Вы находитесь на странице: 1из 13

ESTÁ
TUDO
NOS
GENES?

Lewontin,
 RC.
 2001.
 Biologia
 como
 Ideologia.
 A
 doutrina
 do
 DNA.
 Capítulo
 2.
 Editora
 FUNPEC.
 Ribeirão

Preto.
138pp.


Nossa
sociedade
nasceu,
pelo
menos
politicamente,
nas
revoluções
do
século
XVII
na
Inglaterra
e
do
século

XVIII
 na
 França
 e
 América
 do
 Norte.
 Essas
 revoluções
 varreram
 uma
 velha
 ordem
 caracterizada
 pelo

privilégio
 aristocrático
 e
 por
 uma
 relativa
 fixação
 de
 pessoas
 na
 sociedade.
 As
 revoluções
 burguesas
 na

Inglaterra,
 França
 e
 América
 do
 Norte
 alegavam
 que
 essa
 velha
 sociedade
 e
 sua
 ideologia
 não
 eram

legitimas,
 e
 os
 ideólogos
 daquelas
 revoluções
 produziram
 e
 legitimaram
 uma
 ideologia
 de
 liberdade
 e

igualdade.
 Diderot
 e
 os
 Enciclopedistas
 e
 Tom
 Paine
 foram
 os
 teóricos
 de
 uma
 sociedade
 de
 “liberté,

égalité,
fraternité”,
onde
todos
os
homens
crescem
iguais.
Os
autores
da
Declaração
de
Independência
(dos

EUA)
declararam
que
as
verdades
políticas
eram
“auto‐evidentes;
que
todos
os
homens
crescem
iguais:
que

eles
são
dotados
por
seus
criadores
com
certos
direitos
inalienáveis;
que
entre
esses
direitos
estão
a
vida,
a

liberdade,
e
a
busca
de
felicidade”
(onde,
é
claro,
eles
querem
dizer
a
busca
de
dinheiro).
Eles
denotaram,

literalmente,
todos
os
homens,
porque
as
mulheres
não
tinham
o
direito
de
votar
nos
Estados
Unidos
até

1920.
O
Canadá
emancipou
as
mulheres
um
pouco
mais
cedo,
em
1918
–
mas
não
nas
eleições
provinciais

em
 Quebec
 até
 1940.
 E
 é
 claro
 que
 eles
 não
 queriam
 dizer
 todos
 os
 homens,
 porque
 a
 escravidão

continuou
 nos
 domínios
 franceses
 e
 no
 Caribe
 até
 meados
 do
 século
 XIX.
 Os
 negros
 eram
 definidos
 pela

Constituição
 dos
 Estados
 Unidos
 como
 valendo
 3/5
 de
 uma
 pessoa,
 e
 em
 boa
 parte
 da
 história
 da

democracia
parlamentar
inglesa,
um
homem
tinha
de
ter
dinheiro
para
votar.


Para
fazer
uma
revolução,
você
precisa
de
slogans
que
atraiam
uma
grande
massa
de
pessoas,
e
você
mal

poderia
conseguir
pessoas
para
derramar
o
sangue
sob
uma
bandeira
onde
se
lê
“Igualdade
para
Alguns”.

Portanto,
a
ideologia
e
os
slogans
superam
a
realidade.
Ao
olharmos
para
as
sociedades
que
foram
criadas

por
essas
revoluções,
vemos
uma
boa
dose
de
desigualdade
de
riqueza
e
poder
entre
os
indivíduos,
entre

homens
 e
 mulheres,
 entre
 raças
 e
 entre
 nações.
 Contudo,
 repetidamente
 ouvimos
 nas
 escolas
 que
 nós

vivemos
numa
sociedade
de
livre
igualdade,
e
somos
bombardeados
por
cada
órgão
de
comunicação
com

esse
slogan.
A
contradição
entre
a
igualdade
alegada
de
nossa
sociedade
e
a
observação
de
que
existem

grandes
 desigualdades
 têm
 sido,
 pelo
 menos
 para
 os
 norte‐americanos,
 a
 principal
 agonia
 social
 dos

últimos
200
anos.
Isso
motivou
extraordinariamente
boa
parte
de
nossa
história
política.
Como
pode
mos

resolver
 a
 contradição
 das
 imensas
 desigualdades
 numa
 sociedade
 que
 alega
 ser
 fundamentada
 na

igualdade?


Existem
duas
possibilidades.
Poderíamos
dizer
que
Foi
tudo
uma
fraude,
um
conjunto
de
slogans
destinado

a
 substituir
 um
 regime
 de
 aristocratas
 por
 um
 regime
 de
 riqueza
 e
 privilégios
 de
 diferentes
 tipos,
 que
 a

desigualdade
 em
 nossa
 sociedade
 é
 estrutural
 bem
 como
 um
 aspecto
 integral
 do
 todo
 de
 nossa
 vida

política
 e
 social.
 Para
 dizer
 que,
 embora
 fosse
 profundamente
 subversivo,
 haveria
 o
 chamado
 para
 uma

1
outra
revolução
se
quiséssemos
fazer
valer
nossas
esperanças
por
liberdade
e
igualdade
para
todos.
Não
é

uma
 idéia
 popular
 entre
 professores,
 editores
 de
 jornais,
 professores
 de
 faculdade
 e
 políticos
 bem

sucedidos,
na
verdade,
ninguém
que
tenha
o
poder
de
ajudar
a
formar
a
consciência
pública.


A
alternativa
que
tem
sido
tomada
desde
o
começo
do
século
XIX,
foi
dar
um
novo
polimento
na
noção
de

igualdade.
 Ao
 invés
 de
 igualdade
 de
 resultado,
 temos
 a
 igualdade
 de
 oportunidade.
 Nesta
 visão
 de

igualdade,
 a
 vida
 é
 uma
 corrida
 a
 pé.
 Nos
 velhos
 e
 terríveis
 dias
 do
 ancien
 régime,
 os
 aristocratas

começavam
na
linha
de
chegada
enquanto
o
restante
de
nós
tinha
de
começar
da
linha
de
partida,
e
assim

os
aristocratas
venciam.
Na
nova
sociedade,
a
corrida
é
limpa:
todos
começam
da
linha
de
partida
e
todos

têm
uma
oportunidade
igual
de
chegarem
em
primeiro.
E
claro
que
algumas
pessoas
são
mais
rápidas
do

que
outras,
e
assim
algumas
conseguem
os
prêmios
e
outras
não.
Essa
é
a
visão
da
velha
sociedade
que
era

caracterizada
por
barreiras
artificiais,
enquanto
a
nova
sociedade
permite
um
processo
de
escolha
natural

para
decidir
quem
consegue
posição
social,
riqueza
e
poder
e
quem
não
consegue.


Tal
 visão
 não
 ameaça
 o
 status
 quo,
 mas
 ao
 contrário,
 o
 sustenta
 ao
 dizer
 que
 aqueles
 sem
 o
 poder

permanecem
 em
 suas
 posições
 como
 conseqüência
 inevitável
 de
 suas
 próprias
 deficiências
 inatas
 e
 que,

portanto,
nada
pode
ser
feito
a
respeito.
Uma
recente
declaração
notavelmente
explícita
dessa
afirmação
é

a
 de
 Richard
 Herrnstein,
 um
 psicólogo
 de
 Harvard,
 que
 é
 um
 dos
 ideólogos
 modernos
 mais
 sinceros
 da

desigualdade
natural.
Ele
escreveu:


“...
as
classes
privilegiadas
do
passado
provavelmente
não
eram
tão
superiores
biologicamente
em
relação

às
classes
oprimidas,
dai
por
que
a
revolução
tinha
uma
boa
chance
de
sucesso.
Ao
remover
as
barreiras

artificiais
entre
as
classes
sociais
encorajou
a
criação
de
barreiras
biológicas.
Quando
as
pessoas
usarem
o

nível
natural
de
poder
dentro
da
sociedade,
as
classes
superiores,
por
definição,
terão
maior
capacidade
do

que
as
classes
inferiores”.


