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Lewontin,
RC.
2001.
Biologia
como
Ideologia.
A
doutrina
do
DNA.
Capítulo
2.
Editora
FUNPEC.
Ribeirão
Preto.
138pp.
Nossa
sociedade
nasceu,
pelo
menos
politicamente,
nas
revoluções
do
século
XVII
na
Inglaterra
e
do
século
XVIII
na
França
e
América
do
Norte.
Essas
revoluções
varreram
uma
velha
ordem
caracterizada
pelo
privilégio
aristocrático
e
por
uma
relativa
fixação
de
pessoas
na
sociedade.
As
revoluções
burguesas
na
Inglaterra,
França
e
América
do
Norte
alegavam
que
essa
velha
sociedade
e
sua
ideologia
não
eram
legitimas,
e
os
ideólogos
daquelas
revoluções
produziram
e
legitimaram
uma
ideologia
de
liberdade
e
igualdade.
Diderot
e
os
Enciclopedistas
e
Tom
Paine
foram
os
teóricos
de
uma
sociedade
de
“liberté,
égalité,
fraternité”,
onde
todos
os
homens
crescem
iguais.
Os
autores
da
Declaração
de
Independência
(dos
EUA)
declararam
que
as
verdades
políticas
eram
“auto‐evidentes;
que
todos
os
homens
crescem
iguais:
que
eles
são
dotados
por
seus
criadores
com
certos
direitos
inalienáveis;
que
entre
esses
direitos
estão
a
vida,
a
liberdade,
e
a
busca
de
felicidade”
(onde,
é
claro,
eles
querem
dizer
a
busca
de
dinheiro).
Eles
denotaram,
literalmente,
todos
os
homens,
porque
as
mulheres
não
tinham
o
direito
de
votar
nos
Estados
Unidos
até
1920.
O
Canadá
emancipou
as
mulheres
um
pouco
mais
cedo,
em
1918
–
mas
não
nas
eleições
provinciais
em
Quebec
até
1940.
E
é
claro
que
eles
não
queriam
dizer
todos
os
homens,
porque
a
escravidão
continuou
nos
domínios
franceses
e
no
Caribe
até
meados
do
século
XIX.
Os
negros
eram
definidos
pela
Constituição
dos
Estados
Unidos
como
valendo
3/5
de
uma
pessoa,
e
em
boa
parte
da
história
da
democracia
parlamentar
inglesa,
um
homem
tinha
de
ter
dinheiro
para
votar.
Para
fazer
uma
revolução,
você
precisa
de
slogans
que
atraiam
uma
grande
massa
de
pessoas,
e
você
mal
poderia
conseguir
pessoas
para
derramar
o
sangue
sob
uma
bandeira
onde
se
lê
“Igualdade
para
Alguns”.
Portanto,
a
ideologia
e
os
slogans
superam
a
realidade.
Ao
olharmos
para
as
sociedades
que
foram
criadas
por
essas
revoluções,
vemos
uma
boa
dose
de
desigualdade
de
riqueza
e
poder
entre
os
indivíduos,
entre
homens
e
mulheres,
entre
raças
e
entre
nações.
Contudo,
repetidamente
ouvimos
nas
escolas
que
nós
vivemos
numa
sociedade
de
livre
igualdade,
e
somos
bombardeados
por
cada
órgão
de
comunicação
com
esse
slogan.
A
contradição
entre
a
igualdade
alegada
de
nossa
sociedade
e
a
observação
de
que
existem
grandes
desigualdades
têm
sido,
pelo
menos
para
os
norte‐americanos,
a
principal
agonia
social
dos
últimos
200
anos.
Isso
motivou
extraordinariamente
boa
parte
de
nossa
história
política.
Como
pode
mos
resolver
a
contradição
das
imensas
desigualdades
numa
sociedade
que
alega
ser
fundamentada
na
igualdade?
Existem
duas
possibilidades.
Poderíamos
dizer
que
Foi
tudo
uma
fraude,
um
conjunto
de
slogans
destinado
a
substituir
um
regime
de
aristocratas
por
um
regime
de
riqueza
e
privilégios
de
diferentes
tipos,
que
a
desigualdade
em
nossa
sociedade
é
estrutural
bem
como
um
aspecto
integral
do
todo
de
nossa
vida
política
e
social.
Para
dizer
que,
embora
fosse
profundamente
subversivo,
haveria
o
chamado
para
uma
1
outra
revolução
se
quiséssemos
fazer
valer
nossas
esperanças
por
liberdade
e
igualdade
para
todos.
Não
é
uma
idéia
popular
entre
professores,
editores
de
jornais,
professores
de
faculdade
e
políticos
bem
sucedidos,
na
verdade,
ninguém
que
tenha
o
poder
de
ajudar
a
formar
a
consciência
pública.
A
alternativa
que
tem
sido
tomada
desde
o
começo
do
século
XIX,
foi
dar
um
novo
polimento
na
noção
de
igualdade.
Ao
invés
de
igualdade
de
resultado,
temos
a
igualdade
de
oportunidade.
Nesta
visão
de
igualdade,
a
vida
é
uma
corrida
a
pé.
Nos
velhos
e
terríveis
dias
do
ancien
régime,
os
aristocratas
começavam
na
linha
de
chegada
enquanto
o
restante
de
nós
tinha
de
começar
da
linha
de
partida,
e
assim
os
aristocratas
venciam.
Na
nova
sociedade,
a
corrida
é
limpa:
todos
começam
da
linha
de
partida
e
todos
têm
uma
oportunidade
igual
de
chegarem
em
primeiro.
E
claro
que
algumas
pessoas
são
mais
rápidas
do
que
outras,
e
assim
algumas
conseguem
os
prêmios
e
outras
não.
Essa
é
a
visão
da
velha
sociedade
que
era
caracterizada
por
barreiras
artificiais,
enquanto
a
nova
sociedade
permite
um
processo
de
escolha
natural
para
decidir
quem
consegue
posição
social,
riqueza
e
poder
e
quem
não
consegue.
Tal
visão
não
ameaça
o
status
quo,
mas
ao
contrário,
o
sustenta
ao
dizer
que
aqueles
sem
o
poder
permanecem
em
suas
posições
como
conseqüência
inevitável
de
suas
próprias
deficiências
inatas
e
que,
portanto,
nada
pode
ser
feito
a
respeito.
Uma
recente
declaração
notavelmente
explícita
dessa
afirmação
é
a
de
Richard
Herrnstein,
um
psicólogo
de
Harvard,
que
é
um
dos
ideólogos
modernos
mais
sinceros
da
desigualdade
natural.
Ele
escreveu:
“...
as
classes
privilegiadas
do
passado
provavelmente
não
eram
tão
superiores
biologicamente
em
relação
às
classes
oprimidas,
dai
por
que
a
revolução
tinha
uma
boa
chance
de
sucesso.
Ao
remover
as
barreiras
artificiais
entre
as
classes
sociais
encorajou
a
criação
de
barreiras
biológicas.
Quando
as
pessoas
usarem
o
nível
natural
de
poder
dentro
da
sociedade,
as
classes
superiores,
por
definição,
terão
maior
capacidade
do
que
as
classes
inferiores”.
