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INTIMIDADE NAS RELAÇÕES DE AMIZADE EM ADOLESCENTES

PORTUGUESES E ORIGINÁRIOS DOS PALOP


Maria da Conceição Pinto
Félix Neto
Universidade do Porto, Portugal

Resumo
Este estudo examinou o nível de intimidade nas relações de amizade junto de
adolescentes com famílias originárias dos PALOP, comparando-o com adolescentes
portugueses que não passaram por um processo de aculturação e os factores que
permitiam predizer o nível de intimidade entre eles. Os participantes deste estudo foram
1184 adolescentes. Trezentos e sessenta e seis eram portugueses e 818 eram oriundos
de famílias dos PALOP. Os resultados apontaram um maior nível de intimidade nas
relações de amizade nos adolescentes originários dos PALOP, nas raparigas, nos
crentes praticantes e não praticantes e nos que estavam apaixonados. Os preditores mais
fortes da amizade foram o sexo e solidão em ambos os grupos etnoculturais.

PALAVRAS-CHAVE: adolescentes, grupos etnoculturais, intimidade, migração.

INTIMIDACY IN RELATIONS OF FRIENDSHIP OF PORTUGUESE AND


PALOP ORIGIN ADOLESCENTS

Maria da Conceição Pinto

Félix Neto

Universidade do Porto, Portugal

Abstract
This study examined the level of intimacy in relations of friendship of
adolescents with families from PALOP origin, compared to Portuguese adolescents
who had not gone through a process of acculturation and the factors that helped to
predict the level of intimacy between them. The participants of this study were 1184
adolescents. Three hundred and sixty-six were Portuguese and 818 came from
families of PALOP origin. The results showed a higher level of intimacy in the
relationship of friendship in male adolescents from PALOP origin, compared to the
females who were religious believers and non-practitioners and who were in love.
The strongest predictors of friendship were gender and loneliness in both etnocultural
groups.

KEYWORDS: adolescents, etnocultural groups, intimacy, migration.

1
Introdução

A importância das relações de pares no desenvolvimento social do indivíduo,


justifica o estudo das relações de amizade íntima com amigos do mesmo sexo
(Sharabany et al., 1981). Em artigo anterior foi proposta a adaptação portuguesa da
Escala da Intimidade nas Relações de Amizade entre amigos do mesmo sexo (Pinto e
Neto, 2003). Neste artigo vamos comparar a intimidade nas relações de amizade entre
amigos do mesmo sexo de adolescentes provenientes de famílias dos PALOP ligadas à
imigração em Portugal com adolescentes portugueses que nunca haviam enveredado por
um processo de aculturação.
Portugal é simultaneamente um país de emigração e imigração (Neto, 2008; Pinto,
2009). A imigração de estrangeiros neste país tornou-se significativa sobretudo a partir
de meados dos anos setenta. Segundo o relatório de Imigração e Asilo (2007) as
nacionalidades estrangeiras mais representativas em Portugal são o Brasil, Ucrânia,
Cabo Verde, Angola, Roménia, Guiné-Bissau e Moldávia, as quais, no seu conjunto,
representam cerca de 71% da população estrangeira com permanência regular em
território nacional.
Neste estudo serão prosseguidos três objectivos. O primeiro objectivo consiste em
examinar se há diferenças na amizade segundo certas características sócio-demográficas
dos sujeitos: o grupo etnocultural, o sexo, e a prática religiosa
Uma questão fundamental para as pessoas que estão em contacto de culturas é a de
se saber se nessas pessoas reina a confusão psicológica ou se são pessoas com uma
compreensão mais alargada do mundo. Neste estudo compararemos o nível de
intimidade nas relações de amizade entre amigos do mesmo sexo de jovens oriundos de
famílias imigrantes dos cinco países PALOP com o nível de amizade de jovens
portugueses que não passaram por um processo de aculturação. Não esperamos
encontrar diferenças significativas entre o nível de amizade dos jovens oriundos de
famílias imigrantes dos PALOP e dos jovens portugueses (Neto, 1995a, 2001b).
Segundo Prager (1995) vários autores afirmam que as investigações têm indicado
diferenças de género no que respeita à intimidade. Em estudo anterior pode ser
confirmado que os adolescentes católicos tiveram pontuações mais elevadas de amizade
com o amigo do mesmo sexo (Pinto e Neto, 2003).