Não
 nos
 dizem
 precisamente
 qual
 o
 princípio
 da
 biologia
 que
 garante
 que
 as
 pessoas
 biologicamente

inferiores
não
podem
possuir
o
poder
dos
biologicamente
superiores,
mas
não
tem
lógica
questionar
isto

aqui.
 Afirmações
 como
 as
 de
 Herrnstein
 são
 destinadas
 a
 convencer‐nos
 de
 que
 embora
 não
 possamos

viver
 no
 melhor
 de
 todos
 os
 mundos
 concebíveis,
 vivemos
 no
 melhor
 de
 todos
 os
 mundos
 possíveis.
 A

entropia
 social
 tem
 sido
 maximizada
 para
 que
 tenhamos
 o
 máximo
 de
 igualdade
 possível
 porque
 a

estrutura
é
essencialmente
voltada
para
isso,
e
sempre
que
alguma
desigualdade
aparece,
não
é
de
ordem

estrutural,
 mas
 baseada
 nas
 diferenças
 inatas
 entre
 os
 indivíduos.
 No
 século
 XIX
 isso
 também
 era
 o

panorama,
 e
 a
 educação
 era
 vista
 como
 o
 lubrificante
 que
 garantiria
 que
 a
 corrida
 da
 vida
 fosse
 feita

suavemente.
Lester
Frank
Ward,
um
gigante
da
sociologia
do
século
XIX,
escreveu,
“...
a
educação
universal

é
 o
 poder
 que
 é
 destinado
 a
 destronar
 cada
 espécie
 de
 hierarquia.
 Ela
 é
 destinada
 a
 remover
 toda

desigualdade
 artificial
 e
 deixar
 que
 as
 desigualdades
 naturais
 encontrem
 seus
 verdadeiros
 níveis.
 O

verdadeiro
 valor
 de
 um
 bebê
 recém‐nascido
 repousa
 em
 sua
 capacidade
 de
 adquirir
 habilidades
 de

realização”.


2
Isso
 ecoou
 60
 anos
 depois
 com
 Arthur
 Jensen
 na
 Universidade
 da
 Califórnia,
 que
 escreveu
 sobre
 a

desigualdade
da
inteligência
entre
negros
e
brancos:
“...
temos
de
encarar
isso,
a
classificação
das
pessoas

em
funções
ocupacionais
simplesmente
não
é
justa
em
qualquer
sentido
absoluto,
O
melhor
que
podemos

esperar
 é
 que
 a
 verdadeira
 igualdade
 de
 oportunidade
 por
 merecimento
 atue
 corno
 fundamento
 do

processo
natural”.


Alegar
 simplesmente
 que
 a
 corrida
 da
 vida
 é
 justa
 e
 que
 pessoas
 diferentes
 têm
 diferentes
 habilidades

intrínsecas
para
correr
não
é
suficiente
para
explicar
as
observações
da
desigualdade,
As
crianças,
em
geral,

parecem
 adquirir
 o
 status
 social
 de
 seus
 pais.
 Cerca
 de
 60%
 das
 crianças
 de
 trabalhadores
 de
 “colarinho

azul”
 permanecem
 sendo
 de
 “colarinho
 azul”,
 enquanto
 cerca
 de
 70%
 das
 crianças
 de
 trabalhadores
 de

“colarinho
branco”
seguem
sendo
de
“colarinho
branco”.
Mas
esses
quadros
superestimam
amplamente
a

ocorrência
 de
 mobilidade
 social.
 Muitas
 pessoas
 que
 passaram
 do
 “colarinho
 azul”
 para
 o
 “colarinho

branco”
o
fizeram
a
partir
dos
empregos
em
fábricas
de
linhas
de
produção
para
empregos
em
escritórios

de
 linha
 de
 produção
 ou
 se
 tornaram
 vendedores
 ambulantes,
 com
 menor
 remuneração
 e
 menos

segurança,
e
fazendo
um
trabalho
extremamente
cansativo
como
seus
pais,
quando
estes
trabalhavam
nas

fábricas.
 As
 crianças
 dos
 frentistas
 de
 postos
 de
 gasolina
 geralmente
 pedem
 dinheiro
 emprestado,
 e
 as

crianças
dos
magnatas
do
petróleo
geralmente
o
empresta.
A
chance
que
Nelson
Rockefeller
teria
de
ir
á

falência
é
quase
zero,


Se
vivêssemos
numa
meritocracia,
onde
cada
pessoa
pudesse
subir
de
vida
apenas
pelas
suas
capacidades

inatas,
como
explicaríamos
essa
passagem
de
poder
social
de
pai
para
filho?
Será
que
estamos
realmente

de
 volta
 á
 velha
 aristocracia?
 A
 explicação
 naturalística
 diz
 que
 não
 só
 nos
 distinguimos
 pelas
 nossas

capacidades
inatas
como
também
estas
são
transmitidas
de
geração
para
geração
biologicamente,
ou
seja,

para
 dizer
 que
 tal
 distinção
 está
 em
 nossos
 genes.
 A
 noção
 original
 de
 herança
 econômica
 e
 social
 foi

transformada
em
herança
biológica.


Mas
mesmo
a
alegação
de
que
a
capacidade
intrínseca
de
vencer
e
ter
sucesso
é
herdada
pelos
genes,
não

é
suficiente
para
justificar
uma
sociedade
desigual.
De
qualquer
modo,
poderíamos
afirmar
que
não
deveria

existir
 qualquer
 relacionamento
 particular
 entre
 o
 que
 se
 pode
 realizar
 e
 as
 recompensas
 sociais
 e

espirituais
recebidas.
Poderíamos
oferecer
as
mesmas
recompensas
materiais
e
espirituais
para
pintores
de

parede
e
pintores
de
quadro,
para
cirurgiões
e
para
barbeiros,
para
professores
que
dão
palestras
e
para
os

zeladores
 que
 arrumam
 as
 salas
 de
 aula.
 Poderíamos
 criar
 uma
 sociedade
 cujas
 bandeiras
 estampariam:

“De
cada
um
conforme
sua
capacidade,
para
cada
um
conforme
sua
necessidade”.


Para
 opor‐se
 à
 objeção
 de
 uma
 sociedade
 desigual,
 foi
 desenvolvida
 uma
 teoria
 biológica
 da
 natureza

humana
 que
 diz
 que
 embora
 as
 diferenças
 entre
 nós
 estejam
 em
 nossos
 genes,
 existem
 certas

similaridades
inatas
entre
todos
nós.
Essas
similaridades
da
natureza
humana
garantem
que
as
diferenças

de
capacidade
serão
convertidas
em
diferenças
de
status,
que
a
sociedade
é
naturalmente
hierárquica,
e

que
 uma
 sociedade
 de
 recompensa
 e
 status
 iguais
 é
 biologicamente
 impossível.
 Poderíamos
 aprovar
 leis


3
exigindo
tal
igualdade,
mas
no
momento
em
que
a
vigilância
do
Estado
ficasse
relaxada,
retornaríamos
a

“fazer
o
que
é
natural”.


Essas
três
idéias
‐
de
que
nos
distinguimos
nas
habilidades
fundamentais
por
causa
das
diferenças
inatas,

de
que
as
diferenças
inatas
são
biologicamente
herdadas
e
de
que
a
natureza
humana
garante
a
formação

de
 uma
 sociedade
 hierárquica
 ‐
 quando
 reunidas,
 formam
 o
 que
 podemos
 chamar
 de
 ideologia
 do

determinismo
biológico.