Não
nos
dizem
precisamente
qual
o
princípio
da
biologia
que
garante
que
as
pessoas
biologicamente
inferiores
não
podem
possuir
o
poder
dos
biologicamente
superiores,
mas
não
tem
lógica
questionar
isto
aqui.
Afirmações
como
as
de
Herrnstein
são
destinadas
a
convencer‐nos
de
que
embora
não
possamos
viver
no
melhor
de
todos
os
mundos
concebíveis,
vivemos
no
melhor
de
todos
os
mundos
possíveis.
A
entropia
social
tem
sido
maximizada
para
que
tenhamos
o
máximo
de
igualdade
possível
porque
a
estrutura
é
essencialmente
voltada
para
isso,
e
sempre
que
alguma
desigualdade
aparece,
não
é
de
ordem
estrutural,
mas
baseada
nas
diferenças
inatas
entre
os
indivíduos.
No
século
XIX
isso
também
era
o
panorama,
e
a
educação
era
vista
como
o
lubrificante
que
garantiria
que
a
corrida
da
vida
fosse
feita
suavemente.
Lester
Frank
Ward,
um
gigante
da
sociologia
do
século
XIX,
escreveu,
“...
a
educação
universal
é
o
poder
que
é
destinado
a
destronar
cada
espécie
de
hierarquia.
Ela
é
destinada
a
remover
toda
desigualdade
artificial
e
deixar
que
as
desigualdades
naturais
encontrem
seus
verdadeiros
níveis.
O
verdadeiro
valor
de
um
bebê
recém‐nascido
repousa
em
sua
capacidade
de
adquirir
habilidades
de
realização”.
2
Isso
ecoou
60
anos
depois
com
Arthur
Jensen
na
Universidade
da
Califórnia,
que
escreveu
sobre
a
desigualdade
da
inteligência
entre
negros
e
brancos:
“...
temos
de
encarar
isso,
a
classificação
das
pessoas
em
funções
ocupacionais
simplesmente
não
é
justa
em
qualquer
sentido
absoluto,
O
melhor
que
podemos
esperar
é
que
a
verdadeira
igualdade
de
oportunidade
por
merecimento
atue
corno
fundamento
do
processo
natural”.
Alegar
simplesmente
que
a
corrida
da
vida
é
justa
e
que
pessoas
diferentes
têm
diferentes
habilidades
intrínsecas
para
correr
não
é
suficiente
para
explicar
as
observações
da
desigualdade,
As
crianças,
em
geral,
parecem
adquirir
o
status
social
de
seus
pais.
Cerca
de
60%
das
crianças
de
trabalhadores
de
“colarinho
azul”
permanecem
sendo
de
“colarinho
azul”,
enquanto
cerca
de
70%
das
crianças
de
trabalhadores
de
“colarinho
branco”
seguem
sendo
de
“colarinho
branco”.
Mas
esses
quadros
superestimam
amplamente
a
ocorrência
de
mobilidade
social.
Muitas
pessoas
que
passaram
do
“colarinho
azul”
para
o
“colarinho
branco”
o
fizeram
a
partir
dos
empregos
em
fábricas
de
linhas
de
produção
para
empregos
em
escritórios
de
linha
de
produção
ou
se
tornaram
vendedores
ambulantes,
com
menor
remuneração
e
menos
segurança,
e
fazendo
um
trabalho
extremamente
cansativo
como
seus
pais,
quando
estes
trabalhavam
nas
fábricas.
As
crianças
dos
frentistas
de
postos
de
gasolina
geralmente
pedem
dinheiro
emprestado,
e
as
crianças
dos
magnatas
do
petróleo
geralmente
o
empresta.
A
chance
que
Nelson
Rockefeller
teria
de
ir
á
falência
é
quase
zero,
Se
vivêssemos
numa
meritocracia,
onde
cada
pessoa
pudesse
subir
de
vida
apenas
pelas
suas
capacidades
inatas,
como
explicaríamos
essa
passagem
de
poder
social
de
pai
para
filho?
Será
que
estamos
realmente
de
volta
á
velha
aristocracia?
A
explicação
naturalística
diz
que
não
só
nos
distinguimos
pelas
nossas
capacidades
inatas
como
também
estas
são
transmitidas
de
geração
para
geração
biologicamente,
ou
seja,
para
dizer
que
tal
distinção
está
em
nossos
genes.
A
noção
original
de
herança
econômica
e
social
foi
transformada
em
herança
biológica.
Mas
mesmo
a
alegação
de
que
a
capacidade
intrínseca
de
vencer
e
ter
sucesso
é
herdada
pelos
genes,
não
é
suficiente
para
justificar
uma
sociedade
desigual.
De
qualquer
modo,
poderíamos
afirmar
que
não
deveria
existir
qualquer
relacionamento
particular
entre
o
que
se
pode
realizar
e
as
recompensas
sociais
e
espirituais
recebidas.
Poderíamos
oferecer
as
mesmas
recompensas
materiais
e
espirituais
para
pintores
de
parede
e
pintores
de
quadro,
para
cirurgiões
e
para
barbeiros,
para
professores
que
dão
palestras
e
para
os
zeladores
que
arrumam
as
salas
de
aula.
Poderíamos
criar
uma
sociedade
cujas
bandeiras
estampariam:
“De
cada
um
conforme
sua
capacidade,
para
cada
um
conforme
sua
necessidade”.
Para
opor‐se
à
objeção
de
uma
sociedade
desigual,
foi
desenvolvida
uma
teoria
biológica
da
natureza
humana
que
diz
que
embora
as
diferenças
entre
nós
estejam
em
nossos
genes,
existem
certas
similaridades
inatas
entre
todos
nós.
Essas
similaridades
da
natureza
humana
garantem
que
as
diferenças
de
capacidade
serão
convertidas
em
diferenças
de
status,
que
a
sociedade
é
naturalmente
hierárquica,
e
que
uma
sociedade
de
recompensa
e
status
iguais
é
biologicamente
impossível.
Poderíamos
aprovar
leis
3
exigindo
tal
igualdade,
mas
no
momento
em
que
a
vigilância
do
Estado
ficasse
relaxada,
retornaríamos
a
“fazer
o
que
é
natural”.
Essas
três
idéias
‐
de
que
nos
distinguimos
nas
habilidades
fundamentais
por
causa
das
diferenças
inatas,
de
que
as
diferenças
inatas
são
biologicamente
herdadas
e
de
que
a
natureza
humana
garante
a
formação
de
uma
sociedade
hierárquica
‐
quando
reunidas,
formam
o
que
podemos
chamar
de
ideologia
do
determinismo
biológico.
A
idéia
de
que
“o
sangue
dirá”
não
foi
inventada
pelos
biólogos.
E
um
tema
dominante
na
literatura
do
século
XIX,
e
mal
se
podem
apreciar
os
mais
populares
e
renomados
escritores
do
último
século
sem
entender
como
uma
teoria
da
diferença
inata
substanciava
os
seus
trabalhos.
Pense
em
Oliver
Twist
de
Dickens.
Quando
Oliver
encontrou
inicialmente
o
jovem
Jack
Dawkins,
o
Astuto
Trapaceiro,
na
estrada
para
Londres,
um
notável
contraste
no
corpo
e
no
espírito
é
estabelecido.