2
Dentro da categoria de relações íntimas incluem-se a amizade e o amor. O
segundo objectivo consistiu em explorar a relação entre intimidade e amor, e em
particular estar apaixonado e estilos de amor.
O exemplo mais nítido de uma relação que engendra felicidade é sem dúvida o
estar apaixonado (Argyle, 2001; Neto, 2005). O estar apaixonado é um dos
acontecimentos da existência que é avaliado de modo mais positivo. É, pois, de prever
que os sujeitos apaixonados no presente sintam maior amizade do que aqueles que não o
estejam.
Estudos sobre os fenómenos amorosos identificaram e definiram diferentes tipos
de amor (Neto, 2000). A tipologia de Lee (1977) sugere certas relações entre amizade e
estilos de amor. Prevê-se que, à semelhança do que se encontrou relativamente à
satisfação com a vida (Neto, 1999), a amizade esteja positivamente associada com os
estilos de amor mais "comprometidos" (e.g. Eros e Ágape). É também de prever uma
associação negativa entre amizade e Ludus, um estilo de amor caracterizado pelo
evitamento de compromisso e com Mania, tendo em conta a ansiedade associada a este
estilo de amor.
O terceiro objectivo consiste em explorar a relação entre amizade e outros
construtos psicológicos: satisfação com a vida e solidão. Há investigações que revelam
correlações positivas entre os contactos com os amigos e o bem-estar subjectivo
(Simões et al., 2003). Por exemplo, um estudo em cinco países europeus (Scherer et al.,
1986), evidenciou que uma das causas principais de contentamento estava relacionada
com amizade. O bem-estar subjectivo na adolescência está positivamente relacionado
com as qualidades positivas dentro das relações de amizade íntima (Hussong, 2000).
A amizade parece estar em grande medida relacionada com a qualidade do nosso
relacionamento social. Sullivan (citado por Sprinthall e Collins, 1999, p. 368) “defende
que a amizade na pré-adolescência e na adolescência satisfaz uma necessidade
psicológica básica que é comum a todos os indivíduos: a necessidade de vencer a
solidão”.
Em suma, face ao problema da investigação definido para este estudo, tendo em
conta as principais conclusões da revisão da bibliografia, foram estabelecidas como
hipóteses:
Hipótese 1 – Não se esperam encontrar diferenças no nível de amizade entre
adolescentes portugueses e adolescentes originários dos PALOPS.

3
Hipótese 2 – As raparigas têm pontuações mais altas de intimidade nas relações de
amizade com a melhor amiga do que os rapazes.
Hipótese 3 – O envolvimento religioso e o estar apaixonado influenciam a
amizade.
Hipótese 4 - Espera-se que se encontrem correlações positivas entre a intimidade
nas relações de amizade com o mesmo sexo e eros e ágape e correlações negativas entre
a amizade e os estilos de amor ludus e mania.
Hipótese 5 - Espera-se que se encontrem correlações negativas entre a amizade e a
solidão e correlações positivas entre a amizade e a satisfação com a vida.
Hipótese 6 – Espera-se que os adolescentes em termos de amizade, quando
analisados por grupo etnocultural (adolescentes oriundos de famílias imigrantes dos
PALOP e adolescentes portugueses que não passaram por um processo de aculturação)
sejam afectados por factores diferentes.

Metodologia

Amostra
Os participantes deste estudo foram 1184 adolescentes. Trezentos e sessenta e seis
(166 rapazes e 200 raparigas) eram portugueses e 818 (486 rapazes e 332 raparigas)
eram oriundos de famílias dos PALOP. Entre estes, 229 eram de origem angolana, 184
de origem cabo-verdiana, 160 de origem moçambicana, 105 de origem guineense e 140
de origem santomense. A associação entre os grupos etnoculturais e o género não foi
significativa (X2=2.36, gl=1, p = .13). Os participantes tinham idades compreendidas
entre os 16 e os 19 anos, com uma média de idade de 17.86 (DP = 1.09). Os
adolescentes oriundos de famílias imigrantes dos PALOP (M = 17.98, DP = 1.04)
tinham uma média de idade mais elevada que os adolescentes portugueses, (M = 17.58,
DP = 1.18), F(1, 1183) = 35.45, p < .001. Todos os participantes frequentavam o ensino
secundário na região de Lisboa.