A
 idéia
 de
 que
 “o
 sangue
 dirá”
 não
 foi
 inventada
 pelos
 biólogos.
 E
 um
 tema
 dominante
 na
 literatura
 do

século
 XIX,
 e
 mal
 se
 podem
 apreciar
 os
 mais
 populares
 e
 renomados
 escritores
 do
 último
 século
 sem

entender
 como
 uma
 teoria
 da
 diferença
 inata
 substanciava
 os
 seus
 trabalhos.
 Pense
 em
 Oliver
 Twist
 de

Dickens.
Quando
Oliver
encontrou
inicialmente
o
jovem
Jack
Dawkins,
o
Astuto
Trapaceiro,
na
estrada
para

Londres,
 um
 notável
 contraste
 no
 corpo
 e
 no
 espírito
 é
 estabelecido.
 O
 Trapaceiro
 é
 descrito
 conto
 “um

garoto
de
rosto
comum,
sobrancelhas
retas,
nariz
arrebitado...
com
pernas
arcadas
e
pequenos
olhos
feios

e
penetrantes”,
e
seu
inglês
não
era
dos
melhores,
O
que
podemos
esperar
de
um
rapazote
de
rua
de
10

anos
 de
 idade
 sem
 família,
 sem
 educação,
 e
 na
 companhia
 dos
 piores
 criminosos
 de
 Londres?
 A
 fala
 de

Oliver,
 no
 entanto,
 é
 perfeita
 (ele
 sabe
 quando
 usar
 o
 substantivo)
 e
 suas
 maneiras
 são
 gentis.
 Ele
 é

descrito
 como
 sendo
 uma
 criança
 magra
 e
 pálida,
 mas
 com
 um
 espírito
 resoluto
 em
 seu
 peito.
 Contudo,

Oliver
foi
criado
desde
o
nascimento
nas
instituições
britânicas
mais
degradantes
do
século
XIX,
a
casa
de

correção
paroquial,
onde
um
órfão
como
ele
não
recebia
educação
e
pouco
tinha
o
que
comer.
Ele
passou

os
primeiros
nove
anos
de
sua
vida
rolando
pelo
chão
o
dia
inteiro
“sem
a
inconveniência
de
muita
comida

ou
 muita
 roupa”.
 Onde,
 entre
 restos
 de
 estopa,
 Oliver
 acumulou
 aquela
 sensibilidade
 da
 alma
 e
 aquela

perfeição
da
gramática
inglesa?
Oliver
Twist
é
um
romance
de
mistério,
e
este
é
seu
mistério.
A
resposta
é

que
embora
sua
alimentação
fosse
mingau,
seu
sangue
era
de
classe
média
alta.
Sua
mãe
era
filha
de
um

oficial
da
marinha.
A
família
de
seu
pai
era
próspera
e
socialmente
ambiciosa.


Um
tema
similar
está
centrado
em
Daniel
Deronda
de
George
Eliot.
Primeiro
encontramos
Daniel,
o
jovem

enteado
de
um
baronete
inglês,
desperdiçando
seu
tempo
jogando
numa
estância
balneária.
Quando
ele

fica
um
pouco
mais
velho,
ele
subitamente
tem
desejos
misteriosos
por
coisas
hebraicas.
Ele
se
apaixona

por
uma
judia,
estuda
o
talmude
e
se
converte.
O
leitor
não
ficará
surpreso
ao
saber
que
ele
é
filho
de
uma

atriz
judia
com
quem
nunca
teve
contato,
mas
cuja
ligação
é
revelada
através
do
sangue.
Isso
não
é
apenas

uma
 loucura
 dos
 anglo‐saxões.
 Os
 romances
 de
 Émile
 Zola
 ‐
 Rougon‐Macquart
 ‐
 foram
 deliberadamente

escritos
 como
 um
 tipo
 de
 literatura
 experimental
 para
 ilustrar
 as
 descobertas
 da
 antropologia
 do
 século

XIX.
Zola
nos
diz
que
“a
hereditariedade
tem
suas
leis
assim
como
a
gravidade”.
Os
Rougon‐Macquarts
são

uma
 família
 descendente
 de
 dois
 amantes
 de
 uma
 única
 mulher,
 um
 dos
 quais
 era
 camponês
 forte
 e

esforçado
e
o
outro
um
esbanjador
e
depravado.
Do
camponês
digno
de
confiança
descende
uma
linhagem

honesta
e
sólida,
enquanto
do
ancestral
depravado
descende
uma
longa
linhagem
de
desajustados
sociais
e

de
criminosos,
incluindo
a
famosa
Nana,
que
era
uma
ninfomaníaca
desde
a
infância,
e
sua
mãe,
Gervaise,


4
a
 lavadeira,
 que
 apesar
 de
 começar
 um
 sólida
 vida
 empreendedora,
 desliza
 em
 sua
 indolência
 natural.

Quando
 o
 marido
 de
 Gervaise,
 Copeau,
 o
 pai
 de
 Nana,
 foi
 internado
 no
 hospital
 com
 delirium
 tremens

(D.T.s),
 a
 primeira
 pergunta
 que
 o
 médico
 fez
 a
 ela
 foi:
 “Seu
 pai
 bebe?”
 A
 consciência
 pública
 da
 época

tanto
na
Europa
como
na
América
do
Norte
era
permeada
com
a
noção
de
que
as
diferenças
intrínsecas
no

temperamento
 e
 no
 mérito
 finalmente
 prevalecerão
 sobre
 qualquer
 mero
 efeito
 da
 educação
 e
 do

ambiente.


Os
 imaginários
 Rougon‐Maequards
 são
 vistos
 novamente
 na
 família
 de
 Kallikaks,
 igualmente
 imaginária

mas
 supostamente
 real,
 que
 virtualmente
 ilustrou
 todos
 os
 livros
 didáticos
 de
 psicologia
 da
 América
 do

Norte
 até
 a
 Segunda
 Guerra
 Mundial.
 Supõe‐se
 que
 os
 Kallikaks
 sejam
 duas
 metades
 de
 uma
 família

descendente
 de
 duas
 mulheres
 de
 natureza
 contrastante
 e
 de
 um
 pai
 comum.
 Essa
 peça
 de
 ficção

acadêmica
 foi
 destinada
 a
 convencer
 as
 jovens
 mentes
 maleáveis
 de
 que
 criminalidade,
 preguiça,

alcoolismo
e
incesto
eram
inatos
e
herdados.


Supostamente
tais
diferenças
inatas
nem
eram
limitadas
à
variação
individual.
Dizia‐se
que
nações
e
raças

eram
 caracterizadas
 pelas
 diferenças
 intelectuais
 e
 temperamentais
 inatas.
 Essas
 afirmações
 não
 eram

feitas
por
ignorantes
racistas,
demagogos
e
fascistas,
mas
pelos
líderes
dos
estabelecimentos
acadêmicos,

psicológicos
e
sociológicos
da
América
do
Norte.
Em
1923,
Carl
Brigham,
que
mais
tarde
foi
secretário
do

Conselho
de
Exame
de
Admissão
Acadêmica,
produziu
um
estudo
sobre
inteligência
sob
a
direção
de
R.M.

Yerkes,
professor
de
psicologia
em
Harvard
e
presidente
da
Associação
Americana
de
Psicologia.
O
estudo

afirmava
 que:
 “Devemos
 assumir
 que
 estamos
 medindo
 a
 inteligência
 inata.
 Devemos
 enfrentar
 a

possibilidade
de
mistura
racial
aqui
na
América
que
é
infinitamente
pior
do
que
a
de
qualquer
país
europeu

por
estarmos
incorporando
o
negro
dentro
de
nossa
linhagem
racial.
O
declínio
da
inteligência
americana

será
mais
rápido...
devido
à
presença
do
negro
aqui”.


Contudo,
um
outro
presidente
da
Associação
Americana
de
Psicologia
disse
que
toda
vez
que
houver
uma

miscigenação
 com
 o
 negro,
 haverá
 deterioração
 das
 civilizações
 Louis
 Agassiz,
 um
 dos
 mais
 famosos

zoólogos
do
século
XIX,
relatou
que
as
suturas
cranianas
dos
bebês
negros
fechavam‐se
mais
cedo
do
que

as
suturas
de
bebês
brancos,
portanto
seus
cérebros
ficam
presos
numa
armadilha,
e
seria
perigoso
ensiná‐
los
 muita
 coisa.
 Talvez
 a
 mais
 extraordinária
 das
 afirmações
 seja
 aquela
 de
 Flenry
 Fairfield
 Osborne,

presidente
do
Museu
Americano
de
História
Natural
e
um
dos
mais
eminentes
e
prestigiados
paleontólogos

da
América,
que
elaborou
a
seqüência
da
evolução
do
cavalo.
Ele
escreveu:


“...as
 raças
 do
 norte
 invadiram
 os
 países
 até
 o
 sul,
 não
 apenas
 como
 conquistadores,
 mas
 como

fornecedores
 de
 fortes
 elementos
 morais
 e
 intelectuais
 para
 uma
 civilização
 mais
 ou
 menos
 decadente.

