composições ferroviárias com destino à Várzea, com paradas nos Quatro
Cantos e Porto Lasserre; em 1883 passou a usufruir dos serviços da Pernambuco Street
Railway Company, através dos bondes de tração animal que vieram a ser substituídos pelos
elétricos da Pernambuco Tramways em 1915.
Assim como a Capunga e as Graças, outros bairros do Recife de hoje são originários de
loteamentos de sítios que, no século XIX, localizavam-se em torno do perímetro urbano do
Recife, a exemplo da Soledade, Rosarinho (Sítio das Roseiras), Espinheiro, Beberibe,
Fundão, João de Barros, Chacon, Água Fria, Aguazinha, Cajueiro, dentre outros.

[1] Diario de Pernambuco, 7 de maio de 1857

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