Instrumentos
Conjuntamente com a versão portuguesa da Escala de Intimidade nas Relações de
Amizade foram utilizados outros instrumentos para avaliar a solidão (Russell, Peplau, e
Cutrona, 1980; Neto, 1989), a satisfação com a vida (Diener et al., 1985; Neto et al.,

4
1990), as atitudes em relação ao amor (Hendrick e Hendrick, 1986; Neto et al., 2000) e
a identificação de características psico-sociais dos sujeitos.
A Escala da Intimidade nas Relações de Amizade é formada por 32 itens com 7
opções de resposta, três de concordância, um intermédio de não decisão e três de
discordância (variando do fortemente em desacordo ao fortemente de acordo)
(Sharabany, 1994). Existem questionários para rapazes e para raparigas. A fidelidade e a
validade da versão portuguesa da escala já puderam ser mostradas (Pinto e Neto, 2003).

Procedimento
Os questionários foram aplicados em situação de sala de aula, na presença do
professor e do investigador. Foi garantido o anonimato das respostas. O questionário
demorou cerca de 45 minutos a ser preenchido. O tratamento estatístico dos dados foi
feito utilizando o programa SPSS.

Resultados
Estatísticas descritivas e consistências internas
As intercorrelações da Escala de Intimidade nas Relações de Amizade (EIRA)
oscilavam entre .05 e .62 tendo uma média de .33. A versão portuguesa da EIRA
mostrou ter uma consistência interna adequada. Cada um dos 32 itens apresentou
correlações de pelo menos .40 com a soma de todos os outros itens e o coeficiente alfa
de Cronbach foi para a escala .94.
As médias e a consistência interna das medidas a que se recorreu são apresentadas
no quadro 1.

Análises diferenciais e correlacionais


As médias e F rácio da amizade são mostradas no quadro 2 em relação a variáveis
sociodemográficas: grupo etnocultural, sexo, religião, e o estar apaixonado.
Para se examinar o efeito do grupo etnocultural nas relações de amizade foi levada
a cabo uma ANCOVA (covariância, idade). O efeito do grupo etnocultural revelou
diferenças estatisticamente significativas na amizade, F(2, 1180)=6.07, p<.05. As
pontuações da amizade do conjunto dos adolescentes oriundos de famílias imigrantes
dos PALOP eram mais elevadas que as dos jovens portugueses que não passaram por
um processo de aculturação. Os cinco grupos de adolescentes oriundos de famílias

5
imigrantes dos PALOP não apresentaram diferenças estatisticamente significativas na
amizade, F(4, 811)=2.00, p>.05.
O efeito do sexo na amizade também se revelou significativo, F(1, 1180)=174.9,
p<.001. As raparigas, independentemente do grupo etnocultural, obtiveram pontuações
mais elevadas que os rapazes.
O efeito da prática religiosa na amizade mostrou-se significativo, F(2, 1180)=13.9,
p<.001. Assim os adolescentes praticantes e crentes não praticantes apresentaram
pontuações mais elevadas na amizade que os não crentes nem praticantes.
O efeito do estar apaixonado no presente também se revelou significativo, F(1,
1177)=36.89, p<.001. Os adolescentes que referiram estar apaixonados obtiveram
pontuações mais elevadas na amizade que os que não estavam apaixonados.
No quadro 1 podem-se observar as correlações entre a amizade e os construtos
psicológicos considerados. Assim, encontraram-se correlações positivas entre a amizade
e a satisfação com a vida e os estilos de amor eros e mania; verificaram-se correlações
negativas entre a amizade e a solidão e os estilos de amor ludus e pragma.