Através
 da
 maré
 nórdica
 que
 inundou
 a
 Itália
 vieram
 os
 ancestrais
 de
 Rafael,
 Leonardo,
 Galileu,
 Ticiano;

também,
segundo
Günther,
de
Giotto,
Botticelli,
Petrarca
e
Tasso.
Colombo,
a
partir
de
seus
retratos
e
de

seus
bustos,
autênticos
ou
não,
era
claramente
de
ascendência
nórdica”
[ênfase
acrescida]


5
Autêntico
ou
não,
deveras!
Repetidamente,
os
principais
intelectuais
asseguravam
ao
público
deles
que
a

ciência
 moderna
 demonstra
 a
 existência
 de
 diferenças
 raciais
 e
 individuais
 inatas
 quanto
 à
 capacidade.

Nem
 só
 os
 biólogos
 modernos
 mudaram
 de
 opinião.
 O
 determinismo
 biológico
 tem
 sido
 uma
 promessa

essencial
 para
 os
 biólogos,
 exceto
 por
 uma
 breve
 interrupção
 na
 época
 da
 Segunda
 Guerra
 Mundial,

quando
os
crimes
do
nazismo
tornaram
as
afirmações
de
inferioridade
inata
extremamente
impopulares.

Contudo,
essas
afirmações
são
feitas
sem
um
mínimo
de
evidência
e
em
contradição
com
todo
o
princípio

da
biologia
e
da
genética.


Para
perceber
o
erro
dessas
afirmações,
precisamos
entender
o
que
está
envolvido
no
desenvolvimento
de

um
 organismo.
 Primeiro,
 não
 somos
 determinados
 pelos
 nossos
 genes,
 embora
 certamente
 selamos

influenciados
por
eles.
O
desenvolvimento
depende
não
apenas
dos
materiais
que
foram
herdados
dos
pais

‐
 ou
 seja,
 os
 genes
 e
 os
 demais
 materiais
 dentro
 do
 esperma
 e
 do
 óvulo
 ‐
 mas
 também
 da
 temperatura,

umidade,
 nutrição,
 olfato,
 visão
 e
 sons
 (incluindo
 o
 que
 chamamos
 de
 educação)
 que
 impingem
 o

desenvolvimento
do
organismo.
Mesmo
se
soubesse
a
completa
especificação
molecular
de
cada
gene
de

um
organismo,
eu
não
poderia
antecipar
o
que
esse
organismo
seria.
É
claro
que
a
diferença
entre
leões
e

cordeiros
 é
 quase
 totalmente
 uma
 conseqüência
 da
 diferença
 genética
 desses
 animais.
 Mas
 as
 variações

entre
 indivíduos
 dentro
 das
 espécies
 são
 uma
 única
 conseqüência
 de
 ambos
 os
 genes
 e
 do
 ambiente
 de

desenvolvi
 mento
 dentro
 de
 uma
 constante
 interação.
 Além
 do
 mais,
 curiosamente,
 se
 conhecesse
 os

genes
 de
 um
 organismo
 e
 desenvolvimento
 e
 a
 completa
 seqüência
 de
 seus
 ambientes,
 eu
 não
 poderia

especificar
o
organismo.


Existe
ainda
um
outro
fator
a
considerar.
Se
contarmos
o
número
de
pêlos
sob
as
asas
de
uma
mosca‐da‐
fruta,
por
exemplo,
descobriremos
que
existe
um
número
diferente
de
pêlos
no
lado
esquerdo
em
relação

ao
lado
direito.
Algumas
moscas
têm
mais
pêlos
lado
esquerdo,
outras
mais
pêlos
no
lado
direito;
mas
não

existe
uma
diferença
média.
Portanto,
existe
um
tipo
de
assimetria
oscilante.
Uma
mosca‐da‐fruta
sozinha,

no
entanto,
possui
os
mesmos
genes
tanto
no
lado
esquerdo
como
no
direito.
Além
do
mais,
o
tamanho

minúsculo
de
uma
mosca‐da‐fruta
em
desenvolvimento
e
o
local
em
que
ela
se
desenvolve
garantem
que

tanto
 o
 lado
 esquerdo
 como
 o
 direito
 tenham
 a
 mesma
 umidade,
 o
 mesmo
 oxigênio
 e
 a
 mesma

temperatura.
 As
 diferenças
 entre
 o
 lado
 esquerdo
 e
 o
 direito
 não
 são
 causadas
 nem
 pelas
 diferenças

genéticas
e
nem
pelas
diferenças
ambientais,
mas
sim
pela
variação
aleatória
no
crescimento
e
divisão
das

células
durante
o
desenvolvimento:
anomalia
do
desenvolvimento,


Esse
 elemento
 casual
 no
 desenvolvimento
 uma
 importante
 fonte
 de
 variação.
 Na
 verdade,
 no
 caso
 dos

pêlos
da
mosca‐da‐fruta,
existe
tanta
variação
conseqüente
de
anomalia
do
desenvolvimento
como
há
da

variação
genética
e
ambiental.
Por
exemplo,
nos
seres
humanos
não
sabemos
quanta
diferença
entre
nós
é

conseqüência
 das
 diferenças
 aleatórias
 no
 crescimento
 dos
 neurônios
 durante
 nossa
 vida
 embrionária
 e

início
 da
 infância.
 É
 um
 equívoco
 comum
 acharmos
 que
 mesmo
 se
 tivéssemos
 tocado
 violino
 desde
 uma

tenra
 idade,
 não
 seríamos
 capazes
 de
 tocar
 tão
 bem
 quanto
 Menuhin,
 pois
 pensamos
 nele
 como
 tendo


6
conexões
 neuronais
 especiais.
 Porém,
 isso
 não
 é
 mesmo
 que
 dizer
 que
 aquelas
 conexões
 neuronais

estavam
 codificadas
 em
 seus
 genes.
 Pode
 haver
 grandes
 diferenças
 aleatórias
 no
 desenvolvimento
 de

nosso
 sistema
 nervoso
 central.
 E
 um
 princípio
 fundamental
 da
 genética
 do
 desenvolvimento
 que
 cada

organismo
 seja
 conseqüência
 de
 uma
 única
 interação
 entre
 os
 genes
 e
 as
 seqüências
 ambientais

moduladas
 pelos
 acasos
 aleatórios
 do
 crescimento
 e
 da
 divisão
 celular,
 e
 que
 tudo
 isso
 junto,
 no
 final,

produza
um
organismo.
Além
do
mais,
um
organismo
muda
ao
longo
de
sua
vida
inteira.
Os
seres
humanos

mudam
 de
 tamanho,
 não
 apenas
 crescendo
 mais
 quando
 crianças,
 mas
 quando
 envelhecem,
 passam
 a

diminuir
na
medida
em
que
suas
juntas
e
ossos
encolhem.


Uma
versão
mais
sofisticada
do
determinismo
genético
concorda
que
os
organismos
são
uma
conseqüência

das
 influências
 ambientais
 e
 genéticas,
 porém,
 descreve
 diferenças
 entre
 os
 indivíduos
 quanto
 a

capacidade.
 Trata‐se
 da
 metáfora
 do
 balde
 vazio.
 Cada
 um
 de
 nós
 começa
 a
 vida
 como
 sendo
 um
 balde

vazio
 de
 diferentes
 tamanhos.
 Se
 o
 ambiente
 proporciona
 pouca
 água
 apenas,
 então
 todos
 esses
 baldes

terão
o
mesmo
volume
de
água
dentro.
Mas
se
houver
uma
abundância
de
água,
então
os
baldes
pequenos

transbordarão
 e
 os
 grandes
 conterão
 mais
 água.
 Nesta
 visão,
 se
 cada
 pessoa
 pudesse
 desenvolver
 sua

capacidade
genética,
de
fato
haveria
grandes
diferenças
na
capacidade
e
no
desempenho,
e
isso
seria
justo

e
natural.