O
Trapaceiro
é
descrito
conto
“um
garoto
de
rosto
comum,
sobrancelhas
retas,
nariz
arrebitado...
com
pernas
arcadas
e
pequenos
olhos
feios
e
penetrantes”,
e
seu
inglês
não
era
dos
melhores,
O
que
podemos
esperar
de
um
rapazote
de
rua
de
10
anos
de
idade
sem
família,
sem
educação,
e
na
companhia
dos
piores
criminosos
de
Londres?
A
fala
de
Oliver,
no
entanto,
é
perfeita
(ele
sabe
quando
usar
o
substantivo)
e
suas
maneiras
são
gentis.
Ele
é
descrito
como
sendo
uma
criança
magra
e
pálida,
mas
com
um
espírito
resoluto
em
seu
peito.
Contudo,
Oliver
foi
criado
desde
o
nascimento
nas
instituições
britânicas
mais
degradantes
do
século
XIX,
a
casa
de
correção
paroquial,
onde
um
órfão
como
ele
não
recebia
educação
e
pouco
tinha
o
que
comer.
Ele
passou
os
primeiros
nove
anos
de
sua
vida
rolando
pelo
chão
o
dia
inteiro
“sem
a
inconveniência
de
muita
comida
ou
muita
roupa”.
Onde,
entre
restos
de
estopa,
Oliver
acumulou
aquela
sensibilidade
da
alma
e
aquela
perfeição
da
gramática
inglesa?
Oliver
Twist
é
um
romance
de
mistério,
e
este
é
seu
mistério.
A
resposta
é
que
embora
sua
alimentação
fosse
mingau,
seu
sangue
era
de
classe
média
alta.
Sua
mãe
era
filha
de
um
oficial
da
marinha.
A
família
de
seu
pai
era
próspera
e
socialmente
ambiciosa.
Um
tema
similar
está
centrado
em
Daniel
Deronda
de
George
Eliot.
Primeiro
encontramos
Daniel,
o
jovem
enteado
de
um
baronete
inglês,
desperdiçando
seu
tempo
jogando
numa
estância
balneária.
Quando
ele
fica
um
pouco
mais
velho,
ele
subitamente
tem
desejos
misteriosos
por
coisas
hebraicas.
Ele
se
apaixona
por
uma
judia,
estuda
o
talmude
e
se
converte.
O
leitor
não
ficará
surpreso
ao
saber
que
ele
é
filho
de
uma
atriz
judia
com
quem
nunca
teve
contato,
mas
cuja
ligação
é
revelada
através
do
sangue.
Isso
não
é
apenas
uma
loucura
dos
anglo‐saxões.
Os
romances
de
Émile
Zola
‐
Rougon‐Macquart
‐
foram
deliberadamente
escritos
como
um
tipo
de
literatura
experimental
para
ilustrar
as
descobertas
da
antropologia
do
século
XIX.
Zola
nos
diz
que
“a
hereditariedade
tem
suas
leis
assim
como
a
gravidade”.
Os
Rougon‐Macquarts
são
uma
família
descendente
de
dois
amantes
de
uma
única
mulher,
um
dos
quais
era
camponês
forte
e
esforçado
e
o
outro
um
esbanjador
e
depravado.
Do
camponês
digno
de
confiança
descende
uma
linhagem
honesta
e
sólida,
enquanto
do
ancestral
depravado
descende
uma
longa
linhagem
de
desajustados
sociais
e
de
criminosos,
incluindo
a
famosa
Nana,
que
era
uma
ninfomaníaca
desde
a
infância,
e
sua
mãe,
Gervaise,
4
a
lavadeira,
que
apesar
de
começar
um
sólida
vida
empreendedora,
desliza
em
sua
indolência
natural.
Quando
o
marido
de
Gervaise,
Copeau,
o
pai
de
Nana,
foi
internado
no
hospital
com
delirium
tremens
(D.T.s),
a
primeira
pergunta
que
o
médico
fez
a
ela
foi:
“Seu
pai
bebe?”
A
consciência
pública
da
época
tanto
na
Europa
como
na
América
do
Norte
era
permeada
com
a
noção
de
que
as
diferenças
intrínsecas
no
temperamento
e
no
mérito
finalmente
prevalecerão
sobre
qualquer
mero
efeito
da
educação
e
do
ambiente.
Os
imaginários
Rougon‐Maequards
são
vistos
novamente
na
família
de
Kallikaks,
igualmente
imaginária
mas
supostamente
real,
que
virtualmente
ilustrou
todos
os
livros
didáticos
de
psicologia
da
América
do
Norte
até
a
Segunda
Guerra
Mundial.
Supõe‐se
que
os
Kallikaks
sejam
duas
metades
de
uma
família
descendente
de
duas
mulheres
de
natureza
contrastante
e
de
um
pai
comum.
Essa
peça
de
ficção
acadêmica
foi
destinada
a
convencer
as
jovens
mentes
maleáveis
de
que
criminalidade,
preguiça,
alcoolismo
e
incesto
eram
inatos
e
herdados.
Supostamente
tais
diferenças
inatas
nem
eram
limitadas
à
variação
individual.
Dizia‐se
que
nações
e
raças
eram
caracterizadas
pelas
diferenças
intelectuais
e
temperamentais
inatas.
Essas
afirmações
não
eram
feitas
por
ignorantes
racistas,
demagogos
e
fascistas,
mas
pelos
líderes
dos
estabelecimentos
acadêmicos,
psicológicos
e
sociológicos
da
América
do
Norte.
Em
1923,
Carl
Brigham,
que
mais
tarde
foi
secretário
do
Conselho
de
Exame
de
Admissão
Acadêmica,
produziu
um
estudo
sobre
inteligência
sob
a
direção
de
R.M.
Yerkes,
professor
de
psicologia
em
Harvard
e
presidente
da
Associação
Americana
de
Psicologia.
O
estudo
afirmava
que:
“Devemos
assumir
que
estamos
medindo
a
inteligência
inata.
Devemos
enfrentar
a
possibilidade
de
mistura
racial
aqui
na
América
que
é
infinitamente
pior
do
que
a
de
qualquer
país
europeu
por
estarmos
incorporando
o
negro
dentro
de
nossa
linhagem
racial.
O
declínio
da
inteligência
americana
será
mais
rápido...
devido
à
presença
do
negro
aqui”.
Contudo,
um
outro
presidente
da
Associação
Americana
de
Psicologia
disse
que
toda
vez
que
houver
uma
miscigenação
com
o
negro,
haverá
deterioração
das
civilizações
Louis
Agassiz,
um
dos
mais
famosos
zoólogos
do
século
XIX,
relatou
que
as
suturas
cranianas
dos
bebês
negros
fechavam‐se
mais
cedo
do
que
as
suturas
de
bebês
brancos,
portanto
seus
cérebros
ficam
presos
numa
armadilha,
e
seria
perigoso
ensiná‐
los
muita
coisa.
Talvez
a
mais
extraordinária
das
afirmações
seja
aquela
de
Flenry
Fairfield
Osborne,
presidente
do
Museu
Americano
de
História
Natural
e
um
dos
mais
eminentes
e
prestigiados
paleontólogos
da
América,
que
elaborou
a
seqüência
da
evolução
do
cavalo.