Predição da amizade
Para se verificar até que ponto diferentes preditores da amizade emergiram nos
grupos etnoculturais foi efectuada uma última análise neste estudo. Utilizou-se a análise
de regressão (stepwise) para determinar quais as variáveis que predizem melhor a
amizade. Foram levados a cabo três modelos: um para o conjunto da amostra e dois para
os grupos etnoculturais (o conjunto dos adolescentes oriundos de famílias imigrantes
dos PALOP e portugueses que não passaram por um processo de aculturação). Para o
conjunto da amostra, no primeiro bloco entram as cinco variáveis sócio-demográficas
(sexo, idade, grupo etnocultural, prática religiosa e estar apaixonado), no segundo bloco
os estilos de amor e no terceiro bloco a satisfação com a vida e a solidão.
Como se pode observar no Quadro 3 para o conjunto da amostra no primeiro bloco
emergiram quatro preditores significativos: sexo, estar apaixonado, prática religiosa e
grupo etnocultural. Estas quatro variáveis explicaram 16% da variância. No segundo
bloco emergiram seis preditores significativos, para além dos quatro preditores sócio-
demoigráficos, que já emergiram no primeiro bloco, emergiram dois estilos de amor,
ágape e eros. Todavia estes dois estilos de amor pouco acrescentaram à variância
explicada. No terceiro bloco emergiram sete preditores significativos: sexo, solidão,

6
estar apaixonado, grupo etnocultural, ágape, satisfação com a vida e idade. Estes sete
preditores davam conta de 22% da variância. É de notar o peso do sexo e da solidão
neste modelo; as restantes cinco variáveis pouco acrescentaram à variância explicada.
Foram efectuadas seguidamente análises de regressão para adolescentes oriundos
de famílias imigrantes dos PALOP e para os jovens portugueses que não passaram por
um processo de aculturação para se observar se as mesmas ou diferentes variáveis
prediziam a amizade nos dois grupos. Os resultados mostraram algumas semelhanças,
mas também diferenças entre as variáveis associadas à amizade nos dois grupos. Só
apareceram três variáveis significativas em ambos os modelos (sexo, solidão e estar
apaixonado); por outro lado apareceram quatro variáveis significativas para o modelo
dos adolescentes oriundos de famílias imigrantes dos PALOP que não foram
significativas no modelo dos jovens portugueses que não passaram por um processo de
aculturação (satisfação com a vida, mania, ludus e idade) e uma variável que foi
significativa para os adolescentes portugueses e que não foi significativa no modelo dos
adolescentes oriundos de famílias imigrantes dos PALOP (ágape).
Os resultados destas análises evidenciaram que o modelo dos adolescentes
oriundos de famílias imigrantes deu conta da variância no nível de amizade (R2 = .23)
semelhante com a variância explicada pelo modelo dos jovens portugueses (R2 = .22).

Discussão
Este estudo abordou o nível de intimidade nas relações de amizade entre amigos
do mesmo sexo de adolescentes oriundos de famílias imigrantes dos PALOP ligadas à
imigração em Portugal e de adolescentes portugueses que nunca haviam passado por um
processo de aculturação e factores que podem estar relacionados com a amizade. Foram
avançadas seis hipóteses, sendo a maior parte delas confirmadas.
Os adolescentes cujas famílias eram provenientes dos PALOP (Angola, Cabo
Verde, Guiné, Moçambique e S. Tomé) apresentaram um nível mais elevado de
intimidade nas relações de amizade entre amigos do mesmo sexo que adolescentes
portugueses. Estes resultados não estão pois em consonância com a nossa primeira
hipótese em que prevíamos não haver diferenças entre os dois grupos. Para explicar
estes resultados, para além de poder haver variáveis relacionadas com o processo de
aculturação, é de referir que os cinco países africanos de que eram originárias as
famílias dos adolescentes são constituídos por culturas mais colectivistas que a cultura