Entretanto,
 não
 existe
 mais
 biologia
 na
 metáfora
 da
 capacidade
 inata
 do
 que
 na
 noção
 dos
 efeitos

genéticos
 fixos.
 A
 única
 interação
 entre
 organismo
 e
 ambiente
 não
 pode
 ser
 descrita
 por
 diferenças
 na

capacidade.
E
verdade
que
se
dois
organismos
geneticamente
diferentes
desenvolverem‐se
em
ambientes

exatamente
 iguais,
 eles
 seriam
 diferentes,
 mas
 tal
 diferença
 não
 pode
 ser
 descrita
 como
 capacidades

distintas
 porque
 o
 tipo
 genético
 que
 fosse
 superior
 num
 ambiente
 poderia
 ser
 inferior
 num
 segundo

ambiente
 de
 desenvolvimento.
 Por
 exemplo,
 linhagens
 de
 ratos
 podem
 ser
 selecionadas
 para
 melhor
 ou

para
 pior
 através
 do
 labirinto,
 ou
 seja,
 essas
 linhagens
 de
 ratos
 passam
 a
 capa
 cidade
 diferencial
 de

percorrerem
o
labirinto
para
seus
descendentes,
portanto,
eles
certamente
são
geneticamente
diferentes

quanto
a
isso.
Mas,
se
as
mesmas
linhagens
de
ratos
receberem
uma
tarefa
diferente,
ou
se
as
condições

de
 aprendizagem
 forem
 mudadas,
 os
 ratos
 espertos
 passam
 a
 ser
 idiotas
 e
 os
 ratos
 idiotas
 passam
 a
 ser

espertos.
 Não
 existe
 qualquer
 superioridade
 genética
 de
 uma
 linhagem
 de
 rato
 sobre
 outra
 na
 busca
 de

soluções
de
um
problema.


Para
 o
 determinismo
 biológico,
 existe
 uma
 abordagem
 mais
 sutil
 e
 mistificante
 que
 rejeita
 tanto
 a

estabilidade
 genética
 como
 a
 metáfora
 da
 capacidade,
 que
 é
 a
 estatística.
 Basicamente,
 a
 abordagem

estatística
afirma
que
pode‐se
dividir
os
efeitos
ambientais
e
genéticos
de
maneira
que,
por
exemplo,
80%

da
diferença
entre
os
indivíduos
seja
causada
por
seus
genes
e
20%
pelos
seus
ambientes.
E
claro
que
essas

diferenças
devem
ser
mais
a
nível
populacional
do
que
a
nível
individual.
Não
teria
sentido
algum
dizer
que

alguém
 de
 1,75
 cm
 de
 altura,
 dos
 quais
 1,50
 cm
 é
 resultado
 dos
 genes
 que
 ela
 possui
 e
 que
 os
 25
 cm

restantes
foram
colocados
lá
pela
alimentação
que
ela
teve.
A
visão
estatística
considera
mais
a
proporção


7
da
 variação
 entre
 os
 indivíduos
 do
 que
 a
 divisão
 de
 uma
 determinada
 medição
 individual.
 A
 abordagem

estatística
tenta
atribuir
alguma
proporção
de
variação
entre
indivíduos
ou
grupos
à
variações
entre
seus

genes
e
uma
segunda
proporção
que
resulte
da
variação
entre
seus
ambientes.


A
implicação
é
que,
se
a
maior
parte
da
variação
na
inteligência
entre
os
indivíduos,
for
conseqüência
das

variações
entre
seus
genes,
então
a
manipulação
do
ambiente
não
fará
muita
diferença.
Freqüentemente
é

dito,
que
80%
da
variação
individual
no
desempenho
do
Q.I.
entre
as
crianças
é
causada
pela
variação
em

seus
 genes
 e
 somente
 20%
 pela
 variação
 em
 seus
 respectivos
 ambientes.
 O
 resultado
 é
 que
 a
 maior

melhoria
possível
do
ambiente
não
poderia
eliminar
mais
do
que
20%
das
diferenças
entre
indivíduos
e
os

80%
 restantes
 ainda
 estariam
 lá
 por
 ser
 uma
 conseqüência
 da
 variação
 genética.
 Isso
 é
 completamente

falacioso,
 embora
 seja
 um
 argumento
 aparentemente
 plausível.
 Não
 existe
 qualquer
 conexão
 entre
 a

variação
a
ser
imputada
às
diferenças
genéticas
em
oposição
às
diferenças
ambientais
e
a
possibilidade
de

uma
 mudança
 ambiental
 afetar
 quantitativamente
 o
 desempenho.
 Devemos
 lembrar
 que
 qualquer

estudante
comum
de
aritmética
das
escolas
primárias
do
Canadá
pode
somar
corretamente
uma
coluna
de

algarismos
 muito
 mais
 rapidamente
 do
 que
 o
 mais
 inteligente
 matemático
 da
 Antiga
 Roma,
 que
 teve
 de

lutar
com
os
embaraçosos
X,
V
e
I.
Esse
mesmo
estudante
comum
pode
multiplicar
dois
números
de
cinco

dígitos
com
uma
calculadora
de
bolso
de
10
dólares
mais
rápido
e
acuradamente
do
que
um
professor
de

matemática
do
século
passado.


Uma
mudança
no
ambiente,
neste
caso
do
ambiente
cultural,
pode
mudar
a
capacidade
de
cada
individuo

em
 termos
 de
 magnitude.
 Além
 do
 mais,
 as
 diferenças
 entre
 os
 indivíduos
 são
 abolidas
 por
 invenções

culturais
e
mecânicas.
As
diferenças
que
podem
ser
atribuídas
às
diferenças
genéticas
e
que
aparecem
em

um
ambiente,
podem
desaparecer
por
completo
em
outro.
Embora
possa
existir
biologicamente
diferenças

médias
 na
 psique
 e
 na
 força
 entre
 um
 grupo
 aleatório
 de
 homens
 e
 um
 grupo
 aleatório
 de
 mulheres
 (e

essas
 diferenças
 são
 menores
 do
 que
 em
 geral
 se
 supõe),
 essas
 diferenças
 tornam‐se
 rapidamente

irrelevantes
e
desaparecem
dentro
da
visão
prática
num
mundo
de
guindastes
eletronicamente
dirigidos,

volantes
 hidráulicos
 e
 controles
 eletrônicos.
 Portanto,
 a
 proporção
 da
 variação
 numa
 população
 como

conseqüência
 da
 variação
 nos
 genes
 não
 á
 um
 propriedade
 estável,
 mas
 sim
uma
 que
 varia
 de
 ambiente

para
ambiente,
ou
seja,
a
magnitude
da
diferença
entre
nós
é
resultado
das
diferenças
genéticas
entre
nós,

que
por
sua
vez
depende
do
ambiente,
o
que
é
curiosamente
suficiente.


Inversamente,
 a
 magnitude
 da
 diferença
 que
 existe
 entre
 nós
 como
 resultado
 da
 variação
 ambiental
 em

nossas
 histórias
 de
 vida
 depende
 de
 nossos
 genes.
 Sabemos
 por
 experiência
 que
 os
 organismos
 que

possuem
alguns
genes
especiais
são
muito
sensíveis
á
variação
ambiental.
A
variação
ambiental
e
genética

não
são
independentes
das
casualidades.
Os
genes
afetam
o
grau
de
sensibilidade
diante
do
ambiente,
e
o

ambiente
 afeta
 o
 grau
 de
 relevância
 das
 diferenças
 genéticas.
 A
 interação
 entre
 eles
 é
 indissolúvel,
 nós

podemos
separar
 estatisticamente
os
 efeitos
genéticos
e
ambientais
somente
numa
população
particular


8
de
 organismos
 num
 determinado
 momento
 com
 um
 determinado
 conjunto
 de
 ambientes
 específicos.

Quando
o
ambiente
muda,
todas
as
apostas
são
perdidas.