Ele
escreveu:
“...as
raças
do
norte
invadiram
os
países
até
o
sul,
não
apenas
como
conquistadores,
mas
como
fornecedores
de
fortes
elementos
morais
e
intelectuais
para
uma
civilização
mais
ou
menos
decadente.
Através
da
maré
nórdica
que
inundou
a
Itália
vieram
os
ancestrais
de
Rafael,
Leonardo,
Galileu,
Ticiano;
também,
segundo
Günther,
de
Giotto,
Botticelli,
Petrarca
e
Tasso.
Colombo,
a
partir
de
seus
retratos
e
de
seus
bustos,
autênticos
ou
não,
era
claramente
de
ascendência
nórdica”
[ênfase
acrescida]
5
Autêntico
ou
não,
deveras!
Repetidamente,
os
principais
intelectuais
asseguravam
ao
público
deles
que
a
ciência
moderna
demonstra
a
existência
de
diferenças
raciais
e
individuais
inatas
quanto
à
capacidade.
Nem
só
os
biólogos
modernos
mudaram
de
opinião.
O
determinismo
biológico
tem
sido
uma
promessa
essencial
para
os
biólogos,
exceto
por
uma
breve
interrupção
na
época
da
Segunda
Guerra
Mundial,
quando
os
crimes
do
nazismo
tornaram
as
afirmações
de
inferioridade
inata
extremamente
impopulares.
Contudo,
essas
afirmações
são
feitas
sem
um
mínimo
de
evidência
e
em
contradição
com
todo
o
princípio
da
biologia
e
da
genética.
Para
perceber
o
erro
dessas
afirmações,
precisamos
entender
o
que
está
envolvido
no
desenvolvimento
de
um
organismo.
Primeiro,
não
somos
determinados
pelos
nossos
genes,
embora
certamente
selamos
influenciados
por
eles.
O
desenvolvimento
depende
não
apenas
dos
materiais
que
foram
herdados
dos
pais
‐
ou
seja,
os
genes
e
os
demais
materiais
dentro
do
esperma
e
do
óvulo
‐
mas
também
da
temperatura,
umidade,
nutrição,
olfato,
visão
e
sons
(incluindo
o
que
chamamos
de
educação)
que
impingem
o
desenvolvimento
do
organismo.
Mesmo
se
soubesse
a
completa
especificação
molecular
de
cada
gene
de
um
organismo,
eu
não
poderia
antecipar
o
que
esse
organismo
seria.
É
claro
que
a
diferença
entre
leões
e
cordeiros
é
quase
totalmente
uma
conseqüência
da
diferença
genética
desses
animais.
Mas
as
variações
entre
indivíduos
dentro
das
espécies
são
uma
única
conseqüência
de
ambos
os
genes
e
do
ambiente
de
desenvolvi
mento
dentro
de
uma
constante
interação.
Além
do
mais,
curiosamente,
se
conhecesse
os
genes
de
um
organismo
e
desenvolvimento
e
a
completa
seqüência
de
seus
ambientes,
eu
não
poderia
especificar
o
organismo.
Existe
ainda
um
outro
fator
a
considerar.
Se
contarmos
o
número
de
pêlos
sob
as
asas
de
uma
mosca‐da‐
fruta,
por
exemplo,
descobriremos
que
existe
um
número
diferente
de
pêlos
no
lado
esquerdo
em
relação
ao
lado
direito.
Algumas
moscas
têm
mais
pêlos
lado
esquerdo,
outras
mais
pêlos
no
lado
direito;
mas
não
existe
uma
diferença
média.
Portanto,
existe
um
tipo
de
assimetria
oscilante.
Uma
mosca‐da‐fruta
sozinha,
no
entanto,
possui
os
mesmos
genes
tanto
no
lado
esquerdo
como
no
direito.
Além
do
mais,
o
tamanho
minúsculo
de
uma
mosca‐da‐fruta
em
desenvolvimento
e
o
local
em
que
ela
se
desenvolve
garantem
que
tanto
o
lado
esquerdo
como
o
direito
tenham
a
mesma
umidade,
o
mesmo
oxigênio
e
a
mesma
temperatura.
As
diferenças
entre
o
lado
esquerdo
e
o
direito
não
são
causadas
nem
pelas
diferenças
genéticas
e
nem
pelas
diferenças
ambientais,
mas
sim
pela
variação
aleatória
no
crescimento
e
divisão
das
células
durante
o
desenvolvimento:
anomalia
do
desenvolvimento,
Esse
elemento
casual
no
desenvolvimento
uma
importante
fonte
de
variação.
Na
verdade,
no
caso
dos
pêlos
da
mosca‐da‐fruta,
existe
tanta
variação
conseqüente
de
anomalia
do
desenvolvimento
como
há
da
variação
genética
e
ambiental.
Por
exemplo,
nos
seres
humanos
não
sabemos
quanta
diferença
entre
nós
é
conseqüência
das
diferenças
aleatórias
no
crescimento
dos
neurônios
durante
nossa
vida
embrionária
e
início
da
infância.
É
um
equívoco
comum
acharmos
que
mesmo
se
tivéssemos
tocado
violino
desde
uma
tenra
idade,
não
seríamos
capazes
de
tocar
tão
bem
quanto
Menuhin,
pois
pensamos
nele
como
tendo
6
conexões
neuronais
especiais.
Porém,
isso
não
é
mesmo
que
dizer
que
aquelas
conexões
neuronais
estavam
codificadas
em
seus
genes.
Pode
haver
grandes
diferenças
aleatórias
no
desenvolvimento
de
nosso
sistema
nervoso
central.
E
um
princípio
fundamental
da
genética
do
desenvolvimento
que
cada
organismo
seja
conseqüência
de
uma
única
interação
entre
os
genes
e
as
seqüências
ambientais
moduladas
pelos
acasos
aleatórios
do
crescimento
e
da
divisão
celular,
e
que
tudo
isso
junto,
no
final,
produza
um
organismo.
Além
do
mais,
um
organismo
muda
ao
longo
de
sua
vida
inteira.
Os
seres
humanos
mudam
de
tamanho,
não
apenas
crescendo
mais
quando
crianças,
mas
quando
envelhecem,
passam
a
diminuir
na
medida
em
que
suas
juntas
e
ossos
encolhem.
Uma
versão
mais
sofisticada
do
determinismo
genético
concorda
que
os
organismos
são
uma
conseqüência
das
influências
ambientais
e
genéticas,
porém,
descreve
diferenças
entre
os
indivíduos
quanto
a
capacidade.
Trata‐se
da
metáfora
do
balde
vazio.
Cada
um
de
nós
começa
a
vida
como
sendo
um
balde
vazio
de
diferentes
tamanhos.
Se
o
ambiente
proporciona
pouca
água
apenas,
então
todos
esses
baldes
terão
o
mesmo
volume
de
água
dentro.
Mas
se
houver
uma
abundância
de
água,
então
os
baldes
pequenos
transbordarão
e
os
grandes
conterão
mais
água.