7
portuguesa. Tem sido apontado que nas culturas colectivistas há a tendência para se ter
poucos relacionamentos, mas os que se têm são relacionamentos íntimos, e nas culturas
individualistas há a tendência para se ter muitos relacionamentos com baixa intimidade
(Triandis, 1994). Estes pressupostos ao nível das relações interpessoais em culturas
colectivistas e individualistas estão de certo modo em consonância com os resultados
deste estudo. Todavia, seja como for, estes resultados estão de acordo com a conclusão
de que a maioria dos imigrantes se adapta bem, apesar das dificuldades que podem
encontrar em resposta às mudanças culturais e ao facto de viverem na confluência de
duas ou mais culturas (Neto, 2001).
Neste estudo a variável género influencia as relações de amizade, sendo as
raparigas que apresentam pontuações mais elevadas (H2). Os rapazes registam níveis
mais baixos de necessidades de intimidade, podendo estes não corresponder aos
requisitos das raparigas para uma amizade íntima. Por outro lado, visto que as raparigas
desenvolvem mais energia na manutenção das relações estas raparigas podem
facilmente satisfazer as necessidades das amigas.
No que se refere a terceira hipótese estabelecida foi confirmada na medida em que
o envolvimento religioso e o estar apaixonado influenciam a amizade. Os adolescentes
crentes praticantes e não praticantes que integraram este estudo tiveram pontuações
mais elevadas de amizade com o amigo do mesmo sexo que o não crentes nem
praticantes. Markstrom (1999), verificou que o envolvimento religioso (a prática
religiosa, a participação em grupos de estudo da Bíblia e o envolvimento em grupos de
jovens) está associado com o desenvolvimento psicossocial do adolescente, aumento da
auto-estima e satisfação com a vida.
Os resultados sugerem que os adolescentes que estavam apaixonados exprimiam
também uma maior amizade nas suas relações. As pessoas que experienciam o amor
podem viver num mundo melhor nos relacionamentos interpessoais do que aquelas que
o não experienciam. Poderá acontecer que as pessoas enamoradas percepcionem o
mundo através de óculos cor-de-rosa.
Já no que se refere às relações entre amizade e estilos de amor os resultados não
são totalmente consistentes com a quarta hipótese. Assim a amizade estava relacionada
positivamente com eros, conforme fora previsto, e também com mania. Os estilos de
amor em que prevalece uma maior intensidade emocional estavam pois associados
positivamente à amizade. A amizade estava relacionada negativamente com o amor
lúdico, conforme fora previsto, e também ao pragmático. Os dois estilos de amor que

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são menos valorizados (Neto, 1999) estavam pois associados de modo negativo com a
amizade. Estes resultados carecem de confirmação em investigação ulterior.
Também se confirmou a quinta hipótese colocada neste estudo, pois os jovens com
relações mais fortes de amizade sentem menos solidão e mostraram-se mais satisfeitos
com a vida. Cutrona (1982) verificou que os participantes mais sós eram os que se
sentiam incapazes de fazer bons amigos. Isto é consistente com outro estudo Shechtman
(2000), que diz que adolescentes que não estabelecem relações de amizade íntima não
possuem um suporte no seu desenvolvimento social. O mesmo estudo refere que estes
indivíduos com comportamentos sociais ineficazes apresentam uma correlação positiva
com a solidão. Duck (1991), refere que mais tarde, estes adolescentes poderão voltar a
ter dificuldades em estabelecer níveis de intimidade nas relações com o amigo e com o
par romântico.
A amizade entre amigos do mesmo sexo apareceu associada à satisfação com a
vida nos adolescentes, corroborando o que se encontrou em investigação anterior
(Cheng e Furnham, 2002). Num estudo (Cutrona, 1982) os participantes referiram que
as suas amizades eram as relações mais satisfatórias. Talvez tal de deva a que os amigos
partilhavam as sua preocupações e podiam, por conseguinte, aconselhar e apoiar de
modo mais eficaz. O benefício que advém das recompenses recíprocas da rede social é
óbvio, tais como interesses e actividades agradáveis que se partilham, retroacções
positivas, apoio social, etc. (Argyle, 2001). “É, provavelmente, porque permitem
satisfazer a necessidade de afiliação que os amigos se revelam influentes na promoção
do bem-estar subjectivo” (Simões et al., 2003, p. 22).
Procurámos também saber se cada grupo etnocultural era afectado por um
conjunto diferente de variáveis para a amizade. Os resultados sugerem que os modelos
de regressão que dão conta do nível de amizade nos dois grupos etnoculturais não eram
os mesmos. Aparecem mais variáveis estatisticamente significativas para explicar a
amizade nos adolescentes oriundos de famílias imigrantes que nos adolescentes
portugueses. Sete variáveis eram significativas no modelo de regressão dos jovens
oriundos de famílias imigrantes em oposição a só quatro no modelo dos jovens
portugueses. Destes quatro preditores, três eram comuns a ambos os grupos: sexo,
solidão e estar apaixonado. Tanto para os adolescentes oriundos de famílias imigrantes
como para os portugueses o preditor mais forte foi o sexo. Este estudo aponta pois que o
sexo é uma variável chave na compreensão da intimidade nas relações de amizade: as
raparigas evidenciaram valores mais elevados de amizade que os rapazes.