O
 contraste
 entre
 genética
 e
 ambiente,
 bem
 como
 entre
 natureza
 e
 criação,
 não
 é
 um
 contraste
 entre
 o

fixo
 e
 o
 mutável.
 E
 uma
 falácia
 do
 determinismo
 biológico
 dizer
 que,
 se
 as
 diferenças
 estão
 nos
 genes,

nenhuma
 mudança
 pode
 ocorrer.
 Nós
 sabemos
 que
 isso
 é
 verdadeiro
 somente
 a
 partir
 de
 evidências

médicas.
 Existem
 muitos
 erros
 inatos
 de
 metabolismo
 onde
 um
 gene
 defeituoso,
 em
 circunstâncias

normais,
resulta
em
uma
fisiologia
também
defeituosa.
Um
exemplo
disso
é
o
mal
de
Wilson,
um
defeito

genético
que
impossibilita
que
seus
portadores
doentes
eliminem
o
cobre
que
todos
nós
consumimos
em

quantidades
 insignificantes
 em
 nossa
 alimentação
 do
 dia‐a‐dia.
 O
 cobre
 acumula‐se
 no
 organismo
 e

eventualmente
causa
degeneração
nervosa
e
por
fim
a
morte,
em
algum
momento
na
adolescência
ou
no

início
da
vida
adulta.
Nada
poderia
ser
mais
perfeitamente
descrito
do
que
um
distúrbio
genético.
Contudo,

as
 pessoas
 com
 esse
 gene
 defeituoso
 podem
 levar
 uma
 vida
 perfeitamente
 normal
 e
 ter
 um

desenvolvimento
também
normal
ao
tomarem
uma
pílula
que
os
ajudem
a
eliminar
o
cobre,
assim
eles
são

indistinguíveis
das
demais
pessoas.


Algumas
vezes
diz‐se
que
os
exemplos
de
mudança
nas
condições
de
desempenho,
tais
como
a
invenção

dos
 numerais
 arábicos,
 da
 calculadora,
 ou
 da
 pílula,
 são
 irrelevantes
 porque
 estamos
 interessados
 em

algum
 tipo
 de
 capacidade
 básica
 não
 confirmada
 e
 não
 sustentada.
 Mas
 não
 existe
 qualquer
 medição
 da

capacidade
“não
confirmada”,
e
nem
estamos
realmente
interessados
nela.
Existem
algumas
pessoas
que

podem
se
lembrar
de
longas
carreiras
de
algarismos
e
outras
que
são
boas
em
somar
e
multiplicar
grandes

números
de
cabeça.
Então,
por
que
damos
testes
escritos
de
Q.l.
para
pessoas
que
não
têm
a
capacidade

“não
 confirmada”
 para
 fazer
 aritmética
 mentalmente?
 Por
 que
 permitimos
 que
 as
 pessoas
 que
 fazem

testes
 mentais
 usem
 óculos,
 se
 estamos
 interessados
 nas
 capacidades
 “não
 sustentadas”
 culturalmente

imutáveis?
 A
 resposta
 é
 que
 não
 estamos
 interessa
 dos
 nas
 capacidades
 definidas
 arbitrariamente,
 mas

preocupados
com
as
diferenças
na
capacidade
a
fim
de
colocar
em
prática
tarefas
construídas
socialmente

que
sejam
relevantes
para
a
estrutura
de
nossas
atuais
vidas
sociais.


Além
 das
 dificuldades
 conceituais
 de
 se
 tentar
 atribuir
 os
 efeitos
 separados
 aos
 genes
 e
 aos
 ambientes,

existem
graves
dificuldades
experimentais
quando
lidamos
com
os
seres
humanos.
Como
decidimos
se
os

genes
 influenciam
 ou
 não
 as
 diferenças
 entre
 algumas
 características
 de
 personalidade?
 Em
 todos
 os

organismos
o
processo
é
o
mesmo.
Nós
comparamos
os
indivíduos
que
estão
diferentemente
relacionados

entre
si,
e
se
mais
indivíduos
intimamente
relacionados
são
mais
parecidos
do
que
os
menos
relacionados,

atribuímos
algum
poder
para
os
genes.
Mas
é
aqui
que
repousa
a
grande
dificuldade
da
genética
humana.

Diferentemente
dos
animais
experimentais,
as
pessoas
que
estão
mais
intimamente
relacionadas
entre
si

não
 apenas
 compartilham
 mais
 genes
 em
 comum,
 mas
 também
 compartilham
 um
 ambiente
 comum
 por

causa
 da
 família
 e
 da
 estrutura
 de
 classes
 das
 sociedades
 humanas.
 A
 observação
 de
 que
 as
 crianças

apresentam
 características
 semelhantes
 com
 as
 de
 seus
 pais
 não
 distingue
 a
 similaridade
 genética
 da


9
similaridade
 que
 surge
 da
 semelhança
 ambiental.
 A
 semelhança
 entre
 pais
 e
 filhos
 é
 a
 observação
 a
 ser

explicada.
 Não
 é
 uma
 evidência
 quanto
 aos
 genes.
 Por
 exemplo,
 as
 duas
 características
 sociais
 que

apresentam
 a
 mais
 alta
 semelhança
 entre
 pais
 e
 filhos
 na
 América
 do
 Norte
 são
 o
 setor
 religioso
 e
 o

partidarismo
 político.
 Contudo,
 mesmo
 o
 mais
 fervoroso
 dos
 deterministas
 biológicos
 não
 discutiria

seriamente
a
existência
de
um
gene
para
o
episcopalismo
ou
para
se
votar
em
um
crédito
social.


O
 problema
 é
 distinguir
 a
 similaridade
 genética
 da
 similaridade
 ambiental.
 E
 por
 esse
 motivo
 que
 tanta

ênfase
tem
sido
dada
aos
estudos
genéticos
com
gêmeos
humanos.
A
idéia
é
que,
se
os
gêmeos
são
mais

parecidos
 do
 que
 os
 irmãos
 comuns
 ou
 se
 os
 gêmeos
 criados
 em
 famílias
 completamente
 isoladas
 ainda

permanecem
parecidos,
então
isso
certamente
deve
ser
uma
evidência
genética.
Em
particular,
tem
havido

uma
 fascinação
 com
 um
 estudo
 de
 gêmeos
 idênticos
 criados
 separadamente.
 Se
 gêmeos
 idênticos
 ‐
 ou

seja,
 gêmeos
 que
 compartilham
 todo
 os
 mesmos
 genes
 ‐
 são
 parecidos
 mesmo
 criados
 separadamente,

então
suas
características
devem
ser
fortemente
influenciadas
geneticamente.
A
maior
parte
da
alegação

em
 favor
 de
 uma
 elevada
 hereditariedade
 de
 Q.I.,
 por
 exemplo,
 vem
 de
 estudos
 de
 gêmeos
 idênticos

criados
separadamente.


Apenas
três
desses
estudos
foram
publicados.
O
primeiro
e
maior
conjunto
de
estudos
foi
apresentado
por

Sir
 Cyril
 Burt.
 Este
 foi
 o
 único
 estudo
 que
 não
 confirmou
 qualquer
 similaridade
 entre
 circunstâncias

familiares
 das
 famílias
 que
 criaram
 gêmeos
 separadamente.
 O
 estudo
 também
 alegava
 uma

hereditariedade
 de
 80%
 para
 o
 desempenho
 do
 Q.I.
 No
 entanto,
 uma
 investigação
 cuidadosa
 feita
 por

Oliver
Gillie
do
Times
de
Londres
e
pelo
Professor
Leon
Kamin
em
Princeton
revelou
que
Burt
simplesmente

havia
 forjado
 os
 números
 bem
 como
 os
 gêmeos
 Ele
 forjou
 até
 mesmo
 os
 nomes
 dos
 colaboradores
 que

apareciam
em
suas
publicações.
Não
precisamos
mais
falar
desse
estudo,
pois
representou
um
dos
maiores

escândalos
da
psicologia
e
biologia
moderna.