Nesta
visão,
se
cada
pessoa
pudesse
desenvolver
sua
capacidade
genética,
de
fato
haveria
grandes
diferenças
na
capacidade
e
no
desempenho,
e
isso
seria
justo
e
natural.
Entretanto,
não
existe
mais
biologia
na
metáfora
da
capacidade
inata
do
que
na
noção
dos
efeitos
genéticos
fixos.
A
única
interação
entre
organismo
e
ambiente
não
pode
ser
descrita
por
diferenças
na
capacidade.
E
verdade
que
se
dois
organismos
geneticamente
diferentes
desenvolverem‐se
em
ambientes
exatamente
iguais,
eles
seriam
diferentes,
mas
tal
diferença
não
pode
ser
descrita
como
capacidades
distintas
porque
o
tipo
genético
que
fosse
superior
num
ambiente
poderia
ser
inferior
num
segundo
ambiente
de
desenvolvimento.
Por
exemplo,
linhagens
de
ratos
podem
ser
selecionadas
para
melhor
ou
para
pior
através
do
labirinto,
ou
seja,
essas
linhagens
de
ratos
passam
a
capa
cidade
diferencial
de
percorrerem
o
labirinto
para
seus
descendentes,
portanto,
eles
certamente
são
geneticamente
diferentes
quanto
a
isso.
Mas,
se
as
mesmas
linhagens
de
ratos
receberem
uma
tarefa
diferente,
ou
se
as
condições
de
aprendizagem
forem
mudadas,
os
ratos
espertos
passam
a
ser
idiotas
e
os
ratos
idiotas
passam
a
ser
espertos.
Não
existe
qualquer
superioridade
genética
de
uma
linhagem
de
rato
sobre
outra
na
busca
de
soluções
de
um
problema.
Para
o
determinismo
biológico,
existe
uma
abordagem
mais
sutil
e
mistificante
que
rejeita
tanto
a
estabilidade
genética
como
a
metáfora
da
capacidade,
que
é
a
estatística.
Basicamente,
a
abordagem
estatística
afirma
que
pode‐se
dividir
os
efeitos
ambientais
e
genéticos
de
maneira
que,
por
exemplo,
80%
da
diferença
entre
os
indivíduos
seja
causada
por
seus
genes
e
20%
pelos
seus
ambientes.
E
claro
que
essas
diferenças
devem
ser
mais
a
nível
populacional
do
que
a
nível
individual.
Não
teria
sentido
algum
dizer
que
alguém
de
1,75
cm
de
altura,
dos
quais
1,50
cm
é
resultado
dos
genes
que
ela
possui
e
que
os
25
cm
restantes
foram
colocados
lá
pela
alimentação
que
ela
teve.
A
visão
estatística
considera
mais
a
proporção
7
da
variação
entre
os
indivíduos
do
que
a
divisão
de
uma
determinada
medição
individual.
A
abordagem
estatística
tenta
atribuir
alguma
proporção
de
variação
entre
indivíduos
ou
grupos
à
variações
entre
seus
genes
e
uma
segunda
proporção
que
resulte
da
variação
entre
seus
ambientes.
A
implicação
é
que,
se
a
maior
parte
da
variação
na
inteligência
entre
os
indivíduos,
for
conseqüência
das
variações
entre
seus
genes,
então
a
manipulação
do
ambiente
não
fará
muita
diferença.
Freqüentemente
é
dito,
que
80%
da
variação
individual
no
desempenho
do
Q.I.
entre
as
crianças
é
causada
pela
variação
em
seus
genes
e
somente
20%
pela
variação
em
seus
respectivos
ambientes.
O
resultado
é
que
a
maior
melhoria
possível
do
ambiente
não
poderia
eliminar
mais
do
que
20%
das
diferenças
entre
indivíduos
e
os
80%
restantes
ainda
estariam
lá
por
ser
uma
conseqüência
da
variação
genética.
Isso
é
completamente
falacioso,
embora
seja
um
argumento
aparentemente
plausível.
Não
existe
qualquer
conexão
entre
a
variação
a
ser
imputada
às
diferenças
genéticas
em
oposição
às
diferenças
ambientais
e
a
possibilidade
de
uma
mudança
ambiental
afetar
quantitativamente
o
desempenho.
Devemos
lembrar
que
qualquer
estudante
comum
de
aritmética
das
escolas
primárias
do
Canadá
pode
somar
corretamente
uma
coluna
de
algarismos
muito
mais
rapidamente
do
que
o
mais
inteligente
matemático
da
Antiga
Roma,
que
teve
de
lutar
com
os
embaraçosos
X,
V
e
I.
Esse
mesmo
estudante
comum
pode
multiplicar
dois
números
de
cinco
dígitos
com
uma
calculadora
de
bolso
de
10
dólares
mais
rápido
e
acuradamente
do
que
um
professor
de
matemática
do
século
passado.
Uma
mudança
no
ambiente,
neste
caso
do
ambiente
cultural,
pode
mudar
a
capacidade
de
cada
individuo
em
termos
de
magnitude.
Além
do
mais,
as
diferenças
entre
os
indivíduos
são
abolidas
por
invenções
culturais
e
mecânicas.
As
diferenças
que
podem
ser
atribuídas
às
diferenças
genéticas
e
que
aparecem
em
um
ambiente,
podem
desaparecer
por
completo
em
outro.
Embora
possa
existir
biologicamente
diferenças
médias
na
psique
e
na
força
entre
um
grupo
aleatório
de
homens
e
um
grupo
aleatório
de
mulheres
(e
essas
diferenças
são
menores
do
que
em
geral
se
supõe),
essas
diferenças
tornam‐se
rapidamente
irrelevantes
e
desaparecem
dentro
da
visão
prática
num
mundo
de
guindastes
eletronicamente
dirigidos,
volantes
hidráulicos
e
controles
eletrônicos.
Portanto,
a
proporção
da
variação
numa
população
como
conseqüência
da
variação
nos
genes
não
á
um
propriedade
estável,
mas
sim
uma
que
varia
de
ambiente
para
ambiente,
ou
seja,
a
magnitude
da
diferença
entre
nós
é
resultado
das
diferenças
genéticas
entre
nós,
que
por
sua
vez
depende
do
ambiente,
o
que
é
curiosamente
suficiente.
Inversamente,
a
magnitude
da
diferença
que
existe
entre
nós
como
resultado
da
variação
ambiental
em
nossas
histórias
de
vida
depende
de
nossos
genes.
Sabemos
por
experiência
que
os
organismos
que
possuem
alguns
genes
especiais
são
muito
sensíveis
á
variação
ambiental.
A
variação
ambiental
e
genética
não
são
independentes
das
casualidades.
Os
genes
afetam
o
grau
de
sensibilidade
diante
do
ambiente,
e
o
ambiente
afeta
o
grau
de
relevância
das
diferenças
genéticas.
A
interação
entre
eles
é
indissolúvel,
nós
podemos
separar
estatisticamente
os
efeitos
genéticos
e
ambientais
somente
numa
população
particular
8
de
organismos
num
determinado
momento
com
um
determinado
conjunto
de
ambientes
específicos.
Quando
o
ambiente
muda,
todas
as
apostas
são
perdidas.