9
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10
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11
Quadro 1 Médias, desvios-padrões, consistências internas e correlações entre medidas psicológicas e
amizade
Medidas M D.P. Consistência Amizade
interna
Amizade 171.6 28.5 .94 ___
Solidão 33.4 7.7 .84 -.25***
Satisfação com a vida 22.4 6.7 .85 .12***
Eros 14.8 3.4 .73 .11***
Ludus 9.7 3.9 .66 -.17***
Storge 14.3 3.8 .72 .03
Pragma 10.2 3.9 .75 -.06*
Mania 12.8 3.9 .73 .09**
Ágape 13.2 3.9 .79 .03

*p<0.05; ** p <0.01.

Quadro 2 Médias e F ratio de amizade em função de variáveis seleccionadas dos


participantes
______________________________________________________________________
Variável N Amizade
______________________________________________________________________
Grupo etnocultural F=6.07*
Portugueses 365 168.2a
Conjunto dos Palop 816 173.1b
Palop F=2.0
Angolano 229 175.8
Cabo-verdiano 183 170.7
Guineense 105 169.2
Moçambicano 160 176.2
Santomense 140 171.4

Sexo F=174.9***
Masculino 496 159.9a
Feminino 685 171.3b

Religião F=13.9***
Praticante 299 176.8a
Crente não praticante 572 172.5a
Nem crente nem praticante 310 164.9b
Está agora apaixo-
nado(a) F=36.89***
Sim 828 174.8a
Não 351 163.9b
*p<.05; **p<.01.
As médias sem letras em comum diferem no limiar de significância de .05, pelo recurso
ao F teste para duas médias e "Multiple Range Test" para três médias.

12
Quadro 3 Análise de regressão múltipla para a variável amizade do conjunto da amostra

Passo Variável R múltipla R2 Beta t

Variáveis socio-demográficas demográficas


1 Sexo .36 .13 .36 13,17***
2 Estar apaixonado .38 .15 .14 5.27***
3. Religião .39 .16 -.08 -2.94**
4. Grupo etnocultural .40 .16 .06 2.25*

Variáveis sócio-demográficas e estilos do amor


1 Sexo .36 .13 .36 13.21***
2 Estar apaixonado .39 .15 .14 5.24***
3 Agape .40 .16 .10 3.44**
4 Religião .41 .16 -.09 -3.09**
5 Grupo etnocultural .41 .17 .07 2.45*
6 Eros .41 .17 .06 2.10*

Variáveis demográficas, estilos de amor e bem-estar psicológico


1 Sexo .36 .13 .36 13.21***
2 Solidão .43 .19 -.24 -9.03***
3 Estar apaixonado .45 .20 .12 4.56***
4 Grupo etnocultural .45 .21 .08 2.93**
5 Agape .46 .21 .08 3.02**
6 Satisfação com a vida .46 .22 .06 2.21*
7 Idade .47 .22 .06 2.18*
*p<.05; **p<.01; ***p<.001.
Nota: os valores beta e t são relativos ao passo em que a variável entrou na equação

13

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