Quando
olhamos
para
outros
estudos,
que
realmente
oferecem
detalhes
da
família
dos
gêmeos
separados,

percebemos
 que
 vivemos
 num
 mundo
 real
 e
 não
 na
 opereta
 de
 Gilbert
 e
 Suilivan.
 A
 razão
 pela
 qual
 os

gêmeos
são
separados
no
nascimento
pode
ser
devido
à
morte
da
mãe
durante
o
parto,
de
forma
que
um

gêmeo
é
criado
por
uma
tia
e
o
outro
por
uma
grande
amiga
ou
pela
avó.
Algumas
vezes
os
pais
não
podem

sustentar
as
duas
crianças
e
assim
eles
deixam
uma
delas
com
um
parente.
De
fato,
os
gêmeos
estudados

não
foram
criados
tão
isoladamente
assim.
Eles
foram
criados
por
membros
da
mesma
família,
na
mesma

vila.
 Os
 gêmeos
 iam
 para
 a
 escola
 e
 brincavam
 juntos.
 Outros
 estudos
 sobre
 o
 Q.l.
 humano
 em
 crianças

adotivas
de
mostrando
o
efeito
dos
genes
apresentam
suas
próprias
dificuldades
experimentais,
incluindo
a

falha
na
faixa
etária
das
crianças,
amostragens
extremamente
pequenas,
e
seleção
tendenciosa
dos
casos

para
estudo.
Existe
um
grande
esforço
por
parte
dos
pais
de
muitos
gêmeos
em
torná‐los
mais
parecidos

ainda.
 Eles
 recebem
 nomes
 que
 começam
 com
 a
 mesma
 letra
 e
 são
 vestidos
 com
 roupas
 iguais.
 Os

concursos
internacionais
de
gêmeos
oferecem
prêmios
para
os
gêmeos
mais
parecidos.
Um
estudo
sobre

gêmeos
 foi
 anunciado
 nos
 jornais
 oferecendo
 uma
 viajem
 de
 graça
 até
 Chicago
 para
 gêmeos
 idênticos,


10
atraindo
assim
aqueles
que
eram
os
mais
parecidos.
Como
conseqüência
de
tais
tendências,
simplesmente

não
 há
 atualmente
 qual
 quer
 medição
 convincente
 do
 papel
 dos
 genes
 influenciando
 a
 variação

comportamental
humana.


Uma
das
principais
armas
ideológicas
da
biologia
usadas
para
convencer
as
pessoas
de
que
a
posição
delas

na
sociedade
é
fixa
e
imutável,
e
portanto
justa,
é
a
constante
confusão
entre
herança
e
imutabilidade.
Em

lugar
nenhum
essa
confusão
é
tão
manifesta
do
que
nos
muitos
estudos
de
adoções
destinados
a
medir
as

similaridades
 biológicas.
 Nas
 populações
 humanas,
 realizam‐se
 estudos
 de
 adoção
 como
 aquela
 da

separação
 de
 gêmeos
 idênticos
 para
 tentar
 romper
 a
 conexão
 entre
 a
 semelhança
 que
 vem
 das
 fontes

genéticas
e
a
semelhança
que
vem
das
fontes
de
similaridade
familiar.
Se
as
crianças
adotadas
parecem‐se

muito
 mais
 com
 seus
 pais
 biológicos
 do
 que
 com
 seus
 pais
 adotivos,
 então
 os
 geneticistas,
 muito

corretamente,
 consideram
 isso
 como
 sendo
 um
 evidência
 da
 influência
 genética.
 Quando
 se
 olha
 para

todos
 os
 estudos
 de
 adoção
 a
 fim
 de
 investigar
 a
 influência
 genética
 na
 inteligência,
 sempre
 há
 dois

resultados
constantes.


Primeiro,
as
crianças
adotadas
parecem‐se
com
seus
pais
biológicos
uma
vez
que
quanto
mais
alto
o
Q.I.
do

pai
biológico,
maior
o
Q.I.
da
criança
que
foi
adotada.
Portanto,
os
pais
biológicos
estão
tendo
influência
no

Q.I.
de
seus
filhos
muito
embora
elas
fossem
adotadas
desde
cedo,
e
deixando
de
lado
a
possibilidade
de

diferenças
 nutricionais
 durante
 o
 período
 pré‐
 natal
 ou
 da
 estimulação
 extremamente
 precoce,
 seria

razoável
 dizer
 que
 os
 genes
 apresentam
 alguma
 influência
 nas
 contagens
 de
 Q.I.
 Podemos
 apenas

especular
 sobre
 a
 fonte
 da
 influência
 genética.
 Existe
 uma
 demanda
 de
 velocidade
 no
 teste
 de
 Q.I.,
 e
 os

genes
poderiam
ter
alguma
influência
nos
momentos
de
reação
ou
na
velocidade
dos
processos
do
sistema

nervoso
central.


A
segunda
característica
dos
estudos
de
adoção
é
que
os
testes
de
Q.I.
de
crianças
apresentam
cerca
de
20

pontos
a
mais
do
que
aqueles
dos
pais
biológicos.
Ainda
há
o
caso
em
que
os
pais
biológicos
com
Q.I.
mais

elevado
têm
filhos
com
Q.I.
mais
elevado
também,
mas
com
as
crianças,
enquanto
grupo,
apresentando
um

avanço
 bem
 maior
 do
 que
 seus
 pais
 biológicos.
 De
 fato,
 as
 contagens
 médias
 de
 Q.I.
 dessas
 crianças

adotadas
são
aproximadamente
iguais
ao
Q.I.
médio
dos
pais
adotantes,
que
sempre
se
saem
melhor
nos

testes
 de
 Q.I.
 do
 que
 os
 pais
 biológicos.
 O
 que
 está
 em
 jogo
 aqui
 é
 a
 diferença
 entre
 correlação
 e

identidade.
 Duas
 variáveis
 estão
 positivamente
 correlacionadas
 se
 os
 valores
 mais
 elevados
 de
 um

combinar
com
os
valores
mais
elevados
do
outro.
O
conjunto
ordenado
dos
números
100,
101,
102
e
103

está
perfeitamente
ordenado
com
o
conjunto
120,
121,
122
e
123
porque
cada
aumento
cai
um
conjunto

está
 perfeitamente
 combinado
 com
 um
 aumento
 no
 outro
 conjunto.
 Contudo,
 os
 dois
 conjuntos
 de

números
claramente
não
são
idênticos,
pois
apresentam
diferença
de
20
unidades
em
média.
Por
tanto,
o

Q.I.
dos
pais
pode
ser
um
excelente
indicador
de
Q.I.
de
seus
filhos
uma
vez
que
os
valores
mais
elevados

para
 os
 pais
 são
 combinados
 com
 os
 valores
 mais
 elevados
 para
 os
 filhos,
 mas
 o
 valor
 médio
 do
 Q.I.
 das

crianças
 pode
 ser
 muito
 maior.
 Para
 o
 geneticista,
 é
 a
 correlação
 que
 indica
 o
 papel
 dos
 genes;
 a


11
hereditariedade
não
antecipa
nada
a
respeito
das
mudanças
médias
de
geração
para
geração.
Os
estudos

de
adoção
são
uma
revelação
do
significado
dos
teste
de
Q.I.
e
da
realidade
social
da
adoção.


Primeiro,
 o
 que
 os
 testes
 de
 Q.I.
 realmente
 medem?
 Eles
 são
 uma
 combinação
 de
 perguntas
 sobre

números,
 vocabulário,
 educação
 e
 atitudes.
 Eles
 perguntam
 coisas
 tais
 como
 “Quem
 foi
 Wilkins

McCawber?”;
 “Qual
 o
 significado
 da
 palavra
 ‘sudiferos’”;
 “O
 que
 deve
 fazer
 uma
 menina
 se
 um
 menino

bater
nela?”
(Bater‐lhe
 ou
 atingi‐lo
 pelas
 costas
não
é
a
resposta
correta!).
E
como
sabemos
que
alguém

que
vai
bem
num
teste
desses
é
inteligente?
Porque,
de
fato,
os
testes
foram
originariamente
padronizados

para
 distinguir
 aquelas
 crianças
 que
 o
 professor
 já
 havia
 rotulado
 como
 sendo
 inteligentes,
 ou
 seja,
 os

testes
 de
 Q.I.
 são
 instrumentos
 para
 dar
 um
 pretexto
 “científico”
 e
 aparentemente
 objetivo
 diante
 dos

preconceitos
sociais
das
instituições
educacionais.