O
contraste
entre
genética
e
ambiente,
bem
como
entre
natureza
e
criação,
não
é
um
contraste
entre
o
fixo
e
o
mutável.
E
uma
falácia
do
determinismo
biológico
dizer
que,
se
as
diferenças
estão
nos
genes,
nenhuma
mudança
pode
ocorrer.
Nós
sabemos
que
isso
é
verdadeiro
somente
a
partir
de
evidências
médicas.
Existem
muitos
erros
inatos
de
metabolismo
onde
um
gene
defeituoso,
em
circunstâncias
normais,
resulta
em
uma
fisiologia
também
defeituosa.
Um
exemplo
disso
é
o
mal
de
Wilson,
um
defeito
genético
que
impossibilita
que
seus
portadores
doentes
eliminem
o
cobre
que
todos
nós
consumimos
em
quantidades
insignificantes
em
nossa
alimentação
do
dia‐a‐dia.
O
cobre
acumula‐se
no
organismo
e
eventualmente
causa
degeneração
nervosa
e
por
fim
a
morte,
em
algum
momento
na
adolescência
ou
no
início
da
vida
adulta.
Nada
poderia
ser
mais
perfeitamente
descrito
do
que
um
distúrbio
genético.
Contudo,
as
pessoas
com
esse
gene
defeituoso
podem
levar
uma
vida
perfeitamente
normal
e
ter
um
desenvolvimento
também
normal
ao
tomarem
uma
pílula
que
os
ajudem
a
eliminar
o
cobre,
assim
eles
são
indistinguíveis
das
demais
pessoas.
Algumas
vezes
diz‐se
que
os
exemplos
de
mudança
nas
condições
de
desempenho,
tais
como
a
invenção
dos
numerais
arábicos,
da
calculadora,
ou
da
pílula,
são
irrelevantes
porque
estamos
interessados
em
algum
tipo
de
capacidade
básica
não
confirmada
e
não
sustentada.
Mas
não
existe
qualquer
medição
da
capacidade
“não
confirmada”,
e
nem
estamos
realmente
interessados
nela.
Existem
algumas
pessoas
que
podem
se
lembrar
de
longas
carreiras
de
algarismos
e
outras
que
são
boas
em
somar
e
multiplicar
grandes
números
de
cabeça.
Então,
por
que
damos
testes
escritos
de
Q.l.
para
pessoas
que
não
têm
a
capacidade
“não
confirmada”
para
fazer
aritmética
mentalmente?
Por
que
permitimos
que
as
pessoas
que
fazem
testes
mentais
usem
óculos,
se
estamos
interessados
nas
capacidades
“não
sustentadas”
culturalmente
imutáveis?
A
resposta
é
que
não
estamos
interessa
dos
nas
capacidades
definidas
arbitrariamente,
mas
preocupados
com
as
diferenças
na
capacidade
a
fim
de
colocar
em
prática
tarefas
construídas
socialmente
que
sejam
relevantes
para
a
estrutura
de
nossas
atuais
vidas
sociais.
Além
das
dificuldades
conceituais
de
se
tentar
atribuir
os
efeitos
separados
aos
genes
e
aos
ambientes,
existem
graves
dificuldades
experimentais
quando
lidamos
com
os
seres
humanos.
Como
decidimos
se
os
genes
influenciam
ou
não
as
diferenças
entre
algumas
características
de
personalidade?
Em
todos
os
organismos
o
processo
é
o
mesmo.
Nós
comparamos
os
indivíduos
que
estão
diferentemente
relacionados
entre
si,
e
se
mais
indivíduos
intimamente
relacionados
são
mais
parecidos
do
que
os
menos
relacionados,
atribuímos
algum
poder
para
os
genes.
Mas
é
aqui
que
repousa
a
grande
dificuldade
da
genética
humana.
Diferentemente
dos
animais
experimentais,
as
pessoas
que
estão
mais
intimamente
relacionadas
entre
si
não
apenas
compartilham
mais
genes
em
comum,
mas
também
compartilham
um
ambiente
comum
por
causa
da
família
e
da
estrutura
de
classes
das
sociedades
humanas.
A
observação
de
que
as
crianças
apresentam
características
semelhantes
com
as
de
seus
pais
não
distingue
a
similaridade
genética
da
9
similaridade
que
surge
da
semelhança
ambiental.
A
semelhança
entre
pais
e
filhos
é
a
observação
a
ser
explicada.
Não
é
uma
evidência
quanto
aos
genes.
Por
exemplo,
as
duas
características
sociais
que
apresentam
a
mais
alta
semelhança
entre
pais
e
filhos
na
América
do
Norte
são
o
setor
religioso
e
o
partidarismo
político.
Contudo,
mesmo
o
mais
fervoroso
dos
deterministas
biológicos
não
discutiria
seriamente
a
existência
de
um
gene
para
o
episcopalismo
ou
para
se
votar
em
um
crédito
social.
O
problema
é
distinguir
a
similaridade
genética
da
similaridade
ambiental.
E
por
esse
motivo
que
tanta
ênfase
tem
sido
dada
aos
estudos
genéticos
com
gêmeos
humanos.
A
idéia
é
que,
se
os
gêmeos
são
mais
parecidos
do
que
os
irmãos
comuns
ou
se
os
gêmeos
criados
em
famílias
completamente
isoladas
ainda
permanecem
parecidos,
então
isso
certamente
deve
ser
uma
evidência
genética.
Em
particular,
tem
havido
uma
fascinação
com
um
estudo
de
gêmeos
idênticos
criados
separadamente.
Se
gêmeos
idênticos
‐
ou
seja,
gêmeos
que
compartilham
todo
os
mesmos
genes
‐
são
parecidos
mesmo
criados
separadamente,
então
suas
características
devem
ser
fortemente
influenciadas
geneticamente.
A
maior
parte
da
alegação
em
favor
de
uma
elevada
hereditariedade
de
Q.I.,
por
exemplo,
vem
de
estudos
de
gêmeos
idênticos
criados
separadamente.
Apenas
três
desses
estudos
foram
publicados.
O
primeiro
e
maior
conjunto
de
estudos
foi
apresentado
por
Sir
Cyril
Burt.
Este
foi
o
único
estudo
que
não
confirmou
qualquer
similaridade
entre
circunstâncias
familiares
das
famílias
que
criaram
gêmeos
separadamente.
O
estudo
também
alegava
uma
hereditariedade
de
80%
para
o
desempenho
do
Q.I.
No
entanto,
uma
investigação
cuidadosa
feita
por
Oliver
Gillie
do
Times
de
Londres
e
pelo
Professor
Leon
Kamin
em
Princeton
revelou
que
Burt
simplesmente
havia
forjado
os
números
bem
como
os
gêmeos
Ele
forjou
até
mesmo
os
nomes
dos
colaboradores
que
apareciam
em
suas
publicações.
Não
precisamos
mais
falar
desse
estudo,
pois
representou
um
dos
maiores
escândalos
da
psicologia
e
biologia
moderna.
Quando
olhamos
para
outros
estudos,
que
realmente
oferecem
detalhes
da
família
dos
gêmeos
separados,
percebemos
que
vivemos
num
mundo
real
e
não
na
opereta
de
Gilbert
e
Suilivan.
A
razão
pela
qual
os
gêmeos
são
separados
no
nascimento
pode
ser
devido
à
morte
da
mãe
durante
o
parto,
de
forma
que
um
gêmeo
é
criado
por
uma
tia
e
o
outro
por
uma
grande
amiga
ou
pela
avó.
Algumas
vezes
os
pais
não
podem
sustentar
as
duas
crianças
e
assim
eles
deixam
uma
delas
com
um
parente.
De
fato,
os
gêmeos
estudados
não
foram
criados
tão
isoladamente
assim.
Eles
foram
criados
por
membros
da
mesma
família,
na
mesma
vila.
Os
gêmeos
iam
para
a
escola
e
brincavam
juntos.
Outros
estudos
sobre
o
Q.l.
humano
em
crianças
adotivas
de
mostrando
o
efeito
dos
genes
apresentam
suas
próprias
dificuldades
experimentais,
incluindo
a
falha
na
faixa
etária
das
crianças,
amostragens
extremamente
pequenas,
e
seleção
tendenciosa
dos
casos
para
estudo.
Existe
um
grande
esforço
por
parte
dos
pais
de
muitos
gêmeos
em
torná‐los
mais
parecidos
ainda.
Eles
recebem
nomes
que
começam
com
a
mesma
letra
e
são
vestidos
com
roupas
iguais.
Os
concursos
internacionais
de
gêmeos
oferecem
prêmios
para
os
gêmeos
mais
parecidos.
Um
estudo
sobre
gêmeos
foi
anunciado
nos
jornais
oferecendo
uma
viajem
de
graça
até
Chicago
para
gêmeos
idênticos,
10
atraindo
assim
aqueles
que
eram
os
mais
parecidos.
Como
conseqüência
de
tais
tendências,
simplesmente
não
há
atualmente
qual
quer
medição
convincente
do
papel
dos
genes
influenciando
a
variação
comportamental
humana.
Uma
das
principais
armas
ideológicas
da
biologia
usadas
para
convencer
as
pessoas
de
que
a
posição
delas
na
sociedade
é
fixa
e
imutável,
e
portanto
justa,
é
a
constante
confusão
entre
herança
e
imutabilidade.
Em
lugar
nenhum
essa
confusão
é
tão
manifesta
do
que
nos
muitos
estudos
de
adoções
destinados
a
medir
as
similaridades
biológicas.
Nas
populações
humanas,
realizam‐se
estudos
de
adoção
como
aquela
da
separação
de
gêmeos
idênticos
para
tentar
romper
a
conexão
entre
a
semelhança
que
vem
das
fontes
genéticas
e
a
semelhança
que
vem
das
fontes
de
similaridade
familiar.
Se
as
crianças
adotadas
parecem‐se
muito
mais
com
seus
pais
biológicos
do
que
com
seus
pais
adotivos,
então
os
geneticistas,
muito
corretamente,
consideram
isso
como
sendo
um
evidência
da
influência
genética.
Quando
se
olha
para
todos
os
estudos
de
adoção
a
fim
de
investigar
a
influência
genética
na
inteligência,
sempre
há
dois
resultados
constantes.
Primeiro,
as
crianças
adotadas
parecem‐se
com
seus
pais
biológicos
uma
vez
que
quanto
mais
alto
o
Q.I.
do
pai
biológico,
maior
o
Q.I.
da
criança
que
foi
adotada.
Portanto,
os
pais
biológicos
estão
tendo
influência
no
Q.I.
de
seus
filhos
muito
embora
elas
fossem
adotadas
desde
cedo,
e
deixando
de
lado
a
possibilidade
de
diferenças
nutricionais
durante
o
período
pré‐
natal
ou
da
estimulação
extremamente
precoce,
seria
razoável
dizer
que
os
genes
apresentam
alguma
influência
nas
contagens
de
Q.I.
Podemos
apenas
especular
sobre
a
fonte
da
influência
genética.
Existe
uma
demanda
de
velocidade
no
teste
de
Q.I.,
e
os
genes
poderiam
ter
alguma
influência
nos
momentos
de
reação
ou
na
velocidade
dos
processos
do
sistema
nervoso
central.
A
segunda
característica
dos
estudos
de
adoção
é
que
os
testes
de
Q.I.
de
crianças
apresentam
cerca
de
20
pontos
a
mais
do
que
aqueles
dos
pais
biológicos.
Ainda
há
o
caso
em
que
os
pais
biológicos
com
Q.I.
mais
elevado
têm
filhos
com
Q.I.
mais
elevado
também,
mas
com
as
crianças,
enquanto
grupo,
apresentando
um
avanço
bem
maior
do
que
seus
pais
biológicos.
De
fato,
as
contagens
médias
de
Q.I.
dessas
crianças
adotadas
são
aproximadamente
iguais
ao
Q.I.
médio
dos
pais
adotantes,
que
sempre
se
saem
melhor
nos
testes
de
Q.I.
do
que
os
pais
biológicos.
O
que
está
em
jogo
aqui
é
a
diferença
entre
correlação
e
identidade.
Duas
variáveis
estão
positivamente
correlacionadas
se
os
valores
mais
elevados
de
um
combinar
com
os
valores
mais
elevados
do
outro.
O
conjunto
ordenado
dos
números
100,
101,
102
e
103
está
perfeitamente
ordenado
com
o
conjunto
120,
121,
122
e
123
porque
cada
aumento
cai
um
conjunto
está
perfeitamente
combinado
com
um
aumento
no
outro
conjunto.
Contudo,
os
dois
conjuntos
de
números
claramente
não
são
idênticos,
pois
apresentam
diferença
de
20
unidades
em
média.
Por
tanto,
o
Q.I.
dos
pais
pode
ser
um
excelente
indicador
de
Q.I.
de
seus
filhos
uma
vez
que
os
valores
mais
elevados
para
os
pais
são
combinados
com
os
valores
mais
elevados
para
os
filhos,
mas
o
valor
médio
do
Q.I.
das
crianças
pode
ser
muito
maior.
Para
o
geneticista,
é
a
correlação
que
indica
o
papel
dos
genes;
a
11
hereditariedade
não
antecipa
nada
a
respeito
das
mudanças
médias
de
geração
para
geração.
Os
estudos
de
adoção
são
uma
revelação
do
significado
dos
teste
de
Q.I.
e
da
realidade
social
da
adoção.
Primeiro,
o
que
os
testes
de
Q.I.
realmente
medem?
Eles
são
uma
combinação
de
perguntas
sobre
números,
vocabulário,
educação
e
atitudes.
Eles
perguntam
coisas
tais
como
“Quem
foi
Wilkins
McCawber?”;
“Qual
o
significado
da
palavra
‘sudiferos’”;
“O
que
deve
fazer
uma
menina
se
um
menino
bater
nela?”
(Bater‐lhe
ou
atingi‐lo
pelas
costas
não
é
a
resposta
correta!).
E
como
sabemos
que
alguém
que
vai
bem
num
teste
desses
é
inteligente?
Porque,
de
fato,
os
testes
foram
originariamente
padronizados
para
distinguir
aquelas
crianças
que
o
professor
já
havia
rotulado
como
sendo
inteligentes,
ou
seja,
os
testes
de
Q.I.
são
instrumentos
para
dar
um
pretexto
“científico”
e
aparentemente
objetivo
diante
dos
preconceitos
sociais
das
instituições
educacionais.