Segundo,
 as
 pessoas
 que
 decidem
 deixar
 suas
 crianças
 para
 adoção
 são
 geralmente
 as
 que
 pertencem
 à

classe
trabalhadora
ou
que
estão
desempregadas
e
que
não
compartilham
da
educação
e
cultura
da
classe

média.
 Por
 outro
 lado,
 as
 pessoas
 que
 adotam
 as
 crianças
 geralmente
 são
 da
 classe
 média
 e
 possuem

educação
apropriada
e
experiência
cultural
para
os
testes
de
Q.I.,
tanto
em
termos
de
conteúdo
como
de

objetivo.
Portanto,
os
pais
adotantes
apresentam,
enquanto
grupo,
desempenhos
muito
mais
elevados
nos

teste
de
Q.I.
do
que
os
pais
que
decidiram
pela
adoção
de
suas
crianças.
O
ambiente
educacional
e
familiar

no
qual
essas
crianças
são
criadas
apresenta
o
resultado
esperado
da
elevação
do
Q.I.,
muito
embora
exista

evidência
de
alguma
influência
genética
de
seus
pais
biológicos.


Esses
resultados
dos
estudos
sobre
adoção
ilustram
perfeitamente
por
que
não
podemos
responder
uma

questão
sobre
quanta
coisa
pode
ser
mudada
respondendo
uma
diferente
pergunta,
a
saber,
existem
genes

que
 influenciam
 os
 traços
 de
 personalidade?
 Se
 realmente
 quiséssemos
 responder
 tal
 pergunta
 colocada

por
 Arthur
 Jensen
 em
 seu
 famoso
 artigo
 “Até
 que
 ponto
 podemos
 promover
 o
 Q.I.
 e
 a
 realização

acadêmica?”,
a
única
forma
de
responder
a
isso
seria
tentar
promover
o
Q.I.
e
a
realização
acadêmica.
Não

respondemos
a
isso
perguntando
se
existe
ou
não
uma
influência
genética
sobre
o
Q.I.,
como
fez
Jensen,

porque
ser
genético
não
é
ser
imutável.


Os
deterministas
biológicos
afirmam
que
não
existem
apenas
diferenças
na
capacidade
entre
os
indivíduos,

mas
que
essas
diferenças
individuais
explicam
diferenças
raciais
no
poder
social
e
no
sucesso.
E
difícil
saber

como
 se
 poderia
 conseguir
 evidência
 da
 diferença
 entre
 negros
 e
 brancos
 sem
 misturar
 totalmente
 a

variação
 genética
 e
 ambiental.
 As
 adoções
 inter‐raciais,
 por
 exemplo,
 são
 incomuns,
 especialmente
 de

crianças
brancas
adotadas
por
pais
negros.
Porém,
ocasionalmente
surgem
evidências.


Nos
 orfanatos
 do
 Dr.
 Bernardo,
 na
 Inglaterra,
 onde
 as
 crianças
 são
 levadas
 como
 órfãs
 logo
 depois
 do

nascimento,
 foi
 feito
 um
 estudo
 sobre
 o
 teste
 de
 inteligência
 para
 crianças
 de
 ascendência
 negra
 e

ascendência
 branca.
 Diversos
 testes
 foram
 feitos
 em
 várias
 idades,
 e
 pequenas
 diferenças
 foram

encontradas
no
desempenho
do
Q.I.
entre
esses
grupos,
mas
sem
significado
estatístico.
Se
nada
mais
for

dito
 sobre
 isso,
 muitos
 dos
 leitores
 assumiriam
 que
 as
 pequenas
 diferenças
 demonstram
 que
 os
 brancos

12
são
 melhores
 do
 que
 os
 negros.
 Mas,
 na
 realidade,
 o
 inverso
 é
 verdadeiro.
 As
 diferenças
 não
 são

estatisticamente
significativas,
mas
as
que
existem
são
a
favor
dos
negros.
Não
existe
se
quer
uma
mínima

evidência
 de
 que
 qualquer
 tipo
 de
 diferença
 no
 status,
 na
 riqueza
 e
 no
 poder
 entre
 raças
 na
 América
 do

Norte
tenha
alguma
relação
com
os
genes,
exceto,
é
claro,
pelos
efeitos
sociais
causados
pelos
genes
da
cor

da
 pele.
 Na
 verdade,
 em
 geral
 há
 menos
 diferenças
 genéticas
 entre
 as
 raças
 do
 que
 se
 poderia
 supor
 a

partir
 dos
 indícios
 superficiais
 que
 todos
 nós
 usamos
 para
 distingui‐las.
 Cor
 da
 pele,
 tipo
 de
 cabelo
 e

formato
 do
 nariz,
 certamente
 são
 influenciados
 pelos
 genes,
 mas
 não
 sabemos
 quantos
 desses
 genes

existem,
 ou
 como
 funcionam.
 Por
 outro
 lado,
 quando
 olhamos
 para
 os
 genes
 nós
 acabamos
 conhecendo

alguma
coisa,
por
exemplo,
que
os
genes
influenciam
nosso
tipo
sangüíneo
ou
que
há
genes
para
as
várias

moléculas
 enzimáticas
 essenciais
 para
 nossa
 fisiologia,
 e
 descobrimos
 que
 embora
 exista
 uma
 tremenda

quantidade
 de
 variação
 de
 indivíduo
 para
 indivíduo,
 existe
 bem
 pouca
 variação
 média
 entre
 os
 grupos

humanos
principais.
De
fato,
entre
dois
indivíduos
do
mesmo
grupo
étnico,
há
aproximadamente
85%
de

toda
 variação
 genética
 humana
 identificada.
 Outros
 8%
 de
 toda
 a
 variação
 estão
 entre
 os
 grupo
 étnicos

dentro
 de
 uma
 raça
 ‐
 digamos,
 entre
 hispânicos,
 irlandeses,
 italianos
 e
 britânicos
 ‐
 e
 apenas
 7
 de
 toda

variação
 genética
 humana
 repousa,
 em
 média,
 entre
 as
 principais
 raças
 humanas,
 como
 as
 africanas,

asiáticas,
européias
e
australianas’


Portanto,
 a
 priori,
 não
 temos
 motivos
 para
 pensar
 que
 exista
 alguma
 diferenciação
 genética
 entre
 os

grupos
raciais
em
termos
de
características,
tais
como
comportamento,
temperamento
e
inteligência.
Nem

da
 existência
 de
 uma
 mínima
 evidência
 de
 que
 as
 classes
 sociais
 diferem‐se
 por
 causa
 de
 seus
 genes,

exceto
 quando
 a
 origem
 étnica
 ou
 racial
 é
 usada
 como
 forma
 de
 discriminação
 econômica.
 A
 tolice

propagada
 pelos
 ideólogos
 do
 determinismo
 biológico
 de
 que
 as
 classes
 mais
 baixas
 são
 biologicamente

inferiores
em
relação
ás
classes
mais
altas,
e
que
todas
as
coisas
boas
na
cultura
européia
vem
dos
grupos

nórdicos,
é
precisamente
uma
bobagem.
Isso
destina‐se
a
legitimar
as
estruturas
da
desigualdade
em
nossa

sociedade,
 colocando
 um
 pretexto
 biológico
 e
 divulgando
 a
 confusão
 contínua
 entre
 o
 que
 pode
 ser

influenciado
pelos
genes
e
o
que
pode
ser
mudado
pelas
alterações
sociais
e
ambientais.


O
erro
vulgar
misturando
hereditariedade
com
estabilidade
tem
sido,
ao
longo
dos
anos,
a
única
arma
mais

poderosa
dos
ideólogos
biológicos
para
legitimar
uma
sociedade
de
desigualdades.
Como
biólogos
que
são,

eles
 devem
 saber
 muito
 bem
 que,
 no
 mínimo,
 dá
 para
 suspeitar
 que
 os
 beneficiários
 de
 um
 sistema
 de

desigualdades
não
podem
ser
considerados
como
objetivamente
técnicos.


13

Вам также может понравиться