Segundo,
as
pessoas
que
decidem
deixar
suas
crianças
para
adoção
são
geralmente
as
que
pertencem
à
classe
trabalhadora
ou
que
estão
desempregadas
e
que
não
compartilham
da
educação
e
cultura
da
classe
média.
Por
outro
lado,
as
pessoas
que
adotam
as
crianças
geralmente
são
da
classe
média
e
possuem
educação
apropriada
e
experiência
cultural
para
os
testes
de
Q.I.,
tanto
em
termos
de
conteúdo
como
de
objetivo.
Portanto,
os
pais
adotantes
apresentam,
enquanto
grupo,
desempenhos
muito
mais
elevados
nos
teste
de
Q.I.
do
que
os
pais
que
decidiram
pela
adoção
de
suas
crianças.
O
ambiente
educacional
e
familiar
no
qual
essas
crianças
são
criadas
apresenta
o
resultado
esperado
da
elevação
do
Q.I.,
muito
embora
exista
evidência
de
alguma
influência
genética
de
seus
pais
biológicos.
Esses
resultados
dos
estudos
sobre
adoção
ilustram
perfeitamente
por
que
não
podemos
responder
uma
questão
sobre
quanta
coisa
pode
ser
mudada
respondendo
uma
diferente
pergunta,
a
saber,
existem
genes
que
influenciam
os
traços
de
personalidade?
Se
realmente
quiséssemos
responder
tal
pergunta
colocada
por
Arthur
Jensen
em
seu
famoso
artigo
“Até
que
ponto
podemos
promover
o
Q.I.
e
a
realização
acadêmica?”,
a
única
forma
de
responder
a
isso
seria
tentar
promover
o
Q.I.
e
a
realização
acadêmica.
Não
respondemos
a
isso
perguntando
se
existe
ou
não
uma
influência
genética
sobre
o
Q.I.,
como
fez
Jensen,
porque
ser
genético
não
é
ser
imutável.
Os
deterministas
biológicos
afirmam
que
não
existem
apenas
diferenças
na
capacidade
entre
os
indivíduos,
mas
que
essas
diferenças
individuais
explicam
diferenças
raciais
no
poder
social
e
no
sucesso.
E
difícil
saber
como
se
poderia
conseguir
evidência
da
diferença
entre
negros
e
brancos
sem
misturar
totalmente
a
variação
genética
e
ambiental.
As
adoções
inter‐raciais,
por
exemplo,
são
incomuns,
especialmente
de
crianças
brancas
adotadas
por
pais
negros.
Porém,
ocasionalmente
surgem
evidências.
Nos
orfanatos
do
Dr.
Bernardo,
na
Inglaterra,
onde
as
crianças
são
levadas
como
órfãs
logo
depois
do
nascimento,
foi
feito
um
estudo
sobre
o
teste
de
inteligência
para
crianças
de
ascendência
negra
e
ascendência
branca.
Diversos
testes
foram
feitos
em
várias
idades,
e
pequenas
diferenças
foram
encontradas
no
desempenho
do
Q.I.
entre
esses
grupos,
mas
sem
significado
estatístico.
Se
nada
mais
for
dito
sobre
isso,
muitos
dos
leitores
assumiriam
que
as
pequenas
diferenças
demonstram
que
os
brancos
12
são
melhores
do
que
os
negros.
Mas,
na
realidade,
o
inverso
é
verdadeiro.
As
diferenças
não
são
estatisticamente
significativas,
mas
as
que
existem
são
a
favor
dos
negros.
Não
existe
se
quer
uma
mínima
evidência
de
que
qualquer
tipo
de
diferença
no
status,
na
riqueza
e
no
poder
entre
raças
na
América
do
Norte
tenha
alguma
relação
com
os
genes,
exceto,
é
claro,
pelos
efeitos
sociais
causados
pelos
genes
da
cor
da
pele.
Na
verdade,
em
geral
há
menos
diferenças
genéticas
entre
as
raças
do
que
se
poderia
supor
a
partir
dos
indícios
superficiais
que
todos
nós
usamos
para
distingui‐las.
Cor
da
pele,
tipo
de
cabelo
e
formato
do
nariz,
certamente
são
influenciados
pelos
genes,
mas
não
sabemos
quantos
desses
genes
existem,
ou
como
funcionam.
Por
outro
lado,
quando
olhamos
para
os
genes
nós
acabamos
conhecendo
alguma
coisa,
por
exemplo,
que
os
genes
influenciam
nosso
tipo
sangüíneo
ou
que
há
genes
para
as
várias
moléculas
enzimáticas
essenciais
para
nossa
fisiologia,
e
descobrimos
que
embora
exista
uma
tremenda
quantidade
de
variação
de
indivíduo
para
indivíduo,
existe
bem
pouca
variação
média
entre
os
grupos
humanos
principais.
De
fato,
entre
dois
indivíduos
do
mesmo
grupo
étnico,
há
aproximadamente
85%
de
toda
variação
genética
humana
identificada.
Outros
8%
de
toda
a
variação
estão
entre
os
grupo
étnicos
dentro
de
uma
raça
‐
digamos,
entre
hispânicos,
irlandeses,
italianos
e
britânicos
‐
e
apenas
7
de
toda
variação
genética
humana
repousa,
em
média,
entre
as
principais
raças
humanas,
como
as
africanas,
asiáticas,
européias
e
australianas’
Portanto,
a
priori,
não
temos
motivos
para
pensar
que
exista
alguma
diferenciação
genética
entre
os
grupos
raciais
em
termos
de
características,
tais
como
comportamento,
temperamento
e
inteligência.
Nem
da
existência
de
uma
mínima
evidência
de
que
as
classes
sociais
diferem‐se
por
causa
de
seus
genes,
exceto
quando
a
origem
étnica
ou
racial
é
usada
como
forma
de
discriminação
econômica.
A
tolice
propagada
pelos
ideólogos
do
determinismo
biológico
de
que
as
classes
mais
baixas
são
biologicamente
inferiores
em
relação
ás
classes
mais
altas,
e
que
todas
as
coisas
boas
na
cultura
européia
vem
dos
grupos
nórdicos,
é
precisamente
uma
bobagem.
Isso
destina‐se
a
legitimar
as
estruturas
da
desigualdade
em
nossa
sociedade,
colocando
um
pretexto
biológico
e
divulgando
a
confusão
contínua
entre
o
que
pode
ser
influenciado
pelos
genes
e
o
que
pode
ser
mudado
pelas
alterações
sociais
e
ambientais.
O
erro
vulgar
misturando
hereditariedade
com
estabilidade
tem
sido,
ao
longo
dos
anos,
a
única
arma
mais
poderosa
dos
ideólogos
biológicos
para
legitimar
uma
sociedade
de
desigualdades.
Como
biólogos
que
são,
eles
devem
saber
muito
bem
que,
no
mínimo,
dá
para
suspeitar
que
os
beneficiários
de
um
sistema
de
desigualdades
não
podem
ser
considerados
como
objetivamente
técnicos.
13